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Foto da capa xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx *P U B LI C ID A D E TEX TO S D O B R A S IL P U B LIC ID A D E 20*O rl an do M ar qu es Fl áv io R ez en de W as hi gn to n O liv et to Lu iz L ar a G ug a K et ze r Le yl a Fe rn an de s D or in ho B as to s R ob er to C or rê a Em m an ue l P ub lio D ia s TE XT O S D O B R A S IL 20 * a e v o lu ç ã o d a m íd ia n o b r a si l fl á v io r ez en d e 6 w a sh in g to n o li v et to q u em n ã o s e a pr im o r a s e es t u po r a 24 lu iz l a r a o s d es a fi o s d a p u bl ic id a d e br a si le ir a n a e r a d o c o n h ec im en to 40 g u g a k et ze r a c r ia t iv id a d e c o m o m a r c a g en ét ic a 60 le y la f er n a n d es d a s o n d a s r a d io fô n ic a s à s im a g en s d ig it a is : a p o te n c ia li d a d e d a p r o d u ç ã o a u d io v is u a l br a si le ir a 94 d o r in h o b a st o s a m o ç a d o c a fé : “p a ss e lá p r a t o m a r u m c a fe zi n h o !” 118 em m a n u el p u bl io d ia s & r o be rt o c o r r êa c u r so d e c o m u n ic a ç ã o s o c ia l n o br a si l: d o e m pí r ic o a o f o r m a l 16 2 UM GRANDE MOMENTO DA PUBLICIDADE BRASILEIRA O Festival Internacional de Publicidade de Cannes é, certamente, a grande vitrine e o grande momento de exibição dos maiores talentos da propagan- da mundial. E nos últimos anos aquela passarela da Côte d'Azur tem sido um ver- dadeiro parque de diversão para os talentosos criativos brasileiros. Ganha- mos o troféu de Agência do Ano com a DM9DDB (em 1998, 1999, 2005 e 2009 como "Interactive Agency of the Year"); com a AlmapBBDO (em 2000, 2010 e 2011); com a F/Nazca (em 2001) e em 2013 com a Ogilvy, que leva o título e bate todos os recordes: foram 35 Leões para a agência, incluindo dois Grand Prix, sendo um deles o mais cobiçado: o de Titanium. Isso sem contar que o Brasil também fez um ano histórico conquistando 115 Leões de Cannes. Ou seja, temos todos os motivos para comemorar. E os artigos a seguir, de alguns dos melhores e mais talentosos publicitários deste país, mostram isso com folga. Vamos ver o genial Dorinho falar da “Dona Zezé, a Moça do Café”; o Flávio Rezende, mostrar o que está acontecendo no mundo das mídias e como isso muda com a crescente presença do digital ameaçando a TV aberta; o Luiz Lara e a Leyla Fernandes destacarem o que as entidades re- presentam e que papel elas têm nesse cenário; Washington Olivetto e Guga Ketzer falarem do nosso Chacrinha, "Velho Guerreiro", e do DNA criati- vo do brasileiro; e, por fim, o Emmanuel Publio Dias e o Roberto Corrêa colocarem luzes sobre a nossa querida Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), nascida no MASP de Assis Chateaubriand e hoje uma sexagenária cheia de energia e formadora dos melhores profissionais que estão nas agências e nos departamentos de marketing dos clientes. É graças a essa boa publicidade que podemos também nos orgulhar da qualidade e independência editorial dos nossos veículos de comunicação. Nossos grandes jornais, nossa televisão e nossas revistas de primeiro mundo só são o que são e desfrutam da liberdade de se expressar e de defender os ci- dadãos porque temos uma publicidade forte que lhes dá essa independência. Não fosse o grande volume publicitário investido pelos clientes nesses meios de divulgação, ficariam eles à mercê das verbas oficiais e dos gover- nantes de plantão. É porque temos essa qualidade criativa que os clientes nos confiam suas marcas e nós as fazemos grandes e importantes, porque temos veículos res- peitados e livres. Isso se constitui no círculo virtuoso da nossa democracia: é a liberdade de expressão que se soma à liberdade de empreender e que, juntas, ajudam o cidadão brasileiro a poder escolher desde o sabonete ou pasta de dente que vai usar até o governante ou sistema de governo que quer para o Brasil. Sabemos da nossa relevância nesse contexto de ser uma das colunas mais importantes de qualquer democracia. E que bom poder fazer tudo isso com qualidade e talento, ganhando troféus pelo mundo afora! Estão de parabéns todos os publicitários brasileiros por esses feitos. E eu me orgulho de hoje presidir essa entidade, a Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP), que se junta à Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), ao Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP), ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e às associações de veículos para manter acesa a chama da nossa ainda jovem democracia. Orlando Marques Presidente da ABAP • 6 • NO BRASIL A EVOLUÇÃO DA MÍDIA Flávio Rezende é Diretor Nacional de Mídia da agência DPZ Propaganda. • 7 • F L Á V I O R E Z E N D E Fo to : F el ip e Mo ra es • 8 • O mais incrível no ser humano é sua capacidade de melhorar, aprimorar, avançar e agregar. Essas coisas só acontecem porque pensamos, colaboramos e reverberamos o conhecimento. Uso esse exemplo, ou analogia, para dizer que os avanços na comunicação no Brasil estão diretamente ligados à mídia veículos, à mídia área, o planejamento e à criação. A propaganda se estabelece nesses pilares, que sustentam a ponte da relação com o cliente, o mercado e o consumidor. Quando percebi essa equação, tracei um objetivo na minha vida profissional: estar sempre perto daqueles pilares. Por isso, escolhi trabalhar na mídia, queria estar ligado à evolução da indústria da propaganda. Fiz da mídia minha trilha profissional, olhando como se através de uma grande-angular, para não perder de vista a evolução e a criatividade. A mídia e a história da propaganda se misturam, num espetáculo evolutivo, darwiniano. Mesmo antes do lançamento da TV aberta no Brasil, as agências já faziam conteúdos para emissoras de rádio (novelas) e anúncios para revistas, baseados no talento criativo de seus profissionais, principalmente o atendimento, uma espécie de “faz tudo” na época. A partir da inauguração da televisão, em 1950, em São Paulo, e no ano seguinte no Rio de Janeiro, a propaganda passou a explorar esse que é hoje um dos principais veículos de comunicação. Foi no horário da primeira novela brasileira – Sua vida me pertence – que as agências, por meio de redatores atendimento, veicularam os primeiros roteiros de comerciais ao vivo. Nesse mesmo ano, a editora Abril lançou a história em quadrinhos Pato Donald. Dois anos depois, saiu nas bancas • 9 • o primeiro número das revistas Manchete e Capricho. No Rio de Janeiro, também em 1952, a Rádio Nacional era líder de audiência. Em paralelo, as agências multinacionais chegavam ao Brasil e, atendendo a uma demanda dos clientes, começarama estruturar a área de mídia. É bom lembrar que, desde 1942, já tínhamos o IBOPE no Brasil, aferindo audiência domiciliar em São Paulo. No ano seguinte, estendia seus trabalhos ao Rio de Janeiro. Em 1951, começou a ser feita a medição de jornais (venda avulsa em banca) em São Paulo e Rio de Janeiro e, em 1954, foi feita a primeira medição em televisão no Brasil. Na década de 1950, o crescimento nessa área foi surpreendentemente rápido, considerando-se que o Brasil era um país distante do ranking das grandes economias. Esses acontecimentos só foram possíveis graças à vontade, aos valores éticos e à ousadia dos publicitários “pioneiros” da indústria, entre eles, os mídias. PRINCIPAIS FATOS Início da TV no Brasil Criação da TV Tupi SP/RJ Fundação da Ed. Abril / Criação do Pato Donald Surgimento da TV Globo, Bandeirantes e alta visibilidade da TV Gaúcha Surgimento do IVC Criação do Grupo de Mídia SP/RJ Décadas de 1950 e 1960 • 10 • Na mídia, a setorização era por meios, pesquisa ainda incipiente, e a ênfase era em compras. No veículo, os comerciais eram ao vivo, com intervalos irregulares. Na criação, a preocupação era somente de fazer a demonstração de produtos. OS MAIORES ANUNCIANTES – 1959 E 1960 *INVESTIMENTOS EM CR$ MILHÕES Lever 160 Nestlé 160 Gessy 150 Sydney Ross 100 General Eletric 90 Real Aerovias 90 Ford 90 Willys-Overland 80 Esso 80 Gillette 80 Fonte: Anuário de Publicidade (1960) • 11 • Os maiores anunciantes do fim da década de 1950 eram Lever, Nestlé, Gessy, Sidney Rossi, General Electric, Real Aerovias, Ford, Willys-Overland, Esso e Gillette. Com eles, chegaram as novidades e as exigências cada vez maiores na área de mídia e aumentaram as demandas nas análises da concorrência. Apesar das novas técnicas de mídia, os objetivos e as estratégias já tinham embasamento em pesquisas em alguns mercados. A evolução no mercado e na mídia ganha um grande impulso, com o surgimento da TV Globo, em 1965, da TV Bandeirantes, em 1967, e do sucesso da TV Record, com propostas de novas técnicas e dinâmicas que proporcionam um mercado mais competitivo e democrático. Na década de 1960, tivemos o renascimento da pesquisa de mídia no Brasil: surge o Instituto Verificador de Circulação (IVC) e o Ibope começa a medir audiência diária e qualificação em TV/Rádio em São Paulo e nos principais mercados. O instituto Marplan oferece métricas em TV, RD, Revistas e Cinema e o Audi TV passa a medir mecanicamente a audiência domiciliar. Esse ferramental, já utilizado nas grandes agências por pessoal treinado, marca o nascimento dos grandes gestores de mídia e com eles nasce o grupo de Mídia em São Paulo, e no ano seguinte no Rio de Janeiro, com o principal objetivo de aprimorar e treinar os talentos da área. O único país que criou uma entidade de mídia para aprimoramento profissional foi o Brasil e, até hoje, nossos profissionais são um exemplo para o mundo. TV Rádio Revista JornalOutdoor 1962 1966 39% 25% 6% 24% 27% 18% 4% 18% 23% 16% Fonte: História da Propaganda no Brasil, Ibraco SHARE DE INVESTIMENTO NOS MEIOS NA DÉCADA DE 1960 • 12 • INSTITUTOS DE PESQUISA 1940-60 1940 1950 1960 IBOPE Começo das pesquisas de rádio em SP e RJ IBOPE Começo da mensuração de Jornal e TV IBOPE Mensuração da audiência diária de TV e Rádio nos principais mercados MARPLAN TV, Rádio, Revista e Jornal em SP e RJ MARPLAN Operações nos oito mercados IVC Início das operações PRINCIPAIS FATOS Chegada da TV em cores no Brasil Início das operações do SBT Surgem os primeiros merchandisings Começo da cobertura em Rádio e recall em outdoor O GRP começa a ser contabilizado Década de 1970 Nos anos 1970, com o início da difusão de cores na TV, um novo padrão de qualidade passa a ser exigido. As audiências das novelas chegavam a 50% em São Paulo e 65% no Rio de Janeiro. No caso da Rede Globo, novelas das oito, como Irmãos Coragem, O Bem Amado e Os Ossos do Barão, atingiam picos de 70%. Nessa década, começam a aparecer os primeiros merchandising na televisão, nas novelas Beto Rockfeller, na Tupi, e Dancing Days, na Globo. Nos anos 1970, também começam a ser feitas as simulações nas programações e já era possível medir cobertura em rádio e recall em outdoor, além de analisar a concorrência através do Sercin e Leda. • 13 • PRINCIPAIS FATOS Rede Globo obtém o direito de transmitir a Copa do Mundo É inaugurada a TV Manchete Surgimento de novas tecnologias (como MTV em UHF) Início das operações de internet comercial no Brasil com a UOL Fortalecimento de compras por descontrole de preços e inflação Décadas de 1980-90 Em 1983, inaugura-se a rede Manchete, o Brasil possui mais de 17 milhões de aparelhos de TV, a Rede Globo concentra 80% dos aparelhos ligados e o SBT 30% aos domingos. A Rede Globo obtém direitos exclusivos de transmissão da Copa do Mundo de 1982 e vende cotas para Alpargatas, VW, Coca-Cola e Souza Cruz pelo valor de US$ 6 milhões. A Veja lidera, em 1985, o setor de revistas, com 560 mil exemplares semanais, e o jornal O Globo circula com 437 mil exemplares diários. Entra em órbita o Brasilsat, primeiro satélite brasileiro de telecomunicações. O investimento publicitário nesse período era da ordem de US$ 1,9 bilhão (1987), o décimo maior mercado mundial. TV Revista Jornal RádioCinema 88% 88% 48%45% 94% 47% 55% 67% 94% 94% 36% 1980 1990 Fonte: Mídia Dados 1990 PENETRAÇÃO DOS MEIOS - 1980 X 1990 • 14 • Os anos 1990 foram marcados pelo surgimento de novas e diversificadas tecnologias. Como, por exemplo, a MTV em UHF, a transmissão em via MMDS (TVA) e a transmissão via cabo operada pela Net/Multicanal. Somando-se a essas novidades, tivemos a implantação do envio eletrônico das reservas para a TV Globo e o início das operações da internet comercial no Brasil pelo Uol. Na mídia, além do fortalecimento do planejamento e pesquisa, a técnica e criatividade andam de mãos dadas. INSTITUTOS DE PESQUISA 1970-90 1970 1980 1990 IBOPE Qualificação em rádio; expansão de mercados LPM Descontinua serviços regulares de mídia IBOPE People Meter, expansão para mais mercados MARPLAN Cinema: oito mercados; início das simulações IBOPE 70 mercados RETRATO Ad Hoc, pesquisa comportamental AUDI TV Operações de audiência de TV IPSA 11 mercados para em seguida ser descontinuado MARPLAN Lançamento do SISEM LPM Rádio e outdoor SP AUDI TV É comprado pelo IBOPE SERCIN e LEDA Levantamentos de audiência • 15 • PRINCIPAIS FATOS Chegada de novas tecnologias e players Invasão das empresas "ponto-com" Crescimento exponencial da TV paga Surgimento de muitos pontos de contatos Certificação dos profissionais de mídia Décadas de 2000-10 A área de mídia do Brasil passa a ser premiada nos festivais internacionais. Em ações ousadas, a DPZ pendura três carros de verdade em painéis de outdoor na cidade de São Paulo para um lançamento da Subaro. Cria a mídia “ovo” que, em milhares de ovos, anunciava uma ação do cliente Moulinex. Para a Johnson & Johnson, foi feita uma ação inovadora para comunicar que o fio dental Reach passava nos lugares mais estreitos. Para isso, foram usados grupos de motos, que andavam uma ao lado da outra, nas ruas de São Paulo, mostrando que elas passavam nos lugares mais estreitos e incríveis no trânsito, fazendo uma analogia com o produto. Divulgação (DPZ) • 16 • Di vu lg aç ão (D PZ ) Di vu lg aç ão (D PZ )• 17 • INSTITUTOS DE PESQUISA – 2000-10 IBOPE TGI, NetRatings, Audiência Pay TV, Easy Media Controle da Concorrência Informações diárias via web com dados das TVs abertas IVC Auditoria de Internet MARPLAN Lançamento do Tom Micro OS MAIORES ANUNCIANTES – 2000-10 2000 2010 1 - Intelig 1 - Casas Bahia 2 - Embratel 2 - Unilever 3 - Gessy Lever 3 - Hyundai CAOA 4 - Itaú 4 - Ambev 5 - VW 5 - Liderança Capitalização 6 - Ford 6 - Caixa 7 - GM 7 - Bradesco 8 - Lopes 8 - Fiat 9 - Casas Bahia 9 - Reckitt Benckiser 10 - Pão de Açúcar 10 - Procter & Gamble Fonte: Ibope Monitor • 18 • SHARE DE INVESTIMENTO PUBLICITÁRIO NO BRASIL (R$ 000) TV por assinatura – auditada desde 1998 Internet – auditada desde 2003 Cinema e Guias e Listas – auditados desde 2004 Mídia Exterior (Eletrônicos/Móvel/Painel) 57% 63%63% 12% 21% 7% 10% 2001 9.322.581 28.454.3492010 Televisão Jornal Revista Rádio Outdoor Exterior Pay TV Mob. Urbano Internet Cinema Guias e Listas 1960: Fonte: História da Propaganda no Brasil, Ibraco 2011: TV por assinatura - Auditada desde 1998 / Internet - Auditados desde 2003 / Cinema e Guias e Listas – Auditados desde 2004 / Mídia Exterior (Eletrônicos/Móvel/Painel) SHARE DE INVESTIMENTO NOS MEIOS 1960 25% 25% 12% 7% 4% 3% 18% 27% 24% 6% 2011 0% 20% 40% 60% 80% 100% Televisão Jornal Revista Rádio Exterior Internet Cinema Guias e ListasPay TV • 19 • NÚMEROS DE VEÍCULOS NO BRASIL 2011 TV aberta 8 redes / 365 geradoras Pay TV 136 canais Rádio 4.003 emissoras Revista 4.705 títulos Jornal 651 títulos diários Cinema 2.076 salas Outdoor 24.489 cartazes Internet 2.815.156 sites (BR) Fonte: Mídia Dados 2011 Fonte: Estudos Marplan – Consolidado 2000 - Março/09 a Abril/10 PENETRAÇÃO DOS MEIOS TV aberta Jornal RevistaRádio Cinema TV aberta Jornal Revista Rádio OOH TV Cinema Internet Redes sociais Radio Ônibus TV OOH Abrigo de ônibus Mobiliário Urbano Rádio Teatro TV Metrô Aeroporto TV ao vivo Jornal Revista online online online Web Games online Pay Bluetooth • 20 • O futuro está diretamente ligado ao sentimento e responsabilidade em ser mídia. Profissão que está aberta para o mundo, para a vida, para o conhecimento; que nos imerge na cultura do entendimento. Os novos pontos de contato, o futuro dos veículos de comunicação e da mídia no mundo se confunde com o hábito de frequentar teatros, galerias, museus, shows, cinema etc. Vamos nos aprofundar no ferramental de pesquisa disponível, que é um norte para o planejamento, permitindo o reconhecimento dos públicos-alvo e facilitando a recomendação dos veículos (e sua linguagem). Esse instrumental, bem utilizado no presente, tende a nos facilitar ainda mais o alcance dos objetivos de mídia com menor dispersão, otimizando investimentos. Cada vez mais, o uso dessas informações representa ganho substancial nas compras de mídia, resultando em rentabilidade para o cliente. Que venham os mais modernos softwares para responderem além da quantitativa, que nos permitem avaliar hábitos de consumo dos meios de comunicação, dos mais variados públicos-alvo. Mergulharemos nas análises do comportamento do público consumidor de produtos e serviços, traçando melhor seu perfil e refinando as estratégias de mídia. Continuaremos preocupados com os avanços da área de pesquisa, e sabemos que o novo The Arf Media Model1 vai transformar velhos conceitos de medição, que no futuro os meios serão pesquisados em conjunto, possibilitando inclusive o conhecimento da eficiência da mensagem/ 1 Modelo de mensuração da mídia e publicidade elaborado pela Advertising Research Foudation. TENDÊNCIAS • 21 • campanha e do comportamento dessas variáveis no resultado de vendas. O time de mídias no Brasil é um dos mais bem preparados do mundo. Tem o dom da ousadia, navega em qualquer ambiente (fomos preparados também nas crises econômicas) e conta com ferramentas precisas. Nesse universo chamado mídia, respiramos o futuro digital. Estamos preparados para analisar e nos relacionar com os infinitos pontos de contatos da constelação digital touch. Os especialistas convergirão para “especialistas generalistas”. Não haverá mais on e off na análise da audiência, afinidade e dos resultados desse turbilhão de meios que surgem com o avanço da tecnologia. Os tentáculos da exposição dos conteúdos se estenderão e se multiplicarão. A televisão se espalhará em centenas de telas HD e nos mobiles. No caminho do consumidor, essas telas de OOH estarão ao alcance do seu olhar na sua trajetória diária. O rádio será quase uma propriedade particular, como se cada um de nós pudesse montar o seu. As revistas e jornais circularão aos milhares de exemplares, não dezenas ou centenas, através de suas edições eletrônicas. O cinema será um ponto performático da propaganda e no seu conteúdo será permitido um sem-fim de ações de product placement. Na web, através dos portais, sites e redes sociais, a velocidade da informação e o resultado das ações serão medidos quase que instantaneamente. O futuro talvez seja hoje ou amanhã ou daqui a uma nova década. Não importa, estamos e estaremos preparados, porque nós da mídia aprendemos a aprender, aprendendo sempre. Quem não se aprimora se estupora Washington Olivetto Fo to : D iv ul ga çã o W ashington Olivetto não é apenas um ícone da publicidade em todo o mundo, mas uma figura popular do Brasil. Um dos publicitários mais premiados de todos os tempos, Olivet- to ganhou mais de 50 Leões no Festival de Publicidade de Cannes, apenas na categoria filmes. Ele é o único latino-americano a ganhar um Clio, em 2001, com um comercial para a revista Época. Foi o criativo mais premiado dos últimos 30 anos no Profissionais do Ano, um festival de publicidade de prestígio anual organizado pela TV Globo. Foi também nomeado um dos 25 publicitários-chave do mundo pela revista britânica Media International, e eleito duas vezes o publicitário do século pela Associação Latino-Americana de Publicidade (ALAP) e pelo site de notícias Monitor Mercantil. Em 2009, entrou para o Hall da Fama do Festival Ibero-Americano de Publicidade (FIAP). Washington é membro da Berlin School of Creative Leadership, onde foi convidado a participar do Conselho, juntamente com muitos outros publicitários, ícones e pessoas do marketing e entretenimento, como John Hegarty e Rick Boyko. A Academia é uma iniciativa dos Líderes Globais de Comunicação, a fim de trazer os maiores pensadores e educadores para essas áreas, em parceria com a Kellogg’s School of Management, para liderar o maior grupo de comunicação criativa do futuro. O reconhecimento público de seu trabalho inspirou duas canções de Jorge Ben Jor: "Alô, Alô, W/Brasil" e "Engenho de Dentro". Seu nome também virou nome de pratos em restaurantes sofisticados. • 24 • Em 2011, o correio brasileiro fez um selo com o nome de Washington impresso na lateral, e a imagem da Estátua do Cristo Redentor se fundindo com o Coliseu. O selo foi criado por ele, um descendente de italianos, para comemorar o "Momento Itália-Brasil", que celebrou a relação social, cultural e econômica entre os dois países. Também em 2011, como cidadão italiano de renome, foi premiado com o Título de Co- mandante da República Italiana e, apesar de ter nascido em São Paulo, Washington também foi homenageado com o título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Foi citado como um dos maisrelevantes publicitários da era moderna, juntamente com Lee Clow, Jay Chiat, Saatchi Charles e Helmut Krone, em um estudo da Universidade do Texas, em Austin. O livro Adland dedicou um capítulo inteiro a ele. Escrito por Mark Tun- gate, foi lançado na Europa e nos Estados Unidos e apresenta entrevistas exclusivas com os maiores nomes da publicidade mundial, como Sir Martin Sorrel, Jean-Marie Dru e outros. Washington criou os dois únicos comerciais brasileiros mencionados no livro The Best 100 TV Commercials and why they worked…, escrito por Bernice Kramer. Foi eleito o publicitário mais confiável do Brasil em todas as edições do Prêmio Marcas de Confiança, da Seleções Read- er’s Digest. Já escreveu seis livros que permaneceram na lista de best-sellers por semanas. E em 2013 teve o privilégio de ter uma análise retórica de todo seu trabalho na obra de João Renha A Propaganda Brasileira Depois de Washington Olivetto, editado pela Leya. É presidente da W McCann e Chief Creative Officer da McCann Worldgroup para América Latina e Caribe. • 25 • No final dos anos 1970 do século passado, o comunicador brasileiro Abelardo Barbosa – o Chacrinha – resolveu acrescentar mais uma categoria ao seu famoso Troféu Velho Guerreiro, que premiava o melhor cantor, a melhor cantora, o melhor ator, a melhor atriz etc. da televisão brasileira: a categoria “o melhor publicitário”. Tive o privilégio de ser o ganhador. Alguns dos meus colegas na época acharam a coisa brega, popularesca, pouco chique. Mas eu, que já era fã do Chacrinha desde antes de 1968, quando ele foi consagrado “doutor honoris causa em comunicação” por Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros tropicalistas, adorei o fato e fui feliz da vida receber o meu prêmio. Uma das buscas do tropicalismo era exatamente romper as barreiras entre o que se convencionou chamar de “bom” e de “mau gosto”, de “permitido” e “proibido”, de “chique” e “brega”. E o rompimento dessas barreiras, junto com o não preconceito com todo e qualquer tipo de informação, é coisa que sempre me encantou. • 26 • Obsessivo por pontualidade, no dia do programa, cheguei ao teatro meia hora antes do combinado e, graças a isso, recebi uma grande lição. Por mais de 20 minutos, pude observar, por trás do backstage, uma equipe do Chacrinha montando as chacretes (suas companheiras de palco), vestindo os músicos e testando os efeitos de som, iluminação e gelo seco. Enquanto isso, outra equipe ensaiava o auditório: na hora de aplaudir, o que responder quando o Chacrinha perguntasse “Vocês querem bacalhau?”, em que tom gritar “uhh-uhhh” quando o Chacrinha berrasse “Teresinha” e outros apelos. De repente, interrompendo a minha observação, chegou o próprio Chacrinha, que, enfático e usando um dos seus famosos bordões, me disse: “Olá, Washington Olivetto. Como vai? Vai bem? Veio a pé ou veio de trem?”. E, antes que eu respondesse, completou: “Viu como aqui é tudo organizado?”. Respondi um tímido “sim”, e ele completou: “E você sabe por que é assim organizado? Porque aí eu entro e desorganizo. Se não estiver organizado, não dá pra desorganizar”. • 27 • Realmente. Com sua incrível capacidade de desorganizar o organizado e de aperfeiçoar o imperfeito, Chacrinha liderou durante anos as audiências da TV brasileira, lançando novos artistas e consagrando ainda mais os já consagrados. Lembrei-me dessa história em outubro do ano passado, em Nova York, durante uma palestra que fiz para os executivos latino-americanos da Mastercard, cliente que a WMcCann tem o privilégio de atender no Brasil e que o McCann Worldgroup tem a honra de possuir no mundo inteiro. Nessa palestra, procurei situar o contexto da comunicação no Brasil e a forte e favorável predisposição que o público brasileiro tem para com a boa publicidade, fato que facilita imensamente a vida dos publicitários brasileiros. Convém lembrar que só no Brasil (e também um pouquinho na Inglaterra) publicitários se transformam em personalidades públicas, gozando de prestígio e admiração similares aos • 28 • Convém lembrar que só no Brasil (e também um pouquinho na Inglaterra) publicitários se transformam em personalidades públicas, gozando de prestígio e admiração similares aos dedicados a ídolos da música pop. dedicados a ídolos da música pop. Fato que, diga- se de passagem, eu, particularmente, considero exagerado. Expliquei que credito esse atípico fenômeno especialmente à miscigenação, adorável mistura de raças que produziu no Brasil um povo emocional, romântico, musical, sensual e bem-humorado, características muito sedutoras e eficientes para a comunicação em geral e para a publicidade em particular. Quando faço palestras fora do Brasil, principalmente nos EUA, procuro situar os espectadores em relação ao contexto geográfico e social onde meu trabalho é feito. Para isso, faço um comentário que costuma provocar risos e aplausos. Digo que vivo no último país do mundo onde você pode ver mulheres bonitas nos pontos de ônibus. De acordo com a minha argumentação, nos outros países, os bonitos estão onde estão os ricos: em Paris, na Place Des Vosges; em Nova York, no Soho ou em Chelsea; em Londres, em • 29 • Roland Gardens, e assim por diante. Mas, no Brasil, a miscigenação democratizou a beleza e, assim, encontramos lindas mulheres entre os milionários dos Jardins em São Paulo ou da Avenida Vieira Souto no Rio, mas encontramos também belíssimas mulheres nos pontos de ônibus dos bairros mais pobres e afastados de todas as cidades brasileiras. Comentários estéticos à parte, em outubro passado, em Nova York, procurei também, em conjunto com a plateia, analisar o contexto atual. Por exemplo: se o comercial de TV foi, durante décadas, a mais poderosa arma das campanhas de comunicação, hoje já não temos mais armas infalíveis ou predominantes. Fui um enorme beneficiário do período em que o comercial de TV reinava absoluto. Os mais de 50 leões que ganhei em Cannes, sendo alguns em Veneza, com filmes de televisão e cinema, na pré-história dessa história, construíram a minha reputação e geraram resultados incontestes para os meus bem-sucedidos clientes. • 30 • Hoje, vivemos num mundo mais complicado, onde as relações em rede são cada vez mais poderosas. Todos nós estamos na mira e somos usuários dessas pequenas armas do mundo digital que, somadas, transformam-se em portentos. Ser comunicador, há algum tempo, era característica ou profissão de alguns poucos, mas hoje é uma atividade de todos. O celular, o tablet, o laptop, a smart TV fazem de todos nós receptores e comunicadores ao mesmo tempo. Esse fato deixou a comunicação mais forte e mais veloz. Mas nem sempre melhor. Fenômenos de massa tidos como vulgares (caso de Justin Bieber) ou sofisticados (caso de Adele) são frutos de um mesmo canal, o YouTube. E julgar se o primeiro é mesmo vulgar e a segunda é realmente sofisticada se torna mais difícil num contexto como esse. Voltando a outubro passado em Nova York, depois da palestra, conversei informalmente com vários presentes e fui fortemente sabatinado por • 31 • Para onde vai o universo da comunicação em geral e o da publicidade em particular? “Vai para o trono ou não vai?”, como perguntava Chacrinha ao seu auditório durante os sempre aguardados julgamentos dos seus calouros. um grupo ansioso por respostas que eu não tinha para as dúvidas que todos parecem ter. Resumindo: para onde vai o universo da comunicação em geral e o da publicidade em particular? “Vai para o trono ou não vai?”, como perguntava Chacrinha ao seu auditório durante os sempre aguardados julgamentos dos seus calouros. No mundointeiro, esses dois universos (comunicação e publicidade) – que, na verdade, são um só – vivem uma grande crise criativa, negocial e de autoestima, apesar de viverem seu auge tecnológico. Durante a tal sabatina que virou bate-papo, eu e meus simpáticos inquisidores chegamos à mesma conclusão: a grande missão da comunicação em geral e da publicidade em particular, nos dias de hoje, é a revalorização da grande ideia. Das ideias simples e brilhantes. Quando me perguntam que critério uso para descobrir um jovem com possibilidade de se transformar num brilhante redator, costumo dizer • 32 • que elejo um rapaz bem feinho, de família de classe média bem média, que tenha namoradas bem bonitas de famílias ricas, muito ricas. Porque, certamente, deve ser um cara muito bom com as palavras. Esse meu comentário, aparentemente brincalhão, tem seu enorme fundo de verdade nesse momento em que a palavra “inteligente” e a expressão “bem pensada” precisam ser revalorizadas. Até porque a internet já democratizou o gesto de escrever, mas ainda não democratizou o gesto de escrever bem. Vivemos um momento, no mundo inteiro, em que muita gente está comprando o sapato sem saber o tamanho do pé. Discute-se se os jornais e revistas vão acabar, se a internet vai ser a mídia prioritária, se a TV aberta vai ser substituída pela digital, se as promoções são boas ou vulgarizantes, se os eventos são mais efetivos que a publicidade, se a comunicação deve ser direcionada ou 360 graus, se as agências devem ser full services ou hot shops, se • 33 • os comissionamentos devem ser substituídos por fees, se a comunicação deve ser dentro ou fora da caixa, se o consumidor deve ser receptor ou produtor de conteúdo, se aquilo que era monólogo agora é definitivamente diálogo, enfim, discutem-se, basicamente, os meios e o negócio. Mas poucos se preocupam com a mensagem, que é o que garante a efetividade do negócio. Todos querem saber qual mídia deve ser utilizada, mas poucos se preocupam com a ideia que vai aparecer nessa mídia. Discute-se muito a forma, mas esquece-se que, seja qual for a mídia, o fundamental continuará sendo o conteúdo. Pelo contrário: em muitos casos, a forma tem sido utilizada em substituição ao conteúdo, ou, o que é pior ainda, para esconder a falta dele. Resultado: a evidente crise criativa, que virou crise negocial e de autoestima. Essa crise envolve não só a propaganda, mas toda a comunicação, como brilhantemente comentou o fotógrafo Miguel Rio Branco em • 34 • sua palestra sobre fotografia digital na Semana Epson/Fnac/FS da Fotografia: “Temos uma velocidade imediata, mas sem garantia de conhecimento”. Foi a partir de observações como essa e de conclusões como a do meu bate-papo em Nova York (no negócio da comunicação e da publicidade, a única coisa fundamental, atemporal e insuperável é, foi e continuará sendo a grande ideia) que me lembrei da lição do Chacrinha e cheguei ao veredicto de que está na hora de imitá-lo. Precisamos, todos nós, profissionais de comunicação, voltar a organizar antes para poder desorganizar depois. Precisamos nos unir na revalorização das grandes ideias como ponto de partida do nosso negócio. Aí, sim, certos de que temos grandes ideias nas mãos, ideias capazes de se adaptar com a mesma eficiência aos diferentes meios – sejam eles tradicionais ou modernos, analógicos ou digitais, de retaguarda ou vanguarda –, poderemos optar pelas • 35 • possibilidades de veiculação mais adequadas para a solução de cada problema. Precisamos, enfim, voltar a saber o tamanho do pé antes de comprar o sapato. Eu, como “velho guerreiro” (expressão imortalizada por Chacrinha) dessa atividade, me comprometo a estar na linha de frente dessa batalha. Sem preconceito contra o novo, nem saudosismo pelo velho. Apenas consciente de que, sem as possibilidades que o futuro nos oferece, a coisa não se aprimora, mas, por outro lado, se continuarmos insistindo em desconhecer sua origem, a coisa se estupora. E aí, como todos vocês sabem, “aquele abraço”. P.S.: O titulo “Quem não se aprimora se estupora” é uma corruptela da expressão “Quem não comunica se trumbica”, criada por Chacrinha. • 36 • Fot o: D ivu lga ção • 37 • • 38 • ♥ ‡ † ¥ « ° ł Ħ ħ # 1 1 . O P R E S E N T E A R T I G O F O I E S C R I T O E M 2 0 1 1 , Q U A N D O O U A U T O R A I N D A P R E S I D I A A A B A P . Fo to : P au la Vi an na • 39 • ♥ ‡ † ¥ « ° ł Ħ ħ # Luiz Lara é sócio e chairman da agência de propaganda Lew’Lara/TBWA e foi presidente da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP) no biênio 2011/2013. Em 1992, fundou a Lew’Lara com Jaques Lewkowicz. Atuando sempre como profissional de planejamento estratégico, vem desenvolvendo cases de comuni- cação para clientes como Nissan, Adidas e JBS-Friboi, entre outros. Recebeu os prêmi- os: Profissional de Planejamento (Prêmio Caboré 1996), Empresário do Ano (Prêmio Caboré 2003 e 2010), Homem do Ano da Comunicação (Prêmio Colunistas e Prêmio About), Publicitário do Ano (Revista Vip – Editora Abril), Voluntário do Ano por sua atuação na área de responsabilidade social (prêmio conferido pela Kanitz & Associa- dos), eleito Empreendedor do Ano nas Comunicações pela revista Isto É Dinheiro em 2010, Personalidade do Ano – Troféu Ouro (VII Prêmio ANATEC 2011). Participa ati- vamente de várias ONGs, entre elas o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Obra do Berço e Childhood Foundation, entidade comandada pela Rainha Silvia da Suécia, que atua no combate e na prevenção à exploração sexual infantil. É membro do Con- selho Superior da ABAP. • 40 • O S D E S A F I O S D A P U B L I C I D A D E B R A S I L E I R A N A E R A D O C O N H E C I M E N T O O Brasil é um país diferenciado na área da comunicação. Fruto da diversidade do nosso povo e das riquíssimas cul- turas regionais, nós sempre nos destacamos pela criativida- de e pela capacidade de nos comunicar, seja por palavras, gestos ou ações. Este é um país em que o povo sempre se comunicou de maneira única e criativa, influenciado no nos- so dia a dia pela música, pela dança, pelo clima tropical e por uma herança genética peculiar, resultado da união de índios, africanos, europeus e asiáticos. Mas a criatividade natural da nossa gente não é o único fator que explica como criamos uma indústria de comunicação forte e vigorosa no país. Nossa capacidade de organização e o empreendedoris- mo foram vitais para alcançarmos as centenas de prêmios internacionais na propaganda mundial e principalmente os corações e as mentes de milhões de brasileiros com campa- nhas publicitárias que entraram na memória coletiva. Por outro lado conquistamos o respeito dos anunciantes crian- do e construindo marcas que ao longo das últimas décadas se conectaram com os consumidores pelos quatro cantos de nosso país continental e até no exterior. A propaganda no Brasil se alicerça na grande quantidade e variedade de veículos de mídia e de anunciantes. Dados re- centes divulgados pela consultoria de mídia ZenithOptime- dia, subsidiária do grupo Publicis, mostram que o país deve superar a França neste ano e se tornar o sexto maior mercado de publicidade do mundo. O Brasil movimentou US$ 12,9 bilhões em 2010. Até 2013, o valor deverá subir para US$ 16,3 bilhões. Se se confirmar, será um crescimento de 15,4% – maior do que o da China, país que registrou um incremen- to de 13,6% no mercado depublicidade. E não estamos so- zinhos: são justamente os países emergentes que estão pu- xando a alta no setor. Se esse grupo de países respondia por 30,9% dos gastos com publicidade no ano passado, já em 2013 serão responsáveis por 35,1%. Representando perto de 2% do PIB e movimentando R$ 47 bilhões, a propaganda brasileira traduz nesses números a sua força como mola propulsora da nossa efervescência eco- nômica. Não por acaso, quando o fantasma da crise mundial era anunciado pelos mercados internacionais, o então pre- sidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou taxativamen- te que os brasileiros continuassem fazendo suas compras e consumindo os produtos de sua preferência – fazendo coro » • 41 • aos anúncios publicitários da época. O resultado: o Brasil não parou porque a propaganda não parou, o consumo não parou e, portanto, a produção não parou, confirmando que o movimento harmônico dessa engrenagem é determinante para a estabili- dade do país e para a felicidade e o bem-estar dos brasileiros. Mas a importância da propaganda extrapola muito o alcance econômico. Ela informa, edu- ca, entretém, constrói e posiciona marcas, emula categorias de produtos e serviços, cria um valor percebido maior do que a etiqueta de preço do produto. É a indústria que move as outras indús- trias, cria riquezas, empregos e impostos. Neste período de bonança que vivemos é possível que muita gente tenha se esquecido de todas as lutas pelas quais a indústria da publicidade passou an- tes de seu amadurecimento. Por isso é importante retomarmos o legado não apenas dos homens que construíram a propaganda brasileira, mas também dos empreendedores que lideraram os grandes grupos de comunicação do país – homens como Assis Chateau- briand, Roberto Marinho, Julio Mesquita, João Saad, Adolpho Bloch, Silvio Santos, Octavio Frias de Oliveira e Victor Civi- ta, dentre outros, que de forma pioneira abriram o caminho e construíram revistas, jornais, emissoras de rádio e de TV num país que ainda não tem uma eco- nomia forte para ter veículos de comunicação tão qualificados. Mas além de aprender com o passado é importante também enxergar com clareza quais são os caminhos que o futuro nos re- serva. Vamos, então, relembrar o que já vivemos e entender os desafios que se colocam para a indústria da propaganda. • 42 • O S P R I M E I R O S P A S S O S Traçando um panorama histórico e social, é possí- vel dizer que a indústria da propaganda no Brasil nasceu em 1910 com a inauguração do “Reclame Yankee”, um grande painel colocado na lateral do Teatro São José, no centro da cidade de São Paulo. Lá, eram anunciados produtos farmacêu- ticos como o xarope Bromil, que prometia “curar a tosse em 24 horas”. Como bem lembra o livro A História da Propaganda no Brasil, editado pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP) em 2005, o “Reclame Yankee” foi obra de João Lyra, um dos pioneiros do mercado publi- citário no país. Era uma época de desbravadores que lutavam para manter uma atividade comercial num país ainda conhecido mundialmente por ser um exportador de commodities agrícolas (princi- palmente café e borracha). Mas a transferência do poder econômico e social da elite agrícola e rural para uma burguesia – cuja riqueza provinha da indústria – começava a ganhar corpo e eles gradativamente passaram a se instalar nas gran- des cidades. Era nesse novo mundo que João Lyra despontava com suas ideias criativas, explorando cartazes em bondes e os populares lambe-lambes, semelhantes aos que até hoje podem ser vistos nas ruas das grandes cidades. Lyra foi um visionário. Viajava pelo Brasil pro- movendo produtos farmacêuticos e entendeu desde cedo que a publicidade podia e até deve- ria ser regular e constante. Ele experimentou a veiculação de anúncios em várias edições de uma mesma revista, usou ao mesmo tempo outros ca- nais de mídia disponíveis e até criou eventos e per- formances para atrair público e chamar a atenção da mídia em cidades menores pelas quais passava em suas longas viagens. Tamanho era o impacto de seus anúncios e eventos que ele virava notícia onde quer que chegasse. Passou a ser chamado de “Homem-Reclame”. Afora o caráter folclórico de sua presença, Lyra assentou um tijolo primordial na construção da indústria da publicidade brasileira, sinalizando que a atividade deveria ser feita de forma organi- zada para gerar resultados positivos para marcas e produtos. Mas demorou algumas décadas até que o mercado nacional se desenvolvesse de forma contínua. Foi preciso que agências norte-america- nas e europeias exportassem sua experiência, ao mesmo tempo em que nós importávamos marcas e produtos de outros países para nosso mercado consumidor em expansão. As empresas atraves- savam oceanos e as agências eram chamadas para dar suporte e promoverem a expansão das mar- cas nos novos mercados. Um bom exemplo foi a » • 43 • Expectorante Bromil (1938) J.W. Thompson, que chegou na segunda década do século passado, na cola de sua principal con- ta internacional, a da General Motors. Era o setor automotivo norte-americano se expandindo inter- nacionalmente e trazendo com ele a necessidade profissional do trabalho de uma agência de pro- paganda. Foi o início da propaganda estruturada e profissional das agências no Brasil. Nas maiores cidades do país, diversas marcas de empresas multinacionais (muitas vindas dos Estados Unidos) passaram a fazer parte do dia a dia de seus cidadãos: Firestone, Texaco, Standard Oil, Kodak e Gillette, para citar apenas algumas. Ao mesmo tempo em que as estrangeiras busca- vam novos mercados para se expandir, a indústria nacional ganhava corpo. Surgiram empresas que viriam a se tornar ícones do consumo: Mesbla, Lojas Americanas, Casas Pernambucanas, Casa Colombo e Mappin. O mercado de comunicação e marketing não ficou para trás. Incorporou novas técnicas para promover as empresas e fidelizar a marca junto aos consumidores. Na esteira da crise mundial de 1929, a década de 1930 marcou o início de uma mudança funda- mental para entender a evolução do Brasil no sé- culo XX: a rápida urbanização do país. A ditadura de Getúlio Vargas fortaleceu a emergente classe média e a industrialização levou as classes C e D para o mercado de consumo – ainda que restrito. Esse cenário de desenvolvimento econômico es- timulou o aparecimento de novas marcas. E com elas vieram as multinacionais da publicidade. Em 1931 chegaram por aqui a Lintas e a N.W. Ayer. Em 1933, foi fundada no Rio de Janeiro a Standard Propaganda S.A., considerada a primeira agência brasileira estruturada e sob uma concepção em- presarial moderna. Em 1935 aportou no Brasil a McCann Erickson, primeiramente para atender a conta da Esso. Era uma época em que o rádio dominava a mídia, e em que gigantes da música popular como Noel Rosa e Pixinguinha criavam jingles. Re pr od uç ão • 44 • S U R G E A A B A P O Brasil entrou na década de 1940 com o seguinte panorama: um mercado consumidor nascente e de grande potencial, uma rápida expansão indus- trial acompanhada de forte urbanização e agências de propaganda buscando seu espaço e atuando, junto à imprensa, como mola propulsora desses novos tempos. Não havia ainda TV no Brasil, nem uma indústria da comunicação como conhecemos hoje. Em fevereiro de 1949, as 11 maiores agências em atuaçãono país se reuniram e decidiram ado- tar padrões comuns de relacionamento com os veículos de comunicação: surgia a Associação Bra- sileiras das Agências de Publicidade (ABAP), en- tidade que desde então defende os interesses da categoria, valoriza a atividade e luta pela liberdade de expressão. Hoje, a associação está presente em todos os estados do país e é a maior organização do setor na América Latina. Suas associadas são responsáveis por 78% do investimento publicitário brasileiro em mídia, movimentando um universo de 3.200 profissionais e 4.100 clientes. A ABAP também é sister association de duas importantes entidades: a Associação Americana de Agências de Publicidade (AAAA) e a Associação Europeia de Agências de Comunicação (EACA), além de fazer parte da Confederação da Publicidade dos Países de Língua Portuguesa (CPPLP), sediada em Lisboa. » • 45 • Cervejaria Antarctica (1926) Re pr od uç ão • 46 • Cervejaria Brahma (1950) Re pr od uç ão • 47 • » de 20 anos de endurecimento político. O que poderia ter sido o sepultamento da propagan- da nacional, dadas as restrições partidárias, a censura na mídia e a repressão social, na verdade foi o início de um período inovador, em que as agências viveram mo- mentos de extrema criatividade. Inspirados pela experiên- cia pioneira de Bill Bernbach na agência norte-americana Doyle Dane & Bernbach, os publici- tários brasileiros passaram a valorizar a criação como prin- cipal diferencial das marcas na luta pela preferência do consu- midor. A linguagem perdeu o tom formal e os pontos fortes de cada produto passaram a ser comunicados com bom humor e apelo à emoção. As duplas de criação (juntando redator e diretor de arte) passaram a ser a referência. No final dos anos 1960, o Brasil já tinha cerca de mil agências de propaganda em atividade. Foi nessa época, mais especificamente em setembro de 1968, que a TV Globo co- locou no ar o Jornal Nacional, há 40 anos uma das maiores referências da TV brasileira. O telejornal foi pioneiro na veicu- lação em cadeia de seus horários comerciais em todo o país, que estabeleceu padrão de duração C R I A T IV I D A D E : D N A B R A S I L E I R O Após a Segunda Guerra Mun- dial, o mundo viveu décadas de libertação moral e social. O rock de Elvis Presley mexeu com os quadris e com o comportamento dos jovens, exportando o mode- lo cultural norte-americano para os cinco continentes. Nos anos 1960 as mulheres usavam minis- saias e experimentavam a pílula e o homem pisava na lua pela primeira vez. O Brasil deu um salto de desenvolvimento nesse período. Foi a época das gigan- tescas obras de infraestrutura, mas também o período de restri- ções às liberdades – individuais e coletivas – com o golpe militar de 1964, que marcou um ciclo e recepção simultânea nos qua- tro cantos do imenso território brasileiro. A maior sofisticação e diversificação dos veículos de mídia e dos anunciantes leva- ram naturalmente as agências para um desenvolvimento de suas estruturas internas. Foram criados meios de mensuração e planejamento mais modernos, ao mesmo tempo em que insti- tutos de pesquisa, como o Ibope e o Marplan, expandiram suas atividades. Farinha Láctea Nestlé (1915) Re pr od uç ão • 48 • O S L O G A N “ D I R E T A S J Á !” A redemocratização nos anos 1980 foi diretamente influenciada pela propaganda. Até mesmo o slogan das “Diretas Já” foi criado por uma agência de publicidade, a Exclam. Nos anos seguintes votamos uma nova Constituição, vivemos planos econômicos fracassados, elegemos e, depois, ajudamos a derrubar o presidente Fernando Collor de Mello e chegamos à década de 1990 com as esperanças questionadas: seríamos mesmo o país do futuro? Esse período foi também o de consolidação de algumas das mais importantes agên- cias brasileiras. O que mais chama a atenção, passadas mais de duas décadas, é que a propaganda brasileira soube evoluir a partir das ad- versidades econômicas com as quais convivemos até o Plano Real, em 1994 – um marco divisor para o país. As agências se profissio- nalizaram rapidamente, e começaram a integrar outras disciplinas de comunicação como marketing direto, marketing promocional, eventos, ativação de marcas, dentre outras. Quem não se lembra dos eventos que marcaram a cultura de massa do país, como o Rock in Rio e o Free Jazz Festival? A eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência aprofundou as mudanças em curso, integrando o Brasil à economia global. Investimentos estrangeiros ocorreram de forma intensa e sistemática. E grandes conglomerados multinacionais se instalaram no país. A indústria das telecomunicações, por exemplo, trouxe empresas que se tornaram pode- rosos anunciantes. Essa pujança econômica teve reflexos na sala de estar de todos os brasileiros, que passaram a conviver com propagandas mais criativas e mais ousadas na TV, no rádio e nos jor- nais e revistas. Após quatro tentativas, em 2002, finalmente o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu se eleger para a presidência. Ele soube consolidar os avanços econômicos conquis- tados do governo anterior e ainda criou condições para que a indústria batesse recordes de produção e houvesse melhor distribuição de renda. Mas o que mais impactou o mercado publicitário foi a in- corporação definitiva de milhões de brasileiros ao mercado de consumo – especialmente a nova clas- se C. Isso mudou tudo novamente, como veremos mais à frente neste artigo. » • 49 • Acho importante ressaltar que em todas as fases pelas quais a publicidade brasileira passou nos últimos cem anos – inclusive durante os anos de chumbo da ditadura militar – os profissionais en- volvidos e as agências sempre lutaram pela liber- dade de expressão. É a propaganda que garante a liberdade de expressão porque a independência e a qualidade editorial dos veículos está alicer- çada na diversidade de anunciantes e agências. Essa é uma discussão mais atual do que nunca, pois, apesar do desempenho extremamente po- sitivo, das perspectivas de cenário econômico de crescimento e da realização de grandes eventos no Brasil, como a Copa do Mundo e as Olimpía- das do Rio de Janeiro, algumas ameaças pairam no horizonte. São diversas as ameaças à liber- dade de expressão comercial, que é, em minha visão, irmã siamesa da liberdade de expressão editorial. Projetos de lei, agências que extrapo- lam suas funções e produzem leis, setores mino- ritários que tentam impor seus pontos de vista de O C O N A R E A L I B E R D A D E D E E X P R E S S Ã O Vermute Cinzano (1922) » Re pr od uç ão • 50 • forma quase messiânica requerem atenção. Não será pela via do cerceamento de liberdades que caminharemos para um mercado crescentemente maduro e saudável. Acredito no papel da ABAP em manter diálogo permanente com a opinião pública e participar do aprimoramento das relações institucionais, além de zelar pela vitalidade do negócio e criar com responsabilidade. A publicida- de brasileira tem um profundo compromisso com a verdade, pois trabalha consciente de que não há julgamento mais rigoroso do que aquele exercido com liberdade pelo consumidor. E os órgãos reguladores criados pelo própriosetor nas últimas décadas têm demonstrado eficiência e agilidade para debater e resolver seus problemas sem a interferência da justiça ou do governo. A propaganda brasileira tem no Conselho Nacional de Autorre- gulamentação Publicitária (CONAR) o alicerce de sua liberdade de expressão comercial, ao lado da Constituição Federal e do Código de Defesa do Consumidor. Essa organização é encarregada de fazer valer o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, cria- do no final da década de 1970. O CONAR atende a denúncias de consumidores, autoridades, dos seus associados ou ainda aquelas formuladas pela própria diretoria. Se a denúncia tiver procedência, o CONAR recomenda aos veículos de comunicação a suspensão da exibição da peça ou sugere correções à propaganda. Pode ainda advertir o anunciante e a agência. Nessas três décadas de atuação, o CONAR já instaurou mais de 7.000 processos éticos e promo- veu um sem-número de conciliações entre associados em conflito. Nunca foi desrespeitado pelos veículos de comunicação e, nas raras vezes em que foi questionado na justiça, saiu vitorioso. Os números dos últimos dez anos de atuação mostram a eficiência do CONAR em coibir anúncios que não atendem às regras éticas estabelecidas. De 2001 para cá, já foram sustados 1.213 anúncios – 35,8% dos 3.387 processos instaurados. E em 394 casos (11,6% do total) hou- ve conciliação entre as partes envolvidas. Outra prova da eficiência dos processos de autorregulamenta- ção no mercado publicitário brasileiro pode ser vista no Conselho Executivo das Normas Padrão (CENP), que defende a certifica- ção do modelo brasileiro de agências de publicidade. Criado em 1998, tem a missão de estabelecer princípios éticos no relacio- namento comercial entre anunciantes, agências de publicidade e veículos de comunicação, por meio da autorregulamentação. O CENP concede certificados de qualificação técnica às agências que cumprem as regras estabelecidas pelas nor- mas-padrão, o que lhes garante o recebimento do “desconto-padrão” de agência, concedido pela legislação que trata da publicidade. Hoje, já são mais de 10 mil agências cadastradas e 150 processos analisados por mês, o que revela a atuação rigorosa do conselho junto ao setor. Em 2007, durante o IV Congresso Brasilei- ro de Publicidade, realizado em São Paulo, o setor obteve importante conquista com a cria- ção da Frente Parlamentar Mista de Comunica- ção Social no Congresso Nacional, que contou com a adesão inicial de 198 deputados federais e senadores. Desde então, esse grupo se tornou um fórum permanente de discussão de temas de interesse do setor e foi fundamental para a aprovação da lei 12.232, que regulamenta defi- nitivamente os parâmetros para a contratação de agências de publicidade em todas as esferas do poder público e está em vigor desde abril de 2010. Foi uma vitória da publicidade brasileira, um avanço extraordinário do ponto de vista insti- tucional. Bandeira defendida com vigor por toda a indústria da comunicação, esse ordenamento legal traduz uma pronta reação às práticas ilíci- tas de indivíduos desonestos, que, infiltrados no negócio, induziam à crença de que ele estava sob suspeita. Nesse caso, nada mais apropriado do que ter jogado luz sobre os procedimentos e tor- nar mais cristalinas todas as contratações. • 51 • S U S T E N T A B I L I D A D E o vencedor do prêmio, a gestão sustentável do anunciante terá um peso maior, valendo “peso 6”, enquanto a comunicação, a cargo da agência, terá “peso 4” na nota final. Na prática, as agên- cias poderão fazer uma autoavaliação sobre suas práticas internas e junto a seus clientes, parcei- ros e fornecedores. E vão estimular as agências a colocar os impactos socioambientais em pauta na hora de criar um anúncio, de discutir um pla- nejamento, de definir um mapa de mídia e até no momento de contratar um fornecedor. A ABAP pretende com essa iniciativa criar um ranking nacional de sustentabilidade entre as agências, incentivando a adoção de práticas positivas. Vale lembrar que o Brasil tornou-se um mer- cado-chave para marcas globais crescerem e conquistarem novos consumidores. A força da indústria de comunicação brasileira movimenta bilhões de dólares e gera riquezas, empregos e impostos. Portanto, é necessário encontrar so- luções que possam atender aos interesses do mercado brasileiro como um todo, tanto das agências quanto das produtoras de filmes pu- blicitários. Essa busca por soluções negociadas é o melhor caminho para desenvolver nossa in- dústria da propaganda respeitando suas singu- laridades – assim como as dos demais países en- volvidos. O Brasil tem um modelo único: reúne numa só agência os profissionais de atendimen- to, planejamento, criação, mídia e produção. É esta parceria entre agência, parceiros de produ- ção e os veículos de comunicação que garante a qualidade criativa da nossa propaganda. A força da nossa criatividade é reconhecida em muitas premiações internacionais, destacadamente no Festival de Cannes, no qual as agências brasilei- ras sempre têm uma excelente performance. Outra inovação proposta pela ABAP foi anuncia- da em março de 2011, na Bahia, durante o evento “Nordeste, a Bola da Vez”: os “Indicadores de Sustentabilidade da Propaganda Brasileira” têm o objetivo de promover a produção de publici- dade responsável e o consumo sustentável. Eles são parâmetros e diretrizes para que as agências de publicidade possam adotar práticas sustentá- veis em suas atividades e mensurar seu grau de envolvimento nessas ações. A eficiência dessas ações poderá ser medida no Prêmio ABAP de Sustentabilidade, cujo objetivo é justamente es- timular as agências a participarem de processos sustentáveis com investimentos de responsabili- dade social junto à comunidade. Para escolher » • 52 • A N O V A C L A S S E C Hoje, a indústria da comunicação no Brasil re- presenta cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e emprega 1 milhão de pessoas. Só a área de publicidade movimenta R$ 47 bilhões, de acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na prática, a am- pliação dos programas sociais do Governo Fede- ral e o empoderamento da classe C, levam o Brasil à marca de 100 milhões de pessoas entrando no mercado de consumo. Uma multidão que passa a ter acesso a renda e crédito e traz novas aspira- ções e desejos de consumo. O Brasil ainda é um grande exportador de com- modities agrícolas, mas desde que houve a estabili- zação da economia estamos vivendo um ciclo em que empresas abrem seu capital. Com o fenômeno desses “IPOs”2, temos o fato de que efetivamente “marca” virou um “ativo” das empresas valorizado em Bolsa. Segundo a Interbrand, o valor da marca Natura representa muito do valor total da Natura na Bolsa. E neste momento estamos vivendo o cresci- mento de empresas brasileiras em direção ao exte- rior, levando as marcas destas multinacionais bra- sileiras para outros mercados – como ocorre com a Natura, a Gerdau, a Votorantim, a Odebrecht, a Camargo Corrêa e muitas outras. É um fenômeno que deve se intensificar nos próximos anos. Cada vez mais o país terá que exportar também marcas. 2 . I P O S : I N I T I A L P U B L I C O F F E R I N G S , O U O F E R T A I N I C I A L D E A Ç Õ E S ; T R A T A - S E D E U M T I P O D E O F E R T A P Ú B L I C A E M Q U E A S A Ç Õ E S D E U M A E M P R E S A S Ã O V E N D I D A SA O P Ú B L I C O E M G E R A L E M B O L S A D E V A L O R E S P E L A P R I M E I R A V E Z , T O R N A N D O A E M P R E S A D E C A P I T A L A B E R T O . » • 53 • Paralelamente, o Brasil virou uma região vital para marcas globais: é o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, o segundo maior mercado de maquiagem, o quarto maior mercado automo- tivo e o segundo maior mercado em crescimento de cartões de crédito e de débito. Conforme da- dos da International Air Transport Association (IATA), o Brasil será o quarto maior mercado do- méstico de viagens do mundo em 2014. A proje- ção de crescimento nas viagens domésticas apon- ta para uma média mundial de 5,7% e os maiores mercados internos em 2014 serão Estados Unidos (671 milhões), China (379 milhões), Japão (102 milhões), Brasil (90 milhões) e Índia (69 milhões). Outro bom exemplo do potencial do Brasil foi dado recentemente pelo presidente da Google, o norte-americano Eric Schmidt. Ele disse que o Brasil se consolida como um alvo especial para o gigante de buscas na internet e revelou sua proje- ção da empresa no país. “O Brasil caminha para ser o sexto maior mercado do Google”, revelou em recente entrevista. Somos um dos principais protagonistas da nova ordem econômica global e integrante dos BRICS (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e, mais recentemente, a África do Sul). Diversas marcas globais e nacionais esta- rão associadas a estes grandes eventos, trazendo novas receitas de patrocínios, gerando novas cam- panhas publicitárias e promocionais. E as oportunidades crescem a cada ano. Esco- lhido para sediar a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o país é a bola da vez nos mercados globais. Estimativas apontam que o Mundial de 2014 deverá trazer ao Brasil 650 mil estrangeiros – quase o dobro dos 350 mil que foram à Copa do Mundo da África do Sul. É um público muito qualificado e que gas- ta bastante para se divertir. Os turistas que foram à África do Sul assistir aos jogos da Copa eram, na maioria, homens europeus ou norte-americanos de alta renda. Gastaram, em média, R$ 11,4 mil, excluindo-se passagens, e passaram 17,6 dias no país, segundo pes- quisa da FGV encomendada pelo Ministério do Turismo para subsi- diar as ações governamentais para a Copa do Mundo no Brasil. Uma ótima perspectiva para o país do futebol. Muitas marcas globais e nacionais vão estar associadas a esses grandes eventos, trazendo no- vas receitas de patrocínios, gerando novas campanhas publicitárias e promocionais. A receita do país com turistas estrangeiros deve passar de R$ 6,3 bilhões para R$ 8,9 bilhões até 2014, ano da Copa do Mundo. O Ministério do Turismo e entidades do setor projetam um crescimen- to de 55% no faturamento com a vinda de turistas do exterior para o Brasil. Sem falar na estimativa de geração de emprego no setor até 2014: o país deve criar 2 milhões de novas vagas formais e informais no mercado de trabalho nos próximos quatro anos. Mais empregos, mais salários e mais população empoderada significam, na prática, mais movimentação econômica, maior concorrência e, naturalmen- te, mais publicidade. O cenário positivo para a economia brasileira intensificou o in- teresse de companhias estrangeiras em investir no mercado nacio- nal. Enquanto grande parte dos recursos em infraestrutura deve se concentrar em construtoras brasileiras, a tendência para os próxi- mos anos é que se acentuem os investimentos no país por parte de pequenas e médias empresas de outros países, atraídas pelas opor- tunidades no pulverizado mercado de serviços. Apesar das dificul- dades em se obter um valor exato da entrada de capital estrangeiro por conta dos inúmeros projetos ligados à Copa e à Olimpíada que ainda não foram aprovados, as projeções apontam para a inserção de pelo menos R$ 7 bilhões oriundos do mercado externo por con- ta da realização das duas competições. O dado tem como base a avaliação da consultoria Crowe Horwath RCS de que as empresas estrangeiras devem participar de 25% dos investimentos totais para os jogos. • 54 • O B R A S I L É A B O L A D A V E Z O boom da economia digital no mundo também tem seus efeitos positivos para o Brasil. O cresci- mento impressionante da internet abre novas pos- sibilidades para o país –e, claro, para a indústria da publicidade. Hoje, já somos o quinto maior mer- cado do mundo para redes sociais online, segundo pesquisas de empresas especializadas em medição de audiência na internet. No país, sites de relacio- namento social recebem mais de 40 milhões de visitantes únicos por mês. Os Estados Unidos li- deram o ranking, com quase 200 milhões de visi- tantes únicos por mês. O Brasil, entretanto, está à frente de países desenvolvidos mas não tão popu- losos, como o Reino Unido, e também de algumas nações emergentes com imensa população, como a Índia. No mundo, as redes sociais online recebem mais de 1 bilhão de visitantes únicos – um cresci- mento de mais de 20% ao ano. Reparem que esses números correspondem apenas a acessos a partir de residências e do trabalho, excluindo visitas fei- tas de lugares públicos, como cafés e lan houses, bem como de acessos via celular (que são meios cada vez mais utilizados). O número de brasileiros com acesso à inter- net em qualquer ambiente (domicílios, trabalho, escolas, lan houses ou outros locais) atingiu 73,9 milhões no quarto trimestre de 2010, segundo o Ibope Nielsen Online. Isso representa um cresci- mento de 9,6% em relação aos 67,5 milhões do quarto trimestre de 2009. O acesso à internet no trabalho e em casa vem crescendo ainda mais. O total de pessoas com acesso em pelo menos um desses dois ambientes chegou a 56 milhões em fevereiro de 2010, o que significou um crescimen- to de 19,2% sobre os 47 milhões do mesmo mês do ano anterior. O tempo de uso do computador por pessoa também cresce rapidamente no Brasil: chegou a 62 horas e 19 minutos na medição de fe- vereiro deste ano – o que nos coloca no topo do ranking mundial de tempo médio de uso de inter- net entre os 41 países que o Ibope Nielsen pesqui- sa. E o que isso tem a ver com o negócio da pu- blicidade? Tem tudo a ver. Um estudo feito pelo Ibope, após ouvir 8.561 pessoas com idade supe- rior a dez anos em 11 regiões metropolitanas do país, indica que sites de mídia social influenciam nas decisões de compra de 25% dos usuários de internet. E mais da metade dos internautas não se incomoda com a utilização das redes sociais pelas empresas para divulgarem produtos e serviços e analisarem o comportamento de seus consumido- res através de monitoramento. Essa aceitação por parte do consumidor abre novas possibilidades de » • 55 • criação para os publicitários, no Brasil e em outros países. Para tanto, é preciso conhecer quem são essas pessoas. No Brasil, 37,5% dos usuários têm entre seis e 24 anos. E 50% têm entre 25 e 44 anos, se- gundo pesquisa da ComScore. Esse público jovem passa horas por dia nas redes sociais. O Orkut, uma das maiores do mundo, tinha 72% de seus usuários no Brasil. Segundo o Ibope NetRatings, mais de 80% dos internautas têm perfis em redes sociais. Essa inovação tecnológica ainda é recente, mas já muda comportamentos, inclusive na hora de colocar a mão no bolso. Estudos mostram que 20% desses internautas compraram um celular ou mudaram seus planos de telefonia para acessar re- des sociais com mais facilidade. Olhando para trásconstatamos, sem exagero, que a propaganda brasileira contribuiu para a edu- cação de muitas crianças que aprenderam a esco- var melhor seus dentes. A propaganda brasileira, numa linguagem sutil e delicada, ensinou mulhe- res brasileiras a usarem absorvente feminino. Isso porque nós publicitários, com talento criativo e responsabilidade, sabemos contar uma boa his- tória. A partir de uma grande ideia, conseguimos inserir – com ética e pertinência – a missão, os va- lores e os atributos de uma empresa, posicionan- do marcas nas mentes e nos corações de milhões de consumidores. A propaganda é a ferramenta da economia criativa que tem um enorme efeito multiplicador, porque é inimaginável o poder de criação de ri- quezas a partir de uma ideia forte que construa um posicionamento memorável e único, tornando marcas de produtos, serviços e empresas muito relevantes nas vidas das pessoas. Essa é uma história recheada de prêmios e que conquistou a maior das consagrações: a do público. Pesquisa do Ibope realizada no ano passado apontou que 87% dos brasileiros gostam de propaganda. E que 67% declararam que ela tem um pa- pel importante em suas vidas. Essa é uma notícia a ser comemorada pelos profissionais e empreendedores do segmento. Mas há que se manter os olhos voltados para o futuro. É lá que vamos construir a indústria da publicidade do século XXI. Vamos percorrer esta gran- de avenida digital. Porque nenhuma empresa nasce para anunciar, mas, na era do conhecimento e da informação, é impossível que as empresas vivam sem comunicação, numa gestão integrada da marca na relação com todos os seus stakeholders. Expectorante Bromil (1938) Re pr od uç ão • 56 • Talco Johnson (1956) Re pr od uç ão • 57 • Creme dental Kolynos (1956) Re pr od uç ão Guga Ketzer é sócio e Vice-Presidente de Criação da Loducca, que pelo segundo ano consecutivo foi eleita a agência independente ibero-americana mais premiada no mundo. Com apenas quatro anos de profissão, Guga ganhou o até hoje único Leão de Ouro em Print para o Brasil no Young Creatives, em Cannes. Em 2009, venceu o Prêmio Caboré como Profissional de Criação. Em 2011, foi escolhido como um dos "Dez Profissionais de Comunicação do Ano” pela Meio & Mensagem e foi também o único latino-americano apontado pelo Advertising Age como um dos "Creatives You Should Know". Em sua carreira, já recebeu prêmios nos principais festivais nacionais e internacionais – incluindo One Show, D&AD, Clio, LIA, Fiap, El Ojo, NY Festival, Prêmio Abril, CCSP, Wave e 21 Leões em Cannes (sendo quatro de Ouro). De acordo com a pesquisa bienal AgencyScope de 2012, Guga Ketzer foi apontado pelos profissionais de marketing como um dos 13 publicitários mais destacados do país. a c r i a t i v i d a d e c o m o m a r c a g e n é t i c a Fo to : M ar ce lo N ad de o • 60 • Criatividade é algo que faz parte do DNA do brasileiro. Historicamente fomos obrigados a adaptar as coisas para as nossas necessidades. Somos “resolvedores” natos de problemas. Fomos criados com tantas adversidades, que sempre tivemos que achar algo criativo para sobreviver da melhor forma. O brasileiro é um povo criativo em sua essência. E essa maneira de ser e de viver moldou nossos padrões. Enxergar a realidade com uma lente diferente e ser capaz de mudá-la virou parte da nossa cultura. Mas talvez seja importante conhecer um pouco mais dessa cultura, ou melhor, do que somos feitos para desvendar nosso genoma. Somos um caldeirão fervilhando de culturas, cores, sons, sabores, cheiros, gostos, religiões, crenças, ou seja, tudo. Com um DNA feito de uma grande mistura é fácil dizer que somos feitos de todo o mundo, do mundo todo. É assim que fomos criados. E somos orgulhosos disso. Nossa variedade aceita a flexibilidade, as diferenças. Por aqui uma pessoa pode ser protestante, budista, católica e espírita. E tudo ao mesmo tempo. E se todas as religiões vivem juntas e em paz dentro da mesma pessoa, não seria diferente fora dela. Somos o país com o maior número de • 61 • católicos no mundo. O que teoricamente nos colocaria numa situação extremamente conservadora. Por outro lado, temos o Carnaval. Com centenas de corpos seminus dançando pelas ruas. E tudo isso televisionado em horário nobre. São Paulo é a maior “cidade japonesa” fora do Japão. E tem mais pizzarias do que Roma. E isso são só apenas dois exemplos, existem centenas deles. Milhares de paradoxos. Um país de contradições. Um jeito de viver que mais parece um caleidoscópio. E esse caleidoscópio nos dá a habilidade de enxergar a vida de um jeito mais colorido: nos faz sonhar mais. E sonhar é algo muito forte na nossa cultura. Sonhar e falar, às vezes, é mais importante do que o fazer. Planejar algumas coisas, como uma viagem, muitas vezes é tão legal quanto a viagem em si. Isso não significa que não gostamos de realizar, de produzir coisas. Pelo contrário. Nossa média de trabalho é 30% maior que a dos europeus e norte-americanos. Mas diferente de muitos outros, sonhar é algo que fazemos acordados (talvez essa também seja uma das chaves da nossa criatividade). Isso sem falar de futebol, música e culinária. Campos onde nossa criatividade floresce. • 62 • Não inventamos o futebol, mas colocamos nele um toque jamais visto no esporte. Tanto que o “Rei” é nosso. Nossa música é tão vasta e rica que rótulo nenhum é capaz de aprisioná-la. O tempero, as cores de nossa comida, as misturas e receitas são únicas e variadas. E no final das contas, é claro que isso tudo é um alimento rico para quem trabalha com comunicação e criatividade. Todo esse código genético recheado de ousadia, liberdade, diversão, diversidade, prazer, alegria e sonho quando aplicado a nossa indústria de propaganda não poderia gerar resultados menores do que explosivos. Não é à toa que somos uma potência reconhecida internacionalmente ao longo de muitos anos. Nossa indústria da criatividade tem ajudado a construir grandes marcas e negócios. Impulsionando uma economia ávida por ideias e resultados. Desde sempre. Não somente agora que estamos vivendo um momento fantástico em nossa história. Pelo contrário, nos momentos de crise tivemos que exercitar e muito a nossa criatividade. Crescemos na adversidade. Nunca fomos acostumados a viver na estabilidade econômica e social. E quase como que em um • 63 • modo de sobrevivência, fomos resolvendo problemas das maneiras mais inusitadas possíveis. Porque não sabíamos muitas vezes qual seria o amanhã. O que nos deu não só um treinamento criativo como uma eficiência em produzir ideias. Descobrimos desde o berço que criatividade é uma maneira única, inovadora e original de se resolver alguma questão. Em comunicação, é um meio para se alcançar um objetivo. Mas o importante é que ela nunca seja um fim. Criatividade pela criatividade é algo em que não acreditamos. Ela é uma parte fundamental do negócio, um vetor para os resultados. Uma chave para se estabelecer relações com os consumidores. Criatividade é o caminho mais curto para um resultado e não o resultado. Ela pode fazer uma marca com muito menos budget superar uma gigante, ela pode criar um engajamento emocional capaz de durar anos, décadas. Por sermos tão criativos em nossas raízes culturais, a propaganda é admirada por aqui tanto quanto qualquer conteúdo de comunicação. As pessoas as discutem nos almoços e jantares, as crianças cantam jingles nas escolas. Muita gente ainda se • 64 • lembra daqueles comerciais que marcaram sua infância.
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