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Fundamentos da Epidemiologia Aulas

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Fundamentos da Epidemiologia
Aula 1
	
Hipócrates (a.C. 460 a 377 a.C.), o pai da Medicina, é considerado o precursor da Epidemiologia, devido aos seus relatos sobre as epidemias. Hipócrates não se limitava a analisar o paciente em si, mas possuía uma visão holística demonstrando antecipadamente um raciocínio epidemiológico. Analisava as doenças de forma racional como produtos da relação dos indivíduos com o ambiente e com a maneira de viver. 
Segundo Rouquayrol (1999) Epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças.
As principais aplicações da Epidemiologia são:
Investigação etiológica;
Determinação de riscos;
Aprimoramento na descrição de quadro clínico;
Determinação de prognósticos e diagnósticos de Doenças Infectocontagiosas (DIC) e Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT);
Uso nos serviços de saúde: vigilância epidemiológica, estudos de situação de saúde, e avaliações dos serviços, ações e programas de saúde vigentes.
Os principais objetivos da Epidemiologia são:
Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações humanas;
Proporcionar dados para planejar, executar e avaliar ações de prevenção, controle e tratamento das doenças;
Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades.
Por ser muito importante para os estudos Epidemológicos a atuação da saúde é dividida em dois tipos:
	Saúde Pública
	Saúde Coletiva
	A Saúde Pública está relacionada a um campo de saberes e práticas baseado na intervenção técnica e política do Estado, cujas práticas voltam-se tanto para o individual quanto para o coletivo (Pires Filho, 1987).
	A Saúde Coletiva “é a ciência que evita doenças, prolonga a vida e desenvolve a saúde física, mental e a eficiência, através de esforços organizados da sociedade, para o saneamento do meio ambiente, o controle de infecções entre as pessoas, a organização de serviços médicos e paramédicos para diagnóstico precoce e o tratamento preventivo de doença, e o aperfeiçoamento da máquina social que assegurará a cada indivíduo, dentro da sociedade, um padrão de vida adequado à manutenção da saúde” (Winslow citado por Rouquayrol, 1999).
Aula 2
Segundo Tambellini,1988 , saúde é um bem coletivo que deve ser compartilhado individualmente por todos os cidadãos. Comporta duas dimensões essenciais: a dimensão do indivíduo e a dimensão da coletividade.”  Podemos observar a dimensão social do conceito de saúde. A saúde passou a ser, também, um critério de cidadania. Assim, podemos afirmar que todos os cidadãos são responsáveis pela manutenção da sua saúde (citado por Rouquayrol, 2003).
Níveis de Atenção à saúde
Atenção Primária à Saúde
Realizada no período pré-patogênico. Compreende aplicação de medidas dirigidas a determinado agravo à saúde.
Objetivos: 
• Promoção da saúde e prevenção de doenças;
• Interceptar  as causas patológicas antes mesmo que atinjam o indivíduo. 
Exemplos de medidas de proteção específica:
Imunização, quimioprofilaxia para certas doenças, proteção contra acidentes, controle de vetores, aconselhamento genético, o auto-cuidado em saúde (alimentação adequada, prática regular de exercícios físicos, higiene).
Atenção Secundária à Saúde
Realizada no indivíduo sob ação do agente patogênico, isto é, quando o período pré-patogênico já foi ultrapassado e o processo patológico foi desencadeado. 
As medidas preventivas nesse nível incluem: 
Diagnóstico precoce, tratamento imediato e limitação da incapacidade.
Atenção Terciária à saúde
Corresponde às medidas adotadas após as consequências da doença, representadas pela instalação de deficiências funcionais. 
Objetivo: 
Consiste em alcançar a recuperação total ou parcial, através dos processos de reabilitação e de aproveitamento da capacidade funcional remanescente. 
As medidas mais frequentemente utilizadas nesse nível é:
A prática de exercício físico realizado através dos profissionais de educação física e fisioterapia, a reeducação alimentar, a terapia ocupacional e a readaptação à vida normal.
A doença pode ser definida como uma falha nos mecanismos de adaptação do organismo, levando a perturbações na estrutura, na função de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo e de suas funções vitais (Jenicek&Cléroux citados por Rouquayrol, 1999). 
Aula 3
Segundo  Relatório Final da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde ( Fiocruz, 2008), alguns DSS são biológicos, enquanto outros, de abrangência coletiva, são dependentes de políticas públicas e das condições políticas, econômicas, sociais, culturais e ambientais existentes.  Para promover a saúde as ações devem atuar sobre o universo dos determinantes da saúde pessoais e não pessoais. Dentro desse contexto, destaca-se a importância da Epidemiologia Social, visto que a doença tem caráter histórico e social. 
É fundamental a compreensão do processo saúde-doença como processo social e enfatizar que os DSS desempenham um impacto direto na saúde”.
A saúde envolve:
Aspectos biológicos: idade, gênero, ciclo de vida (infância, adolescência, maturidade, velhice), herança genética;
Aspectos ambientais, incluindo o físico e o socioeconômico e cultural;
Estilo de vida: higiene pessoal, dieta, atividade física, adições, comportamento sexual e outros;
Os princípios de justiça social, equidade em saúde e direitos humanos e suas relações são valores fundamentais para a ação sobre os Determinantes Sociais de Saúde (DSS). A necessidade de um enfoque integral, intersetorial e participativo para a compreensão e ação sobre DSS é extremamente relevante. 
Aula 4
A análise da situação de saúde é uma das aplicações da Epidemiologia, na interface entre a produção de conhecimentos e sua aplicação aos serviços de saúde. Na verdade, é necessário conhecer o que afeta a saúde da população e em que medida isso ocorre, o que compromete o pleno desempenho das potencialidades humanas, quais os fatores relacionados ao surgimento de doenças, agravos e óbitos e os que podem ser evitados através de prevenção e assistência adequada.
A doença como evento pode ser medida em sua frequência e analisada para o estudo das características e do impacto sobre a situação de saúde da população (Barata, 1997).
Dessa forma, métodos epidemiológicos são empregados para estudar uma doença ou agravo à saúde identificando, assim, grupos que estejam sob maior risco, indicando possíveis causas e produzindo informações que auxiliem o controle das enfermidades e na avaliação dos resultados das ações e serviços de saúde.
 
A produção de dados referentes às doenças (dados de morbidade) e os óbitos (dados de mortalidade) a partir de registros ambulatórias, hospitalares ou de inquéritos populacionais é uma ferramenta extremamente útil.
Aula 5
A investigação epidemiológica envolve a coleta, o manejo e o tratamento dos dados epidemiológicos que devem ser realizados a partir do método.
A contínua construção do conhecimento, a formulação de problemas significativos, a abertura a novas ideias, a fatos novos e relevantes, o entusiasmo na resolução de problemas e a sensibilidade perceptiva são algumas qualidades que devem estar presentes na investigação epidemiológica.
 
Medidas de promoção da saúde também determinam a problemática da Epidemiologia.
Dentro desse contexto, é imprescindível destacar que a solução de um problema epidemiológico pode representar a vida e a sobrevivência de indivíduos e coletividades.
Uma hipótese epidemiológica compreende uma explicação para algum fenômeno, como por exemplo, a distribuição ou a determinação do surgimento de doenças e/ou indivíduos doentes, em populações, através de relações estabelecidas entre as variáveis que representam risco, fatores de risco e vulnerabilidade às doenças. 
A Epidemiologia descritiva usa princípios básicos de outras ciências, como a Sociologia, a Antropologia e asCiências Políticas; além disso, utiliza as ferramentas da estatística, objetivando revelar os problemas de saúde-doença em nível coletivo, possibilitando o detalhamento do perfil epidemiológico da população com vistas à promoção da saúde. No enfoque temporal, a Epidemiologia descritiva pode estudar o estado atual, a tendência histórica ou a tendência prospectiva dos agravos à saúde.
As variáveis são os elementos do processo saúde-doença que se quer estudar. 
 
Os métodos e as técnicas da Epidemiologia são utilizados para detectar uma associação entre uma doença ou agravo e características de pessoa, tempo e lugar. Portanto, o primeiro passo para o entendimento de um problema de saúde ou de uma doença consiste em descrevê-lo por meio de variáveis de pessoa, tempo e lugar.
As pessoas incluídas nos estudos são diferenciadas entre si por atributos tais como: gênero, religião, peso ou altura, que são as variáveis.
Epidemia
 
Elevação do número de casos de uma doença ou agravo em um determinado lugar e período de tempo, que caracterize, de forma clara, um excesso em relação à frequência esperada.
 
Manifestação em uma coletividade ou região, de um grupo de casos de alguma enfermidade que excede a incidência prevista. 
 
O número de casos varia de acordo com a causa, o tamanho e as características da população exposta, sua experiência prévia ou falta de exposição à enfermidade, o local e a época do ano em que ocorre. 
 
O mais importante é o caráter desse aumento – descontrolado, brusco, significante, temporário. Exemplo: epidemia de dengue.
Surto epidêmico
 
Tipo de epidemia em que os casos se restringem a uma área geográfica pequena e bem delimitada.
 
Designa-se surto quando dois ou mais casos de uma determinada doença ocorrem em locais circunscritos, como instituições, escolas, domicílios, edifícios, cozinhas coletivas, bairros ou comunidades, aliados à hipótese de que tiveram, como relação entre eles, a mesma fonte de infecção ou de contaminação ou o mesmo fator de risco, o mesmo quadro clínico e ocorrência simultânea.
Endemia
 
É a ocorrência coletiva de uma determinada doença que, no decorrer de um largo período (temporalmente ilimitada), acometendo sistematicamente grupos humanos distribuídos em espaços delimitados e caracterizados, mantém uma incidência relativamente constante, permitindo flutuações de valores, tais como as variações sazonais. Exemplo: tuberculose, malária e febre amarela.
Pandemia
 
É considerada uma epidemia de grandes proporções e larga distribuição geográfica, que se espalha por vários países e a mais de um continente. Um exemplo típico deste evento é a Aids que acomete todos os continentes.
Aula de Revisão
A epidemiologia se constitui na principal ciência da informação em saúde e é considerada a ciência básica da saúde coletiva. 
Interfaces da epidemiologia
- Ciências biológicas (clínica, patologia, microbiologia, parasitologia, imunologia): Epidemiologia clínica e a aplicação do método epidemiológico na clínica; 
- Ciências Sociais: A epidemiologia social representa o renascer da determinação social da doença;
- Estatística (coleta e análise de dados).
A epidemiologia estuda os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) e as condições de ocorrência, bem como as possíveis formas de intervenção e controle das doenças e agravos à saúde em populações humanas.
A epidemiologia vai muito além do estudo do "risco biológico". Na verdade, a Epidemiologia transcende a “biologização”, visto que investiga problemas de cunho social, por isso é definida pelo seu caráter social, considerando os aspectos socioeconômicos e políticos de seus determinantes, ou seja, a determinação social da saúde, como iremos estudar na aula 3.
Qualidade de Vida
Termo que representa uma tentativa de nomear características da experiência humana;
 Um conceito global que aborda diferentes dimensões da vida do ser-humano.
A saúde de cada indivíduo, bem como o perfil epidemiológico da população, é explicado através do “formato” que cada um dá para própria vida.
“Formato”: as condições gerais de existência caracterizam o modo de vida que articula as condições e o estilo de vida.
Condições de vida: condições materiais necessárias à subsistência, relacionadas à nutrição, à habitação, ao saneamento básico e às condições do meio ambiente.
Estilo de vida: formas social e culturalmente determinadas de vida, que se expressam no padrão alimentar, no dispêndio energético cotidiano no trabalho e no esporte, hábitos como fumo, álcool e lazer.
INDICADORES DE SAÚDE
São parâmetros/medidas utilizados internacionalmente com o objetivo de avaliar o nível de saúde de uma coletividade, bem como do desempenho do sistema de saúde. 
Vistos em conjunto, devem refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde.
PREVALÊNCIA
Número de casos existentes de uma doença em um dado momento
Exemplo: Estimativa de 30 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo em 1998.
INCIDÊNCIA
Frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo de tempo;
Exemplo: Notificações de casos novos de AIDS em maiores de 13 anos durante o ano de 1998.
Aula 6
As políticas públicas se expressam em leis, decretos, regulamentações e normas que são adotadas pelo Estado para proteger as condições econômicas e sociais que têm impacto significativo na saúde.
Modelo Sanitarismo campanhista
(início do século até 1965)
Economia: modelo agroexportador
 
Sistema de saúde: saneamento dos espaços de circulação de mercadorias, com erradicação de doenças que poderiam prejudicar a exportação.
É importante destacar que esse modelo de saúde possuiu inspiração militarista, de combate a doenças em massa, forte concentração de decisões e estilo repressivo de intervenção sobre o individual e o social.
Médico-assistencial privatista
(até o final dos anos 1980)
Economia: industrialização, grande deslocamento de massa operária para os centros urbanos.
 
Sistema de saúde: o importante era atuar sobre o corpo do trabalhador, mantendo e restaurando sua capacidade produtiva.
O modelo médico-assistencialista foi construído por uma deliberação política autoritária, com agentes previdenciários, onde o Governo era o grande patrocinador e produtor de serviços privados, criado na lógica do lucro. Com isso esse sistema mostrou-se ineficiente e desigual com consequências catastróficas para a saúde no país, dentre as quais destacam-se a desigualdade no acesso aos serviços, a inadequação à estrutura de necessidades da população; qualidade insatisfatória dos serviços, ausência de integralidade da atenção e excessiva centralização.
Em 1990, as ações nacionais de vigilância epidemiológica e todo o seu acervo documental foram absorvidos pela recém-instituída Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Surgiu, então, a proposta de criação do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), vinculado à Fundação Nacional de Saúde que promoveu o uso da Epidemiologia em todos os níveis do SUS e subsidiou a formulação e a implementação das políticas de saúde nacionais. O Cenepi  desenvolveu trabalhos conjuntos com universidades e serviços de saúde, para o estabelecimento e para a consolidação dos Sistemas de Informação em Saúde, o Sistema Nacional de Mortalidade (SIM), Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SISNAC), Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), entre outros, constituição da Rede Nacional de Informação para a Saúde (RNIS) e da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa), capacitação de recursos humanos e apoio à pesquisa.
Aula 7
Tropicalismo na Epidemiologia
A situação atual da pesquisa epidemiológica no Brasil e suas perspectivas futuras estão intimamente relacionadas com sua institucionalização. Como vimos anteriormente, no Brasil, a Medicina Tropical representou um marco na história da Epidemiologia e na sua institucionalização. 
Os tropicalistas na época associavam as doenças tropicais à pobreza, à desnutrição, à ausência desaneamento básico e às más condições de vida de uma forma geral, descartando a hipótese miasmática, ainda usada naquela época.
1866-A Escola Tropicalista Baiana, criada em meados do século XIX, ainda que não tenha se constituído em uma instituição formal de ensino, dedicou-se à prática médica e à pesquisa da Etiologia das doenças tropicais.
Em 1903, o Presidente da República Rodrigues Alves, nomeou o médico Oswaldo Cruz, recém-egresso do Instituto Pasteur, para a Diretoria Geral de Saúde Pública com a tarefa de sanear o Rio de Janeiro - capital do país - e combater as principais epidemias que assolavam a cidade: peste bubônica, febre amarela e varíola.
A campanha contra a febre amarela foi estruturada nos moldes militares, sendo impostas medidas rigorosas, como a aplicação de multas, entre outras. A batalha contra a peste bubônica se deu através da notificação compulsória dos casos, combate aos ratos da cidade, entre outras.
Em 1904, o Rio de Janeiro sofreu uma grave epidemia de varíola o que desencadeou a vacinação obrigatória contra a doença. Como também vimos na aula passada, a forma autoritária da vacinação gerou grande insatisfação popular, o que, aliado às demolições realizadas pelo Prefeito Pereira Passos,  deu origem ao movimento conhecido como a Revolta da Vacina, que durou uma semana.
As campanhas de erradicação da varíola, em 1960, e da poliomielite, anos depois, aliadas à grave epidemia de doença meningocócica, contribuíram para consolidar o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica no Brasil.
Em 1970, foi instituída formalmente a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), reunindo inicialmente:
o Instituto Oswaldo Cruz;
a Fundação de Recursos  Humanos para a Saúde, que depois passou a ser chamada de Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP);
e o Instituto Fernandes Figueira (IFF).
Foi a partir deste ano que, intensificou-se a construção de novas teorias, enfoques e métodos da Epidemiologia, além de investigações concretas buscando a aplicação de métodos das ciências sociais, que na América Latina e no Brasil recebeu o nome de Saúde Coletiva.
De acordo com Paim e Almeida Filho (2000), a saúde coletiva compreende um campo acadêmico de produção de conhecimentos científicos e tecnológicos e um âmbito de saberes e práticas. Do ponto de vista acadêmico, contempla o desenvolvimento de atividades de investigação sobre o estado sanitário da população, a natureza das políticas de saúde, a relação entre os processos de trabalho e doenças e agravos, bem como as intervenções de grupos e classes sociais sobre a questão sanitária.
Aula 8
Contagem de indivíduos
Na prática de produção de informação, a Epidemiologia utiliza um conjunto de indicadores da saúde que, se baseiam na contagem de doentes (indicadores de morbidade) ou de falecidos (indicadores de mortalidade). 
A contagem de indivíduos sadios é uma estratégia alternativa que tem sido realizada, mas está limitada a avaliações de inquéritos domiciliares locais ou nacionais. 
Atualmente, existe um amplo e variado conjunto de instrumentos (questionários/escalas) desenvolvidos ou em desenvolvimento, com objetivo de medir “indiretamente” a saúde. 
Nesse contexto, vale a pena relembrar a relevância e o impacto do significado, apesar de subjetivo, de qualidade de vida que está relacionado a uma sensação de bem-estar (satisfação, felicidade). Dessa forma, o complexo da Qualidade de Vida reflete as condições de saúde de uma população e envolve vários itens, destacando, alimentação e nutrição; habitação; saneamento e meio ambiente; educação; cultura, esporte e lazer; trabalho e renda; previdência e assistência social e; transporte.
Um indicador positivo da saúde denominado Quality-Adjusted Life Years (QALY), estimado a partir do cálculo acumulado (por área geográfica) dos anos com qualidade de vida não vividos por motivo de doença, incapacidade ou morte, foi desenvolvido por uma equipe de pesquisa em Economia da Saúde da Universidade de York, Inglaterra.
Segundo Almeida Filho & Barreto (2011), o conceito de QALY relacionado à “qualidade de vida ligada à saúde” propiciou um importante desenvolvimento na mensuração da saúde, considerando as grandes possibilidades do seu emprego para medidas positivas da saúde individual como capacidade vital e qualidade de vida.
Em 1992, o Banco Mundial contratou uma equipe da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, coordenada pelo economista Christopher Murray, para viabilizar uma metodologia destinada a medir a “carga global de doença” (GBD – Global Burden of Disease) das populações. Como pré-requisito fundamental, estabeleceu-se que os componentes de morbidade e mortalidade deveriam estar integrados em um mesmo indicador. Inspirado no conceito do QALY, o novo indicador foi batizado de DALY (Disability-Adjusted Life Years) e definido como uma medida “do tempo vivido com incapacidade e do tempo perdido devido à mortalidade prematura”.
De uma forma geral, os indicadores da saúde devem ser capazes de gerar dados epidemiológicos e estatísticas vitais que permitam comparações internacionais e possibilitem o planejamento, a gestão, a operação e a avaliação de políticas públicas, os sistemas e os serviços de saúde.
Entretanto, o ambiente institucional em que a Epidemiologia pode realizar sua contribuição aos serviços de saúde depende dos modelos de gestão e de atenção à saúde, adotados para a modificação positiva da situação de saúde da população.  Assim, os desafios e os obstáculos para a implantação do SUS, no Brasil, no âmbito da institucionalização do planejamento em saúde são os mesmos enfrentados para a realização do papel da Epidemiologia no planejamento.
Nesse contexto, vale destacar que antes da criação do SUS, a aproximação entre a Epidemiologia e o planejamento limitava-se às campanhas sanitárias e aos programas especiais de controle de doenças.
Momentos do processo de planejamento de saúde
Momento explicativo
No momento explicativo são identificadas as necessidades e os problemas, buscando possíveis explicações sobre a ocorrência e a produção dos mesmos. Algumas técnicas têm sido usadas como a “árvore de problemas” e o “fluxograma situacional”. Estas técnicas ajudam a sistematizar as respostas às seguintes perguntas: quais são os problemas e por que ocorrem?
Momento normativo
No momento normativo procura-se definir o que deve ser feito (objetivos, metas, atividades, recursos).
Momento estratégico
No momento estratégico procura-se confrontar o que deve ser feito e o que pode ser feito, considerando as restrições políticas e financeiras. Nesse momento, se definem estratégias para superação de obstáculos (desenho estratégico) e se estabelecem cursos de ação para o plano, programa ou projeto.
Momento tático-operacional
No momento tático-operacional, um dos mais importantes, busca-se realizar as ações. Neste enfoque não se separa o pensar, o agir, nem o planejamento e a gerência. A operação caracteriza o fazer diante de toda a complexidade do real, sendo mais um ponto de confluência entre o planejamento e a Epidemiologia.
Aula 9
A relação entre a Epidemiologia e os serviços de saúde vem sendo muito estudada, afinal, o processo saúde/doença/cuidado não pode ser dissociado das intervenções que devem ocorrer sobre esse mesmo processo. E é justamente esse contexto que justifica a ação da Epidemiologia, ou seja, quando orienta intervenções que melhorem a qualidade de vida das coletividades.
Em 1983, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) realizou um “Seminário sobre Usos e Perspectivas da Epidemiologia” disseminando as contribuições da Epidemiologia nos serviços de saúde, destacando a análise de situações de saúde, a vigilância epidemiológica, os estudos causais e a avaliação de serviços, programas e tecnologias.
Teixeira (1999) citado por Portela e Teixeira (2011) destacou vários usos para a Epidemiologia, como no processo de formulação de políticas; na definição de critérios para repartição de recursos; na elaboração de diagnósticos e análisesda situação de saúde; na elaboração de planos e programas; na organização de ações e serviços; na avaliação de sistemas, políticas, programas e serviços de saúde.
As organizações são caracterizadas como profissionais, essencialmente, por dependerem do trabalho especializado para funcionar o que tornam os profissionais da saúde diferenciados pelo fato de que o próprio exercício de suas competências e habilidades exige um elevado grau de autonomia. Em virtude disso, a estrutura das organizações é necessariamente descentralizada, embora burocrática.
A coordenação da organização profissional depende dessa padronização de competências e vale a pena destacar que ela depende do discernimento dos profissionais para poder funcionar. O caráter profissional do trabalho em saúde sugere, que mudanças em suas organizações estejam relacionadas a modificações progressivas no comportamento dos profissionais, por meio de ações educativas e da articulação entre a melhoria das condições de trabalho, e a responsabilidade dos profissionais pelo seu desempenho individual e coletivo.
 O artigo 37º da Constituição Federal (1988) estabelece que “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.
Todos os princípios são importantes e devem ser observados, entretanto, dois desses tornam mais difíceis as tarefas dos gestores públicos: 
o princípio da legalidade, ao definir limites para o gestor público; 
e o princípio da eficiência, pois não se trata apenas de produzir resultados  com os menores custos, mas também obter a satisfação do interesse público.
Os instrumentos legais que propiciaram a nova organização do sistema de saúde foram as Normas Operacionais Básicas (NOB) do SUS (portarias do Ministério da Saúde), editadas entre os anos de 1991 e 1996, que definiram a forma de financiamento, os mecanismos de repasse de recursos nas relações entre os gestores dos três níveis (municipal, estadual e federal) enfatizando as descentralizações aos municípios e criando categorias de gestão diferenciadas.
A participação de representantes da sociedade civil na condução do sistema de saúde foi uma conquista do movimento social contra o regime militar (1964-1985), que foi posteriormente consagrada na Constituição e nas Leis Orgânicas do SUS.
 
É inquestionável a importância da participação social na gestão da saúde, entretanto, existem fortes indícios de que as conferências e os conselhos têm perdido a capacidade de formular diretrizes e estratégias para as políticas de saúde. 
 
Muitas dessas conferências têm se concentrado em debates sobre interesses de grupos específicos, como corporações profissionais, representações ideológicas, religiosas ou partidárias.
 
Dentro desse contexto é importante ressaltar que uma participação social qualificada pode ajudar o gestor, entretanto, uma participação desfocada das políticas de saúde dominada por interesses particulares compromete de forma catastrófica o desempenho da gestão da saúde.
Os modelos assistenciais ou de atenção à saúde são “combinações tecnológicas estruturadas em função de problemas de saúde (danos e riscos) que compõem o perfil epidemiológico de uma dada população e que expressam necessidades sociais de saúde, historicamente definidas”
Aula 10
A vigilância epidemiológica está incluída entre as nove funções essenciais para a saúde pública (WHO, 1998, OPAS, 2002).
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica é um subsistema do Sistema Único de Saúde (SUS), baseado na informação-decisão-ação de doenças e agravos específicos. Seus principais objetivos são elaborar, recomendar e avaliar as medidas de controle e o planejamento.
Dentro desse contexto, a Vigilância Epidemiológica pode ser definida como atividade de informação para decisão/ação, desenvolvendo várias funções específicas.
Com a criação, em 1991, do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI), foi impulsionada a ampliação da atuação da Vigilância Epidemiológica para além das doenças transmissíveis, conforme exigido pela Lei do SUS, indicando a necessidade de atuar sobre determinantes e condicionantes dos problemas de saúde das populações.
Outro marco importante no avanço da Vigilância Epidemiológica no Brasil foi a Lei 9.782 de 27 de janeiro de 1999, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que substituiu a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. 
 
A Anvisa tem por finalidade institucional “promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à Vigilância Sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras.”
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), violências e acidentes representam graves problemas de saúde pública com alto impacto sobre a morbimortalidade da população.
O monitoramento de doenças e agravos não transmissíveis tem como objetivo reduzir a incidência e a prevalência desses problemas de saúde, prolongando, dessa forma, a vida dos seres humanos com qualidade. Viver uma longa vida, não significa vivê-la com qualidade. Portanto, as ações individuais e coletivas devem ser voltadas para a preservação da vida com qualidade.
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) através da Coordenação por meio da Coordenação-Geral de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis – CGDANT -, tem trabalhado para coordenar, fomentar e desenvolver estudos e pesquisas para identificação e monitoramento de fatores de risco, análise e avaliação das ações de promoção da saúde, prevenção e controle das DANTs.
Em 2005, a 58ª Assembleia Mundial de Saúde aprovou o novo Regulamento Sanitário Internacional modificando a estratégia anterior para notificação internacional de problemas de saúde que, até então, era restrita a três doenças específicas: febre amarela, peste e cólera.
Em substituição à lista anterior de doenças, estabeleceu-se um regulamento das denominadas “Emergências de Saúde Pública de Importância Internacional”.
 
Os países membros da OMS já implantaram esse novo regulamento e o Brasil já adotou providências para cumprir esse pacto. O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – tiveram papel relevante no aprimoramento deste regulamento, e desde o início da década nosso país está se preparando para o enfrentamento de situações inusitadas que possam colocar em risco a saúde da população.

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