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Zoonoses Leptospirose Paulo Henrique da Silva Barbosa Medicina Veterinária – UFRRJ Importância da Leptospirose É considerada a terceira zoonose em importância, dada a gravidade dos casos clínicos. Na frente ficam, em primeiro, raiva e, em segundo, leishmaniose, principalmente visceral. Nos Países desenvolvidos, não é uma doença que acomete número grande de pessoas mas acomete grupos específicos como militares que fazem atividades em matas, florestas, pessoas que lidam com animais e outros. Nesses Países desenvolvidos é uma doença eminentemente ocupacional. Já nos Países menos desenvolvidos, a população mais pobre e que vive e/ou trabalha em condições precárias de saneamento básico são as mais afetadas. No Brasil, é uma das zoonoses de maior letalidade. Etiologia É causada por uma bactéria, uma espiroqueta do gênero Leptospira. “Lepto” vem de fino, delgado, característica da bactéria. Ispira por causa da forma espiralada, que é uma forma importante como fator de virulência da leptospira. Além da forma de saca rolha, espiral, tem filamento que dá movimento interno, o que facilita sua penetração nos tecidos, como, por exemplo, uma pele íntegra. Principal espécie patogênica: L. interrogans (são reconhecidas atualmente 7 espécies patogênicas). Espécie saprófita principal: L. biflexa. Não causa doença. Espécies Patogênicas L. interrogans L. noguchi L. borgpeterseni L. Kirschneri L. fainei L. santarosai Não Patogênicas L. biflexa L. wolbachi L. inadai L meyeri Leptonema illini Isso não é muito levado em consideração pois o diagnóstico é normalmente feito como se a bactéria fosse a L. interrogans. Tudo está baseado nela, inclusive as vacinas. Unidade Toxonômica Básica: sorotipo Mais de 200 sorotipos: espécie hospedeira preferencial (não há especificidade de hospedeiro). Exemplos: L. Pomona – Suínos (Leptospira interrogans sorotipo Pomona) L. hardjo – Bovinos (Leptospira interrogans sorotipo hardjo) L. canicola - Cães (Leptospira interrogans sorotipo canicola) L. icterohaemorrhagiae – Roedores (Leptospira interrogans sorotipo icterohaemorrhagiae) Sorotipos mais envolvidos em humanos no Brasil: icterohaemorrhagiae e copenhagen. Geralmente, nos animais onde os sorotipos estão adaptados, normalmente não observa-se sintomatologia clínica, e sim quando um animal é infectado por um sorotipo que não seja o “comum” daquela espécie. Características Aeróbicas, móveis, sensíveis à: luz solar, dessecação, pH (exigem pH próximo da neutralidade), resistem a ambientes úmidos, sombrios, com temperaturas ao redor de 28 – 30ºC. Reservatórios: Animais domésticos como cães, porcos, bovinos e equinos. Gatos não são reservatórios, não se infectam. Existem registros, porém, de gatos com sorologia positiva. São hospedeiros terminais. Mesmo em pesquisas laboratoriais onde tiveram o agente inoculado, não encontraram a Leptospira na urina. Animais silvestres: Capivaras, morcegos(?) roedores. Capivaras são suspeitas, nunca foi comprovado. Morcegos já foram encontrados infectados com leptospira mas nunca se provou também. Muitos animais funcionam como potenciais reservatórios, faltam estudos. Animais Sinantrópicos: Rattus norvegicus – Principal reservatório urbano. Vive sempre próximo à água, usa o ambiente aquático para se deslocar e fugir dos predadores. Isso faz com que tenha um enorme potencial de contaminar ambientes com coleções hídricas. Ratturs rattus – Vive em ambientes restritos, pequenos, por isso tem menor chance de se infectar. Além disso, vive em ambiente seco, tendo menor chance de contaminar o ambiente. Mus musculus – Menos potenciais. Vivem em pequenos grupos, geralmente dentro de casas. Vias de Transmissão A maior via de transmissão é o contato da pele lesada, mucosas ou pele íntegra imersa em muito tempo em água contaminada com leptospira. Muito comum em quadros de enchentes e inundações. Outras vias: Ingestão de água e alimentos contaminados pode levar à contaminação, porém não é muito comum. O pH do estômago é muito ácido e o pH ótimo da leptospira é próximo à neutralidade. Contato com sague e tecidos contaminados e também produtos de excreção, como a urina. Acidentes em laboratório. No caso de tecidos pode ser tanto em necropsia quanto em trabalho a campo. Nos animais de produção ocorre transmissão sexual ou por reprodução artificial. Grupos Humanos de Maior Risco Pessoas expostas a águas e lama de enchente. Na água os agente estão muito diluídos, existe uma quantidade mínima de microrganismos para que possa causar infecção. Quando começa a baixar, começa a concentrar lama, onde concentra-se também a leptospira, tornando suficiente a carga infectante. Trabalhadores de serviços de limpeza (lixo, esgoto, etc). Catadores de lixo. Tratadores de animais. Médicos veterinários e zootecnistas. Militares. Praticantes de atividades de ecoturismo e similares. Patogenia A pessoa é exposta ao meio contaminado e a leptospira penetra no organismo. Vai para a corrente sanguínea, onde causa a leptospiremia, período em que fica no sangue e se desloca pelo organismo. Passados 8-10 dias, os anticorpos começam a aparecer na corrente sanguínea. Nesse período ela atravessa as paredes vasculares, provocando vasculite, e vai para o interior dos tecidos: fígado, rins, pulmão, útero, tecido nervoso e ficam neles se multiplicando. Ao chegar nos rins, vão para dentro dos túbulos renais, onde os anticorpos não chegam, e conseguem ficar ali se multiplicando. Os portadores crônicos ou inaparentes podem permanecer com infecção nos túbulos renais, permanecendo eliminando a bactéria pela urina. Essa fase é chamada de leptospiruria (dia 14). Essa fase pode durar dias, semanas, meses ou a vida inteira, como na ratazana. Essa condição de leptospiruria é que dá o estado de portador. O portador vai ter clínica? Depende. Pode ou não ter clínica. Ratazanas nunca terão. Há cães que podem ou não apresentar clínica. Com clínica ou sem clínica, o quadro pode e desenvolver para livre de infecção de leptospiras ou estado de portador crônico. Período de incubação 1 – 30 dias. A média é de 7 – 10 dias. Período de transmissibilidade Semanas, meses, anos. Depende da espécie animal, resistência individual e sorotipo de leptospira envolvido. Roedores se infectam, não adoecem e eliminam a leptospira pela urina por toda a vida. A imunidade é sorotipo específica, tanto para humanos como para animais. Aspectos Clínicos Em animais de produção: Abortamento no terço final da gestação, natimortalidade, crias doentes que morrem nos primeiros dias de vida. Em cães: ocorrem duas síndromes Doença de Stuttgart – Febre alta, vômitos, diarreia com estruas de sangue, nefrite com aumento dos rins (na forma crônica, nefrite crônica intersticial). Sorotipo associado: geralmente canicola. Doença Ictérica – Febre alta, icterícia, congestão das mucosas, hemorragias, insuficiência hepática, insuficiência renal. Forma mais agressiva, mais grave, quadro que tende à letalidade. Sorotipo associado: geralmente icterohaemorrhagea. No homem: Formas anictéricas – leve, moderada ou grave. Geralmente são bifásicas, duas fases de evolução. 95% dos casos são da forma anictérica mas só 45% está presente nos registros oficiais. Acredita-se que quadros de leptospirose estão sendo diagnosticados como simples viroses ou outras patologias. Início súbito: febre alta, calafrios, cefaleia, dores musculares. Anorexia, náusea e vômitos. Nas formas mais graves: hiperemia, hemorragia, conjuntival, confusão mental e alucinações. A pessoa é capaz de dizer exatamente o momento que começou a sentir os sintomas. Pode ocorrer miocardite (arritmias). Forma pulmonar grave: hiperaguda, com SARA e morte súbita por falência respiratória. A pessoa pode morrer em 24 – 48h. Formas Ictéricas – Doença de Wil: moderada ou grave, início semelhante às formas anictéricas. Apósa fase da letospiremia surge a icterícia (3º ao 7º dia), disfunção renal e fenômenos hemorrágicos. Raramente apresenta curso bifásico. Letalidade pode variar de 10 a 40%. Diagnóstico 1 – Clínico Epidemiológico: É fundamental para diferenciar de outras patologias e para iniciar o tratamento precoce (diminui letalidade). 2 – Laboratorial: Visualização direta (impregnação pela prata ou MCE sangue/urina), histopatologia (material de necropsia, impregnação pela prata ou imunohistoquímica. Isolamento: Feito para fins de pesquisa e manutenção de cepas em laboratório. Mieo de Fletcher ou EMJH a 28ºC (+/- 6 semanas). Sorologia: Método de eleição. Padrão ouro de diagnóstico. soroaglutinação macroscópica (triagem). Soroaglutinação microscópica (padrão) – é sorogrupo específica. Elisa – só identifica IgM, só infecção recente. Recomendado para infecções agudas. PCR – Mais preciso. Mais caro. O diagnóstico é sorogrupo específico, o que barateia e torna mais prático. O laboratório tem que ter um representante de cada sorogrupo que ocorre na região que ele atua para que haja reação cruzada na hora do diagnóstico. Tratamento 1 – Animal: Isolamento e controle dos dejetos (urina, cadáveres, sangue). Diidroestreptomicina: 11mg/kg/IM/dia/4dias . Essa dosagem com essa droga previne a leptospiruria. Terapia de suporte. A diidroestreptomicina não deve ser administrada em cães com insuficiência renal. 2 – Humano: Droga de escolha: Penicilina G cristalina. Doxiciclina (formas leves). Terapia de suporte. Prevenção e Controle 1 – Doença humana: vigilância epidemiológica. Notificação compulsória dos casos suspeitos. Ivestigação epidemiológica (FIE). Prevenção de inundações, controle de roedores, controle de população canina urbana, saneamento do lixo e esgoto, proteção individual (EPIs), educação em saúde. 2 – Doença Animal: Saneamento, controle de roedores, evitar acesso de reservatórios silvestres e cães às instalações animais e ao pasto, impedir acesso dos animais a áreas alaganas ou terrenos baldios e lixões, controlar procedência e qualidade do sêmen e imunoprofilaxia. Vacinação de Animais Domésticos: São sorotipo-específicas (algumas são sorogrupo-específicas) -> cepas que ocorrem na região. Os títulos de anticorpos vacinais ficam nulos em 3 a 9 meses. OBS: protegem contra a doença, mas não impedem a infecção.
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