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Aula 10 - Literatura Portuguesa

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Aula 10: Do Modernismo à Contemporaneidade em Portugal
Movimentos poéticos do século XX: um breve percurso
O Presencismo
Começaremos o nosso passeio na década de 20, a partir de um movimento chamado Presencismo. O seu nome deriva da revista à qual estava atrelado, Presença, cujo primeiro número foi lançado em 1927, por seus fundadores, os escritores José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca.
A revista continuava a linha aberta pelo Orfismo, no sentido de postular um fazer literário afastado dos lugares-comuns e das convenções. Cabe afirmar que em Presença foram publicados textos de nomes relevantes do Orfismo, como os de Fernando Pessoa e os de Almada Negreiros.
É a partir da senda aberta pelo Orfismo que os presencistas defendiam o predomínio de uma, nas palavras deles, literatura viva contra a literatura livresca, ou seja, uma literatura tradicional e vinculada aos postulados de uma tradição já decadente. Urgia a criação de obras originais e inovadoras, como defende José Régio, em seu artigo “Literatura Viva”:
	“Em Arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística. A primeira condição duma obra viva é, pois, ter uma personalidade e obedecer-lhe”.
	Por conta dessa faceta do Presencismo, a crítica literária contemporânea afirma que foi este o movimento responsável pela consolidação do Modernismo em Portugal, após a sua implantação pelo grupo de Orpheu, na década de 10, no século XX. As concepções do Presencismo postulavam, ainda, a predominância  do enfoque estético na arte, para além de quaisquer julgamentos morais ou historicismos. Chamam a essa perspectiva de “literatura artística” e a ela ligam concepções abstratas e metafísicas de arte, em torno de um profundo rigor crítico, que orientava esse fazer estético. Retomam, assim, o ideal da Arte pela Arte, vendo-a de modo transcendente e fora de canais ideológicos.
OBS: O grupo de ORPHEU implantou o Modernismo em Portugal, mas foi o movimento PRESENCISTA que consolidou o Modernismo em Portugal. Literatura viva, literatura artística: Arte pela Arte.
 O que inspira a obra de arte é a paixão. Paixão de qualquer tipo: religiosa, ideológica...
À postura do Presencismo opor-se-ia outro movimento artístico português, um pouco depois daquele momento: o Neorrealismo.
O Neorrealismo em Portugal
O Neorrealismo é marcado por uma arte cujo enfoque dá-se em torno de critérios ideológicos, em franca contraposição aos critérios estéticos do Presencismo. O movimento trouxe à tona algumas propostas da literatura realista oitocentista, como a defesa do engajamento do escritor e a percepção da obra literária como um instrumento de denúncia e de reflexão acerca dos problemas e desvios da sociedade.
	Posicionavam-se contra a metafísica e contra o psicologismo, contrapondo-se ao rigor crítico do Presencismo, em nome do que viam como a necessidade de humanizar a arte.
	Os neorrealistas reuniram os seus principais artigos em torno da revista SOL NASCENTE, cuja publicação inicial data de 1937.
No ano seguinte (1938), foi publicado o primeiro texto que empregou o termo “Neorrealismo”, em Portugal: o artigo de “Do neo-realismo”, do escritor Joaquim Namorado.
A principal influência do Neorrealismo português foi a descoberta, por parte dos escritores lusitanos, da ficção produzida nos Estados Unidos, durante a década de 30.
Outra influência importantíssima foi a da literatura brasileira criada à mesma época, com o seu cunho ideológico, participativo e regionalista presentes nos romances. Um dos principais autores desse movimento brasileiro a impactar a literatura neorrealista foi Jorge Amado.
Em torno de uma literatura focada na crítica social e nos elementos já descritos, os neorrealistas portugueses criaram obras nas quais, nos moldes da literatura americana e latino-americana que seriam importantes fontes de influência, houve a recusa em apresentar heróis mistificados. Outro elemento importante do Neorrealismo foi o diálogo entre a prosa literária e a linguagem cinematográfica, que apareceria nas formas de estruturação de muitos romances neorrealistas.
Alves Redol, publicado em 1940, é considerado o primeiro romance neorrealista português. Há, na obra, um nítido diálogo com o estilo literário do brasileiro Jorge Amado. O romance narra a vida dos gaibéus, camponeses pobres da região do Ribatejo.
José Cardoso Pires e o Neorrealismo
O escritor José Cardoso Pires destaca-se em uma obra marcada pelas narrativas curtas, concisas e ágeis, pela denúncia social e por uma problematização do Neorrealismo.
	Segundo Massaud Moisés, Cardoso Pires propôs em seus textos um realismo diferente, que não se circunscreve à objetividade, mas se pauta em uma dimensão relacionada, ao mesmo tempo, ao cotidiano e a uma: “dimensão transcendente, numa autêntica radiografia do real. Por isso, o psicológico e o relacional das situações enfocadas emergem do próprio caráter das personagens, à semelhança daquele surrealismo que focalizando a realidade duma forma obsessivamente precisa, acaba por torná-la irreal ou supra-irreal”. (MOISES, Massaud. História da Literatura Portuguesa).
	
Escritores com independência em relação aos movimentos literários
A literatura portuguesa possui vários escritores de destaque que mantiveram certa independência em relação aos movimentos literários. Dentre eles, destaca-se JORGE DE SENA, cuja obra apresenta uma visão múltipla e fragmentada do mundo, em torno da mescla entre o real e o ideal, bem como entre a história e o mito. Essa multiplicidade, entretanto, não afastava uma  visão profundamente analítica dos seres, dos sentimentos e  do mundo, em sua escrita.
	Sophia de Melo Breyner Andresen é outra poetisa portuguesa de grande destaque, com uma obra complexa, na qual tentou, segundo as suas palavras, buscar “olhar por dentro das coisas”, indo para além das aparências do mundo. O signo do mar é recorrente na obra de Andresen e alude a múltiplas imagens, como a subjetividade, a natureza, a insustentabilidade do real e a própria linguagem.
É importante destacar, também, o poeta Eugênio de Andrade, cuja obra nos revela um lirismo comedido tecido em grande requinte verbal. Sua poesia é repleta de sinestesias e de ambiguidades e constrói-se em torno das reflexões acerca dos limites e das possibilidades da linguagem poética, na busca de uma “poesia pura”, que se sobrepusesse ao real empírico. Há a procura pela essência do ser e da eliminação de todos os excessos que o impedissem de ser percebido.
Na prosa contemporânea portuguesa, cabe o destaque da obra de Agustina Bessa Luís, que contribui para a inovação da prosa literária portuguesa. Há, em sua obra, uma representação do real na qual este afirma a sua identidade com o ideal. Outro ponto importante de sua narrativa é a problematização da figuração do tempo e do espaço narrativo, pois a linearidade tempo-espacial é dissolvida e substituída pela multiplicidade da representação do espaço e do tempo, através da ubiquidade e da ucronia, que embaralham os planos do espaço e do tempo, do real e do ideal. Assim, as referências convencionais são dissolvidas.
O nome de António Lobo Antunes também é de extrema relevância para a literatura portuguesa. Seus romances pontuam a crise do homem moderno frente aos novos modos de viver e à falta de aparatos que o tranquilizem. A representação da memória, da problematização da subjetividade e do deslocamento é constante em suas narrativas, que utilizam uma linguagem experimental e o recurso da simultaneidade. Um dado importante na obra de Lobo Antunes é a narrativa que, a partir da fala de um narrador, se estende a outros pontos de vista, a partir do olhar de personas variadas.
José Saramago
A narrativa de José Saramago apresenta uma linguagem literária e uma estruturação extremamente inovadoras. 
Sua obra é escrita em uma linguagem em que predomina o discurso indireto livre (As falas das personagens não têm travessão. São inseridasnos próprios parágrafos onde está a fala do narrador) e a abundância de vírgulas, em parágrafos geralmente extensos. Essa estrutura constrói uma narrativa próxima à linguagem cotidiana, mas, ao mesmo tempo, experimental, com a multiplicidade de vozes presente, em uma construção polifônica, na qual se embaralham as vozes do narrador e das personagens.
A polifonia não se apresenta apenas nesse embaralhamento, mas no fato de suas narrativas trazerem à tona discursos diferentes, em constante tensão. Essa postura é capaz de levar o leitor ao questionamento de determinadas ideias tidas como verdadeiras, percebendo-se o seu caráter artificial, ou ainda de orientar o leitor a uma reflexão mais aguda acerca de suas próprias certezas.
O discurso literário, em Saramago, pode ser, pois, percebido como um instrumento de questionamento. A leitura de sua obra propõe, em um movimento duplo, a releitura das versões estabelecidas pelo discurso histórico, ao mesmo tempo em que propõe a desestabilização do senso comum. Sua obra, entretanto, é marcada por um veio fantástico, que não a leva ao puro entretenimento, mas que faz da fantasia um instrumento agudo de reflexão.
Em O Evangelho segundo Jesus Cristo, Saramago escreveu, em torno de um narrador em terceira pessoa, sobre a vida de Jesus, em uma versão contraposta ao texto bíblico. Nessa obra, Saramago questiona muitos dogmas da igreja católica ao pensar sobre a existência de um Jesus humano e perplexo frente às contradições de sua vida. Talvez esta tenha sido a obra mais polêmica de Saramago, chegando mesmo a sofrer censura. Clique na seta e conheça um trecho dela.
Deus, que está em toda a parte, estava ali, mas, sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver como a pele de um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela, criadas umas e outras para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se encontraria quando a semente sagrada de José se derramou no sagrado interior de Maria, sagrados ambos por serem a fonte e a taça da vida, em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as tivesse criado. Tendo, pois saído para o pátio, Deus não pôde ouvir o som agónico, como um estertor, que saiu do varão no instante da crise, e menos ainda o levíssimo gemido que a mulher não foi capaz de reprimir. Apenas um minuto, ou nem tanto, repousou José sobre o corpo de Maria. (SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo Jesus Cristo).
No trecho anterior, podemos verificar a imaginação literária questionando um dos principais dogmas do Cristianismo, a virgindade de Maria, que é apresentada na narrativa como uma mulher comum, que sofre em uma sociedade patriarcal, na qual a mulher possui um lugar inferior. Saramago faz da literatura um instrumento para pensar novas possibilidades e ao ousar fazê-lo em torno de dogmas religiosos sofreu uma série de consequências.
No romance As intermitências da morte, Saramago escreve a partir de um lugar-comum, o caráter nocivo da morte, tentando questioná-lo. Também em uma narrativa em terceira pessoa, conta em um romance tripartido, sobre uma decisão da morte - com m minúsculo, diz a própria personagem, pois a Morte com M sequer poderia ser imaginada pelos mortais. 
Também ganhou, em 1995, o Prêmio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa;
Foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
Principais Obras
O evangelho segundo Jesus Cristo;
Jangada de pedra;
O ano da morte de Ricardo Reis;
Ensaio sobre a cegueira;
O conto da ilha desconhecida;
A intermitência da morte;
Memorial do convento.
SLIDES – AULA 10
Principais autores contemporâneos:
Jorge de Sena;
Sophia de Melo Breyner Andresen;
Eugênio de Andrade;
José Saramago;
Agustina Bessa-Luís.
Jorge de Sena 
(1919 – 1978)
O escritor dedicou-se à poesia, ao teatro, ao conto, ao romance e à crítica e historiografia literárias. 
O escritor foi influenciado por várias correntes literárias, não se filiando a nenhuma delas;
Sua obra é considerada, simultaneamente, clássica e revolucionária: ao mesmo tempo em que tenta superar as tendências de sua época, retoma recursos da tradição medieval e renascentista, como a incorporação do soneto; Nesse sentido, sua obra apresenta-se como uma tentativa de superação dos contrastes das escolas literárias;
Para o autor, a poesia apresentava-se como uma forma de testemunhar a realidade e, ao mesmo tempo, de transformar o mundo; Isso fez com que o autor se servisse da literatura para apresentar uma crítica mordaz e irônica da sociedade.
A Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
[...]
Sophia de Melo Breyner Andresen
(1919 – 2004)
Embora tenha publicado contos (inclusive para o público infantil), sua obra destaca-se sobretudo na produção poética. Para Sophia, a poesia “lhe acontecia”, da mesma forma que ocorria com Fernando Pessoa. 
Um dos temas recorrentes em sua obra, a natureza está relacionada à liberdade, à perfeição, à beleza e, muitas vezes, ao mistério; O mesmo não se pode dizer sobre a cidade, tida como um espaço negativo; 
Em relação à memória a poetisa se vale de imagens da infância na tentativa de eternizar lugares, pessoas, momentos; A recordação, tão frequente em seus escritos, apresenta-se como uma forma de resistência ao apagamento, pelo tempo, dos espaços, seres e coisas que um dia fizeram parte de sua vida.
O poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
[...]
	
Eugênio de Andrade
O Autor se destaca sobretudo na poesia, marcada pela valorização da palavra, tanto no campo imagético quanto no rítmico, aproximando-se da produção de Camilo Pessanha, por quem foi fortemente influenciado.
Seus poemas são marcados por um grande poder de síntese, geralmente sendo compostos por poucos versos e estrofes;
Em relação à temática, destaca-se a imagem do homem integrado a elementos naturais, como a terra e o campo; ou, ainda, a luta com a cidade, espaço do conflito e da opressão. 
O tempo: elemento central, visto positivamente quando em retrospectiva, no retorno à infância, ou negativamente, quando relacionado ao envelhecimento e à aproximação da morte;
A evocação da infância apresenta-se como uma possível superação ao tempo.
Passamos pelas coisas sem as ver
Passamos pelas coisas sem as ver, 
gastos, como animais envelhecidos: 
se alguém chama por nós não respondemos, 
se alguém nos pede amor não estremecemos, 
como frutos de sombra sem sabor, 
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Agustina Bessa-Luís (1922)
“Trata-se de aparelhagem nova de romancista, forte a ponto de constituir um momento de alta voltagem, no grande “caso”, dentro do panorama da ficção moderna em Portugal.” (MOISÉS, 2010, p. 517) 
É impossível enquadrar a autora em uma corrente literária;
De acordo com Massaud Moisés, há, nos romances da escritora, “uma mescla de níveis que anula a ordem lógica dos acontecimentos, a sugerir uma espécie de encadeamento ultrapsicológico, como se tudo, pessoas, coisas e fatos, estivesse interligado fenomenologicamente.” (MOISÉS, 2010, p.519)
Em Portugal, dois movimentos pós-modernistas defenderam papéis diversos para a literatura. O primeiro considerava que a arte literária deveria primar pelo rigor estético; o segundo, que a arte literária deveria voltar-se para temas sociais: Presencismo e neorrealismo respectivamente.
		O Neo-Realismo trouxe novidades para a ficção portuguesa. A característica mais marcante desse movimento: reconstrução social.
A polifonia, ou seja, as muitas vozes contidas nas narrativas de Saramago, não se apresenta apenas no embaralhamento, mas no fato de suas narrativas trazerem à tona discursos diferentes, em constante tensão.

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