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LITERATURA COMPARADA
Aula 1: Primeiros Passos
O objeto de estudo são os textos literários.
O que é Literatura Comparada? 
 “A Literatura Comparada é a forma de pesquisa que se serve do método comparativo”. 
Literatura Comparada traz como característica fundamental, desde o seu surgimento como disciplina acadêmica, a noção de transversalidade, seja com relação às fronteiras entre as nações ou idiomas, seja no que diz respeito aos limites entre as áreas do conhecimento. Projetando, desse modo, a Literatura Comparada em um terreno muito mais amplo, dificultando qualquer delimitação. 
Os estudos realizados pela Literatura Comparada não abrangem somente a literatura de dois países ou mais, produzidas no mesmo idioma ou não. Abarca também as relações entre a literatura e as diferentes formas de manifestação estética ou a literatura e distintas áreas do conhecimento, principalmente as que fazem parte das Ciências Humanas.
Seu objeto de estudo dialoga com outros saberes adicionando diferentes disciplinas: Linguística, Semiótica, História, Psicanálise, etc. 
Literatura comparada compara, pois como recurso analítico e interpretativo, a comparação possibilita a este estudo literário a exploração adequada de seus campos de trabalho e o alcance dos objetivos a que se propõe. E é o seu emprego sistemático que distinguirá a sua atuação. Ela é um meio, não um fim. 
Aula 2: O Nascimento da Literatura Comparada
O domínio sobre um método fará com que ele tenha mais segurança em suas conclusões, levando-as para além de um puro e simples “eu acho que”, ou de julgamentos de valor superficiais. Esta necessidade faz com que a história da Literatura Comparada acompanhe sempre de perto a história da Teoria Literária. Em consequência disso, vamos lidar com uma certa diversidade metodológica. Um mesmo trabalho terá sempre a possibilidade de ser conduzido de várias maneiras, dependendo da escolha teórica que fizermos.
Muito tempo depois, no período renascentista, o empenho em compreender os clássicos levou estudiosos da Europa a realizar estudos comparativos. Entretanto, tais iniciativas ainda não tinham um caráter de estudo sistemático. Além disso, algumas vezes elas tendiam a uma avaliação hierarquizante. 
Ou seja, comparavam-se textos de nações e de épocas diferentes mais para buscar a afirmação da superioridade de uma cultura sobre a outra, propósito que hoje não se considera mais como digno de atenção.
Um exemplo de obra de cunho comparatista elaborada no final do século XVI é dado por Tânia Carvalhal, no primeiro capítulo de nosso material didático. Trata-se de um texto de Francis Meres, o Discurso comparado de nossos poetas ingleses com os poetas gregos, latinos e italianos (1598). Nota-se pelo título o apreço que os intelectuais ingleses tinham não somente pelos tesouros da antiguidade clássica, como também pelas obras da Itália renascentista. 
Foi assim que a cultura europeia que emergiu do final da Idade Média se construiu a partir da revalorização das grandes obras da Antiguidade. Foi com base neste material que as novas literaturas europeias se afirmaram.
É preciso muito cuidado ao avaliar de que modo a influência dos antigos se fez presente. Se tomarmos como exemplo a obra épica Os Lusíadas, de Camões, marco de afirmação de maturidade da Literatura Portuguesa, veremos a presença de elementos tomados de empréstimo dos antigos textos épicos da Grécia e de Roma: a Ilíada e a Odisseia, de Homero e a Eneida, de Virgílio. Mas não se trata de copiar o que os antigos deixaram. Afinal, o texto camoniano responde aos anseios de seu próprio tempo. Busca uma expressão singular para cantar as glórias do povo lusitano.
Assim, podemos afirmar que a Europa renascentista assimilou o legado da tradição clássica, mas retrabalhou esta herança. Estamos muito distantes da cópia pura e simples dos modelos. A cópia pura e simples não resultaria na criação de obras literárias dignas de responder às inquietações da sociedade europeia. Portanto, estamos muito distante de um processo de simples cópia dos modelos consagrados.
Camões escreve um texto capaz de se comparar às obras épicas de Homero e Virgílio, mas de modo algum ele se limita a copiar os procedimentos da poética do classicismo antigo. Pelo contrário: pelo fato de ser escrito em português, e não em latim, como ainda era corrente na época, Camões atende à necessidade de afirmar a identidade cultural de seu povo por meio da expressão literária.
Uma das marcas peculiares de Os Lusíadas é o fato de não afirmar o heroísmo de modo individualizado. Isso o torna diferente de seus modelos vindos da Grécia ou Roma antigos. Enquanto nas obras homéricas a atenção recai sobre as atitudes grandiosas de homens especiais, Aquiles, Heitor e Ulisses, na obra de Camões todo o povo português é cantado, sendo reconhecido em sua contribuição à grande aventura coletiva das grandes navegações.
A etapa seguinte da história da Literatura Comparada remonta ao início do século XIX e corresponde ao período em que a Europa ensaiava seu processo de industrialização. Nesta época, o interesse por comparações era comum a outros campos do conhecimento humano, como as ciências naturais. Aplicada aos estudos literários, fez surgir uma perspectiva de cunho cosmopolita, ou seja, uma atenção à contribuição que cada povo dava ao patrimônio cultural de toda a humanidade.
Uma nova mentalidade surgia então. Já na última década do século XVIII, impunha-se a necessidade de superar a visão de que os modelos consagrados pela tradição eram infalíveis. Poetas e pensadores começavam a alimentar um interesse maior pelo presente e pelo futuro do que pelas glórias do passado.
Até então, quase toda a literatura clássica tendia a valorizar o Antigo, os bons tempos que já havia passado, a Idade do Ouro na qual somente os heróis e alguns afortunados viveram, e para a qual todos os homens sonhavam voltar assim que o pesadelo do presente passasse.
Mas a revolução industrial trouxe o triunfo da mentalidade capitalista, com um olhar mais voltado para o agora e o futuro. O classicismo perdia força, dando espaço ao surgimento do período romântico, no qual o conceito de evolução terá um papel decisivo. Um olhar voltado para a frente, para o potencial humano de construir um novo destino, passou a dominar as almas a partir de então. Os burgueses possuíam capacidade de empreendimento e buscavam ampliar seus negócios. Para tanto, precisavam livrar-se das amarras da tradição, fundando um novo modo de enxergar o mundo, segundo o qual haveria mais liberdade para a criação e a imaginação. Não demorou muito para que poetas e pensadores percebessem que a lógica burguesa atrelava este liberalismo a seus propósitos de enriquecimento. Daí a visão romântica se articular em torno de uma visão de repulsa à racionalidade do capitalista. Mesmo assim, não houve um retorno aos padrões de pensamento do classicismo. Pelo contrário, os românticos opunham-se à racionalidade burguesa afirmando a imaginação como capacidade suprema do cérebro humano. Sua recusa em compartilhar dos princípios que norteavam os projetos de vida burgueses não foi completa, na medida em que também valorizavam mais a invenção do que o cultivo à tradição.Além disso, há uma outra característica do romantismo de extrema importância para a consolidação da Literatura Comparada: o gosto pelo exótico, que levará estudiosos a se interessar pelo estudo da produção literária de povos distantes, para além das fronteiras das nações mais ricas da Europa.
A Literatura Comparada se propunha então como a disciplina disposta a estudar os fatos literários numa perspectiva transnacional, para além das fronteiras políticas ou mesmo culturais. Estava aberto o caminho para que o conjunto da produção literária da espécie humana pudesse ser considerado objeto de estudo de uma só disciplina.
	Contudo, as limitações ideológicas da época impediam que os estudiosos enxergassem os fatos para além da Europa. Um passo havia sido dado, mas ainda um passo pequeno.Bem, diante de uma situação como esta, o simples fato de se organizar antologias já assumia um caráter de tomada de posição diante das contradições da época. Desta forma, a Literatura Comparada nasceu com vínculos bem fortes com a política, na medida em que servia de veículo à proposição de um ideal de paz e concórdia. Ou seja, a expressão Literatura Comparada nasceu antes de qualquer método de análise comparativo em si. Mas, desde o início, existe o propósito de se contrapor à mentalidade da época, de nacionalismo exagerado e clima geral de guerra a qualquer momento. 
Nos primeiros tempos, a disciplina foi dominada por pesquisas que punham em diálogo autores de nacionalidades diferentes. O objetivo era traçar paralelos, em busca de um saber capaz de ultrapassar fronteiras. A Literatura Comparada funcionaria, então, como uma instância intermediária entre cada literatura nacional, estudada em separado, e a literatura geral, objeto de estudo bem mais ambicioso, no qual poucos se aventuravam. 
Entretanto, o comparativismo de então tinha sérias limitações:
Uma delas era a tendência a hierarquizar as literaturas, tendo como ponto de honra a superioridade das literaturas europeias sobre as demais e da francesa, em particular, sobre as outras do continente.
Do ponto de vista da atitude crítica, a disciplina era tributária do atraso em que se encontrava a Teoria da Literatura até então. Havia pouca profundidade teórica em tais estudos.
Além disso, tudo, nas obras, tendia a ser explicado como resultado da influência do meio, da raça ou do clima. É nítida a presença de um ideário marcado pela presença da corrente filosófica positivista no comparatismo francês, e tal situação perdura até o início do século XX, período em que a disciplina vai se instalar como uma cadeira regular em uma quantidade cada vez maior de universidades.
Deste modo, a visão evolucionista esbarrava na visão etnocêntrica, ou mais precisamente eurocêntrica, que apontava a civilização europeia como modelo ideal a ser copiado por todos os demais povos do mundo. Devemos considerar que antes, na primeira leva de colonialismo europeu (séculos XV a XVII), os mercadores ibéricos haviam imposto aos povos americanos a visão de que Deus os escolhera para levar ao resto do mundo a verdade cristã. No século XIX, o capitalismo industrial levou a uma nova onda colonialista, na qual a ciência era usada para justificar a superioridade e o predomínio dos novos donos do mundo, os franceses e ingleses.
Ou seja, o discurso científico substituía o religioso como justificativa para a exploração dos outros povos. Porém, não se abandonava a perspectiva de que a Europa é o centro do mundo, o continente cuja cultura deveria ser copiada por todos os demais povos do mundo, se estes melhorar, chegar a um nível de civilização superior. Para tanto, seria necessário esperar o avançar do século XX, a fim de assistir ao início de superação desta mentalidade. A história das ideias mostra como foi difícil romper barreiras, ultrapassar preconceitos.
Os conflitos, contradições e mudanças trazidos pelo advento do novo século marcaram profundamente os estudos comparatistas.
Bem, o confronto entre a produção literária e as outras artes, particularmente as novas modalidades da era do audiovisual passa, cada vez mais, a ser incorporado como um campo de pesquisas para a Literatura Comparada. Sendo assim, a disciplina precisa repensar seus rumos, deixando de lado uma atenção voltada unicamente ao confronto entre diferentes literaturas nacionais.
	
Slides 
Está ligada diretamente aos rumos da História do Pensamento, de um modo geral. Nela se refletem sempre tendências importantes das Ciências Humanas, em cada época. Logo, podemos afirmar que a história da Literatura Comparada vem acompanhando os rumos da história social, política e cultural do Ocidente ao longo do tempo.
Literatura comparada surge como disciplina no século XIX e está vinculado à corrente de pensamento cosmopolita (o homem como o todo) que caracterizou o pensamento desse século. Época em que se comparavam estruturas ou fenômenos equivalentes com o intento de extrair leis gerais era o mote nas ciências naturais. 
A visão cosmopolita gerou o encontro de intelectuais europeus que buscaram o contato com literaturas estrangeiras. 
No  século XIX há amplo desenvolvimento da ciência e todas as áreas do conhecimento registraram avanços. A ciência tornou-se mais popular.
 
Origem das espécies (Charles Darwin) – esgota no primeiro dia de venda.
Usada na Europa para estudos de ciência e linguística, será na França que a expressão “literatura comparada” irá se firmar.
Síntese da aula
Conhecemos a história da Literatura Comparada, com ênfase nas etapas iniciais de sua existência, desde os tempos antigos, quando o comparatismo dava seus primeiros passos e as relações necessárias entre a Literatura Comparada e a Teoria da Literatura, de onde são colhidos os instrumentos indispensáveis para as análises comparatistas.
Verificamos que neste período a disciplina sofria da carência de uma maior capacidade de percepção crítica, presa das limitações teóricas do momento, atrelada a uma visão positivista e eurocêntrica do mundo. Somente no século XX, esta maneira de encarar os fatos seria contestada, graças à multiplicação dos estudos comparatistas, ao surgimento de novas perspectivas teóricas nos estudos literários e, mais tarde, ao processo de descolonização, que poria fim ao período de domínio da Europa sobre o resto do mundo.
	
Aula 3: Alguns Fundamentos Teóricos da Literatura Comparada
Para efeitos didáticos, alguns manuais de Literatura Comparada, incluindo
o de Tânia Carvalhal, que tomamos como obra de referência, apontam para a existência de três escolas de pensamento teórico:
A escola francesa
O nome de “escola francesa” é dado ao conjunto de pesquisadores orientados pelos padrões historicistas e deterministas que tomaram corpo durante o século XIX e permaneceram com grande influência na primeira metade do século XX. Ainda em 1931, um dos mais interessantes manuais de Literatura Comparada, o de Paul van Thiegen, busca fundamentar seus procedimentos de análise nos padrões que vinham se consagrando no trabalho dos autores mais antigos deste grupo.
A escola norte-americana
Por “escola norte-americana”, designamos o conjunto de autores que passaram a aplicar ao comparatismo as lições das grandes correntes de Teoria da Literatura da primeira metade do século XX, como o formalismo russo, o estruturalismo e o neocriticismo. Para este grupo, grande importância tem a contribuição de René Wellek, cujas propostas serão explicitadas adiante.
A escola soviética
A designação de “escola soviética”, talvez a mais inadequada das três, diz respeito às contribuições que vários autores têm dado a uma renovação dos estudos literários de inspiração marxista. Tal processo tem seu curso desde, pelo menos, os anos de 1930. Vários são os nomes que podem ser lembrados aqui, e nem todos tem sua origem em países do antigo bloco soviético. Muito pelo contrário, a contribuição de pensadores marxistas em atividade no Ocidente não pode ser negligenciada, sendo muitas vezes indispensável, como no caso dos pensadores da Escola de Frankfurt, por exemplo.
	Um dos aspectos que mais chamam a atenção nas pesquisas realizadas pelos “franceses” é o fato de estes autores se interessarem somente pela comparação entre autores de nacionalidades diferentes. Assim, por um lado, o pesquisador que se interessar pela disciplina teria que se revelar um conhecedor da literatura das duas nações em questão. Por outro, ficaria impedido de verificar em que medida os diálogos entre autores da mesma nacionalidade podem se revelar importante e enriquecedor.
O que deveria ocupar a atenção de tal pesquisador seriam coisas do tipo: “Machado de Assis e os ingleses” ou “Balzac e Machado de Assis,” etc.. Sem desconsiderar a importância que tais diálogos tiveram, não somente para este autor, mas para todos os grandes nomes da LiteraturaBrasileira em seu tempo, não podemos deixar de lado o quanto limitadora era uma perspectiva de análise como esta.
Outra exigência da “escola francesa” era a de somente levar em conta o diálogo entre produções literárias, não levando em conta a possibilidade de se analisar o diálogo entre textos literários, a produção de músicos, artistas plásticos, etc.
Nos dias atuais, grande parte dos estudos comparatistas se debruça justamente sobre a importância das trocas havidas entre a Literatura e as outras  Artes. Felizmente, as duas outras tendências que apontamos já relativizam, ou mesmo, abolem tais limitações. De tal forma que, no ponto em que estamos atualmente, não existem mais estas barreiras para o trabalho de um comparatista.
Porém, um dos tópicos que mais ocuparam os debates comparatistas, desde o começo, é a questão das influências. Para os pesquisadores da escola francesa, esta é uma das questões fundamentais do trabalho de um comparatista – verificar em que medida um autor de nacionalidade alemã, por exemplo, tem sua obra enriquecida no contato com a literatura inglesa, ou vice-versa.
Um estudo que se intitulasse, por exemplo, “Goethe na Inglaterra” se destinaria essencialmente a constatar o quanto o genial escritor alemão influenciou seus pares no outro país. Assim, estudar Literatura Comparada era, essencialmente, detectar a presença de elementos que comprovassem a influência de um autor sobre outro, ou vários outros.
O comparativismo em crise
Durante o período em que predominou a “escola francesa”, os estudos comparados se mantiveram defasados com relação às novas tendências da Teoria da Literatura. Afinal, o formalismo russo dera seus passos iniciais pelos idos de 1916 e 17, as correntes de inspiração estruturalista surgem a partir dos anos 1930, e, no entanto, algumas de suas lições básicas só vieram a contribuir para uma renovação do comparatismo a partir da década de 1950, graças à atuação de René Wellek.
Coube a este autor a iniciativa de introduzir uma ruptura com o comparatismo tradicional, dando o passo inicial do que ficou conhecido como “escola americana” de Literatura Comparada. Em oposição aos velhos conceitos herdados do século XIX, centrados em critérios deterministas, Wellek propõe que os estudos literários comparativistas sempre tenham como ponto de partida uma leitura profunda dos textos, sem levar em conta somente fatores que lhe são externos, ou seja, ele atribui menos importância ao contexto social, ou mesmo a aspectos da individualidade do autor, entre outros aspectos externos ao texto.
Assim, considerações a respeito da vida pessoal do autor, ou mesmo do momento histórico em que viveu, perdem importância em nome de um método de análise centrado na obra literária em sua realidade material. Quando se analisa comparativamente diferentes obras, seria importante verificar em que medida aspectos como a maneira como se exprimem as personagens, como é tratado o tempo da narrativa, como se faz o uso de discurso direto ou indireto, o emprego de figuras de linguagem, destes ou daqueles procedimentos retóricos, entre outros aspectos, se fazem presentes em cada um dos textos postos sob as lentes da comparação.
As considerações externas ao texto perdem importância. Psicologia, sociologia, história e filosofia perdem importância como disciplinas de auxílio na análise interpretativa dos textos.
Bem, hoje sabemos que tais pontos de vista possuem suas limitações. Mas a argumentação de Wellek trouxe para a Literatura Comparada a vantagem de esvaziar a ênfase excessiva que se dava antes a certas questões. Para esta nova tendência, de nada adiantaria apontar a presença de influências ou empréstimos sem uma leitura atenta e profunda dos textos literários.
Outro ponto interessante na crítica de Wellek é a condenação que ele faz ao binarismo, ou seja, a prática tradicional de só tomar dois autores, ou duas tradições literárias de cada vez.
Entretanto, Wellek foi mais eficiente em apontar as falhas do comparativismo tradicional do que em apontar novos caminhos. Sua contribuição foi mais deixar em aberto questões que outros autores tentariam responder depois. Mesmo suas lacunas serviram para revitalizar o caminho de autores que retomaram alguns dos aspectos mais controversos de suas ideias. Pois, como afirma Tânia Carvalhal:
“A literatura comparada, sendo uma atividade crítica, não necessita excluir o histórico (sem cair no historicismo), mas ao lidar amplamente com dados literários e extraliterários ela fornece à crítica literária, à historiografia literária e à teoria literária uma base fundamental. Todas essas disciplinas concorrem em conjunto para o estudo literário (...)” (CARVALHAL, p. 39)
O legado teórico de René Wellek, como do conjunto da produção teórica formalista e estruturalista, foi combater os excessos cometidos antes por uma concepção da literatura como resultante de condicionamentos externos. Até o começo do século XX, considerava-se que as obras resultavam sempre de condicionamentos externos, como o contexto histórico e social ou aspectos resultantes da psique do autor. Buscava-se aplicar aos estudos literários generalizações similares às realizadas nas ciências naturais, como a biologia de inspiração darwinista, por exemplo.
Para remediar este mal, os formalistas e estruturalistas propuseram uma dieta rigorosa: excluir por completo o estudo do contexto na compreensão dos textos. Fizeram valer na análise literária critérios sincrônicos, em lugar dos diacrônicos. A influência da Linguística Estrutural era nítida e teve grande utilidade, na medida em que contribuiu para que a análise literária se libertasse dos condicionamentos anteriores.
Contribuiu para que a análise literária se libertasse dos condicionamentos anteriores. 
Superados os rigores desse tratamento, os estudos literários puderam saber aproveitar com mais equilíbrio as vantagens que poderiam advir de um diálogo com outras disciplinas, tais como a história, a sociologia ou a psicologia. No que diz respeito às contribuições da história para a compreensão dos fatos literários, as melhores contribuições viriam de autores de formação marxista, como veremos a seguir.
No ensaio “Crítica e sociologia (tentativa de esclarecimento)” com que abre sua importante obra Literatura e Sociedade, Antonio Candido propõe que o estudo de aspectos sociais numa obra literária pode adquirir novos contornos na medida em que deixarmos de considerar o meio social como algo externo à obra e passarmos a verificar que ele se realiza como um dos aspectos internos.
O meio social não é apenas o universo de referências, as condições sociais em que viveu o artista que produziu uma obra determinada. Abrimos as páginas de um romance e percebemos com clareza como o meio pode se tornar um dos elementos que fazem parte da obra. De tal modo que é impossível uma leitura crítica plena do texto sem considerar a presença daquele elemento.
Considerar o diálogo entre texto e contexto, portanto, é válido e, muitas vezes, se impõe como indispensável. No entanto, é importante estar atento contra a recaída nas simplificações de análise que eram tão frequentes no passado. Os autores do grupo apontado no começo desta aula como participantes da terceira escola de Literatura Comparada se utilizam das ferramentas teóricas do marxismo para empreender análises literárias com viés histórico e sociológico. O teórico russo Zhirmunsky é um deles, como também o é o próprio Antonio Candido, um dos pioneiros do comparativismo brasileiro.
A Linguística, a Semiótica, a História, a Sociologia, a Psicanálise, a Filosofia, entre outras, são chamadas a contribuir em nosso esforço para uma compreensão mais profunda de nossos objetos de estudo, os textos literários.
Existe ainda outro fator básico que interfere na relação entre a obra literária e o contexto social – as ideologias. Com efeito, todo discurso, inclusive o literário, sempre reflete os padrões ideológicos vigentes na época em que o autor viveu. Os modos de pensar e agir de uma épocaestão marcados em qualquer discurso que se produza em tal época. Visto sob este ponto de vista, todo texto literário testemunha padrões ideológicos. Isso se dá mesmo quando o autor não toma plena consciência do fato. Ler um clássico da literatura é sempre ter contato com o mundo em que ele viveu.
O pesquisador de Literatura Comparada precisa estar muito atento a este fato, pois com muita frequência analisa autores de épocas e culturas diferentes. Portanto, precisa estar atento às diferenças de cunho ideológico. Assim, uma leitura em paralelo de um autor brasileiro modernista e de um barroco não pode ser feita sem que se tenha em mente que um desses autores viveu na época de afirmação do capitalismo industrial no Brasil, ou seja, o começo do século XX, enquanto o outro viveu nos tempos do Brasil colônia, quando o país era submetido a um regime escravista. Um trabalho que demanda atenção ainda maior quando estamos comparando autores de nacionalidades diferentes.
Resulta disso que a Literatura Comparada demanda um conhecimento de história, ao lado do domínio das disciplinas mais diretamente ligadas ao trabalho de análise literária, como a estética e a linguística. Deixar de observar este fato pode levar a graves erros de interpretação.

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