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A OAB E OS DIREITOS SOCIAIS UMA ABORDAGEM PARA O CIDADÃO C o n s e l h e ir o s Fe d e r a is AC: M arcelo Lavocat Galvão, R ober to Rosas, Sergio Ferraz; AL: A n ton io N a b o r Areias Bulhões, M arcos B ernardes d e M ello , M a ria d o Socorro Vaz Torres; A M : Ezelaide Viegas da C os ta Alm eida, José Paiva de Souza Filho, M aria D o m in g a s G o m es Laranjeira; AP: Carlos A ugusro Tork de Oliveira, G uaracy d a Silva Freitas, Paulo José da Silva Ramos; BA: Pedro M i l to n de B rito , Saul V en ân c io d e Q u a d r o s F ilho , Yon Yves C o e lh o C a m p in h o ; CE: M arcelo Vinícius G ouveia M artins , M arcos A n to n io Paiva Colares, R a im u n d o Bezerra Falcão; D F : Esdras D a n ta s de Souza, Luiz F il ipe R ib e i ro C o e lh o , M a rc e lo H e n r iq u e s R ib e iro d e O liv e ira ; ES: A n to n io A ugusto G e n e lh u Jú n io r , A n to n io José Ferreira Abikair, Luiz A n to n io de Souza Basílio; G O : E d m a r Lázaro Borges, José Porfírio Teles, W anderley d e M edeiros; M A : Carlos Sebastião Silva N ina , José Brito de Souza, José C arlos Sousa Silva; M G : João O táv io de N o ro n h a , José M urilo P rocóp io d e C a rv a lh o , R a im u n d o C â n d id o Jú n io r ; M S: E lide R igon , José W anderley Bezerra Alves, L eo n a rd o N u n e s d a C u n h a ; M T : Ivan Szeligow ski R a m o s , R e n a to C e s a r V ia n n a G o m e s , R o b e r to D ias de C am pos; PA: Clóvis C u n h a d a G a m a M alcher Filho, Eudiracy Alves da Silva, Sérgio A lber to Frazão do C o u to ; PB: José A raújo Agra, Leidson M eira Farias, N a d ja D iogenes P ali to t y Palitot; PE: João H u m b e r to de Farias M arto re ll i , José J o a q u im de A lm e ida N e to , U rb a n o V ita l in o de M elo Filho; PI: Fides A ngélica d e C a s tro V. M . O m m a t i , João Pedro A yrim oraes Soares, R o b e r to G . de Freitas Filho; PR: A lber to d e Paula M a ch a d o , A lfredo de Assis G onça lves N e to , R o b e r to A n tô n io Busaro; RJ: A lf re d o José B u m a c h a r F i lh o , José C a r lo s S a n to s C a ta ld i , E ster Kosovski, ; R N : A dilson G urgel de C astro , H élio Xavier de Vasconcelos, Paulo Lopo Saraiva; R O : Francisco A rquilau de Paula, H e ito r M agalhães Lopes, O d a i r M a rt in i ; RR: A n to n ie ta M agalhães A guiar, E len a N a tc h Fortes, H e ld e r F igueiredo Pereira; RS: Ja ir Baldez M orales , Jorge Luiz Garcia de Souza, N e re u Lima; SC: A ngelito José Barbieri, José G eraldo R a m o s V i rm o n d , O sw a ld o José Pedreira H o r n ; SE: E d so n Ulisses de M e lo , J o rg e A u ré l io S ilva, Jo sé A lv in o S a n to s F i lh o ; SP: C l e m e n te Cavasana, M arcelo G uim arães da R ocha e Silva, Paulo N im er; T O : Ercílio Bezerra de C astro Filho, Ivair M a rt in s dos Santos D in iz , Sady A n to n io Boessio Pigatto. #Ai Conselho Federal Comissão Nacional de Direitos Sociais A OAB E OS DIREITOS SOCIAIS UMA ABORDAGEM PARA O CIDADÃO © Ordem dos Advogados do Brasil Conselho Federal, 2000 Organização G erência de Órgãos Colegiados Gerente: Paulo Torres Guimarães Produção Técnica: Luiz Valério Rodrigues Dias Distribuição Gerência de D ocumentação e Informação Setor de Autarquias Sul - Q. 5 - L o te 2 - Bl. N - Sobreloja B rasília-D F CEP70438-900 Fones: (061)316-9631 e 316-9605 Fax:(061)316-9632 e-mail: webmaster@oab.org.br Tiragem: 5.000 exemplares FICHA CATALOGRÁFICA 011 A OAB e os direitos sociais : uma abordagem para o cidadao. B rasília : OAB, Conselho Federal, 2000. 48 p. ISBN 85-87260-13-8 1. Direitos sociais - Brasil - Comentários. I. Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conselho Federal. CDD: 341.27 G D I/C F -O A B /L u iz C ar los M aroc lo SUMÁRIO Apresentação Reginaldo Oscar de C astro ...................................................................... 7 A Afirmação dos D ireitos Sociais José Francisco Siqueira N eto ...................................................................9 A Educação Rogério Viola C oelho ...............................................................................13 Saúde do Trabalhador Meirivone Ferreira de A ra g ã o ............................................................... 19 Dos D ireitos Sociais: Trabalho A na M aria Ribas M agno ........................................................................ 25 D ireito à Moradia Roberto de Figueiredo Caldas e Shígueru S um ida ...........................31 D ireito ao Lazer João Hélder Dantas Cavalcante .......................................................... 35 O D ireito à Segurança em um Pais Inseguro! Saul Venãncio de Quadros F ilh o ......................................................... 39 Seguridade Social Mauro de Azevedo M enezes ................................................................. 43 5 A presentação R e g in a ld o O s c a r de C a s tro * Dentre as cruas realidades com as quais somos, hoje, forçados a conviver, figuram — para tristeza nossa — a demolição implacável das chamadas conquistas sociais. Tudo executado em nome da globalização, melhor dizendo, das perversões geradas pela apropriação do moderno instrumental técnico-científico perpetrada pelos impenitentes vilões do mercado. A partir daí, uma grave patologia visual vem afetando a capacidade de nossos governantes de enfocar corretamente as verdadeiras prioridades da população brasileira. Por força desse desvio óptico, a importância do lucro e a prevalência do econômico são de tal sorte hipertrofiadas que não permitem a visualização das urgências e da primazia do social. Conseqüência dessa síndrome desastrosa é o declínio da qualidade de vida e a degradação dos serviços sociais de responsabilidade do Estado. Não é que o Poder Público não cuide da educação, por exemplo. Cuida, mas o faz com tal avareza, que a ela dedica migalhas orçamentárias, tão-somente. Daí o drama educacional brasileiro: superabundância de escolas, escassez de ensino de qualidade. Nem se diga, tampouco, que o governo tenha se despreocupado, por completo, de sua dívida social para com os pobres e excluídos. Preocupou-se, porém, muito mais, em quitar os compromissos que tornam governo e povo brasileiro reféns de seus implacáveis credores externos. Quitados esses débitos da iniqüidade, restam-nos apenas míseras sobras com 0 que prover a saúde, a alimentação, o ir-e-vir, a segurança, a moradia, 0 lazer, o acesso ao trabalho e a seguridade social de 160 milhões de brasileiros. Há no horizonte alguns clarões a indicar o inconformismo dos povos com essas perversões globalitárias. Os próprios mentores da economia mundial começam a render-se às evidências. A desenvoltura do mercado só tem gerado maiores desigualdades entre as nações. Desregulamentação do mercado, privatização das empresas, encolhimento do Estado, flexibilização das relações trabalho/capital, abertura comercial, controle rígido da inflação e do déficit público, estão longe de terem operado 0 milagre da instauração da prosperidade e do bem-estar social universais. * Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil 7 A hora parece, pois, propícia para reaprendermos aquilo que já começávamos a desaprender: a consciência ativa de nossos direitos sociais. É exatamente aonde a Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB quer chegar com o oportuno lançamento da cartilha, intitulada “A OAB e os Direitos Sociais - uma abordagem para 0 cidadão”. Louve-se a Comissão por sua inspirada iniciativa. Merecidos aplausos aos autores desta oportuna publicação. 8 A AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAISJosé F ranc isco S ique ira Neto* Ao longo da história, os direitos humanos experimentaram importantes transformações em relação a sua consagração, titularidade e extensão. Os direitos humanos nasceram como teorias filosóficas, idéias segundo as quais, a liberdade e a igualdade dos homens não são um fato, mas um ideal a ser perseguido, um desejo. À esta época, os direitos são universais, mas não são eficazes, na medida em que ficam na esfera das propostas. Em seguida, passaram os mesmos para o terreno das leis. Isto se deu com as Declarações de Direitos dos Estados Norte-americanos e da Revolução Francesa. Nesta fase, os direitos humanos deixaram de ser a expressão de uma nobre exigência e passaram a integrar um ordenamento jurídico específico. Viraram lei. Deixaram de ser um direito pensado e foram realizados. Porém, exigíveis apenas para os países que os reconheceram expressamente. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é a última etapa evolutiva dos direitos humanos no tocante a sua afirmação. Com ela, se deu, ao mesmo tempo, a consagração de forma universal e normativa. Hoje podemos dizer que os direitos humanos foram globalizados. A conseqüência prática desta alegação é que a própria autoridade soberana dos Estados nacionais resulta relativizada e flexibilizada em favor da universalização dos direitos humanos. A Constituição atual do Brasil acolhe expressamente esta concepção. Isto implica, basicamente, em duas conseqüências: primeira, que para proteger direitos humanos violados são admitidas intervenções no plano nacional e a responsabilização internacional do país atingido; segunda, que a pessoa individualmente considerada adquire a condição de sujeito de direito na esfera internacional. Além dos impactos provocados na ordem jurídica dos países, a Declaração Universal proporcionou também a consagração de um * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB 9 entendimento mais avançado de direitos humanos. Esses, passaram a ser concebidos como universais e Indivisíveis. Universais porque não mais aplicáveis a pessoas de um ou outro Estado, mas atribuídos à todos os homens, indistintamente e sem a exigência de qualquer outro requisito. Indivisíveis porque a garantia de uns é a condição para o respeito de outros e vice-versa. As dimensões dos direitos humanos vão se alterando com as mutações da realidade, que apresentam com o tempo novas faces decorrentes do mesmo direito, mas que necessitam de uma camada protetiva capaz de acompanhar a evolução dos fatos. É por esse motivo que quando um dos direitos humanos é violado, Inapelavelmente, os demais também o são. Deste modo, os direitos humanos apresentam-se nos dias de hoje como universais, indivisíveis, mutuamente relacionados e dependentes entre si. Cabe lembrar, contudo, que em relação ao conteúdo e a titularidade, os direitos humanos não nasceram com a configuração que ostentam atualmente. Em um primeiro momento, eles emergem com o surgimento dos Estados modernos, mediante um processo de ascensão da pessoa Individualmente considerada como seus destinatários. No início, essas pessoas representam um universo restrito, mas com o passar do tempo, esse universo é ampliado. Neste momento, portanto, a titularidade dos direitos humanos é Individual e os mesmos se erguem em face do Estado, posto que voltados a resguardar a dignidade, a liberdade e a igualdade humana. Esses são os chamados direitos humanos de primeira geração. Com a deslocaçâo de parte do poder e a conseqüente consolidação dos diversos interesses econômicos na sociedade, evidencia-se a importância de conferir os direitos humanos não mais a titulares individuais, mas também coletivos. Isto porque, surgem coletividades que necessitam, além de proteção, de representação coletiva. Esses direitos, entretanto, não implicam mais em uma omissão do Estado. Pelo contrário, demandam uma ação positiva deste, às vezes até mesmo contra outras facções de poder na sociedade. São os direitos humanos de segunda geração. 0 importante deste passo é observar que o Estado violador, contra 0 qual se erguem os direitos fundamentais de primeira geração, passa a ser também o Estado garantidor, por meio do qual se podem realizar os direitos fundamentais de segunda geração, conhecidos como DIREITOS SOCIAIS. 10 Mediante o aumento da participação no poder na sociedade por parte das mais distintas organizações de interesses, novos horizontes protetivos são alcançados e, em razão disso, novos titulares de direitos humanos vão aparecendo. São os titulares dos direitos humanos de terceira geração, cuja identificação é difusa (vez que podem se encontrar em todo 0 mundo, independente de nacionalidades), mesmo porque, os direitos que visam preservar são exercidos por um poder também difuso. Neste rol, encontram-se os direitos que são de todos e podem ser violados por todos. São aqueles direitos indivisíveis e indisponíveis, que podem ser usufruídos por um número indeterminável de pessoas, por recaírem sobre bens de toda a coletividade (paz, preservação do patrimônio cultural da humanidade, preservação do meio ambiente, etc.). A Constituição de 1988, como salientado, cristalizou o respeito aos direitos humanos como paradigma propugnado para a ordem internacional. Além disso, no mesmo título dos Direitos e Garantias Fundamentais, consagrou amplamente os direitos sociais que serão apresentados nos capítulos seguintes deste trabalho. Além dos ditames constitucionais, o Brasil incorporou ao ordenamento jurídico nacional importantes instrumentos de Direito Internacional de Direitos Humanos (Convenção contra a Tortura e Outros Tratam entos Cruéis, Desumanos ou Degradantes; Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura; Convenção sobre os Direitos da Criança; Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos; Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; Convenção Americana de Direitos Humanos; Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher). Outros importantes passos dados pelo Brasil referem-se à nossa adesão ao Estatuto de criação do Tribunal Internacional Criminal Permanente e ao nosso reconhecimento da competência jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Com isso, o Estado brasileiro aceitou 0 sistema de monitoramento dos direitos humanos, bem como reconheceu duas relevantes instâncias jurisdicionais internacionais de proteção aos direitos humanos. As bases materiais fundamentais dos direitos humanos foram consagradas pelo Brasil. Isso, contudo, ainda não foi suficiente para que os nossos tribunais atualizassem seus entendimentos sobre a matéria e, tampouco, que os direitos humanos e sociais fossem plenamente respeitados no Brasil. Esse é 0 desafio da sociedade brasileira e o teste da nossa democracia. 11 A EDUCAÇÃO R o g é r io V io la C oe lho * I — 0 direito à educação O direito à educação é o primeiro dos direitos sociais do artigo 6- da Constituição. Trata-se de um direito de todas as pessoas que impõe uma ação positiva do Estado. Um típico direito à prestação que requer, além da intervenção normativa, ações substantivas dos poderes públicos, em cumprimento de obrigações bem determinadas. Constituído historicamente como os demais direitos, pelo movimento das classes sociais emergentes, foi consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e pelo Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (1966), penetrando a partir daí nas Constituições democráticas da segunda metade do século XX. Estes tratados, que refletem a consciência histórica da humanidade sobre os seus próprios valores fundamentais, foram subscritos pelo Brasil, integrando-se ao nosso ordenamentojurídico, conforme o § 2® do artigo 5- da Constituição. A “Declaração” proclama que toda pessoa tem direito a educação, que 0 acesso ao ensino superior será igual para todos e que haverá liberdade de escolha do tipo de educação. O “Pacto” reitera estes postulados, indica a implantação progressiva do princípio da gratuidade e compromete os Estados signatários a buscar o desenvolvimento progressivo do sistema escolar em todos os níveis e a ampliar o sistema de bolsas de estudo para democratizar o acesso aos níveis mais elevados. Também os obriga a melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente. ii — A educação na Constituição Federal Além de consagrar o direito à educação entre os direitos e garantias fundamentais, o legislador constituinte estabeleceu, no título que trata da Ordem Social, Capítulo III, normas que impõem à União e demais entes federados a adoção de medidas de tipo organizativo e de tipo procedimental, abrangendo a criação de sistemas de ensino e instituições, a destinação * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB 13 de recursos, e os princípios reitores da intervenção normativa e das ações substantivas das diversas esferas do poder púbiico. A definição dos objetivos visados pela educação, nos termos do artigo 205 são três: o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. A cidadania constitui um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito instituído pela Constituição, no seu artigo 1°. Assim, a educação cumpre uma função relevante na edificação da Democracia e do Estado de Direito. 0 mesmo artigo identifica os sujeitos do direito à educação, colocando no pólo ativo todos (todas as pessoas, sem restrição) e no pólo passivo, como obrigados pela sua prestação, o Estado e a família, prevendo, também, a colaboração da sociedade. No cumprimento dessa obrigação, 0 Estado recebe a participação da iniciativa privada, que assume um papel complementar, estando as instituições particulares, com ou sem fins lucrativos, obrigadas ao cumprimento das normas gerais da educação nacional e sujeitas a autorização e avaliação de qualidade pelo poder público, conforme o artigo 209. A abrangência do dever do Estado com a educação é definida pelo artigo 208, que lhe impõe a garantia de: 1 — ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria: II — progressiva universalização do ensino médio gratuito; III — atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV — atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V — acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI — oferta e ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII — atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. O direito universal de acesso ao ensino fundamental é conformado como um direito sobre o Estado a uma prestação determinada e definido pelo § 1 - como um direito público subjetivo. Ademais, a obrigação é dotada de sanção, no caso de descumprimento ou de oferecimento irregular, o que implica na garantia mais enérgica que o direito cria para assegurar a 14 sua eficácia. O §2- prescreve a responsabilidade da autoridade competente nesta hipótese. Nestas condições, é um direito plenamente exigível. A União, os Estados e os Municípios devem organizar os seus próprios sistemas de ensino, em regime de colaboração, visando especialmente universalizar o ensino fundamental, obrigatório. Caberá aos municípios o ensino infantil e o fundamental; aos Estados e Distrito Federal cabe atuar prioritariamente no ensino fundamental e médio enquanto que à União Incumbe organizar o sistema federal de ensino, voltado para o nível superior, financiando as Instituições que o integram. Cabe, ainda, à União garantir a equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos entes federados (artigo 211 e §§). A Constituição estabelece, ainda, no seu artigo 206, os princípios que deverão orientar a estruturação dos sistemas de ensino e as atividades dos agentes da educação. Inicialmente prescreve a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e garante a gratuidade do ensino público em estabelecimento oficiais. Consagra a liberdade de aprender, ensinar e pesquisar, que no nível superior conforma a liberdade acadêmica. Agora, este princípio é irradiado para todos os níveis de ensino. Trata-se de uma expressão da liberdade individual, valor fundante da democracia moderna, e garantia do pensamento crítico frente aos saberes estabelecidos, indispensável ao avanço do conhecimento. Estabelece o pluralismo pedagógico, que constitui uma expressão particular do Ideal de uma sociedade pluralista, acolhida no preâmbulo e no artigo 1- da Constituição, e Institui a gestão democrática do ensino público, impondo a participação de todos os atores envolvidos no processo educativo, na definição das diretrizes da escola pública, e na gestão das suas atividades. Por último, consagra o princípio da valorização dos profissionais do ensino e a garantia do padrão de qualidade. Ill — Dos profissionais da educação Entre os princípios enunciados pelo artigo 206 para o ensino, o legislador constituinte realça o princípio da valorização dos profissionais do ensino, desdobrando-o nas garantias: 1 ®) de planos de carreira para o magistério público; 2-) de piso salarial profissional; 3-) de ingresso somente por concurso público. A liberdade de ensino e pesquisa, que se expressa no nível superior com a liberdade acadêmica, aponta para a necessária adoção de regime jurídico de direito público nas instituições de ensino público, especialmente para os docentes universitários, como garantia efetiva dessa liberdade. 15 Também os docentes das instituições privadas, que estão incluídos na tutela constitucional, deverão ser garantidos contra a despedida imotivada, através da intervenção normativa do Estado, sob pena da liberdade consagrada não se realizar para eles. IV — A autonomia das universidades A Constituição enuncia no seu artigo 207 dois princípios para as universidades, que têm incidência, instintamente, nas públicas e nas particulares: — o princípio da autonomia, que abrange a autonomia didático- científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial. — 0 princípio de indissociabilídade entre ensino, pesquisa e extensão. 0 primeiro princípio tem o alcance de assegurar: 1°) O poder de autogoverno, que significa a faculdade de escolha dos dirigentes pelos membros da comunidade universitária. 2-) 0 poder de autonormação, que assegura às Instituições a capacidade de autonormação no contexto do ordenamento geral emanado da União, que recebeu competência constitucional para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, conforme art. 22, XXIV. A autonomia das universidades tem por fundamento a liberdade acadêmica, correspondendo à sua dimensão institucional. Nesta dimensão, a autonomia se expressa como independência da comunidade universitária frente ao Estado e aos governos, reconhecida universalmente como indispensável para a produção e a transmissão do conhecimento. Na dimensão individual, a liberdade acadêmica deve traduzir-se na adoção de um regime jurídico de direito público (estatutário) para tutela efetiva dos docentes frente a maioria que governa a instituição. Nas universidades particulares, as instituidoras detêm um irrestritopoder discricionário na sua estruturação, mas a abrangência do princípio da autonomia sobre elas deve traduzir-se no auto-governo da comunidade universitária através da eleição dos dirigentes e de normas que tutelem os membros dessa comunidade frente à instituição empregadora, especialmente contra a despedida arbitrária. O princípio de indissociabilidade entre ensino e pesquisa e extensão impõe às instituições universitárias, públicas e particulares, que desenvolvam em cada ramo do saber atividades de pesquisa voltadas para a produção do conhecimento, articuladas com a sua transmissão. Ademais, impõe a integração da comunidade com o meio social, peta prestação de serviços qualificados. Naturalmente, a observância deste princípio se impõe 16 nas iniciativas dos entes federados, impedindo-lhes de criar instituições de ensino superior e paralelamente instituições de pesquisa dissociadas daquelas. V— 0 financiamento da Educação A Constituição estabelece regras visando assegurar os recursos financeiros necessários à manutenção e desenvolvimento dos sistemas de ensino dos entes federados. Obriga-os a destinar anualmente parcelas mínimas das arrecadações tributárias respectivas para o ensino: — à União, 18 por cento — aos Estados, Distrito Federal e municípios, 25 por cento da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, (art. 212). Na distribuição destes recursos, os entes federados deverão assegurar prioridade ao atendimento das necessidades do ensino fundamental, que é obrigatório, observando o que for estabelecido no plano nacional de educação (§ 3°). Este plano, com duração piurianual, deverá visar, conforme o art. 214, a articulação e o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do Poder Público, tendo como metas: I- a erradicação do analfabetismo; II- a universalização do atendimento escolar; III- a melhoria da qualidade do ensino; IV- a formação para o trabalho; V- a promoção humanística, científica e tecnológica do País. A prioridade ao ensino fundamental é conferida pelo legislador constituinte e assumida, ainda, através de uma fonte adicional de financiamento, com a contribuição social do salário educação recolhida pelas empresas. A Emenda Constitucional n® 14 obrigou os Estados e Municípios a destinar, ao longo de dez anos, no mínimo, 60 porcento dos seus recursos orçamentários previstos para a educação ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério (art. 60 do ADCT). Também para a União, a Emenda n° 14 vem impor que ela aplicará na erradicação do analfabetismo e na manutenção e no desenvolvimento do ensino fundamental, nunca menos do que o equivalente a 30 por cento dos seus recursos orçamentários para a educação, equivalente a 18 por cento da receita de impostos, definido no artigo 212. 17 SAÚDE DO TRABALHADOR M e ir iv o n e F e r r e ir a de A ra g ã o * Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. (Artigo 3- da Declaração dos Direitos Humanos, de 10/12/1948, da qual o Brasil é signatário). Todo trabalhador tem o direito de exercer suas atividades em um ambiente sadio e seguro, que preserve sua saúde física e mental e estimule 0 seu desenvolvimento e desempenho profissional. {Artigo 17 da Declaração Socio-Laboral do Mercosul). 0 termo “saúde”, com relação ao trabalho, abrange não só a ausência de afecções ou de doenças, mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e a higiene no trabalho (Art. 3® da Convenção 155 da OIT, com vigência nacional a partir de 18 de maio de 1993). Todos os trabalhadores devem ser informados dos riscos para a saúde inerentes a seu trabalho (Convenção 161 da OIT, com vigência nacional a partir de 18 de maio de 1991). A Constituição Federal de 1988 traz uma série de normas referentes ao tema, a iniciar pelos princípios norteadores do sistema, quando, no artigo 1-, le II, enfatiza o ser humano em sua tutela e, no artigo 3-, quando diz ser objetivo fundamental da República construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalizaçâo e promover o bem de todos. Estabelece no artigo 5- o direito à vida. No artigo 6- reconhece o direito à saúde como direito social e no artigo 196, direito de todos. Essencial ainda a proteção ao meio ambiente trazida no artigo 225. Interessa essencialmente ressaltar o artigo 200, que dispõe sobre a atuação do SUS, estabelecendo, no inciso VIII, ser sua competência “colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”. Para caracterização de um ambiente de trabalho sadio, a legislação traz 0 estabelecimento de normas que garantem a segurança necessária no sentido de se evitar danos à saúde dos trabalhadores. Cumpre observar que a ausência absoluta de riscos não é possível, cabendo ao empregador suportar o ônus da sua presença, uma vez que, em se apropriando do lucro, assume os riscos da atividade econômica. * Advogada 19 Tem 0 empregador o dever de buscar reduzir os riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, estabelecido no artigo 7-, inciso XXII. Essas normas encontram sua previsão no Capítulo V do Título II da CLT, complementadas pelas Normas Regulamentares do Ministério do Trabalho, estabelecidas pela Portaria n.“ 3.214, de 8 de junho de 1978. Além dessas normas, as categorias organizadas ainda dispõem dos acordos e convenções coletivas, ampliando o leque protetivo. Quando o assunto é saúde, o principal direito que os trabalhadores têm é 0 de preservá-la; o direito de não adoecer e não sofrer acidentes pelo exercício do seu trabalho. Para a preservação desse direito fundamental, os trabalhadores devem estimular a atuação da Cl PA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), dos Sindicatos e da Delegacias; Regionais do Trabalho, para exigir a aplicação da legislação protetiva, a exemplo das Normas Regulamentadoras ■ NR’s, referentes à saúde e segurança nos ambientes de trabalho. Dentre estas, citamos a NR 17, que cuida da ergonomia e das condições de trabalho; a NR 9, que obriga a elaboração de mapas de riscos ambientais nas empresas; a NR 7, que trata dos exames médicos e institui 0 PCMSO (Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional) nas empresas e a NR 5, que regulamenta a Cl PA. O meio ambiente de trabalho pode ser protegido pela justiça através de ações coletivas interpostas pelo Sindicato ou pelo Ministério Público do Trabalho, como também por ações individuais do trabalhador que se sinta ameaçado. Em se tratando de acidente de trabalho e doença profissional, o silêncio é a pior solução. Logo, aos primeiros sintomas, procure um médico e não esqueça de procurar também o Sindicato da sua categoria ou um advogado, a fim de receber orientação jurídica. 0 acidente de trabalho e as doenças ocupacionais são eventos cujas conseqüências ultrapassam a relação de emprego e atingem toda a sociedade. 0 trabalhador lesado pode pleitear na justiça os seguintes direitos: DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS (trabalhador x INSS) 1. EMISSÃO DA COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO (CAT) É 0 documento que informa ao INSS que o trabalhador sofreu acidente de trabalho ou que pode ser portador de doença profissional ou do trabalho. Deve ser emitida no caso de acidente, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, havendo morte, imediatamente, além da comunicação 20 obrigatória à autoridade policial competente. Em caso de doença, deve ser emitida no primeiro dia útil após o diagnóstico médico que fizer esta constatação. Se a empresa se recusar a emitir a CAT, o médico que o assistiu, qualquer autoridade pública,o Sindicato ou o próprio trabalhador poderá fazê-lo. Expedida a CAT, o INSS irá registrá-la, anotando o fato na Carteira Profissional e encaminhará o trabalhador para a perícia médica, a fim de caracterizar o nexo causai, ou seja, dirá se a causa do acidente ou da doença foi o exercício do trabalho. Para isso é necessária a descrição detalhada para o perito das atividades desenvolvidas pelo trabalhador. A emissão da CAT é importante para a aquisição de uma série de direitos junto ao INSS, como os benefícios que seguem transcritos, a depender do caso concreto. É importante o trabalhador saber que não é necessário que haja afastamento para que seja emitida a CAT, basta a caracterização da doença. 2. PRINCIPAIS BENEFÍCIOS • AUXÍLIO-DOENÇA ACIDENTÁRIO: é o benefício devido ao trabalhador doente ou acidentado que ainda não teve seu quadro clínico estabilizado, para saber se terá alta ou se será encaminhado para o auxílio-acidente ou aposentadoria, quando cessa o seu pagamento. É quando há a redução temporária da capacidade de trabalho. O INSS paga a partir do 15- dia do afastamento, mensalmente, no valor de 91 por cento do salário de benefício do trabalhador. Salário de benefício é a média aritmética simples dos últimos 36 salários. • AUXÍLIO-ACIDENTE: é o benefício devido ao trabalhador que, após consolidadas as lesões decorrentes do acidente de qualquer natureza, apresentar redução permanente da capacidade laborativa, que Impeça o exercício das funções que antes exercia... Corresponde a 50 por cento do salário de benefício do segurado, devendo ser pago a partir da alta médica. • APOSENTADORIA POR INVALIDEZ ACIDENTARIA: é o benefício devido ao trabalhador com Incapacidade total para o exercício de qualquer atividade profissional e permanente, ou seja, sem possibilidade de recuperação. Corresponde a 100 por cento do salário de benefício. • PENSÃO POR MORTE: é o benefício pago aos herdeiros dependentes do falecido em virtude de acidente de trabalho e corresponde a 100 por cento do salário de benefício do segurado. 21 3 .0 QUE É E COMO DEVE OCORRER A REABILITAÇÃO? A reabilitação é o retorno ao trabalho do segurado que estava licenciado pela concessão do benefício auxílio-doença acidentário. Ao final do tratamento, entendendo a perícia do INSS que o trabalhador não pode mais trabalhar na função que antes exercia, porém está apto a desenvolver outra função, irá encaminhá-lo para a reabilitação. Esta deverá ser iniciada com um estágio na empresa, acompanhado pelo INSS. Deve ocorrer numa função adequada, que não implique em agravamento do quadro. Após a reabilitação e encontrada nova função que o trabalhador possa exercer, é dada alta médica com o retorno ao trabalho. 4. E SE FOR NEGADO, TRANSFORMADO OU CASSADO 0 BENEFÍCIO, INDEVIDAMENTE, O QUE FAZER? Entrar imediatamente com Recurso Administrativo, que deve ser feito pelo próprio trabalhador junto ao INSS, se houver alta quando ainda não estiver em condição de voltar ao trabalho. A ele devem ser juntados novos laudos médicos de que a lesão persiste. Para a elaboração desse recurso é aconselhável a consulta a advogado e ao médico responsável pelo tratamento. DIREITOS TRABALHISTAS (trabalhador x empresa) 0 empregador é responsável pelo trabalhador acidentado ou adoecido nos primeiros quinze dias de afastamento, devendo fazer o pagamento normal do salário até esta data. Após o 15° dia de afastamento por acidente ou doença profissional, o contrato de trabalho fica suspenso, tendo o empregador a obrigação de depositar o seu FGTS até ser definida sua situação. Esse período é contado como tempo de serviço para efeito de aposentadoria. O trabalhador que ficar, em razão de acidente ou doença do trabalho ou profissional, afastado do trabalho por mais de 15 dias, recebendo, portanto, o Auxílio-doença Acidentário, tem assegurada sua estabilidade ou garantia do emprego por 12 meses, contados a partir do encerramento do Auxílio-doença Acidentário e não depende da concessão do Auxílio Acidente. Depois desse prazo, somente pode ocorrer a demissão se o empregador colocar no seu lugar outro trabalhador em iguais condições, ou seja, também reabilitado. 22 As empresas com 100 ou mais empregados, estão obrigadas a preencher 2% a 5% do seu quadro funcional com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitados. Diz a Lei 8.213/91 que a dispensa imotivada de trabalhador reabilitado ou deficiente habilitado, vencida a estabilidade de 12 meses, somente poderá ocorrer após a contratação, pela empresa, de substituto em condição semelhante. Mesmo tendo sido aposentado, tem o trabalhador assegurado seu emprego durante cinco anos, pois a aposentadoria decorrente de invalidez pode ser revista. DÍREITO À INDENIZAÇÃO NA ESFERA C M L (trabalhador x empresa) 0 trabalhador pode pleitear, através de advogado, uma indenização na Justiça Estadual pelo dano causado à sua saúde, em decorrência do exercício do trabalho e o seu valor vai depender de cada caso concreto. Deve ser provada a culpa do empregador, através do descumprimento das normas de saúde e segurança no trabalho, a obrigação de trabalho extraordinário e a falta do fornecimento ao trabalhador de informações sobre os riscos da atividade profissional. Esta culpa pode ser por negligência. Imprudência ou imperícta e se baseia em várias normas, entre elas a NR 1 e o artigo 157 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que diz ser obrigação da empresa “cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho”. DIREfTOS NA ESFERA CRIMINAL (trabalhador x responsável pelo crime) É quando o acidente ou a doença ocorrer por culpa grave ou dolo(vontade livre e consciente) da empresa colocando o empregado em situação de risco cujo resultado seja um crime. Rea(lza-se através de ação penal proposta por advogado ou pelo Ministério Público e visa à aplicação de penalidade aos seus responsáveis (chefes de setor, responsáveis pela segurança e outros), de acordo com o crime caracterizado. Só pode existir processo criminal contra pessoa física, não podendo ser responsabilizada criminalmente a empresa. O artigo 132 do Código Penal prevê o crime de Perigo para a Vida ou a Saúde de Outrem, nos seguintes termos: “Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente; Pena • detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constituir crime mais grave.” 23 PROTEGER O MEIO AMBIENTE DE TRABALHO É PROTEGER A VIDA DO TRABALHADOR A forma de organização onde o trabalhador se sente pressionado, desde o salário que não é suficiente, passando pela insatisfação com a profissão desenvolvida, até a falta de participação no desenvolvimento das suas atividades, geralmente sob a vigilância de chefes despreparados, com a prestação excessiva de horas extras, termina sendo um fator de adoecimento e de desequilíbrio do ambiente de trabalho, pois impede a participação do trabalhador no planejamento de sua atividade, transfor mando-o em simples peça de repetição, prolongamento da máquina. A satisfação com a realização do trabalho, dentro desse conceito amplo de saúde do trabalhador, é aspecto que deve ser obsen/ado, quan do se pretende construir um meio ambiente de trabalho harmônico e equi librado, necessário à sadia qualidade de vida. Formas de trabalho participativas, onde o trabalhador possa de senvolver sua capacidade criativa, devem ser estudadas e incentivadas para a composição de um ambiente harmônico e equilibrado, aliadas à busca pela eliminação dos riscos, resgatando sua dignidade e cidadania. Assim, trabalhador, a proteção do meio ambiente onde é exercida sua atividade profissional vai garantir a preservação de sua saúde e da própria vida. Busque se informar dos seus direitos, através de advogados e participe,exerça sua cidadania. 24 DOS DIREITOS SOCIAIS: TRABALHO A n a M a r ía R ib a s M a g n o * O TRABALHO é um direito garantido a todos. Tanto é assim que o art. 6- da Constituição Federal, nossa lei maior, assegura que TODOS temos direito ao TRABALHO, além, naturalmente, de outros direitos. Já no art. 7®, por sua vez, estão garantidos os DIREITOS dos trabalhadores URBANOS e RURAIS, além de outros que melhorem as condições sociais de tais trabalhadores. Tais DIREITOS são: RELAÇÃO DE EMPREGO protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos. Aqui cabe observar que até a presente data ainda NÃO EXISTE a lei complementar mencionada em tal texto, permanecendo, portanto, na ocorrência de despedida injusta, a indenização correspondente a 40% sobre o total de depósito do FGTS, conforme preceitua o inciso I, do artigo 10, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. SEGURO DESEMPREGO, que é o benefício que o empregado terá direito a receber, temporariamente, mas apenas nos casos em que o desemprego ocorrer sem justa causa. FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO, que permanece garantido na Constituição, visando proteger o trabalhador demitido sem justa causa. SALÁRIO MÍNIMO, que é o salário fixado em lei (não mais unificado), capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e às de sua família, com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos, que lhe preservem 0 poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. Aqui observe-se que os “reajustes periódicos” dependem de condições inflacionárias. PISO SALARIAL PROPORCIONAL À EXTENSÃO E À COMPLEXIDADE DO TRABALHO, tratando-se de conquista através de negociação coletiva, lei ou sentença judicial. IRREDUTIBILIDADE DE SALÁRIO, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo. * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB 25 Aqui, observe-se que a redução de salário ficou proibida, a não ser em decorrência de negociação coletiva, conduzida pelo sindicato. GARANTIA DE SALÁRIO, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável. Ou seja, tanto faz trabalhar por tarefa, comissão etc, o direito ao salário-mínimo está garantido. DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria. Quer dizer que tanto o trabalhador que está em atividade como o aposentado têm direito a remuneração integral. REMUNERAÇÃO DO TRABALHO NOTURNO superior à do diurno. O trabalho realizado no período noturno, terá um acréscimo, pelo menos, de 20%, como já previsto na CLT. PROTEÇÃO DO SALÁRIO, na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa. Pelo preceito constitucional, reter salário do empregado é crime. Entretanto, a definição de tal crime ainda aguarda elaboração de lei. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS, ou resultados, desvinculada da remuneração e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei. SALÁRIO-FAMÍLIA para seus dependentes. DURAÇAO DO TRABALHO NORMAL, não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Aqui deverá ser observado que se ultrapassada a jornada legal haverá remuneração de hora extra. JORNADA DE SEIS HORAS para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO, preferencialmente aos domingos. REMUNERAÇÃO DO SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO, superior, no mínimo, em cinqüenta porcento à do normal. Ocorre quando a duração do trabalho ultrapassar as oito horas diárias ou quarenta e quatro semanais. GOZO DE FÉRIAS anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. Inclusive nas férias proporcionais. LICENÇA À GESTANTE, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias. Aqui deverá ser observada que a estabilidade está garantida, conforme art. 10, do ADCT. LICENÇA PATERNIDADE, nos termos fixados em lei. PROTEÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. Os mecanismos de proteção serão criados por lei para se evitar a discriminação da mulher no momento de sua admissão. 26 AVISO PRÉVIO proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei. REDUÇÃO DOS RISCOS inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. ADICIONAL DE REMUNERAÇÃO PARA AS ATIVIDADES PENOSAS, insalubres ou perigosas, na forma da lei. APOSENTADORIA. ASSISTÊNCIA GRATUITA AOS FILHOS e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade, em creches e pré-escolas. RECONHECIMENTO DAS CONVENÇÕES e acordos coletivos de trabalho. PROTEÇÃO EM FACE DA AUTOMAÇÃO, na forma da lei. SEGURO CONTRA ACIDENTES DE TRABALHO, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando inocorrer em dolo ou culpa. AÇÃO, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de: CINCO ANOS para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato; e de até DOIS ANOS após a extinção do contrato, para o trabalhador rural. PROIBIÇÃO DE DIFERENÇA DE SALÃRIOS, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. PROIBIÇÃO DE QUALQUER DISCRIMINAÇÃO no tocante ao salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. PROIBIÇÃO DE DISTINÇÃO entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos. PROIBIÇÃO DE TRABALHO NOTURNO, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho aos menores de quatorze anos, salvo na condição de aprendiz. IGUALDADE DE DIREITOS entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. A Constituição ainda assegura no parágrafo único do art. 7- que os trabalhadores DOMÉSTICOS têm direito a: salário mínimo, irredutibilidade de salário, 13- salário, repouso semanal remunerado, gozo de férias, licença gestante, licença paternidade, aviso prévio proporcional e aposentadoria - nos mesmos termos que aos trabalhadores rurais e urbanos. No art. 8- está garantido para os trabalhadores a livre associação profissional ou sindical, excluindo a participação do Estado na fundação 27 do sindicato, vedada, inclusive, sua interferência ou intervenção. Preservada a unicidade sindical. Garantida a participação do sindicato na defesa dos interesses da categoria. Assegurada a contribuição sindical para o sistema confederativo. Reconhecida a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. Respeito ao aposentado filiado. Garantida a estabilidade do empregado sindicalizado concorrente a cargo de direção ou representação sindical. No art. 9- a Constituição assegura o direito de greve, cabendo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender, observados, naturalmente, os serviços ou atividades essenciais que não podem parar, apontando ainda, as penas para os casos de abusos cometidos. Já no art. 10 está assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. No art. 11 está garantido que nas empresas de mais de duzentos empregados é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores. Ou seja, temos uma Constituição que garante o mínimo necessário para o trabalhador. Entretanto,esse mínimo necessário encontra-se ameaçado ante a proposta do Executivo em pretender alterar 0 art. 7- da Constituição Federal, passando a CONDICIONAR os direitos dos trabalhadores à “negociação coletiva”. Na esteira de tentativas para “flexib ilizar” os direitos dos trabalhadores, foram editadas as leis 9.957/2000, que trata do procedimento “Sumaríssimo”, e 9.958/2000, que trata da criação das "Comissões de Conciliação Prévia”. A primeira estabelece um teto máximo de até quarenta vezes o salário-mínimo vigente, como valor da reclamação ajuizada, para que 0 processo tenha um andamento mais rápido, inclusive com julgamento na primeira audiência. Nos demais casos (valores superiores), o procedimento permanece com o andamento normal, como já estabelecido na CLT (art. 849). A segunda lei, que cria as “Comissões de Conciliação”, estabelece que para o ajuizamento da ação trabalhista há necessidade de, em primeiro lugar, o pedido ser apreciado pela “comissão”. Tais “comissões” tanto podem ser instituídas na empresa ou no sindicato da categoria e no lugar da prestação do serviço, com igual número de representantes dos empregados e dos empregadores. Se aceita a conciliação será lavrado um termo que terá “eficácia liberatória geral” • exceto quanto às parcelas que estejam expressamente ressalvadas. 28 Aqui os trabalhadores deverão ficar atentos, consultando seus sindicatos de classe ou profissionais da área, pois caso o pedido não observe tais aspectos poderão ter preju ízos irreparáveis. 29 DIREITO À MORADIA R o b e rto d e F ig u e ire d o C a ld a s * S h ig u e ru S u m id a * * Recente alteração na Constituição pela Emenda n- 26, de 14 de fevereiro de 2000, colocou o direito à moradia no art. 6®, rol dos conhecidos Direitos Sociais. Anteriormente, a Constituição Federa) de 1988, no artigo 7®, inciso IV, já havia declarado, expressamente, a moradia como um elemento indispensável às necessidades vitais básicas do ser humano. Além disso, por ser signatário do Plano de Ação Global - também chamado de Agenda Habitat - assinado em junho de 1996, na cidade de Istambul, na Turquia, o Brasil já havia reconhecido o direito à moradia como sendo um direito fundamental, de realização progressiva, e se comprometido, no cenário mundial, a colocar as questões urbanas num lugar prioritário dentre os programas de desenvolvimento. E, independentemente de ser signatário da Agenda Habitat, que não tem força obrigacional interna, o sistema legal brasileiro já possui instrumentos jurídicos para auxiliar a realização do direito à moradia, tais como a consagração constitucional do princípio da função social da propriedade (arts. 5°, XXII eXXlll, e 170, II e 111) e o direito ao usucapião na cidade e no campo, ou seja. o direito de o particular tornar-se dono do imóvel que ocupa como seu há mais de cinco anos. Portanto, não se trata de um direito novo, mas de um direito em construção e ainda não realizado para uma grande parcela da sociedade, haja vista o atual déficit habitacional brasileiro, que atinge cerca de 15 milhões de indivíduos (dados do Movimento Nacional de Luta pela Moradia). Não obstante a existência de instrumentos legais para a sua reversão, constitui-se num dos mais graves problemas nacionais. Diferentemente dos direitos civis e políticos, cuja tutela atinge aos atores sociais de forma individualizada, afastando a intervenção do Estado onde não se ultrapassem os limites legais, os direitos humanos chamados sociais, econômicos e culturais, principalmente o direito à moradia, exigem uma atuação ativa do Estado para a sua realização. Nesse sentido, assim dispôs a Constituição: * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB ** Advogado, especialista em Direitos Sociais. 31 “0 Estado deverá promover programas de construção de moradias, bem como a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico, conforme determinação legal. (art. 23, IX, da CF)” Há ainda que se destacar a presença de um capítulo próprio destinado exclusivamente à política urbana, destacando-se o art. 182, mas que ainda não se encontra regulamentado. Nesse sentido, tem-se que o desenvolvimento urbano e a oferta de moradias do mercado formal deveriam ser precedidos de um planejamento para orientar o crescimento da malha urbana de forma socialmente justa e ambientaímente equilibrada. Entretanto, por insuficiência do poder estatal no planejamento e execução de uma política urbana suficiente à atual demanda, assiste-se à proliferação de ocupações irregulares nas periferias das cidades, com o surgimento de favelas e cortiços, que trazem consigo outros problemas, notadamente os de natureza ambiental. Essas ocupações Irregulares são situações que não devem se perpetuar, não somente pela sua condição de ilegalidade, mas também devido às suas conseqüências físicas e sociais. Nessa perspectiva, cabe ao poder público direcionar as políticas públicas visando sempre ao aumento da qualidade de vida da população e a oferta de moradias adequadas e dotadas de infra-estrutura urbana. Deve estabelecer metas a serem atingidas, observando a adequação da ocupação às normas voltadas à proteção do meio ambiente e à garantia da saúde pública. Para que não se perpetue a situação de ilegalidade, o Estado deve promover a regularização fundiária das áreas ocupadas, quando a sua permanência for física e socialmente possível. A regularização fundiária de ocupações traz, além do resgate da dignidade humana dos beneficiados, outros melhoramentos indiretos, tais como controle do uso e ocupação, cobrança de tributos, higiene pública, saúde pública, respeito ambiental, etc. A construção de moradias e a regularização fundiária de áreas ocupadas, embora sejam de responsabilidade Estado, não precisam ser sempre conduzidas por ele, mas necessitam sempre do seu suporte administrativo, legal e social. Assim, a participação efetiva do público atingido na execução dos programas, seja direta ou indiretamente, é vital não só para a sua adequação às expectativas geradas, mas também para que a população exercite a sua cidadania. Diante da constante omissão do Estado na sua responsabilidade, a luta pela construção da cidadania e a realização de direitos como o direito à moradia fez surgir milhares de organizações da sociedade civil. São eles 32 novos atores sociais, oriundos de coletividades, buscando ser agentes ativos na mudança do atual modelo excludente de ocupação fundiária no país. Importante frisar que, no Brasil, as grandes mobilizações sociais em torno do direito à moradia não abrangem somente as ocupações como favelas ou cortiços, onde os seus ocupantes, o mais das vezes, são marginalizados devido à sua condição econômica e encontram-se na periferia dos grandes centros. Existem ainda duas outras vertentes de mobilizações populares em torno do direito à moradia. A primeira corresponde às mobilizações dos mutuários do Sistema Financeiro de Habitação contra os aumentos de suas prestações, regras obscuras e abusivas e saldos devedores exorbitantes. A outra é composta por uma parcela da sociedade que realiza uma reordenação da ocupação fundiária, por meio de criação de condomínios irregulares de terras, públicas e privadas, no aguardo de uma legalização ante a consumação dos fatos, da realidade imposta. São essenciais e urgentes a reforma agrária e a reforma urbana em nosso país. Devem ser efetivas e não meros paliativos, como vêm sendo desenvolvidos pelo governo federal nas últimas décadas. São cobertos de toda legitimidade, portanto, as organizações reivindicatórias pelo direito à moradia, como os vários movimentos de sem- teto e 0 Movimento dos Sem-Terra, cabendo ao Estado criar os mecanismos para a mais rápida efetivação. Há imperiosa necessidade de vigorosamudança no atual modelo excludente de distribuição fundiária, bem como a aglutinação dos milhões de prejudicados nesse processo, de modo a que se possa resgatar a sua verdadeira cidadania. 33 DIREITO AO LAZER J o ã o H é ld e r D a n ta s C a v a lc a n te * No final do Século XIX e início do Século XX, as classes trabalhadoras lutavam por melhores condições de trabalho, maior segurança econômica e justiça social. Sentia-se, desde então, que o ESTADO não podia deixar sob a responsabilidade da ‘mão invisível do mercado’ a tarefa de resolver os problemas sociais. Assim, surgiu o Estado Social, em oposição ao Estado Polícia. E 0 Estado do Bem-Estar Social tem como objetivo promover a harmonia entre os Direitos Individuais e os Direitos Sociais. 0 exemplo mais comum é a garantia da propriedade privada, que é um direito individual, mas é necessário que desempenhe sua função social, logo um Direito Social. Nossa atual Constituição enumera, em seu artigo 6- os DIREITOS SOCIAIS na seguinte ordem: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. No artigo 7* são estabelecidos outros direitos aos trabalhadores do campo e da cidade, dentre eles o SALÁRIO MÍNIMO (inciso IV). O salário mínimo, de acordo com a Constituição deve ser fixado nacionalmente, ou seja, não é possível existir um salário maior ou menor nas regiões do país. Ademais, também deve atender NECESSIDADES VITAIS BÁSICAS DO TRABALHADOR E DA SUA FAMÍLIA, entre as quais 0 legislador Constituinte citou nominalmente o LAZER. Outra menção feita ao DIREITO AO LAZER em nossa Constituição é encontrada no art. 217, § 3-, quando é dito que É DEVER DO PODER PÚBLICO INCENTIVAR O LAZER, como forma de promoção social. Mais à frente, especificamente no artigo 227, o DIREITO AO LAZER é posto em meio a outros direitos individuais e sociais, quando também é dito que se trata de DEVER DO ESTADO. * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB 35 0 DIREITO AO LAZER, portanto, é o reconhecimento de que o ser humano não pode dedicar sua força de trabalho ilimitadamente. É preciso repousar, dormir, alimentar-se, divertir-se com a família, praticar esportes, ir ao cinema, ao teatro, enfim conviver e interagir socialmente. E para ter acesso ao DIREITO AO LAZER é fundamental que o trabalhador brasileiro, dentre outros direitos, tenha assegurado férias remuneradas, descanso semanal igualmente remunerado, transporte público satisfatório que lhe dê acesso não apenas ao trabalho, mas também aos locais públicos que permitam a si e sua família momentos de convívio e interação social, a salário digno e a uma jornada semanal de trabalho que lhe proporcione o tempo necessário ao pleno exercício da sua cidadania. Chegando até aqui é relevante lembrar que o Brasil, de acordo com 0 preâmbulo de sua Constituição, constitui-se em um “Estado Democrático de Direito, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social” e seu artigo 5- consagra o princípio de que todos são iguais perante a lei. Assim, podemos dizer que a todos os brasileiros é garantido o direito ao lazer. Entretanto para que tal ocorra é fundamental que a idéia de que estamos em uma democracia não seja limitada ao exercício do direito ao voto, mas ao pleno acesso aos direitos sociais, os quais estão intimamente ligados. O DIREITO AO LAZER, portanto, não pode ser apenas para uma minoria como acontece no Brasil de hoje. E para que ele seja efetivado é fundamental o pagamento de salário mínimo de acordo com o previsto na Constituição {art. 7-, IV, “...capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo...”). Quando o trabalhador é remunerado adequadamente ele não sente necessidade de trabalhar horas extras. No Brasil, afém da jornada semanal ser superior à de muitos países, ainda é comum o trabalho extraordinário que, inclusive, muitas vezes sequer é remunerado. Essa prática, além de diminuir os poucos e raros momentos de lazer do povo brasileiro, ainda traz conseqüências danosas à sociedade: aumenta o desemprego. Aqui surge uma outra questão: a necessidade de uma mudança em nossa cultura. Explica-se: quando se faz horas extras todos os dias, ou rotineiramente, como acontece aqui no Brasil, necessariamente está 36 se tirando o emprego de um outro trabalhador, ao mesmo tempo em que isso não contribuir para a construção de uma sociedade fraterna e solidária. Na França, recentemente, o Governo reduziu a jornada de 39 horas semanais para 35 horas. O resultado disso, além de mais tempo de lazer para o trabalhador, foi a criação de 100 mil novos postos de trabalho, sem falar nos outros 275 mil postos gerados pelo crescimento da economia como um todo. Em nosso país é chegada a hora daqueles que estão empregados trabalharem menos para que mais pessoas possam trabalhar, e, também, para que possam usufruir do DIREITO AO LAZER. Então, 0 debate em torno do tema DIREITO AO LAZER traz outras reflexões fundamentais ao seu exercício: ele está intimamente ligado com outros direitos sociais. Ou seja, é fundamental que o trabalhador perceba salário digno; que sua jornada de trabalho semanal seja cada vez menor; que o poder público mantenha espaços públicos limpos, arborizados, seguros, de modo que todos possam levar suas famílias nos dias destinados ao repouso e ao lazer; que se pense cada vez mais no sentido coletivo e cada vez menos no sentido individual; e que assim todos e cada um possa participar da construção de uma nova sociedade, tal como escrito em nossa Constituição: LIVRE, JUSTAe SOLIDÁRIA. 37 o DIREITO À SEGURANÇA EM UM PAÍS INSEGURO! S a u l V e n à n c io d e Q u a d ro s F i lh o * Crescem em proporção excessiva as estatísticas e os índices de violência em todo o País, especialmente nas Capitais dos Estados brasileiros. Tornou-se comum nos meios de comunicação de massa a abordagem de temas como seqüestros, chacinas, assaltos à mão armada, exploração do trabalho infantil, prostituição de menores, gente morrendo de fome, assassinatos... Por estranha ironia, causa-nos surpresa, e até certo espanto, quando não encontramos, nos noticiários, matérias relacionadas a este tipo de abordagem! Parece que nos acostumamos à violência de tal forma que esta se configurou em regra, e a paz, a tão proclamada paz, não passaria de uma exceção; de um doce sonho distante ! A violência foi banalizada; entranhou-se na vida da sociedade moderna brasileira e ali se encontra instalada. Qual 0 cerne do problema ? Com certeza a DESUMANA DESIGUALDADE SOCIAL e a IMPUNIDADE. Como se não fosse bastante a desproporção social na distribuição da renda, onde uma parcela consideravelmente pequena da sociedade detém a maior parte das riquezas, cresce no país uma assustadora tendência de inversão de valores, campo propício para que se instale a impunidade, o enriquecimento ilícito, o descompromisso com a moral, com a ética e com o outro. Alcançamos a triste realidade de um Estado que não garante ao seu povo as mínimas condições para que este possa viver dignamente; um Estado que não é legítimo, nem é capaz de alcançar o fim para o qual foi criado, qual seja, o bem comum da coletividade administrada. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5-, proclama que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se a todos a inviolabilidade do direito à vida,à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB 39 Através de uma interpretação sistemática, compreendendo a nossa Carta Magna, na sua inteireza, não é difícil chegar-se à conclusão de que todos os direitos listados no seu art. 5- encontram-se protegidos sob a forma de “cláusulas pétreas” (CF, art. 60, § 4®), portanto, inalteráveis e não passíveis de qualquer modificação. Isto se explica porque estamos diante de direitos fundamentais, invioláveis, irrenunciáveis, a começar pela VIDA, que se constitui em pré- requisito e exercício de todos os demais direitos. Frise-se que, ao consagrar o direito à vida, cabe ao Estado assegurá- lo em dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda, de se ter vida digna quanto à subsistência. O DIREITO DE CONTINUAR VIVO: eis o foco de nossas atenções. Viver com dignidade, e segurança. Uma das formas de se proteger á vida nos remonta exatamente ao direito à SEGURANÇA, que se encontra disposta no art. 5® da Constituição, compondo o rol dos direitos e garantias fundamentais. É a segurança um direito erigido à categoria de dogma constitucional, um direito individual cuja proteção alcança tanto as pessoas naturais (brasileiros ou estrangeiros no território nacional), como as pessoas jurídicas, posto que a estas também é assegurado o direito à segurança, à propriedade, à proteção tributária e aos remédios constitucionais. Da análise do art. 144 da CF, é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, a segurança pública, devendo ser esta exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Ainda no estudo da nossa Carta Política, tem-se que a garantia do direito à segurança é assegurada através de órgãos devidamente instituídos para alcançar esta finalidade de preservação supramencionada, quais sejam, a polícia federal, as polícias rodoviária e ferroviária federais, as polícias civis, militares e os corpos de bombeiros militares. Cada um desses órgãos é dotado de competências específicas, cabendo á lei disciplinar a organização e funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. Cabe-nos aqui questionar, dentro de uma dimensão crítica, se esta tem sido a fórmula eficiente de resolver a insegurança que assola a sociedade brasileira. Estariam esses órgãos aptos, de fato, a garantir a segurança necessária para se viver dignamente? 40 Certamente, não. E a negativa decorre exatamente do fato de ser a falta de segurança uma conseqüência lógica de problemas básicos e cruciais na estrutura da realidade de nosso País. Pouco adianta armar a polícia se o povo permanece passando fome, morrendo nas filas de hospitais... A questão da violência faia, por si só, de um contexto sociai desigual, de uma realidade carente de educação, saúde, alimentação, lazer, saneamento básico... o mínimo que se exige para que a vida possa se estabelecer dentro dos limites do humano, do justo, e do digno. Estudos em uma favela da cidade de São Paulo demonstram que o índice de violência entre crianças e adolescentes reduziu, sensivelmente, com a construção de um simples campo de futebol!... 0 que falta é vontade política para que as mudanças possam se processar. 0 que falta é o respeito à Constituição para torná-la legítima, capaz de assegurar, na prática, os direitos que enuncia e deveres que impõe. Ao instituir-se o Estado Democrático Brasileiro, teve-se como objetivo não só estruturá-lo politicamente mas, de modo especial, assegurar-se o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, porque foram eles erigidos como os valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista, sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida com a paz. Esse discurso precisa sair do texto legal, precisa tornar-se realidade, precisa ser “sentida” por cada um de nós. Todos têm direito a uma existência digna, voltada para o ideal supremo da humanidade: a busca por ser feliz... SEGURAMENTE feliz. 41 SEGURIDADE SOCIAL M a u ro de A zevedo M enezes* Quando surgiram as fábricas, os trabalhadores sofriam uma exploração ainda mais brutal do que hoje. Não existia limite para a duração do trabalho, nem garantia de espécie alguma para os salários. E como os trabalhadores não tinham alternativa para sobreviver, tinham que suportar esta situação, que atingia homens, mulheres e crianças. A solução foi a luta contra tais condições desumanas de trabalho. Assim, os trabalhadores passaram a ter um instrumento para a sua proteção: o Direito do Trabalho. Depois disso, os trabalhadores perceberam que era necessária uma nova forma de proteção, que cuidasse deles quando estivessem doentes, acidentados, velhos, ou não pudessem mais trabalhar. Foi assim que surgiu a idéia do que hoje chamamos Seguridade Social. A Seguridade Social existe para proteger as pessoas quando elas não puderem garantir o atendimento das necessidades básicas próprias e de suas famílias. 0 principal responsável pela garantia deste direito é o Estado, ou seja o governo. Por isso, cabe ao governo cumprir a sua obrigação de dar seguridade social à população. E as pessoas, individualmente ou em grupo, têm o direito de exigir isto dos seus governantes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, consagrou como direito fundamental da pessoa humana a Seguridade Social. Tanto assim que o artigo 25 daquela declaração determinou o seguinte: “todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, o direito à seguridade no caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice, ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstância fora de seu controle.” A Seguridade Social está na Constituição do Brasil, isto é, na mais importante lei do País. É nela que estão escritos e assegurados os principais direitos do povo brasileiro. Os fundamentos dos direitos da Seguridade Social da Constituição estão em dois artigos. No artigo 6-, a Constituição diz que dentre os * Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais do Conselho Federal da OAB 43 “direitos sociais” estão incluídos a “saúde”, a “previdência social”, a “proteção à maternidade e à infância”, e a “assistência aos desamparados". E no artigo 193 está escrito que “a ordem social tem como base o primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. A partir desses fundamentos, a Constituição declarou os direitos da Seguridade Social nos artigos 194 a 204. Ali estão as regras gerais da Seguridade Social, e a descrição dos direitos que a compõem: a saúde; a previdência social e a assistência social. Para oferecer a Seguridade Social aos brasileiros, o Poder Público deve tomar as inciativas, podendo contar com o apoio da sociedade. Os recursos utilizados para custear a Seguridade Social são arrecadados pelos governos federal, estaduais e municipais e fazem parte dos seus orçamentos. É com estas verbas que o Poder Público tem o dever de proporcionar aos brasileiros saúde, previdência social e assistência social. A Saúde é direito de todos e dever do Estado, como afirma o art. 196 da nossa Constituição. Isto quer dizer que os órgãos do governo têm a responsabilidade de colocar em prática programas de prevenção, para reduzir o risco de doenças, mediante campanhas de vacinação, e de esclarecimento à população, por exemplo. Cabe ao Poder Público, também, dar à população condições de vida dignas e saudáveis, no que se refere ao saneamentobásico e à alimentação mínima, para que as pessoas não estejam expostas a contrair doenças. Os brasileiros têm, ainda, de acordo com a Constituição, o direito de atendimento médico e hospitalar para melhorar a sua saúde, protogê-la ou recuperá-la. E esses serviços devem ser universais e de acesso igualitário. A Previdência Social é um direito previsto no art. 201 da Constituição Federal, que tem por finalidade assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares, prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Fica claro, assim, que a previdência social preocupa-se com a subsistência da pessoa humana, quando esta não possa subsistir ou não seja socialmente desejável que tenha que sobreviver mediante o trabalho. Como 0 próprio nome diz, a Previdência Social busca atender contingências futuras. E, para isto, recolhe contribuição daqueles chamados segurados que, posteriormente, deverão ser os seus beneficiários. A abrangência da Previdência Social, entretanto, não fica restrita aos segurados que para ela contribuem, mas alcançam também as famílias destes. Nesse sentido, a Previdência Social garante benefícios aos seus segurados quando estes 44 param de trabalhar, não podem trabalhar ou não convém que estejam trabalhando, mas também aos seus dependentes, caso o segurado morra. Dessa maneira, a Previdência Social é ao mesmo tempo um serviço público, uma forma de poupança coletiva e uma modalidade de seguro. Para ser beneficiário deste seguro, basta estar trabalhando em uma atividade remunerada qualquer. A filiação à Previdência Social, neste caso, é automática e exigida pelo governo ao patrão ou ao tomador de serviços. Se o trabalhador está trabalhando como servidor público, será o governo para o qual está trabalhando o responsável pela sua inscrição no regime previdenciário. Os pagamentos feitos aos segurados e dependentes da Previdência Social são chamados de benefícios. Os principais benefícios previdenciários são a aposentadoria, o auxílio-doença, a pensão, o salário-maternidade, 0 salário-família e o auxílio-reclusão. A Constituição e as leis estabelecem as condições para ter direito a receber cada um destes benefícios. Os postos de benefícios da Previdência Social (INSS) têm o dever de informar a população acerca dos seus direitos previdenciários. A aposentadoria pode ser alcançada por idade, por tempo de serviço ou por invalidez. A aposentadoria por idade é concedida aos 65 anos para 0 homem e aos 60 anos para a mulher, reduzindo-se em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam atividades em regime de economia familiar, tais como o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. A aposentadoria por tempo de serviço é possível aos 35 anos de contribuição, para o homem, e 30 anos de contribuição, para a mulher. Este tempo de contribuição, por enquanto, eqüivale ao tempo de serviço. E a aposentadoria por invalidez acontece quando o trabalhador, por qualquer razão, perde a sua capacidade laborativa. A Assistência Social é prestada pelo Estado independentemente de contribuição, às pessoas carentes, necessitadas ou marginalizadas, e que precisam de amparo. Trata-se de um direito contido nos artigos 203 e 204 da Constituição do País. Pode-se dizer que a Assistência Social é um instrumento importante de política social, realçado nestes tempos em que uma quantidade cada vez maior de cidadãos brasileiros está excluída do modelo econômico vigente, sem a oportunidade de trabalho e de obtenção de renda. A Assistência Social, pois, deve ser prestada a quem dela necessitar, sendo o Estado o responsável pelas condições mínimas de sobrevivência àqueles que não têm condições de subsistir, como os menores abandonados, os loucos, os indigentes e toda espécie de excluídos. 45 Em conclusão, a Seguridade Social é uma conquista da humanidade. A aplicação das suas garantias representa um passo adiante na construção de uma sociedade mais digna, que privilegie a igualdade e a solidariedade como valores máximos do organização social e do Estado. E a população está legitimada a exigir dos governos o atendimento deste direito. 46 Impressão e Acabamento: LD, E E D I T O R A L T O A . SAAN - Quadra 01 - Lote 615 - Brasilia, DF Fona (61) 361-8986 - Fâ« (61) 361-9304 - e-meil: lidgrafica@uol.(
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