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Políticas públicas e a dificuldade de efetivar direitos sociais no Brasil

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Universidade Estadual de Ponta Grossa
Políticas públicas e a dificuldade de efetivar direitos sociais no Brasil.
Ponta grossa
2013
Políticas públicas e a dificuldade de efetivar direitos sociais no Brasil: uma análise acerca dos custos dos direitos e da problemática escassez de recursos públicos.
Carolina Machado da Rocha
Acadêmica de Direito do 1º ano B
Resumo
Este artigo busca tratar a dificuldade de aplicação de normas de direitos sociais desde sua origem com o império português na colônia brasileira até os dias atuais, analisando os aspectos econômicos da efetivação dos direitos.
Políticas públicas garantindo direitos sociais
O motivo da existência de políticas públicas é o próprio cenário brasileiro. Desde o descobrimento do Brasil, o aproveitamento de um grupo de pessoas sobre outro era notável. Primeiro os índios, depois os africanos, foram todos vítimas da escravidão, mas após 1888 continuam vítimas da desigualdade social. Portanto, estas políticas servem para amenizar desigualdades sociais.
Mas não é tão simples quanto parece. Primeiro porque por trás de um direito social, como a proteção dos trabalhadores na era Vargas, sempre havia um interesse de dominação escondido por trás. Segundo porque os direitos tem custo para o governo.
Para muitos autores, os direitos podem ser divididos em positivos e negativos, sendo que os primeiros necessitam de intervenção de outra pessoa, no caso o Estado, para que o indivíduo possa exercer esse direito, enquanto o segundo obriga um terceiro a deixar de tomar uma atitude para que este indivíduo possa exercer seu direito.
Entretanto, para autores como Holmes e Sunstein todos os direitos são positivos e demandam algum tipo de prestação pública. Neste caso, devemos levar em conta o fato de que os direitos geram custos sociais, 
Na medida em que o Estado é indispensável ao reconhecimento e efetivação dos direitos, e considerando que o Estado somente funciona em razão das contingências de recursos econômico-financeiros captadas junto aos indivíduos singularmente considerados, chega-se à conclusão de que os direitos só existem onde há fluxo orçamentário que o permita (Holmes: Sustein, 1999, p. 20)
Portanto, para que os direitos sociais sejam realmente efetivados, é necessário um planejamento fiscal, pois os recursos do Estado são escassos.
o relacionamento entre políticas públicas e orçamento é dialético: o orçamento prevê e autoriza as despesas para a implementação das políticas públicas; mas estas ficam limitadas pelas possibilidades financeiras e por valores e princípios como o do equilíbrio orçamentário [...](Torres, 2000, p. 110)
Outro conceito que não pode ser deixada de lado é a reserva do possível que analisa a condição para que o direito seja concretizado, regulando se há possibilidade para a extensão das garantias estatais. Este conceito pode ser dividido em três aspectos importantes. O primeiro diz respeito a análise econômica diretamente para verificar se há recursos para a efetivação do direito proposto, o segundo versa sobre a necessidade de uma autorização legislativa para que esses recursos, quando existentes, sejam dispostos. Por fim, deve-se verificar o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade como afirma Sarlet (2007, p. 304)
a prestação reclamada deve corresponder ao que o indivíduo pode
Razoavelmente exigir da sociedade, de tal sorte que, mesmo em dispondo o Estado dos recursos e tendo o poder de disposição, não se pode falar em uma obrigação de prestar algo que não se mantenha nos limites do razoável
 
Para o autor Krell, a reserva do possível é um conceito “falacioso” pois acaba limitando a efetivação de alguns direitos, por exemplo, quando despende uma autorização legislativa não fica claro o motivo pelo qual eles dão preferência a efetivação de um direito em detrimento de outro. 
Na tentativa de explicação, surge a ideia do mínimo existencial, atribuído a Bachof, no início da década de 1950, que atribuía a dignidade humana como sendo o mínimo existencial.
Entretanto, autores como Sarlet diferenciam o mínimo existencial do mínimo vital, que seria aquilo que é necessário para manter a vida do indivíduo, enquanto o mínimo existencial já abrange aspectos mais amplos como a dignidade do indivíduo e o salário mínimo, segundo Florenzano (2005, p. 47)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
Pelo fato de existir tantas controvérsias em relação ao que deve ou não ser concretizado enquanto direito social, entra em ação o ativismo jurídico que para alguns traz riscos para a legitimação democrática e politização indevida pois os juízes não são eleitos, entretanto, quando sua atuação é causada pela inercia dos outros poderes, este age em prol da democracia e não contra ela.
Além disso, o aumento da participação popular seria uma ótima forma de exercer melhor nossos direitos, para isso, devemos ultrapassar a inercia popular, e procurar uma melhor compreensão do ordenamento em que vivemos.
Referencias
BACHOF, Otto. Normas constitucionais inconstitucionais? Tradução e nota prévia de José
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal.
FLORENZANO, Vicenzo Demétrio. Justiça social, mínimo social e salário mínimo: uma abordagem transdisciplinar. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 42, n. 165, jan./mar. 2005. 
HOLMES, Stephen; SUSTEIN, Cass. The cost of rights: why liberty depends on taxes. New York: W. W. Norton and Company, 1999.
KRELL, Andréas J. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os descaminhos de um direito constitucional “comparado”. Porto Alegre: Fabris, 2002.
Manuel M. Cardoso da Costa. Coimbra: Almedina, 1994.
MOVIMENTO LIBERAL SOCIAL [base de dados da internet] Disponivel em: http://www.liberal-social.org/direitos-positivos-e-direitos-negativos Acesso em: 04 de out. de 2013, 13:25:30.
PORTAL DA TRANSPARÊNCIA [base de dados da internet] Governo Federal - Disponivel em: http://www.portaldatransparencia.gov.br/controleSocial/OrcamentoParticipativo.asp Acesso em: 04 de out. de 2013, 13:10:20.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 8. ed. rev. atual e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007;
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário: o orçamento na Constituição. 2. ed. Rio de Janeiro e São Paulo: Renovar, 2000. v. 5.

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