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Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 39 Se não é o ambiente o único responsável, se o sujeito como corpo, mente e consciência também tem parte ativa no processo do desenvolvimento, então é na interação do sujeito com o ambiente que o desenvolvimento se dá. Este é o entendimento da corrente interacionista que surge no início deste século tendo como principais nomes Jean Piaget e Lev Vygotsky. Existem duas formas básicas, admitidas pela ciência, de aquisição de conhecimentos: a aprendizagem por descoberta a partir da ação, levando a um saber fazer, e a aprendizagem por instrução, que consiste em comunicar um conhecimento, ou em forma verbal, ou formulando-o num texto, conduzindo o estudante a um saber. O ensino tradicional combina essas duas formas de aquisição definindo seqüências de aprendizagem que consistem na exposição dos conhecimentos e na fixação desses conhecimentos através de exercícios ou de problemas. O ensino tradicional parte de um saber em direção a um saber fazer. Pode-se saber uma regra e saber fazer a execução desta regra e, mesmo assim, não saber o porque da mesma e o porque, o fato de sua execução, nos conduz a determinados resultados. É necessário, portanto, distinguirmos a aprendizagem de regras, o processo de instrução, que consiste em mediar a transmissão de um conhecimento acumulado por uma cultura, e o aprender a aprender, em que o sujeito se constitui enquanto indivíduo, deixando de ser sujeito, ou seja, imagem do outro, construindo seus próprios significados. Aula 05 Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 40 Os exercícios que nos condicionam a memorizar determinadas regras, não podem ser considerados, de fato, como aprendizagem por descoberta. Se o estudante ousa descobrir uma resposta diferente daquela estabelecida pela cultura em que vive, é punido. O que caracteriza a aprendizagem, para Piaget, é o movimento de um saber fazer a um saber, o que não ocorre naturalmente, mas por uma abstração reflexiva, processo pelo qual o indivíduo pensa o processo que executa e constrói algum tipo de teoria que justifique os resultados obtidos. O aprender a aprender ocorre quando se automatiza esse processo de abstração reflexiva, que nos leva a pensar o nosso próprio pensamento, ou, nas palavras de Maturana e Varela, quando observamos, de forma sistemática, nossos próprios estados internos.. As atividades mentais que interferem nessas aprendizagens são, por um lado, as atividades de compreensão, principalmente sob a forma de construção de estruturas conceituais, e por outro lado, as atividades de memorização e inferência. Ainda que a aquisição de conhecimentos seja uma função de grande importância para o homem, não existe atividade mental que lhe seja específica. A aquisição resulta de se colocar em prática as diversas atividades cognitivas, das quais, algumas, somente, são mentais. É o subproduto das atividades de compreensão, dos processos de memorização seletiva concernentes aos resultados da ação, das inferências feitas à partir dos elementos memorizados para formar e verificar hipóteses, generalizar resultados, ou reconhecer, após ter resolvido um problema, que este faz parte de uma classe de problema para os quais já existe um procedimento. Esta idéia pode parecer paradoxal na medida em que a aprendizagem é confundida, em situação escolar, com uma memorização de texto. Veremos que, de fato, a aquisição de conhecimentos pode ser analisada à partir somente das atividades de compreensão, memorização e inferência. O ponto de vista cognitivista sobre a aprendizagem insiste na importância dos conhecimentos anteriores. Um conhecimento não se constrói a partir do nada, esta construção supõe um conhecimento existente. A Aprendizagem pela Descoberta A aprendizagem pela descoberta é uma variação da aprendizagem pela ação. Outras formas de aprendizagem por ação são as aprendizagens instrumentais e as aprendizagens discriminativas (ver George, 1983). A aprendizagem por descoberta concerne às aquisições que são feitas no decurso da realização de tarefas que não são somente tarefas de execução mas que comportam uma parte de resolução do problema. Estas aquisições são de três tipos: Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 41 • a categorização do problema; • a construção de conhecimentos específicos à situação; • a construção de conhecimentos gerais. A Identificação da Categoria do Problema Um primeiro tipo de descoberta, que é extremamente importante, mas que pouco chamou atenção até agora, consiste em observar que uma determinada situação de problema é um caso particular de uma categoria mais geral para a qual se conhece um procedimento de solução e as propriedades relacionais que permitem justificar este procedimento. O que permite, em nossa opinião, reconhecer que um problema pertence a uma classe conhecida é o fato de se reconhecer que o processo de solução é o mesmo. É uma inferência que, a partir do reconhecimento de que o processo de solução utilizado para resolver o problema, é o mesmo que para uma classe conhecida de problema, gera a hipótese de que esse problema tenha a mesma estrutura de relação que esta classe de problema e portanto, pertence a essa classe. Estas observações levam a pensar que, se estas condições são favoráveis, é porque elas focalizam a atenção da pessoa sobre o processo de solução e que, é porque a pessoa reconhece uma semelhança entre os processos, que é levada a pesquisar quais são as propriedades do problema que geram esta semelhança. O Construtivismo: As Teorias da Aprendizagem por Construção ou Descoberta Se para o racionalismo nosso conhecimento é só o reflexo de estruturas inatas, e aprender é atualizar o que desde sempre, sem sabê-lo, sabemos; para o empirismo nosso conhecimento é só o reflexo da estrutura do ambiente, e aprender é atualizar o que desde sempre, sem sabê-lo, sabemos; para empirismo nosso conhecimento é só reflexo da estrutura do ambiente, e aprender é reproduzir a informação que recebemos. Em troca, para o construtivismo o conhecimento é sempre uma interação entre a nova informação que nos é apresentada e que já sabíamos, e aprender é construir modelos para interpretar a informação que recebemos. Costumam se procurar as origens filosóficas do construtivismo na teoria do conhecimento elaborada por Kant no século XVIII, e mais especialmente em seus conceitos a priori, que constituíram categorias (tempo, espaço, causalidade, etc.) que impomos à realidade em vez de extraí-las dela. A Figura 2.4 apresenta algumas das teorias psicológicas vinculadas `a tradição construtivista. No entanto, nesse caso o parentesco é mais debatidos que nas tradições anteriores (Sebastián, 1994; Toulmin, 1972). O próprio Piaget (1979) se considera a si mesmo um neokantiano, mas “dinâmico”, matizando a idéia kantiana de que essas categorias a priori sejam prévias a qualquer ato de conhecimento. Em sua imensa obra, Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 42 Piaget (1970; ou as excelentes sínteses de Delval, 1994a; Garcia Madruga, 1991; ou Martí, 1991) tentou demonstrar, com bastante sucesso certamente, que também essas categorias são construídas. Se é uma herança da teoria do conhecimento de Kant a tentativa de situar a aprendizagem numa posição intermediária às duas tradições anteriores, tal como de modo explícito propõe Piaget (1970), precursor e anda hoje máximo expoente desse enfoque em psicologia (seguindo Tolchinsky, 1994, poderíamos dizer que Piaget é o Picasso do construtivismo psicológico). A partir dessas perspectiva teórica, a estrutura psicológica não estaria já determinada como uma herança racional do ser humano e, portanto, a aprendizagem não seria só um sistema de “fixação de crenças”, na expressão de Fodor (1979). Ao contrário, assume-seo papel essencial da aprendizagem, como produto da experiência, na natureza humana. Nesse ponto o construtivismo se aproxima das posições empiristas, já que se aprende com a experiência, mas se distancia radicalmente delas ao defender que essa aprendizagem é sempre uma construção e não uma mera réplica da realidade. KANT: Esquemas e Categorias PIAGET: O desenvolvimento cognitivo como construção individual do conhecimento VYGOTSKY: A construção social do conhecimento PSICOLOGIA DA INSTRUÇÃO ATUAL: A construção de domínios específicos de conhecimento A Aprendizagem pelo Texto A aquisição de conhecimento pelo texto é uma modificação do conteúdo da memória de longo termo. Ela se traduz por uma modificação de estruturas de conhecimentos: redes semânticas e esquemas. Os problemas que se apresentam dizem respeito a natureza das modificações introduzidas, o acesso às estruturas que serão implicadas nessas modificações e as condições que delas dependem. Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 43 As Teorias da Aprendizagem por Associação ou Texto As leis ou princípios da aprendizagem associativa foram se reformulando e se precisando mais com o tempo, em parte pelos filósofos empiristas britânicos, como Locke ou Hume (séculos XVII-XVIII) e principalmente, no século XX, pelas teorias psicológicas da aprendizagem, em especial o comportamentalismo, mas a concepção da aprendizagem, em especial o comportamentalismo, mas a concepção da aprendizagem como um processo associativo perdurou até nossos dias. Realmente, essa concepção da aprendizagem, retomada, como dizemos, pela psicologia científica, se baseia na chamada “teoria da cópia” (Leahy e Harris, 1985), segundo a qual o conhecimento aprendido não é senão uma cópia da estrutura real do mundo, a marca que as sensações deixam nessa tabuinha de cera inicialmente imaculada. Em termos mais recentes, diríamos que é uma aprendizagem baseada na extração de regularidades no meio ambiente, aprendendo que coisas tendem a acontecer juntas e que conseqüências costumam seguir as nossas condutas. Realmente, a teoria da aprendizagem que predominou em psicologia durante muitas décadas, o comportamentalismo, pode ser entendida como um associacionismo comportamental, no qual o que se associam são estímulos e respostas, sendo os mecanismos associativos, segundo os autores, a contigüidade, a repetição, a contingência, etc. Embora o comportamentalismo esteja muito longe de ser uma teoria unitária e se encontre agora em franca recessão, não só no estudo da aprendizagem humana como também na aprendizagem animal (Aguado, 1990; Tarpy, 1985), âmbitos em que perdeu o lugar em boa parte para a psicologia cognitiva, continua sendo um modelo muito relevante para a compreensão da aprendizagem humana. Não em vão, foi a tentativa mais sistemática e pertinaz de elaborar uma teoria psicológica da aprendizagem. Realmente, a rejeição do comportamentalismo entre os pesquisadores se deve mais ao adjetivo “comportamental” do que ao substantivo “associacionismo”, já que os modelos imperantes em psicologia cognitiva continuam sendo, em boa parte, modelos associativos, se levamos em conta que o processamento de informação como enfoque psicológico é também um modelo associacionista da aprendizagem (Pozo, 1989). Teorias da aprendizagem por texto ou por associação. Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 44 ARISTÓTELES EMPIRISMO BRITÂNICO: Hume, Locke, etc. THORNDIKE, PAVLOV, etc. COMPORTAMENTALISMO: Associacionismo comportamental PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO: Associacionismo cognitivo CONEXIONISMO Processamento Distribuído Em paralelo LEIS DA ASSOCIAÇÃO Contiguidade Semelhança Ocorrência frequente
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