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Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 45 Para Wundt o estímulo e a resposta criavam a estrutura dentro da qual apareciam os processos psicológicos importantes. Para ele esta estrutura só servia para aclarar os processos elementares, psicofisiológicos do comportamento. As funções psicológicas superiores não admitiam estudos deste tipo. Esta opinião é compartilhada por Vygotsky. A estrutura S-R serve somente para ajudar a registrar a existência de formas subordinadas, inferiores, as quais não contêm as formas superiores. Baseado na análise materialista e dialética da história humana, Vygotsky afirma que o desenvolvimento psicológico do homem não se reduz ao desenvolvimento animal, é parte do desenvolvimento histórico geral de nossa espécie. O elemento-chave de sua psicologia reside na diferença que Engels faz entre as abordagens naturalísticas (positivistas) e a dialética da compreensão da história humana. O homem, ao agir sobre a natureza, modifica sua própria natureza que não pode mais ser entendida mecanicamente, diretamente, fora dos processos complexos que aí têm origem. A partir disto exige-se novos métodos e novas estruturas analíticas para que se possa dar conta do fenômeno psicológico humano. LEV VYGOTSKY Aula 06 Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 46 Os estudos de Vygotsky apresentam como tema central a relação entre pensamento e linguagem, mas apesar dessa abordagem, sua obra evidencia uma teoria bastante sedimentada sobre o desenvolvimento intelectual, onde se observa que a concepção de Vygotsky vislumbra o desenvolvimento também como sendo uma teoria da educação. Vygotsky concebeu uma teoria indutiva fundamentada no decorrer dos seus estudos e pesquisas na exploração de fenômenos de grande relevância como a memória, fala interior e brinquedo. O desenvolvimento humano para Vygotsky compreende um processo dialético, caracterizado pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das diferentes funções, metamorfose ou transformação qualitativa de uma forma em outra, entrelaçamento de fatores externos e internos e processos adaptativos. Dentro desse entendimento, de que o desenvolvimento humano se processa pela mudança, é que Vygotsky evidencia como fator preponderante da condição humana, a criação e o uso de “estímulos auxiliares” ou “artificiais” que fazem parte dos instrumentos da cultura na qual o ser humano é inserido ao nascer, a linguagem das pessoas com as quais se relaciona, além dos instrumentos produzidos pelo próprio ser humano, incluindo o uso do corpo. Buscando uma solução para um dos pontos conflitantes acerca do entendimento sobre o desenvolvimento considerado latente em relação às bases biológicas do comportamento e às condições sociais nas quais o ser humano se encontra inserido no decorrer de suas atividades, Vygotsky contribui propondo uma interação através do sistema funcional do aprendizado, onde descreve a existência de uma nova integração e correlação entre os pontos conflitantes, baseada em que o todo e suas partes apresentam o seu desenvolvimento em duas partes: paralela e juntamente. A primeira relação entre esses diversos processos se denomina de estruturas elementares, que representam estados psicológicos condicionados fundamentalmente por determinantes biológicos, enquanto que as estruturas superiores, se originam no processo de desenvolvimento cultural. Esta teoria evidencia uma característica de fundamental relevância que se refere às mudanças ao longo do desenvolvimento, seja a maneira através da qual funções elementares previamente separadas são integradas em novos sistemas funcionais de aprendizado. Desta forma Vygotsky argumenta que em função da constante mudança das condições históricas, que determinam em larga medida as oportunidades para a experiência humana, não pode existir um esquema universal que represente adequadamente a relação dinâmica entre os aspectos internos e externos do desenvolvimento. A análise de Vygotsky, desta maneira, difere da análise de Piaget que descreve estágios universais idênticos para todas as crianças como uma função da idade. Deste modo, Vygotsky demonstra a eficácia do processo de conceituar funções relacionadas não como idênticas, mas como unidades de dois processos distintos. Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 47 Assim compreende-se que a ênfase do psicólogo russo, no estudo do desenvolvimento, foi devida à sua concepção de que este era o caminho que daria suporte teórico e metodológico elementar necessário para desvendar os processos humanos complexos. Nesta teoria, o ensino evidencia o meio pelo qual o desenvolvimento avança, quer dizer: os conteúdos socialmente elaborados do conhecimento humano e as estratégias cognitivas necessárias para sua internalização são evocados nos aprendizes de acordo com seus níveis de desenvolvimento. A psicologia de Vygotsky privilegia a psicologia do desenvolvimento, ao invés da psicologia experimental. Esta é feita para testar aquela, concomitante com ela. Concordamos que esta visão é simplista e que Vigotsky propõe a construção de uma nova psicologia, com base na síntese. Com a noção de desenvolvimento Vygotsky concebe mais do que o desenvolvimento das funções subordinadas inferiores. Ele não confunde a maturação biológica com o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, estas dependem do meio social que é essencialmente semiótico. Assim, o aprendizado e o desenvolvimento se encontram entrelaçados numa dialética que faz com que um acelere ou complete o outro. Em termos de práticas pedagógicas Vygotsky diz que não se deve separar os alunos mais desenvolvidos, dos menos desenvolvidos, deve-se ao contrário levar os primeiros a ensinar os segundos e reforçarem mutuamente o aprendizado, como já o fazia Pestallozzi em Yverdun. Ele cria o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que seria a capacidade potencial de aprendizado e desenvolvimento que a criança já tem, e que poderia vir a se desenvolver com a ajuda dos adultos e das crianças num estágio de aprendizado superior. Vygotsky critica as doutrinas que se apoiam nos paradigmas da maturação biológica porque na prática quando os professores detectam uma deficiência de desenvolvimento, pensam que o aprendizado está interditado, não vêem quanto o aprendizado modifica o desenvolvimento, inclusive biológico e neuro-fisiológico. Noções Básicas da Psicologia Sócio-Histórica A Psicologia Sócio-Histórica entende que as visões liberais construíram uma ciência na qual o mundo psicológico foi deslocado do campo social e material. O mundo psicológico passou a ser definido de maneira abstrata, como algo que já estivesse dentro do homem, pronto para se desenvolver – semelhante à semente que germina. Esta visão liberal naturalizou o mundo psicológico, abolindo da Psicologia, as reflexões sobre o mundo social. No Brasil, os teóricos da Psicologia Sócio-Histórica buscam construir uma visão alternativa à liberal, a partir de algumas idéias fundamentais. Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 48 Não existe natureza humana Não existe uma essência eterna e universal do homem, que no decorrer de sua vida se atualiza, gerando suas potencialidades e faculdades. Tal idéia da natureza humana tem sido utilizada como fundamento da maioria das correntes psicológicas e faz, na verdade, um trabalho de ocultamento das condições sociais, que são determinantes das individualidades. Esta idéia está ligada à visão de indivíduo autônomo, que também não é aceita na Psicologia Sócio-Histórica. O indivíduo é construído ao longo de sua vida a partir de sua intervenção no meio (sua atividade instrumental) e da relação com os outros homens. Somos únicos, mas não autônomos no sentido de termos um desenvolvimento independente ou já previsto pelasemente de homem que carregamos. Existe a condição humana A concepção de homem da Psicologia Sócio-Histórica pode ser assim sintetizada: o homem é um ser ativo, social e histórico. É essa sua condição humana. O homem constrói sua existência a partir de uma ação sobre a realidade, que tem, por objetivo, satisfazer suas necessidades. Mas essa ação e essas necessidades têm uma característica fundamental: são sociais e produzidas historicamente em sociedade. As necessidades básicas do homem não são apenas biológicas; elas, ao surgirem, são imediatamente socializadas. Por exemplo, os hábitos alimentares e o comportamento sexual do homem são formas sociais e não naturais de satisfazer necessidades biológicas. O trabalho é a atividade básica do homem Através da atividade, o homem produz o necessário para satisfazer as necessidades. A atividade de cada indivíduo, ou seja, sua ação particular, é determinada e definida pela forma como a sociedade se organiza para o trabalho. Entendido como a transformação da natureza para a produção da existência humana, o trabalho só é possível em sociedade. É um processo pelo qual o homem estabelece, ao mesmo tempo, relação com a natureza e com os outros homens; essas relações determinam-se reciprocamente. Portanto, o trabalho só pode ser entendido dentro de relações sociais determinadas. São essas relações que definem o lugar de cada indivíduo e a sua atividade. Por isso, quando se diz que o homem é um ser ativo, diz- se ao mesmo tempo que ele é um ser social. A ação do homem sobre a realidade que, obrigatoriamente ocorre em sociedade, é um processo histórico. É uma ação de transformação da natureza que leva à transformação do próprio homem. As relações sociais nas quais ocorrem esse processo de transformação, modificam-se à medida que se desenvolvem as necessidades humanas e a produção que visa satisfaze-las. Esse processo histórico é construído pelo homem e é esse processo histórico que constrói o homem. Assim O homem é um ser ativo, social e histórico. Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 49 O homem é criado pelo homem Não há natureza humana pronta, nem mesmo aptidões prontas. A “aptidão” do homem está no fato de poder desenvolver várias aptidões.. esse desenvolvimento se dá na relação com os outros homens através do contato com a cultura já constituída e das atividades que realiza neste meio. A criança que aprende a manusear um lápis, está de alguma forma, submetida à forma, à consistência, às possibilidades a aos limites do lápis. Isso envolve não apenas uma questão física, material, mas necessariamente uma condição social e histórica do uso e significado do lápis.Portanto, é do instrumento e das relações sociais, nas quais este instrumento é utilizado, que o homem retira suas possibilidades humanas.
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