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CCJ0013-WL-A-AMRP-17-Extinção das Obrigações I-01

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DIREITO CIVIL II
PROFA. DRA. EDNA RAQUEL HOGEMANN
SEMANA 9 AULA 17
TÍTULO - EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES - PAGAMENTO 
CONTEÚDO DE NOSSA AULA
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES - PAGAMENTO
1. Pagamento – generalidades:
e)	Prova, lugar e tempo de pagamento. 
f)	Pagamento antecipado. 
g)	Pagamento em moeda estrangeira. 
Uma vez solvido o débito, surge o direito do devedor receber do credor um elemento que prove que o pagou, que é a quitação regular; de reter o pagamento enquanto esta não lhe for dada, ou de consignar em pagamento, ante a recusa do credor em dar a quitação, citando o credor para esse fim, de forma que o devedor ficará quitado pela sentença que condenar o credor.
Como se prova o pagamento?
Com o recibo/quitação. Quitação vem do latim “quietare”, que significa aquietar, acalmar, tranqüilizar. Quitação é o documento escrito em que o credor reconhece ter recebido o pagamento e exonera o devedor da obrigação. 
A quitação tem vários requisitos no art. 320, mas em muitos casos da vida prática a quitação é informal/verbal e decorre dos costumes (ex: compra e venda em banca de revista/bombom). Mas, se o credor não quiser fazer a quitação, o devedor poderá não pagar (art. 319).
Mas pagar não é só uma obrigação do devedor, pagar é também um direito, pois o devedor tem o direito de ficar livre das suas obrigações, é até um alívio para muita gente pagar seus débitos. Assim, o devedor pode consignar/depositar o pagamento se o credor não quiser dar a quitação, e o Juiz fará a quitação no lugar do credor. Veremos em breve pagamento em consignação. 
Espécies de quitação:
1) pela entrega do recibo, é a mais comum; 
2) pela devolução do título de crédito (art. 324), assunto que vocês vão estudar em Direito Empresarial/Comercial. 
Pagamento feito ao credor incapaz
Se o pagamento foi feito ao absolutamente incapaz, o ato de quitar é nulo de pleno direito. Sendo feito ao relativamente incapaz pode ser confirmado pelo representante legal.
 A quitação implica em capacidade e sem ela o pagamento não vale. 
A incapacidade inibe o agente para os atos da vida civil. No entanto, a lei usa o termo cientemente (Art. 310), em situações em devedor tem pleno conhecimento da incapacidade do credor, devendo, pois, realizar o pagamento ao seu representante legal. Valerá o pagamento, todavia, se o que paga não tinha conhecimento dessa incapacidade. 
O artigo 310 refere-se ao incapaz, mas não especifica, então, devemos reputar que se trata do relativamente incapaz, pois os atos praticados pelo absolutamente incapaz já são nulos. 
Como o legislador não especificou já há jurisprudência que considera válido o pagamento efetuado ao absolutamente incapaz, desde que revertido em beneficio do mesmo, podendo este no presente caso, ser responsabilizado. 
Pagamento efetuado ao credor cujo crédito foi penhorado
O Art. 312 dispõe “que: “Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor”.
 Este artigo diz que mesmo que o pagamento seja feito ao verdadeiro credor, não terá validade e nem liberará o devedor.
Isto porque se a penhora recai sobre um crédito, o devedor é notificado a não efetuar o pagamento para o credor, mas deverá depositar em juízo o valor devido.
 Se o devedor efetuar o pagamento ao credor, este não vale contra o exeqüente ou o embargante, que poderão obrigá-lo a pagar novamente (ficando assegurado o direito de regresso contra o credor). 
 Neste caso, para que o devedor se exonere da dívida deve depositar em juízo a quantia devida, pois isso evitar burla as garantias dos credores.
Havendo impugnação feitas por terceiros, para efeitos legais, a lei equipara à ciência da penhora. O modo previsto em lei para manifestação da oposição é o protesto ou notificação, (na forma dos Artigos 867 e ss do CPC) que notifica o devedor para sobrestar o pagamento direto ao credor, devendo efetuar em juízo o depósito da importância devida. 
Em qualquer das hipóteses, penhora ou impugnação, se o devedor efetuar o pagamento poderá ser constrangido a pagar novamente. 
 
Ônus da prova: quem deve provar que houve pagamento? 
Se a obrigação é positiva, ou seja, de dar e de fazer, o ônus da prova é do devedor, assim se você é devedor, guarde bem seu recibo. Se a obrigação é negativa o ônus da prova é do credor, cabe ao credor provar que o devedor descumpriu o dever de abstenção, pois não é razoável exigir que o devedor prove que se omitiu, e mais fácil exigir que o credor prove que o devedor deixou de se omitir, fazendo o que não podia, descumprindo aquela obrigação negativa. 
Lugar: onde o pagamento deve ser feito?
No local de livre escolha das partes, afinal no Direito Civil predomina a autonomia da vontade (art. 78). 
Se o contrato/sentença for omisso, o lugar do pagamento será no domicílio do devedor (art. 327 e pú).
 Tratando-se de imóvel, o local da coisa determina o lugar do pagamento (art. 328). 
A doutrina classifica as dívidas em quesível (querable) e portável (portable): nesta, cabe ao devedor ir pagar no domicílio do credor, sob pena de juros e multa ( = mora, art. 395). Já na dívida querable cabe ao credor ir exigir o pagamento no domicílio do devedor, a iniciativa é do credor, sob pena de mora do credor (arts. 394, 400, bom, veremos mora mais adiante).
Tempo do pagamento
O momento em que se pode reclamar a dívida designa-se vencimento; se há determinação negocial a respeito, sendo que as partes estipularam data para o cumprimento da dívida, esta deverá ser paga no seu vencimento, sob pena de incorrer em mora e em suas consequências; se a omissão do vencimento, isto é, se as partes não ajustaram data para o pagamento, o credor poderá exigi-lo imediatamente.
No vencimento previsto no título, e se não houver vencimento é porque o credor pode exigir o pagamento imediatamente. 
É a chamada satisfação imediata do art. 331.
 Mas deve-se sempre tolerar um prazo moral, que é aquele prazo razoável, do bom-senso, para dar ao devedor um tempo mínimo de se organizar, sacar o dinheiro no banco, esperar a mercadoria chegar do exterior, etc. 
O vencimento é uma data que favorece o devedor, então o devedor pode pagar antes do vencimento, mas o credor só pode exigir a partir do vencimento, sob as penas do 939. A lei todavia permite, excepcionalmente, cobrança antes do vencimento caso o devedor esteja em dificuldade financeira, nos casos do art. 333. 
CORREÇÃO DOS EXERCÍCIOS
CASO CONCRETO 1
Salim Rockfeller milionário solteirão, fez fortuna como empresário do setor de seguros. Seu único parente conhecido é Bernardinho, filho de seu meio-irmão, já falecido. Ao saber do falecimento do tio num acidente automobilístico, Bernardinho tratou de dar entrada em seu inventário para poder botar a mão na grana do velho tio. Do mesmo modo, Sr. João de Deus que devia grande quantia em dinheiro ao falecido Sr. Salim, procurou o sobrinho deste e promoveu o imediato pagamento.
Algum tempo aberto o testamento do falecido, descobriu-se que o “de cujus”, em disposição de última vontade, nomeou outra pessoa, seu fiel mordomo Charles, como seu herdeiro testamentário. Após a leitura, responda:
Por haver pago indevidamente a Bernardinho, Sr. João de Deus está em débito junto ao herdeiro testamentário, mordomo Charles? Por quê?
Gabarito sugerido – Não, pois a boa-fé valida os atos, que em princípio, seriam nulos. E o verdadeiro credor, Charles, que não recebeu o pagamento, pode voltar-se contra o credor putativo, que recebeu indevidamente, embora de boa-fé, pois o devedor/solvens nada mais deve.
b)	Por que Bernardinho é um credor putativo?
Gabarito sugerido - Credor putativo é aquele que, aos olhos de todos passa pelo verdadeiro credor
CASO CONCRETO 2
 É importante observar a quem se deve pagar na hora de efetuar o pagamento, pois “quem paga mal, paga duas vezes.” Estas foram as palavras de MarceloCantareira ao seu vizinho José Honório quando este alegou em Juízo que já havia quitado a dívida que tinha junto a Marcelo, tendo entregue o dinheiro a Marcelinho Cantareira Jr., conhecido como Juninho e filho do requerente. Ocorre que Juninho depositou o dinheiro na conta bancária do pai e o advogado de José Honório apresentou em Juízo o recibo do depósito como prova do pagamento.
a) Diante desta situação, você, como juiz dessa causa, o que decidiria?
Gabarito sugerido – Como juiz decidiria que quem paga mal nem sempre paga duas vezes, isto porque de acordo com a segunda parte do artigo 308 do CC, considera válido o pagamento que foi efetuado a terceiro se o pagamento reverter em seu favor. Nesse caso, há prova do depósito do valor na conta corrente do requerente.
B)	Quais as consequências o caso do credor ratificar o pagamento?
Gabarito sugerido - A ratificação do credor retroage ao dia do pagamento e produz todos os efeitos do mandato.
E se o recibo do depósito não fosse apresentado?
Gabarito sugerido - Teria que apresentar qualquer outra prova ou pagar novamente. Porque o solvens tem o ônus de provar que o pagamento reverteu em proveito do credor, mesmo tendo sido efetuado a terceiro não qualificado.
Isto porque a lei condiciona a validade do pagamento realizado ao terceiro não qualificado, à verificação de que foi revertido em benefício do credor.
QUESTÃO OBJETIVA
Com relação ao pagamento, analise as afirmativas a seguir.
I. Terceiros não interessados podem pagar a dívida em seu próprio nome, desde que esteja vencida.
II. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, a não ser que seja substancialmente mais valiosa.
III. O pagamento cientemente feito a credor incapaz de quitar não vale, a não ser que o devedor prove que o pagamento efetivamente reverteu em benefício do credor.
Assinale:
 (A) se todas as afirmativas estiverem corretas.
 (B) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
 (C) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
 (D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
 (E) se somente a afirmativa III estiver correta.
Gabarito sugerido – Alternativa D.
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
Por hoje é só!
Não esqueça de ler o material didático para a próxima aula e de fazer os exercícios que estão na webaula.

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