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ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 1 Avaliação da resistência à compressão, da compacidade e da retração por secagem de argamassas com cinza do bagaço de cana-de-açúcar com elevado teor de carbono Evaluation of compressive strength, packing density and drying shrinkage of mortars containing sugar cane bagasse ash with high carbon content Guilherme Chagas Cordeiro (1); Renan Cysne Novaes Rangel (2); Thaís Ribeiro Barroso (3) (1) Professor Associado, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2) Aluno de Graduação, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (3) Aluna de Mestrado, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Laboratório de Engenharia Civil, Centro de Ciência e Tecnologia/UENF Av. Alberto Lamego, 2000, Parque Califórnia - CEP 28013-602 Campos dos Goytacazes - RJ / Brasil e-mail: gcc@uenf.br Resumo Nos últimos anos, diferentes trabalhos têm comprovado a possibilidade de emprego da cinza do bagaço de cana-de-açúcar como pozolana em materiais a base de cimento. Esta aplicação é possível em razão da predominância de sílica na composição química da cinza, mas pode ser comprometida pela elevada cristalinidade e presença de carbono residual. Este trabalho apresenta os resultados de resistência à compressão, compacidade e retração por secagem de argamassas com cinza do bagaço com teor elevado de carbono proveniente de uma usina sucro-alcooleira. O efeito da cinza sobre o empacotamento das partículas (efeito filer) foi avaliado pelo Modelo de Empacotamento Compressível. Os resultados indicaram perda de resistência e aumento da retração em função da substituição do cimento pela cinza do bagaço em decorrência da pouca reatividade da cinza. Contudo, observou-se ganho em compacidade em função da substituição de cimento Portland pela cinza ultrafina do bagaço com elevado teor de carbono. Palavra-Chave: cinza do bagaço de cana-de-açúcar, pozolana, compacidade, caracterização. Abstract In the last years, different studies have been proven the possibility of using sugar cane bagasse ash as pozzolan in cement based materials. This application is possible because of the predominance of silica, but may be compromised by the high crystallinity and residual carbon content in the ash. This paper presents the results of compressive strength, packing density and drying shrinkage of mortars with sugar cane bagasse ash containing high carbon content from a sugar-alcohol industry. The effect of bagasse ash on the packing density (filler effect) was evaluated by Compressible Packing Model. The results indicated decrease in compressive strength and increase in drying shrinkage due to the replacement of cement for bagasse ash due to the low reactivity of the ash. However, there was observed increasing of packing density in the mortars containing the sugar cane bagasse ash with high carbon content. Keywords: sugar cane bagasse ash, pozzolan, packing density, characterization. ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 2 1. Introdução Materiais pozolânicos são compostos silicosos ou silico-aluminosos, que quando moídos e misturados com água reagem com o hidróxido de cálcio formando compostos com propriedades aglomerantes (ACI 116.R-00, 2002). O emprego de pozolana em substituição parcial ao cimento Portland vem se intensificando últimas décadas. Como exemplo deste tipo de aplicação têm-se a sílica ativa, a cinza volante, a metacaulinita, a cinza da casca de arroz e a cinza do bagaço da cana-de-açúcar (MALHOTRA e MEHTA, 2002). O Brasil possui muita tradição no emprego de pozolanas principalmente em concretos para usinas hidrelétricas (SAAD et al., 1982). Dentre os diferentes materiais merece destaque o emprego de argilas calcinadas, principalmente na década de 1970 (SABIR et al., 2001), de cinza volante em grandes aplicações, como a Usina Hidrelétrica de Itaipu (ELETROBRÁS, 1989), além de sílica ativa em concretos de alto desempenho. Além dessas pozolanas comerciais, o Brasil apresenta um grande potencial para produção de pozolanas com cinzas agroindustriais, como as cinzas da casca de arroz e do bagaço de cana-de-açúcar (CORDEIRO, 2006). Com base na produção de cana-de-açúcar e de casca de arroz no ano de 2009 (IBGE, 2010), o Brasil tem um potencial para a produção de cerca de 3,5 milhões de toneladas de cinzas. É importante destacar que as cinzas são geradas, atualmente, em processos de queima de biomassa (casca de arroz e bagaço) em unidades industriais. Estudos comprovam que a incorporação de materiais pozolânicos ao concreto traz benefícios à reologia, durabilidade e nas propriedades mecânicas dos materiais, além contribuir, em alguns casos, para mitigar efeitos ambientais negativos como a emissão de carbono e a disposição de resíduos (FAIRBAIRN et al., 2010). Nos últimos anos as pesquisas sobre o uso de cinza do balaço da cana-de-açúcar como aditivo mineral em pastas, argamassas e concretos tem merecido destaque. Estudos mostram a elevada atividade pozolânica da cinza do bagaço quando produzida sob condições de queima controladas (CORDEIRO et al., 2009a; MORALES et al., 2009). Outros estudos mostram que a moagem pode proporcionar elevada reatividade a cinzas do bagaço com reduzido teor de sílica amorfa (CORDEIRO et al., 2008; CORDEIRO et al., 2009b). Contudo, as cinzas produzidas nas usinas, decorrentes da queima do bagaço da cana, apresentam, em geral, características distintas das cinzas produzidas em laboratório (PAYÁ et al., 2002; CORDEIRO et al., 2008). Neste trabalho, o objetivo foi investigar a influência de uma cinza de reconhecida baixa reatividade, que está associada ao elevado teor de carbono da cinza, na compacidade (efeito físico), na resistência à compressão e na retração por secagem. Apesar da baixa reatividade do material é importante verificar a possibilidade de emprego em conjunto Portland em decorrência da grande quantidade de cinzas com elevado teor de carbono em caldeiras de unidades sucroalcooleiras. Um estudo de moagem foi implementado para avaliar a possibilidade de um efeito fíler predominante, conforme relatado em diversas pesquisas (GOLDMAN e BENTUR, 1994; CORDEIRO et al., 2008), o que poderia ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 3 compensar a baixa reatividade do material. Foram produzidas argamassas com cimento e areia normal (referências). As cinzas foram incorporadas à argamassa de referência em teores de substituição entre 5 e 35% do volume absoluto de cimento. Foram realizados ensaios de resistência à compressão após 28 dias de cura. A compacidade das argamassas foi determinada através do Modelo de Empacotamento Compressível desenvolvido por DE LARRARD (1999). A retração por secagem foi avaliada pela comparação de uma argamassa de referência e uma com 20% da massa de cimento substituída por cinza do bagaço. 2. Materiais e Métodos A cinza residual do bagaço de cana-de-açúcar foi coletada na Usina Coagro, localizada no Distrito de Goitacazes em Campos dos Goytacazes/RJ. Uma parte da cinza do bagaço é retirada das caldeiras por meio de grelhas localizadas na parte inferior da caldeira. Outra parte é retirada por meio de retentores de fuligem via úmida. Após coleta nos retentores, a cinza foi seca ao ar por 48 horas e em estufa, a 80°C, por mais 24 horas. A Tabela 1 apresenta a composição química da cinza determinada por espectroscopia de fluorescência de raios X. A perda ao fogo foi determinada de acordo com os procedimentos prescritos na NBR 5743/1989. É possível destacar o elevado teor de carbono da cinza, relacionado diretamente com o valor de perda ao fogo, que é indicativo de um processo de queima muito ineficiente.Como esperado, a sílica é o óxido predominante na cinza. A cinza do bagaço apresenta massa específica igual a 1475 kg/m3. A Figura 1 apresenta o difratograma de raios X da cinza do bagaço (D8 Focus Bruker®, CuKα). É possível observar o caráter amorfo da cinza, predominantemente influenciado pelo carbono, além da presença de quartzo. Tabela 1. Composição química (% em massa) da cinza do bagaço e do cimento Portland CPP Classe G e do cimento Portland CP V ARI. Composto Cinza do bagaço CPP Classe G CP V ARI SiO2 10,6 20,9 15,5 Al2O3 2,2 4,2 4,5 Fe2O3 1,1 5,3 2,3 CaO 1,0 63,5 71,1 K2O – 0,4 0,6 TiO2 – – 0,4 SO3 0,6 2,3 3,4 P2O5 0,3 – – Perda ao fogo 83,0 1,1 2,1 Após coleta, secagem e quarteamento para homogeneização, a cinza do bagaço foi separada em quatro partes iguais para moagem a seco em moinho rotativo de bolas (Sonnex) com velocidade de 30 rpm e volume da carcaça de aço de 50 L. A carga moedora foi composta por 800 esferas de aço de 20 mm de diâmetro, 100 de 25 mm, 225 de 30 mm e 20 de 38 mm. Os tempos de moagem adotados foram: 1, 2, 4 e 8 h. A distribuição de tamanho das partículas foi obtida via analisador de partículas a laser Mastersizer 2000 - Malvern Instruments®. ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 4 0 50 100 150 200 250 0 20 40 60 80 In te n si d a d e Ângulo (2θ) • • • quartzo Figura 1. Difratograma de raios X da cinza do bagaço de cana-de-açúcar. Para a confecção das argamassas foram empregados cimento Portland para cimentação de poços petrolíferos (CPP Classe G Holcim®), cuja composição química e a granulometria são apresentados na Tabela 1 e na Figura 2, respectivamente, areia normal Brasileira (NBR 7214/1982) e água deionizada. Foram produzidas oito argamassas distintas para avaliação da resistência à compressão e da compacidade: uma mistura de referência e sete misturas com cinza do bagaço de cana-de-açúcar em substituição parcial ao cimento Portland. A argamassa de referência foi preparada com relações areia- cimento e água-cimento iguais a 3 e 0,52, respectivamente. As argamassas com cinza ultrafina do bagaço foram confeccionadas da mesma forma que a mistura de referência, porém com a substituição de 5 – 35% (com variação de 5%) da massa de cimento pelo volume absoluto equivalente de cinza do bagaço de cana-de-açúcar (conforme Equação 1). Para manutenção da consistência das argamassas em faixa constante foi utilizado aditivo superplastificante a base de policarboxilato (Basf Glenium® 51). A Tabela 2 apresenta as dosagens das argamassas. CP CBCACP CBCA mX m δ δ⋅ ⋅= 100 (Equação 1) Sendo: X: percentual da massa de cimento substituído por cinza do bagaço; mCBCA: massa de cinza do bagaço; δCBCA: massa específica da cinza do bagaço; δCP: massa específica do cimento Portland; mCP: massa de cimento na argamassa de referência (massa original). As argamassas foram confeccionadas em misturador de bancada de acordo com os critérios da NBR 7215/1996. Após a moldagem de 4 corpos de prova (cilindros de 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura) e manutenção por 24 horas nos moldes, os corpos de prova ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 5 foram mantidos em cura por imersão por 27 dias à temperatura de 38 ± 1°C. Após a cura, os corpos de prova foram faceados em torno mecânico e, em seguida, ensaiados em prensa Shimadzu® UH-F1000kNI com velocidade de carregamento de 0,3 mm/min. Tabela 2. Dosagem das argamassas para os ensaios de resistência à compressão e de compacidade. Material Referência Teor de cinza do bagaço de cana-de-açúcar 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% Cimento 500 475 450 475 400 375 350 325 CBCA - 11,63 23,26 34,9 46,53 58,16 69,79 81,43 Areia 1500 1500 1500 1500 1500 1500 1500 1500 Água 260 259,47 259,15 258,94 258,73 258,41 257,88 257,24 SP - 0,78 1,25 1,56 1,88 2,34 3,13 4,06 A compacidade das misturas secas foi determinada de acordo com o Modelo de Empacotamento Compressível (MEC), proposto por DE LARRARD (1999). Neste modelo a compacidade da mistura granular seca depende do tamanho e da forma dos grãos e do método de compactação adotado. Para a determinação da compacidade é necessária a realização de ensaios de empacotamentos específicos para o MEC (DE LARRARD, 1999; SILVA, 2004). Para a areia, a determinação da compacidade experimental, que é utilizada no MEC para determinação da compacidade da mistura, foi feita foi realizada através de procedimento de empacotamento que utiliza compressão associada à vibração proposto por DE LARRARD (1999) e adaptado por SILVA (2004). O ensaio consiste em condicionar uma massa de 3 kg de material em cilindro metálico (160 mm de diâmetro e 320 mm de altura) e aplicar sobre este 10 kPa pressão. Em seguida, o conjunto é submetido à vibração em mesa vibratória com freqüência de 68 Hz por um período de 3 min. Após vibração, a altura final da camada compactada de agregado é determinada e a compacidade pode ser calculada pela Equação 2. Os valores de compacidade referem-se à média de três determinações sem a reposição da amostra. δ⋅⋅= cc hA C 3 (Equação 2) Sendo: C: compacidade; δ: massa específica do material; Ac: área do cilindro; hc: altura da camada de material ao final do ensaio. A compacidade experimental do cimento e da cinza do bagaço foi determinada pelo ensaio de demanda d’água (DE LARRARD, 1999; SILVA, 2004). O ensaio de demanda d’água é realizado em misturador planetário de 2 litros (NBR 7215/1996). Inicialmente, adiciona-se uma pequena quantidade de água à 350 g de amostra, com o misturador na velocidade baixa por 1 min. Após este período, uma nova adição de água é efetuada e a mistura é mantida por 1 min na velocidade alta. Adições sucessivas de água são feitas até o alcance do estado capilar, caracterizado pela formação de pasta homogênea e ausência de umidade na parede internas da cuba do misturador. A temperatura dos constituintes e ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 6 do ambiente durante o ensaio é mantida em 21 ± 1°C. O tempo médio de ensaio foi de 8 min. A massa de água necessária para que a pasta alcance o ponto de demanda d’água foi calculada pela média aritmética de cinco determinações. A Equação 3 permite o cálculo da compacidade após a determinação da umidade da pasta correspondente ao ponto de demanda d’água. m a m m m C .δ+ = 1 1 (Equação 3) Sendo: C: compacidade; δm: massa específica do material; ma: massa de água; mm: massa de material. A retração por secagem foi monitorada pela leitura sucessiva do comprimento de corpos de prova prismáticos (2,5 x 2,5 x 7,5 cm3) com relógio comparador de acordo com os procedimentos da ASTM C 490/1997. Foram produzidos quatro corpos de prova para duas argamassas (referência e com cinza do bagaço). A argamassa de referência apresentou relações cimento-areia e água-cimento iguais a 2,75 e 0,49, respectivamente. A argamassa com cinza do bagaço foi produzida da mesma forma com exceção para a substituição de 20% da massa de cimento por cinza do bagaço. Neste caso foi necessário o uso de 0,2% de superplastificante para manter o índice de consistência (NBR 7215/1996) na faixa adequada (225 ± 5 mm). Em ambas as argamassas foi utilizado cimento de alta resistência inicial (CP V ARI Lafarge®), cuja composição química consta na Tabela 1. Após a moldagem, os corpos de prova foram mantidos nos moldes por 24 horas e, em seguida, foram mantidos por mais 27 dias em cura por imersão em água saturada de cal na temperatura de 22 ± 2°C. Após 28 dias, os corpos de prova foram retirados da solução, lavados e mantidos em laboratório (22 ± 2°C e umidade relativa de 50 ± 3%) por um período de 126 dias. Nesteperíodo, leituras do comprimento e da massa dos corpos de prova foram realizadas, além da leitura da temperatura ambiente. A retração por secagem foi calculada de acordo com a Equação 4. Neste trabalho foi desconsiderada a parcela referente à retração autógena das argamassas após os 28 dias de cura. ( )[ ]0 0 0 TT L LL i i s −⋅− − = αε (Equação 4) Sendo: εs: retração por secagem; Li: comprimento do corpo de prova no tempo i; L0: comprimento inicial do corpo de prova; α: coeficiente de dilatação linear da argamassa (10-5 /°C); Ti: temperatura do corpo de prova no tempo i; T0: temperatura inicial do corpo de prova. ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 7 3. Apresentação e Discussão dos Resultados As curvas granulométricas das cinzas moídas por diferentes tempos estão indicadas na Figura 2. É possível observar uma redução considerável do tamanho da cinza do bagaço, mesmo para o menor tempo de moagem (1 hora), uma vez que a cinza de alimentação (da forma como é coletada nos retentores da usina) apresenta tamanho médio de partícula igual a 2,2 mm. Com o aumento progressivo do tempo de moagem observa-se redução expressiva do tamanho de partículas até 4 horas de moagem. Com a passagem de 4 para 8 horas de moagem não há redução da granulometria, o que indica a saturação da moagem para as condições adotadas, sobretudo relacionadas com o tipo de moinho e de corpos moedores empregados. Desta forma, a cinza moída por 4 horas é selecionada para a aplicação nas argamassas descritas no item 2. De acordo com a Figura 2, a cinza selecionada apresenta tamanho médio (D50) igual a 3,6 µm e 90% das partículas inferiores a 12,8 µm. Essa cinza ultrafina apresenta curva granulométrica expressivamente diferente à do cimento Portland utilizado (D50 = 17 µm). Essa característica é muito interessante para que a compacidade da mistura possa ser significativamente alterada pela substituição de cimento Portland por cinza do bagaço selecionada. 0 20 40 60 80 100 0,1 1 10 100 1000 M a ss a ( % ) Tamanho de partículas (µm) CBCA - 1 h CBCA - 2 h CBCA - 4 h CBCA - 8 h Cimento CPP Classe G Figura 2. Distribuição do tamanho das partículas das cinzas do bagaço de cana-de-açúcar e do cimento Portland. A substituição de cimento Portland por cinza ultrafina do bagaço acarreta redução da resistência à compressão das argamassas. Pode-se observar, pela Figura 3, que o emprego de 5% de cinza faz com que a resistência da argamassa de referência seja reduzida em cerca de 13%. Essa redução é significativa quando se faz um teste de média (Tukey) com base em Análise de Variância (p < 0,05). Com o aumento do teor de cimento substituído por cinza para 10 e 15% verifica-se um aumento da resistência em comparação com a mistura de referência, sobretudo para a argamassa com 15% de cinza ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 8 ultrafina que não apresenta diferença significativa em relação à referência. Com teores de substituição maiores que 15%, uma queda de resistência a compressão proporcional ao teor de cinza ultrafina empregado na argamassa pode ser observado. 20 25 30 35 40 45 50 0 10 20 30 40 R e si st ê n c ia à c o m p re ss ã o ( M P a ) Teor de cinza do bagaço (%, vol.) Referência Figura 3. Resistência à compressão aos 28 dias das argamassas de referência e com cinza do bagaço de cana-de-açúcar. A queda de resistência associada ao teor crescente de cinza é esperada quando se observa a composição química do material, que contém predominantemente carbono. Entretanto, este efeito parece estar associado a outro mecanismo que compensa a menor quantidade de cimento na mistura. Estudos conduzidos por CORDEIRO et al. (2008) mostraram que uma cinza do bagaço com alto teor de quartzo (contaminação) e, consequentemente, com reduzida reatividade, pode acarretar aumento de resistência em argamassas devido ao seu efeito fíler pronunciado. Este mesmo comportamento foi observado para outros materiais como sílica ativa (BENTUR e GOLDMAN, 1994) e quartzo ultrafino (BENEZET e BENHASSAINE, 1999). Para avaliar o efeito da cinza ultrafina com elevado teor de carbono no empacotamento da argamassa foi utilizado o Modelo de Empacotamento Compressível proposto por DE LARRARD (1999). A Tabela 3 apresenta os valores de compacidade experimental dos materiais utilizados nas argamassas. Desta forma, a compacidade das misturas secas constituídas por areia, cimento e cinza, com as proporções em massa mostradas na Tabela 2, são apresentadas na Figura 4. Pelas análises é possível observar que a mistura de referência apresenta compacidade igual a 0,677 e que há um aumento de compacidade proporcional ao teor de cinza empregado. Este fato revela um efeito positivo da substituição de cimento Portland pela cinza ultrafina do bagaço. Ou seja, apesar do seu caráter inerte, revelado pela composição química inadequada ao emprego como pozolana, a cinza do bagaço pode não comprometer sobremaneira as propriedades mecânicas de argamassas. Os resultados de compacidade permitem explicar a ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 9 manutenção da resistência à compressão na argamassa com 15% de cinza do bagaço. Para este teor, ao que parece, o efeito negativo decorrente da menor quantidade de cimento na argamassa é compensado pelo aumento da compacidade da mistura. Cabe ressaltar que CORDEIRO et al. (2008) verificaram que a mudança de compacidade de uma argamassa com cinza do bagaço de 0,660 para 0,680 proporcionou um aumento de 5 MPa na resistência à compressão. Tabela 3. Valores de compacidade experimental dos materiais. Material Compacidade Índice de empacotamento (K) Cimento Portland CPP G 0,530 6,7 Cinza ultrafina do bagaço 0,513 6,7 Areia normal 0,588 9,0 0,66 0,67 0,68 0,69 0,7 0 10 20 30 40 C o m p a c id a d e Teor de cinza do bagaço (%, vol.) Referência Figura 4. Valores de compacidade das misturas com cimento, cinza ultrafina e areia. Para uma melhor avaliação do efeito da substituição de cimento pela cinza ultrafina do bagaço são apresentados, na Figura 5, os resultados de ensaios de retração por secagem conduzidos até cerca de 120 dias, após 28 dias de cura por imersão em água. A opção pela retração por secagem se dá em razão da elevada superfície específica do carbono (CORDEIRO et al., 2009c) que certamente modifica a estrutura de poros e a movimentação de água na argamassa. De fato, a argamassa com 20% de substituição, em massa, de cimento por cinza ultrafina apresenta retração significativamente superior à argamassa de referência. Observa-se um aumento de retração de cerca de 600 µstrain, observados nos valores médios finais da argamassa de referência, para cerca de 1400 µstrain observados na argamassa com cinza do bagaço. Este comportamento provavelmente reflete a substituição que foi empregada neste trabalho pois, de acordo com o valor de perda ao fogo da cinza (Tabela 1), cerca de 17% da massa de cimento foi substituída por carbono. É importante ressaltar que esse trabalho encontra-se em ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 10 andamento e que a cinza ultrafina será submetida a uma nova queima em uma unidade industrial. Assim, espera-se aumentar o teor de sílica reativa na amostra pela liberação de carbono. Desta forma será possível agregar às características físicas positivas da cinza um efeito pozolânico inexistente e inibir a elevada retração da argamassa com cinza ultrafina. 0 400 800 1200 1600 0 30 60 90 120R e tr a ç ã o ( x1 0 -6 ) Tempo (dias) Referência CBCA (20% em massa) Figura 5. Resultados de retração por secagem das argamassas de referência e com cinza do bagaço de cana-de-açúcar. 4. Conclusões Em função dos resultados obtidos neste trabalho é possível concluir que: � Um procedimento simples de moagem em escala laboratorial foi suficiente para a produção de uma cinza ultrafina do bagaço com tamanho médio igual a 3,6 µm; � A substituição de cimento Portland por cinza ultrafina do bagaço com elevado teor de carbono acarreta redução de resistência à compressão da argamassa estudada; � A substituição de cimento Portland por cinza ultrafina do bagaço com elevado teor de carbono acarreta aumento de compacidade da mistura seca; � O teor de 15% se substituição, em volume absoluto, possibilita a manutenção da resistência com menor consumo de cimento; � A retração por secagem da argamassa com cinza ultrafina do bagaço é significativamente maior que a retração da referência. Agradecimentos Os autores agradecem à FAPERJ pelo auxílio financeiro na forma de bolsa para o terceiro autor, à Usina Coagro pela doação da cinza do bagaço e ao Laboratório de Estruturas e ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBCxxxx 11 Materiais do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ onde os ensaios de resistência à compressão foram realizados. Referências AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI Committee 116.R-00. Cement and concrete terminology. ACI Manual of Concrete Practice, Part 1, Detroit: American Concrete Institute, 73 p, 2002. BENEZET, J. C., BENHASSAINE, A.. The influence of particle size on the pozzolanic reactivity of quartz powder. Powder Technology, v. 1, pp. 26-29, 1999. CORDEIRO, G. C.. Utilização de cinzas ultrafinas do bagaço de cana-de-açúcar e da casca de arroz como aditivos minerais em concreto. Tese de Doutorado. COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006 (http://www.coc.ufrj.br). CORDEIRO, G. C., TOLEDO FILHO, R. 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