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18 e 19.11.2010 Política Internacional
Meio Ambiente
O Brasil tem participado ativamente das negociações e da implementação das convenções internacionais e programas referentes ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Para tanto, o Itamaraty tem atuado em estreita coordenação com o Ministério do Meio Ambiente e outras Pastas interessadas. Nessa coordenação, o Itamaraty também tem dialogado com entidades representativas da sociedade civil. A ação diplomática tem contribuído para estabelecer acordos e tratados internacionais e bilaterais, avançando a ampla agenda ambiental que engloba biodiversidade, desenvolvimento sustentável, energias renováveis, mudança do clima, florestas, segurança química e resíduos tóxicos, desertificação, proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos, entre outros temas. A promoção da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais e do meio ambiente vem sendo também posta em prática mediante programas de cooperação bilateral que incluem projetos de alta tecnologia, como é o caso da construção do satélite sino-brasileiro de sensoriamento remoto de recursos naturais (CBERS). A entrada em funcionamento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) também se constituirá em elemento valioso para aprofundar as ações dos países amazônicos em prol do conhecimento, conservação, manejo sustentável e beneficiamento dos recursos naturais da Amazônia, especialmente por meio da agregação de valor e da sua colocação nos mercados consumidores. Os países do Mercosul acordaram, há poucos dias, adotar medidas preventivas para proteger o Aqüífero Guarani, o maior manancial transfronteiriço de água subterrânea do mundo, com capacidade estimada para abastecer 360 milhões de pessoas e valor social e econômico inestimável. (...) O Brasil é parte da maioria dos tratados internacionais que disciplinam a cooperação internacional em matéria ambiental e buscam promover o desenvolvimento sustentável. (Nota à imprensa. “Dia Mundial do Meio Ambiente.” Brasília, 4 de junho de 2003)
* * *
O Brasil favorece o reforço institucional da governança ambiental internacional e apóia um exercício de reflexão sem idéias preconcebidas sobre o tema. A criação de uma nova organização ou agência no sistema das Nações Unidas, que poderá resultar dessa reflexão, deve contribuir para a coesão e eficácia das instâncias existentes. Deve ter por fundamento os pilares ambiental, econômico e social que compõem, de modo indissolúvel, o conceito de desenvolvimento sustentável, a grande conquista da Rio-92. Para que não haja dúvidas, essa vinculação deve - a meu ver - estar reconhecida até mesmo na denominação da própria entidade que se venha a criar. Sua concepção deve ainda incorporar de forma adequada as perspectivas, as necessidades e as circunstâncias específicas dos países em desenvolvimento. Dentro disso, deve considerar a situação particular do continente africano. Uma das maneiras de pensar essa nova estrutura seria concebê-la como uma organização guarda-chuva, com responsabilidades nas dimensões normativa, de cooperação e de financiamento, que fizessem o máximo uso possível dos órgãos existentes. (Discurso do Ministro Celso Amorim durante a Reunião Ministerial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: Desafios para a Governança Internacional. Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2007)
* * *
A equidade social é a melhor arma contra a degradação do planeta. Cada um de nós deve assumir sua parte nessa tarefa. Mas não é admissível que o ônus maior da imprevidência dos privilegiados recaia sobre os despossuídos da Terra. Os países mais industrializados devem dar o exemplo. É imprescindível que cumpram os compromissos estabelecidos pelo Protocolo de Quioto. Isso, contudo, não basta. Necessitamos de metas mais ambiciosas a partir de 2012. E devemos agir com vigor para que se universalize a adesão ao Protocolo. Também os países em desenvolvimento devem participar do combate à mudança do clima. São essenciais estratégias nacionais claras que impliquem responsabilidade dos governos diante de suas próprias populações. (...) É muito importante o tratamento político integrado de toda a agenda ambiental. O Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92.
Precisamos avaliar o caminho percorrido e estabelecer novas linhas de atuação. Por isso, proponho a realização, em 2012, de uma nova Conferência, que o Brasil se oferece para sediar, a Rio+20. (Discurso do Presidente Lula na abertura do Debate-Geral da 62ª Assembléia-Geral das Nações Unidas. Nova York, 25 de setembro de 2007)
MUDANÇA DO CLIMA
Na conclusão do “Seminário Brasil-Estados Unidos sobre Cooperação em Ciência e Tecnologia na área de Mudança do Clima”, realizado em São José dos Campos, Brasil, de 18 a 20 de maio de 2004, Brasil e Estados Unidos anunciaram a intenção de expandir e intensificar os esforços bilaterais existentes para a abordagem de questões de ciência e tecnologia relativas à mudança do clima em áreas de interesse mútuo, com o objetivo de produzir resultados positivos e equilibrados. Nesse sentido, o seminário foi o passo inicial para a identificação de projetos conjuntos de interesse mútuo. No seminário, especialistas e funcionários governamentais dos dois países discutiram maneiras de aprimorar a cooperação científica e tecnológica em áreas tais como: ciência do clima e modelagem; energia e tecnologia; uso da terra, mudança de uso da terra, florestas e agricultura; inventários de emissões e modelagem; impactos, vulnerabilidade e adaptação à mudança do clima. Áreas específicas de cooperação continuarão a ser consideradas. O Brasil reiterou seu compromisso com o Protocolo de Quioto, com sua entrada em vigor e com o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e respectivas capacidades das Partes na abordagem da mudança do clima. Nesse contexto, o Brasil está disposto a explorar todas as possibilidades para lidar com os desafios do desenvolvimento sustentável relacionados à mudança do clima. (Nota à imprensa. “Seminário Brasil-Estados Unidos sobre Cooperação em Ciência e Tecnologia na área de Mudança do Clima.” Brasília, 24 de maio de 2004)
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No âmbito das comemorações dos 30 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre o Brasil e a República Popular da China, realizou-se, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em 23 de agosto do corrente, a Primeira Reunião da Agenda Comum sobre Desenvolvimento Sustentável entre os dois países. A temática central da agenda foi a Mudança do Clima e as perspectivas do Regime Internacional. (...) O Brasil e a China têm dimensões geográficas e grau de desenvolvimento tecnológico e industrial semelhantes, características que os aproximam também em suas respectivas atuações e objetivos no contexto do Regime Internacional sobre Mudança do Clima. (...) Os dois países estão entre os principais atores nas negociações para o desenvolvimento das energias renováveis e para o aproveitamento do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto, assuntos que também foram objeto da pauta de discussões em Brasília. O Brasil e a China aproveitaram a ocasião para manifestar seu apoio aos esforços do Governo argentino para a realização, em Buenos Aires, da Décima Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 10, Buenos Aires, 6 a 17 de dezembro de 2004) e expressaram sua determinação em contribuir para o êxito da COP 10. Os dois países manifestaram sua preocupação com o futuro do Regime Internacional sobre Mudança do Clima, no atual contexto de incertezas sobre a entrada em vigor do Protocolo de Quioto. (Nota à imprensa. “Primeira Reunião da Agenda Comum Brasil-China sobre Desenvolvimento Sustentável com Ênfase em Mudança do Clima.” Brasília, 23 de agosto de 2004)
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O Brasil considera que a entrada em vigor hoje, 16 de fevereiro, do Protocolo de Quioto representa um marco histórico, contribuindo para o fortalecimento e a credibilidadedos esforços multilaterais de enfrentamento das causas da mudança do clima. O Protocolo de Quioto complementa os princípios e diretrizes políticas da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - assinada no Rio de Janeiro, em 1992 - ao estabelecer metas quantitativas de limitação e redução de emissões de gases de efeito estufa por parte dos países industrializados, os quais têm a maior parte da responsabilidade histórica pelo problema do aquecimento global. O Protocolo estipula que os países industrializados signatários deverão, no período de 2008 a 2012, reduzir suas emissões agregadas de gases de efeito estufa em 5% em relação aos níveis verificados em 1990. (Nota à imprensa. “Entrada em vigor do Protocolo de Quioto.” Brasília, 16 de fevereiro de 2005)
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A mudança do clima é um problema real ao qual o Brasil atribui grande importância. Há consenso mundial de que o fenômeno está sendo acelerado pela ação humana. É um processo cumulativo, resultado da concentração progressiva de gases de efeito estufa na atmosfera nos últimos 150 anos. Assim, focar a atenção especialmente nas atuais emissões é errado e injusto. Alguns dos atuais emissores - sobretudo os países emergentes – têm pouca ou nenhuma responsabilidade pelo aquecimento global, cujos efeitos começamos a sentir. A causa principal da mudança do clima é conhecida: pelo menos 80% do problema tem origem na queima de combustíveis fósseis – especialmente carvão e petróleo – a partir de meados do século XIX. Apenas pequena parcela resulta das mudanças no uso da terra, incluindo o desmatamento. O desmatamento atual em escala global é preocupante por várias razões, mas o foco do combate à mudança do clima deve ser a alteração da matriz energética e o uso mais intensivo de energias limpas. A Convenção do Clima e seu Protocolo de Quioto são claros: àqueles que causaram o problema (os países industrializados) cabem metas mandatórias de reduções e a obrigação de agir primeiro. (“A Amazônia não está à venda”, artigo dos Ministros Celso Amorim, Marina Silva e Sergio Rezende no jornal Folha de S.Paulo. São Paulo, 17 de outubro de 2006)
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Reiterando seu compromisso de reforçar o regime multilateral em matéria de mudança do clima, o Brasil e a U.E. empenham-se por um acordo ambicioso para o segundo período de cumprimento do Protocolo de Quioto, bem como pelo desenvolvimento de ações adicionais ao abrigo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, entre as quais incentivos para que os países em desenvolvimento tomem variadas medidas que possam ser mensuradas, verificadas e divulgadas. Ambas as partes reconhecem que poderão progredir substancialmente se se pautarem pelo objetivo último da Convenção e pelo princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas, e reiteram seu empenho para que a Conferência de Bali de dezembro de 2007 seja bem-sucedida. (Cúpula Brasil-União Européia. Declaração Conjunta. Lisboa, 4 de julho de 2007)
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
O Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto anunciou, em 18 de novembro, o registro do primeiro projeto baseado naquele Mecanismo em todo o mundo: o Projeto Nova Gerar, em Nova Iguaçu (RJ). O anúncio ocorreu no mesmo dia em que a Rússia entregou oficialmente às Nações Unidas o instrumento de ratificação do Protocolo de Quioto – o que possibilitará sua entrada em vigor em 16 de fevereiro próximo. O projeto Nova Gerar envolveu a desativação do antigo “lixão da Marambaia” e a construção de um moderno aterro sanitário, com significativos benefícios ambientais e sociais para a população local. Além disso, o projeto contribui duplamente para a mitigação do aquecimento global, visto que prevê a coleta do metano – poderoso gás de efeito estufa – proveniente do aterro e seu emprego para acionar uma pequena usina termelétrica, substituindo, assim, o uso de combustíveis fósseis. Como resultado do projeto, serão emitidos Certificados de Redução de Emissões, que poderão ser utilizados pelos investidores – o Fundo Holandês para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, administrado pelo Banco Mundial – para o cumprimento de parte das metas de limitação e redução de emissões atribuídas aos países industrializados pelo Protocolo de Quioto. O fato de ser este o primeiro projeto registrado em todo o mundo ressalta a ação pioneira do Brasil na área de mudança do clima, em âmbito internacional e doméstico. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) derivou de proposta brasileira apresentada em 1997, durante as negociações do Protocolo de Quioto. O Brasil foi, também, o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer uma Autoridade Nacional Designada para o MDL, a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, coordenada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pela aprovação no Brasil de projetos baseados naquele Mecanismo. (Nota à imprensa. “Projeto brasileiro é a primeira iniciativa aprovada no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.” Brasília, 19 de novembro de 2004)
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O Governo brasileiro atribui grande importância aos projetos do MDL, tendo adequado, sob a coordenação da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, a estrutura legal e institucional do País para a implementação da Convenção do Clima e do Protocolo de Quioto. (...) O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, derivado de proposta brasileira apresentada durante as negociações do Protocolo de Quioto, em 1997, possibilita que os países industrializados cumpram parte de suas metas de limitação e redução de emissões implementando projetos em países em desenvolvimento que contribuam para a estabilização das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa. Os projetos devem dar contribuição significativa para o desenvolvimento sustentável destes países, envolvendo investimentos em áreas como energias renováveis, processos industriais, aterros sanitários e reflorestamento. (Nota à imprensa. “Brasil e Espanha assinam Memorando de Entendimento para cooperação em projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto.” Brasília, 24 de janeiro de 2005)
Protocolo de Montreal
O regime internacional para a proteção da camada de ozônio, do qual também faz parte a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio [ratificada pelo Brasil em 1989], estabelece medidas de controle e calendários para a eliminação do consumo e produção de substâncias como os hidroclorofluorcarbonetos (HCFC), bem como sua substituição por alternativas economicamente viáveis menos nocivas à camada de ozônio. Com a implementação do Protocolo de Montreal [ratificado pelo Brasil em 1987], espera-se que a camada de ozônio esteja recuperada, até meados deste século, em níveis semelhantes aos do início da década de 1980. Países desenvolvidos e países em desenvolvimento tëm calendários diferenciados de implementação do Protocolo de Montreal. No caso dos HCFC, os países desenvolvidos se comprometeram a eliminar totalmente o consumo e produção até 1996, com a possibilidade de isenções para usos essenciais. Os países em desenvolvimento, por sua vez, deverão deixar de consumir aquelas substâncias até 2010. Além disso, os países em desenvolvimento se beneficiam, nas suas atividades de conversão para substâncias que não destroem a camada de ozônio, de recursos do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal. (Nota à imprensa. “XV Reunião das Partes no Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio.” Brasília, 7 de novembro de 2003)
FLORESTAS TROPICAIS – AMAZÔNIA
Apoiaremos a cooperação internacional para o meio ambiente, em especial a implementação do Protocolo de Quioto e da Convenção de Biodiversidade. (Discurso proferido pelo Embaixador Celso Amorim por ocasião da transmissão do Cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores. Brasília, 1º de janeiro de 2003)
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O Brasil é um dos países que mais avançaram na formulação e implementação de políticasvoltadas à conservação e ao uso sustentável de suas florestas. A par dos programas de monitoramento por satélite, prevenção de fogo e outros executados pelo IBAMA, o Brasil possui uma estrita legislação para evitar o desmatamento e promover o manejo sustentável de florestas. O país adotou, em abril de 2000, o Programa Nacional de Florestas. Esse Programa, que abrange ações em diferentes áreas para a conservação e uso sustentável dos recursos florestais, está em consonância com as propostas de ação adotadas pelo Foro Intergovernamental de Florestas (IFF) das Nações Unidas, no ano de 2000. É importante ainda frisar que as discussões sobre florestas no âmbito da FAO também enfocarão a relação entre florestas, combate à fome e promoção da segurança alimentar, temas prioritários para o Governo brasileiro. (...) O Brasil tem tido um papel de grande relevo nas discussões internacionais sobre florestas por ser o detentor da maior área de florestas tropicais do mundo, bem como por ter políticas e instituições dedicadas ao tratamento do tema florestas em suas múltiplas dimensões. (Nota à imprensa. XVI Sessão do Comitê de Florestas da FAO. Brasília, 7 de março de 2003)
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O Brasil está (...) implementando uma política integrada de combate ao desmatamento. Trata-se de esforço multissetorial e de longo prazo, com ações de valorização da floresta em pé e de apoio ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades que dela dependem. Nos últimos anos, conseguimos importante redução das taxas de desmatamento. (...) O manejo sustentável de florestas é, em todo o mundo, um campo propício à cooperação, por meio do intercâmbio de experiências e do auxílio na capacitação técnica. Estamos abertos a essa cooperação, sempre no estrito respeito às nossas leis e à nossa soberania. (“A Amazônia não está à venda”, artigo dos Ministros Celso Amorim, Marina Silva e Sergio Rezende no jornal Folha de S.Paulo. São Paulo, 17 de outubro de 2006) 
DIVERSIDADE BIOLÓGICA
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) foi aberta para assinatura durante a Conferência para as Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992, com os objetivos de conservar a diversidade biológica, promover o uso sustentável de seus componentes e fomentar a repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes da utilização dos recursos genéticos. A Convenção entrou em vigor no dia 29 de dezembro de 1993 e, para o Brasil, passou a vigorar a partir de 28 de maio de 1994. O Brasil confere grande importância ao tema da diversidade ecológica, já que possui a maior cobertura florestal tropical do mundo e a maior biodiversidade do planeta (cerca de 22% das espécies). (...) O Itamaraty tem participado ativamente das reuniões no âmbito da CDB e organizado reuniões de coordenação com diferentes setores internos, de forma a identificar os interesses nacionais que definem a atuação do País na matéria. (Nota à imprensa. “Dia Internacional sobre a Diversidade Biológica.” Brasília, 22 de maio de 2004)
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A biodiversidade, o conjunto das diferentes formas de vida, é o maior tesouro do nosso planeta. Tudo o que possa ameaçá-la ou conspirar contra a repartição equitativa dos seus recursos deve ser rejeitado como ameaça à sobrevivência da Humanidade e da Terra. (...) Nada que ameace a vida ou monopolize o acesso aos seus recursos serve à causa comum da humanidade. É necessário extrair conseqüências políticas e jurídicas desse paradigma. Ao mesmo tempo, trata-se de trabalhar pela implantação dos marcos reguladores que protejam a biodiversidade e as legítimas aspirações de desenvolvimento dos países pobres, principais detentores do patrimônio natural do mundo. (...) [A] biodiversidade não é a fronteira devoluta do século XXI. Sua exploração adequada, ao contrário, é o grande rumo para a construção de novos paradigmas de progresso, que vão enlaçar, de uma vez por todas, o cálculo econômico à qualidade de vida e ao equilíbrio ambiental. A luta pela adoção de um regime internacional de repartição dos benefícios, que resultam do acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados, é parte desse percurso. (Discurso do Presidente Lula na abertura do segmento de alto nível da Oitava Conferência das Partes da Convenção sobre Biodiversidade Biológica (COP 8). Curitiba, 27 de março de 2006)
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Defendemos o combate à biopirataria e a negociação de um regime internacional de repartição dos benefícios resultantes do acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais. (Discurso do Presidente Lula na LXI Assembléia Geral das Nações Unidas. Nova York, 19 de setembro de 2006)
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O Brasil e a UE cooperarão mais estreitamente nos campos da conservação da diversidade biológica, da utilização sustentável de seus componentes e da repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado. Também cooperarão, especificamente, na próxima Conferência das Partes na Convenção sobre a Diversidade Biológica e na reunião das partes no Protocolo de Cartagena sobre a Biossegurança que se realizarão em Bonn, em maio de 2008, de forma a levar adiante a implementação da Convenção e do Protocolo. Reforçarão ainda a cooperação entre eles estabelecida em domínios como as florestas e a gestão dos recursos hídricos. (Nota à imprensa. “Cúpula Brasil-União Européia Lisboa, 4 de julho de 2007 - Declaração Conjunta.”Brasília, 4 de julho de 2007)
COMISSÃO INTERNACIONAL DA BALEIA
Entre os temas da agenda [da Reunião Anual da Comissão Internacional da Baleia] de maior interesse para o Brasil, encontra-se a estratégia de fortalecer a pauta conservacionista da Comissão, o que será objeto de projeto de resolução específico. (...) Ao Brasil, que integra esse grupo de países [contra a caça à baleia], interessam mais diretamente os seguintes aspectos da iniciativa: (a) o reconhecimento formal, por parte da CIB, da legitimidade da utilização não-letal dos recursos baleeiros (turismo de observação de baleias, pesquisa científica sem abate, utilização não-alimentar dos cetáceos, entre outros); (b) a abertura e redirecionamento do Comitê Científico para a pesquisa não-letal; (c) a instituição de um fundo para atender às demandas emanadas desse redirecionamento; e (d) as referências a ameaças ao meio ambiente e estudos sobre comportamento de baleias. (...) O Brasil considera essa forma de turismo [observação de baleias] uma atividade econômica comprovadamente responsável por ingressos tão ou mais significativos do que os do comércio de produtos e subprodutos da caça. Em Berlim, o Brasil, em co-autoria com a Argentina, reapresentará à CIB proposta de estabelecimento de um santuário para proteção de baleias no Atlântico Sul. (Nota à imprensa. “Reunião Anual da Comissão Internacional da Baleia (CIB) em Berlim”. Brasília, 9 de junho de 2003)
ANTÁRTIDA
Por iniciativa do Conselho Internacional da Ciência (ICSU) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM), decidiu-se realizar, em 2007-2008, o IV Ano Polar Internacional com o objetivo de estimular trabalhos de pesquisa científica em todos os campos da investigação relativa às regiões polares. No que se refere à Antártida, as propostas científicas versarão sobre temas que vão desde mudança climática até o papel desempenhado pelo continente austral no equilíbrio do ecossistema terrestre. (…) [A] coordenação científica do API realiza-se no âmbito do Comitê Científico de Pesquisa Antártica (SCAR, na sigla em inglês). No plano político, as Reuniões das Partes Consultivas no Tratado Antártico (ATCM, na sigla em inglês) têm dedicado grande atenção aos preparativos e aos possíveis desdobramentos da iniciativa, que deverá ter, a médio prazo, implicações no âmbito do Sistema do Tratado Antártico, a exemplo do queocorreu com o III Ano Polar (1957-1958), cujos resultados contribuíram para a criação do SCAR e a celebração do próprio Tratado, em 1959. (…) A Comissão Nacional para Assuntos Antárticos (CONANTAR), presidida pelo Ministro das Relações Exteriores, foi criada em 1982 com a finalidade de assessorar o Presidente da República na formulação e na consecução da Política Nacional para Assuntos Antárticos. Esse colegiado interministerial adotou resolução sobre a participação do Brasil no presente Ano Polar Internacional, pela qual: - expressa total apoio às atividades científicas brasileiras incluídas no calendário de atividades do IV Ano Polar Internacional, as quais serão realizadas mediante parcerias internacionais, conforme prevêem os diversos projetos propostos pelo Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas (CONAPA); e - encoraja os órgãos governamentais atuantes na CONANTAR, bem como outros órgãos da sociedade civil, a viabilizarem a participação brasileira ampla e consistente no programa de atividades científicas do IV Ano Polar Internacional, desenvolvido pelo ICSU e pela OMM. (Nota à imprensa. “Ano Polar Internacional.” Brasília, 1º de março de 2007)
Reflexões sobre cultura, soberania e patrimônio
genético na Amazônia (Ennio Candotti)
Ocorrem-me três perguntas desafiadoras que, a meu ver, deveriam encontrar resposta nesse seminário que, entre outros temas da política de relações exteriores internacionais, trata da questão da Amazônia, da soberania nacional e da defesa do patrimônio genético que se encontra nesta região.
A primeira refere-se ao papel que ocupa nos foros internacionais a função da floresta como reguladora do clima e as questões relacionadas com o sequestro e a emissão do CO2. Tema que hoje ganha dimensões econômicas além de ambientais e que polariza a discussão sobre a Amazônia nos foros internacionais. Pergunto: serão estas as características mais importantes no cenário da política de C&T no que se refere à floresta amazônica? A segunda é uma indagação sobre o grau de conhecimento e desconhecimento “sólido” que alcançamos no que se refere aos biomas amazônicos e as línguas e as culturas das comunidades que os habitam.
Conhecemos o suficiente para definir políticas públicas, que atendam aos direitos das populações e nos permitam avaliar o valor científico e cultural da sócio e biodiversidade que lá encontramos e, também, estabelecer programas de exploração sustentável dos recursos naturais da região?
A terceira refere-se à atual legislação que regulamenta o acesso aos laboratórios naturais e controla a pesquisa científica nos ambientes naturais: ela atende aos imperativos da soberania nacional e, ao mesmo tempo, contribui para o necessário progresso do conhecimento dos biomas amazônicos?
Vamos examinar por partes estas três perguntas:
1. O papel da floresta tem sido insistentemente associado à sua função reguladora do clima do planeta. Tendo sido verificado que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera está relacionado com a perturbação dos equilíbrios climáticos, o papel da floresta amazônica tem sido considerado importante por duas razões:
i. pelo saldo de absorção de CO2 da floresta “em pé” medido através de modelos que estimam o volume de crescimento da massa arbórea na região, que sabemos ser formada principalmente por carbono.
ii. pelas emissões de CO2 que ocorrem sempre que a cobertura vegetal é queimada e são medidos através de detectores in situ e indiretamente, através de modelagens dos efeitos destas emissões na atmosfera.
Se há outros fatores que contribuem para a absorção ou a emissão de CO2, na formação do efeito estufa, pouco se sabe. Não há, por exemplo, até agora, dados confiáveis sobre o volume de gás metano, absorvido ou que é liberado para a atmosfera, durante a decomposição do material orgânico. Sabemos que ele é continuamente depositado, em grande quantidade, no solo da floresta e que contribui para o efeito estufa em uma proporção 20 vezes mais intensa do que o próprio CO2.
Cabem aqui, portanto, duas novas perguntas:
a) Caso a taxa de absorção de CO2 , ou de gases de efeito equivalente, não fosse positiva a floresta deveria ser sacrificada para atender aos reclamos dos países centrais, recorrentes nos foros climáticos internacionais?
b) Se pesquisas revelarem a viabilidade do desenvolvimento em larga escala de processos capazes de absorver CO2, e assim mitigar o efeito estufa, a custos energéticos aceitáveis, a floresta perderia boa parte de seu interesse “bioclimático” no cenário mundial?
A resposta é obviamente não, mas devemos reconhecer que a avaliação do valor da floresta, científico, sócio-ambiental e cultural, tanto para o Brasil como para o planeta, não tem sido objeto de políticas públicas, nacionais e internacionais, de dimensões semelhantes às pensadas para estimar, e mitigar, os impactos climáticos ou mesmo das ações voltadas a coibir o incêndio das florestas.
I – A floresta amazônica como laboratório de ciência e cultura
Examinemos com um pouco mais de atenção este laboratório de ciência e tecnologia, de culturas e conhecimentos tradicionais. Sabemos que a bacia amazônica, em boa parte coberta por floresta, constitui um ecossistema de intensa biodiversidade que ocupa parte de nove países. No Brasil o bioma amazônico se estende por cerca de metade do território nacional.
Trata-se de um laboratório único no planeta pela extensão, variedade de espécies e processos de interação, únicos no planeta, entre a biota e os ambientes naturais.
Para conservar o equilíbrio destes ecossistemas e a sua rica biodiversidade é necessário preservar a floresta amazônica, seus rios e várzeas. Para tanto é imperativo conhecer a física e a ecologia dos solos, águas e biomas em suas dimensões estruturais, dinâmicas e funcionais.
Pesquisas científicas na Amazônia têm sido realizadas nos últimos cem anos por instituições nacionais instaladas na região e fora dela, mas de forma pouco sistemática, tanto que, ainda hoje, é dominante o número de trabalhos (cerca de 70%) sobre o tema, conduzidos – e propostos – por pesquisadores de instituições científicas de fora do país. Mais grave contudo é o fato que o conhecimento acumulado em biologia, meteorologia e geologia da região é considerado inferior a 20% do desejável .
Entendemos por “desejável” o nível de conhecimento que permita reconhecer os processos fundamentais físicos e biológicos que lá ocorrem, para que sejam estabelecidas com razoável clareza as políticas de estudo, conservação e exploração sustentável dos ecossistemas conforme determina a Constituição Federal (Artigos 218 e 225) e a Convenção da Biodiversidade de 1994.
É importante notar que há espécies e interações, entre elas e delas, com os ambientes que somente encontramos na Amazônia. Interações e adaptações cuja compreensão é fundamental para entender os modos que os seres vivos (humanos e não humanos) encontraram para sobreviver (e continuar sobrevivendo) na Terra. Se foi graças ao estudo do Sol, dos átomos e das estrelas que hoje conhecemos os segredos da fusão nuclear e sabemos quais reações são responsáveis pelo funcionamento do Sol, a ponto de sermos capazes de reconstruir uma fusão nuclear em laboratório, a partir de elementos conhecidos, não sabemos como reconstruir, em laboratório, uma folha sequer de uma árvore, a partir de luz, oxigênio, carbono etc.! Uma folha capaz de fazer fotossíntese! Ou mesmo compreender como a seiva alcança o topo das árvores de grande porte.
Há muitas questões abertas, portanto no campo da biologia, na botânica e na zoologia, e são recentes as pesquisas nas florestas tropicais, que utilizam detectores e equipamentos amplificadores de grande porte. Ainda são tímidas as iniciativas de “big science” na biologia dinâmica (em física utiliza-se a expressão de “big science” para caracterizar a pesquisa realizada com grandes máquinas e equipamentos como aceleradores, telescópios etc.).
Um exemplo de timidez: nos últimos dez anos realizou-se, atravésde uma cooperação internacional, um grande experimento na Amazônia, que utilizou tecnologia avançada em equipamentos detectores em que foram estudadas as interações entre a cobertura florestal e a atmosfera, o LBA (Programa de grande escala da biosfera-atmosfera na Amazônia). Hesita-se, porém em preparar um experimento semelhante para o estudo da biodiversidade, as interações entre sistemas biológicos para além das interações da cobertura vegetal com a atmosfera. Incluindo o papel dos insetos e microrganismos, e as emissões de gases decorrentes dos processos biológicos correntes etc.
O reduzido conhecimento de técnicas de manejo dos ecossistemas amazônicos e as tímidas alternativas à exploração da madeira, agricultura extensiva ou criação de gado, oferecidas às comunidades que os habitam, é devido em boa parte ao desconhecimento da própria diversidade biológica que encontramos na região amazônica, suas características estruturais e a dinâmica das interações biológicas e ambientais. De fato, nem mesmo um extenso levantamento das espécies comestíveis existentes neste bioma foi concluído!
Os povos indígenas, ao seu modo, sabem como tratar a floresta, nela se movem com agilidade, e sabem extrair dela o sustento necessário para as comunidades de suas aldeias. Trata-se, porém, de conhecimentos próprios, de transmissão oral e, raramente, ensinados a estranhos. Estima-se mesmo que eles, em que pese sua milenar familiaridade com os produtos naturais, não fazem uso de boa parte das ervas comestíveis da região. Estes conhecimentos são vivos e objeto de permanente renovação pelos seus detentores. O diálogo entre as culturas exige mediações e atentas contextualizações sempre que se deseja retratar estes conhecimentos na linguagem da nossa cultura científica.
É curioso observar que o estudo das línguas indígenas, da etnologia e da arqueologia na região amazônica seja incipiente. São raros na região os cursos de graduação e pós graduação em antropologia, linguística e arqueologia. Nestas áreas apenas nos últimos anos surgiram políticas indutivas por parte dos órgãos de fomento da C&T e educação superior, sejam estaduais ou federais.
Encontramos hoje na Amazônia um curso de linguística, dois de arqueologia e dois de antropologia! Pouco, muito pouco, para estudar e entender mais de 150 línguas e o significado de extensas áreas de intensa e surpreendente ocupação pré-histórica conforme pesquisas recentes. Se queremos proteger a floresta precisamos ‘aprender a caminhar’ nela, e nisso os índios e ribeirinhos são mestres, tanto mais se buscamos alternativas às tendências de devastação dos seus ecossistemas, em que “os bárbaros” usualmente jogam fora o ouro ( essências e secreções) e comercializam o cascalho (madeira e terra).
Por outro lado, conservar a floresta para evitar o aumento da presença de CO2 na atmosfera ou simplesmente para preservar as espécies que nela vivem é missão benemérita, mas de difícil sustentação em uma cultura dominada por valores de mercado presente e, ainda, pouco sensível aos cenários futuros. Ou encontramos na floresta produtos e funções de elevado valor econômico e reconhecido significado tecno-científico ou a batalha pela sua preservação será irremediavelmente perdida (elevado aqui significa: maior do que o valor de uma cabeça de gado ou algumas sacas de soja por hectare).
As ações políticas ou policiais inibidoras podem retardar, mas não sustar a devastação. Não é o desejável, mas é o que vemos ocorrer apesar da crescente indignação cívica. Há obvias razões para que outros países concentrem sua atenção sobre o equilíbrio emissão-absorção de CO2 da floresta amazônica, uma vez que não possuem (ou ainda não foram desenvolvidos sistemas de absorção de CO2 em grande escala) meios de reduzir as suas próprias emissões. Não há, no entanto, iguais razões para que esta questão ocupe posições centrais em nossa política ambiental.
Isto não significa que a queimada deva ser considerada mal menor! Pelo contrário, a destruição dos ecossistemas (sejam eles emissores ou sequestradores de CO2) deve ser evitada, principalmente porque não conhecemos o que está sendo destruído e temos boas razões para afirmar que neste laboratório natural se depositam informações de grande valor científico, tecnológico, cultural e mesmo econômico (bastaria entender como os cupins digerem a celulose para provocar uma revolução na produção de etanol).
O cerne da discussão sobre a Amazônia desloca-se, portanto, para a imperativa necessidade de conhecer com maior profundidade os ecossistemas complexos da floresta e sua biodiversidade. Conhecimentos estes, necessários não apenas para selecionar o que se deseja conservar, mas também para encontrar eventuais aplicações de utilidade e para atribuir valores científicos sólidos à própria floresta e às culturas e populações que lá encontramos e aos ecossistemas que a sustentam.
Não se trata apenas de promover estudos antropológicos, linguísticos e da sistemática, da catalogação zoobotânica, mas também de incluir o conhecimento das interações que ocorrem entre os organismos e microrganismos e destes com os ambientes tanto em terra firme como nos periodicamente alagados.
No elenco de questões que devem ser acrescentadas às climáticas e bio-ambientais poderíamos acrescentar as sanitárias decorrentes da presença de seres humanos na floresta. A malária, a leishmaniose entre tantas outras, são graves doenças endêmicas, estudadas há muitas décadas, mas que ainda não encontraram vacinas ou terapias adequadas ao seu controle ou erradicação.
Ao entender as formas de adaptação e subsistência na floresta de humanos e não humanos poderíamos, sem dúvida alguma, lançar nova luz sobre os modos de conviver com ela, extrair valores sem comprometê-la, manejar pragas, epidemias e doenças recorrentes nas regiões tropicais.
Atrelar o valor da floresta às suas funções climáticas ou de bomba de absorção do CO2 é apequenar os amplos horizontes da pesquisa científica que, se adequadamente explorados, podem contribuir para a evolução dos conhecimentos físicos e biológicos, das culturas nacionais e universais e da reforma das combalidas relações do homem com a natureza.
Surge neste ponto a terceira pergunta: como explorar estes horizontes e ampliar o conhecimento sem contar com a cooperação científica internacional? Ela é conveniente? Como conciliar esta cooperação com os imperativos da soberania nacional sobre o território amazônico e o seu patrimônio genético?
II – A soberania nacional, a cultura e a cooperação científica e o domínio público do conhecimento
Nesse ponto se insere a terceira grande questão relacionada com ciência e cultura na discussão sobre a Amazônia:
A questão da soberania nacional entendida não apenas nas suas dimensões territoriais e de controle dos recursos minerais, mas também sobre o material biológico e o patrimônio genético. Há dois aspectos que a meu ver devem ser levados em conta tanto por sua relevância jurídica como política:
Do ponto de vista político, a Convenção da Biodiversidade (subscrita pelo Brasil) afirma que todo país é soberano sobre os recursos genéticos que podem ser encontrados, crescem e se multiplicam, em seu território e recomenda que todos os esforços devem ser feitos para melhor conhecê-los, e para melhor protegê-los.
Por outro lado, do ponto de vista jurídico, a Constituição de 88, no seu Artigo 225 já determinava que: “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações”. Para assegurar a efetividade desse direito (ao meio ambiente ecologicamente equilibrado) incumbe ao Poder Público:
*Constituem o patrimônio genético as “ informações de origem genética contida em amostras do todo ou de parte de spécimem vegetal, fúngico, microbiano ou animal na forma de moléculas ou substâncias provenientes do metabolismo destes seres vivose de extratos obtidos destes organismos vivos ou mortos” (Art 7 inciso I da MP 2186)
II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.
VII – proteger a fauna e a flora vedadas na forma da lei as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
Classificam-se assim os recursos genéticos, de modo semelhante aos recursos minerais como patrimônio da nação que deve ser protegido e eventualmente explorado desde que leis e normas estabelecidas pelo Estado sejam observadas. A proteção deste patrimônio da nação constitui um complexo desafio para o Estado que deve zelar pelo equilíbrio ecológico e ao mesmo tempo, promover a pesquisa e o conhecimento que permitam reconhecer e atribuir valor aos recursos genéticos, que afinal deveria proteger.
Para um material inerte como os recursos minerais, espacialmente localizados, a proteção e a pesquisa, em princípio, são simultaneamente realizáveis. Já para material vivo, de diferentes dimensões – micro e macroscópicas – que se reproduz e cresce, movendo-se e migrando sem observar os rígidos limites das fronteiras geopolíticas a tarefa não apenas é complexa, mas na maioria das vezes, é inexequível, se interpretada como uma proteção material, física e espacialmente localizada.
Se, como no caso de mamíferos, plantas e animais de dimensões que podem variar entre o decímetro e o metro, a proteção entendida como rastreamento registro e detecção pode, em princípio, ser fisicamente realizada, no caso dos microrganismos e insetos de dimensões entre milímetros e o milésimos de milímetro – e que se contam aos bilhões – este rastreamento e detecção é praticamente impossível.
É necessário imaginar nestes casos outras formas de controle e proteção das espécies, do material biológico e das informações que elas veiculam. Formas que, mesmo sem ser físicas, preservem a soberania nacional e, ao mesmo tempo, permitam e incentivem a pesquisa científica, protejam os interesses do país sempre que os objetos da pesquisa, ‘ex post’ revelarem valor comercial.
Convém lembrar também que, em muitos casos, o material genético existente no território de um país existe também em outro, obedecendo a uma distribuição que obedece à distribuição espacial dos ecossistemas em que estas espécies vivem e se reproduzem.
Para fixar as ideias com um exemplo bastaria lembrar que 60% da bacia amazônica está localizada no Brasil, sendo os restantes 40% distribuídos entre outros oito países. Como tratar as espécies que aqui vivem como tipicamente brasileiras, quando espécies semelhantes são encontradas também nos países vizinhos?
Como proteger estas espécies e os ecossistemas próprios à sua reprodução se as políticas e efetivas ações de controle, conservação e pesquisa forem muito diferentes entre os países limítrofes? Como garantir a soberania nacional na proteção do patrimônio genético quando se deve compartilhar os ecossistemas com outros países soberanos?
Isso se torna particularmente dramático se pensarmos que as nascentes do rio Amazonas se encontram em território peruano (em uma área que vem sendo sistematicamente desmatada por empresas madeireiras transnacionais!). Outro exemplo poderia ser encontrado ao examinar as dificuldades encontradas pelas autoridades sanitárias para proteger o espaço territorial nacional com o objetivo de evitar a entrada de um vírus patogênico. O que revelou a complexa operação de controle de rotas e fluxos coletivos e não individuais.
Se de fato é nosso interesse – como deve ser – proteger o patrimônio, efetivo ou potencial, presente no material biológico existente em nosso território devemos imaginar novas formas de controle e exercício da soberania, uma vez que os usuais métodos de detecção, proteção física, rastreamento individual não funcionam para coibir eventuais ilícitos e “piratarias”.
Um grande número de funcionários está hoje envolvido em agências de governo encarregadas do “controle” da pesquisa científica nos laboratórios naturais. Tentam eles aplicar a legislação vigente “rastreando e vigiando” os pesquisadores, individualmente.
Contrariam o artigo da Constituição que determina ser este controle institucional. Causam assim graves conflitos com os pesquisadores, aplicando e interpretando as leis de proteção ambiental de modo arbitrário e restritivo.
É recorrente a negação aos supostos réus, de elementares princípios do direito de defesa e presunção de boa fé, particularmente se levarmos em consideração que se trata de cidadãos que muitas vezes executam projetos fomentados e permanentemente avaliados pelos órgãos de apoio à ciência e tecnologia. Um exemplo simples pode ilustrar os paradoxos que decorrem de uma restritiva aplicação das leis (da fauna Lei 5197 e do acesso ao patrimônio genético: MP 2186): é permitido a todo cidadão pescar peixes para consumo (desde que não se trate de espécies em épocas de desova etc.), mas se um pesquisador deseja coletar um peixe para pesquisa deve solicitar permissão ao órgão de controle ambiental, ao Ministério da Marinha etc. Deve explicar porque e para que deseja realizar a pesquisa (e, ao publicar sua pesquisa em revista especializada deverá mencionar o número da licença correspondente).
Após sete anos de vigência da Medida Provisória que regulamenta a coleta e o acesso ao patrimônio genético, (a MP 2186 é de 2001) os resultados das intervenções e “controle” dos órgãos de “proteção ambiental” da pesquisa científica, se revelaram pouco eficazes e mesmo contrários aos artigos da Constituição que determinam o fomento da C&T nos ambientes naturais, uma vez que verificamos:
a) o pesquisador é considerado pelos órgãos de proteção ambiental, um potencial criminoso, permanentemente suspeito de biopirataria, devendo demonstrar caso a caso, sua inocência e a boa fé de suas ações e intenções. E, mais grave, em caso de suposta ou real infração o direito de defesa é precário. Não existem formas jurídicas de amparo do direito ao conhecimento como por exemplo um “habeas data naturae” 6 semelhante ao “hábeas corpus”. Por outro lado, em caso de efetiva infração, não existe a possibilidade de demonstrar que, de fato, não foi cometido dano ao patrimônio, à segurança nacional ou ao interesse público, casos em que a jurisprudência registra que a penalidade pode ser relevada.
b) observou-se também que o número de licenças e autorizações solicitadas por pesquisadores aos órgãos de controle, constituem de fato em número muito inferior ao das pesquisas que vem sendo realizadas em campo.
c) o número de pesquisas realizadas “in situ”, medido pelas publicações especializadas em zoologia e botânica tem decrescido na última década, em números relativos, ao contrário do que deveria acontecer, uma vez que os recursos e incentivos disponíveis se não cresceram significativamente não decresceram em igual proporção. Estes fatos revelam o descrédito do sistema de controle e, mais grave o desestímulo à pesquisa e ao conhecimento decorrentes da desastrada legislação, que, pelo contrário, deveria ser instrumento de fomento, além de proteção.
Há pelo menos cinco aspectos desta questão que deveriam ser observados por um foro que discute as relações internacionais na política da Amazônia:
a) a soberania sobre o bioma amazônico depende de pesquisas científicas capazes de realizar o levantamento da biodiversidade e de suas interações com os ambientes sejam eles aquáticos, terrestres ou atmosféricos.
b) o material biológico exige tratamento cauteloso quando se discute questões de propriedade e exploração econômica das aplicações dos conhecimentos produzidos pela pesquisa científica. Devem ser separados com cuidado os conhecimentos de domínio público, as descobertas e informações factuais, das suas eventuais aplicações farmacológicas ou agroindustriais que podem ser objeto de patentes etc.
c) a distinção destes dois domínios e aregulamentação das atividades que lhes são próprias, torna-se fundamental para disciplinar as de caráter aplicado e promover a pesquisa científica “de domínio público” necessárias para informar as políticas de C&T e de defesa da soberania nacional na região.
 *São de domínio público os dados e informações publicadas nas revistas especializadas que formam o acervo de conhecimentos abertos à leitura de qualquer cidadão do mundo (ex. classificação de uma nova espécie de sapo ou o estudo da emissão de sinais sonoros por formigas ou peixes ). São informações de circulação restrita aquelas que obedecem à legislação internacional de propriedade intelectual como, por exemplo, as aplicações farmacológicas de secreções encontradas na pele de um sapo ou as propriedade abortivas de extratos de diferentes ervas manipulados conforme procedimentos tradicionalmente utilizados por pajés de uma etnia indígena.
d) a determinação dos limites público e privado na pesquisa do material biológico, dos ecossistemas e do “patrimônio genético”, apesar de complexo, torna-se assim peça fundamental não apenas para definir as políticas nacionais de C&T na região amazônica, mas também as políticas de cooperação científica internacional e particularmente da colaboração científica e tecnológica com os países vizinhos que compartilham os mesmos ecossistemas naturais.
e) nas fronteiras, entre o domínio público e o privado, encontramos os conhecimentos das culturas tradicionais indígenas. Esta questão adquire grande complexidade uma vez que, do ponto de vista das comunidades indígenas a distinção entre descoberta e aplicação, domínio público e privado, individual e coletivo, não têm o mesmo significado que têm na cultura científica acadêmica.
Sabemos que estas comunidades são detentoras de conhecimentos significativos e de grande valor para entender a vida e as interações biológicas na floresta. Trata-se de conhecimentos factuais ou aplicados, que devem ser protegidos por adequada legislação, e de direitos de propriedade coletiva que devem ser entendidos e respeitados. Conhecimentos estes que nem sempre podem ser localizados no território de uma só nação. Concluímos afirmando que os imperativos levantados pela soberania nacional na questão amazônica exigem:
i) uma melhor compreensão de quais são as características essenciais no conceito de patrimônio genético, do significado estratégico do domínio público do conhecimento e da propriedade coletiva dos conhecimentos tradicionais.
ii) uma redefinição das políticas de C&T para a Amazônia, qual o papel que nesta política exercem as instituições científicas nacionais e estabelecer com determinação e clareza por quais caminhos deve passar a cooperação científica internacional.
iii) a definição de um programa acelerado de formação de um grande número de profissionais habilitados para realizar pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos na região.
iv) e, finalmente, buscar a colaboração e o entendimento com os povos indígenas que há milênios vivem e se sustentam na floresta. Os mesmos povos que hoje reclamam, justamente, ter voz ativa na definição das políticas públicas que estão sendo traçadas para a região.
III – Algumas reflexões sobre a responsabilidade das Instituições do Estado na proteção do patrimônio genético
O Artigo 225 da Constituição determina que cabe ao Estado fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação do material genético. Da mesma forma que fiscaliza as entidades que, por exemplo, manipulam material radioativo. Cabe aqui observar que uma mesma entidade, mesmo no caso em que é de caráter público (p.ex. a Comissão Nacional de Energia Nuclear, CNEN) não deveria ao mesmo tempo realizar pesquisas e ser responsável pela sua própria fiscalização.
No entanto esta separação não tem sido levada às últimas consequências devido à complexidade destas funções e o grau de especialização que elas exigem. Dificilmente uma instituição que não realiza pesquisas e atualiza permanentemente seu acervo de conhecimentos pode realizar com rigor a função fiscalizadora na área biológica e ambiental. Um exemplo eloquente é dado pela recente reestruturação do Inmetro, que criou laboratórios especializados e contratou um quadro permanente de pesquisadores de elevado grau de especialização para realizar pesquisas em seus laboratórios. Opta-se assim pelo exercício de um responsável, bom senso no exercício da função pública, da pesquisa e de atualização permanente dos parâmetros de fiscalização.
No caso do “patrimônio genético” a situação não é diferente do caso do material radioativo. A fiscalização, particularmente da pesquisa científica, deve ser realizada por instituições do Estado que mantém corpos de funcionários especializados atuantes em pesquisas de fronteira, e que estão equipadas para avaliar, caso a caso, se as pesquisas causam de fato desequilíbrios indesejáveis aos ecossistemas e danos ao patrimônio nacional.
Não é isso que ocorre nas agências de controle ambiental como, por exemplo, o IBAMA e Instituto Chico Mendes etc. Elas não preenchem estes requisitos básicos, o que alimenta conflitos e tropeços que comprometem a eficiência do sistema e paralisam as ações de fiscalização da pesquisa que lhes são atribuídas. Uma possível solução capaz de preencher estes requisitos seria a de incluir no sistema nacional de fiscalização da pesquisa com material biológico instituições de pesquisa, particularmente as que se dedicam às pesquisas biológicas, geológicas e climáticas e universidades públicas.
Associaríamos assim ao controle das pesquisas e intervenções na natureza instituições públicas atentas aos imperativos da soberania nacional e equipadas para distinguir o que é essencial do que é secundário. Com responsabilidades definidas e um papel ativo no sistema de proteção aos ambientes e do ‘patrimônio genético’ estas instituições poderiam contribuir para tornar o sistema muito mais eficiente e confiável .
Para realizar esta missão estas instituições deveriam constituir comitês especializados com atribuições específicas para acompanhar e avaliar riscos e impactos das pesquisas e a qualidade dos resultados obtidos e eventuais benefícios ao interesse nacional. Já mencionamos que pelas dimensões territoriais e pelo escasso acúmulo de conhecimentos a tarefa do controle das pesquisas com impacto ambiental, dificilmente pode ser cumprida com sucesso pelas instituições que hoje a ela se dedicam. Para tanto, o número de funcionários especializados e a infraestrutura de laboratórios que elas dispõem deveria ser de dimensões muito superior ao que hoje nelas encontramos.
Isso se tornaria ainda mais evidente se o sistema de fiscalização fosse orientado, como acredito que deveria ser, para uma atenta avaliação dos resultados das pesquisas autorizadas e não apenas dos meios e propósitos registrados nos formulários em que as licenças de acesso e coleta são solicitadas.
Somente incluindo, no sistema de fiscalização da pesquisa científica com material biológico, os institutos e as universidades e compartilhando com eles as responsabilidades de controle e avaliação alcançaríamos as dimensões, em quadros, competências e laboratórios, necessários para realizar com rigor e eficiência esta missão.
É bom lembrar que não se trata apenas de uma missão de controle, mas também de registro e catalogação da biodiversidade. Necessária para que o conceito de patrimônio genético ganhe a concretude dos fatos conhecidos. Este catálogo para ser confiável e acumulativo deve ser permanentemente revisto e atualizado, tarefa que não pode ser realizada com sucesso por uma repartição da administração central que não esteja envolvida com a permanente atualização e utilização das informações incluídas no catálogo como suporte para suas pesquisas.
Deve-se sublinhar por outro lado que órgãos como Ibama, Instituto Chico Mendes e os equivalentes estaduais, são essenciais no sistema de fiscalização ambiental e deve ser atribuído a eles o papel central no licenciamentoe avaliação dos impactos ambientais dos grandes projetos de engenharia, como, por exemplo, instalações industriais, hidroelétricas, estradas além do controle de queimadas, desmatamentos ilícitos etc. A delegação de parte de suas funções de licenciamento e avaliação das pesquisas, para institutos e universidades, não interfere nem reduz a autoridade na fiscalização ambiental nas áreas onde a maioria das grandes ameaças aos equilíbrios ambientais têm sido registradas.
Ao incluir no sistema de fiscalização dos impactos ambientais estas novas instituições evitar-se-ia também outro sensível conflito de competências, recorrente nos procedimentos de controle e autorização das pesquisas, que frequentemente ocorre devido ao fato que as universidades e institutos de pesquisa públicos gozam de autonomia científica, didática e administrativa, conforme determinado pelos Artigo 207 da Constituição.
As interdições, previstas na lei de acesso e coleta do material biológico in situ, bem como as informações nele contido têm sido por vezes interpretado na comunidade acadêmica como uma forma de interferência na autonomia científica dos institutos e das universidades públicas.
São vistas de mesmo modo que eventuais restrições ao uso de imagens do território registradas por um satélite ou ao uso do GPS para o estudo da cartografia, ou mesmo ao uso da internet para acesso e circulação de informações de caráter técnico-científico. Entendemos que esta questão é de caráter mais amplo do que a do estudo científico e cultural da biodiversidade da Amazônia. No entanto, se ela não for adequadamente resolvida o desenvolvimento das pesquisas científicas e tecnológicas na região dificilmente poderão progredir e o exercício da soberania nacional estará comprometido.
O modesto acervo de conhecimentos sócio-ambientais na Amazônia acumulado nas últimas décadas é sintoma dos efeitos inibidores da confusa conceituação e contraditória legislação que orienta as relações do Estado com a pesquisa na natureza. Nela se refletem diferenças conceituais profundas, presentes em nossa sociedade, tanto sobre o significado do patrimônio genético e cultural como dos procedimentos capazes de garantir os interesses nacionais nos projetos dedicados à sua preservação e criteriosa utilização.
Cabe a seminários como este a tarefa de equacionar as diferenças e orientar a discussão de modo que ela nos possa conduzir a soluções que permitam, ao mesmo tempo, promover o bom uso da ciência e da tecnologia para dar valor à rica sócio e biodiversidade, que encontramos em nosso território, e atribuir à questão amazônica as dimensões nacionais insistentemente reclamadas.
Nota acrescentada após o debate
Ouvindo a exposição do ilustre jurisconsulto Ives Gandra Martins, em defesa da tese da demarcação descontínua das terras indígenas Raposa Serra do Sol, em Roraima, devo expressar minha profunda discordância com os argumentos apresentados. Se bem entendi, ele interpreta o significado da palavra “ocupam tradicionalmente”, que encontramos no caput do Artigo 231 da Constituição, como: “que ocupam no momento em que a Constituição foi promulgada”. Esta interpretação da palavra “tradicionalmente” é, a meu ver, equivocada uma vez que o significado desta palavra tem uma clara dimensão temporal e histórica que, pelo contrário, sugere “ocupação desde tempos imemoriais” o que é confirmado pelo Dicionário Houaiss da língua Portuguesa onde lemos no verbete “tradição”: “conjunto de valores morais, espirituais, etc. transmitidos de geração em geração”.
Em 1991, participei com o Senador Roberto Campos e o então Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Francisco Rezek, de um seminário realizado na Fundação Konrad Adenauer, na Alemanha (Bonn), em que se discutiram assuntos de interesse comum aos dois países. Um dos painéis foi sobre a Amazônia, do qual participamos proferindo palestra e debatendo, Roberto Campos, eu e dois professores alemães. Já no dia anterior a presidente do IBAMA também participara sobre o tema do meio ambiente.
Na exposição dos dois professores alemães, houve nítido posicionamento a favor da internacionalização da Amazônia. O argumento era simples. Como a humanidade dependerá, no século XXI, da preservação do meio ambiente e como a Amazônia representa uma das últimas grandes reservas de preservação ambiental, nada mais razoável que não um só país, mas toda a comunidade internacional dela cuidasse.
Roberto e eu reagimos, de imediato, concordando com a tese geral, mas discordando do direito da comunidade internacional intervir em assunto afeto à soberania do Brasil. A única colaboração possível seria, como contrapartida aos ônus que têm que suportados para a preservação bem de interesse global, ofertar recursos financeiros e técnicos para que o País possa cuidar da
Amazônia, sem que se possa admitir a internacionalização ou redução da soberania nacional sobre o território amazônico. Cheguei a lembrar que, para conquistar o elevado padrão de vida de que hoje desfrutam, os europeus, ao longo da história, não souberam ou não se preocuparam em preservar suas florestas, faltando-lhes, portanto, autoridade para exigirem que o Brasil bloqueie seu desenvolvimento naquela área, em prol de assegurar maior conforto às nações civilizadas.
Propus mesmo que os recursos internacionais a serem destinados a Amazônia para exclusivo uso do Brasil, na preservação da rica região, deveriam incluir também valores compensatórios pela não exploração agropecuária, extrativa, comercial e industrial da região, ressarcindo aqueles que seriam privados de obter o mesmo grau de desenvolvimento europeu, por serem obrigados a preservar de suas florestas, quando a Europa não preservou as suas.
A discussão, embora acadêmica, revelava, todavia, o permanente desejo da Comunidade internacional, manifestado nos mais variados “fóruns internacionais”, de que um dia a Amazônia se transforme em área internacional, administrada pelos “guardiões do mundo”, ou seja, as nações desenvolvidas (EUA-U.E.-Japão) .
O tempo, todavia, tem trazido outras preocupações às nações do primeiro mundo, como as guerras do oriente próximo desde a 1ª invasão do Iraque, em 1991; o desenvolvimento dos quatro grandes emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China), denominados BRICs; a crise econômica do ano 2009; o alargamento da União Europeia para 27 países e o desmembramento da União Soviética e da Iugoslávia. O tema, portanto, continuou mais no plano da retórica e das discussões acadêmicas, que de interesse imediato, principalmente após os Estados Unidos não terem se interessado pelo Tratado de Kyoto sobre meio ambiente.
De qualquer forma, a questão, embora latente, continua a preocupar, mormente após o denominado direito de ingerência ter sido repetidas vezes utilizado pelas nações desenvolvidas, nos últimos anos, direito este que permitiria à comunidade internacional intervir na soberania de outras nações, quando a própria comunidade corresse riscos.
A grande questão, todavia, reside no fato de que o denominado direito de ingerência é dirigido exclusivamente pelas nações poderosas. A comunidade internacional pouca força tem para opor-se ao pequeno grupo de nações que decide a sorte do mundo. A própria ONU é um organismo manietado pelo poder de veto de uma única nação, entre as cinco com assento permanente no Conselho de Segurança . Assim, intervenções como no Iraque, no Afeganistão ou em Kosovo, atingindo a soberania de países, embora fossem ditaduras, a maior parte deles não teve o consenso geral, até porque a guerra de Bush contra o Iraque ocorreu contra a manifestação dos técnicos da ONU, que não encontraram armas de destruição que o governo americano afirmava existir naquele País. A decisão foi exclusivamente do Presidente Bush. Ora, não excluo que o objetivo, quando as outras questões mundiais chamarem menos atenção, possa ser retomado.
Temo, inclusive, que o debate futuro não se travará mais no campo da preservação do meio ambiente, mas da intervenção a pretextode uma suposta necessidade de preservação de 400.000 índios brasileiros e estrangeiros, que vivem em 25% do território amazônico, em reservas nas quais os brasileiros não índios não podem penetrar, salvo por horas, com autorização da FUNAI.
Embora discorde da leitura que ilustres magistrados fizeram do art. 231 da C.F., assim redigido:
 “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (grifos meus).
Estou convencido de que mais do que o equívoco na interpretação do dispositivo, a assinatura da Declaração Universal dos Povos Indígenas poderá trazer, no futuro, problemas sérios para o País, na medida em que já há movimentos insuflando os povos destas reservas no sentido de exigir que elas se tornem países independentes, como um grupo de ianomanis tem pleiteado, junto a organizações internacionais .
O equívoco na leitura do texto constitucional reside, a meu ver, em não se respeitar o tempo do verbo utilizado pelo constituinte. Ao utilizar-se do presente do indicativo (ocupam) a Lei Suprema, preservou os direitos originários sobre as terras que ocupavam em 5 de outubro de 1988 e não as terras que ocuparam antes daquela data, e já não ocupavam em 05/10/1988 .
Correta ou incorreta a leitura da Suprema Corte, o certo é que, 25% da Amazônia pertence exclusivamente aos indígenas, negando-se aos demais brasileiros o direito a parte do território nacional. Ora, minha preocupação maior é de que as futuras reivindicações do “direito de ingerência” da comunidade internacional venham a ser “fundamentadas” numa pseudo-necessidade de preservação dos povos indígenas e de suas comunidades, como nação independente, como, por exemplo, já ocorre com as reivindicações do Tibete, que é parte da China, mas que a pressão internacional é para que se separe de um dos quatro BRICs.
À evidência, sou favorável à preservação das reservas indígenas, mas nos termos da Constituição Federal, ou seja, apenas aquelas terras que efetivamente ocupavam em 05/10/1988, e não que ocuparam no passado. Defensor do governo do Amazonas, em diversas questões relativas à manutenção da Zona Franca de Manaus – pólo indispensável para o desenvolvimento daquela região – junto ao STF, perante o qual tive oportunidade de produzir diversas sustentações orais, em que aquela Corte assegurou os incentivos pertinentes, assim como defensor intransigente da soberania de nosso País, em fóruns internacionais, temo por ela, pelo fato de quase toda a fronteira norte do país ser habitada por indígenas. No dia em que a comunidade internacional voltar seus olhos novamente para a Amazônia, por certo vai fundamentar seu pretenso “direito de ingerência” na proteção dos povos indígenas, além da preservação do meio ambiente.
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