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Seja Bem Vindo! Curso Negociação Carga horária: 25hs Dicas importantes • Nunca se esqueça de que o objetivo central é aprender o conteúdo, e não apenas terminar o curso. Qualquer um termina, só os determinados aprendem! • Leia cada trecho do conteúdo com atenção redobrada, não se deixando dominar pela pressa. • Explore profundamente as ilustrações explicativas disponíveis, pois saiba que elas têm uma função bem mais importante que embelezar o texto, são fundamentais para exemplificar e melhorar o entendimento sobre o conteúdo. • Saiba que quanto mais aprofundaste seus conhecimentos mais se diferenciará dos demais alunos dos cursos. Todos têm acesso aos mesmos cursos, mas o aproveitamento que cada aluno faz do seu momento de aprendizagem diferencia os “alunos certificados” dos “alunos capacitados”. • Busque complementar sua formação fora do ambiente virtual onde faz o curso, buscando novas informações e leituras extras, e quando necessário procurando executar atividades práticas que não são possíveis de serem feitas durante o curso. • Entenda que a aprendizagem não se faz apenas no momento em que está realizando o curso, mas sim durante todo o dia-a-dia. Ficar atento às coisas que estão à sua volta permite encontrar elementos para reforçar aquilo que foi aprendido. • Critique o que está aprendendo, verificando sempre a aplicação do conteúdo no dia-a-dia. O aprendizado só tem sentido quando pode efetivamente ser colocado em prática. Conteúdo negociação I. InTRODUçãO ............................................................................................................................................................................... 4 1.1 Visão Geral .............................................. ................................................................................ 4 1.2 Objetivos Gerais ........................................................................................................ .............. 4 1.3 Metodologia.................................................................................................................. ........... 4 1.4 Desafos e Difculdades .......................................................................................... .................. 4 1.5 Métodos de Avaliação..................................................................................................... .......... 5 II. PlanO DE aUlaS ........................................................................................................................................................................ 6 1. BlOCO 1: InTRODUçãO à nEgOCIaçãO ......................................................................................... ................................................ 7 Introdução .................................................................................................................. ................... 7 Objetivo..................................................................................................................... .................... 7 1.1. Negociação: Apresentação ............................................................................. .......................... 7 1.1.1. Introdução ........................................................................................................... ................ 7 1.1.2. Identifcando o Problema: Percepções e Emoções ............................ ..................................... 9 1.1.3. Conceitos Básicos..................................................................................................... .......... 11 2. BlOCO 2: MaTRIz DE nEgOCIaçõES COMPlExaS .......................................................................................................................... 13 Introdução ............................................................................................................................. ...... 13 Objetivo................................................................................................................ ....................... 13 2.1. Etapas da Negociação ................................................................................................... ......... 14 2.1.1. Preparação ....................................................................... .................................................. 15 2.1.2. Criação de Valor ..................................................................................................... ........... 16 2.1.3. Distribuição de Valor ............................... .......................................................................... 16 2.1.4. Implementação e Monitoramento ...................................................................................... 1 7 2.2. Os 10 Elementos da Negociação ........................................................................................... 17 2.2.1. Contexto ............................................................................................................. ............... 18 2.2.2. Interesses .......................................................................................................................... .. 19 2.2.3. Opções .............................................................................................................. ................. 20 2.2.4. Relacionamento ....................................................................................................... .......... 21 2.2.5. Alternativas .......................................................................... .............................................. 22 2.2.6. Comunicação .......................................................................................................... ........... 22 2.2.7. Tempo ................................................... ............................................................................ 23 2.2.8. Legitimidade ......................................................................................................... ............. 25 2.2.9. Concessões / Compromissos .............................................................................................. 27 2.2.10. Conformidade ........................................................................................................ ......... 30 2.3. Formas de Negociação .......................................................................................................... 32 2.3.1. Negociações Diretas .................................................................................................. ......... 33 2.3.2. Negociações Informais Paralelas (PIN) ............................................................................... 33 2.3.3. Diálogo entre Multistakeholders (MSD) ............................................................................ 39 2.3.4. Negociação com utilização de Agentes ............................................................................... 4 0 2.3.5. Negociação por meio de Facilitador .................................................................................. . 40 2.3.6. Mediação ............................................................................................................. .............. 40 2.3.7. Meta-Mediação .................................................................................................................. 41 2.3.8. Arbitragem ........................................................................................................... .............. 41 2.3.9. Juiz: Utilização do Poder Legal ...................................................................................... ..... 41 2.3.10.Polícia e Força Militar .................................................................................. .................... 42 2.4. Indicadores de Avaliação da Negociação ................................................................................ 42 2.4.1. Avaliação da Satisfação e Racionalidade ....................................................... ....................... 42 2.4.2. Avaliação através de Controles ....................................................................................... ..... 43 2.4.3. Avaliação de Riscos .................................................................. .......................................... 43 2.4.4. Avaliação Sobre a Otimização Econômica .......................................................................... 44 2.4.5. Avaliação da Ética .............................................................................................................. 45 2.4.6. Avaliação de Justiça e Equidade ...................................................................................... .... 45 2.4.7. Avaliação de Impactos e Sustentabilidade (SAI) ......................................................................... 45 2.4.8. Avaliação da Produtividade ........................................................................................... ..... 46 2.4.9. Avaliação das Emoções ................................................................................................ ....... 46 2.4.9. Avaliação do Sistema Autopoiético .......................................................................... ........... 47 III. BIBlIOgRafIa ......................................................................................................................................................................... 51 nEGOcIaçãO i. introdução 1.1 Visão Geral Este curso permitirá ao aluno aprender e aplicar a metodologia desenvolvida pelo Pro- grama de Negociação (PON) da Harvard Law School e pelo Programa de Negociações Complexas baseado na FGV EBAPE. Além dos conceitos da área de negociação, serão utilizados exemplos, casos e simulações desenvolvidas diretamente pelo Programa de Nego- ciação de Harvard. 1.2 objetiVos Gerais A fnalidade desta disciplina é tornar o aluno apto a: – Utilizar o modelo da abordagem de ganhos mútuos na negociação, em diferentes contextos de uma organização; – Preparar-se, efetivamente, para uma negociação; – Maximizar o seu potencial e os resultados da negociação, a partir da exploração de interesses e desenvolvendo substantivas opções; – Construir acordos mais estáveis utilizando estratégias que possuam critérios objeti- vos para distribuição de valores; – Construir acordos que possam ser verdadeiramente implementados a partir da ante- cipação de contingências e alinhando capacidades organizacionais; – Proporcionar mudanças com os parceiros da negociação que não estão familiariza- dos com a abordagem de ganhos mútuos. 1.3 MetodoloGia O conteúdo programático terá como base a Matriz de Negociações Complexas, desen- volvida a partir de pesquisas realizadas pela FGV, Harvard Law School e IRENE/;ESSEC Paris. A Matriz de Negociações Complexas será apresentada por meio da exposição te- órica, da aplicação conceitual de seus elementos, formas de negociação e indicadores de avaliação dos resultados. A aplicação dos conceitos será realizada a partir dos casos de nego- ciação desenvolvidos pela Harvard Law School e facilitará a discussão em grupo e a troca de experiências, fatores fundamentais para o aprendizado da Negociação. 1.4 desafios e dificuldades Algumas difculdades e atritos entre os alunos podem ocorrer ao longo dos estudos de caso e exercícios, tendo em vista que os mesmos são elaborados para gerar situações de confitos a fm de que as técnicas possam ser aplicadas e aprimoradas ao longo do curso. Para atenuar os efeitos das possíveis desavenças geradas, será necessário administrar os ânimos ao longo das simulações e ter em mente a necessidade de permanecer duro com os interesses e suave com as pessoas. O Professor estará acompanhando a evolução do 4 A avaliação será feita por meio de prova e de trabalhos que serão desenvolvidos em nEGOcIaçãO exercício, o comportamento dos alunos e realizará uma análise fnal dos resultados das diversas negociações. 1.5 Métodos de aValiação sala de aula. Os casos desenvolvidos em sala de aula deverão ser entregues sob a forma de trabalho. A nota da primeira avaliação será calculada pela média aritmética dos trabalhos desenvolvidos ao longo do curso. A prova constituir-se-á na segunda nota. 5 nEGOcIaçãO ii. Plano de aulas curso de NeGociação – Graduação direito rio 6 aulas assunto Professor 1ª aula abertura do Curso Yann duzert 2ª aula Conceito de negociação – percepções e emoções ana tereza spinola 3ª aula Matriz de negociações Complexas – conceitos de batna, zopa, preço reserva ana tereza spinola 4ª aula abordagem de Ganhos Mútuos – etapas de uma negociação ana tereza spinola 5ª aula abordagem de Ganhos Mútuos – etapas de uma negociação ana tereza spinola 6ª aula elementos – contexto, interesses, opções e relacionamento – Caso: parker Gibson ana tereza spinola 7ª aula elementos – alternativas, Comunicação e tempo – Caso: sally soprano ana tereza spinola 8ª aula elemento – concessões – Caso: Multimode ana tereza spinola 9ª aula elemento – legitimidade – Caso: termination tempest ana tereza spinola 10ª aula Formas de negociação Msd e pin ana tereza spinola 11ª aula Caso Cuba ana tereza spinola 12ª aula Critérios de avaliação da negociação ana tereza spinola 13ª aula Caso Harbocco ana tereza spinola 14ª aula Caso Harbocco ana tereza spinola 15ª aula encerramento do Curso Yann duzert nEGOcIaçãO 1. Bloco 1: introdução à negociação iNtrodução Neste Bloco serão introduzidos os conceitos de confitos, percepção, emoções e racio- nalidade limitada que servirão de base para o estudo de negociação. Serão utilizadas dinâ- micas específcas que ampliarão a visão do aluno preparando-o para o processo de tomada de decisão. objetiVo Este bloco objetiva: Compreender a questão de confito x negociação; Trabalhar as percepções ; Desenvolver o pensamento crítico; Estimular o debate entre os alunos. 1.1. NeGociação: apreseNtação 1.1.1. introdução O confito está presente em todos os relacionamentos humanos e em todas as sociedades. As disputas acontecem entre pessoas de uma mesma família, vizinhos, grupos religiosos e esportistas, organizações e governo, cidadãos, dentre outros. Podem ser das áreas trabalhista ou comercial, sendo constituídas por múltiplos participantes e múltiplos critérios. Devido aos altos custos físico, emocional e fnanceiro que resulta de uma situação confituosa, os indivíduos têm buscado maneiras de resolver suas discordâncias e diferenças de pontos de vista. Ao buscar administrar e resolver as diferenças tem-se procurado estabelecer proce- dimentos que atendam aos interesses das partes envolvidas, minimizando o desgaste e os gastos desnecessários. Negociação é a possibilidade de se fazer algo melhor por meio de uma ação conjunta; por outro lado, não deverá ser surpresa caso as ações de não-negociação provem ser o meio superior de realizar algo(SEBENIUS E LAX,1987). Negociação é um processo de atualização, revisão, realização de perguntas relevantes, proporcionando um aprendizado conjunto, com o objetivo de minimizar as diferenças na defnição de valor. A negociação é ainda o modo mais efciente de conseguir algo que se deseja. Negocia-se quando existem alternativas a serem escolhidas, e essas alternativas envolvem a própria pes- soa ou terceiros. Para ambos os lados, as diversas alternativas apresentam interesses comuns e interesses confitantes, expressando a complexidade das relações. Por outro lado, a negociação possui um dilema fundamental, denominado o Dilema do Negociador: Para criar valor é preciso oferecer informações sobre os seus interesses, porém revelar seus interesses pode criar desvantagem. 7 B A B A nEGOcIaçãO exemplo 1: jogo da Queda de braço Proposta do jogo: Dividir os participantes em grupos de dois defnindo duplas para a que- da de braço. Serão dados 15 segundos para que cada um maximize o número de pontos. Negociação Competitiva Negociador A 1 2 3 6 Negociador B Negociação Cooperativa Negociador A 1 2 3 6 Negociador B exemplo 2: racionalidade limitada Cobrir todos os pontos com apenas 4 linhas • • • • • • • • • – Negociação Competitiva tem-se para cada ganho uma perda correspondente. É o jogo do ganha-perde (W-L). – Negociação Cooperativa tem-se que cada parte oferece um ponto para o oponente e vice-versa. É o jogo do ganha-ganha (W-W), corresponde a uma negociação que tem ga- nhos mútuos. Não adianta uma das partes ganhar sozinha. Assim, a negociação pode ser defnida com base nas seguintes condições: Interdependência: não se consegue atingir plenamente um objetivo sem que haja uma ação ou uma decisão de uma outra pessoa ou de um grupo de pessoas. Capacidade para ganhos mútuos: cada pessoa possui algo que é desejado por outra pessoa. Entretanto, um acordo só é de mútuo interesse se as duas partes puderem ganhar com a troca. Se uma parte desejar algo que a outra parte possua, então essa parte deverá ofe - recer algo que deixe o outro bem, em situação melhor do que se encontrava antes da troca. Autoridade limitada: nenhuma parte pode dar ordens ou forçar a outra parte a dar o que se deseja. Entretanto, uma parte pode infuenciar a outra parte oferecendo incentivos para alcançar o acordo, ou elevando o custo da posição de não-acordo. 8 3 2 Ótimo 6 3 2 6 nEGOcIaçãO Comunicação: as partes têm que ser capazes de conversar ou de se corresponder de for- ma mutuamente inteligíveis. Entretanto, a comunicação pode ser imperfeita. Podem ocor - rer erros de interpretação e uma das partes ou as duas poderão, deliberadamente, trabalhar sobre suposições falsas. A forma de como expressamos nossas emoções e procedemos com as emoções dos outros podem, signifcativamente, afetar nossa comunicação. As grandes diferenças de língua, de experiências anteriores e de normas culturais são os maiores riscos para os problemas de comunicação. Relacionamento: todas as negociações criam relacionamentos. Se houver alguma de- savença anterior à negociação, com certeza isso irá afetar a forma de como negociar hoje. Caso se espere encontrar a outra parte em um futuro, nossas expectativas quanto a esse futuro também irão afetar a forma da negociação. Se cada um de nós achar que a forma de condução de uma negociação puder infuenciar o olhar dos outros sobre nós então, tudo que for relativo à nossa reputação também infuenciará a forma de conduzir com o outro a negociação. Quando todos esses elementos forem colocados, ao mesmo tempo, em uma negociação, signifca que a mesma está inserida em uma situação complexa. Cada uma das partes possui metas e interesses para estar em uma negociação. Nenhuma parte conseguirá atingir seus objetivos sem a cooperação da outra. Cada uma das partes buscará ganhar o máximo possí- vel ao longo do processo negocial, mas deve equilibrar o desejo de ganhar o máximo possível e realizar o mínimo de concessões, com o risco de ter nossos interesses afetados, caso não seja alcançado o acordo. Cada uma das partes tem informações limitadas sobre os verdadeiros objetivos e inte- resses da outra parte, então não é óbvio saber o que se deve oferecer, como oferecer ou como encontrar o que mais poderá ser oferecido. A forma de comunicação entre as partes tem um signifcativo e involutário impacto sobre o resultado. Finalmente, o relacionamento que se cria e se desenvolve ao longo do processo de negociação pode ter um impacto muito grande, não só para a negociação como um todo como também sobre futuras negociações entre essas partes. 1.1.2. identifcando o problema: percepções e emoções exemplo 3: entender as percepções e a proposta de Valor O milho é: 1- Grão; 2- Planta; 3- Leguminosa; 4- Fruto Para se negociar será necessário defnir o problema. Se não existe uma concordância a respeito do que seja o milho, como se poderá negociar o tipo de transporte para milho? Diferentes percepções defnem diferentes critérios. A defnição do problema tem que ser incontestável, assim deve-se, inicialmente, defnir conceitos. 9 nEGOcIaçãO exemplo 4: o que se vê nas imagens abaixo? Figura 1: Figura 2: A capacidade de Criação de Consenso leva as partes a uma defnição mais adequada do problema, proporcionando conseqüentemente uma melhor execução. Nas negociações multipartidárias e organizacionais, a alternativa de um dos lados pode ser um conjunto de acordos a ser alcançado por uma potencial coalizão dos adversá- rios. Ameaças inequívocas para alterar a posição de não-acordo são comumente utilizadas por uma das partes, como pode ser observado pela posição dos países industrializados nas cinco Conferências Ministeriais da OMC, quando tentaram impedir que fossem levadas à discussão as questões agrícolas como é o desejo e a necessidade dos países em desenvol- vimento e, forçaram uma agenda para discussões das questões que atendessem aos seus interesses como os temas de Cingapura. Neste caso, além de buscar acordos, as partes en- volvidas se utilizam, freqüentemente, de negociações formais para fazer propaganda, reunir inteligências, infuenciar terceiros ou outras audiências, manter contato, desviar a atenção dos outros jogadores sobre algo ou sobre a comunicação de algum assunto, e assim por diante (Sebenius e Lax, 1987). 10 Is artigo do extraído 1 nEGOcIaçãO exemplo 5: jogo da cooperação e coalizão tripartite Dividir a turma em grupos de três pessoas classifcadas como A, B e C. O objetivo do jogo é negociar com os membros do grupo de forma a maximizar o re - torno individual, atendendo a um limite máximo de pontos, conforme defnido na tabela abaixo: Orientação para o desenvolvimento do problema: Leia o problema Forme os grupos com trios de pessoas A, B e C, e negocie Defnir as partes que estão no acordo Como será dividido o valor entre as partes? (divisão da torta) Os acordos têm que apresentar números defnidos Maximize seu retorno Não existem créditos para ajudar ou difcultar a(s) outra(s) parte(s) Podem ocorrer difculdades em se conversar a sós Permite uma contra-oferta da coalizão A parte que não participar do acordo somará zero pontos 1.1.3. conceitos básicos Qualquer negociação deve ter uma estrutura básica fundamentada no conhecimento das seguintes questões: – qual a alternativaà negociação – BATNA ou MAANA – qual o limite mínimo para um acordo negociado; – até que ponto (alvo) cada parte está disposta a ser fexível; e, – quais as concessões que as partes estão dispostas a fazer (intervalo de ZOPA ou ZAP). Para a defnição desses fatores utilizam-se os seguintes conceitos: BATNA – Best Alter- native to a Negotiation Agreement ou MAAN – Melhor Alternativa à um Acordo Negocia- do; Preço de Reserva; e, ZOPA – Zone of Possibles Agreements ou ZAP – Zona de Acordo Possível. A MAAN corresponde à alternativa que será adotada caso não se alcance um acordo na negociação. Esta alternativa é defnida antes do início de qualquer negociação para permitir ao negociador uma posição vantajosa em relação à outra parte, na medida em que ele conhe- ce e dispõe de uma referência (preço mínimo pelo qual está disposto a negociar), tanto para avaliação das propostas decorrentes do processo como para poder dizer não a uma proposta desfavorável. Max Bazerman descreve a BaTna como sendo “ one piece of advice that negotiation ex- perts commonly ofer is very simple: before you enter into any important negotiation, you should consider what you will do if no agreement is reached” there help for the Big Ticket Buyer, publicado na Harvard Business Review em 17 set 2001. 11 opções Partes retornos totais 1 a ou b ou C 0 (zero) 2 a & b 118 3 a & C 84 4 b & C 50 5 a & b & C 121 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 1 alvo nEGOcIaçãO Preço de Reserva é representa o valor mínimo em que o negociador fca indiferente entre um acordo negociado e o impasse. É o limite da BATNA, quando o valor negociado é igual à alternativa disponível fora da negociação. Para que seja interessante uma negociação, o valor negociado tem que ser acima do valor defnido pela BATNA. ZAP é o conjunto de alternativas possíveis, para ambas as partes, defnidas por limites superiores e inferiores, defndos pela BATNA, dentro das quais pode-se chegar a um con- senso que satisfaça ambas as partes. Esses limites são defnidos pelo Preço de Reserva de cada uma das partes. As partes não alcançarão resultados enquanto existir espaço para negociação na região da ZAP [Mnookin, Peppet e Tolumelo:2000]. Preço Alvo é o preço que você deseja; preço limite é o seu preço máximo ou mínimo. Vendedor alvo Comprador Em resumo, • Alternativa A preço de reserva do vendedor preço de reserva do comprador Exemplo: Um proprietário tem um apartamento em Copacabana e deseja alugá-lo a um preço de $ 4.000,00. Por outro lado, existe um interessado em alugá-lo, disposto a pagar, $ 2.000,00. A BATNA do proprietário é o interesse de um artista em alugar o imóvel a $ 4.000,00. O proprietário sente-se arriscado alugar o imóvel para o artista pois considera arriscado a garantia do pagamento do aluguel em dia, a possibilidade desse artista em sub-locar o imó- vel e trazer com isso problemas com o condomínio. A BATNA do interessado em alugar o imóvel é um apartamento velho situado em uma ladeira cujo edifício tem 10 apartamentos por andar. 1. Qual é a ZOPA do problema? 2. Quais as ações que poderiam ser tomadas para reduzir a ZOPA? Segundo Sebenius e Lax, as alternativas podem ser tão variáveis qua nto as situações negociadas que elas circunscrevem. Podem ser corretas e ter um único atributo, como nas competições por preços de insumos para um produto idêntico; podem ser contingenciais e multi-atributos, como levar a questão a uma decisão judicial ao invés de aceitar um acordo, o que pode envolver incerteza, ansiedade, despesas com taxas legais e custo do tempo dis - pendidodispendido, dentre outros; e podem também variar ao longo do tempo a partir de 12 limite limite zap zap ! ! nEGOcIaçãO novas informações, interpretações, movimentos competitivos ou oportunidades (Sebenius e Lax,: 1987). Questões a serem levadas em consideração nas ofertas iniciais de uma negociação: (a) Quem deve ancorar primeiro? Quem ancora assume riscos, porém âncoras afetam as percepções das partes acerca do resultado fnal. (b) O Que Fazer? Não dar muito valor à oferta inicial; analisar a qualidade da âncora; formular objetivos ousados como âncoras; boa preparação. 13 2 Dez Indicadores de Avaliação Dez Formas de Negociação Dez Elementos da Negociação Quatro Etapas da Negociação a Matriz de negociação complexa vida foi desenvol- pelos Conduzir a nEGOcIaçãO 2. Bloco 2: Matriz de negociações coMPlexas iNtrodução Apresentamos neste Bloco a matriz de Negociações Complexas. A Matriz de Negocia- ções Complexas está estruturada a partir da abordagem de ganhos mútuos e reúne as quatro etapas do processo de negociação, os dez elementos, as dez formas e os dez métodos de avaliação. objetiVo Este bloco objetiva: Negociação ao longo de suas etapas; Identifcar os elementos presentes na negociação; Desenvolver as formas de negociação; Acompanhar a performance da negociação através de seus indicadores e critérios de avaliação; Quadro 1: Matriz de Negociações complexas Quatro Etapas da Negociação Preparação Criação d e Val o r Distribuição de Valor I mp l e me n t a ç ã o / Monitoramento Dez Elementos da Negociação Dez Formas de Negociação Dez Indicadores de Avaliação Contexto Negociaç ões Diretas Satisfação e Racionalidade Interes s es Negociações Informais Paralelas (P IN) Controles Alternativas Diálogo entre Multi-Stakeholders (MS D ) Otimização Econômic a Com unicaç ão Facilitação Relacionamento Mediação Justiça e Equidade Conc ess ões Meta-Mediação Impactos e Sustentabilidade Conformidade Arbitragem Produtividade Legitimidade Emoções Polícia / Força Militar Fonte : Yann Duzert, Davis Fairman e Alain Lempereur Sistem a Autopoiético professores David Fairman, Yann Du- zert e alain Lempereur de Harvard-MIT, FGV/EBaPE e IREnE/ESSEc, respecti- vamente. 14 2 Opções Tempo Agent e Juiz Risco Ética nEGOcIaçãO A abordagem de Ganhos Mútuos difere das demais abordagens por ser um conjunto de princípios e estratégias que permite (i) maximizar as chances de se encontrar seus interesses, ao mesmo tempo em que as outras partes também alcançam seus interesses, e (ii) criar e manter um bom relacionamento entre as partes que estão na negociação. Essa abordagem garante que o processo seja efciente, viabiliza a realização de ganhos mútuos e, caso os ne- gociadores não alcancem o acordo, sairão menos desgastados. O foco central da abordagem de Ganhos Mútuos é o foco nos interesses, não em posi- ções. A forma de condução da negociação nos dois focos pode ser verifcada nos seguintes exemplos: – Foco na posição: “Desejo obter a participação de 70% nos resultados alcançados”;– Foco no interesse: “Desejo uma participação nos resultados” Focar no interesse é melhor para uma negociação, pois interesses são objetivos que se desejam alcançar em uma negociação e oferece maior fexibilidade para se alcançar acordos. Existem mais de um caminho para se alcançar os interesses. Para que se possa melhor compreender as vantagens da estratégia de negociação de ga- nhos mútuos, comparemos com as demais abordagens, enunciadas a seguir: – Convencional – é uma estratégia de negociação dura, desenvolvida quando as partes acreditam que possuem interesses absolutamente incompatíveis. As partes assumem posições extremas, seguram informações e fazem concessões com má vontade; – Relacionamento – é uma estratégia de negociação leve que prioriza alcançar um acordo e mantém acima de tudo um bom relacionamento entre as partes; – Sensibilidade Cultural – é uma estratégia a ser utilizada, principalmente nas nego- ciações internacionais. Essa estratégia demanda muito tempo na preparação para que se possa conhecer as normas culturais, os sinais, estilos e símbolos das outras partes, de forma a não incorrer em indelicadezas com as outras partes. 2.1. etapas da NeGociação São quatro as etapas do processo de negociação utilizadas na abordagem dos ganhos mútuos: preparação, criação de valor, distribuição de valor e implementação e avaliação. – Preparação: o que se faz antes de iniciar um processo de negociação – Criação de valor: o que se faz nos estágios iniciais da negociação – Distribuição de valor: o que se faz para alcançar um acordo – Implementação e Avaliação: o que se faz para implementar efetivamente um acordo. Harvard-MIT-Tufts 15 3 3 Program on negotiation PREPARANDO Deixe claro as suas atribuições e defna sua equipe CRIANDO VALOR Estime seu melhor MAANA assim como o dos outros par- ticipantes Aperfeiçoe o seu MAANA (se possível) Identifque seus interesses Veja quais são os interesses dos outros Prepare sugestões de alternati- vas de ganhos mútuos Explore os interesses de ambos os lados Suspenda a crítica Crie sem compromisso Gere alternativas que “fa- çam o bolo aumentar” Use a neutralidade para melhorar a situação DISTRIBUINDO VALORES Comporte-se de maneira que crie confança Discuta padrões e critérios para “dividir o bolo” Use a neutralidade para sugerir possíveis formas de distribuição Projete acordos próximos que se reforcem CONTINUANDO Entre em acordo para o monitoramento das decisões adotadas Facilite a sustentação dos compromissos Alinhe os incentivos e controles organizacionais Continue trabalhando para mel- horar o relacionamento Use a neutralidade para re- solver desacordos Fonte : nEGOcIaçãO Quadro 2: estágios de processo de Negociação baseado em princípios Duzert, 2004 2.1.1. preparação A Preparação é a etapa mais importante do processo de negociação. Uma preparação cuidadosa oferece muitos dividendos para o processo de negociação. Quando um negocia- dor está bem preparado ele amplia consideravelmente a sua possibilidade de alcançar o que deseja na negociação. Durante o processo de negociação, um negociador bem preparado poderá estar calmo, criativo e afável aos parceiros da negociação, sem precisar estar em po- sições de muito favorecimento ou de excessiva rigidez. Para preparar uma negociação deve-se, inicialmente, esclarecer os interesses. Essa tarefa deverá ser discutida com os tomadores de decisão da sua organização, deverá incluir dis - cussões sobre interesses comuns e sobre quaisquer diferenças anteriores ao encontro com os negociadores externos. Deve-se considerar que um dos interesses será manter um efetivo relacionamento de trabalho com a(s) outra(s) parte(s). A preparação envolve estar apto para explicar seus interesses para a outra parte, e antecipar suas questões sobre porque você quer o que você quer. Dado seus interesses, deve-se pensar sobre o elenco de resultados possíveis, a partir das suas aspirações – o melhor resultado que satisfaça seus interesses, até suas exigências mí- nimas – o que seria o mínimo aceitável. Para se determinar as exigências mínimas deve-se examinar a BATNA, uma vez que é a melhor opção externa à mesa de negociação, ou seja, a melhor alternativa caso não se consiga alcançar um acordo. Coloque-se no lugar da(s) outra(s) parte(s), e imagine quais seriam seus interesses se estivesse no lugar dela. Utilize o recurso da pesquisa para aprender sobre os interesses, as- pirações e BATNA dos parceiros de negociação. Sua proposta causará um impacto sobre percepção do outro sobre a sua credibilidade e seu profssionalismo. 16 nEGOcIaçãO 2.1.2. criação de Valor Criar valor signifca inventar soluções que sejam vantajosas e que permitam expandir o conjunto de opções de benefícios mútuos viáveis para ambas as partes. Para criar valor será necessário identifcar as diferenças de valores entre os negociadores para em seguida, explo- rar as múltiplas opções para resolução ou colaboração. Para encontrar as áreas de ganhos mútuos é fundamental: Explorar os interesses das outras partes, muito mais do que se manter posicional. Ao invés de fcar discutindo as posições contra ou a favor, busque informações para construir o “se eu tento uma opção diferente que servirá para mim e se eu estiver compreendendo como seus interesses podem ir ao seu favor.” Buscar fazer a outra parte compreender as razões que estão por trás das coisas que você deseja. Tenho certeza de que só poderei conseguir alcançar meus interesses se eu permitir que você esteja informado sobre quais são esses interesses (Dilema do Negociador). Não se deve fazer julgamentos sobre as idéias que foram criadas, quan- tas mais idéias forem criadas, mais oportunidades para se criar novas opções que poderão auxiliar as partes em uma negociação. Caso as partes tenham difculdade em conversar – por força de uma questão difícil, ou por uma estratégia de negociação frágil, ou por ambas – pode-se chamar uma terceira pessoa para interceder na comunicação (vide Formas de Negociação). 2.1.3. distribuição de Valor Distribuir valor signifca escolher os caminhos, de comum acordo entre as partes, para a escolha das opções. processo de escolha das opções identifcadas na etapa da criação de valor. Quan- do existe confança entre as partes é muito fácil distribuir valor. Quanto mais uma parte se coloca confável em uma negociação, mais a outra parte se colocará disponí- vel para escutar as razões e os argumentos sobre como deverá ser “dividido o bolo”. No caso de existirem questões fortes individuais escolha de duas grandes questões, pode ser negociada uma opção para cada uma das partes ceder um pouco à outra (trade-of). não haja possibilidade de se fazer diretamente uma composição de acordos entre as partes, um outro caminho para resolver essa disputa é o acordo contin- gencial. Um acordo contingencial permite que quando uma parte está em dúvida quanto à capacidade da outra parte cumprir o acordo, elabora-se um documento que vincula o cumprimento do acordo no futuro a uma alteração nos termos ini- ciais do acordo. Uma outra estratégia que facilita a distribuição de valor a partir de um conjunto de opções é a defnição de critérios – princípios objetivos ou padrões – que levem as partes a realizarem as escolhas dentre as várias opções. Nesse contexto,objetivo não signifca dizer “certo ou errado”, e sim alguma opção que seja aceitável para ambos e razoável para a tomada de decisão. Podem existir situações em que uma das partes percebe que tiraria mais vantagem se violasse o acordo. Nesses casos, se ambos violarem o acordo, ambos irão perder. Para que não haja esses problemas, arbitra-se uma multa para os casos do não- cumprimento do acordo. 17 É o para a Caso nEGOcIaçãO 2.1.4. implementação e Monitoramento Essa etapa validará e acompanhará os acordos alcançados de forma que nenhuma das partes precise se preocupar na violação dos resultados alcançados. Uma vez alcançado o acordo, as partes deverão avaliar se os recursos, de ambas as partes, são adequados e se permitem a implementação do acordo. Sendo necessário, portanto disponibilizar os recursos. o acordo defnir que deverão ocorrer mudanças tangíveis, deve-se acordar tam- bém uma forma de monitorar essas mudanças, criando indicadores que possam apresentar medidas de variação. Deve-se prever também no acordo, quais as iniciati- vas que deverão ser tomadas no caso do acordo não estiver alcançando os resultados esperados por ambas as partes. A etapa de implementação que acompanha os resultados acordados deve servir para a manutenção do relacionamento entre as partes. Se os resultados estiverem a contento ambas as partes estarão bem; caso haja difculdades, a identifcação do problema e a busca de soluções conjuntas proporcionarão uma aliança mais forte entre as partes. Caso existam divergências, deve-se solicitar auxílio a terceiros (vide Formas de Negociação). 2.2. os 10 eleMeNtos da NeGociação São dez os elementos da negociação: Interesses, Alternativas, Opções, Legitimidade, Compromissos, Relacionamentos, Comunicação, Tempo, Conformidade, Contexto. A defnição desses elementos é importante para a preparação, para a compreensão de diferentes processos de escolhas, para o diagnóstico, para lidar com táticas difíceis e para organizar intuições, instrumentos e lições. A aplicação desses elementos pode ser observada da seguinte forma: • O QUE VOCÊ DESEJA – Interesses, inclusive; – Senso de legitimidade – responde a pergunta: “Qual é o critério?”. Defne indica- dores para defender a proposta – Relacionamento para gerar confança: identifcação dos interesses dos outros. • OBTENDO O DESEJADO: – Alternativas – o que pode ser feito sem acordos para buscar uma saída. – Opções – possibilidades de acordos corresponde a criação de valor; facilita a “divisão do bolo”. • ACORDO/DECISÕES sobre PROCEDIMENTOS: – Compromissos a serem alcançados. – Contexto – melhor canal de negociação para se ter mais cooperação (Axelrod); ne- gociação mais produtiva; estabelecer confança entre as partes com a oferta de ga - nhos mútuos (Equilíbrio Nash). • PROCESSO – Comunicação – ser o mais transparente possível para criar ganhos; debate de idéias livres; manter informação confdencial quando for estratégico. 18 Se nEGOcIaçãO – Tempo – o timing em todo o processo; contratos contingenciais; desbloqueador do confito; deadline obriga a convergir para acordo; – Conformidade – conhecer e defnir acordos que tenham base legal para que possam ser executados. O quadro a seguir, apresenta a relação existente entre os dez elementos e as quatro etapas da negociação, considerando as etapas em que cada elemento é mais utilizado. Quadro 3: elementos e etapas da Negociação Fonte: Brandão, 2005. A seguir, abordar-se-á cada um dos elementos. 2.2.1. contexto Contexto é representado pelo melhor canal de negociação de forma que se obtenha uma maior cooperação (Axelrod). Trata-se da identifcação dos cenários político, econômico, social, ambiental, cultural, religioso, comercial, dentre outros, onde se desenvolve o processo negocial. A análise do contexto permite que o negociador obtenha uma visão holística do processo, facilitando e suportando o posicionamento a ser adotado, assim como permite uma observação com relação aos agentes envolvidos e suas inter-relações e dependências. Acompanhar o contexto de forma dinâmica confgura-se como um diferencial, pois em qualquer etapa o negociador estará com a “fotografa” de todo ambiente disponível para alimentar as refexões e facilitar a identifcação de opções. São levados em consideração os diversos fatores externos que possam infuenciar as qua- tro fases da negociação. É fundamental que a análise de contexto seja realizada no período de preparação, ten- do em vista que estas refexões serão úteis para balizar posicionamentos e abordagens. Quando se trata de negociações entre países, principalmente quando se trata de estrei- tamento de laços comerciais de caráter governamental é importante que aspectos relativos à estabilidade política sejam considerados. No caso de acordos comerciais, como a soja e a carne brasileira, as empresas devem avaliar aspectos como: preços internacionais, público demandante, oferta, e outros que permitam o posicionamento adequado diante da outra parte. 19 QUAT RO ET APAS Preparação Criação de Valor Distribuição de Valor Implementação / Monitoramento D E Z E L E M E N T O S Contexto X Interesses X X Opções X X Alternativas X X Comunicação X X X X Relacionamento X X X X Concessões/ Compromisso X Conformidade X X Legitimidade/ Padrões X X Tempo X X Fonte: Duzert, 2004. Time Interpessoal Organização Cliente Externo Fornecedor Externo Comunidade Inter-organização Domestica Inter-organização Internacional Individuo Acionista Pares Pares Chefe Cliente Interno Subordinados Fornecedor Interno Interpessoal Inter-organização Domestica Individuo nEGOcIaçãO As preocupações podem ser colocadas e respondidas por meio das seguintes questões: – Estamos estabelecendo com as pessoas envolvidas na negociação uma forma de ob- termos ganhos-mútuos? – Estamos dispostos a abrir mão de parte dos resultados desejados para que haja um acordo, mesmo que não seja com o resultado ótimo? – Vale mais a pena buscar resultados melhores de longo prazo, abrindo mão de resul- tados de curto prazo? Um bom resultado é alcançado no Equilíbrio Nash, posição em que ambas as partes ganham, mesmo que não seja a posição ótima. O resultado é W-W. Buscar nas outras partes uma melhor compreensão do problema, buscar em conjunto a exploração de opções, alternativas e dados para criar valor são algumas das ações específcas desse elemento. Quadro 4: contexto Inter-organização Internacional Acionista Organização Fornecedor Externo Fornecedor Interno Cliente Externo Subordinados Comunidade Fonte: Duzert, 2004. 2.2.2. interesses Interesses são preocupações, desejos, necessidades, receios, esperanças e temores mo- tivadores das posições das partes. São valores subjacentes das posições e constituem-se nas razões pelas quais são estabelecidas as posições e as exigências. O problema básico de uma negociação não está nas posições confitantes, mas sim no confito entre as necessidades, desejos, interesses e temores de cada um dos lados. É natural que as partes presumam que uma oposição na posição leva a uma oposição nos interesses. Entretanto, uma análise criteriosa dos interesses pode desvendar a existênciade uma quantidade muito maior de interesses comuns ou compatíveis do que interesses antagônicos. 20 Time Cliente Interno Chefe Pares Pares 4 nEGOcIaçãO A preparação de uma negociação exigirá que cada um dos atores formule, por exemplo, as seguintes questões: – Quais são os nossos interesses? Esclareça seus interesses. – Quais são os interesses da outra parte? Estime os interesses das outras partes – Como procederíamos se estivéssemos no lugar deles? – Existem stakeholders envolvidos? – Quais os interesses devem nos preocupar, quais os interesses são compartilhados, quais os interesses são diferentes e quais interesses são confitantes? – O que você busca atingir nesta negociação? Essas questões deverão levar a uma satisfação dos interesses para que o acordo seja durá- vel.- Resultado desejado Para que os resultados sejam alcançados, deve-se proceder às seguintes ações especí- fcas: – Concentrar-se em interesses e não posições; – Comunicar nossos interesses (talvez não sua intensidade); – Perguntar sobre os interesses deles. 2.2.3. opções Opções são possíveis acordos ou partes de acordos que podem, criativamente, satisfazer ambos os lados. São também maneiras e formas de se utilizar os diferentes interesses para criar valor. Fischer et al (1994) apontam quatro obstáculos que inibem a criação de uma multiplici- dade de opções: (1) o julgamento prematuro; (2) a busca de uma resposta única; (3) a pres- suposição de um bolo fxo; e (4) pensar que “resolver o problema deles é problema deles”. Estes mesmos autores recomendam que para inventar opções criativas, portanto, é pre- ciso (1) separar o ato de criar opções do ato de julgá-las; (2) ampliar as opções a serem apre- sentadas, em vez de buscar uma resposta única; (3) buscar benefícios mútuos; e (4) inventar meios de facilitar as decisões do outro. Para que se possam identifcar as diversas opções, colocam-se as seguintes questões: – Quais os modos criativos para harmonizar os interesses? – Que coisas eles valorizam, e que a outra parte não valoriza? Pode-se oferecer uma nova escolha – Que outras idéias poderiam ser buscadas? – Se as partes trabalhassem juntas, que idéias se teria para melhorar a negociação para as duas partes? – De que maneira pode-se lidar com esse problema? Um bom resultado será alcançado quando for defnida a melhor dentre muitas opções, ou seja, aquela que tiver a menor perda, que seja elegante, e que ofereça um discurso ven- cedor para ambas as partes. Esse bom resultado dependerá de ações específcas, a saber: – Separar as diversas percepções sobre uma única realidade, da criação de opções. – Criar opções em conjunto, ou seja, todas as partes buscando diversas opções possí- veis a um acordo. Stakeholder pode ser com- preendido como uma pessoa ou um grupo de pessoas afe- tadas por uma decisão ou que desejem fazer parte em uma tomada de decisão em qual- quer nível. (a Short Guide to consensus building – Robert´s Rules of Order. 21 4 nEGOcIaçãO 2.2.4. relacionamento Relacionamento corresponde ao padrão geral de como as partes se relacionam, dentro e fora da negociação. É imprescindível um levantamento sobre o histórico dos relacionamentos entre as partes e a preservação e manutenção de um bom relacionamento ao longo de todo o processo. Um bom relacionamento e a construção de um ambiente amistoso facilita a troca de informações, a identifcação de interesses, as criações de valor, de opções e de alternativas. Durante a etapa da distribuição de valor as tensões costumam ser maiores e mais inten- sas, desgastando bastante o relacionamento e alterando o comportamento dos participantes. A conclusão dos acordos e a satisfação com os resultados obtidos podem estar diretamente ligadas à qualidade do relacionamento entre as partes. Para se identifcar as questões relativas ao relacionamento, pode-se pensar sobre as se- guintes perguntas: – A relação envolve afeto? – Quais os valores são compartilhados? Quais as divergências existentes? Houve apro- vação mútua? – Como está o relacionamento nesse momento? Como você gostaria que estivesse? O que se pode fazer para reduzir a diferença (Gap) com o mínimo custo e risco? – Que tipo de relacionamento as partes desejam? Existe confusão entre problema e relacionamento? Como cada uma das partes vêem o relacionamento? – Você sente que o processo que está sendo utilizado faz sentido? – Fizemos algo ofensivo e/ou insultante? – Deveríamos nós resolver essa questão? – Como se sente o que está sendo negociado ou como as partes estão se sentindo? Em resposta às questões acima, deve-se adotar como ação específca o respeito pelo outro, que é incondicionalmente construtivo. Lide com o problema e o relacionamento se- paradamente, cada um por seus méritos e pense sobre o discurso vencedor da outra parte. Um bom resultado é alcançado com um relacionamento que lide bem com as diferen- ças, durante e após a negociação. Leitura Sugerida 1 : Salacuse, Jeswald W. Ten Ways that Culture Afects Negotia- ting Style; Some Surveys Results. Research Report in Negotiation Journal. Plenun Publishing Corp. Jul/1998 Esse texto apresenta o resultado de uma pesquisa realizada em um universo de 370 pessoas de 12 países e com 8 tipos diferentes de ocupação, durante quatro anos. Foram pesquisados profssionais de diferentes áreas, advogados, militares, engenheiros, diplo- matas e pessoas do setor público, estudantes, fnancistas e contadores, professores e ad- ministradores e marketing, dos seguintes países: Espanha, França, Brasil, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Nigéria, Argentina, China, México e Índia. Constatou-se que a cultura pode infuenciar a percepção das pessoas e a utilização de elementos-chave em um processo de negociação. A prática da negociação difere de cultura para cultura. O conhecimento sobre as diferentes culturas ajuda aos negociadores melhor conhecer e interpretar o comportamento de seus parceiros e encontrar atalhos para superar as diferenças existentes. 22 5 nEGOcIaçãO caso 1: parKer-GibsoN Informações gerais Os Parkers e os Gibsons são vizinhos. Um terreno desocupado, agora de propriedade dos Parkers, está entre os lotes das duas casas. A área desocupada é menor do que o mínimo exigido pelo regulamento de zoneamento para construção, mas tem valor potencial para os vizinhos adjacentes para “usos acessórios” ou simplesmente como uma área adicional. Os Parkers compraram o terreno alguns anos atrás por USD$ 20.000 pensando que poderiam construir uma quadra de tênis nele, mas nunca levaram adiante seu projeto. Como resultado, os Parkers procuraram os Gibsons para ver se eles gostariam de adquirir a área desocupada. Há muita margem de barganha neste caso. Os Parkers estão se mudando para outro estado e venderão com relutância o terreno por USD$ 15.000 para o comprador de sua casa, se os Gibsons não estiverem interessados. O que os vendedores não sabem é que os Gibsons estão muito interessados, pois recentemente receberam uma herança que plane- jam utilizar para expandir sua casa. 2.2.5. alternativas Alternativas são ações que podem ser realizadas por uma das partes independente dos interesses das outras partes. Negociadores mais habilidosos devem sempre entrar em um processo de negociação com um mapeamento completo sobre a sua melhor alternativa caso o acordo não ocorra. A melhor alternativa para um acordonão negociado – MAANA é o custo de ação decorrente de um eventual não-acordo. Segundo Fisher et al. (1994), quanto melhor a MAANA, maior o poder do negociador naquele processo de negociação. MAANA não é estática ou isolada, portanto, um negociador deve buscar, constantemente, a melhoria da sua MAANA e a piora da MAANA da outra parte. Para que se possam identifcar as diversas alternativas, coloca-se as seguintes questões: – Qual é sua MAANA? Qual pode ser a MAANA deles? – Podemos melhorar a nossa MAANA? Piorar a deles? – Se nós desistirmos deste acordo para onde ambos iremos? – Você sente que devemos fazer um acordo aqui? – Eu prefro trabalhar algo conjuntamente? E você? O objetivo é buscar um resultado ou acordo que seja melhor que a nossa MAANA - Re- sultados desejados. Para que os resultados sejam alcançados, deve-se proceder à seguinte ação específca: – Desenvolver nossa MAANA e piorar a MAANA deles, se for legítimo e caso não prejudique a negociação. 2.2.6. comunicação A comunicação é constituída por mensagens e por meios pelos quais as partes trocam informações entre si. Deve ser clara e efciente. Existem dois fatores importantes e determinantes na qualidade da comunicação: – a efciência do processo de comunicação e dos canais de comunicação utilizados; e, – o nível de relacionamento e compreensão entre as partes. Melhor alternativa à negocia- ção de um acordo. (FISHER et a l. 1994: 17) 23 5 nEGOcIaçãO Para um melhor posicionamento do negociador é importante que o mesmo compreenda o estilo de comunicação, direto ou indireto, predominante da cultura na qual a negociação será conduzida, avaliando como as outras partes transmitem as mensagens entre si, por meio de formas complexas ou de canais não convencionais de comunicação. È possível estabele- cer regras e padrões para a comunicação quando percebido o alto grau de animosidade entre as partes ou até mesmo para manter a ordem e garantir a clareza na transmissão de informa - ções. Sem comunicação não há negociação. A negociação é um processo de comunicação bilateral com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta (FISHER et al., 1994:50). Pode-se observar a importância da comunicação entre empresários e negociadores bra- sileiros e chineses que necessitam de um tradutor, imerso no contexto da negociação, que não só traduzirá o conteúdo transmitido pela comunicação direta, como também deverá interpretar a linguagem não falada, transmitindo o signifcado da comunicação indireta. As mensagens contém fatos (são inquestionáveis); opiniões (deve-se evitar discutií-las); sentimentos (que devem ser levados em consideração); e, negociação não-verbalizada (deve-se aprender com ela e ganhar inteligência. Pode constituir-se em uma fonte de mal entendidos e susceptibilidade). Associadas a comunicação deve-se que observar as seguintes questões: – Estamos ouvindo ativamente o outro? – Entendemos as percepções deles? Como fazê-los entender as nossas percepções? – O que queremos aprender com eles? Como podemos escutar/ouvir melhor? – O que queremos comunicar? O que será persuasivo para eles? Como construir men- sagens sem ambigüidades? – Qual a nossa agenda e plano para negociações? Como começaremos? – Como lidar com desentendimentos? – Se eu entendi você disse…..? – O que você me ouviu dizer? – O que os outros nos escutam falando sobre isso? – Você poderia me ajudar explicando mais sobre como concluiu isso? – Você se importaria de me descrever seu pensamento passo-a-passo? Para que um bom resultado seja obtido, deve-se ouvir antes de falar, mostrar que se ouviu, se entendeu, expor o raciocínio antes das conclusões e falar por nós mesmos não por eles. 2.2.7. tempo Tempo, utilizado como uma variável estratégica, é o tempo necessário para o desenvol- vimento das negociações. O tempo é considerado um fator de muita importância ao longo da negociação, apre - sentando grande valor percebido pelas diversas culturas, independente dos objetivos esta - belecidos pelas partes. Pode ser manipulado estrategicamente, acelerando ou retardando as ações e reações durante o processo, afetando emoções, expectativas e até mesmo a conquista dos interesses e da satisfação como um todo. Conforme apresentado por Fisher et al (1994: 24), “Quanto mais extremadas as posições iniciais e menores as concessões, maiores serão o tempo e o esforço dispendidos para descobrir se o acordo é ou não possível”. Tem-se como exemplo no caso das relações Brasil-China, que os brasileiros se caracte- rizam por uma abordagem mais pragmática, voltada para o problema e visando resultados rápidos, enquanto os chineses se preocupam bastante com o aspecto do relacionamento entre as partes, de adquirir confança e de um estudo prévio do caso negociado. Portanto, os 24 Ministério pelo realizado processuais custas estudo valor: menor nEGOcIaçãO brasileiros devem se preparar para despender mais tempo na etapa de preparo e criação de valor, analisando interesses, e desenvolvendo opções. Questões que devem ser perguntadas pelas partes a fm de dimensionar o planejamento e desenvolvimento das negociações: – Quanto tempo se dispõe para preparar uma negociação e para negociar? – O tempo que uma das partes dispõe é semelhante ao tempo disponível pela outra parte?: – A falta de tempo pode facilitar a quebra de um impasse? ou poderia invia- bilizar o melhor resultado de uma negociação? Um bom resultado pode ser alcançado por meio de: – Contratos contingenciais vinculando uma ação à uma outra ação; – Avaliação da produtividade das negociações que representa tempo e dinheiro; – A demora no julgamento das ações junto ao judiciário tem um custo muito alto; – Percepção de risco (atritos, pânico e impressão negativa) difere quando as partes dispõem de diferentes tempos; A defnição de um tempo limite (deadline) obriga as partes a convergirem a um resultado de acordo. Riscos: atritos, pânico e impressão negativa. caso 2: sallY sopraNo Informações gerais Sally é uma distinta e experiente soprano que há dois anos não consegue um papel princi - pal. A companhia de ópera, Lírica, vai estrear a peça Norma em três semanas. A soprano selecionada para o papel principal fcou doente e precisará de uma cirurgia, e não há condições para se recuperar a tempo. A Lírica está ansiosa para contratar Sally, e os patro- cinadores autorizaram o gerente da Lírica a oferecer até $45.000 pelo contrato com Sally. Naturalmente a Lírica, uma organização sem fns lucrativos, gostaria de pagar menos, se possível. A soprano originalmente selecionada para o papel principal foi contratada por $30.000 e o papel secundário recebeu $ 14.000 (é prática corrente no mercado remune- rar as cantoras secundárias com a metade da remuneração das principais). Quatro anos atrás, no auge de sua carreira, Sally recebeu $22.000 pelo papel principal, porém, desde então, a infação e os aumentos na ópera quase duplicaram as escalas de salários. Sally desesperadamente quer esse papel, pois poderia lhe dar a chance de participar de um especial na TV. Ela estaria disposta até a cantar parte da ópera de graça, a não ser pelos impactos e implicações futuras que isso poderia provocar na sua reputação. Seus salários, para papéis secundários, nos últimos dois anos, foram entre $10.000 e $18.000. Há um ano atrás, ela recebeu $12.500 por um papel secundário, na peça Norma pela Companhia Lírica. Há rumores de que no ano passado uma inexperiente soprano, repre-sentando o papel principal, recebeu acima de $24.000. “Justiça é cara para ações de mostra que a causa de menos de R$ 500 traz perda fnanceira para o autor, mesmo que seja vito- rioso, levando-se em conta as cobradas, o gasto com advogados e o tempo em que o processo tra- mita até que seja fxada uma sentença. no caso de uma ação de R$ 50 mil, quase 76% desse valor se perderiam ao longo do processo judicial. (Estudo da Fazenda). OGlobo em 4 dezem- bro 2005. 25 6 6 nEGOcIaçãO 2.2.8. legitimidade Legitimidade refere-se à percepção de quão justo é o acordo ou a proposta realizada. Envolvendo conceitos de justiça e eqüidade os assuntos em discussão serão avaliados e cri- térios eqüitativos devem ser utilizados para análise dos acordos. Alguns instrumentos como princípios, regulamentos, políticas e leis poderão ser utilizados como balizadores e suportes para a avaliação. Dixit e Nalebuf (1994) oferecem mecanismos para tornar crível um compromisso. Por trás destes mecanismos há três princípios subjacentes: o primeiro refere-se à mudança dos retornos do jogo. A idéia é fazer com que o cumprimento do seu compromisso até o fm seja vantajoso para você, transformando uma ameaça em um aviso e uma promessa em uma garantia, que pode ser garantido por meio do estabelecimento de uma reputação e de con- tratos. Isso fará com que seja mais oneroso não cumprir o compromisso do que cumprir. O segundo princípio refere-se em uma modifcação do jogo de modo a inibir o desvio a um compromisso anteriormente agendado. Pode-se utilizar os seguintes estratagemas: cortar as linhas de comunicação, destruir as pontes que permitem um recuo e, deixar o resultado ao acaso. O terceiro princípio refere-se à manutenção do compromisso. Uma equipe pode alcan- çar uma maior credibilidade que um indivíduo, para isso construa credibilidade através do trabalho em equipe. É possível também, contratar outras pessoas para agirem em seu nome, assim, empregue agentes negociadores com poderes delegados. O negociador deve se preocupar com a conformidade e legitimidade, buscando infor- mações e apoio de profssionais que conheçam o ambiente em que o negócio estará sendo desenvolvido. Deve-se considerar para a avaliação, as seguintes questões: – São utilizados critérios objetivos e persuasivos? – Os atores estão abertos à persuasão? Identifcar os temores e buscar soluções de como lidar com eles. – Que padrões aplicaria um juiz / árbitro? – O que “DEVE” dirigir um acordo? – O que eles argumentarão e quais as nossas melhores respostas? – Porque você acha que devemos fazer isso? – Que benchmarks você possui que o faz pensar que isso é correto? – Se você fosse eu como você justifcaria isso para os outros? – De onde vêm estes números? Um bom resultado será alcançado quando as partes não se sentem roubadas, tratadas injustamente, e mantém sua credibilidade sempre protegida. Esses resultados dependerão de ações específcas com critérios objetivos para: – Persuadi-los de que estão sendo tratados com justiça; – Proteger-se de tratamento injusto. Estar aberto a argumentos racionais, sem ceder à pressões 26 7 nEGOcIaçãO caso 3: terMiNatioN teMpest Informações Gerais: Paulo Antunes trabalhou 15 anos na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. e foi desligado em junho passado, um ano e meio depois de completar 65 anos. Entrou com uma ação com base na Lei Federal de Discriminação a Idosos, alegando que seu desliga- mento seguiu a política ilegal de aposentadoria compulsória da Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. e que o seu território de vendas foi entregue a um vendedor mais jovem, de 35 anos. A reclamação e os meios de provas até o presente indicam que os seguintes fatos são incon- testes: Paulo Antunes veio trabalhar na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. depois que deixou sua principal concorrente, que faliu depois de uma aquisição alavancada mal-suce- dida. Naquela época, tinha 51 anos e deu graças a Deus de poder encontrar um emprego no setor de equipamentos e suprimentos para restaurantes. Antunes começou a trabalhar num projeto, desenvolvendo pequenos trabalhos de marketing, levantamentos junto a clientes e ao setor etc. A Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. era na época, e continua sendo, um negócio familiar. A empresa era pequena, menos de 10 pessoas trabalhavam lá, e vendia principalmente para os restaurantes da região Nordeste dos Estados Unidos. Antunes traba- lhou como “gerente de operações” interno durante alguns anos, tomando pedidos pelo te - lefone. Há onze anos (cinco anos depois de entrar na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda.), concordou em passar a vendedor comissionado. Embora os territórios que lhe foram designados e as comissões acordadas tenham sofrido alguns ajustes, Antunes continuou em vendas comissionadas pelos próximos dez anos. A companhia agora emprega mais de 25 pessoas. Mais ou menos seis meses antes de completar 65 anos (em dezembro, há dois anos), Rober- to Kane chamou Antunes à sala da Presidência e lhe disse que segundo a política da com- panhia, os funcionários deviam aposentar-se aos 65 anos. Antunes fcou inconsolável. Ele sabia que o pai de Kane tinha trabalhado até os 80. Porém, ao objetar, Kane puxou o velho manual de políticas da companhia da prateleira e lhe mostrou o parágrafo que estabelecia que todos os funcionários deviam aposentar-se aos 65 anos. “É mais fácil e mais justo para todo mundo desta forma”, disse Kane. “Além disso, já é hora de você descansar, viajar um pouco”. Alguns dias depois, o território de Antunes foi reduzido e alguns dos principais clientes do resto de seu território foram “transferidos” para Marina Mascarenhas, uma jo - vem de 35 anos, que antes cobria a região do alto de Nova York e Connecticut. Durante a festa do Natal na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda., os Kane patro- cinaram uma festa-surpresa de aposentadoria para Paulo Antunes, em homenagem ao seu tempo de serviço. Fizeram discursos, elogiando sua lealdade e seu trabalho, e lhe presen- tearam com passagens para um cruzeiro ao redor do mundo com sua família. Antunes tirou duas semanas de férias e no início de janeiro voltou à Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda., entrou na sala de Kane e disse: “Quero meu emprego de volta”. Tinha consultado um advogado e este lhe afrmou que aquela política de aposentadoria compulsória era ilegal. Surpreso, Kane prometeu falar com Antunes depois de consultar o advogado da companhia. Quando o advogado confrmou o que dizia a lei, Kane ofere- ceu a Antunes o cargo de vendedor comissionado. “Espero que não haja ressentimentos”, disse Kane. “Eu não sabia que estava agindo ilegalmente. Porém, a essa altura, não seria justo para com Maureen ou para com os clientes se voltássemos atrás. Vamos fazer alguns ajustes razoáveis no território.” Antunes concordou, “desde que eu tenha uma chance justa de fazer o meu trabalho”. LBO = Leveraged Buy-out 27 7 nEGOcIaçãO Um ano depois, a Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. o demitiu, alegando baixo desempenho nas vendas. Antunes entrou com uma ação judicial, afrmando que as ale - gações eram falsas, que se houve queda de desempenho esta tinha sido orquestrada pela Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda., através de ajustes propositados feitos nos territórios de vendas, no intuito fnal de defender uma política ilegal de aposentadoria. Antunes exige R$ 6.750.000 em danos, já que a Lei Federal de Discriminação a Idososdetermina que a indenização seja triplicada. O caso está em andamento há aproximadamente um ano. Foram apresentadas provas substanciais, embora os advogados aleguem que ainda falta tomar uma série de depoi- mentos. Através do advogado, Kane sugeriu que as partes participem de uma conferência conciliatória para tentar resolver o litígio. Antunes e seu advogado concordaram. 2.2.9. concessões / compromissos Compromissos são declarações sobre as intenções do que as partes pretendem fazer no futuro. Dixit e Nalebuf (1994) acreditam que uma concessão hoje pode revelar-se uma estratégia melhor de longo prazo. Kahneman e Tversky (1982) demonstraram que surgem diferenças importantes nas reações de indivíduos à perguntas estruturadas, no que se refere à perdas e ganhos. Esta diferença é crítica para descrever o comportamento do negociador e para deter - minar sua disposição ou indisposição para realizar concessões. Para se preparar para a realização, recomendação ou indução de concessões é necessário compreender a importância da “estruturação” em negociações. O que determina se um negociador terá uma estrutura positiva ou negativa será a seleção de uma âncora perceptiva. Em negociação, ambos os lados falam, tipicamente, em termos de um certo preço ou meta que “tem de” conseguir – estabelecendo um ponto de referência alto contra o qual são me- didos ganhos e perdas. Quando isso acontece, qualquer acordo que fque longe do ponto de referência será visto como uma perda. Esta perda percebida leva os negociadores a adotarem uma estrutura negativa para todas as propostas de acordo a exibirem um comportamen- to de tolerância ao risco e a demonstrarem que há pouca probabilidade de chegar a um acordo. Para evitar esses efeitos adversos da estruturação, negociadores devem estar sempre conscientes de suas estruturas e considerar a possibilidade de adotar estruturas alternativas (BAZERMAN, 2004). Os efeitos da estruturação sugerem que para induzir um comportamento favorável a concessão em um oponente, um negociador deve sempre criar âncoras que direcionem a oposição para uma estrutura positiva. Isso signifca que você estará negociando em termos do que o outro lado tem a ganhar, aumentando assim as oportunidades para trocas e com- prometimentos. E mais, quando reconhecer que seus oponentes têm uma estrutura negati - va, deve incentivá-los a reconhecer que adotaram uma estratégia arriscada em uma situação em que é possível um ganho certo (BAZERMAN, 2004). Para que compromissos sejam defnidos, algumas questões devem ser colocadas: – Qual é a nossa autoridade? E a deles? – Você tem autoridade para decidir sobre isso? – Qual a autoridade que queremos ter? – O que seria um acordo equilibrado e bem construído? – Quais os mecanismos defnidos para modifcar os acordos durante o tempo? – Quais seriam os bons produtos desta reunião? – Os compromissos têm credibilidade? Há incentivos para cumpri-los? 28 nEGOcIaçãO – Há um contrato que defne deveres e obrigações entre as partes? – Qual é o propósito desta reunião? – Outros precisam estar aqui para terminar? – Podemos listar possíveis tópicos em uma lista de um acordo fnal? – Deixando de lado os termos específcos, o que precisamos para uma cláusula como esta? – Podemos acordar que nada será fnalmente fechado antes que tudo esteja terminado? Um bom resultado será alcançado quando bem planejado, que signifca serem reais e operacionais. Para a que os compromissos sejam passíveis de realização, devem ser observadas as se- guintes ações específcas: – Comprometimento, das partes, com o processo; – Evitar defnir compromissos até ter ouvido e aprendido o sufciente; – Formular compromissos em conjunto, simulando o compromisso e esclarecendo situações de compromisso – direitos e obrigações. 29 nEGOcIaçãO caso 4: MultiMode Informações Gerais J. Arnold é um dos três Vice-Presidentes da Multimode, empresa internacionalmente conhecida, sediada nos EUA, fabricando e distribuindo equipamentos de comunicação. Arnold está há sete anos na empresa – crescendo dentro de DRH e hoje ocupa a Vice- Presidência de Desenvolvimento de Recursos Humanos (DRH). Antes da Multimode, Arnold trabalhou dez anos em uma concorrente da Multimode. Multimode possui três diferentes divisões. A original e maior divisão é a divisão fabril da Multimode, com 8.000 funcionários e fábricas em oito cidades. A divisão Multimode - Serviços de Comunicação, a menor divisão, com 4.000 funcionários, está localizada em quatro cidades. A terceira divisão surgiu quando a Multimode adquiriu a subsidiária Tonepitch do Canadá. A Tonepitch tem 5.000 funcionários e opera completamente in- dependente da Multimode com sua própria gestão. T. Boyd é um dos Vice-Presidentes para orçamento e fnanças na Multimode. Boyd é responsável pelo acompanhamento dos processos dos orçamentos anuais. Boyd está na Multimode há dez anos, ocupando várias funções antes de se tornar o VP de orçamento e fnanças ano passado. Boyd tem a reputação, por toda a empresa, de ser um gerente duro e com ambição ilimitada. Boyd acabou de fnalizar uma revisão detalhada do orçamento preliminar de cada de - partamento para o próximo ano fscal. Boyd está se reunindo com as lideranças de cada departamento para comunicar as recomendações de J.James (CEO) sobre as recomenda- ções para os orçamentos do próximo ano. A Multimode tem obtido bons resultados nos últimos cinco anos, com a receita bruta crescendo a taxa média de 11% ao ano durante o período. Entretanto, os custos têm crescido a taxas equivalentes. Se não fosse pelos espetaculares lucros da divisão Tonepitch, a Multimode não se apresentaria, nem de perto, tão lucrativa quanto se mostra. James (CEO) solicitou a Boyd que os gastos para o próximo ano não pedem crescer acima de 5%. James também deseja que a produtividade geral cresça. Arnold e Boyd se reunirão para discutir a reação de Boyd ao orçamento para DRH requi- sitado por Arnold. A pesar das diretrizes informadas por Boyd, indicando que nenhum departamento deve ultrapassar os 5% de crescimento no orçamento, Arnold requisitou um aumento de 8% no orçamento para DRH. Arnold anexou uma incrível quanti- dade de informações suportando seu orçamento, incluindo gráfcos demonstrando que orçamento corrente (atual ano fscal) para DRH foi muito inferior aos de empresas de tamanho comparável a Multimode. Arnold também demonstrou precisamente como o incremento no investimento em DRH contribuirá para o aumento da produtividade em toda a empresa. O DRH propôs uma reorganização fundamentada no modelo de gestão de RH adotado dois anos atrás pela Tonepitch. Arnold explicou que os 8% de aumento no orçamento de DRH é essencial para o sucesso da reorganização. A maioria das reuniões de Boyd com os outros departamentos, duraram menos de meia hora. Arnold recebeu informações de que nenhum departamento conseguiu mais de 5% de incremento no orçamento anual do próximo ano 30 nEGOcIaçãO 2.2.10. conformidade O elemento conformidade refere-se ao embasamento legal necessário à viabilização de um acordo. Refere-se à legitimidade dos contratos relativos à implementação dos acordos. Sendo observado também as leis e a estabilidade dos órgãos reguladores, responsáveis por legislar sobre o assunto, e estabelecer um foro de discussão. A análise da conformidade não somente dos contratos, mas de todo o ambiente no qual se estabelece que a negociação deve ser realizada, a fm de que a implementação e sustenta-
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