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CONSTRUINDO CONHECIMENTO:
saberes e fazeres da comunidade quilombola África e Laranjituba[1: Trabalho apresentado à disciplina Antropologia Cultural I, ministrada pela Prof.ª Dr. Ivone Maria Xavier de Amorim Almeida, para obtenção parcial de nota da 2ª NI do curso de Licenciatura em História da Universidade da Amazônia.]
Jairo Noronha Santos
Larissa de Nazaré Silva de Souza
Sérgio da Silva do Nascimento
Thays Adriele Oliveira Silva**[2: ** Graduandos do 2º Período do curso de Licenciatura em História da Universidade da Amazônia (UNAMA).]
Resumo:
Abstract:
Introdução
Localização e formação das comunidades.
De acordo com a história mantida pela cultura oral, a região onde ficam as comunidades, entre o rio Mojú e a atual rodovia PA-151, oficialmente no município de Abaetetuba/PA, pertencia ao senhor de engenho Raimundo Barata, que além destas possuíam outras dezenas de quilômetros de terra. Ás proximidades do igarapé Caeté havia engenho de produção de cachaça, extração de madeira e cacau. Além disso, existia uma senzala que funcionava como uma espécie de “produção humana”.
Raimundo Barata comprava várias escravas – que por serem do sexo feminino tinham um preço mais baixo – e pouquíssimos escravos do sexo masculino para a função de engravidar as escravas e assim produzissem mão de obra para o engenho. Acredita-se então que a partir disso se deu a ocupação dessa área por negros e mulatos, há quase duzentos anos.
Com o assassinato do senhor de engenho, protagonizado pelo próprio movimento de negros, as terras passaram a pertencer, simbolicamente, aos escravos que já habitavam ali. Conta-se também que Luis Rezende, ancestral das famílias remanescentes quilombolas, decide morar na área que hoje é conhecida por Samaúma, devido a produção de cacau e farinha. Escolhe uma mulher como esposa e muda-se com seu filho de outra mulher.
 Sua companheira e os filhos dela não aceitavam o outro filho, chamado de “bastardo”, chegando até a ameaçá-lo de morte. Então, Luis Rezende anuncia à família que ele mesmo mataria o filho para agradá-los e findar as divergências na família.
Ao invés de matá-lo, Rezende deixa seu filho onde hoje seria o Barracão, vai até a casa onde antes havia a “produção humana” de Raimundo Barata, escolhe uma mulher e trás para ser companheira de filho. O jovem casal tem nove filhos, que foram os responsáveis pelo povoamento daquela região, em especial as comunidades África e Laranjituba.[3: Barracão é o nome utilizado para se referir à oficina de produção de artesanato com cerâmica na comunida África.]
O primeiro reconhecimento oficial das comunidades surge na década de 1990, e logo em seguida
a associação [...] África e Laranjituba é institucionalizada em 2001, e em 2002 recebe do ITERPA (Instituto de Terras do Pará) a titulação de terra, que, em um primeiro momento, é obtido como título individual. Pouco tempo depois, para assegurar o direito ao território, foi alterado para a titulação coletiva de território quilombola.[4: SANTOS; AQUINO, 2012, p. 4.]
Os direitos ao território, citados por Adele Santos e Maria José Aquino, se dá a partir da possível venda de terras individuais, isso poderia contribuir com a perda da identidade quilombola, e talvez até a extinção da comunidade, se ocorresse de todos venderem suas terras. Mas, felizmente, criou-se entre as famílias uma nova mentalidade de preservação da cultura local. 
As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre “a nação”, sentidos com ao quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas.[5: HALL, 2010, p. 51.]
Portanto, o título de terra coletiva garante que toda a história e cultura sejam mantidas, afinal o território das comunidades tem fundamental importância por fazer parte dos símbolos e representações que dão sentido à identidade.
Outra problemática que envolve o território e a identidade é o descaso político dos municípios de Abaetetuba e Mojú pela não aceitação das comunidades em seus limites territoriais.
Desde a concessão do título coletivo de terra, as comunidades recebem recursos do município de Mojú – como o abastecimento de água e a realização de obras que possibilitaram o acesso às comunidades –, embora alguns documentos expedidos pelo governo do Estado e pesquisas do IBGE estejam descriminando que o território faz parte de Abaetetuba. Apesar das contribuições de Mojú, alguns recursos fundamentais como saúde e educação ainda são de difícil acesso para a comunidade, considerando que ambos os municípios não tomam a responsabilidade política para si, um argumenta através dos limites territoriais de Abaetetuba, o outro pela identidade Mojuense das comunidades. 
Ao longo da história da comunidade, toda nossa ancestralidade nasceu e cresceu Mojuense, mas em 2010 por jogada política todos acordamos Abaetetubenses. Então a identidade é Mojuense.[6: Magno]
 Por isso, hoje as comunidades mantém certa independência dos governos. Buscando no artesanato de peças de cerâmica e outros tipos de serviços (que serão descritos melhor no tópico seguinte) a geração de renda para a sua sobrevivência.
Nós gostamos de ser independentes. Se o governo quiser ajudar é bem vindo, se não quiser, pra nós não faz diferença nenhuma. Nós temos conseguido sobreviver sem governo.[7: Magno]
Conhecimento cultural: saberes e fazeres.
Os conhecimentos culturais são repassados de forma natural, através da convivência com os pais e a comunidade em geral. Não sendo necessário impor algo, pois o próprio meio já engloba o individuo. Por outro lado, existem duas escolas na comunidade onde se ensina o dito “ensino formal”.
As heranças deixadas por ancestrais do quilombo se manifestam ainda hoje na vida de cada indivíduo da comunidade, como por exemplo, o trato com as ervas e os seus benefícios medicinais. Devido a distância do centro urbano, e consequentemente ao acesso à saúde, as ervas são uma opção para a cura de algumas enfermidades, por exemplo a dor de dente que pode ser tratada com uma pequena raiz extraída da floresta, chamada Jambu-açú, que anestesia o local da dor.
Quanto ao trabalho, nas comunidades tradicionais o ofício é ensinado e aprendido no dia a dia com a observação e pratica de atividades manuais, tais como o trabalho das parteiras, que em muitos casos são passados de sua mãe e avó que talvez já tivessem tal ofício.
A moral é uma das questões significativas, pois a tradição cuida disso. Não há uma disciplina que cuide da moral no quilombo, a moral é parte integrante desse legado.[8: Magno]
Saberes que são encontrados no seio quilombola e que vem desde seu surgimento ate os dias atuais. E Fazeres, que se mesclam com a cultura tornando ambas dinâmicas, pois o que foi deixado de herança prevalece, porém não é estático, há a cada geração mudanças significativas ao modo de viver do quilombo. Mas isso não o faz perder sua identidade e sim intensificar a busca pelo seu reconhecimento.
 A vivência em comunidade e os meios de manutenção.
O trabalho é organizado e dividido desde a religiosidade – onde existem três crenças, umbanda, católica e evangélica vivendo passivamente e onde há um sincretismo entre os membros da umbanda e fieis da igreja católica – até a política da associação quilombola.
Esta última, por sua vez em um contexto geral, divide-se em dois núcleos: estruturação da comunidade e organização de contexto cultural e de identidade, a estruturação se apresenta como CEBS- Comunidade Eclesial de Base que é uma comunidade católica responsável pelo cuidado do dia a dia da associação, como água, limpeza e social interno em geral.
Por outro lado, a comunidade também está constituída em personalidade jurídica, que cuida de questões maiores, como a exposição do quilombo à sociedade, titulações e estão a frente de projetos como o "Filhos do Quilombo" que foi criado em março de 2001, por RaimundoMagno Cardoso Nascimento e reestruturado em 2008, com o apoio de Claudia Suely Santos, para fortalecer as distintas manifestações culturais das comunidades Quilombolas de África e Laranjituba, com objetivo de preserva-las e/ou resgatá-las e divulgá-las quando necessário. 
Dentre as atividades desenvolvidas no projeto estão a educação, cultura, dança e musica, produção de instrumentos musicais etc. A produção de cerâmica está inserida nesse contexto,e carrega uma elevada representação, pois fortalece a identidade e ainda ajuda na manutenção econômica do quilombo, assim como a  produções de artesanato em artefatos de madeira, vassoura de açaí, talas e outras espécies de fibras naturais.
O quilombo é lugar de tecnologia ancestral, mas para muitos é visto como lugar de atraso[9: Magno]
A mulher também é um agente político e mediador dentro da associação, onde trabalha no Pastoral da Criança e segundo Raimundo Magno, estão tomando a frente da coordenação da comunidade. Assim, a convivência na Comunidade Quilombola África e Laranjituba vai se dando, com respeito e harmonia, pois juntos, podem expandir os limites de suas expressões.
A lei no quilombo é o respeito, seja ela com o próximo, com a natureza ou qualquer ser vivo. Estar em comunidade é saber respeitar. São raros os casos de roubo ou violência dentro do quilombo e a ajuda quando necessária vem de muitos.
África e Laranjituba tem acesso às redes telefônicas e internet, mantém uma página para a divulgação das ações culturais das comunidades. Todavia, o seu maior meio de comunicação é por si próprio. O grupo de capoeira e danças tradicionais, o artesanato e sua exposição à sociedade, que está se expandindo paulatinamente. 
Exemplo disso é o documentário “Som de um Mestre” que foi lançado em novembro de 2013, no barracão, financiado através de edital do Ministério da Cultura. Mestre Jorge, protagonista deste documentário, é o símbolo da comunicação e expressividade da comunidade. O músico com mais de 70 anos não ler nem escreve, porém em sua memória guarda letras e melodias que o documentário busca eternizar.
Assim, estes meios de comunicação estão intimamente ligados à manutenção cultural do quilombo, quando este precisa sustentar suas famílias, a melhor forma é se expressar, se fazer visto para não ser esquecido. 
Os meios de geração de renda são provenientes da produção e venda do açaí e da farinha de mandioca, serviços de limpeza de açaizais e do artesanato. É lugar de pessoas como qualquer outra, porém, com menos oportunidades, e por isso, a luta diária de manutenção do espaço e de identidade.
 Saberes da tradição oral e o contato com a natureza.
Sobre a comunidade tem muita tradição oral, só existe um documento que trata do surgimento deles, o resto é só pesquisas feitas por pessoas e alunos que os visitaram. É só muito disse me disse, disse que viu, são muitas histórias como, por exemplo, que existem buracos na floresta, que foram feitos por um tipo de carroça há algum tempo atrás , buracos esses que dizem que nascem homens com cabeça de cachorro e as pessoas que passam por lá são puxadas e levadas direto ao Japão, perto destes buracos tem um pé de caju, diziam que lá se ouvia vozes, e uma certa vez Magno e seu irmão passaram por lá e tinham duas pessoas lá fazendo diversos sons, aí eles lembraram dessas histórias e saíram correndo pensando que eram essas tais “vozes”.
A natureza é tratada com máximo de cuidados, temos que pedi permissão para poder entra nela para fazer a trilha e assim chegar na outra comunidade. E se acharmos algo interessante tem que demonstra que gostamos com um gesto de estalar os dedos para não assustar a natureza.
Da natureza são retirados vários conhecimentos culturais, tais como medicinais. Por exemplo, o modo como eles extraem um dente, usam como anestesia uma raiz de uma planta chamada Jambu-açú que depois de mastigado, você não sente nenhum tipo de dor. Saberes de formas de sobrevivência na mata, nos foi ensinado pelo guia pertencente ao quilombo, onde o mesmo é o coordenador, como fazer um copo para beber água, com que tipo de folha fazer isto, de onde tirar água para beber.
Há uma bebida chamada EMU que faz parte da história da cultura dos quilombolas, ela é feita por 13 ervas e é fermentada a base de mosto e milharina, as ervas são encontradas na floresta.
Em uma situação presenciada por todos do grupo durante a trilha, foi quando Magno balança uma planta e sai milhares formigas, ele diz que isso representa a cidade e as pessoas, todo o caos e os congestionamentos das cidades.
Considerações finais.
Referência
HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2005.
SANTOS, Adele Teixeira dos; AQUINO, Maria José da Silva. Associação e comunidade em terra quilombola: em questão participação e a inclusão em redes pelo direito a políticas. In: XV encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste, 2012, Teresina. Anais. Piauí: UFPI, 2012.

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