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241 9. ANÁLISE ESTRUTURAL A observação de estruturas menores desempenha um papel fundamental na análise estrutural de uma área. Interessa analisar o seu estado de deformação e, através do seu mapeamento e com o auxílio de projecções estereográficas, estabelecer relações de orientação com outras estruturas, menores e maiores (que podem ter ajudado a reconhecer).1 Como exemplo, serão descritas as estruturas menores, observadas ao longo da costa atlântica, do norte da Cornualha a N. Devon, que inclui o corte clássico de Tintagel (Fig.9.1), descrito por G. Wilson (1951, 1961). Num percurso para NE, encontram-se, sucessivamente: Trebarwith, Tintagel, Crackington, Millord, Rillage Point, Boscastle, Northcott Mouth e Bude, na Cornualha, e Hartland Point, Baggy Point, Ilfracombe e Combe Martin, em N. Devon. Fig.91- Diagrama da estrutura geológica da área de Tintagel, Norte da Cornualha (G.Wilson, 1961) LITOLOGIA Metassedimentos e metavulcanitos. Do Carbonífero, são de referir turbiditos, argilitoos, vulcanitos; do Devónico, ardósias, xistos argilosos, grés, conglomerados e leito dolomítcos mais competentes. 1 No caso de áreas dobradas, convém analisar possíveis situações de interferência entre mais de um episódio de dobramento, assunto não abordado neste curso semestral. 242 ESTRUTURAS PRIMÁRIAS Estratificação (dobrada durante a orogenia varisca), almofadas de lava (pillow-lavas), bombas e brechas vulcânicas. Entre os fósseis, destaca-se Spirifer (nas ardósias do Devónico Superior). ESTRUTURA REGIONAL Embora as estruturas mais notáveis sejam dobras (definido-se um sinclinório de direcção axial E-W, a deformação regional é dominada por importantes carreamentos (thrust)2 Na estrutura regional abundam lineações indicadoras da direcção geral do movimento (eixo cinemático a ). ESTRUTURAS SEGUNDO a Alongamento das almofadas de lava, das bombas e das brechas vulcânicas; deformação dos fósseis e de manchas de redução; orientação preferencial dos cristais de turmalina e das clorites; sombras de pressão; rodding; slickensides. Fig.9.2- a. Sombras de pressão em torno de cristais de pirite (Trebarwith) b. Estruturas de estiramento (pinch-and-swell) (Trebarwith Strand) c. Slickensides (observadas em falhas inversas, por vezes, back-thrusts) (Tintagel) d. Rodding (Rocky Valley) 2 A estrutura regional é, efectivamente, mais complexa, pois a área não foi sujeita a uma única fase de deformação. a. b. c. d. 243 ESTRUTURAS SEGUNDO b Eixos de dobras parasíticas (drag folds), boudinage (e pinch-and-swell); fracturas de tracção. Fig.9.3- a., b., c. Dobras assimétricas (“drag folds”; estruturas pinch-amd-swell dobradas, em a. e em c.?) (Martin Combe, N. Devon). De notar que nas dobras observadas em a. e c. demonstram que a história geológica regional é mais complexa do que a simples subordinação a um carreamento. d. Estruturas colunares (Mullions) (Rillage Point, N. Cornualha) As fracturas de tracção ocorrem, frequentemente, em échellon, definido zonas de cisalhamento frágil-dúctil esquerdas. Por vezes, transitam a fracturas de corte (Fig.9.4-d), demonstrando um regime de rotura variável, em relação com uma pressão intersticial oscilante em torno de um valor crítico, de acordo com a lei das tensões efectivas. b. a. c. d. 244 OUTROS ASPECTOS Cisalhamentos esquerdos, refracção da clivagem (ao passar dos xistos para as almofadas de lava, mais competentes)e a orientação da clivagem ou da xistosidade, relativamente ao plano do carreamento. Fig.9.4- Fendas de tracção (veios sigmoidais) en échellon, definido zonas de cisalhamento esquerdas Um aspecto curioso é o da ocorrência de grandes chevrons recumbentes em Boscastle (Fig.9.5). Aí, a atitude das dobras contrasta com a das dobras de menor dimensão (mesoscópicas), mas com a mesma geometria, abundantemente observadas nas rochas carboníferas, entre Bude e Hartland Point. Nestas últimas, as dobras são horizontais-normais (i.e., eixo sub-horizontal e plano axial sub-vertical). d.c. (Baggy Point) a. Trebarwith b. (Bude) 245 Fig.9.5- Grandes dobras em chevron, afectando rochas vulcanoclásticas devónicas, em Boscastle Uma razão que tem sido avançada (v. N.J. Price e J.W. Cosgrove, 1990) para explicar a atitude das dobras em Boscastle apoia-se numa analogia com chevrons mesoscópicos, em que uma das bandas é, subsequentemente, deformada, como a Fig. 9.6 ilustra. Se assim foi, na área de Boscastle teriam existido chevrons horizontais-normais de grande dimensão que, actualmente, não se poderão observar. Fig.9.6- Dobras em chevron mesoscópicas. O dobramento de uma das bandas destas dobras origina dobras menores (chevrons, também) recumbentes. (Blackpool Sands, S. Devon) Conclusão Todas as estruturas menores conferem à estrutura regional uma simetria monoclínica e indicam o sentido do movimento geral, implicado por carreamentos.
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