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OFICINA DE TRADUÇÃO 1
CLASE 1
Embora tenha sido considerada objeto de estudo científico somente a partir do século XX, a tradução como prática ou ofício é tão antiga quanto a existência das línguas.
Além disso, esse processo também é complexo. Afinal, encontrar um direcionamento comum de critérios e pontos de vista no momento de qualquer tradução é bem difícil. 
As distintas escolas do pensamento que surgiram ao longo dos anos e que compõem essa área desdobram-se em diferentes tendências de análise. 
Por isso, é necessário estreitar, cada vez mais, o objetivo dessas abordagens.
A Linguística é considerada uma ciência recente, porque ganhou essa condição somente a partir do século XIX. 
As primeiras dúvidas envolviam a definição de tradução. A noção de interpretação atribuída à tradução e a necessidade de reformulação do texto de origem nos remonta ao processo tradutório já praticado na Antiguidade Clássica do mundo ocidental.
Nesse período, ao traduzir Protágoras, de Platão, Cícero (século I a.C.) encontrou-se diante do seguinte dilema:
O que homens como vós chamam de fidelidade em tradução os eruditos chamam de minuciosidade pestilenta. É duro preservar em uma tradução o encanto de expressões felizes em outra língua. 
Se traduzir palavra por palavra, o resultado soará inculto, e se, forçado por necessidade, altero algo na ordem ou nas palavras, parecerá que eu me distanciei da função do tradutor. (Cícero, 106-8 a.E.C.)
Em pleno século II d.C., pensadores da época já discutiam a temática da tradução, principalmente diante da divergência que ela gerava quanto às escolhas feitas por tradutores. 
Dessa forma, quando pensamos em tradução, não nos referimos, de imediato, a uma só teoria unificada sobre o assunto ou a um só modelo de traduzir, aplicado a todos os textos alvos desse processo.
As expressões tradução didática, tradução literal, tradução livre, a poesia ou a prosa, as diferentes modalidades e os distintos gêneros textuais de tradução demonstram que há uma diversificação nesse campo de estudo e na análise dessa área do conhecimento. 
Milton (1999, p. 28) – um dos principais estudiosos sobre o tema – afirma que a tradução:
“[...] abre a janela para deixar a luz entrar; quebra a casca, a fim de podermos comer a polpa; abre a cortina, a fim de podermos olhar o lugar mais sagrado; remove a tampa do poço, a fim de podermos tirar a água”.
É essa concepção, inclusive, que nos ajuda a entender o motivo da tradução de um texto clássico.
Lidamos com culturas com um enorme acervo intelectual, cuja produção de textos sobreviveu a milhares de anos – ao contrário dos membros dessa cultura.
O acesso a esse universo nos proporciona uma grande riqueza cultural. E já que nem todos têm a oportunidade de entrar em contato com esses textos em suas versões originais, cabe ao tradutor abrir as portas desse universo.
Há quem defenda a ideia de que o campo da tradução é difícil de explicar, por acreditar que se trata de uma tarefa reservada a um especialista.
Mas, por vezes, nós nos esquecemos de que traduzir é o resultado final de uma operação fundamental da linguagem, feita há milhares de anos. 
 
Para Ouyang (1993), o mundo não teria história sem a tradução. Basta considerar o surgimento de algumas civilizações – como a romana, a italiana, a francesa, a alemã, a inglesa e a russa – e o papel da tradução no desenvolvimento dessas culturas. 
Aliás, Derrida (1972) – um dos maiores estudiosos desse campo – sempre procurou reduzir o debate de opiniões contrárias e a favor da tradução. Afinal, para ele, o texto traduzido nunca vai ocupar o status de um texto original, mas, através do processo tradutório, é possível levar ao público leitor uma obra completamente antes inacessível a ele. De acordo com Derrida (1972, p. 26): “Deveríamos pensar na tradução como uma transformação regulada de uma língua em outra, de um texto em outro. [...] Nunca se tratou de alguma espécie de ‘transporte’ de uma língua a outra, ou no interior de uma única e mesma língua, de significado(s) puro(s) que o instrumento – ou o “veículo” – significante deixaria virgem(ns) e intocado(s)”.
Britto (2007) lembra que o próprio público leitor parece entender que traduzir significa fornecer a oportunidade de ler um texto em língua estrangeira, cujo domínio fluente não faz parte da realidade da maior parte da população.
Paes (1991), toda tradução funciona como uma mediação entre culturas de diferentes povos de mesma ou distinta época. 
Além disso, no passado, traduzir significava uma tentativa de compreensão global em busca de um único sentido, devido à falta de comunicação provocada pela existência de diversas línguas.Ao longo do processo tradutório, lidamos com culturas mais ou menos próximas, o que exige dos tradutores uma habilidade bastante refinada na hora de transpor as diferenças ou mesmo as semelhanças entre essas culturas. 
Seguindo as setas da esquerda para a direita, de cima para baixo, a partir do texto da língua-fonte, há uma análise. Em seguida, uma transferência e, então, a reestruturação desse texto, que resulta em uma versão traduzida na língua-alvo.
Todo esse processo de transferência e seu posterior resultado são os responsáveis por tantos debates sobre a tradução.
LÍNGUA FONTE ( TEXTO ( TRANSFERÊNCIA ( ANÁLISE / RESTAURAÇÃO ( TRADUÇÃO ( LINGUA ALVO
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
BRITTO, P. H. O lugar da tradução. In: ALMEIDA, C. J. M. de. et al. (Orgs.). O livro ao vivo. Rio de Janeiro: Centro Cultural Cândido Mendes/IBM Brasil, 2007.
DERRIDA, J. A escritura e a diferença. Tradução de Maria Beatriz Marques Nizza da Silva. São Paulo: Perspectiva, 1972.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
OUYANG, K. A companion to study translations. São Paulo: EDUSP, 1993.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
http://alpheios.net/
CLASE 2
Para alguns estudiosos – ou até mesmo alguns leigos –, traduzir é sempre uma prática que gera prejuízos. Então, a única forma de conhecer um texto em todo sua essência é lendo o original. 
Claro que conhecer a literatura em um idioma estrangeiro é sempre o ideal, mas será que alguém tem condições de ser fluente em todas as línguas em que determinado texto foi escrito?
O dilema de traduzir ou não sempre foi alvo de discussões. Virgínia Woolf, por exemplo, afirmou que, ao ler uma tradução do romance russo, parecia usar óculos desfocados. 
Essa ideia de uma leitura turva é compartilhada por muitos acadêmicos, principalmente quando se trata da tradução literária – seja esta prosa ou poesia. 
Mas Jakobson (1971) nos conforta quando afirma que toda experiência cognitiva – e a tradução se insere aí – pode ser traduzida e classificada em qualquer língua. 
Portanto, se houver um problema ou uma deficiência no processo tradutório, a terminologia poderá ser modificada por empréstimos, calcos, neologismos, transferências semânticas e, finalmente, por circunlóquios. 
O que seria do mundo ocidental sem conhecer Homero, Dickens, Edgard Allan Poe, Dostoievski e outros autores consagrados?
Nãopodemos limitar o acesso aos originais a um pequeno grupo de pessoas que detêm o conhecimento de determinado idioma estrangeiro.
Ao contrário: como tradutores, temos a obrigação de nos empenhar e de refinar nosso trabalho, a fim de levar um material de qualidade a um leitor interessado naquele conteúdo. É justamente a tarefa do tradutor que permite aos leitores contemporâneos construir as civilizações perdidas. Em outras palavras, a tradução é o portal pelo qual temos acesso ao passado. 
Há culturas que se separam e se tornam ininteligíveis a outras, muitas vezes pelo simples fato de falarem idiomas diferentes. 
Mas, ao mesmo tempo em que se distanciam, esses povos compartilham ideias e valores em comum e também podem aprimorá-los com base no que conhecem do outro. 
O papel do trabalho de tradução é exatamente criar essa ponte, e o tradutor é aquele responsável por planejar tal construção.
TRADUÇÃO DO PONTO DE VISTA TEÓRICO
No estruturalismo de Ferdinand Saussure, a relação criada entre o significante e o significado era construída socialmente de forma arbitrária. Isso geraria problemas aos tradutores, já que os signos isolados não seriam portadores de significado. 
Por exemplo, vamos pensar na palavra “cachorro”, em português, e em suas correspondentes “perro” e “dog” – em espanhol e em inglês, respectivamente.
Esse conceito originado do estruturalismo perdurou e ainda sustenta muitos pontos de vista sobre a possibilidade ou não de traduzir um texto – ao menos quanto ao grau de sua qualidade.
Seguindo a máxima saussureana, então, o texto traduzido existe à diferença dos outros textos.
Deixar de traduzir palavra por palavra parece fazer parte de um acordo entre a maioria dos estudiosos. 
Mas, no momento em que se busca traduzir o sentido do texto, surgem os embates. Afinal, os elementos que constroem esse sentido são alvos dos mais diversos questionamentos.
Como sabemos, há diferenças de organização sintática entre muitas línguas – como o grego e o latim, por exemplo, no caso das antigas, ou mesmo as modernas eslavas – e o português. Por isso, no momento da tradução, a ordem dos elementos originais de uma frase muda completamente. 
Dessa ideia, surge a oposição forma x conteúdo. Será que privilegiar um desses aspectos gera prejuízos ao outro? 
No processo tradutório, é importante verificarmos até que ponto esses elementos estão relacionados com o caráter literário da obra: esse valor se deve somente ao conteúdo ou também à forma do texto que será traduzido? 
Com base na resposta a essa pergunta, o tradutor deve fazer suas escolhas.
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Tradução: promovendo a interação cultural
Na década de 1970, teóricos da tradução passaram a avaliar esse ofício como vital para a interação entre povos. Nesse período, foram propostas reflexões que defendiam o processo tradutório como essencial para diminuir as fronteiras culturais.
Zohar (1978), por exemplo, afirmou que nenhum observador da história de qualquer literatura pode evitar reconhecer como fato importante o impacto das traduções, e seu papel na sincronia e diacronia de certa literatura.
A partir desse ideal, Bassnett & Lefèvre (1992) coroaram tal raciocínio, indagando que: “[...] se a tradução é, de fato, como todos acreditam, vital à interação entre culturas, por que não dar um passo adiante e estudá-la, não apenas treinando tradutores, mas refletindo sobre a interação cultural?”.
De acordo com os autores, a tradução deve oferecer uma situação laboratorial ideal para o estudo da interação cultural, uma vez que a comparação entre o texto original e o traduzido mostra as estratégias empregadas pelos tradutores em certos momentos e revela o status diferente entre os dois textos, em seus sistemas linguísticos e literários. Além disso, a tradução expõe a relação entre dois sistemas culturais em que os textos estão incorporados.
Por fim, difundiu-se, também, a ideia de que a tradução representa um processo de transformação. Em outras palavras, quando traduz um texto, o tradutor transforma aquilo que leu em A para a versão escrita B.
Referências
BASSNETT, S.; LEFÉVRE, A. Translation, rewriting and the manipulation of literary fame. London/New York: Routledge, 1992.
ZOHAR, I. An outline of a theory of the literary text. Ha-Sifrut, III (3/4), Tel Aviv, 1978.
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BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6. Disponível aqui.
JAKOBSON, R. Linguistica e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1971.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MONTI, J. La traduzione automatica deve sempre essere trasparente? Spunti di riflessione su trasparenza e qualità nella traduzione. In: GUARINO, A. et al. La traduzione: il paradosso della trasparenza. Napoli: Liguori, 2005. p. 299-318.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
CLASE 3 – O PAPEL DO TRADUTOR
Existe um trocadilho italiano bem famoso que une os seguintes termos: 
TRADUTTORE/TRADITTORE = TRADUTOR/TRAIDOR
Esse jogo de palavras nos revela que é comum a figura do tradutor ser vista de forma negativa – principalmente na comunidade científica, que, muitas vezes, ignora os pontos positivos de sua tarefa. 
 
Com exceção do contexto técnico, em que a tradução é considerada uma ponte necessária para os diversos interesses da sociedade, no contexto literário, com frequência, esse tipo de trabalho é rejeitado.
O trabalho do tradutor é muito importante, principalmente em uma sociedade em que grande parte da população é monolíngue e depende da tradução para acessar obras escritas em outra língua.
Mas o tradutor não precisa seguir rigorosamente e ao pé da letra as palavras do autor da obra original.
Até porque, dessa forma, não seria possível alcançar, de modo conveniente, a meta proposta: apresentar, de maneira clara, o texto-fonte, levando aos leitores tudo o que foi construído nele.
Sem dúvida, é difícil chegar a uma definição mais concreta desse profissional.
Na verdade, os tradutores são invisíveis para a sociedade, porque muitos estão desinformados sobre os aspectos que a tradução implica. Essa falta de informação atinge não só os leitores, mas também a crítica, a maioria dos editores e clientes, e, até mesmo, os próprios profissionais da área. 
Desenvolvidos nas últimas décadas, os estudos da tradução afirmam, quase sem exceção, que é necessário tirá-la, urgentemente, da marginalidade. A ideia é enfatizar o prestígio da profissão de tradutor. Para isso, o público precisa entender que traduzir não significa copiar ou repetir algo já publicado.
Critérios do processo tradutório
Todo estudioso de tradução tem de analisar previamente algumas condições e certos critérios que impulsionam a realização do processo tradutório.
Esse teórico precisa:
• Entender o motivo da tradução de determinado texto;
• Definir a que público se destina;
• Identificarseus objetivos específicos;
• Apontar os procedimentos práticos desse trabalho;
• Reconhecer as estratégias usadas pelo tradutor.
CONCEITO DE TRADUÇÃO
A propósito, o profissional de tradução desfruta de uma liberdade muito menor se comparada àquela de que dispõe quem não é formado na área, mas, mesmo assim, exerce esse ofício: um prazo de entrega maior para o texto traduzido. 
Essa flexibilidade garante um tempo longo para as melhores escolhas linguísticas e, também, para mais revisões até chegar a uma versão final.
CULTURA E TRADUÇÃO
É impossível para qualquer pessoa dominar tantos idiomas a ponto de ter acesso a toda produção cultural de um povo a partir de sua própria língua nativa.
Mas não há como negar que o conhecimento de culturas distintas diminui os horizontes das diferenças culturais entre povos. Dessa forma, um bom tradutor é aquele capaz de encurtar esse distanciamento natural entre indivíduos.
Desconsiderar a capacidade do tradutor de interligar diferentes contextos é NÃO reconhecer o que foi feito ao longo de nossa própria história.
Legado cultural da tradução
Estima-se que, hoje, há 6.000 línguas faladas no mundo todo. Com base no contexto histórico, as línguas mais faladas como L2 sempre tiveram como diretrizes os aspectos voltados para o mercado de trabalho – principalmente por questões econômicas. Esses dados desconsideram as línguas não faladas, embora sejam registradas em textos. Graças aos tradutores, todo um legado cultural nos foi deixado como herança pela Antiguidade, quando os recursos de registros eram muito mais simples e vulneráveis à passagem do tempo.
Devemos aos árabes, por exemplo, muito da tradução e conservação de manuscritos gregos, cujo rico conteúdo chegou até nós, sobrevivendo há milhares de anos. Como ilustração, a pedra de Roseta tinha seus hieróglifos e demótico traduzidos para o
grego, que, como língua global do mundo helênico, permitiu a Champollion decifrar a línguas dos faraós e remontar – guardadas as devidas proporções – um universo daquela época. Se isso não fosse feito, tais idiomas seriam indecifráveis para nós, tal como a língua dos etruscos.
OFICIO DO TRADUTOR
Um bom tradutor deve ser capaz de entender como o mesmo conteúdo pode ser expresso em sistemas linguísticos distintos, que podem ser mais ou menos próximos. 
Como exemplos, podemos citar as línguas de mesma família – como o português e o espanhol – ou aquelas sem parentesco – como o português e o mandarim. Então, dominar as particularidades linguísticas tanto do texto original quanto do texto-fonte é condição sine qua non para obter uma tradução de qualidade. 
Cabe ao tradutor, também, atualizar uma obra e suas traduções, que têm como obstáculos as mudanças sociolinguísticas decorrentes do tempo. O que ora soou atual pode parecer banal ou vulgarizado posteriormente. O que antes era comum pode parecer estranho depois. 
É justamente por isso que os alunos encontram dificuldades em ler textos antigos, de séculos passados, mesmo em suas línguas nativas.
Com o passar dos anos, o público leitor muda. Consequentemente, os tradutores precisam se adequar a essa nova realidade.
A formação do público leitor varia de época para época. Em outras palavras, tanto uma obra literária de qualidade quanto uma boa tradução vão se desgastando com o transcorrer do tempo.
As escolhas lexicais e de estilo de um tradutor podem parecer desatualizadas e pouco cativantes para um leitor posterior a ele. Devido a essa desatualização, a apreciação de uma obra literária fica comprometida.
Sabemos que a sociedade sofre mudanças constantes. Prova disso é a transformação contínua dos valores e das crenças, que se alternam ao longo do tempo. 
No campo da tradução, os trabalhos sociolinguísticos consideram essas mudanças fundamentais, enfatizando o caráter de transformação da língua. Por isso, em distintas construções linguísticas, socioletos e variantes obrigam o tradutor – como ponte entre textos – a manipular essas diferenças culturais e de registro.
Se o leitor de uma tradução mais antiga já está inserido em um contexto completamente diferente, é justamente nesse contexto que o profissional de tradução deve basear seu ofício.
Diante de uma variante arcaica ou já considerada em desuso por diversos fatores sociais, qual deverá se a posição do tradutor: carregar o texto através do tempo e do espaço, isto é, traduzir modernizando, ou, pelo contrário, preservar esse caráter arcaico da língua?
Com base na ideia que defendemos até agora, a tradução também deve se adequar ao público a que se destina e nunca permanecer anacrônica, ou seja, contrária aos costumes da época.
Se algum aspecto arcaico de um texto merece destaque, isso deve ser feito de forma paralela à tradução, por meio de notas e de comentários, levando ao público construções que se adequem à realidade de seu domínio lexical, que apresentem afinidades estilísticas etc.
Diferentemente da obra original, cujo conteúdo se congela após sua conclusão, uma tradução pode ser vista, revista, atualizada e lapidada. Dessa forma, o compromisso do tradutor de transpor toda a qualidade do texto-fonte ao texto alvo será bem-sucedido. Em outras palavras, novas traduções sempre são bem-vindas e necessárias para que o acesso às grandes obras de nossa história permaneça sempre crescente e capaz de alcançar um público cada vez maior. O tradutor é responsável pela atualização desse acervo e por sempre disponibilizar uma versão contemporânea de determinada obra literária.
Refletindo sobre a tradução
Como vimos ao longo desta aula, a tradução é positiva e necessária. Por isso, os tradutores devem, cada vez mais, aperfeiçoar seus métodos de trabalho e seu conhecimento linguístico, a fim de que o processo tradutório seja sempre aprimorado. 
Ao mesmo tempo, valorizar a tradução dever ser o primeiro passo do próprio tradutor. 
Enquanto os tradutores persistirem em não refletir sobre o trabalho delicado e complexo que realizam e enquanto não se decidirem por cuidar das condições e dos rumos de seu ofício, terão de aceitar o destino de marginalização que as instituições lhes reservam. 
Somente a partir da conscientização desses profissionais sobre o poder autoral que exercem e sobre a responsabilidade que esse poder implica, as relações perigosas que têm organizado tradutores e traduções poderão se tornar mais honestas.
Fidelidade e equivalência ao texto-fonte
Existem dois conceitos que sempre serão ouvidos no contexto da tradução: fidelidade e equivalência. Ambos são bastante discutidos em trabalhos voltados para essa temática. Primeiramente, podemos enxergar o tradutor como um dos destinatários da mensagem original, mas, no ato tradutório, seu papel é constituir uma primeira exploração dos problemas de ordem linguística – estilo, terminologia etc. – e factual que a tarefa de traduzir o texto em questão lhe irá impor. Nesse sentido, a equivalência pode ser compreendida como uma forma de revelar o desejo dos autores de sistematizar e controlar um processo que concebem como o de tentar igualar a tradução e o texto de partida. 
Sendo assim, é possível pensar em um texto equivalente a outro quando seus sentidos são iguais ou extremamente próximos.
Quanto à fidelidade, consideraremos o fato de que, sendo o texto literário ou não, a tradução somente poderá ser feita por meio de uma leitura ou interpretação. Dessa forma, o tradutor só será fiel àquilo que tem como original, já que essa interpretação depende de sua formação cultural e social. 
Retomando o que debatemos sobre a literalidade da tradução, é preciso que a consistência contextual prevaleça sobre a correspondência de palavra por palavra.
Por isso, lembre-se sempre: o tradutor não é coautor da obra original. Sua fidelidade está relacionada ao estilo do autor. Afinal, quando o tradutor “colabora” em algum texto e toma algum tipo de liberdade com relação à forma como foi escrito, ele se vale de uma “desonestidadeintelectual”. Sua possibilidade reside na mudança da estrutura superficial do texto original, buscando maior clareza e coerência. Acima de tudo, o tradutor deve ter, principalmente, um conhecimento especializado quanto ao tema da obra que ele se propõe a traduzir. Com efeito, traduzir é, de fato, uma acrobacia, no sentido de que o tradutor leva a
determinado público uma visão de mundo até então desconhecida para sua cultura, que não entende a língua veículo que a reproduz. Na verdade, a tradução deve ser sempre transparente, no sentido de não ofuscar ou cobrir o original. O reconhecimento do trabalho do tradutor é, portanto, uma resposta imediata a todo trabalho bem feito.
REFERENCIAS
BARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6. Disponível aqui.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
	MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
CLASE 4
Tradução de texto literário
Quando falamos em traduzir um texto e nas dificuldades que encontramos durante esse processo, na maioria das vezes, relacionamos tais obstáculos à tradução de poesia.
Por outro lado, os estudos científicos que têm como objeto de estudo a prosa literária ainda são mais reduzidos e exploram o assunto, com frequência, de forma superficial.
São exemplos de textos em prosa:
Novelas;
Dissertações;
Ficções;
Contos;
Comédias;
Hagiografias etc.
Esses tipos de texto revelam alguns percalços ao tradutor, que, por sua vez, deve recriar essa construção literária criativa em sua língua-alvo. Mas traduzir um texto literário não é como traduzir um texto técnico.
Em um texto literário como a prosa, antes de fazer uma tradução literal – “palavra por palavra” –, é necessário transportar à língua-alvo o estilo e a linguagem da língua-fonte.
Isso envolve compreender as escolhas feitas no original com relação:
Às figuras de linguagem;
À estrutura textual;
À organização sintática;
Ao léxico etc.
Todos os elementos textuais que elevam a condição de um texto e que o canonizam devem ser considerados na versão traduzida. É justamente nesse aspecto que está o desafio:
Como a manutenção desses elementos garante a preciosidade do texto original em sua versão traduzida?
Como e até que ponto a ausência de alguns deles pode ser suprida ou comprometer o trabalho do tradutor?
A tradução literária recebe uma designação própria por representar uma espécie diferente de tradução.
Isso é consequência de sua relação com um tipo de texto distinto, já que a própria classificação teórica contemporânea de gêneros textuais a inclui como categoria particular.
Mas, no Dicionário de estudos de tradução, em que há entradas para tradução literal e tradução livre, não há a especificação para tradução literária.
Traduções contemporâneas
Diante de um gênero textual chamado de texto literário, existe, sim, uma tradução correspondente, que pode assumir diferentes modalidades – como, por exemplo, ser mais livre, fiel ou literal, de acordo com as escolhas de seu tradutor.
Vamos entender como isso funciona na prática?
Analise, então, duas traduções do mesmo trecho – o primeiro parágrafo do Livro 1 do historiador grego Tucídides –, a fim de verificar como tradutores contemporâneos resolveram algumas questões do texto de origem:
Tradução de Mário Gama Kury
O ateniense Tucídides escreveu a história da guerra entre os peloponésios e os atenienses, começando desde os primeiros sinais, na ex­pectativa de que ela seria grande e mais importante que todas as anteriores, pois via que ambas as partes estavam preparadas em todos os sentidos.
Além disso, observava os demais helenos, aderindo a um lado ou ao outro – uns imediatamente; os restantes, pensando em fazê-lo.
Com efeito, tratava-se do maior movimento jamais realizado pelos helenos, estendendo-se, tam­bém, a alguns povos bárbaros – a bem dizer, à maior parte da humanidade.
Na verdade, quanto aos eventos anteriores e, principalmente, aos mais anti­gos, seria impossível obter informações claras, devido ao lapso de tempo.
Todavia, da evidência que considero confiável, recuando as minhas investiga­ções o máximo possível, penso que eles não foram realmente grandes – seja quanto às guerras mesmas, seja quanto a outros aspectos.
Tradução de Anna Lia Amaral
Tucídides de Atenas escreveu a guerra dos peloponésios e atenienses como a fizeram uns contra os outros.
Começou a narração logo a partir da eclosão da guerra, tendo prognosticado que ela haveria de ganhar grandes proporções e que seria mais digna de menção do que as já travadas, porque verificava que, ao entrar em luta, uns e outros estavam no auge de todos os seus recursos, e porque via o restante do povo helênico enfileirando-se de um e outro lado – uns imediatamente; outros, pelo menos, em projeto.
Essa comoção foi a maior para os helenos e para uma parcela dos povos bárbaros e, pode-se mesmo dizer, atingiu a maior parte da humanidade.
De fato, os acontecimentos anteriores e os mais antigos, ainda dado o recuo do tempo, era-me impossível estabelecê-los com clareza, mas, pelos indícios, a partir dos quais, em um exame de longo alcance, cheguei a uma convicção, julgo que não foram importantes – nem quanto às guerras, nem quanto ao mais.
Critérios de parâmetro para tradução
Com base em tudo o que discutimos até agora, que tal pensarmos em alguns critérios para estabelecer certos parâmetros de tradução?
Em primeiro lugar, o tradutor deve:
estabelecer o sentido geral do texto
reescrevê-lo em uma forma linguística aceitável
trancrevê-lo para determinado idioma
definir sua disposição textual de acordo com o gênero pretendido
ajustar ser padrão sonoro
checar o esboço com falantes nativos
preparar a versão final
Há, finalmente, um percurso traçado para orientar o profissional de tradução com relação a sua prática e delimitar o passo a passo desse processo. Vejamos...
Ao traduzir um texto em prosa, é comum que o tradutor elabore uma versão rascunho em primeiro lugar – geralmente uma tradução literal do texto original.
Em seguida, o segundo passo é adaptar a sintaxe e as escolhas lexicais para uma versão corrente na língua-alvo, a fim de adequar o texto ao público a que se destina a tradução. Por fim, o tradutor prepara a versão final.
Quando as línguas fonte e alvo pertencem a diferentes grupos culturais, o primeiro problema encontrado pelos tradutores de prosa é descobrir termos em sua língua nativa que expressem o mais alto grau de fidelidade possível ao sentido de certas palavras.
Por exemplo, há alguns vocábulos relacionados a fábricas, à culinária, a especialidades, a profissões, que representam específicas culturas. Os tradutores devem ter cuidado ao traduzi-los.
Desafios e habilidades da prosa
Os títulos de histórias e novelas são exemplos de trocadilhos ambíguos, que, por vezes, são difíceis ou impossíveis de traduzir.
Você já reparou como alguns filmes têm nomes em português completamente diferentes de seus títulos originais?
Com frequência, os trocadilhos dificultam a tradução, e ainda não há um padrão de solução específico para eles.
Alguns tradutores optampela inclusão de notas, a fim de explicar como esse jogo de palavras ocorre, esclarecendo, rapidamente, a construção semântico-morfológica da língua de origem. Outros, por sua vez, optam por traduzi-los, encontrando a melhor equivalência na língua-fonte.
Elementos culturais no processo de tradução.
Elementos como trocadilhos, que, geralmente, atribuem um tom de humor ao texto – como vimos anteriormente –, compõem o que chamamos de diferenças culturais. Outros elementos que se enquadram nesse grupo são: Medidas; Divisão de terras; Nomes de alimentos; Gírias etc.
Quando lidamos com um texto em língua literária, esse distanciamento cultural também fica evidente.
Nesse caso, lidamos com um objeto particular da cultura de um povo. Por isso, além de um comentário em uma nota de rodapé, resta, também, a opção de um apêndice ilustrado, em que seja possível reproduzir a imagem desse objeto, ou de uma nota explicativa por parte do tradutor.
Esse último procedimento foi adotado pelo tradutor Manuel Odorico Mendes, que evidenciou que os trípodas da Grécia Antiga não eram assentos de três peças comuns a nós, mas pequenos caldeirões usados para aquecer água.
De textos narrativos, descritivos, conceituais, argumentativos e instrucionais;
Decorrentes da transferência cultural, do tom e do modo textual, do campo temático, da presença de dialetos geográficos, sociais, temporais, de idioleto etc.
Com base no que estudamos, é correto afirmar que a prosa é um gênero literário? Justifique sua resposta com exemplos.
Sim, a prosa é um gênero literário dotado de características próprias. As obras Dom Casmurro e Dom Quixote são exemplos de textos em prosa.
Que mecanismos e habilidades um tradutor deve ter ao traduzir um texto em prosa?
Para traduzir um texto em prosa, o tradutor deve conhecer bem não só esse gênero literário, mas também:
Os trocadilhos utilizados na língua-fonte;
As características poéticas do idioma;
A forma de desenvolver uma narrativa.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5539/ijel.v2n6p97. Acesso em: 25 ago. 2015.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
CLASE 5
Manual de tradução de prosa
Vamos dar sequência ao contexto teórico de tradução de prosa com o estudo de um manual muito útil para tradutores.
Esse manual foi criado pelo pesquisadora Belloc, em 1930, e ainda soa bastante atual. Afinal, muitas teorias surgidas após sua publicação se apoiaram nas reflexões presentes nele. A autora elencou seis critérios que elegeu como regras para a tradução do gênero prosa.Veremos cada um deles a seguir.
Critério 1
O tradutor deve evitar traduzir “palavra por palavra” ou “frase por frase” de um texto.
Esse profissional precisa, na verdade, assumir a palavra como uma unidade global e ter em mente todo o sentido da obra ao realizar a tradução. A tradução literal não parece um mecanismo muito adequado, principalmente pelas limitações que impõe aos tradutores. É muito comum, por exemplo, que aprendizes iniciantes de uma Língua Estrangeira (LE) se preocupem em traduzir todas as palavras de uma frase nesse idioma como condição básica para a construção fiel de seu sentido original.
Critério 2
O tradutor deve traduzir o idioma da língua-fonte por um equivalente na língua-alvo, que, naturalmente, terá uma forma diferente. Essa orientação nos remete, primeiramente, à tradução de expressões idiomáticas que, com frequência, acentuam o grau de dificuldade de algumas traduções de textos em prosa.
Critério 3:
A intenção em uma língua-fonte deve ser traduzida por um propósito equivalente na língua-alvo.
Mas, muitas vezes, quando se faz uma tradução literal, o peso de uma expressão na língua de origem diferencia-se do peso (mais forte ou mais fraco) de sua correspondente na língua de chegada.
Nesse caso, o tradutor pode entender que é necessário acrescentar palavras para reduzir essa diferença.
Esse terceiro critério se aproxima bastante do anterior em alguns aspectos, e o profissional de tradução lida com ele em diversos momentos no processo tradutório de expressões com intensificadores.
Suponha que um tradutor se depare com uma narrativa em espanhol em que há vários palavrões. Ao traduzir esse texto, ele terá de pensar se suavizará ou dará a mesma ênfase a esses termos. Tudo vai depender de suas escolhas.
Se for uma situação de briga, por exemplo, será que os xingamentos se enquadrarão no mesmo contexto que em português?
Essas são algumas das decisões que esse profissional precisa tomar ao longo do trabalho de tradução.
Critério 4:
O tradutor deve evitar deve evitar as armadilhas de palavras semelhantes em línguas diferentes.
Por exemplo, o signo large, em Frances (generoso) ganhou em inglês a conotação de amplo.
Trabalhos que tratam da questão dos falsos cognatos ou falsos amigos sempre vão gerar várias discussões.
Não podemos nos esquecer de que termos morfologicamente parecidos em dois idiomas, mas com sentidos bastante distintos, são mais usuais em línguas aparentadas ou com uma base lexical de origem comum.
Isso automaticamente tende a diminuir quando lidamos com línguas de famílias diferentes.
Sendo assim, para confirmarmos o que mencionamos antes, as palavras actually em inglês (≠ atualmente) e cachorro em espanhol (≠ cachorro em português) são exemplos menos recorrentes no processo de tradução, devido à familiaridade entre os idiomas.
Critério 5:
O tradutor não deve ser escravo do texto da língua-fonte, pois os idiomas apresentam forma diferente. O profissional de tradução precisa, na verdade, apontar as mudanças que julga necessárias para a reprodução de seu efeito equivalente na língua-alvo.
Esse critério levanta uma questão muito importante no processo tradutório: sabemos que, por vezes, a sintaxe de duas línguas difere bastante. Por isso, cabe ao tradutor atentar para essas distinções.
Critério 6:
O tradutor não deve acrescentar elementos que não estejam na língua-fonte.
Esse último critério é, hoje, aquele com que os tradutores e pesquisadores da área de tradução mais concordam.
Em certo momento histórico, a interferência do tradutor na obra original – no sentido de modificá-la – até foi aceita por parte da comunidade desses profissionais.
Mas, atualmente, essa intervenção é considerada uma adaptação, ou seja, uma modalidade diferente de tradução, com características particulares.
O manual de tradução de prosa deve servir como um guia para orientá-lo ao longo dos trabalhos de tradução que possa vir a fazer algum dia.
Ferramentas do processo tradutório
Para traduzir um texto em prosa, o tradutor precisa:
Entender bem a língua-fonte – escrita e falada;
Possuir um excelente controle da língua-alvo;
Ter consciência do tema principal do livro que está sendo traduzido;
Dispor de um profundo conhecimento dos correlatos idiomáticos e etimológicos entre as duas línguas;
Considerar o senso comum quando metafrasear ou fizer uma tradução literal e quando parafrasear, a fim de garantir equivalentes exatos – e não falsos – entre a língua-fontee a língua-alvo.
Esses cinco itens são ferramentas ideais que devem estar prontas para serem aplicadas, com eficiência, no processo tradutório.
Traduzir um texto em prosa significa vencer uma série de obstáculos.
Por meio de um refinado e atento trabalho, é possível criar uma versão do mesmo texto em outro idioma, mantendo toda a qualidade que fez da narrativa da língua-fonte uma obra digna de ser lida em várias línguas.
Cite as diferenças sintáticas entre o espanhol e o português.
A língua espanhola possui uma organização diferente para a colocação pronominal, com aglutinações particulares e verbos como gustar, usando o sujeito posposto à forma verbal.
REFERENCIAS
ARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5539/ijel.v2n6p97. Acesso em: 31 ago. 2015.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
CLASE 6 TRADUÇÃO, LITERÁRIA O DE SERVIÇOS
Tradução literal ou didático-pedagógica – terminologia
Na verdade, é sempre muito complicado distinguir os variados tipos de tradução, principalmente porque autores podem dar nomes diferentes para determinado produto – às vezes, um nome distinto para o mesmo elemento.
Então, quando tentamos entender determinado conceito, devemos estar sempre atentos a suas definições – mais do que às terminologias –, porque é o conteúdo que importa.
Em um curso de idiomas ou de tradução, em uma sala com uma considerável quantidade de alunos, é natural que haja diferença quanto ao nível de domínio da Língua Estrangeira (LE). Por isso, é necessário identificar o grupo para o qual se traduz. Afinal, por melhor que seja, uma tradução sempre poderá ser substituída por outra à medida que o tempo avança. Logo, o público-alvo ao qual se destina varia muito: cada um possui uma dinâmica de leitura distinta daquele ao qual a tradução anterior era dirigida. A tradução literal é como uma fuga que acaba frustrada diante das idiossincrasias da sintaxe e da semântica de cada idioma.
De acordo com Paes (1991, p. 32):
“O pressuposto do unívoco, ou seja, de uma frase ter uma – e apenas uma – tradução possível, está implícito na pedagogia de Línguas Estrangeiras, cujos manuais costumam trazer, em apêndice, a chave ou resposta correta de cada um dos exercícios de versão/tradução propostos nas sucessivas lições. [...]
Sobre a tradução técnica, o pendor para o literal se faz presente na frequência de decalques do vocabulário especializado, a exemplo de hardware e software – palavras hoje tão em curso entre nós por força da avassaladora voga dos computadores.
Confirma-se, ainda, tal pendor na dificuldade de vernaculizar os decalques técnicos: raramente se vê, por exemplo, “retroalimentação” substituindo “feedback”.
Um estudante de espanhol tem a tendência de achar necessário traduzir todas as palavras de uma oração, a fim de que o sentido pleno, em português, seja alcançado.
Isso geralmente acontece com os aprendizes de um idioma estrangeiro. Mas não pense que é tão fácil perder esse hábito e entender que a tradução ultrapassa o nível da literalidade.
De início, a tradução literal feita nos exemplos anteriores bastou para encontrar palavras correspondentes de uma língua à outra.
Isso traz segurança ao tradutor. Afinal, no processo tradutório, é muito melhor conhecer todos os elementos de determinada frase da língua-fonte.
No entanto: Saber o significado de cada palavra não garante o sucesso da tradução, já que a combinação entre elas pode gerar significados completamente distintos se analisados individualmente; Quando faz uma tradução literal, o tradutor também segue a estrutura sintática da língua de origem e, muitas vezes, comete falhas de sintaxe da língua-alvo, como aconteceu no caso que analisamos.
A day or two ago. (Uno o dos días antes.
Neste primeiro exemplo, há um decalque direto da língua inglesa que poderia ser traduzido para “hace un día o dos” ou “hace escasamente un par de días” em língua espanhola. Ambas as frases estão mais próximas do cotidiano da língua-alvo.
Portanto, a tradução literal é o primeiro passo tanto no contexto de ensino e aprendizagem da língua quanto no detalhamento do texto que se pretende traduzir. Podemos usá-la nessas duas etapas do processo tradutório, mas ela não é adequada para a versão final da tradução.
Vejamos alguns tópicos essenciais para a construção de uma boa tradução – seja esta literária ou técnica:
LÍNGUA E CULTURA
Estes são fatores dominantes que fazem da tradução uma atividade intelectual tanto indispensável quanto complicada.
Adquirir uma LE é uma experiência muito densa e profunda, pois pressupõe a apropriação de sentidos.
Os profissionais de tradução têm a responsabilidade de levar a diversas culturas textos de autores variados, com diversos significados, dentro de determinado contexto – com o cuidado de não modificá-los ao traduzir o idioma.
É através da inter-relação entre língua e cultura que os tradutores esclarecem o problema da significação e encontram soluções que os conduzem à tradução intercultural.
No contexto da tradução literária, o trabalho do tradutor assume grande importância, porque se transportam determinada cultura e a visão de mundo de um autor a outra comunidade cultural.
Por isso, esse profissional precisa se preocupar com o que vai enunciar e como fazê-lo. Por exemplo, imagine uma tiragem de livros traduzidos ao alcance de milhares ou milhões de leitores. A distorção de seu sentido no momento da tradução pode levar tempo para ser desmentida ou interpretada da maneira correta.
EQUIVALENCIA
Esta noção é partilhada pelos linguistas e teóricos da tradução. Os linguistas a associam à língua enquanto sistema, e estudam suas diferentes estruturas e funções. Já os teóricos põem a equivalência no plano do discurso, e a percebem como resultado da interação entre o tradutor e seu texto.
Desse modo, a tradução é considerada uma operação dinâmica de produção, e não um simples processo de substituição de estruturas ou de unidades preexistentes em uma língua por aquelas de outra língua.
A equivalência ideal seria, portanto, aquela que, em uma situação de assimetria, permitiria que o texto de chegada funcionasse ou tivesse alguma utilidade/finalidade prática na cultura receptora da tradução.
Esse conceito, inclusive, deve ser levado em conta nas duas modalidades – tanto na tradução literária quanto na técnica –, uma vez que os tradutores sempre têm de escolher os melhores termos não só para seguir o contexto da obra original mas também para alcançar o público-alvo da tradução.
Você percebeu, agora, por que o trabalho do tradutor é tão difícil? Do ponto de vista teórico, essa tarefa parece impossível, mas, na prática, refinando suas habilidades, esse profissional consegue obter sucesso em seu ofício.
PERDAS E GANHOS
Geralmente, as análises de traduções feitas pelos críticos avaliam o grau de perdas e ganhos alcançado pelo tradutor.
Afinal, é impossível realizar uma tradução perfeita. Na prática, o profissional de tradução não traduz, necessariamente, todas as palavras do texto original, ou seja, ele não fazuma tradução literal. Por isso, sempre haverá prejuízos e benefícios.
A sugestão é desenvolver um processo de negociação que visa compensar, da melhor forma, essa inviabilidade. Logo, a preocupação do tradutor precisa abranger o nível semântico e estilístico do autor do texto de origem.
Em outras palavras, em seu ofício, esse profissional deve ser capaz de:
Anular as perdas nos lugares mais adequados, mantendo, de alguma forma, o sentido ou a forma do texto-fonte;
Valorizar os ganhos, isto é, os elementos da língua-alvo que refinam a tradução, mas não são encontrados no texto original.
Não se trata de omitir ou adicionar algo ao texto de partida, mas de processar seus elementos para obter um resultado satisfatório em outra língua.
INTRODUZIBILIDADE
Esta é uma das maiores infelicidades do ofício da tradução. Trata-se da peculiaridade de um texto ou de uma expressão em determinada língua para os quais o tradutor não consegue encontrar o equivalente em outro idioma.
Há dificuldades de traduzir todos os tipos de textos – literário, técnico etc. –, palavras e expressões – nomes próprios, gírias ou a terminologia de certas profissões.
Cabe ao tradutor experiente reconhecer esses termos intraduzíveis e utilizar técnicas e procedimentos que permitam preencher essas lacunas.
Mais adiante, apresentaremos algumas situações de intraduzibilidade, em que o profissional de tradução precisa escolher recursos para contornar esse obstáculo.
ORIGINALIDADE
Um texto original é aquele considerado inédito, diferente, que não se iguala a nenhum outro. Se pensamos assim, ser fiel a esse texto significa justamente não copiá-lo, certo?
A tradução não deve se vista como cópia do original, mas como uma relação entre duas línguas. Desse modo, o tradutor não mantém fidelidade ao texto-fonte, e sim ao que considera como tal, a partir de sua visão e do contexto no ato tradutório.
FIDELIDADE
Até a primeira metade do século XX, esta concepção era pautada na crença de equivalências entre os dois textos e as duas culturas em contato no momento da tradução.
A teoria sobre o tradutor e a tradução escrita estava associada à imitação do texto de partida e ao respeito a seu autor.
Mas essa ideia foi ganhando novos contornos. A fidelidade ao texto-fonte foi, então, redesenhada, e o tradutor passou a pensar em três varáveis: O QUE, PARA QUÊ e PARA QUEM estava traduzindo.
Sendo assim, esse profissional começou a ser fiel a suas escolhas e a sua visão de mundo, o que o permitiu seguir um caminho em seu ofício.
Tradução literária é a tradução profissional de uma obra de literatura. Já a tradução literal é aquela mais pedagógica e primária.
REFERENCIAS
BARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5539/ijel.v2n6p97. Acesso em: 11 set. 2015.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
CLASE 7 – TECNICAS DE TRADUÇÃO
Tradutor X interpretador
Um tradutor atua em traduções de textos escritos, tais como manuais, crônicas, novelas, contos e romances. Nesse caso, é muito importante que ele tenha um olhar minucioso para os diferentes gêneros textuais para, assim, ser bem-sucedido nas
escolhas de cada um desses textos. Além disso, um tradutor tem mais tempo para consultar as chamadas ferramentas de apoio. 
Vamos recordar, então, três competências básicas de todo tradutor:
Capacidade de estudo: O profissional de tradução precisa se preparar principalmente para traduzir assuntos novos. Para os já conhecidos, basta repassar os glossários para reavivar o vocabulário.
Conhecimento de línguas: Ao contrário do que alguns pensam, a língua materna é mais importante do que língua-alvo da tradução, já que é nela que o tradutor ou intérprete vai se expressar na maioria das vezes – em especial, no início de carreira. É difícil acreditar que uma pessoa que não saiba bem sua própria língua consiga se expressar melhor em outra.
Excelente cultura geral: Para surpresa de muitos, esta competência é a mais importante. Nunca se sabe o que um orador pode mencionar em uma conferência – desde uma viagem de pesca (com todos os respectivos equipamentos) até uma citação de obra estrangeira (às vezes, até na língua original). Nesse momento, não há dicionário que possa auxiliar o tradutor. Normalmente, a experiência faz toda diferença.
Observe que há uma série de elementos com que o tradutor deve se preocupar, tais como:
Poeticidade;
Escolhas lexicais;
Adjetivações;
Figuras de linguagem;
Comparações etc.
Todos esses elementos reunidos exigem do tradutor uma habilidade específica. Mas, como se trata de um texto escrito, ele também tem mais tempo para trabalhar essas categorias e buscar um resultado satisfatório no momento da tradução.
Um desses trabalhos é o de legendagem, que exige do tradutor duas habilidades distintas:
O domínio fluente de um idioma estrangeiro – pois ele terá de traduzir por escrito aquilo que ouve;
O excelente domínio da norma culta de sua língua materna – pois ele terá de escrever de acordo com as regras prescritas pela gramática.
Imagine quantas gírias o tradutor deve conhecer no momento de legendar uma produção desse tipo.
Nesse universo, há uma necessidade de adequar a legendagem a questões de censura impostas pelo próprio órgão nacional regulador das idades mínimas dos filmes.
Além disso, existem dois limites básicos:
O número de caracteres que cabem na tela;
O tempo de leitura necessário – proporcional à quantidade de caracteres.
O segundo se impõe ao primeiro.
A legendagem permite que o espectador desfrute dos diálogos originais. Além disso, é mais rápida do que a dublagem.
Por outro lado, nem todo mundo gosta de assistir a um bom filme com legenda, que é considerada um elemento de distração.
DUBLAGEM
Na dublagem, é preciso respeitar a métrica, o movimento labial e a interpretação dos atores. Nesse caso, o texto tem de ser dito de modo bem natural, o que é um dos obstáculos desse processo. Para entender melhor como funciona esse trabalho, assista a uma entrevista com um dublador brasileiro, que fala um pouco sobre o dia a dia de sua profissão.
Preconceito com as modalidades de tradução
Há uma polêmica muito grande quanto à qualidade dos filmes dublados. Muitas vezes, o senso comum os associa à baixa capacidade intelectual ou cultural do indivíduo. Talvez, você até já esteja familiarizado com esse estereótipo, mas se trata apenas de um preconceito. Os tradutores precisam combater essa ideia, já que é completamente paradoxal com relação a seu trabalho. A escolha por um filme dublado ou legendado é muito subjetiva. Por isso, não devemos julgá-la. Lembre-se sempre de que:
 O tradutor não pode fazer juízo de valor preconceituoso sobre a oposição dublagem x legendagem;
 Ambas as modalidades de tradução exigem um trabalho refinado e envolvem um alto custo;
 A expansão do mercado consumidor gera novas demandas;
 Tanto os filmes dublados quanto os legendados têm um público específico.
CRITERIOS DE TRADUCCIÓN
Nos contextos da legendagem – texto escrito – e da dublagem – nível dafala –, precisamos pensar em três critérios. São eles:
LEGENDAGEM: Adequação ao léxico e à sintaxe. Cosntrução de sentido
DUBLAGEM: 	Adequação ao léxico e à fala, adequação ao sentido original.
Vamos pensar na distinção entre a dublagem e a legendagem. Analise a seguinte frase original em espanhol:
No sé por qué me provocas tanto o lo que hizo contigo, pero, por favor, déjame ir, déjame vivir mi vida.
A seguir, há duas versões em português dessa frase. Qual delas você acredita que é a dublada? E a legendada?
LEGENDADO: Percebeu as diferenças entre as versões? Na dublada, há a preocupação em sincronizar o movimento labial – quando se fala – com o conteúdo traduzido do texto. Esse é, provavelmente, o maior desafio da dublagem.
DUBLAGEM: Já na legendagem, não existe esse cuidado. Diante disso, concluímos que essas modalidades de tradução se distanciam muito.
TIPOS DE INTERPRETAÇÕ
INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA; Neste caso, o intérprete deve ficar em uma cabine com isolamento acústico, com fones para ouvir o orador e microfone para interpretar o idioma para o público, que escutará sua voz.
Como o próprio nome indica, este tipo de interpretação ocorre quase que simultaneamente, com pouquíssimos segundos de atraso. Dessa forma, o tempo da apresentação não precisa ser estendido. Sua desvantagem está na necessidade de equipamentos especiais – tais como cabine, fones, transmissores etc.
Esse trabalho também requer habilidade específica, bastante treinamento e, obviamente, excelente conhecimento das duas línguas.
A interpretação simultânea é mais estressante, pois, nela, é preciso trabalhar com três canais ao mesmo tempo:
Visão – para ver o que está sendo exibido;
Audição – para ouvir o que está sendo dito neste instante;
Fala – para traduzir o que acaba de ser enunciado sem tempo para consultar nada e de forma muito rápida.
INTERPRETAÇÃO CONSECUTIVA
Neste caso, o intérprete normalmente fica ao lado do orador e, após certo período, traduz o texto proferido por ele para outra língua. Esse profissional não necessita de qualquer material sofisticado – apenas de microfones, quando a plateia é maior –, mas sua fala demora, no mínimo, o dobro do tempo do discurso do orador.
Costumamos dizer que esta é a modalidade que desagrada a todos, pois quem entende o orador precisa ouvir o intérprete repetindo a mensagem em outra língua, e quem não o entende só compreende seu discurso através do intérprete.
COCHICHO OU CHUCHOTAGE: Neste caso, o intérprete sussurra no ouvido de uma ou de duas pessoas aquilo que está sendo dito pelo orador.
Este tipo de interpretação não deixa de ser simultânea, só que em condições mais adversas. Afinal, sem o auxílio da cabine e dos fones de ouvido, ao falar – mesmo em voz baixa –, o profissional precisa se concentrar mais no discurso do orador.
Às vezes, esse trabalho é feito por intérpretes presidenciais, que ficam ao lado e atrás da autoridade, fazendo a interpretação da forma mais discreta possível.
Trabalho do intérprete
A interpretação possui procedimentos próprios, há muito confirmados pela prática internacional, que datam de fins da Primeira Guerra Mundial, como, por exemplo:
a) Interpretação simultânea: Trabalho obrigatório de 2 pessoas para eventos de mais de 1 hora.
b) Interpretação consecutiva: Trabalho obrigatório de 2 pessoas para eventos de mais de 2 horas.
Está comprovado que, por mais que queira, o intérprete não consegue manter o mesmo nível de atenção e de desempenho por um período prolongado, o que não seria muito profissional de sua parte. O ideal é revezar a cada 20 ou 30 minutos,
dependendo do assunto e de sua dificuldade. Além disso, é necessário que o intérprete desenvolva sua função sob condições de
trabalho adequadas, dispondo de:
• Cabine com dimensões padrão mínimas;
• Iluminação;
• Equipamento de som com controle;
• Isolamento acústico e ventilação;
• Visão do que estiver sendo apresentado;
• Boa qualidade de som;
• Material para estudo prévio, se possível – na maioria das vezes, esse material não é fornecido. Existe até uma norma referente à construção de cabines de interpretação: ISO 2.603, de 1974.
REFERENCIAS
BARBOSA, H. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 2004.
BIELAK, J.; PAWLAK, M. New perspectives in language, discourse and translation studies. Berlim: Springer, 2011.
EDWIN, G. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. São Paulo: Madras, 2009.
HAQUE, Z. Translating literary prose: problems and solutions. International Journal of English Linguistics, v. 2, n. 6. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5539/ijel.v2n6p97. Acesso em: 18 set. 2015.
LEVINSON, S. C. Three levels of meaning. In: PALMER, F. R. Grammar and meaning: essays in honour of Sir John Lyons. Cambridge: UP, 1995. p. 90-115.
MILTON, J. Tradução – teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OUSTINOFF, M. Tradução: história, teorias e métodos. São Paulo: Parábola, 2011.
PAES, J. P. Tradução: a ponte necessária – aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 1991.
PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. Competência em tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
CLASE 8 – MODALIDADES DE TRADUÇÃP GENERO PROSA
DIFERENÇAS ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL
Lembre-se sempre de que, do ponto de vista linguístico – e aqui falamos como ciência –, jamais podemos defender a ideia de que uma língua é mais fácil de aprender do que outra, pois não existe uma verdade universal comprovada para essa máxima.
Diante da afinidade ou da origem em comum entre alguns idiomas, é natural que as pessoas tenham mais facilidade com determinada língua, mas isso envolve uma esfera subjetiva, e não uma comprovação científica.
Frente a essa situação, todo tradutor brasileiro especializado em língua espanhola deve sempre ficar atento a esses percalços para mostrar seu grau de fluência e o refinamento em seu trabalho, quando apresentar uma tradução.
Pensando, então, nas categorias gramaticais que poderiam ser as primeiras a serem debatidas, há uma classe de palavras que gera muita confusão não só aos tradutores do espanhol mas também aos próprios falantes da língua nos mias variados países: o uso dos pronomes de tratamento.
PRONOMES DE TRATAMENTO
Primeiramente, temos de recordar sempre que há uma hierarquia de valores – como respeito, confiança, cortesia – envolvidos no uso das formas de tratamento em espanhol.
Esse processo ocorre em praticamente todas as línguas, tanto do ponto de vista prático quanto do ponto de vista teórico.
Por questões culturais, as relações de tratamento em português não são as mesmas que em espanhol, e as normas postuladas pela gramática sofrem com as pressões de uso.
Vamos pensar na língua portuguesa quando conjugamos o verbo “falar” no Presente do Indicativo.
A gramática postula as seis formas para as flexões do verbo nesse tempo e modo, mas o que conhecemos na prática está muito distante dessa norma.
O pronome “tu” ficou restrito a apenas algumas regiões brasileiras e, nem sempre, é conjugado da forma correta.
Enquanto isso, o pronome “vós” virou quase um arcaísmo ou ficou restrito a textos extremamente formais e, ainda, àqueles pautados em tradições antigas.
CLASE 9 A 10 SOBRE PORTUGUÊS E ESPANHOL E TRADUÇÕES NA PRÁTICA
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