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PROMESSA DE DOAÇÃO - da Exigibilidade do Cumprimento

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PROMESSA DE DOAÇÃO 
(DA EXIGIBILIDADE DO CUMPRIMENTO.) 
 
Trataremos da admissibilidade do contrato preliminar de doação e a possibilidade de sua execução específica. 
Em que pese tenha o Código Civil, expressamente, conceituado o negócio jurídico de doação como um 
contrato, sua promessa gera dissenso na doutrina. Isso porque, a execução forçada parece ir de encontro com o 
animus donandi. 
Antes de tudo, cumpre relembrar que o contrato preliminar, pré-contrato, promessa de contrato, compromisso 
ou pactum de contrahendo, consiste em um negócio jurídico cujo objeto é a celebração de um contrato 
definitivo (obrigação de fazer). Trata-se de uma fase preparatória e dispensável. No entanto, sua prática tornou-
se muito comum por diversas razões (pendência de tratativas, pagamento parcelado, simples conveniência entre 
outros motivos), mas sempre com o fito de assegurar aquela última contratação. 
O compromisso pode ser: 
a) unilateral (contrato de opção) em que uma parte tem o dever de contratar em definitivo, enquanto a outra tem 
a opção de contratar ou não; 
b) bilateral, quando ambas as partes assumem esse dever. Neste caso, para que haja um compromisso exigível, 
não é possível existir cláusula de arrependimento. Contudo, se existir, cabe assinalar prazo para cumprimento, 
sob pena de suprimento judicial se isso não contrariar a natureza da obrigação. 
Exigir a celebração do contrato definitivo implica em notificar o devedor para cumprir o prometido ou recorrer 
ao Judiciário (obrigação de fazer ou adjudicação compulsória, conforme o caso) para promover a execução 
específica da obrigação, cabendo até perdas e danos. 
O contrato de doação, por sua vez, visa à transferência de bens e vantagens do patrimônio do doador para o 
donatário. 
Consiste em negócio jurídico bilateral, posto depender de duas manifestações de vontade para seu 
aperfeiçoamento. É também classificado como contrato unilateral, quanto aos seus efeitos, pela ausência de 
sinalagma, uma vez que confere deveres a apenas uma das partes: o doador. 
A doação tem como causa (núcleo ou essência) a liberalidade (animus donandi), assim, entendida como uma 
“ação desinteressada de dar a outrem, sem estar obrigado, parte do próprio patrimônio” (Carlos Roberto 
Gonçalves, p. 279, 2011). 
Por ser um contrato e tendo em vista a inexistência de qualquer ressalva legal, devemos aplicar à doação todo o 
regramento estudado na Teoria Geral dos Contratos: princípios, defeitos do negócio jurídico, requisitos, 
invalidades, responsabilização, etc. 
Contudo, na doutrina, esse entendimento consequencial não é tranquilo, sobretudo no que tange ao tema ora 
proposto: da exigibilidade da promessa de doação. 
Quanto a isso, há quem entenda que na doação pura é vedado forçar a execução do pré-contrato. Isso porque, 
nesta modalidade, exige-se uma liberalidade plena (gratuidade), de modo que soa estranho e incompatível a 
ideia de desprendimento patrimonial com a imposição de doar. Todavia, em se tratando de doação onerosa, a 
exigibilidade parece ter fundamento já que o encargo atribuído ao donatário cria um dever ao doador. 
Em outra via, há quem admita a execução forçada da promessa de doação, não vislumbrando qualquer 
contaminação à mera liberalidade de doar. 
Parece-nos estar com a razão esta última corrente. Para entendê-la, precisamos identificar e diferenciar dois 
momentos: a manifestação da vontade e o cumprimento contratual. 
A promessa de doação exterioriza o animus donandi, ou seja, torna pública a intenção desobrigada de transferir 
bens e vantagens a outrem. De forma que, a partir desta manifestação de vontade, o doador criou uma justa 
expectativa no donatário. 
Como visto acima, o compromisso serve para assegurar o vínculo entre as partes – por qualquer motivo – 
embora o contrato definitivo (a efetiva transferência de bens ou direitos) se dará em momento futuro. 
A promessa de contratar não pode ser usada para ludibriar ninguém, isto é, criar expectativas de contratação e 
simplesmente ser desfeita, sem que haja qualquer segurança à outra parte ou sanções a quem quebrou a 
confiança. 
Ademais, da boa-fé objetiva, princípio base que orienta o Código Civil, decorre a vedação de comportamento 
contraditório (venire contra factum proprium). Por este conceito, protege-se uma parte contra aquela que 
pretende exercer uma posição jurídica contraditória face ao comportamento assumido antes. Nesse tanto, tem 
atitudes incoerentes aquele que assume o compromisso de doar, por meio de uma promessa, e de repente, 
desiste de fazê-lo. 
Em que pese a gratuidade marcante dessa contratação, esse modo de agir vai de encontro à boa-fé objetiva que 
sustenta as relações sociais, configurando verdadeiro abuso de direito pela quebra da confiança criada. 
Repise-se, ao promitente-doador não foi imposta a transferência gratuita de determinado bem, na medida em 
que ele próprio assumiu a obrigação de doar quando declarou, livremente, sua intenção. 
Perceba que, se o doador tivesse dúvida quanto à sua intenção ou aventasse a possibilidade de arrependimento, 
bastava nada manifestar sobre a doação e a questão existira apenas em sua psique. Contudo, a partir do 
momento em que ele, livremente, assumiu esse compromisso perante alguém, não nos parece razoável e ético 
que, sem justa causa, desista de concluir a contratação iniciada. E mais, não suporte as consequências legais de 
sua atitude incoerente. 
Sem contar que, se isso fosse aceitável, feriria o princípio da isonomia, pois, para qualquer contrato, de forma 
geral, a lei impõe obrigatoriedade de cumprimento ou responsabilização para o contratante que frustra, 
voluntariamente, o adimplemento. 
Outro momento distinto é o da execução forçada da obrigação quando existe o inadimplemento. Aqui, não há 
que se falar em proteção da liberalidade, mas, sim, garantia de cumprimento da obrigação firmada, extinguindo 
o contrato. 
Isso porque, a razão de ser de todo negócio jurídico é a livre manifestação de vontade e se a cada resistência das 
partes em celebrar o contrato definitivo fosse interpretada como ausência de vontade em dispor de bens e 
direitos, não haveria pacificação social, já que é comum a execução forçada dessas contratações, como nos 
compromissos de compra e venda. 
É necessário notar que a liberalidade está em momento anterior à transferência efetiva do bem. Primeiro se 
constata o animus donandi, depois se garante a satisfação do credor. 
Não importa que na doação tenhamos transferência gratuita de patrimônio, pois, ao exteriorizar a vontade de 
fazê-lo, o doador sabia exatamente no que consistia sua promessa. 
Não bastasse tudo isso, é válido salientar que a lei não proibiu a prática da promessa de doação e a sua 
aplicação em nada contraria o ordenamento jurídico. Aliás, ao contrário, sua exigência se coaduna aos 
princípios da função social dos contratos e boa-fé objetiva. 
_____________________________________ 
Autora: Nayara Moreno Perea (Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário de Araraquara (2012). 
Possui pós-graduação lato sensu em Direito Civil pela Anhanguera-Uniderp/ Rede LFG (2014). É advogada 
atuante na área civil). 
Disponível em: http://nayaraperea.jusbrasil.com.br/artigos/352470399/promessa-de-doacao?ref=home 
Referências: 
Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro – vol 3. Ed. Saraiva. 2011. 
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Novo Curso de Direito Civil – vol 4, tomo II. Ed. Saraiva. 
2012.

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