Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 1 O Princípio da Praticidade no Direito Tributário (Substituição...). Eduardo Maneira Meu caro presidente Alberto Guimarães Andrade, caro professor Helenílson Cunha Pontes, senhoras e senhores, vou pedir, por uma questão de praticidade, licença para falar de pé, porque, dado o adiantado da hora, daqui eu vigio a porta de saída (risos). Eu havia, também por uma questão de praticidade, preparado duas palestras, uma sobre o tema, e outra sobre as reais possibilidades de o Cruzeiro se tornar bicampeão brasileiro – na hipótese de o Helenílson falar em primeiro lugar e esgotar o assunto. Foi o que aconteceu, mas em respeito aos diversos atleticanos que estou vendo na platéia, vou me ater ao tema que me foi proposto, e nós dividiremos a nossa exposição em quatro partes: a primeira e introdutória, tratará do conceito do conteúdo da praticidade tributária; a segunda parte, das técnicas adotadas pela legislação para a implementação da praticidade, onde examinaremos especificamente as presunções e ficções jurídicas; a terceira parte examinará a substituição tributária como a modalidade de presunção jurídica relativa; e a quarta parte tratará as conclusões, com a identificação da praticidade, também a possibilidade da praticidade no exercício do poder judiciário. Iniciando então sobre a parte conceitual de praticidade. Nós vivemos, já foi dito aqui várias vezes, em um tempo caracterizado pelo imediatismo e pelo apelo a soluções práticas para as questões jurídicas em geral. O direito tributário também foi contaminado por isso que eu vou chamar de “a onda da praticidade”. Vislumbra-se no chamado princípio da praticidade tributária eficiência e celeridade na imposição tributária, bem com mecanismos a contra a evasão, e em seu nome adotam-se técnicas simplificadoras de arrecadação, com fatos imponíveis presumidos, e, conseqüentemente, bases de cálculo presumidas, muitas vezes em que flagrante afronta a princípios e garantias constitucionais, como adiante veremos. A praticidade tem por finalidade tornar o direito exeqüível, isto é, aproximar a norma jurídica da realidade que pretende regular. Em termos de tributação, a praticidade se manifesta em técnicas de fiscalização e arrecadação que, amparadas especialmente em presunções, tornam possível a tributação em massa, de modo célere e menos oneroso. De nada adiantaria instituir-se um tributo por uma lei cuja obediência por parte do contribuinte, e cuja fiscalização por parte da fazenda, se fosse impraticável no mundo real. A praticidade é exigida, segundo a Professora Misabel Derzi, para tornar a norma exeqüível, cômoda e viável de ser aplicada em massa – e assim também entendemos: esse é o nosso entendimento, semelhante também ao do Professor sacha Calmon, para quem a praticidade é, na essência, um atributo da legalidade, no sentido de que a lei Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 2 deve ser exeqüível e possível a aplicação. A praticidade como o princípio autônomo, como um princípio ético, é princípio vazio, sem conteúdo. A sua razão de ser é garantir a aplicabilidade da lei por meio de técnicas de simplificação que possibilitem alcançar realidades de natureza complexa. Falar de praticidade, portanto, é falar de os ficções e presunções jurídicas. As ficções e presunções de são técnicas legislativas utilizadas para tornar real, verdadeiro, aquilo que no mundo real não ocorre ou não existe tal como previsto na norma. As ficções e presunções são irrealidades que se tornam normas; uma vez normatizadas, é incabível questionar se as ficções espelham verdades ou mentiras. Enquanto normas, ou seja, realidades jurídicas, o que importa verificar é se seguiram o trânsito regular do processo legislativo e se são compatíveis com o texto constitucional vigente, isto é, se existem validamente. As presunções, por seu turno, são a previsão lógica do desfecho de um caso, baseada no resultado da generalidade de casos semelhantes. Podem ser, segundo a sua origem, legais ou comuns; quanto à sua força, absolutas, relativas ou indiciárias. As presunções absolutas e relativas sempre decorrem de lei; as indiciárias são aquelas decorrentes das presunções comuns, ou quando inferidas do raciocínio do aplicador ou intérprete do direito, que presume conseqüências jurídicas a partir de fatos que efetivamente ocorrem. As presunções absolutas são aquelas que não admitem prova em contrário, jure et de jure, e as relativas são aquelas que podem ser elididas pela prova. A diferença fundamental entre a ficção e a presunção é que a ficção deliberadamente torna realidade jurídica algo que não existe no mundo fenomênico, enquanto a presunção normatiza algo que não existe porque ainda não ocorreu, mas que se vier a ocorrer será daquele modo presumido. Aprendidos esses conceitos e as diferenças entre ficções e presunções, vamos examinar em que medida tais figuras têm utilidade no direito tributário e em que limite podem ser utilizadas. As ficções devem ser utilizadas pelo direito tributário como instrumento de combate à fraude, mas não como instrumento de concepção da hipótese de incidência tributária, isto é, como fonte de obrigação tributária em nome da praticidade. A utilização de ficções e presunções no direito tributário não é de todo proibida, mas deve estar em consonância com a constituição. Tributam-se fatos de expressão econômica e que estejam minuciosamente descritos na lei elaborada pela pessoa constitucionalmente competente para instituir aquele tributo. Desse modo, em nome dos princípios da capacidade contributiva, da legalidade estrita, e da rígida repartição de competência constitucional, não se institui tributo por ficção ou presunção legal. A ficção é absolutamente proibida para gerar obrigação tributária; o dever de pagar tributos decorre da lei que irá instituir os tributos cujas hipóteses de incidência já estejam contempladas na constituição, definidas em lei complementar, e pormenorizadas na lei ordinária. Nesse sentido pronunciou STF no Recurso Extraordinário n. Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 3 104.306-7, julgando inconstitucional o artigo 93 do Decreto-lei n. 37 de 1966, que considerava como estrangeira, para qualquer incidência do imposto de importação, a mercadoria nacional reimportada. Na época, assim disse o ministro relator Octávio Gallotti: Se a lei pudesse chamar de compra o que não é compra, de importação o que não é importação, de exportação o que não é exportação, e de renda o que não é renda, ruiria todo o sistema tributário inscrito na Constituição. As presunções devem ser utilizadas no direito tributário preferencialmente no campo das provas – é o que ocorre no artigo de 185 do CTN, que trata de uma presunção absoluta: “presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito com a fazenda pública por créditotributário regularmente inscrito como dívida ativa em fase de execução”. Trata-se de presunção absoluta porque, a rigor, é mais do que presunção – é uma constatação de fraude, a hipótese aqui descrita. As presunções, além de serem utilizadas no que se refere às provas, podem ser utilizadas como técnicas simplificadoras de tributação – ressaltando que também não podem ser utilizadas para criar um fato gerador. A ficção jurídica somente pode ser utilizada na norma jurídica que institui a obrigação tributária – e aí abre uma exceção – se for para beneficiar o contribuinte. Por exemplo: pode- se, por ficção, considerar como operação de exportação a remessa de bens para a Zona Franca de Manaus, a fim de que aqueles produtos remetidos possam ser beneficiados pela imunidade ou pela isenção aplicadas as exportações em geral. Do mesmo modo, a presunção absoluta tem um espaço reduzido no direito tributário, e deve ser utilizada sempre tendo em vista os princípios constitucionais tributários e em favor do contribuinte, como opção do contribuinte. Exemplo clássico da presunção absoluta em matéria tributária é o regime de imposto de renda presumido: o contribuinte do imposto de renda pode optar entre se submeter ao regime de lucro real ou ao regime de lucro presumido – é uma opção do contribuinte. Feita a opção pelo lucro presumido, em que se presume uma base de cálculo que será apontada como lucro da sociedade, a prova... – e aqui cabe um esclarecimento: por que se diz que a presunção absoluta não permite prova em contrário? Porque a prova é irrelevante. No caso em que se adota um regime de lucro presumido, por exemplo, presume-se que o lucro da empresa seja de R$ 100.000; é absolutamente desimportante o fato real de a empresa ter tido um lucro de R$ 200.000, de 300.000 ou 400.000: o regime é de lucro presumido e foi uma opção do contribuinte. Conceituadas ficção a presunção, vamos a um exemplo concreto de presunção relativa, e que tanta polêmica gerou e tem gerado, que é a substituição tributária para a frente – a substituição tributária para a frente, objeto recente e polêmica decisão do STF. A substituição para a frente só se concretiza se amparada na presunção: presume-se a ocorrência de um fato gerador para antecipar a sua obrigação, e, conseqüentemente, presume-se a base de cálculo do fato gerador futuro. No entanto, Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 4 vale relembrar que essa substituição tributária para a frente, que hoje é objeto de tanta polêmica, é assim desde o seu início – 1983, para sermos exatos. – e somente depois de vários anos de existência começou a ser questionada em juízo. A razão dessa polêmica toda é simples: quando a substituição progressiva ou para a frente foi implantada, vivia-se um período de economia controlada, com forte intervenção do Estado em todos os setores produtivos. Naquela época, a base de cálculo não era presumida, mas tabelada. Com a liberação da economia, com a extinção das tabelas de preços, é que começaram a surgir os problemas com a substituição para a frente, porque a base de cálculo começou a ser realmente presumida, e salvo raras exceções, presumidas em patamares superiores aos reais, causando deformações na tributação antecipada e ferimento ao princípio da capacidade contributiva dos sujeitos passivos, conforme se verá mais adiante. O fenômeno da substituição tributária recebe distintas explicações doutrinárias, que variam de acordo com o enfoque que se dá ao tema. Tal como pode parecer que seja o entendimento do Supremo Tribunal Federal em torno da matéria, poderíamos até imaginar que a substituição tributária para a frente fosse tratada como uma ficção, ou uma presunção absoluta. Mas não é o caso, como nós vamos ver. Na verdade, a substituição tributária é um exemplo cabal de praticidade tributária. Ao invés de se fiscalizarem milhares de pontos de venda de cigarro, fiscalizam-se duas ou três indústrias tabagistas. Ao invés de se fiscalizarem milhares de pontos de bebida, como foi dado o exemplo aqui hoje, fiscalizam-se cinco ou seis fábricas de cerveja. Ao invés de se exigir de milhares de produtores rurais a emissão de nota fiscal e o recolhimento de ICMS pela venda do leite, exigem-se tais obrigações dos poucos laticínios existentes, e assim por diante. O substituto é recolhido pela lei para pagar tributo devido por fato gerador praticado pelo contribuinte. Na hipótese de substituição tributária para a frente, em que a relação do substituto com o substituído é de vendedor / comprador, o substituído acrescenta ao preço que paga pelo produto o valor do imposto que o substituto recolherá em seu favor. No caso de substituição tributária para trás, em que a relação substituto / substituído é de comprador / vendedor, o substituto decota do preço do produto adquirido o valor do imposto objeto da substituição tributária. Vejamos, então, de que modo o Supremo julgou e concebeu a matéria substituição tributária para a frente quando julgou a ADIn n. 1.851-4 AL. Essa ação direta de inconstitucionalidade tinha por objeto uma cláusula de convênio, cláusula essa que dava a possibilidade aos estados membros de legislarem considerando definitiva a base de cálculo da substituição tributária para a frente. Era uma cláusula geral constante de convênio dando suporte aos estados membros parem suas respectivas legislações estaduais tornarem definitiva base de cálculo presumida. O relator foi o ministro Ilmar Galvão, mas o que importa aqui é levar o conhecimento de vocês trechos do voto do Ministro Sepúlveda Pertence e do ministro Sydney Sanches que, com base no Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 5 princípio da praticidade, entenderam como possível essa definitividade da base de cálculo. Olhem o perigo! Diz assim o ministro Sydney Sanches: “bem ou mal, o parágrafo 7º do artigo 150 da constituição constitucionalizou a substituição tributária, que a antiga legislação infraconstitucional permitia, e que nunca foi declarada inconstitucional, e o fez de modo a só assegurar a restituição de quantia paga caso não se realize o fato gerador presumido. Chegou a essa solução pela praticidade que a substituição viabiliza, no que concerne à arrecadação. Se se entender que tanto a complementação quanto a restituição decorrente do valor da operação subseqüente devem ser contempladas, então estará esvaziado o próprio instituto da substituição em seus razoáveis objetivos.” E foi nesta linha que o Supremo entendeu como possível a definitividade da base de cálculo no julgamento da ação direta de inconstitucionalidade, ou seja, em sede de controle concentrado. A decisão do Supremo a respeito da substituição deve ser examinada sob vários ângulos. Em primeiro lugar, no que se refere à possibilidade da adoção da substituição, entendemos que a posição do Supremo é acertada: exigir o pagamento antecipado de fato gerador que irá ocorrer no futuro não é ficção, mas sim presunção relativa, e, portanto, admitida no sistema tributário brasileiro. O dever de pagar, nos termos do artigo150, parágrafo 7º, está inexoravelmente vinculado à ocorrência futura do fato gerador. Tanto é assim que na hipótese de o fato gerador não ocorrer, o valor pago antecipadamente deve ser imediata e preferencialmente restituído. Não se trata de ficção porque não se está criando novo fato gerador, como parte da doutrina entende; é que para estes doutrinadores somente surge o dever de pagar com a ocorrência do fato gerador. Inversamente, se se exige pagamento é porque se considera, por ficção, ocorrido o fato gerador, para o revendedor do automóvel, por exemplo, no momento em que o veículo é retirado da fábrica, e não no momento em que ele o vende para o seu cliente. No entanto, vocês sabem que não é assim que funciona; o dever de pagar o imposto não decorre da ocorrência de um fato gerador previsto por uma ficção jurídica, porque se assim fosse não estaríamos diante sequer de uma antecipação do pagamento, mas do cumprimento de uma obrigação por fato gerador já ocorrido, por força de uma ficção. Na verdade o que se dá é exigência de um pagamento antecipado em razão de um fato gerador que, presume-se, irá ocorrer no futuro, e como se disse, trata-se de presunção relativa, bastando a prova de que tal fato gerador futuro frustrou-se para o contribuinte ter direito a restituição. No que se refere ao exame da definitividade da base de cálculo, a posição do Supremo deve ser apreciada em razão das circunstâncias em que se deu o julgamento aqui descrito. Uma coisa é o exame da matéria em sede de controle concentrado, no julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade; diverso é o seu exame em sede de controle difuso, isto é, no julgamento de um recurso extraordinário em que se aprecia um caso concreto. Em sede de ADIn, seria , em tese, possível admitir que os critérios estabelecidos em lei para Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 6 se chegar ao valor da base de cálculo presumida sejam razoáveis e proporcionais ao conteúdo econômico do fato gerador. Se a lei se utiliza, por exemplo, de tabela de preços ao consumidor final sugerida pelo próprio fabricante, seria difícil para o Tribunal, em tese, julgar inconstitucional o critério legal adotado. Aliás, as presunções no plano abstrato são sempre absolutas; somente no caso concreta que é se diferenciam entre absolutas e relativas, posto que as últimas admitem prova em contrário. Outra coisa seria, em sede de recurso extraordinário, havendo farta prova de que a base de cálculo presumida encontra-se distanciada da realidade, o Supremo considerar, assim mesmo, definitiva a presunção, somente para preservar o mecanismo da substituição e o princípio da praticidade. Ora, a definitividade de uma base de cálculo irreal representa total submissão dos princípios da capacidade contributiva, não confisco, razoabilidade e proporcionalidade, numa total subversão dos valores consagrados pelo sistema tributário, se formos homenagear somente a praticidade tributária. Se compreendermos o sistema jurídico como ordem axiológica ou teleológica de princípios jurídicos gerais, e se recordarmos que há uma escala de princípios, na qual os princípios gerais, portadores de valores éticos primários, como diz o alemão Klaus Tipke, ganham concretização com a aplicação de subprincípios a eles conexos e interligados, como admitir que a praticidade, mero atributo da legalidade, possa se sobrepor aos princípios fundamentais do direito tributário, em especial a capacidade contributiva, ou não confisco e razoabilidade? A definitividade da base de cálculo, nesses casos, é antes de tudo injusta, por submeter uma categoria de contribuintes, quais sejam, aqueles que integram a substituição tributária para a frente a um regime que permite ou que cristaliza uma base de cálculo confiscatória, posto que desarrazoada. Ora, não pode haver praticidade injusta; a praticidade se legitima se for instrumento que possibilite a aplicação da lei para todos, a fim de se evitar a evasão fiscal, jamais como instrumento de perpetuação de irrealidades confiscatórias. De modo que a capacidade tributária não pode ser um instrumento de deformação de fato gerador de tributo existente. Tanto quanto o exemplo dado da definitividade da base de cálculo do ICMS, que espelha uma deformação do imposto, outros nós temos. Um outro exemplo gritante é o que se faz com um imposto de renda retido na fonte. É uma técnica justa ou eficaz de praticidade tributária, mas a sua adoção deformou o imposto de renda, transformando o imposto de renda retido na fonte em uma espécie autônoma de imposto de competência da união. Exemplo disso se dá da exigência que receita federal e a legislação federal fazem do imposto de renda na fonte das aplicações financeiras de pessoas imunes. A Santa Casa de Misericórdia é pessoa contribuinte do imposto de renda, é titular de capacidade tributária? Não. Mas o dinheiro da Santa Casa, aplicado no banco para fazer em face de despesas que irão vencer daqui a 15 ou 20 dias, submete-se ao imposto de renda na fonte. O imposto de renda na fonte, que é uma mera Revista Internacional de Direito Tributário Associação Brasileira de Direito Tributário Vol. 1, nr. 2, Julho/dezembro de 2004 7 antecipação do imposto de renda da pessoa jurídica e o exemplo de uma técnica de praticidade, revelou-se , na prática, como uma deformação de um imposto existente. É isso que nós não podemos permitir. Portanto, o que se espera é que, na medida em que se conversa mais e mais sobre praticidade tributária, uma esse consigamos colocá-la no seu devido lugar. Nós não podemos também, em nome da praticidade, como parece que vem ocorrendo na visão do STF, estarmos atrapalhando, ou arranhando, ou deixando de aplicar outros princípios. Falar em praticidade é antes de tudo falar em justiça; falar em praticidade é antes de tudo falar em racionalidade. E, para encerrar como uma provocação, eu gostaria de expressar a minha opinião pessoal de que a praticidade não é aplicada apenas no campo do legislativo do executivo. Nós, como advogados da área tributária, devemos lutar, na minha opinião pessoal, pela praticidade no exercício do poder judiciário, que pode ser muito bem representada pela adoção de súmula vinculante em processo objetivo de matéria tributária, e cujo conteúdo seja exclusivamente direito. Não faz sentido – vejo aqui jovens e competentes juízes federais que ainda tem mais 20, 30, 40 anos de carreira – que possam perder grande parte de seu precioso tempo, do seu brilhantismo, de sua capacidade de trabalho para ser máquinas repetidoras de sentença. Matéria tributária de conteúdo estritamente jurídico, que não há provas a serem produzidas nos autos, uma vez o Supremo firmando entendimento em relação àquele tributo – como já ocorreu com o empréstimo compulsório de veículos, como já ocorreu com expurgos de fundo de garantia – não faz o menor sentido os processos, caso a caso, se arrastarem por anos e anos. Não devíamos – há um posicionamento, que eu diria, num primeiro momento, até mesmo corporativo, da classe dos advogados – ser de pronto contra a súmula vinculante. Eu tenho totalconvicção de que em nome da praticidade, da racionalidade, da justiça, seria um grande avanço, para nós, advogados, e para a vida de nós brasileiros, cidadãos contribuintes. Com isso encerro as minhas breves palavras, agradecendo a atenção dos senhores. Muito obrigado.
Compartilhar