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RelatorioPlanoAula (31)

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DIREITO CIVIL V - CCJ0111
Semana Aula: 9
Dissolução do Casamento
Tema
Dissolução do Casamento
Palavras-chave
Objetivos
1. Diferenciar as causas de dissolução da sociedade conjugal das causas de dissolução do vínculo 
conjugal.
 
2. Compreender o alcance e os efeitos de cada uma das causas.
 
3. Identificar as formas de separação e de divórcio existentes no Brasil e analisar seus requisitos.
 
4. Debater a EC n. 66/10.
Estrutura de Conteúdo
1. EC n. 66/10 ? alcance e efeitos.
 
2. Dissolução do casamento
 i. Breve evolução histórica
 ii. Dissolução da sociedade conjugal
 iii. Dissolução do vínculo conjugal
 
3. Separação
 i. Conceito
 ii. Espécies: consensual e litigiosa (ruptura, sanção, remédio)
 iii. Efeitos
 
4. Divórcio
 i. Conceito
 ii. Espécies: consensual e litigioso
 iii. Efeitos
Procedimentos de Ensino
O presente conteúdo pode ser trabalhado em uma aula (partindo-se do pressuposto que a separação foi 
extinta pela EC n. 66/10), podendo o professor dosá-lo de acordo com as condições (objetivas e 
subjetivas) apresentadas pela turma. 
 
Antes de iniciar a abordagem do tema dissolução do casamento é adequado que o professor apresente as 
polêmicas sobre o alcance e os efeitos da EC n. 66/10, tomando ao final posicionamento que, 
obviamente, não precisa ser necessariamente o mesmo apresentado por esta conteudista.
 
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 66/10 
 
Maria Berenice Dias inicia seu livro Divórcio Já! (2010) afirmando ?não adianta, as pessoas se atrapalham 
diante do novo! Afinal, o conhecido é um espaço de conforto, que, em regra, não oferece riscos. Daí a 
enorme dificuldade de muitos em aceitar mudanças?.
 
A dissolução do casamento é constantemente marcada por este ?medo do desconhecido? no 
ordenamento brasileiro. Assim o foi com a edição da Lei do Divórcio em 1977[1]1 e assim se apresenta nas 
polêmicas resultantes da Emenda Constitucional (EC) n. 66/10, publicada em 14 de julho de 2010 (cuja 
eficácia deve ser considerada imediata e direta[2]2), mais uma vez resgatando-se o temor infundado (e 
não jurídico) de que o divórcio facilitado acabará com o casamento.
 
Nos idos de 1977 a separação foi instituída como causa de dissolução da sociedade, criando um sistema 
binário e de difícil explicação, mas que servia para preparar o meio social para aceitar ?pacificamente? as 
pessoas divorciadas. No século XXI (salvo raras questões religiosas), a sociedade brasileira encontra-se 
familiarizada com novas formas de constituição de família e a dissolução do casamento já não gera 
desconforto social, tornando-se o instituto da separação meio anacrônico e desnecessário para se 
encerrar os laços conjugais.
 
Reconhecendo a evolução da sociedade e a ampla aceitação da dissolução do casamento foi publicada a 
EC n. 66/10[3]3 que altera o art. 226, §6º., CF, que passa a ter a seguinte redação: ?o casamento civil pode 
ser dissolvido pelo divórcio?.
 
No entanto, embora a dissolução matrimonial já não seja um ?bicho de sete cabeças? alguns juristas 
(minoria) têm se oposto à mudança trazida pela EC n. 66/10 afirmando que ela não extingue a separação 
e utilizando como fundamentos:
 
1- A nova redação do art. 226, §6º., CF, não tem eficácia plena e imediata, dependendo de 
regulamentação por lei ordinária. Afirmam que a eliminação dos prazos para o pedido de 
divórcio não significa que as condicionantes foram automaticamente abolidas, sendo necessária 
a alteração dos dispositivos infraconstitucionais que tratam do tema. Assim, a revogação dos 
prazos na Constituição Federal não significaria que estariam revogadas outras formas de 
dissolução existentes na legislação infraconstitucional. Nesse sentido, manifestaram-se Luiz 
Felipe Brasil Santos e Gilberto Shäfer.
2- Há os que sustentam que a separação apenas foi afastada como requisito do divórcio, não tendo 
sido extirpada do ordenamento nas outras situações. Nesse sentido, manifestou-se Sérgio 
Gischkow Pereira.
3- Persiste o instituto da separação, quando esta for a vontade de ambos os cônjuges. Para essa 
corrente apenas a separação consensual estaria vigente.
4- Há os que afirmam que a separação não desapareceu porque a alteração constitucional utilizou a 
expressão ?pode? e não ?deve?, portanto, persistiriam outras formas de dissolução matrimonial 
previstas na legislação ordinária.
5- Há, ainda, os que sustentam ser necessária a identificação do culpado pelo término do 
casamento porque disso dependeria a quantificação dos alimentos e a continuidade, ou não, da 
utilização do sobrenome do outro cônjuge, bem como, a definição de eventuais 
responsabilidades por danos morais. Vale lembrar, no entanto, que: a) o sistema da culpa já 
havia sido superado pela doutrina e jurisprudência, sendo inexplicavelmente mantido pelo 
Código Civil/2002; b) a culpa pode ser questionada em ação própria de alimentos e não exclui de 
forma absoluta a possibilidade do culpado receber alimentos; c) a utilização do sobrenome é 
considerada, hoje, um direito de personalidade, então, ainda que haja um culpado, poderá ele 
continuar utilizando o sobrenome se demonstrar que é por ele reconhecido no meio social; d) a 
culpa pode ser discutida em eventual ação de responsabilidade civil (como, por exemplo, nos 
casos de adultério).
6- Pela separação, há possibilidade de arrependimento (que não pode ser exercido no caso do 
divórcio), razão pela qual, deve ela subsistir no ordenamento brasileiro. Necessário, portanto, se 
manter um ?prazo de reflexão? para que as pessoas não dissolvam suas uniões de maneira 
impensada ou no ?calor da emoção?.
7- Apenas a interpretação literal do novo art. 226, §6º., CF, justificaria a permanência da separação 
no ordenamento.
8- O argumento derradeiro e descabido é de que a facilitação do divórcio fragiliza as famílias e 
banaliza o casamento.
 
Argumentos a favor da extinção da separação:
 
1- A legislação constitucional revoga a legislação infraconstitucional com ela incompatível, então, se 
a Constituição Federal não prevê mais a separação, não há razão para a sua subsistência no 
ordenamento infraconstitucional. Obviamente, os seus efeitos não retroagem, não alterando o 
?status? das pessoas separadas obtido antes da publicação da Emenda, que precisarão se 
divorciar se quiserem extinguir o vínculo ainda existente.
2- A expressão ?pode? é meramente de explicação e não afasta as possibilidades de dissolução por 
morte, nulidade ou anulação. Portanto, não é o ?pode? que deve justificar a permanência da 
separação no ordenamento.
3- Uma vez que não há prazos ou requisitos para a concessão do divórcio, inócua se tornou a 
separação que exige prazos diversos.
4- Afirma-se que decorrente da interpretação histórica, autêntica e teleológica a separação está 
extinta, diminuindo-se consideravelmente a interferência injustificada do Estado no casamento.
5- Há os que defendem que a separação foi extinta, mas que se poderia, então, perquirir culpa nos 
processos de divórcio. Mas, nesse sentido, vale perguntar: justifica-se misturarquestões de 
conjugalidade com parentalidade? Ou ainda, por que a insistência em identificar um culpado 
pelo fim do matrimônio?
6- A culpa pode ser averiguada em processos de anulação e nulidade do casamento, no qual se 
analisará a boa-fé dos cônjuges; nas ações de alimentos e nas ações de responsabilidade civil, 
não sendo, então, necessária a existência da separação para se questionar os ?porquês?.
7- A obtenção da dissolução do casamento se tornaria menos burocrática e onerosa aos cônjuges, 
facilitando a constituição de novos arranjos familiares. Esse fato, não influenciaria na 
oficialização das uniões, porque ninguém deixa de casar pelo simples fato estar mais fácil 
descasar; também ninguém se divorcia simplesmente porque está mais fácil fazê-lo. Afirma 
Marco Túlio Murano Garcia (2010, [s.p.]) que ?culpar o acesso simplificado ao divórcio pela 
falência do casamento é o mesmo que culpar a invenção do avião pela sua utilização também 
como arma de guerra, numa inversão equivocada entre causa e efeito, como se inexistente a 
possibilidade de divórcio regulamentar, os casamentos não seriam irregularmente desfeito, 
como já foram no passado, pela anômala separação de fato, ou, igual forma, querendo crer que 
sem o avião o homem não teria guerreado?.
8- A extinção da separação se justifica pela teoria da deterioração factual (que se baseia na 
liberdade de escolha do modo de constituição, manutenção e dissolução do casamento) e pela 
teoria da intervenção mínima do Estado na vida privada (que afirma ser desnecessário trazer ao 
espaço público dos Tribunais a vida íntima do casal).
 
Como se nota, os argumentos que proclamam o fim da separação são muito mais convincentes 
juridicamente, razão pela qual, conclui Maria Berenice Dias (2010, p. 14) ?finalmente acabou a inútil, 
desgastante e onerosa separação judicial ? tanto para o casal como para o próprio Poder Judiciário ? que 
impunha uma duplicidade de procedimentos para se conseguir acabar com o casamento. De nenhum 
senso forçar a mantença do matrimônio durante o período de um ano, para só então permitir sua 
dissolução. Exigir a exposição da intimidade da vida do casal para identificar um culpado, ou impor a 
espera de um ano para permitir a dissolução de uma união que não mais existe, era, para dizer o mínimo 
cruel. Para lá de absurdo forçar distinções difíceis até de explicar entre sociedade conjugal ?finda?, mas 
não ?extinta?, com o único intuito de tentar manter o casamento. Felizmente este verdadeiro calvário 
chegou ao fim?.
 
Não há dúvidas de que os efeitos da EC 66/10 serão brevemente sentidos, diminuindo-se a litigiosidade 
em via dupla (a inexplicável dualidade entre dissolução da sociedade e dissolução do vínculo) entre os 
cônjuges, desafogando o Poder Judiciário e afastando de vez a injustificável e temerária interferência do 
Estado na vida privada das pessoas casadas. Privilegia-se a dignidade da pessoa humana e não o caráter 
patrimonial das dissoluções matrimoniais, podendo qualquer dos cônjuges buscar o divórcio 
independente de prazos ou de apresentação de motivos[4]4.
 
Apresentadas essas considerações, pode-se realizar breve análise histórica e conceitual das causas de 
dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, por ainda considerá-las didaticamente necessárias.
 
DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL
 
O sistema binário de dissolução do casamento foi criado pela Lei do Divórcio como forma de ?preparar? a 
sociedade para aceitar o divórcio. Sistema mantido pelo CC/02, do qual se depreende que:
 
1- São causas de dissolução da sociedade conjugal ? art. 1.571, CC ? separação; divórcio; morte (real 
ou presumida) e anulação ou nulidade do casamento[5]5.
2- São causas de dissolução do vínculo ? art. 1.571, §1º., CC ? morte (real ou presumida[6]6) e 
divórcio.
 
Assim, conclui-se que pode haver dissolução da sociedade sem dissolução do vínculo; mas toda ruptura 
do vínculo importa o rompimento da sociedade.
 
Quanto à natureza das causas terminativas do casamento, Washington de Barros Monteiro (2009, p. 240) 
ensina que podem ser: a) peremptórias ? em que a dissolução é decretada sem que se discutam os fatos 
geradores do pedido ou a insuportabilidade da vida em comum, como, por exemplo, o divórcio e a morte; 
b) facultativas ? exigem a verificação dos fatos causadores que devem tornar intolerável a vida em 
comum, como por exemplo, nos pedidos de separação unilateral.
 
A separação é considerada ato preparatório do divórcio e, portanto, apenas termina (rompe) a sociedade 
(complexo de direitos e obrigações que decorrem da comunhão plena de vida), mas não a extingue 
(ruptura). 
 
A separação pode ser legal (litigiosa ou consensual) ou extrajudicial (administrativa /consensual ? art. 
1.124-A, CPC) e, em qualquer caso a legitimidade para o pedido é exclusiva dos cônjuges (uma vez que 
personalíssima, art. 1.576, parágrafo único, CC), facultando a lei (quando o cônjuge for declarado incapaz) 
legitimidade[7]7 a curador especial, ascendentes e irmãos em ordem preferencial.
 
Embora o art. 1.575, CC, determine que a separação deve ser realizada após a partilha de bens 
jurisprudência e doutrina tem entendido que a partilha prévia não é necessária em virtude do disposto no 
art. 1.581, CC.
 
A separação judicial pode ser:
a) consensual (amigável, por mútuo consentimento ou mútuo dissenso) ? decorre de vontade de ambos 
os cônjuges, desde que casados há pelo menos um ano (art. 1.574, CC), dispensando-se, portanto, a 
indicação dos motivos.
o É procedimento de jurisdição voluntária em que o juiz administra interesses 
privados. No entanto, o juiz pode recusar a homologação e não decretar a 
separação se comprovar que a convenção não preserva suficientemente os 
interesses dos filhos ou de um dos cônjuges (art. 1.574, parágrafo único, CC)[8]8.
o O procedimento é previsto nos arts. 1.120 a 1.124, CPC.
 
b) litigiosa ? decorre de pedido unilateral e pode ser:
 i. Separação ruptura ou falência (art. 1.572, §1º., CC): ocorre quando qualquer dos cônjuges 
prova a ruptura da vida em comum há mais de um ano consecutivo ou não (soma de períodos) e a 
impossibilidade de sua reconstituição.
o Deve-se demonstrar a ausência da vida em comum; a intenção de vidas em 
separado (pelo menos por um dos cônjuges); continuidade da separação por 
intervalo de um ano.
 
 ii. Separação sanção ou culposa (art. 1.572, ?caput?, CC): ocorre quando um dos cônjuges 
imputa ao outro conduta que importe grave violação dos deveres do casamento e importe 
insuportabilidade da vida em comum (cuja determinação é casuística).
o Entende-se não ser possível a alteração do pedido de separação culposa em 
separação sem culpa e vice-versa porque os seus fundamentos e consequências são 
diversos.
o Como é a única hipótese em que se atribui culpa, admite reconvenção (única 
possibilidade de ser decretada culpa de ambos). No entanto, não se admite 
compensação de culpas.
o As causas de grave infração aos deveres do casamento estão exemplificativamente 
elencadas no art. 1.573, CC, devendo o professor lembrar quais são os deveres do 
casamento (art. 1.566, CC) e as causas de sua infração já estudadas na aula 6.
o Nessas ações pode-se identificar uma verdadeira inversão do ônus da prova, pois o 
réu deve provar que não agiu com culpa ou que, se assim agiu, sua ação não é 
suficiente para tornar insuportável a vida em comum.
o Admite-se a confissão desde que não contrarie as provas trazidas aos autos. A 
jurisprudência tem admitido os efeitos da revelia nas ações de separação culposa 
quando presente a verossimilhança das alegações.
o São efeitos da separação sanção: o consorte culpado perde o direitode utilizar o 
sobrenome conjugal (se houve expresso requerimento a esse respeito e se não 
demonstrar prejuízo para sua identificação no meio social ou em face dos filhos ? 
art. 1.578, CC); o consorte culpado perde o direito a alimentos (exceto se 
indispensáveis à sua sobrevivência ? art. 1.704, CC); o consorte culpado não perde o 
direito à guardo dos filhos (art. 1.584, CC); o consorte culpado pode ser condenado 
a reparar danos morais e materiais[9]9.
 
 iii. Separação remédio (art. 1.572, §§2º. e 3º., CC): ocorre quando um dos cônjuges é acometido 
por grave doença mental (psicoses, paranóias, epilepsia...) de cura improvável, manifestada após o 
casamento e que torne impossível a vida em comum, desde que após uma duração de dois anos.
o Trata-se de forma de separação litigiosa que exigirá prova pericial.
o O cônjuge sadio que, nestas situações, tomar a iniciativa da ação perde (em regra) o 
direito a alimentos e o cônjuge doente tornar-se-á proprietário exclusivo dos bens 
que trouxe para o casamento e da meação dos adquiridos posteriormente. Em 
virtude desses efeitos e do tempo exigido para essa forma de separação é melhor 
pedir o divórcio.
o A Lei do Divórcio previa a cláusula de dureza (clause de dureté) que permitia ao juiz 
negar a separação remédio (e a falência) quando verificasse que ela poderia 
constituir agravamento das condições pessoais ou da doença do outro cônjuge ou 
trouxesse consequências de excepcional gravidade para os filhos. É cláusula que 
representava especial ingerência do Estado na vida privada que permitia se 
determinar que pessoas que já não mais desejavam compartilhar suas vidas, 
seguissem casadas. Acabava privilegiando separações informais (de fato) e, por isso 
(também), não foi prevista pelo CC/02.
 
O Código Civil de 2002 dispensou a audiência prévia de conciliação, antes imposta pela Lei do Divórcio e 
considerada uma ingerência desnecessária do Estado.
 
A separação importa a separação de corpos (art. 1.575, CC) e a separação de fato (e não a judicial) 
importa o fim de todo os deveres do casamento (art. 1.576, CC) 
 
A separação extrajudicial[10]10, como se disse, é sempre consensual e via de escolha facultativa do casal 
que pressupõe (vide Resolução n. 35, CNJ): que estejam casados há mais de um ano (art. 1.574, CC); que 
não haja filhos (comuns) menores (exceto se emancipados) ou incapazes; que os cônjuges sejam 
acompanhados (de advogado ? que pode ser comum a ambos ou até mesmo um deles). Na escritura 
pública[11]11 deverão ser indicados: descrição e partilha de bens (se assim o desejar o casal); definição de 
eventuais alimentos; disposição sobre a retomada (ou não) do nome de solteiro. A escritura pública não 
depende de homologação judicial e constitui título hábil para o Registro Civil e Registro de Imóveis. Assim 
como é possível a dissolução pela via administrativa, possível será a reconciliação que poderá ser feita 
também por escritura pública (art. 49, Resolução n. 35, CNJ). 
o Os mesmos critérios (exceto quanto ao decurso de tempo) aplicam-se ao pedido de 
divórcio extrajudicial.
 
Havendo morte de um dos cônjuges durante o processo de separação, a ação deverá ser extinta, 
conferindo-se o estado civil de viúvo ao sobrevivo.
 
Qualquer das formas de separação admite a reconciliação, podendo os ex-cônjuges restabelecer a 
sociedade conjugal a qualquer tempo, seja por pedido judicial, seja por via administrativa (art. 1.577, CC), 
não podendo, com isso, afetar direitos de terceiros (adquiridos antes e durante o tempo em que 
estiveram separados). O ato de restabelecimento, homologado pelo juiz ou realizado por escritura 
pública, deverá ser averbado no Registro Civil.
 
DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL
 
O termo divórcio vem de ?divortium? do verbo ?divertere? que na origem quer dizer separar. Foi 
introduzido no Brasil pela Emenda n. 9/77 (Sen. Nelson Carneiro) que alterou o art. 175, §1º., CF/69 e 
exigiu a regulamentação que veio por meio da Lei n. 6.515/77 (conhecida como Lei do Divórcio).
 
A redução dos prazos do divórcio ocorreu com a Constituição Federal de 1988 que determinava no art. 
226, §6º., CC (repetido pelo art. 1.580, CC): um ano de separação judicial para o divórcio conversão e dois 
anos de separação de fato para o divórcio direto.
 
Nova alteração dos prazos do divórcio foi introduzida pela EC n. 66/10 que aboliu a necessidade de prazos 
como requisitos para o pedido de qualquer forma de divórcio, podendo o divórcio, agora, ser pedido a 
qualquer tempo.
 
A legitimidade para o pedido é exclusiva dos cônjuges (uma vez que personalíssima), facultando a lei 
(quando o cônjuge for declarado incapaz) legitimidade a curador especial, ascendentes e irmãos em 
ordem preferencial (art. 1.582, parágrafo único, CC). 
 
Da mesma forma que ocorre na separação, a ação de divórcio será extinta se no curso do processo 
qualquer dos cônjuges morrer, sendo então esta a causa da dissolução do vínculo.
 
São modalidades de divórcio no Brasil:
a) Divórcio direto: decorre de pedido judicial ou extrajudicial de um (litigioso) ou de 
ambos (consensual) os cônjuges, independente de decurso de prazo.
o Em qualquer dos casos não é necessário indicar o motivo do pedido, 
bastando-se demonstrar a existência do casamento a ser dissolvido e a 
intenção (de pelo menos um deles) em não dar continuidade à comunhão 
de vida.
b) Divórcio indireto ou conversão: decorre de pedido judicial ou extrajudicial de um 
(litigioso) ou de ambos (consensual) os cônjuges que já se encontram separados judicial 
ou administrativamente.
o No divórcio-conversão não se admite reconvenção.
o Quando judicial é feito em ação nova e autônoma, instruída com a 
sentença ou escritura pública concessiva da separação.
 
Qualquer que seja a modalidade:
1- O pedido pode ser feito no domicílio de qualquer dos cônjuges (ainda que a mulher tenha foro 
privilegiado), mesmo que diverso o juízo em que tramitou a ação de separação.
2- O vínculo se extingue com o trânsito em julgado da sentença ou com a escritura pública, 
independente de averbação no Registro Civil (que será, no entanto, necessária se quiserem se 
casar novamente).
3- A concessão do divórcio não exige prévia partilha de bens, conforme art. 1.581, CC.
4- O divórcio não modifica os direitos e deveres dos pais com relação aos filhos, conforme art. 
1.579, CC.
 
Ressalte-se, por fim, que a tendência após a EC n. 66/10 é que passe a prevalecer apenas o uso do 
divórcio, caindo a separação em desuso em face de sua evidente inutilidade no sistema atual.
 
Ao final da aula o professor deve perguntar se ainda existem dúvidas com relação às formas de dissolução 
do casamento. Após, deve preparar o aluno para o tema da próxima aula: união estável.
NOTAS
[1] Lei que tramitou por 27 anos face à grande resistência do legislador em admitir a dissolução do vínculo 
conjugal, e justamente por esta resistência manteve o desquite (agora o denominando separação). Sobre 
o sistema binário de dissolução do casamento, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 
282) afirmam que ?é evidente a dificuldade conceitual existente em compreender, com precisão, o 
caráter dualista do sistema de dissolução matrimonial. Não há justificativa lógica em terminar e não 
dissolver um casamento. Escapa à razoabilidade e viola a própria operabilidade do sistema jurídico?. 
[2] No projeto constava ?na forma da lei? na redação originária que se daria ao art. 226, §6º., CF. A 
expressão foi retirada da redação aprovada e, portanto, entende-se que não há necessidade de lei 
regulamentadora para fazer valer tais alterações. A falta de referência à legislação ordinária para 
regulamentar a matéria é mais uma justificativaque fundamenta a extinção da separação.
[3] A PEC foi proposta pelo IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), sendo o projeto assinado 
pelo Deputado Sérgio Barradas Carneiro.
[4] Afirma Paulo Lôbo (2010, [s.p.]) que ?o fim do casamento não é fruto da irreflexão, mas epílogo do 
desgaste continuado ou erro de escolha dos cônjuges, de nada servindo prolongar esse sofrimento por 
imposição do Estado?.
[5] As causas de nulidade e anulação do casamento foram estudadas na aula 5, devendo o professor 
incentivar os alunos para que as lembre.
1- Tecnicamente, a nulidade ou anulação do casamento não dissolve a sociedade, mas sim, reconhece 
existência de vício que impediu a formação de vínculo matrimonial válido.
2- Nada impede a cumulação da anulatória com o pedido de separação ou divórcio em ordem sucessiva 
(cumulação objetiva eventual). 
3- Além disso, a existência de sentença ou escritura pública anterior de separação ou divórcio não impede 
a propositura da anulatória. 
[6] A morte coloca fim a todas as relações pessoais que não podem ter continuidade na pessoa dos 
sucessores. Por isso, a morte é causa peremptória de dissolução do vínculo matrimonial. A novidade do 
CC/02 fica em torno da previsão da morte presumida (arts. 7º. e 37, CC) como causa de dissolução do 
vínculo. No entanto, no caso dos ausentes é mais fácil e rápido requerer o divórcio, ao invés de passar por 
todo o procedimento de decretação da ausência. Se o ex-cônjuge retornar após a dissolução judicial do 
vínculo não pode pretender a retomada do casamento.
[7] Tem-se entendido que assim como o casamento pode ser realizado por procuração, a separação e o 
divórcio também poderiam ser requeridos por mandatário com poderes especiais concedidos por 
escritura pública.
[8] Lembre-se que se trata de dispositivo em desuso que representa ingerência indevida na esfera 
privada.
[9] Embora parte da doutrina não admita a possibilidade de aplicação da responsabilidade civil às relações 
familiares, a jurisprudência diante de quebra dos deveres do casamento tem deferido os pedidos de 
reparação manejados em face do culpado. O pedido pode ser cumulado com a ação de separação ou ser 
feito em ação autônoma também de competência das Varas de Família.
[10] A separação extrajudicial foi introduzida pela Lei n. 11.441/07 que acrescentou o art. 1.124-A ao CPC 
e visou simplificar o procedimento para os cônjuges que pretendiam dissolver a sociedade de comum 
acordo, dispensando-se a intervenção direta do Estado.
[11] A escritura pública deverá ser gratuita para aqueles que preencherem os critérios da Lei n. 1.060/50. 
A gratuidade, no entanto, não abrange eventuais impostos que decorram do ato.
Estratégias de Aprendizagem
Indicação de Leitura Específica
Recursos
quadro e pincel; datashow.
Aplicação: articulação teoria e prática
Textos de apoio:
1- DIAS, M.B. Divórcio Já. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
2- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Caso Concreto: Emenda do divórcio (EC n. 66/2010) e separação 
judicial em andamento ? parecer do ministério público. Disponível em 
<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=675>. Acesso em 19 de set. 2010. (texto em anexo)
3- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Emenda Constitucional n. 66/2010: semelhanças, diferenças e 
inutilidades entre separação e divórcio e o direito intertemporal. Disponível em 
<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=647>. Acesso em 19 de set. 2010. (texto em anexo)
 
Caso Concreto
Lucas e Juliana casaram-se no Brasil em 2010 e, logo após o casamento, Lucas recebeu 
irrecusável oferta de emprego que levou o casal a ir morar na Espanha. Passados três 
anos, o casal percebeu que entre eles não há mais amor e decidiram se divorciar. O 
casal não possui filhos e lhe pergunta: para se divorciarem precisam vir ao Brasil ou 
podem fazer o pedido na Espanha mesmo? Uma vez que o casal ainda não está 
separado de fato e que existem bens a partilhar, podem eles pedir o divórcio 
extrajudicialmente? Explique suas respostas em no máximo seis linhas.
Questão objetiva 1
(Defensor Público AM 2013) O divórcio:
a. não pode ser concedido sem prévia partilha dos bens.
b. demanda prévia separação judicial, há pelo menos um ano, ou de fato, há pelo 
menos dois.
c. só pode ser requerido se comprovada culpa de um dos cônjuges.
d. pode dar ensejo à obrigação de prestar alimentos, a qual não se extingue com novo 
casamento do alimentante.
e. não importa restrição aos direitos e deveres decorrentes do poder familiar, salvo na 
hipótese de casamento de qualquer dos pais.
Questão objetiva 2
(MPSP 2011) Quando os cônjuges decidem pôr fim à sociedade conjugal, pretendendo 
divorciar-se consensualmente, eles devem levar em consideração: 
a. o prazo de 2 (dois) anos a contar da separação judicial por mútuo consentimento.
b. a possibilidade de o divórcio ser formalizado perante o Cartório de Registro Civil, 
inclusive com relação aos filhos menores de 16 (dezesseis) anos.
c. a guarda compartilhada, com previsão de visita do pai em dias e horários alternados 
e opção de a mãe decidir sobre a educação.
d. o fato de as novas núpcias de um dos cônjuges não lhe retirar o direito de guarda 
antes fixado.
e. a prestação de alimentos aos filhos, que poderá ser compensada com a proximidade 
e visitação do cônjuge.
Avaliação
Textos de apoio:
1- DIAS, M.B. Divórcio Já. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
2- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Caso Concreto: Emenda do divórcio (EC n. 
66/2010) e separação judicial em andamento ? parecer do ministério público. 
Disponível em <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=675>. Acesso em 19 
de set. 2010. (texto em anexo)
3- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Emenda Constitucional n. 66/2010: 
semelhanças, diferenças e inutilidades entre separação e divórcio e o direito 
intertemporal. Disponível em <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=647>. 
Acesso em 19 de set. 2010. (texto em anexo)
Caso Concreto
Lucas e Juliana casaram-se no Brasil em 2010 e, logo após o casamento, Lucas recebeu 
irrecusável oferta de emprego que levou o casal a ir morar na Espanha. Passados três 
anos, o casal percebeu que entre eles não há mais amor e decidiram se divorciar. O 
casal não possui filhos e lhe pergunta: para se divorciarem precisam vir ao Brasil ou 
podem fazer o pedido na Espanha mesmo? Uma vez que o casal ainda não está 
separado de fato e que existem bens a partilhar, podem eles pedir o divórcio 
extrajudicialmente? Explique suas respostas em no máximo seis linhas.
 
Gabarito: A Lei n. 12874/2013, modificou a Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro e possibilita desde março de 2014 a realização de divórcio consensual de 
brasileiros residentes no exterior por meio das autoridades consulares, desde que o 
casal esteja assistido por advogado(s). Na escritura pública deverá constar: descrição 
e partilha de bens; disposições quanto à pensão alimentícia e retomada do nome de 
solteiro. Indiferente o fato de estarem ou não separados de fato ou judicialmente 
uma vez que a separação não é mais pré-requisito do divórcio direto.
 
Vide: LEI Nº 12.874, DE 29 DE OUTUBRO DE 2013.
Altera o art. 18 do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 
1942, para possibilitar às autoridades consulares brasileiras 
celebrarem a separação e o divórcio consensuais de brasileiros 
no exterior.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a possibilidade de as autoridades consulares brasileiras 
celebrarem a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros no exterior, 
nas hipóteses que especifica. 
Art. 2o O art. 18 do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942, passa a vigorar 
acrescido dos seguintes §§ 1o e 2o: 
“Art.18. ........................................................................ 
§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação 
consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou 
incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo 
constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à 
partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à 
retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado 
quando se deu o casamento. 
§ 2o É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se 
dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com 
apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo 
necessário que a assinatura do advogado conste da escritura pública.” (NR) 
Art. 3o Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua 
publicação oficial. 
Brasília, 29 de outubro de 2013; 192o da Independência e 125o da República. 
DILMA ROUSSEFF José Eduardo Cardozo Luiz Alberto Figueiredo Machado
Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.10.2013
 
 Questão objetiva 1
(Defensor Público AM 2013) O divórcio:
a. não pode ser concedido sem prévia partilha dos bens.
b. demanda prévia separação judicial, há pelo menos um ano, ou de fato, há pelo 
menos dois.
c. só pode ser requerido se comprovada culpa de um dos cônjuges.
d. pode dar ensejo à obrigação de prestar alimentos, a qual não se extingue com novo 
casamento do alimentante.
e. não importa restrição aos direitos e deveres decorrentes do poder familiar, salvo na 
hipótese de casamento de qualquer dos pais.
Gabarito: D - art. 1709, CC
Questão objetiva 2
(MPSP 2011) Quando os cônjuges decidem pôr fim à sociedade conjugal, pretendendo 
divorciar-se consensualmente, eles devem levar em consideração: 
a. o prazo de 2 (dois) anos a contar da separação judicial por mútuo consentimento.
b. a possibilidade de o divórcio ser formalizado perante o Cartório de Registro Civil, 
inclusive com relação aos filhos menores de 16 (dezesseis) anos.
c. a guarda compartilhada, com previsão de visita do pai em dias e horários 
alternados e opção de a mãe decidir sobre a educação.
d. o fato de as novas núpcias de um dos cônjuges não lhe retirar o direito de guarda 
antes fixado.
e. a prestação de alimentos aos filhos, que poderá ser compensada com a 
proximidade e visitação do cônjuge.
Gabarito: D - arts. 1588 e 1632, CC.
Considerações Adicionais
Referências Bibliográficas 1:
Nome do livro: Divórcio Já
Nome do autor: DIAS, Maria Berenice
Editora: RT
Nome do capítulo: todo o livro
Número de páginas do capítulo: 64
 
Referências Bibliográficas 2: 
Nome do livro: Direito Civil Brasileiro
Nome do autor: GONÇALVES, Carlos Roberto
Editora: Saraiva
Ano: 2010
Edição: 7ª. ed.
Nome do capítulo: Capítulo XI ? Da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal
Número de páginas do capítulo: 79

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