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DIREITO CIVIL V - CCJ0111 Semana Aula: 12 Reconhecimento de Filhos Tema Reconhecimento de Filhos Palavras-chave Objetivos 1. Compreender as formas de reconhecimento de filhos previstas no Código Civil. 2. Reconhecer os efeitos do reconhecimento de filhos. 3. Estudar o procedimento de reconhecimento judicial dos filhos. 4. Compreender a averiguação oficiosa da paternidade. Estrutura de Conteúdo 1. Reconhecimento de Filhos a. Conceito b. Formas de reconhecimento 2. Reconhecimento Voluntário (art. 1.609, CC) a. Oposição ao reconhecimento voluntário 3. Reconhecimento Judicial a. Ação de investigação de paternidade b. Ação de investigação de maternidade c. Contestação da paternidade ou da maternidade 4. Efeitos do reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento 5. Averiguação oficiosa da paternidade (Lei n. 8.562/92) Procedimentos de Ensino O presente conteúdo pode ser trabalhado em uma aula, podendo o professor dosá-lo de acordo com as condições (objetivas e subjetivas) apresentadas pela turma. Viu-se na aula anterior que os filhos de pais casados não precisam ser reconhecidos, pois a parentalidade decorre do próprio casamento. Então, o reconhecimento de filhos destina-se a determinar a filiação de pessoas nascidas fora de relacionamentos matrimoniais (como por ex., da união estável), inexistindo, para tanto, qualquer limitação legal. O reconhecimento de filhos estabelece o parentesco em linha reta de primeiro grau e pode ser: a) voluntário (ou perfilhação); b) judicial (coativo ou forçado). Independente da forma utilizada, o ato de reconhecimento é declaratório, sendo seus efeitos imediatos e ?ex tunc?. RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO DOS FILHOS O reconhecimento voluntário dos filhos decorre da própria vontade do(s) genitor(es) (ato personalíssimo), podendo ocorrer em conjunto ou sucessivamente (art. 1607, CC e art. 26, ECA). O art. 1.609, CC, estabelece quatro formas de reconhecimento voluntário[1]1 dos filhos, todas irrevogáveis e irretratáveis[2]2 (não podendo estar submetidas a termo ou encargo ? art. 1.613, CC) e de eficácia declaratória e ?erga omnes? (confissão do vínculo): i. No registro do nascimento por declaração pessoal do genitor. Ressalte-se que o relativamente incapaz pode declarar a paternidade perante o Oficial, independente de assistência; no entanto, necessitará de assistência para a lavratura de escritura pública. Apenas em caso de dúvida sobre a seriedade da declaração se ouvirá o genitor cujo nome já consta no registro. ii. Por escritura pública ou escrito particular a ser averbado em cartório. Trata-se de meio indireto de reconhecimento[3]3. A escritura pode ser feita exclusivamente para este fim ou pode ser o reconhecimento incidentalmente feito em escritura que tenha outros objetos (desde que a declaração seja inequívoca). Como o escrito particular vale por si só, o reconhecimento pode ser feito também em codicilo (art. 1.881, CC). iii. Por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. Neste caso, o reconhecimento é irrevogável (ainda que se revogue o testamento, art. 1.610, CC) e o filho reconhecido assume a posição de herdeiro necessário. O reconhecimento feito por relativamente incapaz em testamento não exige assistência (art. 1.860, parágrafo único, CC), mas só produzirá efeitos após a sua morte. iv. Por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o único objeto do ato que o contém. O juiz deve reduzir a declaração a termo e encaminhar ao juiz de Registros Públicos para as providências necessárias. O ato de reconhecimento voluntário de filhos pode preceder[4]4 o nascimento (art. 26, parágrafo único, ECA; art. 1.609, parágrafo único, CC) e, em qualquer hipótese, deve ser considerado ato jurídico (stricto sensu, art. 185, CC) unilateral e personalíssimo[5]5 uma vez que seus efeitos não decorrem da vontade das partes, mas sim, da lei. Debate-se, no entanto, se o ato de reconhecimento de filhos maiores é ato jurídico ou negócio jurídico. Boa parte da doutrina afirma que ainda que seja bilateral, não perde a característica de ato jurídico em sentido estrito. O reconhecimento de filhos maiores, embora decorra de necessário acordo de vontades (art. 4º., Lei n. 8.560/92; art. 1.614, CC) tem seus efeitos determinados também pela lei. RECONHECIMENTO INVOLUNTÁRIO OU FORÇADO Antes de falar propriamente das formas de reconhecimento involuntário de filhos é preciso tecer algumas considerações sobre o exame de DNA e a importância da filiação sócio-afetiva. A importância do exame de DNA[6]6 nas questões referentes à filiação é inquestionável. Tal é seu papel que a Súmula 301, STJ, determina que ?em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção ?juris tantum? de paternidade?, o que não implica afirmar que em todo e qualquer caso a recusa implicará a determinação da filiação (tudo dependerá do caso concreto). No entanto, o exame de DNA não deve ser considerado prova absoluta sobreponde-se em todos os casos à verdade sócio-afetiva, lastreada por princípios éticos que têm por fundamento o respeito e afeição mútuos (este movimento denomina-se desbiologização da filiação). O critério científico é frio e, por isso, por si só, não pode afastar outras análises que se fizerem necessárias no caso concreto[7]7. Nesse sentido, afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 514) que ?isto não implica, sublinhe-se, a imprestabilidade do método biológico de determinação da filiação. Definitivamente, não! Apenas é preciso chamar a atenção para a insuficiência do acolhimento do critério biológico, sem promover a perquirição de outros fatores, identicamente relevantes, na determinação da paternidade e da maternidade?. Os autores apontam como exemplos (2009, p. 519) da necessária prevalência do critério sócio-afetivo: ?i) na adoção obtida judicialmente; ii) no fenômeno de acolhimento de um ?filho de criação?, quando demonstrada a presença da posse do estado de filho; iii) na chamada ?adoção à brasileira? (reconhecer voluntariamente como seu um filho que sabe não ser); iv) no reconhecimento voluntário ou judicial da filiação de um filho de outra pessoa (quando um homem, enganado pela mãe ou por ter sido vencido em processo judicial, é reconhecido como pai e, a partir daí, cuida deste filho, dedicando amor e atenção); [... v) a hipótese prevista no art. 1.597, V, CC]?. Feitas estas considerações, o professor deve lembrar que os critérios estudados na aula 11 estabelecem tão-somente as presunções de filiação decorrentes do casamento, sendo para os demais casos atos voluntários ou forçados de reconhecimento. AVERIGUAÇÃO OFICIOSA DA PATERNIDADE A averiguação oficiosa da paternidade foi estabelecida pelo art. 2º., da Lei n. 8.560/92. Trata-se de procedimento administrativo que tem início com a remessa (obrigatoriamente[8]8) feita pelo oficial do Registro ao juiz da Vara de Registros, de certidão integral do registro de nascimento feito apenas em nome da mãe, mas com dados de identificação do suposto pai. Após a ouvida da mãe, o juiz deve determinar a notificação (em regra por via postal) do suposto pai para que se manifeste (pode ser determinado o segredo de justiça para preservar a privacidade do investigado). Uma vez notificado, o suposto pai em trinta dias (contados da juntada do comprovante de notificação) poderá: a) confirmara paternidade, da qual, então, será lavrado termo, remetendo-se a certidão ao oficial do Registro para a respectiva averbação; b) não atender à notificação e não se manifestar; c) negar a paternidade. Nas últimas duas hipóteses os autos devem ser remetidos ao Ministério Público (ou outra pessoa com legítimo interesse) para promoção da respectiva ação de investigação, quando presentes elementos de convencimento suficientes sobre a paternidade. Procedente a ação, far-se-á o registro. INVESTIGAÇÃO DE PARENTALIDADE[9]9 A investigação de parentalidade será necessária quando: impossível utilizar as presunções ?pater is est? e ?mater semper certa es?; infrutífero o reconhecimento voluntário ou a averiguação oficiosa. Nestes casos, então, a filiação será determinada por sentença. O reconhecimento do estado de filiação é direito fundamental, personalíssimo e imprescritível[10]10 (art. 27, ECA e art. 1.606, CC). São ações de investigação de parentalidade[11]11: ação de investigação de paternidade e ação de investigação de maternidade, sobre as quais não mais prevalecem limitações das hipóteses de cabimento (como existiam no malfadado art. 363, CC/16), tendo, portanto, por fundamento geral a determinação do estado de filiação, independente das razões ou fundamentos. São características das ações de investigação da parentalidade: 1) Legitimidade: o Ativa: o filho (quando menor representado ou assistido, em regra, por sua genitora ou tutor conforme art. 8º., CPC. Pode ser nomeado curador especial quando os interesses entre o filho e seu representante legal forem conflitantes ou se inexistir representante legal ? art. 9º., CPC); herdeiros do filho poderão dar continuidade a ação já iniciada por seu pai quando sobrevier seu óbito ou incapacidade (art. 1.606, parágrafo único, CC). o O nascituro também pode propor ação investigatória de parentalidade (art. 26, ECA e art. 2º, CC). o Entende-se ser possível a investigação avoenga que é aquela iniciada pelos netos em face de seu suposto avô, independente de ter o investigante falecido no gozo de sua capacidade (art. 1.606, CC). o As ações investigatórias de parentalidade em regra são manejadas pelos filhos, mas não há proibição[12]12 de sua utilização por parte dos pais que pretendem discutir a existência (ou não) do estado de filiação. o Passiva: recai sobre o suposto pai/mãe ou seus herdeiros (legítimos ou testamentários). Note-se que o espólio é parte ilegítima para figurar no polo passivo uma vez que se trata de mera universalidade de direito. o Os herdeiros, embora tenham legitimidade passiva, não podem realizar o reconhecimento voluntário, porque este ato é personalíssimo. o Ministério Público: tem legitimidade (art.2º., §§ 4º. e 5º., LIP) para propor ação de investigação (trata-se de legitimidade concorrente), bem como, atuará em todas as causas como ?custos legis? (art. 82, II, CPC). o A contestação pode ser oferecida por qualquer pessoa que tenha justo interesse (art. 1.615, CC), como por exemplo, o pai registral, os herdeiros... 2) Litisconsórcio: o Pode ocorrer quando o filho não tem certeza de quem é o pai, podendo propor a ação de investigação em face de várias pessoas. Trata-se de litisconsórcio passivo alternativo eventual. o Havendo registro, aquele que consta no assento deve ser citado para integrar a demanda. Neste caso, o litisconsórcio é unitário necessário. o Não há necessidade de citação da genitora do investigante e sequer deve ser admitida sua participação voluntária (como assistente), pois não possui interesse jurídico na demanda. 3) Competência: Varas de Família, ainda que a investigação seja ?post mortem?. o Art. 94, CPC ? foro do domicílio do réu. o Quando for cumulada com pedido de alimentos, deve-se aplicar a regra do art. 100, II, CPC ? foro do domicílio do alimentando. o Parte da doutrina entende que o pedido de alimentos é implícito (cumulação implícita sucessiva) à investigação por interpretação do art. 7º., da Lei n. 8.560/92. Então, ainda que não houvesse pedido de cumulação expressa, a competência seria do foro do alimentando. o Súmula 1, STJ ? O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos. o Lembre-se que se trata de caso de competência relativa e que, portanto, pode ser afastada pela vontade das partes. 4) Prazos: o Tratando-se de ações que versam sobre o estado de pessoa, devem ser consideradas imprescritíveis. Por isso, deve-se entender que a existência de registro não impede a pessoa, a qualquer tempo, de buscar sua identidade genética. o Art. 1.601, CC ? é imprescritível a ação do marido para contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher. o Súmula 149, STF ? É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança. o Súmula 301, STJ ? Em ação investigatória de paternidade, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção ?juris tantum? de paternidade. o A ?exceptio plurium concubentium? (exceção de múltiplos relacionamentos) é meio de defesa de mérito indireto comumente utilizado para negar a paternidade, mas que não goza de nenhum respaldo legal e que não é suficiente para afastar de plano a parentalidade. 5) Desistência da ação: sendo o autor maior de idade, poderá desistir da ação, ensejando a extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267, VIII, CPC). Frise-se que a desistência da ação não implica a renúncia ao direito. o Tendo sido a ação proposta por menor de idade assistido ou representado, inexiste possibilidade de desistência, podendo dar seguimento à ação o próprio Ministério Público. 6) Ônus da prova: não se aplicam as regras probatórias do art. 333, CPC, uma vez que difícil ao investigante demonstrar a existência de relacionamento sexual entre o genitor e o investigado. O exame de DNA facilitou a produção de prova, embora sua utilização não seja compulsória. Então, inverte-se o ônus, cabendo ao suposto pai/mãe provar a sua não parentalidade. o As ações investigatórias de parentalidade admitem todo meio de prova (art. 332, CPC), devendo o juiz, inclusive, determiná-las de ofício quando necessário. o Assim, são meios de prova: o exame de DNA[13]13 (a principal das provas, mas não a única); o exame prosopográfico; o exame comparativo de papilas digitais; o exame sanguíneo; exame comparativo do pavilhão auricular; provas documentais (certidão de batismo, troca de mensagens,...); prova testemunhal (de especial importância quando se pretende o reconhecimento de paternidade sócio-afetiva); etc. 7) Revelia: como se trata de ação de estado não se operam os efeitos da revelia (arts. 319 e 320, II, CPC), sendo necessária a produção de provas. Conforme a Súmula 301, STJ, apenas a negativa do suposto pai em se submeter ao exame de DNA produzirá os efeitos da revelia. 8) Sentença: trata-se de sentença declaratória com efeitos ?ex tunc? (até o nascimento). o Art. 1.616, CC ? ?a sentença que julgar procedente a ação de investigação produzirá os mesmos efeitos do reconhecimento; mas poderá ordenar que o filho se crie e eduque fora da companhia dos pais ou daquele que contestou essa qualidade?. o Determina o art. 7º., LIP, que na sentença devem ser fixados, quando necessários, alimentos provisionais ou definitivos, independente de pedido expresso na exordial. Conforme entendimento fixado pelo STJ os alimentos serão devidos desde a citação. o A sentença procedente deve determinar a averbação no registro de nascimento do nome do demandado, bem como, pode autorizar o demandante (se assim quiser) a acrescentar o patronímico do genitor. o Da sentença cabe apelação que será recebida em seu duplo efeito quando nãofixar alimentos; quando além de determinar a paternidade a sentença fixar os alimentos, com relação àquela será a apelação recebida em seu duplo efeito, mas com relação a estes só poderá ser recebida com efeito devolutivo. o Quando a improcedência da ação de investigação da parentalidade decorre de falta ou insuficiência de provas tem-se entendido que há certa relativização da coisa julgada uma vez que a sentença não nega a filiação, mas reconhece tão-somente que não se logrou êxito em produzir provas que demonstrariam este estado. Assim, poderá o filho intentar nova ação quando na posse de novos elementos probatórios. o Com relação à coisa julgada nas ações de filiação, afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 575-576) que ?se dará sob a técnica secundum eventum probationes. Ou seja, a coisa julgada se forma a depender do resultado da produção probatória, identicamente ao que se tem nas ações coletivas. [...]. Pensar diferente é voltar no tempo, para entender que o processo deveria prevalecer sobre o próprio direito material. Assim, avulta afirmar a necessária relativização da coisa julgada pela jurisprudência, evitando tormentos e indevidas negações do direito à filiação?. Ao final da aula o professor deve perguntar se ainda existem dúvidas com relação aos tópicos abordados. Após, deve realizar breve síntese dos principais aspectos sobre o reconhecimento de filhos, preparando o aluno para o tema da próxima aula: poder familiar. NOTAS [1] Lembre-se que não é possível reconhecer filho que já tenha filiação estabelecida. Neste caso, será necessária a propositura de ação para desconstituição do registro e declaração da nova filiação (art. 1.604, CC). [2] Considerá-lo irrevogável e irretratável não significa que não possa ser declarado inválido. [3] O reconhecimento não pode ser feito em pacto antenupcial para evitar referência à sua origem extramatrimonial. [4] Reconhecimento póstumo - o filho já falecido só pode ser reconhecido se tiver deixado herdeiros, não se gerando ao reconhecente direitos sucessórios (art. 1.609, parágrafo único, CC). [5] O fato de ser personalíssimo não exclui a possibilidade de ser feito por procurador com poderes especiais outorgados em escritura pública ou instrumento particular (art. 59, Lei n. 6.015/73). É ato que pode inclusive ser praticado por relativamente incapazes independente de assistência (exceto quando feito por escritura pública em virtude das formalidades a ela impostas), já que se trata de mera declaração. [6] A precisão do exame é de 99,999%. No entanto, fácil é perceber que a verdade biológica, após a CF/88, não deve prevalecer (de forma absoluta) sobre a verdade sócio-afetiva, sob pena de determinar injustiças e uma constante instabilidade na relação paterno-filial. [7] Destacam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 519) que ?o laço sócio-afetivo depende, por óbvio, da comprovação da convivência respeitosa, pública e firmemente estabelecida. Todavia, não é necessário que o afeto esteja presente no instante em que é discutida a filiação em juízo. [...]. O importante é provar que o afeto esteve presente durante a convivência, que o afeto foi o elo que entrelaçou aquelas pessoas ao longo de suas existências?. Destaca-se, por fim, que o critério sócio-afetivo só pode ser utilizado para determinar o estado de filiação, nunca para negá-lo. [8] Vale dizer que, embora seja um ato obrigatório para o Oficial do Registro, para realizá-lo depende da vontade da mãe, em razão do direito à privacidade. [9] Ensina Maria Berenice Dias (2007, p. 345) que ?chamar de investigação de paternidade as demandas que procuram a identificação dos vínculos de filiação demonstra certo ranço cultural. Lembra a época em que só se cogitava a hipótese de o filho buscar o reconhecimento de sua paternidade, como se não houvesse possibilidade de identificação da verdade biológica por meio de ações de investigação de maternidade, anulatória de registro, declaratória de filiação, negatória de paternidade, investigatória de ascendência genética, etc. Redimensionado o leque de possibilidade de socorro ao Judiciário, em face da diversidade de demandas em que se busca a definição de vínculos paterno-filiais, faz-se necessário ampliar também a expressão que identifica as diversas ações. Daí, investigação de parentalidade?. [10] Embora haja certa polêmica na doutrina, o STJ já se posicionou afirmando ser imprescritível a ação de investigação da parentalidade, ainda quando haja pai ou mãe registral ou que haja decorrido o prazo para impugnação ao reconhecimento. Nestes casos, o autor deverá não só demonstrar o vínculo biológico, como também, a inexistência de vínculo anterior com outra pessoa gerador da posse de estado de filho. Assim, demonstrada a existência de filiação sócio-afetiva, o autor só poderá buscar a verdade biológica, não lhe sendo lícito pleitear alteração no assento de nascimento. [11] Não se confundem com as ações de investigação de ancestralidade que não visam determinar o estado de filiação, mas sim, definir a origem genética (direito de personalidade), declarando-se tão- somente a sua ascendência, não implicando efeitos patrimoniais ou filiatório. [12] Neste sentido, ensinam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 539) que ?o pai e a mãe possuem o direito personalíssimo de negar a existência de um vínculo filiatório que se formou por força de uma presunção legal (CC, art. 1.597) ou mesmo por espontânea declaração de vontade. Em tal hipótese, há o manejo de ação negatória de paternidade, também imprescritível. Se a pretensão é de ver reconhecida a relação vinculatória, trata-se de ação vindicatória do estado de filho. Todas elas, submetidas, sob o prisma processual, ao procedimento comum ordinário?. [13] Art. 3º, Lei n. 1.060/50 ? ?as despesas com a realização do exame do código genético ? DNA que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade? são abrangidas pelo benefício da gratuidade judiciária. Tem-se entendido que cabe ao Estado custear as despesas com o exame, pagando remuneração arbitrada para os respectivos peritos. Estratégias de Aprendizagem Indicação de Leitura Específica Recursos quadro e pincel; datashow. Aplicação: articulação teoria e prática Caso Concreto Leonardo e Paula tiveram um relacionamento amoroso passageiro. Em 2004 Paula, enquanto ainda mantinham encontros esporádicos, Paula descobriu estar grávida e comunicou Leonardo. Diante da fragilidade emocional de Paula, Leonardo resolveu ir morar com ela. Após o nascimento, convencido por Paula de que a criança era sua filha Leonardo realizou o registro declarando a paternidade. No entanto, passado um ano após o nascimento, Leonardo não aguentando os ataques de ciúmes de Paula, resolve sair de casa. Comunicada a decisão Paula afirma que a criança não era sua filha, mas sim, de outro homem com quem ela havia tido um único encontro. Leonardo, então, propôs em 2008 anulatória de declaração de paternidade produzindo como provas: a) a confissão da mãe; b) o fato de não ter nenhum vínculo afetivo com a criança desde 2005, quando saiu de casa; c) que foi emocionalmente coagido pela mãe da criança a reconhecer a paternidade. Requerido o exame de DNA confirmou-se que a criança não é filha de Leonardo. Pergunta-se: diante das provas produzidas a paternidade deve ser desconstituída? Explique sua resposta em no máximo seis linhas. Questão objetiva 1 (MPAP 2012) Mauro e José contam, respectivamente, com dezoito e treze anos de idade. Paulo declara-se pai de Mauro e José neste ano de 2012 e pretende reconhecê-los como filhos, pois ambos seriam frutos de um relacionamento de oito anos que manteve com Ana, genitora de Mauro e José. Nesta hipótese, de acordo com o Código Civil, Paulo:a. não precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento nos quatro anos que se seguirem à maioridade ou à emancipação. b. não precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento nos dois anos que se seguirem à maioridade ou à emancipação. c. precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento no prazo de até dois anos após à maioridade ou à emancipação. d. precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento nos quatro anos que se seguirem à maioridade ou à emancipação. e. precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento no prazo de até três anos após à maioridade ou à emancipação. Questão objetiva 2 (OAB X Exame 2013) Rogério, solteiro, maior e capaz, estando acometido por grave enfermidade, descobre que é pai biológico de Mateus, de dez anos de idade, embora não conste a filiação paterna no registro de nascimento. Diante disso, Rogério decide lavrar testamento público, em que reconhece ser pai de Mateus e deixa para este a totalidade de seus bens. Sobrevindo a morte de Rogério, Renato, maior e capaz, até então o único filho reconhecido por Rogério, é surpreendido com as disposições testamentárias e resolve consultar um advogado a respeito da questão. A partir do fato narrado, assinale a afirmativa correta. a. Todas as disposições testamentárias são inválidas, tendo em vista que, em seu testamento, Rogério deixou de observar a parte legítima legalmente reconhecida a Renato, o que inquina todo o testamento público, por ser este um ato único. b. A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida, devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; a disposição testamentária relativa aos bens deverá ser reduzida ao limite da parte disponível, razão pela qual Mateus receberá o quinhão equivalente a 75% da herança e Renato o quinhão equivalente a 25% da herança. c. Todas as disposições testamentárias são inválidas, uma vez que Rogério não poderia reconhecer a paternidade de Mateus em testamento e, ainda, foi desconsiderada a parte legítima de seu filho Renato. d. A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida, devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; é, contudo, inválida a disposição testamentária relativa aos bens, razão pela qual caberá a cada filho herdar metade da herança de Rogério. Avaliação Caso Concreto Leonardo e Paula tiveram um relacionamento amoroso passageiro. Em 2004 Paula, enquanto ainda mantinham encontros esporádicos, Paula descobriu estar grávida e comunicou Leonardo. Diante da fragilidade emocional de Paula, Leonardo resolveu ir morar com ela. Após o nascimento, convencido por Paula de que a criança era sua filha Leonardo realizou o registro declarando a paternidade. No entanto, passado um ano após o nascimento, Leonardo não aguentando os ataques de ciúmes de Paula, resolve sair de casa. Comunicada a decisão Paula afirma que a criança não era sua filha, mas sim, de outro homem com quem ela havia tido um único encontro. Leonardo, então, propôs em 2008 anulatória de declaração de paternidade produzindo como provas: a) a confissão da mãe; b) o fato de não ter nenhum vínculo afetivo com a criança desde 2005, quando saiu de casa; c) que foi emocionalmente coagido pela mãe da criança a reconhecer a paternidade. Requerido o exame de DNA confirmou-se que a criança não é filha de Leonardo. Pergunta-se: diante das provas produzidas a paternidade deve ser desconstituída? Explique sua resposta em no máximo seis linhas. Gabarito: A confissão de adultério por si só não é suficiente para afastar a paternidade (art. 1602, CC). A simples alegação de coação, sem provas, não é suficiente para viciar o ato de reconhecimento. O fato do vínculo afetivo ter sido rompido não é suficiente para extinguir a paternidade, ainda que não haja vínculo biológico, vez que presente a posse do estado de filho. O fato do reconhecimento ter sido voluntário, torna-o irrevogável e irretratável e, portanto, Leonardo não poderá afastar a paternidade. Vide: APELAÇÃO. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE RECONHECIMENTO DE FILHO. VÍCIO DE VONTADE NÃO COMPROVADO. IRREVOGABILIDADE. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA CONFIGURADA. 1. O reconhecimento voluntário de paternidade é irrevogável e irretratável, e não cede diante da inexistência de vínculo biológico. A ausência da origem genética, por si só, não basta para desconstituir o vínculo voluntariamente assumido. 2. A relação jurídica de filiação é construída também a partir de laços afetivos e de solidariedade entre pessoas geneticamente estranhas que estabelecem vínculos que em... (TJ-RS - AC: 70041923061 RS , Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Data de Julgamento: 28/07/2011, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 03/08/2011) Questão objetiva 1 (MPAP 2012) Mauro e José contam, respectivamente, com dezoito e treze anos de idade. Paulo declara-se pai de Mauro e José neste ano de 2012 e pretende reconhecê-los como filhos, pois ambos seriam frutos de um relacionamento de oito anos que manteve com Ana, genitora de Mauro e José. Nesta hipótese, de acordo com o Código Civil, Paulo: a. não precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento nos quatro anos que se seguirem à maioridade ou à emancipação. b. não precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento nos dois anos que se seguirem à maioridade ou à emancipação. c. precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento no prazo de até dois anos após à maioridade ou à emancipação. d. precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento nos quatro anos que se seguirem à maioridade ou à emancipação. e. precisará do consentimento expresso de Mauro para o reconhecimento e José poderá impugnar o reconhecimento no prazo de até três anos após à maioridade ou à emancipação. Gabarito: D - art. 1614, CC Questão objetiva 2 (OAB X Exame 2013) Rogério, solteiro, maior e capaz, estando acometido por grave enfermidade, descobre que é pai biológico de Mateus, de dez anos de idade, embora não conste a filiação paterna no registro de nascimento. Diante disso, Rogério decide lavrar testamento público, em que reconhece ser pai de Mateus e deixa para este a totalidade de seus bens. Sobrevindo a morte de Rogério, Renato, maior e capaz, até então o único filho reconhecido por Rogério, é surpreendido com as disposições testamentárias e resolve consultar um advogado a respeito da questão. A partir do fato narrado, assinale a afirmativa correta. a. Todas as disposições testamentárias são inválidas, tendo em vista que, em seu testamento, Rogério deixou de observar a parte legítima legalmente reconhecida a Renato, o que inquina todo o testamento público, por ser este um ato único. b. A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida, devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; a disposição testamentária relativa aos bens deverá ser reduzida ao limite da parte disponível, razão pela qual Mateus receberá o quinhão equivalente a 75% da herança e Renato o quinhão equivalente a 25% da herança. c. Todas as disposições testamentárias são inválidas, uma vez que Rogério não poderia reconhecer a paternidade de Mateus em testamento e, ainda, foi desconsiderada a parte legítima de seufilho Renato. d. A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida, devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; é, contudo, inválida a disposição testamentária relativa aos bens, razão pela qual caberá a cada filho herdar metade da herança de Rogério. Gabarito: B - art. 1609 e 1610, CC. Considerações Adicionais Referências Bibliográficas: Nome do livro: Direito das Famílias Nome do autor: FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson Editora: Lumen Juris Nome do capítulo: Capítulo VII A Filiação e o Reconhecimento de Filhos Número de páginas do capítulo: 112
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