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Arbitragem Comercial Internacional

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Arbitragem Comercial 
Princípios, Instituições 
e Procedimentos 
A prática no CAM-CCBC 
Maristela Basso 
Fabrício Bertini Pasquot Polido 
Organizadores 
• • • Marcial Pons 
CAM-CCOC 
Centro de Arbitragem e Mediação 
ARBITRAGEM COMERCIAL: 
Princípios, Instituições e Procedimentos 
A prática no CAM-CCBC 
Organizadores 
MARISTELA BASSO 
F ABRÍCIO BERTINI p ASQUOT POLIDO 
Ana Gerdau de Borja • Caroline Costa • Christiana Beyrodt Cardoso 
Claudio Finkelstein • Cristiane Amaral de Oliveira Gertel 
Cristina Saiz Jabardo •Daniela Monteiro Gabbay • Fabio Alonso Vieira 
Fabrício Bertini Pasquot Polido • Frederico Gustavo Straube 
Giovana Valentiniano Benetti • Gustavo Santos Kulesza 
Júlio César Fernandes • Karin Hlavnicka Skitnevsky • Leandro Tripodi 
Leonardo de Castro Coelho • Luíza Helena Cardoso Kêimel 
Marcelo Junqueira Inglez de Souza • Marcelo Vieira Machado Rodante 
Mariana Cattel Gomes Alves • Maristela Basso 
Nathalia Mazzonetto • Patrícia Shiguerni Kobayashi 
Paulo Eduardo Campanella Eugênio • Rafael Villar Gagliardi 
Sílvia Bueno de Miranda • Sílvia Cristina Salatino 
Thiago Alves Ferreira dos Santos • Thiago Rodovalho 
• • 8 Marcial Pons CAM-CCOC 
MADRI j BARCELONA j BUENOS AIRES 1 SÃO PAULO Centro de Arbitragem e Mediação 
9 
A SENTENÇA ARBITRAL E SEUS DESAFIOS 
CRISTINA SAIZ J ABARD01 
MARIANA CATTEL GOMES ALVES2 
SÍLVIA JULIO BUENO DE MIRANDA3 
Cristina Saiz Jabardo é advogada no L.O. Baptista, Schmidt, Valois, Miranda, Ferreira 
e Age!, nas áreas de arbitragem, direito societário e contratos. É formada em Direito pela 
Universidade de São Paulo, onde também obteve grau de Mestre em Direito Internacional. 
Especialista em Direito Contratual e Societário pela Fundação Getúlio Vargas. Participou 
do Planejamento e Coordenação do Primeiro Treinamento em Arbitragem Comercial para 
Advogados do CAM-CCBC («Advogando na Arbitragem»). 
2 Mariana Cattel Gomes Alves é advogada no L.O. Baptista, Schmidt, Valois, Miranda, 
Ferreira e Age!, na área de arbitragem. Formada em Direito pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (PUC-SP). LL.M. em Direito do Comércio Internacional, Contratos e 
Resolução de Disputas, organizado pela Universidade de Turim e pelo International Training 
Centre da ILO, em colaboração com a Uncitral e o Instituto de Estudos Europeus. Especializada 
em Arbitragem Comercial Internacional pela Cornell Law School (2009) e pela Fundação 
Getúlio Vargas (2007) . Participou do Planejamento e Coordenação do Segundo Treinamento 
em Arbitragem Comercial para Advogados do CAM-CCBC («Advogando na Arbitragem»). 
3 Sílvia Julio Bueno de Miranda é advogada no L.O. Baptista, Schmidt, Valois, Miranda, 
Ferreira e Age!, nas áreas de arbitragem, societário e contratos. Formada em Direito pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), obteve seu LL.M. pela University 
of Michigan Law School. Especialista em Direito Societário e em Arbitragem e Mediação 
pela Fundação Getúlio Vargas. Cursando Especialização em Administração de Empresas na 
Fundação Getúlio V argas. Participou do Planejamento e Coordenação de todos os Treinamentos 
em Arbitragem Comercial para Advogados do CAM-CCBC («Advogando na Arbitragem»). 
jefferson
Realce
jefferson
Realce
jefferson
Realce
jefferson
Realce
jefferson
Realce
jefferson
Realce
314 ARBITRAGEM COMERCIAL 
9.1 INTRODUÇÃ04 
As partes recorrem à arbitragem para que seja resolvido, por um tribunal 
arbitral ou por árbitro único, um litígio que as opõe. A última etapa do procedi-
mento arbitral é a decisória. A sentença arbitral é o objetivo do procedimento. 
No curso do procedimento, o julgador é recorrentemente conduzido a 
proferir decisões de naturezas diversas, qualificadas, conforme o caso, como 
sentença final ou parcial, ou simples ordens processuais ou provimentos de 
urgência. É essencial definir se a decisão do árbitro único ou tribunal arbitral 
pode ou não ser qualificada como sentença.5 Essa distinção tem efeitos rele-
vantes, conforme se verá a seguir. 
A elaboração de uma sentença traz diversos desafios relativos à sua 
validade, reconhecimento e execução. Neste Capítulo, serão analisados os 
desafios atinentes à validade da sentença arbitral. Aqueles que dizem respeito 
ao reconhecimento e à execução serão tratados no Capítulo 12. 
O primeiro item abordará, de forma genérica e introdutória, as decisões 
do tribunal arbitral (9.2), que podem se subdividir em dois gêneros: a sentença 
(9.2.1) e outros tipos de decisões proferidas no curso do procedimento (9.2.2). 
Esses gêneros se dividem em espécies, que também serão abordadas em 
tópicos específicos. A sentença pode ser final (9 .2.1.1) ou parcial (9 .2.1.2), 
e os outros tipos de decisões podem ser de caráter meramente procedimental 
(9.2.2.1) ou de urgência (9.2.2.2). Tendo conceituado os gêneros e espécies 
das decisões proferidas pelo Tribunal Arbitral, passar-se-á à validade da 
sentença (9.3), finalidade última do procedimento arbitral, e às suas condições 
(9.3.1a9.3.3) e requisitos (9.3.4). Por fim, o último item deste Capítulo anali-
sará as objeções à sentença arbitral (9 .4 ), abordando os seus métodos (9 .4.1 ), 
fundamentos (9.4.2) e efeitos (9.4.3). 
9.2 DECISÕES DO TRIBUNAL ARBITRAL 
No iter do procedimento arbitral, o árbitro único ou tribunal arbitral é 
conduzido a proferir diversas decisões, sejam elas finais , parciais ou emer-
genciais, bem como simples ordens processuais. Proferida uma decisão, é 
essencial definir se ela pode ou não ser qualificada como «sentença». 6 
A qualificação é relevante porque a sentença tem efeito de coisa julgada, 
podendo ser objeto de pedido de anulação ou de exequatur, o que se depreende 
de tratados internacionais, como a Convenção de Nova Iorque sobre o Reco-
4 As autoras agradecem o precioso aUXI1io de Felipe Lima Matthes e Karina Sayuri Rampazzo 
Del Valhe Shiroma na preparação deste Capítulo. 
5 SERAGLINI, Christophe. «L'arbitrage Commercial International». ln: BÉGUIN, Jacques; 
MENJUCQ, Michel (Dir.). Droit du commerce intemational. Paris: Litec, 2005 , p. 1035. 
6 SERAGLINI , Christophe. Op. cit., p. 1035. 
CRISTINAS. JABARDO 1 MARIANAC. G. ALVES 1 SÍLVIAJ. B. DE MIRANDA 315 
nhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras («Convenção 
de Nova Iorque») (Artigo III7) e o Protocolo de Genebra relativo a cláusulas 
de arbitragem («Protocolo de Genebra») (Artigo 1.08), bem como de legisla-
ções nacionais, como a Lei Brasileira de Arbitragem - Lei 9.307/19969 (art. 
3110), e a de diversos outros países, como a francesa. 11 Além disso, apenas 
sentenças são abrangidas pelas convenções internacionais sobre reconheci-
mento e execução.12 
A qualificação é importante também para regulamentos de determinadas 
instituições arbitrais, como a Corte de Arbitragem da Câmara de Comércio 
Internacional (CCI). Esse determina que a sentença arbitral deve ser apresen-
tada à Corte em forma de minuta, sujeita a uma revisão formal antes de ser 
finalizada. 13 
A simples ordem procedimental, por outro lado, não produz esses efeitos. 
Neste Capítulo será apresentado o conceito de sentença arbitral (9 .2.1.1 e 
9.2.1.2) e de outros tipos de decisões proferidas pelo Tribunal Arbitral (9.2.2). 
Artigo m - «Cada Estado signatário reconhecerá as sentenças como obrigatórias e as 
executará em conformidade com as regras de procedimento do território no qual a sentença é 
invocada, de acordo com as condições estabelecidas nos artigos que se seguem. Para fins de 
reconhecimento ou de execução das sentenças arbitrais às quais a presente Convenção se aplica, 
não serão impostas condições substancialmente mais onerosas ou taxas ou cobranças mais altas 
do que as impostas para o reconhecimento ou a execução de sentenças arbitrais domésticas.» 
8 Article 1. - «Each of the Contracting States recognizes the validity of an agreementwhether relating to existing or fature differences between parties subject respectively to the 
jurisdiction of different Contracting States by which the parties to a contract agree to submit 
to arbitration all or any differences that may arise in connection with such contract relating to 
commercial matters or to any other matter capable of settlement by arbitration, whether or not 
the arbitration is to take place in a country to whose jurisdiction nane of the parties is subject. 
Each Contracting State reserves the right to limit the obligation mentioned above to contracts 
which are considered as commercial under its national law. Any Contracting State which avails 
itself of this right will notify the Secretary-General of the League of Nations, in order that the 
other Contracting States may be so info1med.» 
9 A Lei Brasileira de Arbitragem está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
leis/19307.htrn. Acesso em: 07.02.2013. 
10 «Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos 
da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título 
executivo.» 
11 SERAGLINI, Christophe. Op. cit., p. 1035. 
12 GAILLARD, Emmanuel; SAVAGE, John. (Ed). Fouchard Gaillard Goldman on International 
Commercial Arbitration. Hague: Kluwer Law Intemational, 1999, p. 736. 
13 Art. 33 do Regulamento da CCI: «Antes de assinar qualquer sentença arbitral, o tribunal 
arbitral deverá apresentá-la sob a forma de minuta à Corte. A Corte poderá prescrever modifi-
cações quanto aos aspectos formais da sentença e, sem afetar a liberdade de decisão do tribunal 
arbitral, também poderá chamar a atenção para pontos relacionados com o mérito do litígio. 
Nenhuma sentença arbitral poderá ser proferida pelo tribunal arbitral antes de ter sido aprovada 
quanto à sua forma pela Corte.» O Artigo 27 (b) desse Regulamento determina que a sentença 
arbitral deve ser apresentada à Corte em forma de minuta, sujeita a uma revisão formal antes de 
ser finalizada. 
316 ARBITRAGEM COMERCIAL 
9.2.1 Sentença arbitral 
No direito brasileiro, a sentença é o ato pelo qual o julgador põe fim ao 
processo, após terem sido percorridas as etapas do devido processo legal.14 
O julgador, ao proferir a sentença, resolve o conflito que foi levado à sua 
apreciação pelas partes. Quanto à sua origem, ela pode ser judicial ou arbi-
tral. A Lei Brasileira de Arbitragem (como a de diversos países e também 
conforme tratados internacionais, como a Convenção de Nova Iorque) equi-
parou a sentença arbitral à judicial quanto aos efeitos, tendo a sentença arbitral 
condenatória força de título executivo. 15 
No âmbito da arbitragem comercial internacional, por sua especificidade, 
o conceito de «sentença» tem sido objeto de debate, tanto quanto a definição 
dos diversos tipos de sentenças existentes. Fala-se, na doutrina internacional, 
em sentenças finais, preliminares, provisórias, interlocutórias ou parciais, sem 
que essas «categorias» sejam efetivamente definidas. 
Em sua obra sobre a arbitragem comercial internacional, Fouchard, 
Gaillard e Goldman (atualizada por Gaillard e Savage) indicam que esses 
termos, que dividem as sentenças em espécies, são geralmente usados sem 
precisão.16 Citam, como exemplos, o regulamento de arbitragem da Comissão 
das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional (Uncitral), que 
estabelece, em seu Artigo 32.1 que, além de proferir a sentença final, o árbitro 
pode dar sentenças provisórias [interim], interlocutórias ou parciais, omitindo-
-se quanto ao que vem a ser cada tipo de sentença. 
O Regulamento da CCI de 2012 segue a mesma linha, definindo sentença 
arbitral como sendo: o termo que se aplica «inter alia, a uma sentença arbitral 
interlocutória, parcial ou final» (Artigo 2.º (v)). O Regulamento do Centro 
de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-
-CCBC) de 2012 tampouco contém definição, estabelecendo apenas, em seu 
Artigo 10.2, que «a sentença arbitral pode ser parcial ou final», sem especificar 
o que se entende por uma e outra. 
O nome conferido pelo tribunal arbitral (ou árbitro único) à decisão por 
ele proferida não é determinante para definir sua categoria. É a natureza da 
14 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo- um comentário à Lei 9.30711996. 2. ed. 
São Paulo: Atlas, 2007, p. 277: «Ü ato mais relevante do árbitro no processo por ele capitaneado 
é, sem dúvida, momento em que o julgador outorga a prestação jurisdicional pretendida pelas 
partes.» 
15 Art. 31 da Lei Brasileira de Arbitragem: «A sentença arbitral produz, entre as partes e seus 
sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo 
condenatória, constitui título executivo.» Art. 475-N, IV do Código de Processo Civil («CPC» ): 
«São títulos executivos judiciais: ( ... ) IV - a sentença arbitral;». 
16 GAILLARD. Op. cit., p. 735. 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES 1 SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 317 
decisão do julgador que a qualificará. 17 Adotando o conceito proposto por 
Fouchard, Gaillard e Goldman no âmbito da arbitragem comercial interna-
cional, sentença é a decisão final do julgador a respeito de todas ou parte das 
questões a ele colocadas, quer diga respeito ao mérito do conflito, à jurisdição 
ou a uma questão processual que leva ao final do procedimento. 18 
Interessante discutir, também, a nacionalidade da sentença arbitral. De 
acordo com o parágrafo único do art. 34 da Lei Brasileira de Arbitragem, 19 
é estrangeira a sentença proferida fora do território brasileiro. A contrario 
sensu, é nacional a sentença proferida no Brasil. Esse critério está em linha 
com um dos critérios adotados pela Convenção de Nova Iorque para quali-
ficar a nacionalidade da sentença arbitral.20 Salienta-se, aliás, nos termos do 
Artigo I(l) da Convenção de Nova Iorque, que esta só se aplica à execução 
17 O item II.1.2 do Guia do Intemational Council for Commercial Arbitration (ICCA) sobre 
a interpretação da Convenção de Nova Iorque de 1958 (Guia ICCA), destaca que os árbitros 
podem proferir diversas decisões que não são necessariamente sentenças. Estas não entram no 
campo de aplicação da Convenção de Nova Iorque. 
18 GAILLARD. Op. cit., p. 737. De acordo com o itemII.1.1 do GuiaICCA, as seguintes decisões 
proferidas pelo Tribunal Arbitral qualificam-se como sentenças: «I. Sentenças finais, i.e., 
sentenças que põem fim à arbitragem. Uma sentença abordando todos os pontos do mérito é 
uma sentença final. Da mesma forma, a denegação de jurisdição sobre a disputa apresentada 
a um tribunal arbitral é uma sentença final; II. Sentenças parciais, i.e., sentenças que dão 
uma decisão final sobre parte dos pedidos e deixam os demais para uma etapa subsequente 
do procedimento arbitral. Uma sentença abordando pedido de custos adicionais em uma 
arbitragem de construção, mas deixando pedidos de danos por defeitos e atrasos para uma 
etapa posterior do procedimento é uma sentença parcial (este termo é, por vezes, também 
utilizado para a categoria seguinte, mas, para uma melhor compreensão, é preferível distingui-
-las); ill. Sentenças preliminares, por vezes também chamadas de sentenças interlocutórias 
ou provisórias, i.e., sentenças que decidem uma questão preliminar necessária para dispensar 
pedidos das partes, como uma decisão acerca da prescrição, ou acerca da lei aplicável ao mérito, 
ou acerca da existência ou não de responsabilidade; IV. Sentenças de custos, i.e., sentenças 
determinando o valor e a alocação dos custos da arbitragem; V. Sentenças declaratórias de 
acordo, i.e., sentenças consignando a solução amigável da disputa pelas partes. Uma sentença 
proferida à revelia, i.e., sem a participação de uma das partes, também se qualifica como uma 
sentença, desde que se enquadre em uma das categorias listadas acima.» 
19 Art. 34. «A sentençaarbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de confor-
midade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, 
estritamente de acordo com os termos desta Lei. Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral 
estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.» 
20 Artigo V - « 1. O reconhecimento e a execução de uma sentença poderão ser indeferidos, 
a pedido da parte contra a qual ela é invocada, unicamente se esta parte fornecer, à autoridade 
competente onde se tenciona o reconhecimento e a execução, prova de que: (a) as partes do 
acordo a que se refere o Artigo II estavam, em conformidade com a lei a elas aplicável, de 
algum modo incapacitadas, ou que tal acordo não é válido nos termos da lei à qual as partes 
o submeteram, ou, na ausência de indicação sobre a matéria, nos termos da lei do país onde 
a sentença foi proferida;( ... ); ou (d) a composição da autoridade arbitral ou o procedimento 
arbitral não se deu em conformidade com o acordado pelas partes, ou, na ausência de tal acordo, 
não se deu em conformidade com a lei do país em que a arbitragem ocorreu; ou (e) a sentença 
ainda não se tomou obrigatória para as partes ou foi anulada ou suspensa por autoridade 
318 ARBITRAGEM COMERCIAL 
de sentenças estrangeiras e não domésticas.21 Entram, portanto, no âmbito 
de aplicação da Convenção de Nova Iorque: (i) as sentenças proferidas no 
território de um Estado que não o Estado em que se pretenda o reconheci-
mento e a execução de tais sentenças22 e (ii) as sentenças não-domésticas, ou 
seja, (a) aquelas proferidas sob a lei de arbitragem de outro Estado, (b) as que 
envolvam elemento estrangeiro e (c) as anacionais.23 
Destacam-se, aqui, três características necessárias para que uma decisão 
possa ser qualificada de sentença, acompanhando os ensinamentos de 
Fouchard, Gaillard e Goldman:24 
1. A sentença deve ser proferida pelo tribunal arbitral (ou árbitro único). 
Assim, ordens ou decisões de instituições arbitrais, como a Corte da CCI ou 
o Presidente do CAM-CCBC, sobre, a título meramente exemplificativo, as 
partes que devem prosseguir num procedimento arbitral, não são sentenças. 
2. A sentença põe fim à disputa submetida ao julgador. Assim, uma decisão 
preliminar ou antecipada, sujeita à instrução ou análise de provas e posterior 
confirmação da decisão, pelo próprio árbitro ou tribunal, não é uma sentença. 
Isso não quer dizer que esta não possa ser parcial, já que, em linhas gerais, a 
diferença desta em relação à final é que a sentença parcial, apesar de ser uma 
decisão que põe fim a uma (ou várias) questão colocada para o tribunal arbitral, 
não traz uma decisão sobre tudo25 (v. item 9.2.1.2). 
3. A sentença obriga as partes. Portanto, uma decisão que só se toma vincu-
lativa se as partes estão de acordo com ela, como ocorre em outras espécies de 
procedimentos alternativos de soluções de conflitos, não é uma sentença. 
Estabelecidos os conceitos gerais de sentença, com suas características 
diferenciadoras em relação a outros tipos de decisões, passa-se a tratar, breve-
mente, de duas categorias de sentenças arbitrais, a final e a parcial. 
9.2.1.1 Sentençafinal 
A expressão «sentença final» é usualmente empregada para definir a 
decisão, proferida pelo julgador, que põe fim à sua missão.26 É a partir dessa 
competente do país em que, ou conforme a lei do qual, a sentença tenha sido prof erida» (grifos 
nossos). 
2 1 Item III do Guia ICCA. 
22 Item III.1.1. do Guia ICCA. 
23 Item III.1.2. do Guia ICCA. 
24 GAILLARD. Op. cit. , p. 737 e 738. 
25 Esse entendimento não é unânime, mas há decisões judiciais nacionais e internacionais que 
o confirmam. Há autores suíços que expressam entendimento diferente, sustentando que uma 
sentença que decide parcialmente questões não pode ser objeto de execução ou anulação, por 
exemplo. Nesse sentido, LALIVE, Pierre; PouoRET, Jean-Francois; REYMoND, Claude. Le droit de 
l'arbitrage interne et intemational en suisse. Lausanne-Suiça: Payot, 1989, p. 406-407. 
26 BLACKABY, Nigel et alii. Redfern and Hunter on lnternational Arbitration. 5. ed. Inglaterra: 
Oxford University Press, 2009, p. 519. 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES 1 SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 319 
decisão final que cessa a jurisdição do árbitro,27 salvo em relação a eventuais 
pedidos de esclarecimento e embargos arbitrais, previstos e permitidos em 
regulamentos de instituições arbitrais28 e legislações de alguns países.29 
Uma «sentença final» pode ser aquela que resolve o último aspecto de 
um conflito, por isso mesmo pondo fim à jurisdição do árbitro. Distingue-se, 
portanto, da sentença parcial ou cautelar, para citar exemplos de sentenças 
que não põem fim à jurisdição do árbitro30 (v. itens 9.2.1.2 e 9.2.2.2 adiante). 
Em sua obra sobre a arbitragem comercial internacional, Fouchard, 
Gaillard e Goldman definem a sentença como sendo a decisão que põe fim 
ao conflito, por completo ou em parte. Ela é final porque de fato põe fim 
à(s) questão(ões) que lhe(s) foi(ram) colocada(s) para decidir. Essa definição 
parece ser a mais adequada. 
Há uma espécie de sentença que põe fim ao processo arbitral e que encerra 
a jurisdição dos árbitros, mas que não passa, necessariamente, por todo o iter 
do procedimento arbitral. Trata-se da sentença homologatória, ou seja, aquela 
pela qual o árbitro ou tribunal homologa acordo alcançado pelas partes. 
No decorrer do procedimento arbitral, pode ocorrer de as partes chegarem 
a um acordo sobre o conflito, optando (i) por finalizar o procedimento arbitral 
e celebrar um contrato que estabelece os termos e condições desse acordo; ou 
(ii) aproveitar a existência de um tribunal arbitral ou árbitro único já consti-
tuído para que este transforme seu acordo numa sentença, que faz coisa julgada 
entre as partes e é passível de homologação em diversos países signatários de 
convenções internacionais sobre o reconhecimento e execução de sentenças. 
Em relação à sentença homologatória, uma primeira questão é levan-
tada: estão os árbitros obrigados a homologar o acordo das partes, quando 
elas assim solicitarem? Diversas leis nacionais e regulamentos institucionais, 
como o da CCI, o da Uncitral, o da LCIA e o do CAM-CCBC, prescrevem 
27 Ver, nesse sentido, BAPTISTA, Luiz Olavo. «Correction and Clarification of Arbitral Awards». 
ln: BERG, Albert Jan Van Den (Ed). Arbitration advocacy in changing times . [s.I.]: Kluwer Law 
Intemational, 2011 (ICCA Congress Series n. 15) p. 275-288. 
28 Exemplos: Regulamento de Arbitragem da Uncitral (Arts. 35-37), Regulamento da CCI, 
Regulamento da Câmara de Comércio de Estocolmo (Arts . 41e42) e Regulamento da London 
Court of Intemational Arbitration (LCIA) (Art. 27). 
29 Exemplos: Lei Modelo da Uncitral (Art. 33), English Arbitration Act de 1996 (Seção 57), 
Lei Brasileira de Arbitragem (Art. 30), Gennan Arbitration Statute de 1997 (novo Art. 1702 bis 
do Judicial Code) e Swedish Arbitration Act de 1999 (Seção 32). 
30 Aliás, o grupo de trabalho da Lei Modelo da Uncitral propôs essa definição, embora tenha 
sido a controvérsia sobre essa terminologia que fez com que a Uncitral abandonasse a tentativa 
de definir o conceito de «sentença>>. Hã, entretanto, vestígios dessa tentativa de definição como, 
por exemplo, no Artigo 32, § 1.º, que determina que a sentença final extingue o procedimento 
arbitral. 
320 ARBITRAGEM COMERCIAL 
que os árbitros têm discrição para decidir a esse respeito, evitando, assim, 
impor-lhes uma obrigação.31 
A prática demonstra que, na maioria dos casos, promove-se a homolo-
gação. Nas hipóteses em que há recusa (dentre as quais as mais comuns são 
quando o acordo das partes fere a ordem pública, configura fraude ou afeta 
direitos de terceiros32), os árbitros apresentam os fundamentos de sua decisão. 
Existe o entendimento de que a homologação sópode abranger as maté-
rias que tenham sido objeto da arbitragem, pois a jurisdição dos árbitros está 
a ele circunscrita. Nessa mesma linha, se o acordo disser respeito a matéria 
que não tenha sido objeto de convenção de arbitragem, o árbitro ou tribunal 
deveria extinguir o processo sem homologar o acordo.33 
Este ponto merece, contudo, uma reflexão: a arbitragem é fruto do 
consentimento das partes. Se as partes concordam em submeter à homolo-
gação dos árbitros questão não discutida na arbitragem, e que integra o acordo 
para pôr fim ao litígio, haveria razão para que esse acordo não fosse homolo-
gado (desde que, claro, seus termos estejam em consonância com as normas 
cogentes do nosso ordenamento e a ordem pública e versem sobre questão 
arbitrável)? 
Nesse contexto, destaca-se, inclusive, o importante papel exercido pelos 
árbitros: incentivar a conciliação e o acordo entre as partes. A celebração 
de acordo no curso da arbitragem tem ocorrido em número considerável de 
casos.34 No decorrer do procedimento arbitral, e em alguns momentos-chave 
como, por exemplo, na celebração do termo de arbitragem, antes ou após a 
audiência, há uma propensão maior para isso. O termo de arbitragem, que 
marca o início do procedimento, é o momento em que as partes começam 
a notar os rumos do procedimento e, por isso, podem querer pôr-lhe fim. A 
fase prévia à audiência, quando as despesas com o processo e com a defesa 
aumentam e o desgaste para as partes pode também ser maior, é, também, 
propícia para o acordo. Por outro lado, após a audiência, a instrução está se 
encerrando e cada parte tem uma melhor percepção das provas existentes e de 
sua maior ou menor fragilidade para suportar um ou outro posicionamento. 
3 1 BoRN, Gary B. lnternational commercial arbitration. New York: Kluwer Law International, 
2009, p. 2437. 
32 BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem Comercial e Internacional. São Paulo: Lex Magister, 
2011, p. 274. 
33 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei 9.30711996. 3. ed. 
São Paulo: Atlas, 2009, p. 377. 
34 De acordo com as estatísticas da CCI relativamente às sentenças arbitrais proferidas em 
2011 , do total de 347 laudos finais, 41 deles foram resultado de acordo entre as partes, ou seja, 
sentenças homologatórias. Nesse sentido, ICC lnternational Court of Arbitration Bulletin, vol. 
23,n. 1, 2012,p. 15. 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES i SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 321 
Há, ainda, uma segunda questão que se levanta em relação a sentenças 
homologatórias. Têm elas o mesmo efeito e autoridade de uma sentença final? 
A Convenção de Nova Iorque não se refere expressamente à sentença homo-
logatória. Por outro lado, a Lei Modelo da Uncitral sobre Arbitragem Comer-
cial Internacional de 1985, com alterações adotadas em 2006 (Lei Modelo 
da Uncitral) fornece um argumento sólido para que se aplique, às sentenças 
homologatórias, o mesmo regime que o de qualquer outra sentença final, já 
que indica, no parágrafo 2.º do seu Artigo 30, que ela «goza do mesmo status 
e produz os mesmos efeitos que qualquer outra sentença sobre o mérito de um 
conflito». A Lei Brasileira de Arbitragem segue a mesma linha, em seu art. 
28 e, portanto, de acordo com o direito brasileiro, a sentença homologatória 
produz os mesmos efeitos e tem a mesma autoridade de uma sentença final 
proferida pelo árbitro ou tribunal arbitral. 
9.2.1.2 Sentença parcial 
A sentença parcial é aquela pela qual o tribunal arbitral ou árbitro único 
resolve, definitivamente, parte do litígio que lhe foi submetido à apreciação. 
Ela é conceituada, por alguns autores, como sendo aquela sentença que põe 
fim a um ou mais aspectos de um litígio, sem encerrar o procedimento.35 
As sentenças parciais são normalmente utilizadas quando é possível 
decidir uma questão que precede outras,36 especialmente com o objetivo de 
reduzir custos e tempo do procedimento. Jurisdição e competência, lei apli-
cável ao contrato e responsabilidade (an debeatur) são exemplos de questões 
que podem ser decididas por meio de sentenças parciais. 
Alguns autores criticam a denominação «sentença final»/«sentença 
parcial»37 porque ela pode levar a uma interpretação errônea de que a sentença 
parcial não resolveria definitivamente o seu objeto. Para evitar confusão, 
propõe-se que a sentença parcial seja oposta à «global»38 e não à final. 
35 Vide BoRN, Gary B. Op. cit. p. 2428-2429. ÜAILLARD, Ernmanuel. Op. cit., p. 740. 
36 O Professor Luiz Olavo Baptista definiu a sentença parcial como sendo: «( ... ) uma decisão 
sob~e certa questão preliminar - por exemplo, a determinação da competência do Tribunal 
Arbitral, ou a aplicabilidade da cláusula arbitral a quem não figura entre os signatários do 
contrato que a contém. Pode também ser proferida sobre certa questão que precede outras. 
A d~isão proferida sobre essa questão - que deve ser indeterminada e independente das 
~emais - pode ser vista como mera antecipação de parte da decisão. A prática é de, quando 
isso ocorre, fazer menção na sentença final à decisão já tomada, anexando ou transcrevendo a 
sentença parcial.» (BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem comercial e internacional. São Paulo: 
Lex Magister, 2011, p. 271-272). 
37 
ÜAll..LARD, Ernmanuel. Op. cit., p. 741. 
38 Idem, 1999, p. 741. 
322 ARBITRAGEM COMERCIAL 
Independentemente da nomenclatura que se utilize, importa ter presente 
que a sentença parcial, como a final, decide definitivamente o litígio que se 
propõe resolver. A diferença, porém, é que a sentença parcial decide apenas 
uma parte do conflito e, portanto, não põe fim ao procedimento arbitral (ainda 
que conclua o aspecto do litígio de que ela trata), ao passo que a sentença 
final, sim, o finaliza, esgotando a jurisdição do árbitro ou tribunal arbitral no 
momento em que as partes são intimadas da decisão.39 
Diversas legislações nacionais e regulamentos de instituições de arbi-
tragem (por exemplo, o da CCI, o da Uncitral, e o da LCIA), conferem 
poderes aos árbitros para proferirem sentenças parciais. A Lei Brasileira de 
Arbitragem não se refere expressamente a essa possibilidade, embora possa se 
inferir sua admissão por via oblíqua no Código de Processo Civil (nos termos 
da Lei 11.232/2005, que passou a contemplar a possibilidade de «fatiamento» 
do mérito). 
A questão já foi objeto de discussão no Brasil, mas o debate, hoje, parece 
ter sido superado.4° Com base no art. 2.º da Lei Brasileira de Arbitragem, 
privilegiando-se a autonomia da vontade das partes, os árbitros têm poderes 
para proferir sentenças parciais, desde que autorizados pelas partes ou, pelo 
menos, desde que não haja nenhuma manifestação delas em sentido contrário. 
Essa autoridade seria inerente à função do árbitro de resolver o conflito do 
modo mais eficiente e adequado possível.41 
Algumas questões se colocam em relação às sentenças parciais: pode 
ela ser tratada como verdadeira sentença, para todos os efeitos, ou deve ela 
ser tida como ato provisório ratificável na sentença final? Em se admitindo 
a primeira hipótese, seria aplicável o dispositivo legal que trata da anulação 
das sentenças (art. 33 da Lei Brasileira de Arbitragem)? Em relação ao 
cumprimento das sentenças parciais, imagine-se que se trate de decisão que 
importe obrigação de fazer, entregar coisa, ou pagar. Havendo resistência da 
parte contrária, poderia o credor iniciar procedimento judicial de execução da 
sentença parcial? 
Essas questões ainda aguardam uma resposta do judiciário. Entende-
-se, entretanto, que, sendo a sentença parcial final em relação ao conflito que 
resolve, ela deve produzir todos os efeitos da sentença final. Essa, aliás, pode 
ser uma desvantagem da prolação de sentenças parciais, pois pode abrir mais 
vias para o recurso ao judiciário no âmbito do procedimento arbitral. 
39 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentárioà Lei 9.30711996. 2. ed. 
São Paulo: Atlas, 2007, p. 302-304. 
4° CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., 2007, p. 351. 
4 1 BoRN, Gary B. Op. cit., 2009, p. 2431. 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES 1 SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 323 
9.2.2 Outros tipos de decisões 
No curso do procedimento arbitral, os árbitros podem se valer de deci-
sões para ordenar o procedimento (9.2.2.1) ou resguardar os interesses das 
partes envolvidas na arbitragem (9.2.2.2). Essas decisões se diferenciam das 
sentenças arbitrais, qualificadas no item anterior. 
9.2.2.1 Decisões de caráter procedimental 
As ordens emitidas pelo tribunal arbitral no curso do procedimento 
podem ser denominadas ordens procedimentais, ordens processuais, comu-
nicados, despachos, dentre outros. Podem, ainda, ser enviadas por e-mail às 
partes, sem qualquer denominação. O nome e a forma dessas ordens não são 
relevantes. O que as identifica é a natureza e a finalidade: são decisões de 
cunho meramente processual, que visam dar andamento ao procedimento, 
conduzindo-o em direção à solução da disputa. 
É por meio destas que o tribunal arbitral se comunica com as partes, 
fixando o calendário do procedimento, orientando a produção das provas, 
solicitando esclarecimentos sobre questões a respeito das quais deseja ser 
melhor informado, dando por encerrada a instrução.42 Estas podem servir, 
inclusive, para chamar a atenção das partes para o comportamento adotado 
na arbitragem (criação de tumultos processuais, excesso de manifestações, 
exageros na linguagem) e aplicar sanções. Exemplos interessantes dessas 
decisões podem ser encontrados no Apêndice IV do Regulamento da CCI de 
2012, que trata das técnicas para a condução do procedimento.43 
Pode ocorrer de a primeira determinação dos árbitros às partes - após o 
recebimento de manifestações e documentos, conforme calendário definido 
no termo de arbitragem - seja para que especifiquem e justifiquem as provas 
que pretendem produzir. O que se espera do tribunal arbitral é que, ao apreciar 
os pedidos de provas, já tenha um conhecimento do caso sufiCiente para que 
defira tão somente as provas que lhe pareçam úteis e necessárias. Com isto, 
evitam-se delongas com provas inúteis - que podem ser custosas e demorar a 
serem concluídas.44 
São exemplos de ordens relativas às provas: (i) designação da audiência 
(local, data, horário) e definição dos procedimentos a serem nela adotados 
42 Este tipo de decisão é referido, por exemplo, no Artigo 27 do Regulamento da CCI, que trata 
do encerramento da instrução e da data para transmissão da minuta da sentença arbitral. 
43 Regulamento da CCI de 2012. Disponível em http://www.iccwbo.org/products-and-
-services/arbitration-and-adr/arbitration/icc-rules-of-arbitration/. Acesso em: 07.02.2013. 
44 Veja a esse respeito o Artigo 7.4.I do Regulamento do CAM-CCBC: «7.4. l. Caberá ao 
Tribunal Arbitral deferir e estabelecer as provas que considerar úteis, necessárias e adequadas, 
segundo a forma e a ordem que entender convenientes ao caso concreto.» 
324 ARBITRAGEM COMERCIAL 
(ordem de inquirição dos depoentes, limitação de tempo para inquirição, 
apresentação de depoimentos escritos, organização dos core bundles45); (ii) 
ordenação da perícia: nomeação de perito do tribunal arbitral ou determinação 
às partes para que indiquem assistentes técnicos, podendo o tribunal indicar 
que, se necessário, nomeará perito de sua confiança para analisar pontos 
de discordância entre esses assistentes; convocação de reunião com peritos 
e assistentes para definição do cronograma dos trabalhos, apreciação dos 
quesitos das partes e formulação dos quesitos do tribunal arbitral, honorários e 
despesas dos peritos; e (iii) disposição sobre o acesso a documentos em poder 
da parte contrária ou de terceiros. 
Outro exemplo de decisão para ordenar o procedimento é aquela que 
determina a sua bifurcação. Esta foi incluída no referido Apêndice IV do 
Regulamento da CCI como uma das técnicas de condução da arbitragem,46 
visando, também, à diminuição de custos do procedimento. Nota-se que, na 
prática, tem sido bastante utilizada, tanto em arbitragens domésticas como 
internacionais (v. item 9.2.1.2 acima, sobre a sentença parcial). 
É de destaque o papel do presidente do tribunal arbitral na emissão de 
ordens processuais. Na prática, é muitas vezes o presidente que toma a frente 
na condução do procedimento, elaborando os projetos das ordens e subme-
tendo-os à consideração dos outros árbitros. A possibilidade de concessão de 
poderes específicos ao presidente é referida em leis, regulamentos e termos de 
arbitragem (assinatura das ordens processuais em nome do tribunal, tomada 
de decisões relativas à fixação de prazos e outras, após consulta aos coárbitros, 
decisões sobre cautelares em caso de urgência).47 
45 Core bundles: aqui se está referindo aos cadernos contendo cópias dos principais documentos 
do caso, aos quais as partes farão referência em audiência (por exemplo, para perguntar às 
testemunhas). Estes podem ser organizados pelas partes, em conjunto, e são entregues aos 
árbitros antes da audiência. 
46 Um dos exemplos do Apêndice IV: «(a) bifurcar o procedimento ou proferir uma ou mais 
sentenças arbitrais parciais sobre questões centrais, quando tais medidas possam genuinamente 
contribuir para uma resolução mais eficiente do caso.» 
47 Artigo 29 da Lei Modelo da Uncitral: «Decision-making by panei of arbitrators. ln arbitral 
proceedings with more than one arbitrator, any decision of the arbitral tribunal shall be made, 
unless otherwise agreed by the parties, by a majority of all its members. "However, questions 
of procedure may be decided by a presiding arbitrator, if so authorized by the parties or all 
members of the arbitral tribunal"» . 
Artigo 33.2 das Regras de Arbitragem da Uncitral: «Decisions. l. When there is more than one 
arbitrator, any award or other decision of the arbitral tribunal shall be made by a majority of 
the arbitrators. "2. ln the case of questions of procedure, when there is no majority or when the 
arbitral tribunal so authorizes, the presiding arbitrator may decide alone, subject to revision, 
if any, by the arbitral tribunal"». 
CRISTINAS.JABARDO 1MARIANAC.G.ALVES 1 SÍLVIAJ.B.DEMIRANDA 325 
Muito embora as ordens processuais não estejam sujeitas a recurso, sua 
irregularidade pode eventualmente afetar a validade da sentença arbitral.48 A 
parte que desejar apresentar recurso contra a sentença arbitral com fundamento 
nessa irregularidade deverá tê-la suscitado prontamente perante os árbitros, 
no momento em que a questão surgiu. Caso contrário, pode-se entender que 
renunciou a isso.49 
Pode haver casos em que não é evidente se determinada decisão do 
tribunal arbitral é uma ordem ou uma sentença, apesar de ter sido qualificada 
pelo tribunal como uma ou outra. Esta distinção é relevante, diante dos efeitos 
da sentença arbitral, já tratados no item 9.2.1 acima. Um exemplo ilustrativo 
é a decisão proferida pela Corte de Apelação de Paris no caso Brasoil, 50 que 
reconheceu que a decisão que havia sido denominada pelo tribunal arbitral 
como ordem, tratava-se, em realidade, de sentença arbitral, na medida em 
que, por meio dela, o tribunal rejeitara o pedido da Brasoil, colocando fim à 
arbitragem. Como observado acima, deve-se atentar à natureza e à finalidade 
da decisão que é proferida para enquadrá-la como sentença ou não. 
48 SERAGLINI, Christophe V. Op. cit., p. 1036. 
49 Um exemplo interessante a esse respeito pode ser encontrado no Artigo 32 das Regras de 
Arbitragem da Uncitral: «Article 32. Waiver of right to object. "Afailure by any party to object 
promptly to any non- compliance with these Rules or with any requirement of the arbitration 
agreement shall be deemed to be a waiver of the right of such party to make such an objection ", 
unless such party can show that,under the circumstances, its failure to object was justified». 
A Lei Brasileira de Arbitragem contém disposição semelhante: «Art. 20. A parte que pretender 
arguir questões relativas à competência, suspeição ou impedimento do árbitro, ou dos árbitros, 
bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na 
primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da arbitragem>>. 
5-0 Braspetro Oil Services v. The Management and lmplementation Authority of the Great 
Man-made River Project, O 1.07 .1999. A decisão deste caso foi comentada por Jose Maria Afonso 
Puig (Pum, Maria Afonso. «Deliberation and Drafting Awards in Intemational Arbitration». ln: 
FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, Miguel Ángel (Ed.); AR.IAs, David (Ed.). Liber Amicorum Bernardo 
Cremades. La Ley, 2010, p. 131-158). 
Confira-se o seguinte trecho da decisão da Corte de Apelação de Paris: 
«The classi.fication of the award (conferred upon a decision) does not depend on the 
terminology used by the arbitrators or by the parties ... after fi.ve months' dispute, the arbitral 
tnbunal gave the "order" on 14 May 1998, whereby, after in-depth analysis of both parties' 
~tance, it declared that "the claim made by Brasoil was dismissed because it had not proven 
lfs allegation of fraud. This well-founded decision - in which the arbitrators considered the 
disputed stances raised by the parties and analysed them in depth in order to ascertain whether 
th~y were sufficiently well-founded, finally to settle the dispute between the parties definitively 
Wlth regard to Brasoil's applicationfor review, the rejection of which put an end to the dispute 
- would appear to be a clear example of the arbitral tribunal exercising its jurisdictional 
power" ... lrrespective of being classi.fied as an «order», the decision of 14 May 1998 ... is, 
therefore, an award». 
326 ARBITRAGEM COMERCIAL 
9.2.2.2 Medidas de urgência51 
As medidas de urgência têm como finalidade evitar a ocorrência de dano 
iminente e de difícil reparação a uma das partes, o que justifica sua concessão 
pelos árbitros em momento anterior à prolação da sentença arbitral. Estas 
visam à preservação dos interesses das partes envolvidas na arbitragem, 
podendo ser concedidas para preservação do status quo, das provas, para 
assegurar o pagamento das custas da arbitragem, para garantir a possibilidade 
de execução da futura sentença, dentre outras finalidades.52 São medidas de 
natureza temporária, que são concedidas independentemente da decisão a ser 
proferida no mérito.53 
Ao conceder determinada medida de urgência, o tribunal arbitral pode 
determinar à parte beneficiada pela medida que preste garantia (por exemplo, 
caução mediante depósito de valores em escrow account, carta de fiança, 
dentre outras).54 
O poder dos árbitros para conceder medidas de urgência pode ser confe-
rido diretamente pelas partes, pela legislação aplicável, ou ainda pelas regras 
da instituição que administra o procedimento.55 No Brasil, embora a Lei de 
51 Por «medidas de urgência>> buscou-se referir a todas as medidas concedidas pelos árbitros e 
cortes estatais diante de um pleito de tutela de urgência formulado pelas partes. O Regulamento 
do CAM-CCBC também se refere a medidas de urgência, em seu Artigo 8. 
52 Confira-se o Artigo 17 da Lei Modelo da Uncitral, que traz em seu item (2) uma definição 
de «interim measure» e exemplos de determinações dessa natureza: «(2) "An interim measure 
is any temporary measure ", whether in the form of an award or in another form, by which, at 
any time prior to the issuance of the award by which the dispute is finally decided, the arbitral 
tribunal orders a party to: 
(a) Maintain or restore the status quo pending determination of the dispute; 
(b) Take action that would prevent, or refrainfrom taking action that is likely to cause, current 
or imminent harm or prejudice to the arbitral process itself; 
(e) Provide a means of preserving assets out of which a subsequent award may be satisfied; or 
(d) Preserve evidence that may be relevant and material to the resolution of the dispute.» 
53 V. YESILIRMAK, Ali. «lnterim and Conservatory Measures in ICC Arbitral Practice, 
1999-2008». JCC lntemational Court of Arbitration Bulletin, Paris, vol. 22, Special Supplement, 
p. 5-11, 2011. 
54 V., por exemplo, o Artigo 8.1 do Regulamento do CAM-CCBC: «8.1. A menos que tenha 
sido convencionado de outra forma pelas partes, o Tribunal Arbitral poderá determinar medidas 
cautelares, coercitivas e antecipatórias, que poderão, a critério do Tribunal, ser subordinadas à 
apresentação de garantias pela parte solicitante». 
E também Artigo 17-E da Lei Modelo da Uncitral: 
«Article I 7 E. Provision of security 
( 1) The arbitral tribunal may require the party requesting an interim measure to provide 
appropriate security in connection with the measure.» 
55 BoRN, Gary B. Intemational Commercial Arbitration. Kluwer Law Intemational, 2009, P· 
1945-1970. 
Regulamento do CAM-CCBC, Artigo 8.1.: «8.1. A menos que tenha sido convencionado de 
outra forma pelas partes, o Tribunal Arbitral poderá determinar medidas cautelares, coercitivas 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES 1 SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 327 
Arbitragem não seja clara a respeito (v. art. 22, § 4.º 56), o poder dos árbitros 
para conceder essas medidas é reconhecido pela doutrina57 e jurisprudência, 
notadamente a do Superior Tribunal de Justiça.58 
Caso o tribunal arbitral ainda não tenha sido constituído, as partes podem 
recorrer ao judiciário para pleitear medidas de urgência, o que não implica 
renúncia à jurisdição arbitral. 59 Podem, ainda, em determinados casos, recorrer 
e antecipatórias, que poderão, a critério do Tribunal, ser subordinadas à apresentação de 
garantias pela parte solicitante.» 
Regulamento da CCI, Artigo 28(1) - Medidas Cautelares e Provisórias: 
«l. A menos que as partes tenham convencionado diferentemente, o tribunal arbitral poderá, tão 
logo esteja na posse dos autos, e a pedido de uma das partes, determinar a adoção de qualquer 
medida cautelar ou provisória que julgar apropriada. O tribunal arbitral poderá subordinar tal 
medida à apresentação de garantias pela parte solicitante. A medida que for adotada tomará 
a forma de ordem procedimental devidamente fundamentada, ou a forma de uma sentença 
arbitral, conforme o tribunal arbitral considerar adequado.» 
Artigo 25.1 das Regras da LCIA: 
«25.1. The Arbitral Tribunal shall have the power, unless otherwise agreed by the parties in 
writing, on the application of any party: 
(a) to order any respondent party to a claim or counterclaim to provide security for all or part 
of the amount in dispute, by way of deposit or bank guarantee or in any other manner and 
upon such terms as the Arbitral Tribunal considers appropriate. Such terms may include the 
provision by the claiming or counterclaiming party of a cross-indemnity, itself secured in such 
manner as the Arbitral Tribunal considers appropriate, for any costs or losses incurred by 
such respondent in providing security. The amount of any costs and losses payable under such 
cross-indemnity may be determined by the Arbitral Tribunal in one or more awards; 
(b) to order the preservation, storage, sale or other disposal of any property or thing under the 
control of any party and relating to the subject matter of the arbitration; and 
( c) to order on a provisional basis, subject to final determination in an award, any relief which 
the Arbitral Tribunal would have power to grant in an award, including a provisional arder for 
the payment of money or the disposition of property as between any parties.» 
56 Artigo 22, § 4.º, da Lei Brasileira de Arbitragem: «§ 4.º Ressalvado o disposto no § 2.º, 
havendo necessidade de medidas coercitivas ou cautelares, os árbitros poderão solicitá-las ao 
órgão do Poder Judiciário que seria,originariamente, competente para julgar a causa.» 
57 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.30711996. 3. ed. 
São Paulo: Atlas, 2009, p. 322-238. 
58 Confira-se trecho da decisão da 3.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, publicada em 
12.06.2012, em ltarumã Participações vs. PCBJOS, REsp 1.297.974-RJ: «A competência do 
Tribunal Arbitral para processar e julgar pedido cautelar formulado pelas partes encontra-se 
pacificada na doutrina e na jurisprudência, visto que o poder é inerente ao compromisso arbitral, 
estando expressamente previsto no art. 22 da Lei 9.307/1996.» Cite-se também a decisão 
proferida pela mesma Turma, publicada em 21.12.2012, em Petrobras vs. Tractebel Energia, 
AgRg na Medida Cautelar 19.226-MS. 
59 V. Artigos 8.2 e 8.2.2 do Regulamento do CAM-CCBC, 28.2 do Regulamento da CCI e 
25.3 das Regras da LCIA: 
Regulamento do CAM-CCBC, Artigos 8.2 e 8.2.2: 
«8.2. Havendo urgência, quando ainda não instituído o Tribunal Arbitral, as partes poderão 
requerer medidas cautelares ou coercitivas à autoridade judicial competente, se de outra forma 
328 ARBITRAGEM COMERCIAL 
a um árbitro de emergência60 (v. a esse respeito o artigo 29 e o Apêndice V 
do Regulamento da CCI, e o art. 37 das Regras do Intemational Centre for 
Dispute Resolution ( «ICDR» )61). 
Uma vez constituído o tribunal arbitral, cabe aos árbitros apreciar o 
cabimento dessa medida, inclusive revendo a decisão tomada pelo judiciário, 
para mantê-la, modificá-la ou revogá-la62 (v. artigo 8.2.1. do Regulamento do 
CAM-CCBC63). 
Em relação aos requisitos, diversas são as fontes que podem ser consul-
tadas pelos árbitros quando da decisão sobre a concessão ou não das medidas 
de urgência. Por se tratar de questão processual, é usual a consulta à lei que 
governa a arbitragem (normalmente a lei do local da arbitragem). Diversas 
outras fontes também podem ser consultadas, como as tendências em arbi-
não houver sido expressamente estipulada por elas. Nesse caso, a parte deverá dar ciência ao 
CAM-CCBC das decisões.» 
«8.2.2. O requerimento feito por uma das partes a uma autoridade judicial para obter tais 
medidas, ou a execução de medidas similares ordenadas por um Tribunal Arbitral, não serão 
considerados como infração ou renúncia à convenção de arbitragem e não comprometerão a 
competência do Tribunal Arbitral .» 
Regulamento da CCI, Artigo 28 .2 - Medidas Cautelares e Provisórias: 
«2. As partes poderão, antes da remessa dos autos ao tribunal arbitral, e posteriormente, em 
circunstâncias apropriadas, requerer a qualquer autoridade judicial competente que ordene as 
medidas cautelares ou provisórias pertinentes. O requerimento feito por uma das partes a uma 
autoridade judicial para obter tais medidas, ou a execução de medidas similares ordenadas por 
um tribunal arbitral, não será considerado como infração ou renúncia à convenção de arbitragem 
e não comprometerá a competência do tribunal arbitral a este título. Quaisquer pedidos ou 
medidas adotadas pela autoridade judicial deverão ser notificados sem demora à Secretaria, 
devendo esta informar o tribunal arbitral.» 
Artigo 25.3 das Regras da LCIA: 
«25.3. The power of the Arbitral Tribunal under Article 25.1 shall not prejudice howsoever any 
party's right to apply to any state court or other judicial authority for interim or conservatory 
measures before the formation of the Arbitral Tribunal and, in exceptional cases, thereafter. 
Any application and any order for such measures after the formation of the Arbitral Tribunal 
shall be promptly communicated by the applicant to the Arbitral Tribunal and all other parties. 
However, by agreeing to arbitration under these Rules, the parties shall be taken to have 
agreed not to apply to any state court or other judicial authority for any order for security fo r 
its legal or other costs available from the Arbitral Tribunal under Article 25.2.» 
60 A atuação do árbitro de emergência, figura existente no regulamento de algumas instituições 
arbitrais, como a CCI e o ICDR, restringe-se à apreciação de medidas de urgência que não 
podem aguardar a constituição do tribunal arbitral. A atuação desse árbitro limita-se à fase 
pré-constituição do tribunal. As questões relativas ao status do árbitro de emergência e ao seu 
procedimento fogem do escopo da presente análise. 
6 1 A ICDR é o braço internacional da American Arbitration Association - AAA. As regras 
estão disponíveis em www.adr.org/aaa. Acesso: 07.02.2013. 
62 ÜAILLARD, Emmanuel; SAVAGE, John. (Ed). Fouchard Gaillard Goldman on lntemational 
Commercial Arbitration. Hague: K.luwer Law Intemational, 1999, p . 711-723. 
63 Regulamento do CAM-CCBC, Artigo 8.2.1: «8.2.1. Assim que instituído o Tribunal Arbitral, 
caberá a ele manter, modificar ou revogar a medida concedida anteriormente.» 
CRISTINAS.JABARDO 1MARIANAC.G.ALVES1 SÍLVIAJ. B. DEMIRANDA 329 
tragem intemacional.64 Na prática, em geral, os tribunais arbitrais verificam 
a existência do fumus boni iuris e do periculum in mora.65 Quanto a outros 
requisitos cuja observância pode ser exigida, é ilustrativo o Artigo 17 .A da 
Lei Modelo da Uncitral.66 
Interessante observar que, ao conceder determinada medida de urgência, 
podem os árbitros determinar à parte beneficiada que informe prontamente 
caso ocorra a alteração das circunstâncias que justificaram a concessão da 
medida. Nestes e em outros casos, havendo justificativa para tanto, pode o 
tribunal arbitral modificar, suspender ou cassar a medida anteriormente 
concedida. 67 
Verificados os requisitos e concedida a medida, a parte contra quem a 
medida é dirigida pode cumpri-la voluntariamente o que, conforme a prática 
da CCI, ocorre na maioria dos casos.68 Se oferecer resistência, o árbitro pode 
solicitar a cooperação das cortes estatais, pois apenas estas podem determinar 
o cumprimento forçado da medida.69 
Caso a medida seja dirigida a terceiros, que não são partes na arbitragem, 
ela deve ser solicitada diretamente às cortes estatais. Em relação às medidas ex 
parte, estas são raramente concedidas pelos árbitros.70 
As medidas de urgência são normalmente concedidas pelos árbitros sob 
a forma de ordens, apesar de haver a possibilidade de serem concedidas sob a 
forma de sentenças.71 
64 YESILIRMAK, Ali. «lnterim and conservatory measures in ICC Arbitral Practice, 1999-2008». 
Bulletin de la Cour Intemationale d 'Arbitrage de la CCI, Paris, vol. 22, 2011, p. 5-11. 
65 Veja os requisitos citados por BoRN, Gary B. Jntemational Commercial Arbitration. Kluwer 
Law Intemational, 2009, p. 1981-1992. 
66 
«Article 17 A. Conditionsfor granting interim measures. 
(1) The party requesting an interim measure under article 17(2)(a), (b) and 
( c) shall satisfy the arbitral tribunal that: 
(a) Harm not adequately reparable by an award of damages is likely to result if the measure is 
not ordered, and such harm substantially outweighs the harm that is likely to result to the party 
against whom the measure is directed if the measure is granted; and 
(b) There is a reasonable possibility that the requesting party will succeed on the merits of 
the claim. The determination on this possibility shall not affect the discretion of the arbitral 
tribunal in making any subsequent determination .» 
67 FRY, Jason; ÜREENBERG, Simon; MAzzA, Francesca. The secretariat's guide to ICC 
arbitration: a praticai commentary on the 2012 ICC rules of arbitrationfrom the secretariat of 
the ICC intemational court of arbitration. Paris: RT, 2012, p. 292. 
68 FRY, Jason; ÜREENBERG. Op. cit., 2012, p. 292. 
69 Os árbitros prescindem do poder de imperium. 
7
° Como observa FRY, Jason. Op. cit., 2012, p. 291. 
71 A título'lixemplificativo, v. trecho do Artigo 28(1) do Regulamento da CCI: «( ... )A medida 
que for adotada tomará a forma de ordem procedimental devidamente fundamentada, ou a 
forma de uma sentença arbitral,conforme o tribunal arbitral considerar adequado» (grifamos). 
330 ARBITRAGEM COMERCIAL 
9.3 VALIDADE DA SENTENÇA ARBITRAL 
A prática demonstra que a maioria das sentenças de arbitragens inter-
nacionais é cumprida espontaneamente, sem a necessidade de se recorrer à 
execução forçada perante o judiciário.72 Porém, como isso não ocorre com 
todas as sentenças, é fundamental analisar se o resultado da arbitragem, que é 
a sentença, reúne todas as condições necessárias para a sua execução forçada, 
caso se faça necessária. 
Para que a sentença arbitral seja válida e exequível, deve conter os 
requisitos impostos pela legislação de cada país, pelas regras institucionais 
escolhidas pelas partes,73 ou acordados pelas próprias partes na convenção de 
arbitragem. 74 
Quanto à legislação, devem-se analisar as regras de dois países: o da sede 
da arbitragem, cujos requisitos são considerados para a anulação da sentença, 
e o do local onde se pretende executar a sentença, verificando se ela poderá ser 
reconhecida e executada naquele local.75 Caso as partes tenham indicado onde 
pretendem executar a sentença, ou de outra forma solicitado a observância a 
requisitos da legislação de determinado país, os árbitros deverão atender esses 
requisitos. Porém, como é pouco comum que as partes façam essa indicação, 
e elas podem escolher livremente onde executar a sentença, um bom parâ-
metro para guiar o trabalho dos árbitros é aplicar o critério estabelecido na 
Convenção de Nova Iorque, que permitirá que a sentença seja reconhecida e 
executada em todos os países signatários.76 
Neste item, serão analisadas as precondições de validade da sentença arbi-
tral, (item 9.3.1), as condições de validade relacionadas ao objeto da sentença 
(item 9.3.2), os limites a que a sentença está sujeita para que seja válida (item 
9.3.3), e os requisitos de validade das sentenças arbitrais (item 9.3.4.). 
72 BoRN, Gary B. Intemational Commercial Arbitration. Kluwer Law Intemational, 2009, p. 
2326. 
73 Artigo 10 do Regulamento de Arbitragem do CAM-CCBC; Artigos 30 a 35 do Regulamento 
de Arbitragem da CCI; Seção V do Regulamento de Arbitragem da Uncitral (regulamentos 
disponíveis em http://www.ccbc.org.br/default.asp?categoria=2&subcategoria=Regulamento 
2012; http://www.iccwbo.org/products-and-services/arbitration-and-adr/arbitration/icc-rules-
of-arbitration/;ehttp://www.uncitral.org/uncitral/en/uncitral_texts/arbitration/2010Arbitration_ 
rules.html). 
74 BoRN, Gary B. Intemational Commercial Arbitration. Kluwer Law Intemational, 2009, p. 
2443. 
75 Este tema será tratado no Capítulo 12 (Reconhecimento e execução das sentenças arbitrais). 
76 REDFERN, Alan et alii. Redfem and Hunter on International Arbitration, Oxford University 
Press, 2009, p. 549. 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES 1 SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 331 
9.3.1 Precondições para a sentença 
Em relação às precondições, deve-se analisar a validade da convenção 
arbitral, e, em seguida, a regularidade da constituição do tribunal arbitral.77 
9.3.1.1 Validade da convenção de arbitragem 
A convenção de arbitragem é um negócio jurídico, e, como tal, deve 
observar alguns requisitos para ser válida. 
O primeiro deles é a forma escrita, que facilita comprovar que as partes 
abriram mão de submeter suas disputas aos órgãos judiciais originariamente 
competentes em favor do órgão arbitral por elas escolhido.78 
O segundo requisito é o consentimento das partes à convenção, que pode 
ser comprovado por sua assinatura (ou do contrato ou do instrumento no qual 
ela está contida), por trocas de correspondências subsequentes consentindo 
com a convenção e em alguns casos até tacitamente, se as partes tiverem parti-
cipado ativamente do procedimento arbitral sem apresentar objeção quanto a 
sua vinculação a ele. 79 
O último requisito é a capacidade das partes para concluir um negócio 
jurídico. Como a maioria das legislações arbitrais nacionais e internacionais é 
omissa neste ponto, discute-se qual a lei aplicável para a sua definição: alguns 
defendem que deve ser aplicada a lei nacional ou do domicílio de cada uma 
das partes, e outros entendem que deve ser aplicada a lei que governa o mérito 
da disputa. 80 
77 No caso Kanematsu, o Superior Tribunal de Justiça negou a homologação da sentença arbitral 
proferida de acordo com o Regulamento da AAA diante da ausência de prova de existência da 
convenção de arbitragem: «Sentença estrangeira contestada. Juízo arbitral. Ausência de prova 
quanto à sua eleição. Art. 37, inciso II, da Lei 9.307/1996. I - Não trazida aos autos a prova 
da convenção de arbitragem, não é possível homologar-se laudo arbitral. II - Observância à 
norma contida no inciso II do art. 37 da Lei 9.307/1996. ill-Pedido homologatório indeferido.» 
(SEC 885, STJ, rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 10.09.2010, grifos nossos). Este caso foi 
analisado Albert Jan van den Berg no seguinte artigo: Brazil n. 13, Kanematsu USA Inc. v. 
ATS - Advanced Telecomrnunications Systems do Brasil Ltda, Superior Tribunal de Justiça, 2 
August 201 O in Albert J an van den Berg ( ed), Y earbook Cornmercial Arbitration 2011 - volume 
XXXVI (Kluwer Law International 2011) p. 258-259. Outro exemplo de anulação decorrente 
de violação às precondições, pode ser visto nesta decisão citada por Pedro A. Batista Martins: 
«Diante de tais falhas não há qualquer dúvida de que a sentença prolatada é nula, diante da 
nulidade do compromisso arbitral e da suspeição do árbitro referido, forte no art. 32, I e II, 
da lei mencionada [LA], tendo a demanda sido proposta dentro do prazo legal sinalado pelo 
art. 33 da Lei 9.307/1996. Por estes motivos, nego provimento à apelação interposta (TJRS, 
12.ª Câmara Cível, Apelação Cível 70.005.797.774, rel. Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro, 
03.~.2003). In MARTINS, Pedro A. Batista. Apontamentos sobre a lei de arbitragem. Rio de 
Janerro: Forense, 2008, p. 330 (grifos nossos). 
78 BoRN, Gary B:Üp. cit , 2009, p. 584. 
79 Idem, ibidem, p. 641. 
80 ÜAILLARD, Emmanuel (Ed.). Op. cit., 1999, p. 243-244. 
332 ARBITRAGEM COMERCIAL 
9.3.1.2 Regularidade na constituição do Tribunal Arbitral 
O método de escolha dos árbitros deve obedecer à vontade das partes, 
que podem definir expressamente o método ou incorporar um mecanismo 
indireto de nomeação. Caso a arbitragem seja institucional, será utilizado o 
mecanismo previsto no regulamento da instituição escolhida pelas partes, a 
não ser que as partes optem por outro mecanismo.81 No entanto, a vontade 
das partes não é absoluta, estando limitada por fatores que visam a garantir 
uma correta administração da justiça82 como, por exemplo, a exigência de 
independência e imparcialidade dos árbitros, conforme explicado abaixo. 
Em geral, as leis de arbitragem nacionais exigem que os árbitros sejam 
independentes e imparciais, de modo a resguardar a neutralidade e o regular 
desenvolvimento do procedimento. Admite-se que as partes aceitem um árbitro 
que tenha revelado circunstância indicativa de parcialidade ou dependência, 
desde que esta decisão seja feita de modo transparente. 83 No entanto, quando 
a circunstância revelada pelo árbitro for muito grave e comprometa signi-
ficativamente sua imparcialidade e independência, não poderá o árbitro ser 
nomeado, ainda que as partes concordem com sua aceitação.84 Existem alguns 
instrumentos internacionais que auxiliam os árbitros a decidirem acerca da 
gravidade da circunstância revelada, como as IBA Guidelines on Conflicts of 
Interest in International Arbitration.85 
Outra precondição de validade da sentença arbitral é o respeito aos prin-
cípios fundamentais do processo. O procedimento arbitral deve compor-se de 
normas indispensáveis que assegurem o respeito ao devido processo legal, 
ao tratamento igualitário das partes e ao direito de apresentar as respectiva.:: 
razões.86 
9.3.2 Objeto da sentençaA sentença arbitral deve contemplar todas as questões controvertidas, 
objeto da arbitragem, de modo a satisfazer as pretensões das partes e solucionar 
81 Como exemplo, o regulamento da instituição escolhida pelas partes pode estabelecer que 
cada parte indicará um árbitro, e que o árbitro presidente será indicado por um órgão da própria 
instituição. Mas as mesmas partes podem, na cláusula de arbitragem, já estabelecer que cada 
uma delas indicará um árbitro e que o árbitro presidente será indicado em conjunto pelos 
coárbitros escolhidos pelas partes. 
82 GAILLARD, Emmanuel (Ed.). Op. cit. , 1999, p. 464. 
83 BoRN, Gary B. Op. cit. , 2009, p. 1508. 
84 BoRN, Gary B. Op. cit. , 2009, p. 1510-1511. 
85 Disponível em http://www.ibanet.org/Publications/publications_IBA_guides_and_free_ 
materials.aspx. Acessado em: 10.02.2013. 
86 BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem Comercial e Internacional. São Paulo: Lex Magister, 
2011, p. 216. 
CRISTINA S. JABARDO 1 MARIANA C. G. ALVES 1 SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 333 
sua disputa. É imprescindível, portanto, saber como se dá a delimitação do 
objeto da arbitragem e até que momento as partes podem alterar seus pedidos. 
No início do procedimento, as partes podem formular seus pedidos em 
termos vagos e genéricos. Uma modificação nesses pedidos será possível 
dependendo do que foi acordado entre as partes ou do que dispõem as regras 
aplicáveis ao procedimento. 
Alguns regulamentos institucionais, como o da CCI, prescrevem que 
modificações nos pedidos são admissíveis em qualquer momento anterior 
à assinatura do termo de arbitragem (ou ata de missão).87 Após sua assina-
tura, novos pedidos só poderão ser introduzidos com a devida autorização 
do tribunal arbitral.88 A justificativa para esta restrição é evitar que as partes 
promovam diversas alterações em seus pedidos ao longo do procedimento, 
prolongando-o desnecessariamente e prejudicando o contraditório e o devido 
processo. 89 
Por outro lado, há legislações de arbitragem e regulamentos institucio-
nais que adotam uma postura mais liberal em relação à introdução de novos 
pedidos. A Lei Modelo da Uncitral, por exemplo, permite modificações em 
qualquer momento do procedimento, desde que não haja prejuízo ao devido 
processo e que os novos pedidos estejam abrangidos pela convenção de 
arbitragem.90 Essa postura parece mais adequada ao procedimento arbitral, 
caracterizado pela informalidade e flexibilidade, desde que não prejudique 
a estabilidade do procedimento. Em relação a este ponto, o importante é que 
o objeto da arbitragem seja estável, ou seja, embora a fundamentação possa 
variar ao longo do procedimento, o objeto tem que ser um mesmo. 
9.3.3 Limites da sentença 
Para tratar dos limites da sentença, recorrer-se-á à noção de arbitrabili-
dade.91 Esta se subdivide entre os aspectos objetivo e subjetivo. O primeiro 
cuida das matérias que podem ser levadas ao juízo arbitral para solução, ao 
passo que o segundo trata de quem pode se submeter ao procedimento arbitral. 
Em relação ao aspecto objetivo, pode-se dizer que matérias que não 
envolvam um interesse econômico (direito patrimonial) disponível, que 
versem sobre direitos inalienáveis e que envolvem áreas sensíveis ao interesse 
público, como trabalhista, propriedade intelectual, falência e concorrencial, 
87 
GAILLARD, Emmanuel (Ed.). Op. cit., 1999, p. 659. 
88 BoRN, Gary B. Op. cit., 2009, p. 1818. 
89 
GAILLARD, Emmanuel (Ed.). Op. cit., 1999, p. 669. 
90 BoRN. Op. cii:;-o009, p. 1820. 
91 N '·• ""\ 
a presente obra, ver também a discussão sobre arbitrabilidade, relativamente às cláusulas 
de arbitragem, à p. 89 (Capítulo 3). 
334 ARBITRAGEM COMERCIAL 
levantam dúvidas quanto à arbitrabilidade.92 O árbitro, ao julgar essas maté-
rias, deverá fazer considerações quanto à ordem pública (internacional) para . 
definir sua arbitrabilidade.93 
Ainda em relação aos aspectos objetivos, é vedado ao árbitro proferir 
uma sentença citra petita, ultra petita ou extra petita.94 Para tanto, devem ser 
observadas a convenção de arbitragem e os pedidos formulados pelas partes.95 
Estes elementos fixam o limite da jurisdição e competência dos árbitros -
tratados no Capítulo 6 - e tudo o que estiver dentro deste limite deve ser 
decidido.96 
Quanto ao aspecto subjetivo, abordado no Capítulo 3, em regra pode 
submeter-se à arbitragem qualquer pessoa capaz de contratar.97 Em relação a 
este ponto, o tema que mais gerou discussão no Brasil foi o de se os Estados 
ou entidades estatais poderiam se submeter à arbitragem. O sistema legal de 
cada país contém regras quanto à possibilidade de os estados vincularem-se 
à arbitragem. Há uma regra internacional firmemente estabelecida segundo a 
qual um Estado ou entidade estatal que aceitou se vincular a uma convenção 
de arbitragem não pode, posteriormente, valer-se de uma disposição de seu 
próprio sistema legal para contestar a validade de sua vinculação.98 
92 «Countries following the civil-law tradition have often tumed to legislation to mark the 
borderline between what is - and is not- arbitrable. ( .. . ) Trying to identify these disputes that 
may be submitted to arbitration, the French Code Civil speaks of "rights of which one can 
dispose freely"; the Japanese Code of Civil Procedure refers to disputes that "the parties are 
entitled to settle"; the Portuguese Act on Voluntary Arbitration mentions "disposable rights"; 
whereas the Swiss Private International Law Act treats as arbitrable "any dispute involving 
property". ( .. .) As one might expect, common-law jurisdictions rely largely on case-law to 
delimit arbitrability.» V ARADY, Tibor; BARCELO III, John J.; MEHREN, Arthur T. von. Intema-
tional Commercial Arbitration. St. Paul: West Group, 1999, p . 220-221. Em linha com o 
indicado por V ARADY, a Lei Brasileira de Arbitragem estabelece os limites da arbitrabilidade 
objetiva: «Art. 1.0 As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir 
litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis» (grifamos). 
93 GAJLLARD. Op. cit., 1999, p. 338-339. 
94 BAPTISTA. Op. cit., 2011, p. 269-270. 
95 Como explica Dinamarco, deve haver uma correlação entre o pedido e o concedido, sendo 
vedado ao árbitro conceder à parte mais que ou coisa diversa do pedido. DINAMARCO, Cândido 
Rangel. «Limites da sentença arbitral e de seu controle jurisdictional». ln: MARTINS, Pedro A. 
Batista; ÜARCEZ, José Maria Rossani (coords.). Reflexões sobre arbitragem: in memoriam do 
Desembargador Cláudio Vianna de Lima. São Paulo: LTr, 2002, p. 331. 
% CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.30711996. 3. ed. 
São Paulo: Atlas, 2009, p. 371. 
97 Art. l.º da Lei Brasileira de Arbitragem: «Art. 1.0 As pessoas capazes de contratar poderão 
valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis» 
(grifamos). 
98 GAJLLARD. Op. cit., I999, p. 322. 
CRISTINAS. JABARDO 1 MARIANAC. G. ALVES 1 SÍLVIAJ. B. DE MIRANDA 335 
9.3.4 Requisitos de validade 
Entre os reqms1tos mais comuns presentes em diversas legislações, 
que estão em linha com a Lei Modelo da Uncitral99 e com a Convenção de 
Nova Iorque (sendo um exemplo a Lei Brasileira100), estão (i) a necessidade 
de a sentença ser dada por escrito; (ii) o respeito a limites de prazo; e que 
da sentença conste (iii) a data e o local onde foi proferida; (iv) a assinatura 
dos árbitros; e (v) a motivação. Neste item serão analisados cada um desses 
aspectos. 
9.3.4.1 Registro escrito 
O registro da sentença deve ser escrito.101 O registro por vídeo ou áudio 
não é suficiente. Além de possibilitar a prova do conteúdo da decisão, a forma 
escrita facilita o seu reconhecimento e execução no estrangeiro, visto que a 
Convenção de Nova Iorque exige a apresentação de uma cópia autenticada ou 
da via original da sentença. 102 
99 Art. 31 da LeiModelo da Uncitral: «Artigo 31.ºForma e conteúdo da sentença arbitral. (1) A 
sentença arbitral será feita por escrito e assinada por um ou mais árbitros. Em um procedimento 
arbitral com mais de um árbitro, serão suficientes as assinaturas da maioria dos membros do 
tribunal arbitral, desde que seja mencionada a razão da omissão das restantes. (2) A sentença 
será fundamentada exceto se as partes acordarem que não haverá fundamentação ou se se tratar 
de uma sentença proferida com base em um acordo entre as partes nos termos do artigo 30.º. 
(3) Da sentença constará a data e o local da arbitragem, em conformidade com o artigo 20.º, 
parágrafo 1.0 • Considerar-se-á que a sentença foi proferida nesse local. (4) Proferida a sentença, 
será enviada a cada uma das partes uma cópia assinada pelo árbitro ou árbitros, nos termos do 
parágrafo l.º do presente artigo.» 
100 Art. 24, caput, da Lei de Arbitragem Brasileira: «Art. 24. A decisão do árbitro ou dos 
árbitros será expressa em documento escrito.» 
Art. 26 da Lei de Arbitragem Brasileira: «Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença 
arbitral: 1 - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio; II - os 
fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-
-se, expressamente, se os árbitros julgaram por equidade; III - o dispositivo, em que os árbitros 
resolverão as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento 
da decisão, se for o caso; e IV - a data e o lugar em que foi proferida. Parágrafo único. A 
s~ntença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do 
tnbunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a 
sentença, certificar tal fato.» 
101 Art. 24 da Lei de Arbitragem Brasileira: «A decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa 
em documento escrito.» 
Art~go 31(1) da Lei Modelo da Uncitral: «A sentença arbitral será feita por escrito ( ... )»; 
Artigo 10.3 do Regulamento de Arbitragem do CAM-CCBC: «A sentença arbitral será expressa 
em .documento escrito». Artigo 34.1 do Regulamento de Arbitragem da CCI: «Após a sentença 
arbitral ter sido proferida, a Secretaria notificará às partes o texto assinado pelo tribunal arbitral, 
desde que os custos da arbitragem tenham sido integralmente pagos à CCI pelas partes ou por 
uma delas.» 
102 Artigo IV, 1, "a", da Convenção de Nova Iorque: «A fim de obter o reconhecimento e 
~xecução mencionados no artigo precedente, a parte que solicitar o reconhecimento e a 
338 ARBITRAGEM COMERCIAL 
a sentença foi proferida define a sua nacionalidade. 112 Existe uma discussão 
sobre a necessidade de a sentença ser proferida no local da sede da arbitragem 
escolhido pelas partes. Na ausência de dispositivo legal, de regulamento insti-
tucional ou de manifestação das partes, pode-se entender que uma postura 
mais liberal pode ser adotada, permitindo-se que a sentença seja proferida em 
local diverso do da sede da arbitragem. Em sentido contrário, havendo dispo-
sição de que os locais devem ser coincidentes, isso deve ser observado.113 Em 
relação a esta questão, a Lei Modelo da Uncitral adota uma posição flexível, 
exigindo que a sentença indique o local da arbitragem, que poderá ser esco-
lhido pelas partes ou fixado pelos árbitros, 114 e considera que a sentença foi 
proferida nesse local. 115 
9.3.4.4 Assinatura dos árbitros 
Outro requisito é o da assinatura: a lei brasileira, 116 como a Lei Modelo 
da Uncitral1 17 exige que a sentença seja assinada pelos árbitros. Este requisito, 
entretanto, não deve conferir a um membro de tribunal arbitral o poder de 
bloquear a expedição de uma sentença que tenha sido aprovada por unani-
midade ou maioria.118 Se um dos árbitros se recusar a assiná-la ou discordar 
de seu teor, a sentença poderá ser assinada pela maioria dos árbitros ou pelo 
112 Art. 34, parágrafo único, Lei de Arbitragem Brasileira: «Considera-se sentença arbitral 
estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.» 
113 GAILLARD. Op. cit., 1999, p. 772. 
114 Artigo 20 da Lei Modelo da Uncitral: «Local da arbitragem: (1) As partes podem decidir 
livremente sobre o local da arbitragem. Na falta de tal decisão, este local será fixado pelo 
tribunal arbitral, tendo em conta as circunstâncias do caso, incluindo a conveniência das partes. 
(2) Não obstante as disposições do parágrafo l.º do presente rutigo, o tribunal arbitral pode, 
salvo acordo das partes em contrário, reunir-se em qualquer local que julgar apropriado para a 
realização de consultas entre os seus membros, para a oitiva de testemunhas, de peritos ou das 
partes, ou para a inspeção de mercadorias, outros bens ou documentos.» 
115 Artigo 31 (3) da Lei Modelo da Uncitral: «Da sentença constará( ... ) o local da arbitragem 
( ... ). Considerar-se-á que a sentença foi proferida nesse local.» Conforme a Nota explicativa do 
Secretariado da Uncitral sobre a Lei Modelo da Uncitral, não é necessário que os árbitros se 
reúnam fisicamente para assinar a sentença em um mesmo local, e a emissão da sentença pode 
ocorrer por meio de uma sequência de atos, ocorridos em vários locais, por telefone ou por 
correspondência. 
116 Art. 26, parágrafo único, da Lei de Arbitragem Brasileira: «A sentença arbitral será assinada 
pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de 
um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.» 
117 Artigo 31 (1) da Lei Modelo da Uncitral: «A sentença arbitral será feita por escrito e 
assinada por um ou mais árbitros( ... ).» 
118 Embora isso aconteça em alguns lugares, qualquer país que contenha regra tão rígida não 
deve ser considerado adequado para arbitragens internacionais, como apontado por REDFERN, 
Alan, et alii. Redfern and Hunter on International Arbitration, Oxford University Press, 2009, 
p. 552. 
CRISTINA S. JABARDO j MARIANA C. G. ALVES j SÍLVIA J. B. DE MIRANDA 339 
presidente, e deverá informar os motivos da ausência das demais assinaturas.119 
Essa regra, que permite a assinatura isolada de um dos árbitros ou da maioria, 
também está refletida em grande parte dos regulamentos de arbitragem.120 
9.3.4.5 Motivação 
Quanto à motivação, a lei brasileira exige que os árbitros motivem sua 
decisão, expondo as questões de fato e de direito sobre as quais recai o julga-
mento. 121 Outras legislações admitem a sentença não fundamentada, 122 e a Lei 
Modelo da Uncitral dispensa a fundamentação sempre que as partes tiverem 
acordado isso, e nos casos de homologação de acordo.123 Uma discussão 
interessante que surge daí é se uma sentença não motivada proferida em um 
país que admite isso poderia ser executada no Brasil, ou se sua homologação 
representaria uma violação à regra de que todas as sentenças devem ser funda-
mentadas.124 O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça 
119 BoRN. Op. cit., 2009, p. 2446-2447. 
Artigo 31 (1) da Lei Modelo da Uncitral: «( ... )Em um procedimento arbitral com mais de um 
árbitro, serão suficientes as assinaturas da maioria dos membros do tribunal arbitral, desde que 
seja mencionada a razão da omissão das restantes.» 
120 Artigo 10.3.2 do Regulamento de Arbitragem do CAM-CCBC: «10.3.2. A sentença arbitral 
será reduzida por escrito pelo Presidente do Tribunal Arbitral e assinada por todos os árbitros. 
Caberá ao Presidente do Tribunal Arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não 
assinarem a sentença, consignar tal fato.» 
Artigo 31. l. do Regulamento de Arbitragem da CCI: «Quando o tribunal arbitral for composto 
por mais de um árbitro, a sentença arbitral será proferida por decisão da maioria. Se não houver 
maioria, a sentença arbitral será proferida pelo presidente do tribunal arbitral sozinho.» 
Artigo 33.1. do Regulamento de Arbitragem da Uncitral:

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