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Aula Ensino Médio A participação das mulheres na vida social e política em Esparta e Atenas

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Ciências Humanas e suas 
Tecnologias - História
Ensino Médio, 1ª Série
A participação das mulheres na vida social e política em Esparta e Atenas
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História, 1º ano do Ensino Médio
A participação das mulheres na vida social e política em Esparta e Atenas
O CASAMENTO E OS VALORES GENTÍLICOS: FAMÍLIA E EDUCAÇÃO
	Vamos conversar sobre o assunto?
		Você já parou para pensar na importância da família na sociedade grega? E quanto ao lugar da mulher nessa família? Alguma vez já pensou nas diferenças educacionais existentes nas duas principais pólis¹ gregas? Não? Então é hora de começar a refletir sobre o casamento e os valores gentílicos na formação da sociedade grega. Mas como era mesmo organizada a família na Grécia? Vamos começar a discutir sobre o assunto.
 Como era a família na Grécia?
	O Mundo da Grécia era formado por uma sociedade altamente patriarcal², onde a palavra do homem exercia o poder supremo no seio familiar. Perante o Governo, o marido sempre estava com a razão no momento dos conflitos entre os cônjuges e a mulher, mesmo se estivesse correta em suas atitudes, levaria a pior. 
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	Devido ao forte laço de amizade (em alguns casos de parentesco) existente entre o rei e os seus guerreiros, todos eram considerados como uma grande família. Como em toda família, existiam as trocas de cumprimento, mas também os litígios.
	Cada família (ou genos³) traça sua descendência até um único fundador, um deus ou herói, a uma delas pertence o rei que dirige o clã na guerra e na paz. Cada família é subdividida em grupos de natureza militar e religiosa, depois vem a população dividida segundo a ocupação, lugar de residência e posição social. 
	O trabalho é feito em casa por todos os membros da família, não sendo, portanto, considerado um incômodo ou opressão. Os escravos e servos sem lar, empregados, fazem parte da família como unidade social e produtiva, embora os trabalhos mais árduos lhes sejam delegados. Como membros da família, estão sob a proteção dos deuses do lar; e a religião e os costumes garantem aos mesmos um tratamento humano.
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E as mulheres?
	Não podemos falar de família sem, no entanto, abordarmos o papel que a mulher possuía na sociedade grega e do seu comportamento diante dos poderes legais da época. A mulher era extremamente dependente e subordinada ao chefe da família ou, quando casada, ao seu marido e senhor. Particularmente em Atenas, as mulheres assemelhavam-se aos escravos, os quais não possuíam nenhum direito político ou jurídico; direitos assegurados na sociedade minoana e, segundo parece, nos tempos de Homero. Porém, a mulher era reconhecida como senhora do escravo, extinguindo-se por aí as semelhanças entre ambos.
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	As atenienses solteiras não podiam encontrar-se livremente com os rapazes, ficando em aposentos separados dos masculinos (o gineceu) e as mulheres casadas viviam longe das vistas alheias, separadas até dos membros masculinos da própria família. Já os homens gozavam de total liberdade política e judiciária dentro do Império, cabendo-lhes os trabalhos com a caça e a agricultura, como também lhes eram dados os direitos, caso quisessem, de não permitir que as suas esposas governassem a sua casa com autoridade. Singularidades eram visíveis de lugar a lugar. Os espartanos, por exemplo, apesar de serem bastante rígidos, ao contrário dos atenienses, permitiam que as suas jovens esposas usassem vestes curtas para a prática de exercícios físicos.
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	Para o cidadão de Atenas, casar-se era, antes de tudo, uma convenção religiosa e social, pois tornava possível a continuação de sua família. Isso mesmo, casava-se PRINCIPALMENTE para poder continuar a família “e assegurava a seu pai o culto que este último igualmente já celebrara em honra dos seus antepassados, culto que era considerado como indispensável à felicidade dos mortos no outro mundo” (FLACELIÈRE: [s.d.], 68)
	Não sabemos com precisão se o amor existia entre os casais formados no fim do século VI, mas que, em meados dos séculos V e IV, os gregos empregavam a palavra Eros (amor) para descrever o sentimento que unia duas pessoas. O amor conjugal apenas será reabilitado, totalmente, na Grécia com a influência dos costumes romanos.
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	A família espartana exercia um importante papel perante o Estado, pois era ela quem educava, desde a infância, as crianças saudáveis para servirem ao exército, enquanto que as crianças não consideradas saudáveis pela Comissão Especial de anciãos eram rejeitadas pelo Governo, podendo morrer ou ser recolhidas por algum hilota.
	Se para as mulheres havia regras rígidas para os homens também, sendo os espartanos obrigados a realizar matrimônio sob pena de serem punidos por lei. Em Atenas, por outro lado, tal obrigatoriedade não existia embora os solteiros fossem vistos com desprezo e censura, sendo liberados de tal obrigação caso possuíssem um irmão mais velho e este já estivesse casado.
	Era preferível o casamento entre pessoas do mesmo grupo social, isto é, a endogamia, exceto entre ascendentes e descendentes e entre irmãos e irmãs da mesma mãe, para conservar e reforçar os laços da família. No caso do único filho ser do sexo feminino, apenas lhe seria permitido casar-se com um parente mais chegado do pai, ficando evidente a preocupação em perpetuar a raça e assegurar o culto familiar.
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Imagem: Lisander of
Sparta / Public Domain
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	O relacionamento do casal tinha como principal intuito a procriação dos filhos, portanto, todos os esforços realizados eram para que a mulher tivesse uma vida saudável para assegurar a continuidade da raça. Com esse fim, havia uma legislação familiar em Esparta que permitia ao homem idoso entregar a sua esposa para ter com varões mais novos e vigorosos filhos saudáveis. Ainda, a mulher que fosse estéril ou cometesse adultério deveria ser repudiada, obrigatoriamente, pelo marido.
	O sustento da família, nas classes sociais mais pobres, muitas vezes ficava a cargo da mulher, que trabalhava como vendedora no mercado, “mas as atenienses só em casos extremos lançavam mão de qualquer ofício, enquanto as mulheres dos metecos eram frequentemente tecedeiras de lã, sapateiras, costureiras, etc”. (FLACELIÈRE: [s.d.], 80) Lembrando que nas camadas sociais mais elevadas, as mulheres apenas sairiam de casa acompanhada por uma de suas escravas. Apenas nas festas familiares é que elas juntavam-se aos homens. 
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E como era a Educação na Grécia?
	Para compreender a educação na Grécia Antiga é imprescindível comparar os métodos educacionais existentes em Esparta e Atenas, duas das polis mais importantes daquela civilização. Vejamos:
 
	A primeira diferença existente entre Atenas e Esparta, no que se refere à educação, diz respeito ao tratamento dado aos recém-nascidos. As crianças de Esparta não eram enfaixadas como em Atenas, pelo contrário, tinham seus membros inteiramente livres. As amas da Lacônica, segundo Plutarco, “habituavam-nos a não serem esquisitos nem difíceis quanto à alimentação, a não terem medo da escuridão, a não recearem a solidão, a absterem-se de caprichos vulgares, de lágrimas e de gritos”. Esse era o motivo pelo qual as famílias aristocráticas de Atenas procuravam amas para
seus filhos em Esparta.
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	Em Atenas, as moças viviam em regime de reclusão, isoladas dos rapazes. Em Esparta, verifica-se o contrário: as donzelas praticavam numerosos desportos em público. Praticavam diversas lutas, o lançamento do disco e do dardo, aprendiam a manusear armas de guerra. Era um método de preparar mães de família fortes, robustas, dotadas de qualidades viris, com o intuito de formarem uniões harmoniosas que dariam crianças, do sexo masculino, fortes e robustas. 
	A educação dos filhos ficava aos cuidados das mães, em casa, secundada pelas suas criadas. O primeiro ensino que os pequenos recebiam, logo que atingiam a idade da compreensão, eram as histórias tradicionais contadas por suas mães. Estas histórias, fábulas, comportavam uma moral, a da experiência, logo, um ensinamento. Mães e amas já iniciavam as crianças na mitologia e nas lendas nacionais, transmitindo-lhes o que elas próprias aprenderam na tenra infância, nas festas religiosas, constituindo-se já numa forma de prepará-las para a leitura dos poemas de Homero e de Hesíodo, em casa do gramatista. 
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	Os pais, em Atenas, não eram obrigados por lei a mandarem seus filhos para a escola, mas a obrigação escolar era certamente imposta pelos costumes. O ensino das letras, da música ou da ginástica era ministrado na casa do mestre e não em um edifício público construído pelo Estado. Em Atenas, verifica-se uma educação quase que inteiramente livre e deixada à iniciativa dos particulares. Exceção à educação dada aos pupilos da nação, quando o Estado pagava a mestres particulares para educarem os filhos dos cidadãos mortos pela pátria.
 
	As despesas com a educação eram, então, custeadas pelos pais. Logo, quanto mais abastada era a família, mais oportunidades tinham os jovens, que a elas pertenciam, de continuar seus estudos até a efebia. Quanto aos pobres, sua instrução acabaria antes, geralmente logo que conhecessem mais ou menos os elementos. Porém, a instrução parece ter sido cultivada em Atenas durante o século V.
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2. ENSAIOS DE REAÇÃO FEMININA NA VIDA E NA ARTE: ANTÍGONA, SAFO, LISÍSTRATA, NEIARA, ASPÁSIA
Toda mulher deveria se encher de vergonha ao saber que não passa de uma mulher.
(Clemente de Alexandria)
 
Melhor morrer de pé do que viver de joelhos!
(Dolores Ibarruri)
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	Para entendermos os limites das mulheres na sociedade grega, avançaremos na leitura e conhecimento de cinco mulheres que suas histórias chegaram até nós. Das cinco, duas são personagens de teatro grego, uma tragédia e outra comédia que, apesar de escritas por homens, permite que identifiquemos inclusive em quais momentos é pensado a possibilidade de ações para as mulheres numa sociedade patriarcal. As três outras, Aspásia, Neara e Safo são mulheres de diferentes camadas sociais que, a seu modo, reivindicaram novos espaços ou encontraram brechas nas regras sociais onde se estabeleceram. 
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2.1 Antígona
	É no amor que se firma essa tragédia escrita por Sófocles, mas logo mostra seu grande diferencial: não é um homem que afronta a ordem estabelecida, e sim uma mulher, Antígona, filha-irmã de Édipo, nobre de origem inabalada no senso ético. É ela que ousa afrontar o Tirano com o fim de prestar as devidas homenagens fúnebres ao irmão. Uma semente que apontava para rudimentares noções de um Direito Universal. A história de uma heroína que também poderia ser descrita como a de um costume cultural se opondo ao direito instituído, questionando até que ponto as determinações de uma única classe poderiam coagir o senso social. 
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	Em Antígona se desvanece a figura predominante da mulher grega totalmente submissa ao homem. Na literatura dramática, a mulher inflamada pela dor e pela perda, despedaçada pela injustiça se fortalece em seus princípios e põe em questionamento as leis de uma cidade frente às leis universais. Deste sentimento ela recebe toda a força que necessita para manter sua postura imperativa, forte e apaixonadamente fervorosa pela realização de seus atos, custe o que custar, mesmo que a sua vida seja o preço. Ela mesma determina que não adianta viver uma morte em vida. 
	Antígona, mulher que rompe com o papel tradicional consagrado pela sociedade ao se rebelar contra o homem e contra a autoridade que representa, tendo como única defesa e sustentáculo seus próprios princípios. Impávida se rebela contra o Tirano. Sozinha executa, sem vacilar, por duas vezes suas próprias determinações e por causa delas recebe o julgamento terreno que a leva ao sepulcro ainda em vida.
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Imagem: Themis / ChvhLR10 / 
GNU Free Documentation License
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Vamos exercitar? Leia o fragmento da música Mulheres de Atenas, de Chico Buarque e Augusto Boal, e faça uma comparação entre a mulher apresentada na música com o que foi discutido sobre Antígona.
“(...) Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas:
Geram pros seus maridos ,
Os novos filhos de Atenas.
Elas não têm gosto ou vontade,
Nem defeito, nem qualidade;
Têm medo apenas.
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios...
Lindas sirenas, morenas.
Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, 
Heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas (...)”
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2.2 Safo, a poetisa 
Erótico. Relativo ao amor sensual, à lubricidade. É a partir desta expressão que se pode começar a compreender o amor de Safo, o “erótico espiritual”. Sua obra e trajetória capaz de vivenciar faces não só do que denominamos amor, mas de transmitir fragmentos de sentimentos, apresentar imagens do amor ao espírito, expressar o desejo, concebê-lo em tudo que ele pode arrebatar, tanto a força da paixão que leva ao pensamento e ao desejo, quanto à tristeza da perda e do desprezo, espada cortante que dilacera a alma, Safo assume em suas palavras a erótica do amor.
 	... Eu enrubesço, empalideço à sua vista;
	Uma perturbação se eleva em minha alma perdida,
	Meus olhos já não veem, já não posso falar.
	Sinto todo o meu corpo a transir e queimar.
Retrato atribuído a poetisa Safo presente em um afresco de Pompéia.
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Imagem: Safo, Pompeia /  Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication
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	Safo, nascida na ilha de Lesbos, de origem nobre, viúva e rica, mãe de Cléis, volta-se para sua sociedade para erigir seu nome entre os maiores poetas da época. Dizem que há nove musas. Que falta de memória! Esqueceram a décima, Safo, de Lesbos. As palavras de Platão transmitem o quão a poetisa representou: simplesmente a primeira mulher da Grécia a registrar por escrito seus sentimentos e poesias.
	Sua origem pode explicar em parte a postura assumida diante da Grécia. Sua cidade é cosmopolita, com posição geográfica e política um pouco singular. Lesbos concede à mulher poder de se perceber como mulher, além de incutir valores sociais altamente femininos. É neste campo que a poetisa funda uma confraria religiosa dedicada à Afrodite
para, através das artes, ensinar a suas discípulas a serem “mulheres”. Nesse processo ela não busca quebrar com a estrutura social, ela pretende, sim, instruir suas alunas a tornarem-se boas esposas, mas isso envolve toda uma educação artística e erótica. 
 	Se não rompe a ordem estabelecida ao menos permite que entre as “irmãs” a mulher experimente uma autonomia, que se descubra e que deseje.
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2.3 Neaira 
	Liberdade. Direito de decidir e agir segundo sua própria vontade, mesmo que imerso num plano cultural cujas regras sociais estabelecem freios à liberdade individual em favor do coletivo. 
	Neaira, escrava, forra, mãe, mulher, cortesã, entre outras designações, uma constante lutadora, representante daqueles que almejam libertar-se de sua condição e romper com todas as marcas que sua antiga “prisão” poderia deixar. Vendida ainda criança, torna-se escrava aos cinco anos de idade. Com os anos, amadurece nas artes da sedução, torna-se uma cortesã, lição ensinada por uma fina pedagoga, Nicareteia, aquela a quem pertencia. Numa sociedade patriarcal como a grega, onde apenas os homens são cidadãos, ser mulher já constitui-se um sinal de inferioridade social; ser escrava é perder-se para tornar-se objeto de outro. 
 
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	Inicia-se a luta de Neaira, a luta para se livrar do adjetivo “objeto”, guerra travada a cada dia, utilizando-se de sua principal arma, na qual todos a queriam vestida, a sedução. Os gregos marginalizam o espaço da mulher na sociedade, delimitando o âmbito de atuação de cada uma das categorias de mulher: as esposas vivem para o lar e para cuidar e gerar a prole; a cortesã para oferecer os momentos de prazer. 
	Neaira deseja galgar até as últimas etapas da hierarquia social que uma mulher pode alcançar, levando consigo seus dois filhos e a filha. Liberta de Nicareteia, torna-se “escrava” de apenas dois amantes, Temanórida e Eucrates. Estes a alforriam permitindo que parta com Frínion para a cidade de Atenas. Corinto não é mas sua cidade, pois em seu contrato de alforria torna-se “persona non grata”. Como num nascimento, Neaira rompe as barreiras que a nutriam, protegiam e escravizavam: sem os cuidados de Corinto é obrigada a perceber o mundo, ver novos horizontes, começar uma nova vida, num novo ambiente, mas agora uma estrangeira “meteco” vivendo com um da terra, um homem livre.
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	Com Frínion suas funções não se modificam, continua sendo um objeto de prazer para seu protetor e amigos, mas agora ela não precisa frequentar as “casas” ou os locais de prostituição, ela frequenta reuniões particulares e festas das quais é convidada. Acaba por construir uma rica clientela que a permite viver no luxo. Além de tudo isso, mesmo que destituída de direitos jurídicos, não é uma escrava, é uma estrangeira que possui um protetor, alguém que a representa perante a cidade e que lhe dá segurança. Ela tem Frínion.
	Em constante luta por si e pelos seus, percebendo sua falta de futuro, foge de Atenas em direção a Mégara, onde inicia nova vida e se une a um novo homem temerosa da reação de seu amante ateniense. Selando seu relacionamento com a cortesã, Estéfano introduz os dois filhos de Neaira em sua fratia como filhos seus. Assim eles serão verdadeiros cidadãos. 
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	Já a sua filha o futuro lhe revela outros caminhos: o de almejar a realeza ateniense, impensado para uma estrangeira que além de tudo já se envolvera com homens. O voo de Neaira em defesa da libertação finalmente encontra uma barreira intransponível, a justiça ateniense “... Não convém que nossas mulheres casadas, segundo a legislação, sejam rebaixadas publicamente ao nível dessa mulher, que, várias vezes ao dia, mantém relações impudicas com numerosos homens segundo a vontade de cada um.” (MAZEL, 1988, pp. 28-29.)
	Neaira não quer romper a estrutura social escravista, ela mesma possui servos, o que ela não quer é permanecer nesta condição subserviente e marginalizada, nem para si nem para os seus. É justamente esta estrutura social que a vence por ser incapaz de admitir uma igualdade entre a mulher nascida na terra, educada para a castidade e a servidão do lar, e a mulher sedutora, libidinosa e ainda por cima escrava e estrangeira.
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 2.4 Aspásia
 
	Inspiradora do Poder. O que marcaria tanto a vida de uma mulher ao ponto de se tornar objeto de atenção de toda uma sociedade? O fato de ser uma estrangeira a colocaria no rol de “mais uma” meteco, ter sido uma prostituta acrescentaria uma lista de “clientes” talvez importantes, tornar-se mulher de um político, mesmo em alto cargo, a daria o status de “mulher de...”, mas não lhe acrescentaria uma maior singularidade na História. Como então Aspásia, nascida em Mileto, habitando o centro político que era Atenas, pôde frente ao patriarcalismo grego deixar sua marca pela emancipação da mulher?
Aspásia de Mileto (c. 469 a.C.– c. 406 a.C., amante de Péricles.
Museus Vaticanos, Roma)
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Imagem: Busto de Aspasia, Museu do Vaticano / Jastrow / Public Domain
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	Atenas descobre com Péricles a plenitude de sua democracia. Eleito estrátego é reeleito durante 14 anos. Considerado um grande orador e conhecido pela “elevação de seu caráter” como dito por Tucídides, o grande homem de Atenas, Péricles, homem casado, divorcia-se por descobrir o amor na pessoa de uma estrangeira. Disposto a romper com a sociedade, a toma como mulher tornando-se seu tutor, já que um ateniense só poderia se casar com uma filha da terra. Assim, Aspásia ingressa nos anais do tempo ao lado do homem que marcou todo um período grego, mas não apenas como sua companheira, mas por tudo que representou, pregou e praticou.
	Aspásia não escrevia poesias mas era uma intelectual que lutava pela emancipação da mulher. Queria tirá-la do gineceu, torná-la participante da vida pública em igualdade de direitos com o homem. Fundou a primeira escola feminina de filosofia e nela recebia, além de suas alunas, visitas de homens e filósofos.
Busto de Péricles com a inscrição "Péricles, filho de Xantipo, Ateniense". 
Cópia romana em mármore de um original grego, c. 430 a.C.
(Museus Vaticanos, Roma)
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Imagem: Busto de Péricles, Museu do Vaticano / Jastrow / Public Domain
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	A luta pela emancipação da mulher é conquistada nas pequenas modificações do dia a dia. Os atenienses se escandalizavam ao ver Péricles considerar a segunda mulher como um ser humano, ao amá-la e demonstrar sua afeição, ao escutá-la e ao discutir problemas os mais diversos buscando seus conselhos. Por influência dela, passa a receber em casa os seus amigos acompanhados de suas mulheres. Pequenos feitos ou um grande passo para a busca da valorização da mulher? Um exemplo para as outras, Aspásia, imbuída de sua cultura e carisma, incita debates, quebra a tradição e põe em conflito a moral que rege a vida social grega ao ponto de ser considerada a eminência oculta de um século eminente.
	Grandes passos que abrirão o caminho para a sedimentação de uma nova estrada que se consolidará no período helenístico, no qual as mulheres passam a reivindicar o direito a seus sentimentos, não mais como guardiãs do lar, procriadoras ou prostitutas, mas uma mulher como mulher, detentora de sentimentos, que ama e quer ser
amada. Aspásia marca a História por seu amor e por ser a “inspiradora do poder”: era o elo de ligação e até inspiração de nomes como Fídias, Sófocles, Péricles, Sócrates, entre outros.
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2.5 Lisístrata
	Um apelo pela Paz. Em plena guerra os oponentes se deparam com a presença da morte, algo inevitável, que traz consigo a dor da perda. Despedida, distância e ausência, fenômenos ocasionadores de sentimentos comuns para aqueles que por algum motivo não participam do campo de batalha, mas recordam os que foram. Em meio ao caos apenas o acordo de paz pode plantar sementes para a volta da harmonia, devolvendo a possibilidade de retomada do cotidiano da vida.
	Lisístrata é uma comédia grega que trata justamente da guerra e dos meios possíveis para se alcançar a paz. Onde o homem se fecha em seu senso para dar abertura a seus desejos de conquistas, a mulher irrompe na luta pela paz com a única arma a seu alcance, o sexo, ou melhor, pela negação do ato sexual, a fim de persuadi-los a desistir das batalhas .
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	A personagem idealizada por Aristófanes, cujo significado em grego é “a que dissolve exércitos”, reúne as mulheres das cidades gregas envolvidas na Guerra do Peloponeso - Esparta e Atenas - e as incita a uma rebelião, toma a Acrópole em conjunto com elas e segue até conquistar seus objetivos. Através de Lisístrata se percebe a mulher que reivindica, estabelece alianças e luta. Cansadas das separações e das dores impostas pela guerra, exigem a volta de um cotidiano mais sereno e satisfatório.
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Imagem: Helen, de Antonio Canova, 1812 / Marie-Lan Nguyen /  Creative Commons Attribution 2.5 Generic
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	Agora que já conhecemos diferentes visões sobre as mulheres no mundo grego, você consegue identificar alguma história de vida de mulheres que se assemelhem a de Antígona, Neaira, Aspásia, Safo ou Lisístrata?
	Vamos debater sobre as mudanças na sociedade e a participação da mulher na política, fazendo um paralelo entre o que aprendemos sobre as mulheres na Grécia e a vida atualmente.
Bons Estudos!
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Considerações Finais:
 	Seria quase impossível compreender a civilização helênica sem a investigação de aspectos prosaicos, mas de fundamental importância, tais como sua estrutura familiar, sentimental e educacional. Graças a essa análise nos aproximamos da mentalidade de um povo que legou à civilização Ocidental conquistas até hoje insuperáveis - desde seu magnífico teatro até os princípios rudimentares de um regime democrático, passando por sua filosofia. Tal exame propicia, igualmente, farto material. Ao mesmo tempo que nos oferecem uma cultura que se distancia da presença da culpa cristã que perpassa a nossa, por outro lado exibem regras de conduta pautadas pela discriminação de um contingente nada desprezível de suas populações, especialmente mulheres, escravos e estrangeiros.
	 Acima de tudo, o estudo dos aspectos sociais e culturais da civilização helênica nos permite conhecer mais da rica trajetória humana, no que há de contraditória e inovadora. O referencial grego será sempre importante, tanto naquilo que legou de positivo quanto por aquilo que ficou como um registro de experiências cuja superação se impõe a nós contemporâneos, notadamente a nós, contemporâneas, desejosas de usufruir de uma cidadania e afetividade mais completas e satisfatórias.
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
FLACELIÈRE, Robert. A Vida Cotidiana dos Gregos no Século de Péricles. Lisboa, Edição Livros do Brasil. [s.d.]
 
ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia. 3ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara, 1963.
 
MAZEL, Jacques. As Metamorfoses de Eros: o amor na Grécia Antiga. 1ª Edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1988.
 
MONTANELLI, Indro. História dos Gregos. Ed. Instituição Brasileira de Difusão Cultural S/A, 1972.
 
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