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DIREITO EMPRESARIAL PARTE GERAL TEXTO DA AULA 03 UNIFICACAO DO DIREITO PRIVADO

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Ainda sobre a unificação do direito privado no Brasil 
Marco Aurélio Gumieri Valério 
Publicado em 03/2002. Elaborado em 01/2002. 
Sumário: Introdução; 1. O histórico da união do direito privado no Brasil: O pioneirismo de 
TEIXEIRA DE FREITAS; as experiências européias; o Código Civil italiano; o Código de 
Obrigações suíço; os projetos malogrados de união do direito privado no Brasil; o anteprojeto 
de Código Civil de 1975; 2. As diferenças entre o direito civil e o comercial: o nacionalismo, 
a gratuidade, a formalidade e a rigidez legislativa do Direito Civil versus o universalismo, a 
onerosidade, a pretensão de boa-fé e a simplicidade do Direito Mercantil; pontos de 
imbricamento dos dois sistemas; 3. Os motivos apregoados para a união do direito privado: a 
preleção de CESARE VIVANTE, a união fática dos dois ramos do Direito Privado; 4. A 
relevância da autonomia privada: as diferentes correntes, a retratação de VIVANTE; 5. Os 
problemas que enseja a unificação: os problemas relacionados à unificação do Direito Privado 
Brasileiro, as críticas ao projeto de Código Civil de 1975, a moderna tendência de 
fragmentação do direito em micro-sistemas; Conclusão; Referências Bibliográficas. 
 
Introdução 
A finalidade do presente trabalho é o estudo e a análise do secular duelo jurídico sobre a 
autonomia do Direito Comercial face ao Direito Civil, dando-se primazia, nesta oportunidade, 
aos fatores nacionais e hodiernos. 
Com a aprovação do projeto de Código Civil no Senado Federal, está novamente, na ordem 
do dia, o debate sobre a viabilidade e a conveniência dessa reforma, levando-se as discussões 
para além da dicotomia que orienta o Direito Privado, pensando-se, inclusive, na real 
possibilidade de um sistema estável de direito escrito nos dias correntes. 
Na abordagem do tema, procura-se atentar, para as suas novas cores e mais recentes tons, 
dando-se predomínio aos problemas atuais e às modernas questões que margeiam este 
assunto. 
Adentrando ao estudo, primeiramente procede-se com a apresentação de um sucinto histórico 
nacional, citando-se os trabalhos dos principais protagonistas desta questão. 
Segue-se então, por uma apreciação dos motivos impeditivos à união dos Códigos Civil e 
Comercial, bem como, ainda, se aludirá os pontos doutrinários que justificam essa união, 
exaustivamente defendida pela corrente unionista. Tais teorias não serão aqui discutidas, 
evitando enfadar o eventual leitor, de vez que a doutrina, já ha muito se manifesta a respeito. 
Por fim, a discussão será concluída mediante uma síntese deste assunto, apontando um 
caminho alternativo para a resolução deste embate. 
 
1. O histórico da união do direito privado no Brasil 
A tentativa de unificar o direito privado no Brasil remonta os idos do séc. XIX época em que 
o jurista AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS recebe a incumbência de apresentar um 
projeto de Código Civil. FREITAS, então, inova e surpreende os juristas de seu tempo, 
quando em 20 de setembro de 1867, defende junto ao governo a necessidade de unir os 
Códigos Civil e Comercial, a fim de resolver o que ele mesmo denominava de "uma 
calamitosa duplicação das leis civis". 
Para tanto, planejava a produção de dois códigos, um geral, contendo definições e princípios, 
e o outro, civil, abrangendo toda matéria civil e comercial. Para ele, "não há tipo para essa 
arbitrária separação de leis, a que se deu o nome de direito comercial ou Código Comercial, 
pois que, todos os atos da vida jurídica, excetuados os benéficos, podem ser comerciais ou 
não comerciais, isto é, tanto podem ter por fim o lucro pecuniário, como outra satisfação da 
existência". (BORGES: 1959, p. 50) 
A esta tendência reformadora, adveio a verificação do fenômeno da comercialização do 
direito civil, ou da generalização do direito comercial, que consistiu, basicamente, numa 
utilização indistinta e progressiva de institutos de direito mercantil, por agentes civis, 
abalando-se assim, dicotomias tradicionais e históricas. Exemplo característico deste 
fenômeno é a difusão dos títulos de crédito, como o cheque, a nota promissória e o 
aparecimento de sociedades para relações civis. (BORGES: 1959, p. 52) 
É importante salientar que esse fenômeno não aconteceu apenas no Brasil, verificando-se sua 
existência em âmbito mundial, ocorrendo reformas legislativas em países europeus, 
decorrentes desse progressivo processo de absorção de entes jurídicos que, de início, eram 
essencial e exclusivamente de direito comercial. (BULGARELLI: 1986, p. 55) 
Na Suíça, em 1881, teve-se o estabelecimento do Código Federal de Obrigações e, na Itália, 
em 1942, do Código Civil que, indo além do seu antecessor suíço, unificou não apenas a 
matéria obrigacional, mas também, toda a matéria civil, comercial e trabalhista. 
A partir de Teixeira de Freitas, esta influência européia se consubstanciou no Brasil, 
embasado na defesa da união das matérias civis e comerciais, buscando-se o intuito de 
concretizar o que se convencionou chamar de um "Código de Direito Privado". 
A meta de unificação também foi o lema de INGLÊS DE SOUZA, autorizado pelo Dec. n. 
2379, de 04 de janeiro de 1911 a executar a reforma do Código Comercial de 1850. 
Para este jurista, havia uma necessidade de união entre o Direito Civil e Comercial, devido à 
absorção daquele por este último, pois, aos seus olhos, "é o direito civil que se funde, por 
assim dizer, no comercial, influenciado, por sua vez, pelo interesse social que prima ao 
individual". (FRAN MARTINS: 1991, p. 36) 
Foi dele o estabelecimento da tradicional tendência unionista, no entanto, sem produzir efeitos 
legislativos, já que seu intento fora prejudicado com o advento do Código Civil de 1916, pelas 
mãos do saudoso CLÓVIS BEVILAQUA. (FRAN MARTINS: 1991, p. 36) 
Em 1941, o processo de unificação é novamente impulsionado com o estabelecimento de uma 
comissão formada pelos nomes de PHILADELPHO AZEVEDO, OROZIMBO NONATO e 
HAHNEMANN GUIMARÃES, concedendo-se, a eles, a incumbência de proceder á revisão 
do Código Civil. 
Como assevera RUBENS REQUIÃO, "esta revisão foi executada com o escopo de atender às 
modificações operadas por leis posteriores, seguir as modernas tendências do direito, mitigar 
os excessos do individualismo, incompatíveis coma ordem jurídica dos tempos que correm, e 
reduzir a dualidade de princípios aplicáveis aos negócios civis e mercantis, em prol da 
unificação de preceitos que devem reger todas as relações de ordem privada". (1976, p. 19) 
Este projeto, entretanto, da mesma forma que os anteriores, não obteve o sucesso almejado. 
Em 1961, fundou-se uma comissão de estudos legislativos e, no ano seguinte, em 1962, 
formou-se novamente um grupo para reformar a matéria de direito privado, composta, dentre 
outros eminentes juristas, por OROZIMBO NONATO e CAIO MÁRIO DA SILVA 
PEREIRA, que propugnavam a criação de um Código de Obrigações e um Civil. (CRUZ: 
1994, p. 12) 
Não obstante, essa solução ser uma das mais prudentes dentre as que apresentaram os 
defensores da unificação, igualmente às posteriores, não vingou. 
Por fim, teve-se a formação do anteprojeto de Código Civil, publicado no Diário Oficial, em 
07 de agosto de 1972, fruto e resultado dos esforços de juristas como MIGUEL REALE, 
JOSÉ CARLOS MOREIRA ALVES, AGOSTINHO DE ARRUDA ALVIM, SÍLVIO 
MARCONDES, EBERTI CHAMOUM, CLÓVIS DO COUTO E SILVA, TORQUATO 
CASTRO. Estes juristas se preocupavam precipuamente em dar ao país uma legislação 
comercial e civil moderna que compactuasse com as evoluções jurídicas e históricas da 
sociedade brasileira, embasando-a em princípios informadores de socialização, afastando, em 
certa medida, as posições radicalmente individualistas, que eivavam tanto a codificaçãocivil 
de 1916, quanto a mercantil, que remonta a 1850, expressões do todo conservador liberalismo 
burguês. (FRAN MARTINS: 1991, p. 38) 
Esse projeto, a despeito de louváveis inovações doutrinárias, não merece igual lisonja no que 
tange à proposta que almeja, haja vista que seus cultores defendem a adesão, num mesmo 
código, da matéria civil e comercial, concebendo-se uma imensa obra sui generis pelo 
agrupamento de artigos. 
Todavia, esse intuito ressente-se, até o momento, de uma harmonia de princípios, posto que a 
distinção científica dos ramos civis e mercantis se mantém, a despeito da perda da autonomia 
formal de ambos. 
Ademais, falta ao projeto termos e conceitos de direito comercial em face dos similares civis, 
além disso, privilegiou-se as sociedades anônimas, permitindo a sua retirada do anteprojeto, 
que mantém, contudo, em seu corpo, as demais sociedades, o que parece incoerente com o 
processo de codificação aquilatado. (FRAN MARTINS: 1991, p. 38) 
É necessário, enfim, ponderar pacientemente sobre a conveniência, viabilidade e necessidade 
da formação de um código de tal largura, pois, como viremos a demonstrar, talvez o momento 
histórico atual não seja propício a codificações. 
 
2. As diferenças entre o direito civil e o comercial 
Faz-se oportuno abordar algumas das mais relevantes distinções que contribuem para a 
cristalização da dicotomia entre o direito civil e o direito comercial. 
O Direito Civil, Ius Civile, tem, como características fundamentais: o nacionalismo, pois têm 
por alvo as leis civis, o cidadão pátrio, e suas relações jurídicas em território nacional; a 
gratuidade, posto que é possível e até correntio a difusão, neste ramo do direito, dos atos 
gratuitos, tais como a doação, depósitos e a gestão de negócios fundados na satisfação moral e 
na solidariedade humana; a complexidade e a formalidade, preceitos que servem como meio a 
evitar que atos de saliente reflexo sobre o estado da pessoa ou ainda seus bens venham a ser 
executados validamente por incapaz, ou por pessoa engodada, caso em que se enseja a 
nulidade do ato; a rigidez legislativa, que flui do tradicionalismo originário do Direito 
Romano, como evidenciado no Corpus Iuris Civile, que amiúde informa o atual modelo 
dogmático civilista. 
O Direito Mercantil, Ius Mercatorum, por sua vez, porta certas virtudes que o identificam, tais 
como: o universalismo, que viabiliza as negociações de exportação e importação de serviços e 
de recursos entre países; a onerosidade, pois não se concebe em qualquer relação comercial 
que seja, atos meramente benéficos ou exclusivamente altruístas, uma vez que à atividade 
comercial acede a ambição pelo lucro, o desejo pelo proveito; a pretensão de boa-fé tornando 
possível a transferência instantânea de títulos ao portador ou por endosso, facilitando e 
agilizando as relações; a simplicidade, a informalidade e a elasticidade legislativa, atributos 
que decorrem da imperiosa necessidade de celeridade e solução dos conflitos comerciais que 
não podem suportar longas demandas, que suspendam os direitos e, por conseqüência, 
desacelerem a dinâmica das atividades econômicas. (AZEREDO: 1972, p.15) 
O Direito Civil identifica-se pela ação direta, o acordo de interesses individuais, a abrangência 
a todos os homens de uma nacionalidade indistintamente, a estabilidade da propriedade, os 
bens como objeto de aquisição, a originalidade, e a absorção individual dos riscos. 
O Direito Comercial sofre a influência da mediação, da especulação, da especialização 
técnica, da dinamicidade, da propriedade, da circulação dos bens, da padronização, da 
uniformização e da internacionalização das técnicas e leis aplicáveis aos casos. 
Contudo, é inegável o imbricamento, em certa medida, dos dois ramos do direito, que se 
intersecionam em diversos institutos, por exemplo, na abertura de conta-corrente, contrato de 
crédito, fundo de aplicação, duplicata, cheque, etc. A generalização destes institutos de uso 
correntio dos setores comerciais, empresariais e, atualmente, por qualquer cidadão, 
indistintamente, são efeitos da generalização do direito mercantil. 
Todavia, como alerta o jurista WALDÍRIO BULGARELLI, "o Direito Comercial não se 
confunde com o Civil, não obstante os inúmeros pontos de contato existentes entre ambos, 
sendo o Direito Comercial um direito que se apresenta como tendência profissional enquanto 
que, o civil, é de tendências individualistas". (1986, p. 55) 
Com sobriedade, portanto, há que se propender pela manutenção da independência do Direito 
Mercantil como vertente diversa do Direito Civil, pois como assevera FRAN MARTINS, 
"não é evidentemente o direito comercial um ramo do direito civil, mas uma parte 
especializada do direito Privado que regula os atos necessários aos comerciantes para o 
exercício de sua profissão e os atos por lei considerados como mercantis". (1991, p. 33 e ss) 
 
3. Os motivos apregoados para a união do direito privado 
AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS, em 20 de setembro de 1867, fez ao governo, como já 
citado em momento anterior, inovadora proposta para a criação de um Código de Direito 
Privado, sendo pioneiro na abordagem do assunto. 
Apesar disso, a corrente unionista tem em CESARE VIVANTE, jurisconsulto italiano, seu 
maior nome que, no dia 15 de dezembro de 1888 procedeu, sua famosa preleção, com que 
prefaciou seu curso na Universidade de Bolonha e defendeu com tenacidade singular a 
unificação do Direito Privado. 
Alegava, como motivação à sua dogmática que "os usos e costumes mercantis abarcam 
indistintamente a todos, inclusive os civis, salvo quando legislados ou positivados; a 
dificuldade de dirimir a obscura questão relativa á natureza da causa, defluente da incoerência 
de uma definição clara dos lindes do Direito Civil e Comercial; a arbitrariedade discricionária 
na definição da lei aplicável, a comercialidade duvidosa do ato e a categoria obscura do 
agente, sendo considerada, esta faculdade, contra o princípio de segurança jurídica; a 
coexistência de dois códigos tratando de um mesmo instituto gera óbices evidentes à exegese 
legal, dificultando a conciliação e ensejando contradições, expõem o estudante de Direito 
Comercial ao perigo de olvidar a teoria geral das obrigações, visto que está na legislação, na 
doutrina e no ensino dividida por uma perniciosa e espúria muralha que obsta, ou ao menos 
dificulta, um estudo imbricado destas matérias, como seria natural e proficiente". (FRAN 
MARTINS: 1991, p. 51-2) 
Assim, tem-se á vista os mais fortes argumentos pela unificação, ideal este que tem sido 
acariciado por muitos doutrinadores nacionais e estrangeiros, favoráveis pela unificação. 
No Brasil, mais do que em outros países, como a França e a Bélgica, que conservaram a 
dualidade da jurisdição e do processo, podemos afirmar que a unificação, em grande parte já 
se efetuou. 
As bolsas, os armazéns gerais e os bancos, os contratos de conta-corrente, e a abertura de 
crédito, etc., são institutos cujo uso se faz indistintamente pelos cidadãos, e não mais, como 
antigamente, apenas por comerciantes, fato este que historicamente justificava a autonomia e 
atualmente, porém não se justifica. (BORGES: 1964, p. 132 ss) 
São sobremaneira sedutores tais argumentos, tanto que seus reflexos são sensíveis em nossa 
era. Os próprios responsáveis pelo anteprojeto de Código Civil Brasileiro de 1975 foram 
seduzidos pela doutrina unionista. 
 
4. A relevância da autonomia privada 
Em meio a tais argumentos, encontram-se outros no sentido de cristalizar a dualidade entre o 
Direito Civil e o Direito Mercantil ou Empresarial, como desejam os italianos. 
Esta corrente encontrou abrigo na pessoa de ALFREDO ROCCO, que postula como 
prementesmotivos que justificam a mantença da dicotomia, "as exigências da classe 
mercantil, setor especial da sociedade, demanda a geração de um ramo distinto que possa 
atender eficientemente as ingentes necessidades para a sobrevivência e desenvolvimento do 
setor; a necessidade de simplicidade, de celeridade e de informalidade das atividades 
mercantis; proficiente tutela jurídica do crédito, como elemento fomentador da atividade 
negocial". (FRAN MARTINS, 1991: p. 53) 
O próprio mentor da unificação, CESARE VIVANTE, em 1919, abdicou do unionismo que 
tanto defendera em anos anteriores, e se retratou, convertendo-se à tese dicotômica. Declara o 
jurista italiano que, "por minha freqüente participação nas reformas legislativas e 
especialmente na do Código de comércio, durante os numerosos anos transcorridos desde a 
iniciativa a que me venho referindo, me convenceram que a fusão dos dois códigos em um 
acarretaria prejuízo para o direito mercantil". (FRAN MARTINS, 1991: p. 54-5) 
Após esta nobre retratação, publicada na introdução da quinta edição de seu clássico Trattado, 
abalou-se a tradicional doutrina unionista, que encontrava neste autor seu ponto de apoio. 
VIVANTE alega ser necessária a manutenção da dicotomia entre o direito comercial e o civil 
e, como motivos de sua asserção, ostenta evidentes diversidades de método, de área e de 
atividade e perspectiva, os quais dividem estas vertentes jurídicas. 
Na esfera civil, prevalece a dedução, tendo por parâmetros, a nação e observação de atos 
isolados, enquanto que, o método predominante no direito comercial é o indutivo, sua área de 
atividade é o mundo e, sua perspectiva, os negócios em massa. 
Ademais, há que avultar a conveniência didática e coerência à pragmática das codificações 
modernas nacionais. Estes fatores induzem cada código a ocupar um diploma legislativo, 
assim, então, seus especialistas poderão dedicar exclusiva e especial atenção ao objeto de seus 
estudos, publicando anotações, comentários e dissertações capazes de exaurir a matéria, 
consistindo em uma exegese quase completa do código. (FRAN MARTINS, 1991: p. 54-5) 
Essa tendência parece contrária ao progresso científico e à pragmática jurídica, pois se 
atravessa no mundo científico, por um processo inexorável de constante fragmentação e 
especialização em todas as esferas do conhecimento, inclusive nas jurídicas, formando-se 
micro-sistemas como no direito cambiário, no direito falimentar, no direito do consumidor, no 
direito agrário, etc. (FRAN MARTINS, 1991: p. 54-5) 
Isso ocorre para que se possa conquistar celeremente, maiores descobertas, em menores 
períodos assim, mister se faz a difusão de especialistas que hão de compulsar, estes ingentes 
assuntos jurídicos, congregados em sem número de obras nacionais e estrangeiras, conforme 
sua área de concentração científica. 
A questão da reunião não pode, por conseguinte, se pautar em fatores respeitantes a política 
legislativa, pois, deve-se integrar a este relevante problema motivos de ordem científica, 
pedagógica, didática que o oriente. (FRAN MARTINS, 1991: p. 54-5) 
 
5. Os problemas que enseja a unificação 
Neste capítulo, passa-se a tecer considerações críticas pertinentes ao intuito de unificar os 
Códigos Comercial e Civil, assunto que suscita inúmeros problemas. 
Inicialmente, o Código Civil de 1975 traz uma união meramente formal, consistindo numa 
superposição de projetos, o que, para a ciência jurídica, é de relevância nula, portanto, é 
preciso que se atente aos parâmetros de conveniência, oportunidade e necessidade, sobretudo 
científica e didática. Com efeito, este ponto amiúde de sido desconsiderado ou ao menos não 
tem atingido, nos debates e discussões, o status proporcional e a relevância que lhes é própria. 
O tratamento sui generis e injustificado das sociedades anônimas, que foi retirada da estrutura 
do projeto de Código Civil, tendo esta remoção ensejado fortes críticas suscitando a questão 
do porquê se obstara autonomia das demais sociedades, gerando apenas àquela espécie este 
privilégio, e não a todo o gênero societário, como teria sido coerente. Este parcialismo parece 
refletir a preponderância dos interesses políticos suprimindo a indispensável harmonia 
científica. 
A frágil regulação dos títulos de crédito, que necessita de uma regulação minuciosa, tal qual 
se faz para o tratamento das sociedades, dando-se fim, assim, à duplicidade de legislações 
sobre o assunto, que estorva o tratamento da matéria. Essa situação sustenta a inquirição de 
qual motivo justifica a manutenção da incoerência no tratamento dos títulos de crédito, 
deixando uns modelados pela Lei Cambiária e pela Lei Uniforme de Genebra e outros por 
normas desnecessariamente diferentes, regidas pela lei civil, estabelecendo-se, para este 
instituto, ironicamente, outra dicotomia. 
Ademais, segundo RUBENS REQUIÃO, "o anteprojeto, na configuração presente, se 
prosperar, poderá ensejar confusão terminológica entre os títulos de crédito propriamente 
ditos, títulos comprovantes de legitimação e impróprios". (1972: p. 71) 
Também a falta de um entrosamento entre o livro dedicado à atividade negocial e o corpo do 
código projetado, problema este decorrente da carência de princípios que harmonizem as 
legislações civis e comerciais, demonstra que, a rigor, pouco se produziu no intuito de 
comprovar a harmonia entre as matérias eminentemente civis e comerciais, sendo antes, 
inescondíveis as dissonâncias entre ambas. 
Sem sombra de dúvidas, a dinamicidade da matéria comercial suscitará uma série inexorável 
de legislações aditivas, pois, a mobilidade econômica não se sujeitará, por longo tempo, às 
contingências e tradicionalismos das doutrinas civilistas. Nas palavras de MARCIO 
ANTÔNIO INACARATO, "a prática virá a demonstrar-lhes, contudo, num curto espaço de 
tempo que o direito comercial tenderá a alhear-se à disciplina legal civilista e um sem número 
de legislações extravagantes surgirão para contrariar a regra geral estabelecida". (1973: p. 99) 
Em derradeiro, aponta-se o problema das debilidades terminológicas e conceituais, além do 
número expressivo de emendas no legislativo que concorrem para a imperfeição da operação 
e difusão de lacunas no texto legislativo. Tal fenômeno, não obstante censura, se observa na 
elaboração do Código Civil Unificado. 
Para SÍLVIO RODRIGUES, "não haveria mister de uma reforma integral da legislação 
vigente. Mas seria útil adotar-se, desde logo, aquelas inovações que são aceitas por todos, que 
poderiam ser inseridas no Código Civil, sem sacrifícios de sua estrutura. O legislador já fez 
isso no passado em muitos casos e poderia faze-lo no futuro, aproveitando ainda que 
parcialmente, o magnífico trabalho dos autores do Projeto de 1975". (1995: p. 07) 
 
Conclusão 
Lembra ORLANDO GOMES que, "um código é, em sua noção histórica, um sistema de 
regras jurídicas formuladas para reger, durável e plenamente a conduta setorial de sujeitos de 
direito". (1983, p. 42) 
A necessidade de se racionalizar as leis, de torná-las sistematizadas, de faze-las simples, fosse 
para uni-las, ou para entrosar leis promulgadas em épocas distintas tornou a codificação um 
fenômeno histórico que, nos dias de hoje, é bastante questionável. 
Estudiosos têm se preocupado com a legislação caótica somada nestas últimas décadas, mas, 
conscientes da deterioração da idéia de codificar as leis de direito privado, pela construção de 
um sistema estável e completo, reconhecendo, que a reunião, num só estatuto, de toda a 
disciplina da relação entre particulares, se possível fosse, careceria atualmente de real 
importância. 
A quantidade de leis extravagantes atesta o paradoxo da inutilidade de recodificação, já que 
elas nãopodem ser reduzidas a um sistema construído com outro método, outra lógica e outra 
filosofia, como seriam caso fossem integradas a um texto codificado. 
Afirmar que a proliferação das leis especiais se deve ao atraso histórico do Código Civil, 
bastando atualizá-lo para demonstrar essa fuga seria demonstrar o desconhecimento das leis 
que o estão esvaziando, pois, como lembra Orlando Gomes, "é somente por uma questão de 
comodidade que se continua a chamá-las de extravagantes". (GOMES, 1983: p. 45) 
Algumas leis especiais poderiam ser enxertadas no corpo de um novo Código Civil, mas, de 
duas uma: ou seriam alteradas para ajustamento ao sistema, provavelmente com retrocesso, ou 
seriam transplantadas na íntegra, reduzindo o novo código a uma simples e inútil 
consolidação com outro nome e com a mesma função de antes. 
Esta índole maleável se certifica, pela atualização recente da matéria societária ocorrida há 
poucas décadas na Alemanha (1965), França (1966), bem como na Inglaterra (1967). 
Estas leis especiais constituem, com efeito, distintos universos legislativos de menor porte 
denominados de micro-sistemas, tal como sucede, por exemplo, com o Código de Defesa do 
Consumidor, o Estatuto da Terra, a Lei Anti-Truste, a Lei de Falências, dentre outros. Estes 
micro-sistemas são refratários à unidade sistemática do código porque tem sua própria 
filosofia e outros critérios e métodos distintos. 
A cristalização de um código não coaduna com a hora de transformação das instituições 
econômicas porque atravessa o Brasil, em ritmo até mais acelerado do que em outros países. 
Conclui-se que teria acertado a comissão do projeto de Código Civil se reformasse, apenas, a 
matéria obrigacional, em um código autônomo como fora proposto anteriormente por CAIO 
MÁRIO, em 1964, ou tal qual se procedeu na Suíça, em 1888. 
Solução na parte em que os fatos e os costumes tornaram inolvidável a união de matéria 
mercantil com o direito civil, como no trato a títulos creditícios, quais o cheque, a nota 
promissória, duplicata, e no cuidado das sociedades, institutos, aos nossos dias de uso 
indistinto, servindo a comerciantes, empresários e a cidadãos, devem, no presente, ser regidas 
por Leis Gerais, como ocorrera na Argentina e no México. 
A reunião artificial, meramente formal do Direito Civil com o Direito Mercantil, carece, até o 
presente, de uma conexão de princípios e homogeneidade lógico-sistemática, óbices que 
demandam imprescindível superação para uma união coerente de um código de direito 
privado e recepcione matéria civil e comercial. 
O progresso científico jurídico será prejudicado, pois, este demanda divisões a fim de acelerar 
o seu desenvolvimento, posto que os conhecimentos que porta são infindos, mas as 
capacidades humanas, limitadas. (REQUIÃO, 1972: p. 71) 
Quando se participa do entendimento de que ainda não chegou a hora nem a vez de rejeitar a 
idéia da codificação das leis civis, o que não se tolera é a mitificação de uma recodificação 
que não renova nem avança. "Se reforma se consente, é para que pelo menos sirva como 
fermento de novos critérios de disciplina, de novas lógicas e de novas categorias 
interpretativas, jamais para recauchutar tradições esterilizantes e opressivas, já superadas pela 
história". (GOMES, 1983: p. 45) 
 
Informações sobre o texto 
Trabalho de conclusão apresentado no curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da 
Unesp, na disciplina Obrigações Empresariais, ministrada no 1º semestre do ano de 2001 pelo 
Prof. Dr. Luiz Antônio Soares Hentz. 
Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT) 
VALÉRIO, Marco Aurélio Gumieri. Ainda sobre a unificação do direito privado no Brasil. 
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 55, 1 mar. 2002. Disponível em: 
<https://jus.com.br/artigos/2802>. Acesso em: 30 jan. 2016. 
 
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