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Monografia "O Estado brasileiro e os mecanismos jurídicos e políticos para a garantia dos direitos humanos dos refugiados haitianos"

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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ - UNOCHAPECO 
ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
ANA PAULA DA ROCHA LEITE 
 
 
 
 
 
 
 
O ESTADO BRASILEIRO E OS MECANISMOS JURÍDICOS E POLÍTICOS PARA 
A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS HAITIANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CHAPECÓ (SC), 
2015
ANA PAULA DA ROCHA LEITE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ESTADO BRASILEIRO E OS MECANISMOS JURÍDICOS E POLÍTICOS PARA 
A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS HAITIANOS 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Universidade Comunitária da Região de Chapecó, 
UNOCHAPECÓ, como requisito parcial à obtenção 
do título de bacharel em Direito, sob a orientação do 
Prof. Me. Luiz Henrique Maisonnett. 
 
 
 
 
 
 
Chapecó (SC), novembro 
2015 
3 
UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ - UNOCHAPECÓ 
ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
O ESTADO BRASILEIRO E OS MECANISMOS JURÍDICOS E POLÍTICOS PARA 
A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS HAITIANOS 
 
 
 
ANA PAULA DA ROCHA LEITE 
 
 
 
________________________________________ 
Prof. Me. Luiz Henrique Maisonnett 
Professor Orientador 
 
 
________________________________________ 
Prof. Dr. Reginaldo Pereira 
Coordenador do Curso de Direito 
 
 
________________________________________ 
Prof. Me. Robson Fernando Santos 
Coordenador Adjunto do Curso de Direito 
 
 
 
Chapecó (SC), novembro 
2015 
 
4 
ANA PAULA DA ROCHA LEITE 
 
 
 
 
O ESTADO BRASILEIRO E OS MECANISMOS JURÍDICOS E POLÍTICOS PARA 
A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS HAITIANOS 
 
 
 
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de BACHAREL EM 
DIREITO no Curso de Graduação em Direito da Universidade Comunitária da Região de 
Chapecó - UNOCHAPECÓ, com a seguinte Banca Examinadora: 
 
 
 
________________________________________ 
Me. Luiz Henrique Maisonnett – Presidente 
 
 
 
________________________________________ 
Xxxxx – Membro 
 
 
 
________________________________________ 
Xxxxx – Membro 
 
 
 
Chapecó (SC), novembro 
2015 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho às pessoas mais importantes 
da minha vida: meu pai Rogério, minha mãe 
Marcia, meus irmãos Maria Eduarda e Luiz 
Henrique e meu padrinho Gilberto, pelo amor, 
apoio e incentivo infindável e incondicional. Sem o 
apoio, amor, compreensão e incentivo de vocês, com 
certeza eu não teria chegado até aqui. Obrigada por 
cada palavra de incentivo, gesto de carinho e 
cuidado e pela compreensão da importância deste 
momento. 
Dedico também à minha estrela no céu Marina que 
durante todos os anos de amizade sonhou comigo a 
realização deste momento e infelizmente não pode 
hoje estar presente fisicamente para vivenciar este 
momento comigo, mas sei que está sempre junto de 
mim. Vocês merecem meu amor e gratidão! 
 
6 
7 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por estar sempre presente em minha vida, por 
ajudar-me nos momentos difíceis e proporcionar-me momentos tão recompensadores como 
esta caminhada iluminada que findo hoje. 
Agradeço também à minha família por todo o amor, apoio e confiança que tiveram em 
mim durante todos estes anos de caminhada, por serem meu porto seguro, por me darem todo 
o colo e amor que precisei. Ao meu pai, por me ensinar a ser forte e confiante, por me dar 
forças quando me faltaram, me dar amor e acreditar em mim mesmo quando nem eu mesma 
acreditei, fazendo tudo e mais do que estava ao seu alcance para que eu pudesse realizar meus 
sonhos e desejos. A minha mãe, que é meu exemplo de mulher e vida, por me ensinar a 
enfrentar as dificuldades da vida com calma, por ser minha melhor amiga, meu espelho, 
minha cúmplice, por me incentivar, encorajar e me confortar nos momentos em que precisei, 
fazendo o possível e o impossível sempre para eu me tornasse uma mulher forte, decidida e 
batalhadora, assim como ela. Ao meu irmão pela preocupação, pela leveza e inocência que me 
fazem acreditar em um mundo melhor e mais humanizado, pelo amor e pelo cuidado que tem 
por mim. A minha irmã por ser meu porto seguro, minha alma gêmea, por ser minha 
companheira de vida, por me entender e me apoiar, e mesmo quando não me entende não me 
julgar, me dar suporte, por ser meu alicerce, meu porto seguro, minha âncora. A minha 
conquista também é de vocês, que estiveram e estão diariamente nesta batalha de vida. 
Aos meus companheiros de trabalho por participarem ativamente em boa parte desta 
conquista, me dando suporte e compreendendo as necessidades que a formação efetiva e 
extensiva da graduação exige. 
Aos meus colegas e companheiros de turma, em especial a Laura, Aline e Anna 
Caroline, que tornaram-se também amigas, confidentes e irmãs, acalentando e suportando 
meu desespero, pelo companheirismo, parceria e amizade incondicional, com certeza levarei 
vocês e a nossa amizade pelo resto da vida. 
As amigas Bruna e Fernanda pela compreensão de toda a reclusa durante a elaboração 
e finalização deste trabalho, pelo apoio, amor, carinho e preocupação ao longo da nossa 
amizade. 
A amiga Liliana que de colega de quarto em um congresso tornou-se amiga, 
confidente, por toda a ajuda, apoio, conforto e compreensão, sem seu apoio e confiança, eu 
 
8 
não teria conseguido. 
Vocês, minhas amigas, também são especiais nesta conquista! 
Aos mestres que nos proporcionaram todo o conhecimento possível, muito além do 
jurídico e didático, mas também de vida, em especial ao meu orientador, Luiz Henrique, pela 
paciência infindável, sabedoria, dedicação e ajuda prestada para que eu pudesse finalizar com 
êxito esta etapa. 
A todos que fizeram parte desta caminhada, minha sincera gratidão! 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“...Para cada refugiado existe sempre um não 
refugiado que poderia ser um refugiado caso fossem 
diferentes as circunstâncias e prioridades 
políticas.” (Emma Haddad) 
 
“O homem pode perder todos os chamados Direitos 
do Homem sem perder a sua qualidade essencial de 
homem, sua dignidade humana. Só a perda da 
própria comunidade é que o expulsa da 
humanidade.” (Hanna Arend, Origens do 
Totalitarismo
 
10 
RESUMO 
 
O ESTADO BRASILEIRO E OS MECANISMOS JURÍDICOS E POLÍTICOS PARA A GARANTIA 
DOS DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS HAITIANOS. ANA PAULA DA ROCHA LEITE. 
 
Luiz Henrique Maisonnett (ORIENTADOR(A). (Universidade Comunitária da Região de Chapecó – 
UNOCHAPECÓ). 
 
(INTRODUÇÃO) Tem-se como tema de pesquisa o instituto do refúgio enquanto meio efetivo para garantia dos 
direitos humanos dos refugiados, analisando-se em específico nos casos de refugiados ambientais haitianos no 
Brasil que em razão do terremoto ocorrido em 2010 no Haiti, obrigaram-se a abandonar seu Estado em busca de 
melhores condições de vida. Nesse sentido, aborda-se-á os mecanismos jurídicos e políticos adotados pelo Brasil 
para efetivar as garantias dos direitos humanos de tais refugiados em território nacional. (OBJETIVOS) A 
presente pesquisa tem como objetivo geral analisar as formas com que o Estado brasileiro efetiva a proteção aos 
imigrantes refugiados haitianos. Para tanto, faz-se uma análise histórica dos direitos humanos em âmbitonacional e mundial, bem como analisa-se a história do Haiti, de,sde a sua independência até o acontecimento 
catastrófico que foi o terremoto que assolou o país. Como objetivo específico, analisa-se as políticas existentes e 
as preocupações do Estado brasileiro em garantir a efetivação dos direitos humanos dos refugiados, analisando 
ainda as legislações pertinentes ao assunto, tendo como norteio a Convenção de 51 a qual está relacionada ao 
Estatuto do Refugiado. O presente trabalho caracteriza-se como sendo pesquisa bibliográfica, analisando as 
causas que deram origem à migração forçada dos haitianos, bem como a legislação nacional e internacional 
acerca da proteção aos refugiados. (CONCLUSÃO) Através da presente pesquisa, percebe-se a evolução 
nacional e internacional acerca do instituto do refúgio, bem como o surgimento de uma nova classe de refúgio, 
denominada como refúgio ambiental. Analisando a legislação brasileira, percebe-se claramente a preocupação do 
legislador em assegurar de várias formas os direitos humanos a todo e qualquer refugiado que buscasse tal 
proteção em solo brasileiro. Quanto à análise dos mecanismos políticos utilizados para a garantia dos direitos 
humanos dos refugiados haitianos, percebe-se que, mesmo sem o reconhecimento da comunidade internacional 
acerca do refúgio ambiental, razão pela qual os haitianos não enquadrar-se-iam como refugiados ao buscar tal 
proteção, percebe-se uma manobra política do Estado brasileiro para, por equiparação ao estado de refugiado, 
garantir tal proteção à eles, através da concessão do visto permanente por razões humanitárias. (PALAVRAS-
CHAVE) Refúgio, refúgio ambiental, migrantes, haitianos, refugiados, Estado brasileiro. 
 
 
ABSTRACT 
 
ENVIRONMENTAL AND HAITIAN REFUGEES OF THE POSSIBILITY VOLUNTARY REPATRIATION. 
LILIANA LAVNICZAK BORBA. 
 
Luiz Henrique Maisonnett (ADVISOR). (Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó). 
 
(INTRODUCTION) The theme of the research is the institute of refuge, focusing on the emergence of a new 
class called Environmental Refuge, with special attention to Haitians environmental refugees, which in 
consequence of the 2010 earthquake, were forced to abandon its state in search of better living conditions. It will 
also address - voluntary repatriation as a way to permanently resolve the refugee issue. (OBJECTIVES) 
Research has as main objective to analyze the emergence of environmental refuge, subject to the relevant 
legislation and existing loopholes that allow legalization of the new class, as well as examines the possibility of 
managing the national Haitians as environmental refugees. As a specific purpose, in allusion to durable solutions 
mentioned in the laws that normative the refuge, we seek to examine the possibility of environmental refugees 
voluntarily repatriate. (THEMATIC AXIS) The main theme of the Law Course, at Universidade Comunitária da 
Região de Chapecó - (Unochapecó) to which the work is linked to, is called "The State and the Citizenship" 
(METHODOLOGY) The present study is characterized as a literature research, adopting the deductive method , 
taking into the analyzes the causes that led to the forced migration of Haitians and legislation of the refuge 
institute, observing gaps in actual legislation to enable the emergence and positivization of the environmental 
refuge. Furthermore, through the analysis of the laws on the subject, seeks to understand whether voluntary 
repatriation is the effective way to solve the problem. (CONCLUSION) Through analysis of the relevant 
legislation to the refuge, it is observed that beyond of interpretation, it would be possible to frame the 
environmental refuge as a new rising class, allowing adequate protection for migrants who are forced to leave 
their motherland as a result of environmental disasters. Facing these solutions, there is the possibility to 
voluntarily repatriate Haitians if there are political, economical and social conditions on Haiti. (KEY-WORDS) 
Environmental Refuge, migrants, Haitians, voluntary repatriation. 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ACNUDH Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos 
ACNUR Alto Comissariado da ONU para Refugiados 
CNIg Conselho Nacional de Imigração 
CONARE Comitê Nacional para os Refugiados 
DOPaz Destacamento de Operações de Paz 
DPF 
DIR 
DIDH 
DUDH 
Departamento de Polícia Federal 
Direito Internacional do Refugiado 
Declaração Internacional dos Direitos Humanos 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
MICIVIH Missão Civil Internacional no Haiti 
MIF Força Multinacional Interina 
Minustah Missão de Estabilidade das Nações Unidas no Haiti 
OIR Organização Internacional dos Refúgiados 
ONU 
ONG 
Organização das Nações Unidas 
Organização Não Governamental 
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
UNIC Rio Centro de Informações das Nações Unidas – Rio de Janeiro 
UNRRA Administração das Nações Unidas para o Socorro e 
Reconstrução (United Nations Relief and Rebabilitation 
Administration) 
URSS União das Repúblicas Socialista e Soviéticas 
 
 
13 
LISTA DE APÊNDICES 
 
APÊNDICE A - ATESTADO DE AUTENTICIDADE DA MONOGRAFIA ...................... 79 
APÊNDICE B - TERMO DE SOLICITAÇÃO DE BANCA ................................................. 81 
 
14 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 16 
2 DIREITOS HUMANOS E O ESTADO BRASILEIRO ....................................................... 18 
2.1 DIREITOS HUMANOS E A HISTÓRIA .......................................................................... 18 
2.2 O BRASIL NA COMPLEXIDADE DOS DIREITOS HUMANOS ................................. 24 
2.4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DO CAPÍTULO ............................................................ 26 
3 O HAITI ................................................................................................................................ 27 
3.1 O HAITI: Da colonização à independência ........................................................................ 27 
3.2 A ERA DUVALIER: Uma ditadura de família .................................................................. 29 
3.3 UMA NOVA ERA POLÍTICA .......................................................................................... 31 
3.4 UMA FORÇA PACIFICADORA NO HAITI ................................................................... 34 
3.5 DEPOIS DA CRISE, O TERREMOTO ............................................................................. 36 
3.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DO CAPÍTULO ............................................................ 39 
4 O INSTITUTO DO REFÚGIO E OS MECANISMOS PARA ASSEGURAR OS 
DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS AOS HAITIANOS NO BRASIL ................. 40 
4.1 O INSTITUTO DO REFÚGIO E A SUA ANÁLISE HISTÓRICA ................................. 40 
4.2 O REFUGIADO ................................................................................................................. 44 
4.2.1 A Obtenção do Status de Refugiado ................................................................................ 47 
4.3 O INSTITUTO DE ASILO ................................................................................................ 48 
4.4 O REFÚGIO E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO INTERNACIONAL DOS 
DIREITOS HUMANOS ........................................................................................................... 51 
4.5 A PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS E A ACNUR ......................................................... 52 
4.5.1 ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados .......................... 54 
4.6 O INSTITUTODO REFÚGIO AMBIENTAL .................................................................. 55 
4.7 A PROTEÇÃO NACIONAL AOS REFUGIADOS: OS MECANISMOS UTILIZADOS 
PELO ESTADO BRASILEIRO ............................................................................................... 58 
4.7.1 O Estatuto dos Refugiados .............................................................................................. 61 
4.7.2 CONARE ......................................................................................................................... 63 
4.7.3 Visto permanente por razões humanitárias ...................................................................... 64 
4.8 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DO CAPÍTULO ............................................................ 65 
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 67 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 69 
 
15 
APÊNDICES ............................................................................................................................ 77 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Os fundamentos dos Direitos Humanos, conforme o art. 1º da Declaração Universal de 
1948 consiste na dignidade humana, considerada o preceito-matriz de todo o sistema global. 
Em outras palavras, é possível dizer que os direitos humanos são inerentes, ou seja, 
todo ser humano adquire-os simplesmente por existir como ser humano. 
O Haiti possui uma história impactante aos que a pesquisam. Foi o primeiro Estado a 
tornar-se independente nas Américas, sendo construído em sua maioria por negros. Apesar de 
ter sido um país com grande propensão ao sucesso, as longas batalhas internas que sucederam 
os anos da independência, somadas a longos períodos ditatoriais e vários conflitos, acabaram 
por reprimir seu povo, tornando-o calejado e sofrido. 
Após isto, várias foram as intervenções internacionais sofridas no Haiti, as quais o 
tornaram um país fraco, dependente e sem quaisquer condições, tanto econômicas, quanto 
políticas e sociais para o seu povo, tornando difícil a sobrevivência em território nacional, 
fazendo com que este ficasse sem a proteção que em regra, deveria ser exercida e garantida 
pelo Estado. 
Em meio ao caos instalado por conta da instabilidade política e da criminalidade 
existente, a história do Estado ficou marcada também pelos conflitos com os Direitos 
Humanos do seu povo, que ficou exposto à criminalidade que confrontava com as tropas que 
estavam no Estado com a responsabilidade de manter a paz. 
Desta forma, o povo se viu obrigado a conviver longe dos moldes considerados 
minimamente adequados para se viver com dignidade, tendo seus direitos humanos e 
fundamentais cada vez mais degradados em decorrência da situação na qual o Estado 
encontrava-se. 
Diante de tal situação e da violação permanente dos direitos humanos, percebe-se a 
necessidade do povo haitiano em buscar em outros países a garantia e positivação de seus 
direitos, violados e escassos em seu país de origem, havendo assim, uma crescente no que diz 
respeito à migração deste povo. 
O reconhecimento e a positivação do instituto do refúgio surgiu a partir da necessidade 
de proteger os civis atingidos de forma ou outra, pela Segunda Guerra Mundial. A partir daí, 
 
17 
houve sua evolução ao longo da história, com a criação de legislações e órgãos que buscavam 
garantir os direitos humanos daquelas pessoas que sofriam com a violação destes por parte de 
seu país de origem ou residência. 
A partir desta situação, sente-se a necessidade de entender melhor a questão dos 
direitos humanos, realizando pesquisa e análise do seu surgimento enquanto direito 
reconhecido e positivado pela comunidade internacional. 
Em decorrência dos fatos citados, faz-se uma análise histórica do Estado do Haiti, bem 
como da catástrofe ambiental ocorrida no país, para que se possam compreender melhor os 
motivos que levaram o povo haitiano a buscar o refúgio. 
Para tanto, a pesquisa divide-se em três capítulos. O primeiro, intitulado de Direitos 
Humanos e o Estado brasileiro, aborda a história dos direitos humanos, desde seu surgimento, 
passando pelo reconhecimento em âmbito internacional, fazendo uma análise também do 
surgimento e positivação destes no Brasil e em sua legislação. 
O segundo capítulo, O Haiti, apresenta uma pesquisa abrangendo toda a história do 
Haiti, desde a sua colonização até a ocorrência do terremoto que assolou o país em 2010, 
abordando as consequências que este desastre ambiental trouxe para o país, dentre elas, a 
busca do povo haitiano por refúgio em outros países, vez que, devido à, dentre outros fatores, 
o terremoto que assolou o país, seus direitos encontravam-se ainda mais violados. 
O terceiro e último capítulo, O instituto do refúgio e os mecanismos para assegurar os 
Direitos Humanos e fundamentais aos haitianos no Brasil, é mais extenso e complexo, 
abrangendo os institutos de refúgio e asilo para que se possa compreender sua diferenciação, 
fazendo uma análise da nova classe de refúgio que vem surgindo no âmbito internacional, 
qual seja o refúgio ambiental, fazendo por fim, uma análise da legislação brasileira acerca da 
proteção e positivação do instituto do refúgio, bem como os mecanismos adotados pelo 
Estado brasileiro para garantir os direitos dos refugiados haitianos, visto que pelo fato de o 
refúgio ambiental ainda não estar reconhecido pela comunidade e órgãos internacionais que 
tratam do assunto, estes não enquadrarem-se nos requisitos para a concessão do status de 
refugiado. 
 
18 
2 DIREITOS HUMANOS E O ESTADO BRASILEIRO 
 
O presente capítulo visa explicar o conceito dos direitos humanos, como surgiu e 
como se desenvolveu, no Brasil e no mundo, durante o passar dos anos até os dias atuais. 
É importante destacar que, conforme apontou Leite (2011) só se julgou necessária a 
criação de um dispositivo que regulasse os Direitos Humanos, a partir das barbáries 
acontecidas principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, onde se constatou uma 
crescente no que tange ao desrespeito para com os direitos básicos e fundamentais da pessoa 
humana apenas por questões raciais, religiosas, sociais e etc. 
Assim, para que se possa entender o objetivo geral deste trabalho de pesquisa, se faz 
necessário um breve estudo sobre a História dos Direitos Humanos, para que se possa 
compreendê-lo atualmente. 
 
2.1 DIREITOS HUMANOS E A HISTÓRIA 
 
Os Direitos Humanos são, de acordo com Filho (2014, p.697), as consequências de 
várias fontes, como os costumes de civilizações antigas, produção jusfilosófica e a 
disseminação do cristianismo. Nesta época, com base nestas fontes é que surgiu o conceito de 
dignidade humana, que na visão deles, era um valor espiritual inerente ao próprio homem. O 
autor dispõe ainda que, várias são as teorias que fundamentam os direitos humanos, 
destacando-se a jusnaturalista (ordem suprema e imutável), a positivista (criação do homem-
lei) e a moralista (consciência moral do povo). 
Acerca do direito jusnaturalista, baseada nas lições Castilho (2010, p. 19) importa 
ressaltar que no início das civilizações, a doutrina dos direitos humanos, tinha como ordem 
um sistema de normas que não eram fixadas pelo Estado, qual seja o direito natural, que 
dependia de referências e valores éticos. Assim, para que se possa compreender o direito 
jusnaturalista, faz-se um comparativo entre as definições deste e do direito juspositivista, 
podendo-se dizer que o enquanto o direito natural definiria o que é justo por natureza, o 
chamado direito juspositivista o direito positivodefine o que é justo por lei. 
De acordo ainda com Filho (2014, p. 697) o fundamento dos Direitos Humanos, 
conforme o art. 1º da Declaração Universal de 1948 consiste na dignidade humana, que é 
 
19 
considerado o preceito-matriz de todo o sistema global. Assim, todo ser humano adquire tais 
direitos simplesmente por existir como tal (inerência). 
A dignidade humana, de acordo com as lições de Ingo Sarlet (2012, p. 38) surgiu no 
âmbito do pensamento jusnaturalista em meados dos séculos XVII e XVIII, onde enfim teve 
sua concepção aceita como ideia de direito jusnaturalista, passando por um processo de 
racionalização, muito embora se mantivesse a noção fundamental de que todos os homens são 
iguais em dignidade e liberdade. 
Já nas lições de Hobbes, percebe-se um conceito da dignidade humana, onde esta é 
reconhecida como os valores do indivíduo no contexto social, vinculando-se ao prestígio 
pessoal e dos cargos exercidos pelo indivíduo, sendo este, portanto, um valor atribuído pelo 
Estado e pelos seus demais membros a alguém da sociedade. Aqui, percebe-se que o 
pensamento de Hobbes não é humanitário, mas sim capitalista ao ponto em que se percebe 
que ele acredita que a dignidade significa o valor que o homem tem tal qual qualquer outra 
coisa, quanto mais importante para a sociedade maior valor possui em razão do uso do seu 
poder. Assim, para ele o valor não é absoluto, mas é algo que depende da necessidade e do 
julgamento das outras pessoas da sociedade, conforme dispôs em sua obra Leviatã (p. 54): 
“Um hábil condutor de soldados é de alto preço em tempo de guerra presente e iminente, mas 
não o é em tempos de paz”. 
Acerca da evolução do reconhecimento dos direitos humanos durante a evolução 
história, baseada nas lições de Castilho (2013), pode-se dizer que nem todos os direitos 
humanos foram reconhecidos, positivados e respeitados de uma só vez, em um único 
momento. Percebe-se o contrário disto, vez que o reconhecimento dos direitos humanos é 
fruto de um longo caminhar histórico, que ainda nos dias atuais, reconhecendo novos direitos 
humanos, adaptando outros, etc., sendo importante salientar aqui que os valores e princípios 
que inspiram o surgimento, desenvolvimento e reconhecimentos dos direitos humanos, estão 
ligados intimamente com a evolução da própria sociedade, pois sem esta evolução, não se 
percebem os novos direitos humanos surgindo, o que por sua vez, dificulta no reconhecimento 
destes. 
Castilho (2013, p. 40) afirmou ainda que os primeiros documentos históricos que 
davam conta de algumas garantias, ainda que básicas, de direitos humanos, datavam 1800 
a.C., como é o caso do Código de Hamurábi, onde nele estava prevista a conhecida forma de 
dosimetria da pena, chamada de “lei de talião”, que representou o fim das penas arbitrárias, 
além da garantia de alguns direitos básicos como um salário mínimo por dia de trabalho, 
direitos a alimentos da mãe e filhos, entre outros. Porém, no que tange aos marcos históricos 
20 
acerca da formação dos direitos humanos, propriamente ditos, pelo mundo, a historia 
começou alguns anos mais tarde. 
Após o Código de Hamurábi, de acordo com Castilho (2013, p. 41), surgiu em 1.215 a 
Magna Carta Libertatum na Inglaterra, assinada pelo Rei conhecido como João Sem-Terra, 
sendo que no referido documento foram consignados alguns direitos dos súditos. Após isto, 
em 1.628, a Petition of Right na Inglaterra, representou avanços no que tange ao 
reconhecimento dos direitos humanos, transformando a monarquia absolutista em monarquia 
constitucionalista, instigando o que mais tarde viria a ser a Revolução Francesa. 
Já em 1.679, conforme dispôs Castilho (2013, p. 51), o povo, diante da guerra civil 
inglesa, ainda sentia a necessidade de uma proteção legal mais enérgica, para que pudesse 
impedir os chamados “desmandos das autoridades”. Assim, exigiu-se do Rei Carlos II que 
fosse promulgada a Lei do Habeas Corpus, a qual garantiria o fim das prisões indevidas e 
ilegais, resgatando uma prerrogativa de direitos humanos, sendo que esta lei, conforme a 
própria autora dispõe: “[...] tratava-se do direito da pessoa ilegalmente detida ser levada 
diante de um tribunal para que ali se decidisse a legalidade de sua detenção”. 
Na realidade, baseado nas lições acima citadas, e no que obra de autores como 
Castilho (2013) e Piovesan (2011) publicaram, em especial a obra de Castilho, percebe-se que 
muitas foram as leis que surgiram durante os anos, e cada uma delas, trazia uma nova 
necessidade de reconhecimento de direitos humanos, como os casos da Bill of Rights Inglesa 
em 1689; a Bill of Rights Americana em 1789. 
Foi a Primeira Declaração dos Direitos do Homem, segundo Castilho (2013, p. 58), a 
consequência do mais importante movimento histórico do mundo moderno, chamado 
Revolução Francesa, a qual tinha como tripé de princípios o lema: “Igualdade, Liberdade e 
Fraternidade”. Foram estes princípios que consolidaram a Declaração dos Direitos do Homem 
e do Cidadão, a qual foi promulgada pela Assembleia Nacional francesa, em 1.789. 
Ainda acerca da Declaração dos Direitos do Homem, baseada na obra de Castilho 
(2013), pode-se dizer que tal declaração estabeleceu novas reformar políticas, quais davam 
maiores direitos aos cidadãos, como o direito à liberdade e o tratamento igualitário perante a 
lei, direito este que seria alcançado através da tripartição dos poderes em três setores por 
assim dizer: Executivo, Legislativo e Judiciário, independentes entre si, de modo que um não 
pudesse intervir no outro. 
De acordo com Leite (2011, p. 10 e 11), A Declaração Universal dos Direitos 
Humanos de 1948 surgiu como uma resposta emergente às várias barbáries contra a pessoa 
humana, acontecidas durante a Segunda Guerra Mundial, podendo citar como exemplos o 
21 
ataque Norte-Americano às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, o qual provocou 
milhares de mortes de inocentes, mesmo após a guerra ter sido findada com a rendição do 
Japão; e ainda o fato de os nazistas enviarem para campos de concentração e matarem 
aproximadamente seis milhões de judeus, por pura intolerância. Assim, em 1945, após o fim 
da Guerra, a ONU (Organização das Nações Unidas) foi criada, com o objetivo principal de 
garantir a manutenção da paz entre as nações. A promulgação da Declaração ocorreu em 10 
de Dezembro de 1948 através da Terceira Assembleia-Geral da ONU, por meio da Resolução 
nº 217, sendo nomeada como “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. 
Atualmente a concepção dos Direitos Humanos segundo Castilho (2013, p. 13), no que 
tange ao âmbito internacional é de uma formulação recente, vez que a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos fora estabelecida apenas em 1948, pouco tempo após a Segunda 
Guerra Mundial, momento em que a população mundial ficou horrorizada com as crueldades 
cometidas pelos Nazistas. 
Acerca dos direitos que se consideram fundamentais para a humanidade, baseada nas 
lições de Ricardo Castilho e também na leitura da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, pode-se facilmente perceber que os três primeiros artigos da referida Declaração 
sintetizam o que se considera, até mesmo nos dias atuais, direitos fundamentais para a 
humanidade, quais sejam os princípios de que todas as pessoas são livres e iguais em 
dignidade e direitos, de que estas são dotadas de razão e consciência e devem agir em relação 
umas às outras envoltas pelo espírito de fraternidade; que toda pessoa tem capacidade para 
gozar de seus direitos e liberdades estabelecidos na referida declaração, sem distinção 
qualquer de espécie (raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, origem social, nacional, 
riqueza, etc.) e que toda pessoa tem direito à vida,à liberdade e à segurança social. 
Segundo o pensamento de Piovesan (2011, p. 167 e 168), os direitos humanos como 
reivindicações morais são fruto de um espaço simbólico de ação e luta social, numa busca 
incessante pela dignidade humana. 
Castilho (2013, p. 13) leciona que a Declaração Universal de 1948 foi ratificada pela 
Declaração dos Direitos Humanos de Viena, em 1993. Porém, a Declaração de Viena não foi 
apenas uma mera ratificação, vez que na verdade ela avançou em relação à Declaração 
Universal quando definiu como responsabilidades primordiais dos Governos a proteção e a 
promoção dos direitos humanos. Além disto, as normas de direito internacional de proteção 
dos direitos humanos declara que todas as pessoas devem ter protegidos seus direitos, 
independente de distinções entre nacionais e estrangeiros. 
Baseada nas lições de Norberto Bobbio (2004) pode-se destacar que os direitos 
22 
humanos nascem como direitos naturais universais, porém desenvolvem-se como direitos 
positivos particulares, o que acontece quando cada Constituição incorpora as suas 
Declarações de Direitos, para posterior e finalmente poder encontrar plena realização como 
direitos positivos universais. 
Analisando o pensamento de Oliveira (2015, p. 179), pode-se perceber que apesar de 
os direitos humanos serem inerentes ao homem, eles só são declarados como “Direitos 
Fundamentais”, quando inseridos em uma Constituição. 
Piovesan (2011, p. 168) destaca a ponderação de Norberto Bobbio, ao afirmar que 
acerca dos fundamentos dos direitos humanos, o maior problema deste tema não é a 
fundamentação, mas sim a proteção destes. Aqui, é importante notar que o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos surge com o sentido maior de resguardar os valores da 
dignidade humana, quais são concebidos como fundamento principal dos direitos humanos. 
De acordo com Piovesan (2011, p. 169), os direitos humanos, que hoje se destacam 
como questão central no âmbito da proteção internacional, tiveram precedentes históricos ao 
longo dos anos, até chegar ao patamar atual. O longo caminho percorrido para chegar até a 
situação atual passou pela criação do Direito Humanitário, da Liga das Nações e da 
Organização Internacional do Trabalho, considerados como sendo os primeiros marcos para o 
processo de internacionalização dos direitos humanos. Para que se pudesse ser alcançado o 
cenário internacional para as garantias dos direitos humanos, foi preciso redefinir o âmbito e o 
alcance do conceito tradicional de soberania estatal, para que assim pudesse ser permitido o 
advento dos direitos humanos como questão de interesse internacional, transformando assim o 
indivíduo em um sujeito de Direito Internacional. 
Segundo Piovesan (2011, p. 169) baseada na definição de Thomas Buergenthal: “o 
Direito Humanitário constitui o componente de direitos humanos da lei da guerra (the human 
rights component of the law of war).
1” Ou seja, o direito humanitário, é o direito aplicado em 
hipóteses de guerra, com a finalidade de fixação de limites à atuação do Estado e assegurar 
que sejam primados os direitos fundamentais. Tal proteção se destina a militares postos fora 
de combate e a populações civis. Desta forma, o Direito Humanitário foi a primeira expressão 
de que mesmo nas hipóteses de conflitos armados, há limites à liberdade e à autonomia dos 
Estados, no plano internacional. 
Piovesan (2011, p. 170 e 171) dispõe também que, por sua vez, a liga das nações 
 
1
 Thomas Burgenthal, Internacional human rights, p. 14. 
23 
posteriormente, surgiu para reforçar a concepção dos Direitos Humanitários, reforçando a 
necessidade da relativização da soberania dos Estados. Assim, a Liga das Nações foi criada 
logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo como finalidade principal promover a 
cooperação, a paz e a segurança internacional. Porém, a Convenção da Liga das Nações ainda 
tinha previsões bastante genéricas no que tange aos direitos humanos, voltando-se mais ao 
sistema de minorias e aos parâmetros internacionais do direito do trabalho, nos quais os 
Estados ficavam comprometidos em assegurar condições de trabalho mais justas e dignas para 
homens, mulheres e crianças, sendo que nos casos onde os Estados violassem suas 
obrigações, eram impostas sanções econômicas e militares a estes. 
Piovesan (2011, p. 171) destaca ainda, que juntamente com os Direitos Humanitários e 
com a Liga das Nações, a Organização Internacional do Trabalho também foi criada logo após 
a Primeira Guerra Mundial e também contribuiu para o processo de internacionalização dos 
direitos humanos, tendo como finalidade a promoção dos padrões de condições dignas de 
trabalho e bem-estar. 
Mesmo após o surgimento gradativo dos direitos humanos no cenário internacional, 
segundo Piovesan (2011, p. 175), a consolidação de fato do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos se deu somente em meados do século XX, decorrente da Segunda Guerra Mundial, 
onde os Estados feriram gravemente os direitos humanos dos povos envolvidos na guerra. 
O doutrinador Oliveira (2015, p. 179) também lecionou que os homens só tomaram 
consciência da importância da proteção dos Direitos Humanos e da criação de órgãos e 
dispositivos legais que pudessem de fato garantir a proteção efetiva de tais direitos, após a 
Segunda Guerra Mundial, para que se pudesse garantir que os seres humanos não sofreriam 
mais atrocidades como as cometidas pelos nazistas contra os judeus e outros grupos de 
pessoas, sendo desta forma, criada a Organização das Nações Unidas e a declaração de 
inúmeros Documentos Internacionais de Direitos Humanos, dentre os quais, a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, dentre 
outros. 
Baseada nas lições de Piovesan APUD Thomas Buergenthal2 percebe-se claramente 
que o moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos, foi um fenômeno pós-guerra, 
uma vez que seu desenvolvimento só ocorreu de fato após as várias barbáries e atos praticados 
na Era Hitler, as quais culminaram nas violações dos direitos humanos, bem como na certeza 
 
2
 Thomas Buergenthal, Internacional human rights, p. 17. 
24 
de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se houvesse de fato um efetivo sistema 
de proteção internacional dos direitos humanos. 
Assim, Oliveira (2015, p. 182) esclarece que no tocante aos Direitos Humanos, há uma 
certa relativização do conceito de soberania, onde por exemplo, a soberania dos Estados não é 
um princípio absoluto, devendo estar sujeita a certas limitações em prol dos Direitos 
Humanos. 
Atualmente, os Direitos Humanos encontram proteção internacional através da 
proteção prevista nos Pactos e Convenções Internacionais da ONU (Organização das Nações 
Unidas). É desta forma, de acordo com Oliveira, (2015, p. 183) que ocorre a 
internacionalização dos Direitos Humanos, sendo expandida a proteção dos seres humanos 
através dos documentos internacionais e sistemas de proteção firmados entre os estados-
membros da ONU, após as fatídicas ocorrências e consequências da Segunda Guerra Mundial. 
 
2.2 O BRASIL NA COMPLEXIDADE DOS DIREITOS HUMANOS 
 
Conforme já fora citado no capítulo anterior, conforme as disposições do art. 1º da 
Declaração Universal de 1948, o fundamento básico dos direitos humanos sempre fora a 
dignidade da pessoa humana. 
Conforme as lições de Sarlet (2011, p. 49 e 50), torna-se difícil elaborar uma 
conceituação clara acerca do que efetivamente seja a dignidade humana, inclusive para os 
efeitos de definição no que concerne ao âmbito protecional enquanto norma jurídica 
fundamental, vezque há muito o que se falar e buscar acerca da questionável viabilidade de se 
alcançar algum conceito satisfatório do que é a dignidade humana nos dias atuais. 
A dificuldade em entender e conceituar a dignidade da pessoa humana decorre do fato 
de que muitas doutrinas usavam contornos vagos e imprecisos para conceituação desta, 
caracterizados principalmente pela sua ambiguidade e porosidade, conforme lecionou Sarlet 
(2011, p. 50), sendo que houve até alguns autores que apresentaram uma linha de raciocínio 
onde a dignidade da pessoa humana representaria o valor absoluto de cada ser humano, e que 
este não sendo indispensável, seria insubstituível. Aqui, se faz importante o destaque de que a 
dignidade não existe somente onde seja reconhecida pelo Direito e /ou na medida em que este 
a reconhece, mas a dignidade existe a partir da existência do ser humano, sendo este um 
direito inerente ao homem, independente do reconhecimento deste seu direito por parte do 
Estado no qual vive. 
25 
De acordo com dados expostos por Oliveira (2015, p. 183), dentre os tratados dos 
quais o Brasil faz parte no sistema global, estão: 
Carta das Nações Unidas, qual foi aberta à assinatura pela Conferência de São 
Francisco em 26/06/1945, assinada pelo Brasil em 21/09/1945, sendo aprovada em nosso país 
pelo Decreto-lei nº 7.935/75 e devidamente promulgado pelo Decreto nº 18.841/45. 
Declaração Universal dos Direitos Humanos: adotada e proclamada pela Resolução nº 
217-A (III) da Assembleia-Geral das Nações Unidas em 10/12/1948 e assinada pelo Brasil na 
mesma ocasião; 
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951: fora convocada através da 
Resolução nº 429 (V) da Assembleia-Geral das Nações Unidas em 14/12/1950 e promulgada 
pelo Decreto nº 50.215/1961; 
Dentre outras mais, destacam-se as convenções que versam sobre eliminação de todas 
as formas de discriminação racial, discriminação contra mulheres, convenção dos direitos da 
criança, etc. 
Os Direitos Humanos vem sendo efetivados no Ordenamento Jurídico Brasileiro a 
partir do artigo 1º, III da Constituição Federal, o qual estabelece que um dos fundamentos da 
República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana, que visa assegurar meios 
mínimos para a existência de uma pessoa. 
Já em seu artigo 5º, § 2º, a Constituição Federal afirma que os direitos e garantias nela 
expressos através de seu texto legal “não excluem outros decorrentes do regime e dos 
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do 
Brasil seja parte”, ou seja, não só o art. 1º garante a dignidade da pessoa humana como um 
dos direitos fundamentais do cidadão, como o seu artigo 2º vem para assegurar e enfatizar 
que, até mesmo os direitos constantes em acordos e pactos nos quais o Brasil seja signatário 
serão efetivamente assegurados pela Constituição. 
Muito embora alguns doutrinadores já entendessem que a Constituição atribuía aos 
direitos internacionais uma hierarquia especial de norma constitucional, no entendimento do 
Supremo Tribunal Federal este entendimento não prevalecia, ou seja, para o órgão, os 
Tratados Internacionais de Direitos Humanos eram considerados normas supralegais (acima 
das leis, mas abaixo da Constituição, na linha de pensamento da pirâmide da hierarquia), 
sendo que, este entendimento só fora alterado, a partir da Emenda Constitucional 45/2004, a 
qual incluiu o §3º no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, o qual promoveu a 
constitucionalização dos tratados e convenções internacionais, conforme Oliveira (2015, p. 
208), onde dispõe que se quisesse equipará-los às normas constitucionais, seria preciso a 
26 
aprovação do Congresso nacional, conforme dispôs o referido artigo: 
Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três 
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas 
constitucionais. 
Assim, analisando todo o exposto acima, é perceptível o fato de que o Brasil absorveu 
muito bem os Direitos Humanos, incorporando seus tratados e convenções em seu 
ordenamento jurídico, passando assim, a garantir com mais efetividade a proteção dos direitos 
humanos dos seus cidadãos. 
 
 2.4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DO CAPÍTULO 
 
As garantias dos direitos humanos se consolidaram com o passar do tempo de forma 
mais efetiva, a partir da exposição de diversas figuras importantes para o mundo. 
A partir do pensamento de que de fato, todo homem tem direitos humanos e 
fundamentais inerentes à si, ou seja, efetivam esta garantia tão somente a partir do seu 
nascimento, é que a sociedade passa a buscar maneiras de certificar-se de que tais direitos, até 
então considerados não tão importantes, seriam positivados e cumpridos pelos Estados. 
A busca incessante pela efetivação dos direitos humanos dos cidadãos se dá até hoje, 
ainda que suas violações se deem de forma mais camuflada do que antigamente se 
apresentavam. 
Anseiam-se medidas que garantam a todo cidadão, de qualquer país do mundo, seus 
direitos humanos e fundamentais, e este tem sido o trabalho incansável de muitas 
organizações, como é o caso da ONU (Organização das Nações Unidas). 
 
 
27 
3 O HAITI 
 
Este capítulo incide em um estudo sobre o Estado do Haiti, de sua colonização até o 
desastre ambiental ocorrido em janeiro de 2010, para que assim seja possível compreender a 
crescente imigração que vem ocorrendo e os motivos pela busca do refúgio. 
Para tanto, analisar-se-ão os aspectos históricos desta nação, desde a situação política 
complexa que a história do Haiti nos apresenta até a complexidade dos acontecimentos 
quando do desastre ambiental ocorrido, o qual levou à degradação do meio ambiente 
sustentável e acarretando também na desvalorização dos direitos humanos. Todos estes 
aspectos embasados nos direitos internacionais que buscam a proteção dos direitos humanos e 
fundamentais destes refugiados. 
 
3.1 O HAITI: Da colonização à independência 
 
O Haiti foi descoberto em meados de 1492 por Cristóvão Colombo e colonizado por 
espanhóis, o qual em princípio era chamado de Isla Hispaniola, é um Estado localizado nas 
ilhas do Caribe e é a primeira República negra fora do continente africano, de acordo com 
Borba (2014, p. 17), e conforme Paula, (2014, p. 12), o descobrimento da então chamada Isla 
Hispaniola não foge muito à história de muitos outros países da América, vez que fora 
Cristóvão Colombo em uma de suas muitas viagens em sua incansável busca pelas Índias, que 
descobriu a ilha que hoje é a nação do Haiti. 
Porém, conforme escreveram Borba (2014, p. 17) e Paula (2014, p. 13), o Haiti que até 
então era território da Espanha, teve território transferido para a França por volta de 1697, 
numa tentativa de tentar recuperar-se da crise assolava tais países que firmaram tal acordo, 
sendo que a partir daí a colônia começou a lutar contra a mão de obra escrava e o cultivo da 
cana-de-açúcar. 
O Haiti em seu princípio, antes da colonização, tinha como nativos índios, que foram 
escravizados e exterminados. Acerca disto, temos: 
Como procedimento comum na conquista das Américas os índios foram 
escravizados e passaram a servir seus senhores para o trabalho na produção 
de açúcar, café e cerâmica. Em 28 anos, devido aos conflitos entre nativos e 
espanhóis, a população nativa escravizada foi praticamente exterminada. 
 
28 
(PAULA, 2014, p. 12) 
Conforme o que escreveram Gorender (2004) e Borba (2014), o Estado do Haiti tinha 
um futuro promissor, sendo o pioneiro na conquista pela sua independência em 1804, após ter 
lutado bravamente pela abolição da escravidão esendo a colônia que mais obtinha lucro nas 
Américas no início do século XIX. 
Como destaca Paula (2014, p. 13), tal busca pela independência, iniciou-se com 
motivação no sistema autoritário e rígido instaurado pela burguesia branca e rica que 
predominava a sociedade, a qual era formada principalmente pelos proprietários e 
comerciantes de monocultura, sendo que a população pobre, a qual era formada 
principalmente por brancos pobres que tinham ofícios de baixa remuneração, como por 
exemplo, os professores e artesãos, funcionários da monarquia e os escravos em sua maioria, 
passaram a promover rebeliões frente às desigualdades sociais instauradas. 
Como destaca Matijascic (2010, p. 3) já no final do século XVIII ocorreram na região 
norte da colônia, revoltas de escravos, mas, conforme Chaves Jr., (2008, p. 57), a luta pela 
independência foi promovida efetiva e principalmente por Toussaint L’Overture, qual era um 
negro revolucionário, que teve como incentivo a revolução francesa e os ideais liberais 
daquela época, lutando por movimentos antiescravistas e anticolonialistas. 
Conforme Paula (2014, p. 13), a primeira manifestação de revolta dos escravos e 
mulatos, ocorreu em 1791, ato este que resultou na mobilização de aproximadamente 400 
negros participantes de tal revolução, porém, a guarda nacional conseguiu controlar tal ato. 
Neste contexto, é importante destacar que o líder das principais revoluções de 
escravos, Toussaint L’Overture “foi declarado governador geral e propôs novas diretrizes para 
o Haiti, como por exemplo, a substituição de mão de obra escrava pelo trabalho remunerado e 
a quebra do monopólio Francês para ampliar suas vendas a outros países” (PAULA, 2014, p. 
13). 
Ainda de acordo com Paula (2014, p. 13), em 1794 houve uma forte revolução dos 
escravos, que culminou na abolição da servidão, ano este em que a França passou a dominar 
toda a extensão da Ilha do Haiti, e foi em 1801 que o antes escravo e agora livre Toussaint 
L’Overture fora deposto e morto pelos franceses, sendo que “O desfecho da jornada de 
Toussaint L’Overture na Guerra da independência com prisão e morte marcou a história 
haitiana sendo considerada ‘universalmente’ como uma tragédia” (CHAVES JR., 2008, p. 
57). 
Em 1803, segundo Paula (2014, p. 13) os franceses foram derrotados pelo exército 
29 
liderado por Jacques Dessalines, e em 1804 fora declarada a independência do Haiti e 
Dessalines proclamou-se Imperador. 
De acordo com Chaves (2008, p. 59), a revolução que inspirou e marcou a história do 
Haiti, também acarretou na fragmentação da então Ilha de São Domingos em duas unidades 
políticas totalmente distintas. 
Ainda de acordo com o autor supracitado, a parte leste do Estado só fora reincorporada 
ao Haiti em meados de 1820. Porém, em 1843 houve outra separação, a qual criou a 
República Dominicana como país independente, o qual conviveu ao longo dos anos com uma 
série de conflitos, acarretados principalmente pelas instabilidades do seu então Estado 
vizinho. 
Conforme Stochero (2008), mesmo com a independência alcançada, houve em 1915 
uma ocupação militar dos Estados Unidos no Haiti, no mesmo ano em que os escândalos 
relacionados aos problemas que assolavam o Estado vieram à tona, ficando conhecidos por 
toda a comunidade internacional, sendo que só por volta de 1934, ou seja, 19 anos depois, é 
que o Haiti fora desocupado pelos Estados Unidos, contudo, a influência norte-americana era 
nítida em alguns aspectos, principalmente políticos. 
Stochero (2010), após tornar-se uma ilha independente, o Haiti acabou por sofrer com 
as constantes ditaduras, golpes de Estado, tendo vários protestos violentos, o que ocasionou 
em cada vez mais constantes intervenções da ONU (Organização das Nações Unidas). Com 
todos estes acontecimentos no Estado, este se desestabilizou, enfraquecendo socialmente, 
politicamente e principalmente economicamente, o que acarretou em anos de instabilidade e 
segurança para o povo. 
 
3.2 A ERA DUVALIER: Uma ditadura de família 
 
Os resquícios de laços entre Estados Unidos e Haiti, de acordo com Borba (2014, p. 
18) somente foram rompidos em 1956, quando este passou a ser governado por François 
Duvalier, médico, especializado em sociologia, cuja capacidade intelectual era altíssima, mais 
conhecido pela população como Papa Doc). 
Duvalier se autoproclamou presidente do país, e segundo Paula (2014, p. 14) seu 
governo teve como principal característica o extermínio da oposição e a perseguição da Igreja 
Católica, tendo permanecido no poder até 1971 de acordo com Borba (2014, p. 18) quando 
morreu por causas naturais e fora substituído por seu filho Jean-Claude, também chamado de 
30 
Baby Doc, percebendo-se um regime vitalício como forma de controle do Governo do Estado, 
instaurado por Papa Doc, ainda antes de sua morte, cujo regime teve apoio da elite econômica 
da época. 
De acordo com Borba (2014, p.18) e Stochero (2008), percebe-se que no período 
governado por Fraçois Duvalier, assim como no governo seguinte, liderado por seu filho 
Baby Doc, a consagração de um período de ditadura no governo do Haiti, decorrente dos 
moldes de repressão, regime de terror e grande sequência de assassinatos no país, ocorridos 
durante tal período. 
Grondin descreve o perfil desta família, responsável pela ditadura instaurada nestes 
longos anos: 
Uma breve descrição desta família e da forma de governar permitirá ilustrar 
a relação entra a cultura, poder e subdesenvolvimento, a importância da cor 
da pele para a formação dos grupos de poder, e a instrumentalização da 
cultura popular para o controle das massas e a legitimidade do poder. Aqui 
aparece uma diferença entre o “Papa Doc”, um mestre manipulador da 
cultura, que busca em outros fatores o apoio para a manutenção da sua 
ditadura. (GRONDIN, 1985, p. 43). 
Grondin (2008) destaca que Jean-Claude Duvalier, também conhecido como Baby 
Doc, cursava o segundo ano de direito seguiu os caminhos do pai no que tange ao poder frente 
à política do país, mesmo sem ter notoriamente o mesmo intelecto, profissionalismo e política 
de seu pai, mostrando que o cargo de presidência do país tinha característica vitalícia. Baby 
Doc ainda, sentindo necessidade de cercar-se de aliados em seu governo, deu os cargos de 
maior significância para sua família. 
A comunidade internacional, ao contrário do que acontecera na era de governo de 
Papa Doc, passou a observar com maior atenção e constância os acontecimentos no Estado 
Haitiano, que apresentava um grande número de imigrações e inúmeros desrespeitos com os 
direitos humanos (BORBA, 2014). 
Papa Doc, antes de sua morte, juntamente com seu filho Baby Doc, reescreveu a 
Constituição Haitiana, conferindo ao governo ainda mais poderes e garantindo ao presidente o 
direito de repressão à oposição, e ainda, na mesma Constituição “fora atribuída, 
genericamente, ao povo haitiano a denominação de “negros”, modo pelo qual toda a 
população haitiana seria reconhecida” (BORBA, 2014, p. 19). 
Foi somente em 1986 que a população se revoltou por se ver cada vez mais cidadãos 
descontentes com as desigualdades sociais que assolavam o país e seu povo, bem como com 
os métodos de repressão utilizados pelo governo de Baby Doc, momento em que este 
31 
abandona o país, buscando asilo na França (STOCHERO, 2012). 
Acerca deste momento de reviravolta na história do Haiti, Borba dispõe: 
Após 25 anos de exílio, em meio à instabilidade política enfrentada pelo 
Haiti é que Jean-Claude retorna ao país, é quando os casos de violação aos 
direitos humanos cometidos durante seu governo passam a ser relatados, 
conforme o Auto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos 
(ACNUDH),torturas, estupros e assassinatos extrajudiciais são 
documentados pelos haitianos e organizações internacionais de direitos 
humanos na esperança de que a justiça feita. (BORBA, 2014, p. 19). 
Com o retorno de Jean-Claude Duvalier ao Haiti, em 28 de fevereiro de 2013 começou 
o seu julgamento, o qual reiterava o sentimento de que a justiça efetivamente garantiria que 
não mais ocorreriam as impunidades que ocorrera na era de seu mandato, sendo visto como 
um dos passos mais importantes dados pelo Estado do Haiti na busca pela garantia da 
dignidade e dos demais direitos humanos e fundamentais de seu povo. 
 
3.3 UMA NOVA ERA POLÍTICA 
 
Neste novo cenário político do Haiti, após as derrubadas dos governos do poder 
através de golpes de Estado, um padre chamado Jean-Bertand Aristide, conhecido também 
por Titide ganhou destaque, conhecido por, dentre seus objetivos, a extinção do Exército. Tal 
padre, segundo Stochero (2010) foi considerado o único concorrente com maior possibilidade 
de concorrer contra a ditadura da família Duvalier, sendo que no final de 1990, finalmente tal 
fato se consagra, com a eleição de Titide como presidente. 
Muito embora tenha sido eleito após uma grande crise ditatorial e visto como a chance 
da mudança do país, Titide acabou por ser derrubado da presidência por um golpe de Estado 
em meados de setembro de 1991, golpe este liderado por Raoul Cedras e apoiado pela elite, 
sendo obrigado a procurar asilo nos Estados Unidos, de acordo com Chaves Jr. (2008). 
Acerca das consequências da derrubada de Titide do governo haitiano, BORBA apud. 
STOCHERO dispôs: 
Com a derrubada de Titide, cresce o número de imigrações e novamente uma 
onda de ataques assolam o país, que na busca por reestabelecimento recebe 
novas intervenções internacionais. No ano seguinte, o Haiti hospeda pela 
primeira vez uma missão de paz, com o objetivo de criar uma polícia local e 
modernizar as Forças Armadas, impor um embargo financeiro e militar, e 
ainda conduzir o ex-padre ao poder. (BORBA, 2014, p. 20, apud 
STOCHERO, 2010). 
32 
A partir da derrubada de Titide, de acordo com Borba (2014, p. 20) percebe-se nos 
anos seguintes o crescimento de uma grande crise política a surgir no Haiti, onde o Estado 
passa a sofrer frequentes intervenções das Nações Unidas, o povo passa a sofrer com a 
escassez de alimentos, produtos manufaturados, e intervenções internacionais, cujo principal 
foco era o Conselho de Segurança das Nações Unidas que “fortalece o bloqueio naval ao país 
o que afeta a estrutura social haitiana e impulsiona a busca pela imigração e refúgio como 
alternativa de sobrevivência” (CHAVES JR., 2008, p. 64). 
Acerca do caos instalado no cenário político do Haiti, tem-se: 
A situação permanece a mesma até meados de 1994, quando o presidente 
deposto denuncia a constante violação aos direitos humanos no país. Com 
isso o Haiti recebe mais uma vez uma missão de paz, conhecida por Missão 
Civil Internacional no Haiti (MICIVIH)
3
, que prevê monitorar as situações 
que desrespeitem os direitos humanos. 
Para Chaves Jr. (2008) as forças multinacionais intervém, em decorrência de uma 
reestruturação iminente da democracia, devido aos altos indicies de criminalidade e desordem 
política que o Estado enfrentava, tendo as forças multinacionais o objetivo maior a tentativa 
de reestabelecer o cumprimento da Constituição e respeito à democracia, promovendo uma 
nova eleição no país. 
Após as eleições realizadas em outubro de 1994, um dos aliados de Aristide, Rene 
Preval, assume a presidência com 88% dos votos, para assumir o governo pelo período de 
cinco anos (BORBA, 2014), contrariando o que todos esperavam, visto que o mais esperado 
como natural seria Aristide na disputa das eleições, as quais este ganharia. Porém, tal atitude 
seria um desrespeito à própria Constituição, desqualificando o processo de reconstrução 
democrática que pairava no país. Com a posse de Rene Preval, Aristide acabou por romper 
com o partido do governo então vigente, que até então, era seu partido também (CHAVES, 
2008). 
De acordo com Chaves (2008, p.65) em 1997, após o rompimento de Aristide com o 
então presidente e seu partido, Titide cria um novo partido, nomeado de “Família Lavalas”, o 
qual ganharia as próximas eleições, mas seria impugnado sob fortes acusações de fraude e 
manipulação das eleições. 
 
3
 Missão Civil Internacional no Haiti, criada em fevereiro de 1993, a pedido do presidente Aristide, para 
observar a situação dos direitos humanos do Haiti. Foi a primeira ação conjunta entre a ONU e a Organização 
dos Estados Americanos (OEA). Em 1994, após o retorno da ordem constitucional a missão expande seus 
 
33 
Acerca deste vai e vem dos líderes no poder, Grondin diz que “[...] desde as lutas pela 
 
trabalhos para então fortalecer a ordem institucional e promover os direitos humanos. (BORBA, 2014, p. 20). 
34 
independência, sucederam-se no Haiti mais de 30 chefes de Estado, alterando-se, com 
quase completa regularidade, os representantes de cada setor” (1985, p. 40). 
A história parece se repetir no Estado do Haiti, e em decorrência de novas repressões e 
ondas de ataques violentos, uma nova eleição é marcada e com fortes acusações de novas 
fraudes, Aristide assume o poder em meio a reiterados flagrantes de desrespeito aos direitos 
humanos e com uma violência cada vez mais crescente. Em 2002, torna-se nítido o fato de 
que o Estado haitiano não consegue por si só controlar a estabilidade e o caos gerado no país. 
Porém, é somente em 2004 que Aristide renuncia ao poder, ficando exilado na África do Sul. 
(BORBA, 2014; apud STOCHERO, 2010). 
 
3.4 UMA FORÇA PACIFICADORA NO HAITI 
 
O presidente interino após a renúncia de Aristide, Boniface Alexandre, ciente do caos 
evidente instaurado no Estado, aceita receber uma nova intervenção internacional, a Força 
Multinacional Interina (MIF) qual foi capitaneada por norte-americanos e canadenses, recebeu 
da ONU a difícil tarefa de manter a ordem no país (BORBA, 2014). 
De acordo com Chaves Jr. (2008, p. 68), com a MIF, o Conselho de Segurança das 
Nações Unidas aprova uma Resolução
4
 para criar uma missão de estabilidade no Haiti, a qual 
seria denominada MINUSTAH (Missão de Estabilidade das Nações Unidas no Haiti), sendo 
esta a quinta missão formada desde 1993, com o intuito de estabilizar os ânimos no Estado 
haitiano. 
De acordo com Borba (2014, p.22) após o surgimento da MINUSTAH, o Brasil aceita 
liderar militarmente a operação, comandada pelo General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, 
assumindo em 01 de julho de 2004 (PAULA, 2014, p.16), com o intuito de desempenhar um 
papel mais atuante na comunidade internacional, por ser membro do Conselho de Segurança. 
A Minustah foi criada sob os moldes da Carta da ONU
5
, contando com um efetivo de 6.700 
 
4
 Resolução 1.542 de 30 de abril de 2004, que afirma o compromisso com a soberania, a independência 
territorial, integridade e unidade do Haiti, lamentando todas as violações dos direitos humanos, especialmente 
contra a população civil, adotando as medidas necessárias para findar a impunidade, assegurar os direitos 
humanos, baseando-se em um Estado de Direito (BORBA, 2014, p. 21). 
5
 A Carta da ONU traz um capítulo específico com as normas relativas às missões de paz, o capítulo VII 
denominado “Ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão”, serviu de base para as diretrizes 
da Minustah. 
35 
soldados e 1.622policiais. 
O batalhão brasileiro na Minustah é composto, conforme Stochero (2010, p. 40), por 
quatro Companhias de soldados da infantaria e um esquadrão, que é equipado com Urutus 
blindados. No que tange à manutenção da infantaria brasileira, o efetivo conta também com 
médicos, engenheiros, cozinheiros e demais profissionais, contando com um total de 225 
militares da Marinha e um da Aeronáutica. 
Borba (2014, p.22) acerca da intervenção da Minustah no Estado haitiano, diz que esta 
age conforme manda as resoluções do Conselho de Segurança, cujo objetivo principal é, 
dentre outras coisas, a garantia de um ambiente social estável, a reestruturação da política 
haitiana, o desarmamento da população em geral e a proteção dos civis, apoiando e 
colaborando para a reestruturação da democracia existente no plano constitucional do Estado, 
para que assim, se possam realizar eleições livres, promovendo e protegendo os direitos 
humanos que ali deveriam existir. 
De acordo com Stochero (2010, p. 35), em meados de 2007 o Haiti passa por uma 
situação de “um país que parou no tempo”. O resultado de anos de intervenções, segundo 
Borba (2014, p. 22 e 23) e Paula (2014, p. 16) é de um Estado que está submetido aos reflexos 
históricos de pobreza e desigualdade social, que culminam em um Haiti totalmente deficitário, 
fragilizado, sem infraestrutura básica, ou seja, com muitos problemas socioeconômicos. Para 
ter-se ideia de quão atrasado o Haiti estava àquela época, quase não havia telefonia fixa, 
recolhimento de lixo, energia elétrica e água encanada, ou seja, não havia nem mesmo o 
mínimo para que se pudesse garantir a dignidade da pessoa humana, expondo os cidadãos a 
viver à mercê dos perigos de quem não se pode ter nem mesmo o básico para a sua 
sobrevivência de forma digna e saudável. Além disto, conforme Stochero (2010, p. 35) apenas 
20% dos haitianos tinham acesso, àquela época, ao saneamento básico, serviço este 
considerado o mínimo para uma sobrevivência digna e saudável, vez que é sabido dos 
prejuízos à saúde que podem ocorrer convivendo junto a dejetos humanos, e etc. O retrocesso 
não para por ai, “[...] cerca de 80% dos haitianos dentre os 8,9 milhões de habitantes não tem 
emprego formal. A média etária é de 18 anos e a expectativa de vida, de apenas 57 anos, uma 
36 
das mais baixas do mundo” (STOCHERO, 2010, p. 35), sendo que pelo menos merade 
da população vive com cerca de menos de US$ 2 (dois dólares) por dia, e tem o nível de 
analfabetismo beirando a casa dos 53%. 
A atuação da Minustah durou 10 anos, até outubro de 2014, tendo papel significativo 
na diminuição dos índices de violência no Estado haitiano, devolvendo aos cidadãos 
tranquilidade, possibilitando de fato a reconstrução de uma vida com a garantia do mínimo de 
dignidade (BORBA, 2014, apud. STOCHERO, 2010), desenvolvendo um trabalho árduo e 
constante no combate à criminalidade generalizada, dissolvendo organizações criminosas e 
possibilitando que o povo haitiano pudesse voltar a andar livremente pelas ruas de seu país, as 
quais antes eram tomadas por gangues. 
Conforme Stochero “segundo os militares do Destacamento de Operações de Paz 
(DOPaz) a melhor recompensa, foi visível nos olhos do povo haitiano, que mostrou 
reconhecimento, respeito e gratidão aos militares, por devolverem aos Estado condições de 
vida digna” (STOCHERO, 2010). 
 
3.5 DEPOIS DA CRISE, O TERREMOTO 
 
O ano de 2010 começou com a promessa de ser um ano decisivo no âmbito político 
para o Estado do Haiti, pois as eleições legislativas prometiam renovar um terço do Senado e 
da Câmara dos Deputados, marcadas para fevereiro e em novembro aconteceria a escolha do 
sucessor a presidência (BORBA, 2014). 
O que não se esperava é que em 12 de janeiro de 2010, por volta das 16h53m horário 
local (aproximadamente 18h53min no horário de Brasília), o Haiti seria atingido por um 
devastador terremoto que atingiu a magnitude de 7,0 graus na escala Richter (BORBA, 2014 
apud. STOCHERO, 2010), e que, conforme dados da revista Veja, fora considerado o mais 
forte dos últimos 200 anos, causando extensos danos na economia e na infraestrutura do país, 
além de deixar um grande número de feridos, desabrigados e mortos. Dentre os vários 
edifícios que desabaram, está o palácio presidencial da capital Porto Príncipe (Paula, 2014, p. 
17). 
Com este desastre natural assolando o país, o Haiti se via mais uma vez em uma 
situação de recomeço, numa época em que após a pacificação, começava a se reerguer, 
almejando o futuro promissor que sua história sempre buscou (BORBA, 2014). 
De acordo com o governo haitiano, o terremoto que assolou o país deixou cerca de 220 
37 
mil mortos (Borba, 2014, p. 24), dentre eles, além dos civis, 96 soldados das Nações Unidas, 
além de 20 militares brasileiros, “sendo que 18 militares atuavam na missão de paz, Luiz 
Carlos da Costa, a segunda maior autoridade civil da ONU no Haiti, e a fundadora da Pastoral 
da Criança, Zilda Arns” (PAULA, 2014, p. 17). 
Conforme Stochero (2010), o terremoto deixou ainda cerca de um milhão de 
desabrigados, além da preocupação com as gangues que haviam sido tiradas das ruas em 
2008. A missão de paz em consequência do terremoto precisou recomeçar do zero (BORBA, 
2014). 
A Minustah teria um longo e árduo trabalho pela frente, além de perder 
vários funcionários vítimas do terremoto, precisa refazer seu trabalho e 
prender os 4.300 criminosos que estavam de volta às ruas, depois de saquear 
as delegacias os criminosos estão armados e municiados 70% das habitações 
do Haiti e mais de quarenta delegacias foram destruídas. (BORBA, 2014, p. 
24). 
De acordo com Paula (2014, p. 17), cerca de 70% dos prédios de Porto Príncipe foram 
destruídos, afetando a infraestrutura que já era precária, ficando ainda mais comprometida e 
dificultando nos serviços de ajuda humanitária e socorro aos feridos. 
Em 19 de janeiro de 2010, a resolução 1908 autorizou o aumento do componente 
militar da MINUSTAH para 8.940, apoiando o trabalho imediato de recuperação, 
reconstrução e estabilidade no Haiti (BORBA, 2014, p. 24). 
Sontag (2012) aponta que cerca de 7,5 bilhões tenham sido doados ao Haiti desde o 
ano de 2010. Mais da metade deste montante, havia sido aplicado em medidas emergenciais 
que tem alto custo, mas que não tem resultados a longo prazo, como compra de água, 
alimentos ou barracas de acampamento, por exemplo. 
A lenta reconstrução do país tem sido o mais recente capítulo de sua história, que 
ainda está sendo escrito. A população após o desastre natural, passou a migrar de seu país de 
origem com o objetivo de fugir desta realidade de sofrimento e pobreza, tentando reconstruir 
suas vidas em outras nações, e principalmente, tentando ajudar os familiares que tiveram que, 
por motivos diversos, ficar no Haiti, para que estes, aos poucos consigam se reconstruir, para 
quem sabe, em um futuro, se reencontrarem em seu país de origem (PAULA, 2014), sendo o 
principal destino da migração, o Brasil. 
Pouco mais de um ano depois da catástrofe, o Haiti, segundo Borba (2014, p. 26), 
ainda encontrava-se em situações bastante precárias. Nos anos seguintes, outros desastres 
naturais assolaram o Haiti, como a tempestade Isaac, o ciclone Sandy, longos períodos de 
seca, além de uma epidemia de cólera, a qual, segundo dados da ONU, até 2013 vitimou 
38 
quase 8 mil pessoas. 
As notícias da ONU dão conta que, mesmo um ano e meio após o desastre ambiental, 
o país ainda sofria com muitos desalojados, falta de saneamento básico e infraestrutura, o 
número de abusos contra mulheres aumentava, sem falar na instabilidade política que 
novamente assolava e preocupava o país, contribuindo no aumento dos níveis decriminalidade e insegurança (BORBA, 2014). 
As situações em que se encontravam as penitenciárias eram degradantes, os presos 
vivam total desrespeito com os direitos humanos (BORBA, 2014), conforme o Secretário-
Geral Assistente da ONU para os Direitos Humanos, Ivan Somonovic, alertou que a reforma 
da polícia e do sistema de justiça estava muito atrasada, sendo que a Penitenciária Nacional 
estava em condições desumanas e degradantes. 
No ano de 2012, o Haiti é castigado pela seca e tempestades tropicais, sofrendo com a 
falta de alimentos, segundo informações do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de 
Assuntos Humanitários, que mostrava os índices de desnutrição em alguns pontos do Haiti 
aumentando desde outubro de 2011, tendo a escassez de alimentos afetado sete das dez 
províncias do país, sendo que cerca de 82 mil crianças menores de cinco anos de idade 
estavam em estado de desnutrição. 
Apesar de todo o esforço na reconstrução do país, não há meios viáveis que possam 
garantir a proteção e cuidados especiais do povo, especialmente dos grupos vulneráveis, razão 
pela qual, muitos dos que sofrem com esta situação, buscam refúgio em outros países, na 
tentativa de melhorar suas condições de vida, e garantir o mínimo necessário para sua 
sobrevivência. 
As tropas da MINUSTAH permanecem desde 2004 em território haitiano, exercendo 
seu trabalho de manter e promover a paz e a segurança do país. O governo brasileiro previa a 
volta dos seus, hoje, 850 militares que estão na missão, porém ainda não havia data definida 
oficialmente. Porém, no dia 14 de outubro de 2015, o Conselho de Segurança das Nações 
Unidas decidiu prorrogar a atuação da missão por mais um ano no país, com data certa para 
sua partida: 15 de outubro de 2016, ocasião esta em que a ONU espera já haver novo 
presidente governando no país. A intenção da ONU com esta manobra é, durante este período 
de um ano, avaliar se, após o processo eleitoral e posse do novo presidente, haverá efetiva 
estabilidade em todo o território nacional haitiano, bem como avaliar a capacidade da polícia 
39 
nacional em assumir a segurança da nação, se fazendo assim, desnecessária a presença das 
tropas da MINUSTAH no Haiti.
6
 
 
3.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DO CAPÍTULO 
 
O Haiti é um Estado que começou escrevendo sua história em cima de um futuro 
promissor, quando conquistou sua independência. 
Porém, percebe-se que, após a conquista de sua independência, acaba caindo em 
ditaduras e opressões, que fazem mudar bruscamente os rumos de seu futuro, até então, 
promissor. 
Durante um longo período caracterizado pelos seus governos fracassados, o Haiti 
precisou conviver com seus direitos e dignidades devastados, antes mesmo do terremoto que 
assolou o país em 2010. 
Percebe-se no povo haitiano, a humildade e hombridade de quem, apesar de sofrer 
continuamente com as condições de vida precárias e a escassez de direitos humanos e 
fundamentais que o governo de seu país lhes impunha durante toda a sua história, não deixa 
de lutar por um país melhor, almejando dias melhores, em que, terão a devida proteção 
garantida por seu país. 
 
6
 Disponível em http://nacoesunidas.org/conselho-de-seguranca-da-onu-avalia-possivel-retirada-de-missao-de-
paz-do-haiti/ - Acesso em 30/10/2015. 
40 
4 O INSTITUTO DO REFÚGIO E OS MECANISMOS PARA ASSEGURAR OS 
DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS AOS HAITIANOS NO BRASIL 
 
Neste capítulo, tem-se por objetivo conceituar e analisar o instituto do refúgio, através 
de sua evolução histórica e as legislações que o garantem, confrontando com a legislação 
brasileira, para que assim, se possa verificar se o direito brasileiro está efetivamente 
assegurando os direitos humanos e fundamentais dos haitianos refugiados em nosso país, 
analisando ainda os institutos responsáveis por desenvolver trabalhos de proteção de tais 
garantias. 
Para tanto, faz-se necessário analisar os princípios do instituto do refúgio, bem como 
fazer um confronto entre este e o instituto do asilo, para que assim tenhamos mais clara a sua 
diferenciação, como o direito internacional e os direitos humanos se relacionam com o 
refúgio. 
Deste modo, será analisada a legislação brasileira e internacional, para que se possa 
entender de que modo os migrantes haitianos se encaixam no instituto do refúgio. 
Após esta analise sobre o que é o instituto do refúgio, faz-se uma analise na legislação 
brasileira para entender de que forma esta está efetivamente garantindo juridicamente os 
direitos dos refugiados haitianos em nosso país. 
Além da análise legislativa, faz-se necessária uma análise “operacional”, ou seja, além 
de leis, quais são os mecanismos adotados pelo Brasil para que se possa assegurar que os 
refugiados haitianos não sofrerão com a carência de direitos humanos e fundamentais, bem 
como que estes não sofrerão abuso dos seus direitos. 
 
4.1 O INSTITUTO DO REFÚGIO E A SUA ANÁLISE HISTÓRICA 
 
O instituto do refúgio surgiu da necessidade de proteção às pessoas que foram 
forçadas, por motivos diversos, a fugir de seus países, sejam elas por serem vítimas de 
perseguições, terem privação de sua liberdade ou ainda por encontrar-se em perigo iminente 
de vida (BORBA, 2014), sendo necessário destacar também que segundo Jubilut (2012, p. 45) 
os elementos essenciais para a definição do refúgio são a perseguição, o bem fundado temor 
ou justo temor e a extraterritorialidade. 
 
 
41 
O refúgio surgiu ainda na Grécia Antiga, onde suas razões eram marcadas 
principalmente por caráter religioso, normalmente concedido em templos e seu principal 
motivo era a perseguição religiosa, comum àquela época (BARRETO, 2010). 
Na antiguidade, segundo Borba (2014, p. 33), o instituto do refúgio beneficiava mais o 
criminoso político, vez que a renúncia política poderia ser a causa de um caos generalizado, 
provocando as tão temidas e infindáveis guerras. 
Com o passar do tempo, de acordo com Barreto (2010), o instituto do refúgio perde a 
associação religiosa que até então havia, dando aos Estados a autonomia necessária acerca do 
assunto, passando a este o dever de garantir ao indivíduo a proteção dentro dos seus limites 
territoriais, sendo baseado na teoria da extraterritorialidade. 
A diferenciação entre a concessão de refúgio a criminosos deu-se após os ideais 
surgidos ainda na Revolução Francesa, sendo que, de acordo com Borba (2014, p. 33), 
enquanto aos criminosos políticos passou-se a aplicar o refúgio, aos criminosos comuns 
aplicava-se a extradição. 
Antes da Primeira Guerra Mundial, devido à crescente demanda de mão de obra, a 
questão dos refugiados não detinha atenção e importância internacional, uma vez que o 
espaço territorial de determinada nação era suficiente para recepcionar e dar conta da acolhida 
destas pessoas (SOARES, 2012). 
Ocorre que, com o passar do tempo, devido à crescente criminalidade e o avanço nos 
problemas populacionais, evidenciou-se no sistema de cooperação dos Estados soberanos, que 
estes não mais davam conta de receber criminosos comuns extraditados e garantir sua 
proteção, sendo necessário então, utilizar-se do refúgio, um instrumento internacional, para 
que se pudesse garantir a proteção do perseguido (BARRETO, 2010). 
Em razão da Primeira Guerra Mundial, os Estados que acolhiam a população de 
refugiados e deslocados, sentiram a necessidade de um sistema de identificação destes em 
relação aos demais cidadãos, pois nesta época já havia movimentação de aproximadamente 
1,5 milhões de pessoas nesta situação de refúgio, sendo que a segurança interna dos países era 
posta em risco por conta do seu alto número de migrantes refugiados

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