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Parecer Jurídico Sobre Assédio Moral

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Parecer nº. XXXX
Assunto: Consulta sobre a viabilidade de pedido de indenização por dano decorrente de assédio moral no ambiente de trabalho.
Ementa: ASSÉDIO MORAL – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – REPARAÇÃO DO DANO CAUSADO AO EMPREGADO.
Interessado: Paulo Cleops
1-      RELATÓRIO
 O empregado consulente demanda parecer técnico-jurídico acerca da viabilidade de indenização por assédio moral no ambiente de trabalho. Trata-se de caso em que o obreiro sofreu assédio moral, e devido a isso, solicitou esclarecimento sobre a questão da indenização para reparação de dano causado devido ao assédio sofrido no seu local de trabalho atual.
 Ocorre que o empregado sofreu exclusão por parte da empresa, sendo afastado das atividades laborativas, devido a mudanças no sistema de informática e tecnologia. Com as referidas mudanças houve consequências para as atividades realizadas pelo obreiro, que não conseguiu se adaptar ao novo sistema implantado, e nem teve capacitação oferecida pelo empregador para que desenvolvesse a sua capacidade laborativa e se atualizasse ao novo sistema. Com isso o obreiro ficou inativo da função e sem exercer quaisquer atividades referentes ao seu cargo, ficando apenas, por ordem da empregadora, a disposição da empresa em uma sala isolada de seu segmento. Contudo o ambiente ocupado pelo empregado não satisfaz a legislação trabalhista no que tange a adequação das condições do ambiente de trabalho e do conforto térmico. 
 É o relatório.
2-      FUNDAMENTAÇÃO JURIDICA
A questão proposta é relativa ao assédio moral no ambiente de trabalho e a correção do dano causado mediante indenização justa.
Atualmente, processos judiciais que envolvem assédio moral estão cada vez mais presentes na Justiça do Trabalho. No Brasil, alguns projetos de lei estão em debate. No entanto, é preciso aprofundar os estudos sobre o assunto, uma vez que envolvem outras áreas do conhecimento humano, em especial, as que dizem respeito às relações interpessoais no trabalho.
 
 
Constituição Federal
Em respeito à dignidade do trabalhador, a Constituição Federal, ao estabelecer princípios gerais, e, portanto, também aplicáveis ao Direito do Trabalho, consagra em seu art. 1º, inciso III, como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, “a dignidade da pessoa humana”.
 O art. 3º, além de outros objetivos fundamentais, prevê “a construção de uma sociedade livre, justa e solidária”.
 No art. 5º e incisos V e X, é taxativa ao afirmar que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
 O art. 7º dispõe especificamente sobre “os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais”.
 Cumpre mencionar ainda, que o art. 205 considera que: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A importância desse artigo consiste em entendermos a educação como forma de desenvolver valores no ser humano, como ética e caráter, fundamentais para o exercício da cidadania, a vida em sociedade e as relações de trabalho.
 
 Código Civil Brasileiro
Conforme dispõem os artigos 186 e 187 do Código Civil Brasileiro:
 Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direto e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
 Art. 187. “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
Art. 932. “São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.”
 
 Consolidação das Leis do Trabalho CLT 
A CLT estabelece as situações de rompimento unilateral de contrato de trabalho quando houver uma falta grave de uma das partes. O art. 482 refere-se aos empregadores e dispõe sobre a rescisão por justa causa, ao passo que o art. 483 dispõe sobre a rescisão por iniciativa do trabalhador. Como o assédio moral se constitui numa falta grave por parte da empresa, o trabalhador pode recorrer a esse dispositivo para pleitear a rescisão do contrato de trabalho, necessitando para isso constituir um advogado. Um dos fatores que dificultam a formulação de leis e, consequentemente, a penalização por assédio está relacionado ao elevado grau de subjetividade em questão, bem como à dificuldade de verificação do nexo causal (ou seja, definir que a ocorrência do assédio levou ao adoecimento, por exemplo). Em casos de ações na Justiça, o assédio moral somente poderá ser caracterizado se, além das impressões do assediado, forem apresentadas provas materiais e testemunhas da conduta lesiva.
Por se tratar de uma violência de ordem psicológica, as medidas legislativas nem sempre são suficientes para combater e prevenir as práticas de assédio moral no trabalho. Entende-se que o assédio deve ser reconhecido e coibido pela gestão das próprias organizações, como forma de garantia dos direitos individuais dos seus trabalhadores, bem como da saúde psicológica destes e da própria organização.
Jurisprudências
TST - RECURSO DE REVISTA RR 721004420115170009 (TST)
Data de publicação: 22/03/2016
Ementa: RECURSO DE REVISTA. ASSÉDIO MORAL. OCIOSIDADE FORÇADA. Consta do acórdão regional que, após ciência da empregadora acerca de exame que declarou o empregado inapto ao trabalho , "o reclamante fora remetido ao trabalho em um depósito fora das dependências da reclamada" (fl. 387) e que houve um esvaziamento das suas funções na empresa . Dessa forma, tendo o autor sido submetido à ociosidade forçada pela empregadora, correta a decisão regional ao concluir que "a reclamada praticou assédio moral contra o reclamante, para vê-lo fora do seu quadro de empregados" (fl. 387). Assim sendo, não há que se falar em violação dos artigos 186 e 927 do Código Civil . Recurso de revista não conhecido .ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. PRETENSÃO DE REDUÇÃO DO QUANTUM FIXADO. RECURSO DESAPARELHADO. A recorrente não embasa sua insurgência em nenhum dos requisitos do artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho , razão pela qual o apelo encontra-se desaparelhado. Recurso de revista não conhecido. JUROS. MOMENTO DA INCIDÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS. SÚMULA N o 297, I, DO TST. O Tribunal a quo não emitiu tese a respeito da matéria, nem foi instado a fazê-lo por intermédio da oposição de embargos de declaração. Por conseguinte, ausente o devido prequestionamento, incide o óbice da Súmula nº 297, I, deste Tribunal Superior. Recurso de revista não conhecido. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE A CONDENAÇÃO POR DANOSMORAIS. SÚMULA N o 297, I, DO TST. O Tribunal a quo não emitiu tese a respeito do tema, nem foi instado a fazê-lo por intermédio da oposição de embargos de declaração. Por conseguinte, ausente o devido prequestionamento, incide o óbice da Súmula nº 297, I, deste Tribunal Superior.Recurso de revista não conhecido. RESCISÃO INDIRETA . ARESTO INSERVÍVEL. O recurso, baseado apenas em divergência jurisprudencial, não merece trânsito. Com efeito, o único aresto colacionado é inservível ao confronto de teses, porquanto transcrito em desacordo com os termos da Súmula n o 337/TST...
TRT-9 - 8785200810902 PR 8785-2008-10-9-0-2 (TRT-9)
Data de publicação: 23/02/2010
Ementa: TRT-PR-23-02-2010 AVALIAÇÃO CRÍTICA - ASSÉDIO MORAL - COMENTÁRIO QUANTO A APTIDÃO PARA VENDAS - SENTIMENTO DE CONTRARIEDADE. Caracteriza-se o assédio moral, em suma, pela exclusão da vítima do ambiente de trabalho, mediante pressão ou terror psicológico, constituindo-se em uma das formas de dano aos direitos personalíssimos do indivíduo, suscetível, portanto, de reparação. Para que se reconheça a existência de assédio moral, e consequente dano moral, se faz necessário constatar a existência de conduta moralmente ofensiva por parte do empregador, de forma sistemática, com a finalidade de prejudicar a esfera psíquica do empregado. "In casu", as supostas agressõesmorais perpetuadas pelo gerente das Reclamadas eram em verdade Juizos de valor quanto as habilidades comerciais do Reclamante, inexistindo em tais declarações "animus" de lesionar a moral deste. Tais formas de avaliações são próprias de uma relação de trabalho comum. Supõe-se que a franqueza no exercício da atividadelaboral não seja enquadrada pelo Direito como ato ilícito. Em verdade, como explicitado pelo próprio Reclamante em seu depoimento, as declarações provocaram mera frustração ou chateação. Sendo assim, inexiste ato capaz de causar lesão ao patrimônio imaterial do empregado. Termos em que se nega provimento ao recurso do Reclamante.
(TRT-1 - RO: 00008006920115010008 RJ, Relator: Rosana Salim Villela Travesedo, Data de Julgamento: 11/12/2013, Décima Turma, Data de Publicação: 07/02/2014)DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. TRATAMENTO INADEQUADO DISPENSADO PELO SUPERIOR HIERÁRQUICO. ASSÉDIO MORAL. MAJORAÇÃO. INDENIZAÇÃO. Atinge a esfera íntima do trabalhador, em sua honra e dignidade, o inadequado e desrespeitoso tratamento dispensado por superior hierárquico contendo ofensas e humilhações. Configurado o dano ao patrimônio íntimo do obreiro, há de merecer a atitude do empregador exemplar reprimenda do Judiciário, impondo-se a respectiva reparação. Apelos obreiro e patronal improvidos.
TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA AIRR 111806020135030030 (TST)
Data de publicação: 04/05/2015
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ASSÉDIO MORAL - RESCISÃO INDIRETA Registra a Corte Regional: "Evidente o tratamento desrespeitoso e discriminatório reservado à reclamante, ofensivo à dignidade da pessoa humana da trabalhadora, revelando um desvalor pelo trabalho prestado pela obreira e ofendendo a honra e a imagem da Autora, bens tutelados pela Constituição Federal . Tal fato constitui falta grave que autoriza a rescisão oblíqua do vínculo empregatício. Descabe falar em falta de imediatidade, pois as irregularidades foram praticadas ao longo de todo o contrato de trabalho. Dessa forma, impõe-se o reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho e da mesma forma o dano moral experimentado.". Entendimento diverso encontra óbice na Súmula nº 126 do TST. DANO MORAL - QUANTUM INDENIZATÓRIO A instância ordinária, ao fixar o quantum indenizatório, pautou-se pelo princípio da razoabilidade, obedecendo aos critérios de justiça e equidade, não se justificando a excepcional intervenção desta Corte Superior . Agravo de Instrumento a que se nega provimento.
“ASSÉDIO MORAL. CONTRATO DE INAÇÃO. INDENIZA- ÇÃO POR DANO MORAL. A tortura psicológica, destinada a golpear a auto-estima do empregado, visando forçar sua demissão ou apressar sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o âmbito profissional, eis que minam a saúde física e mental da vítima e corrói a sua auto-estima. No caso dos autos, o assédio foi além, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de trabalho, e por conseqüência, descumprindo a sua principal obrigação que é a de fornecer trabalho, fonte de dignidade do empregado.” (TRT 17ª R., RO nº 1315.2000.00.17.00.1, Ac. nº 2.276/2001, Rel. Juíza Sônia das Dores Dionízio, DJ de 20.08.2002, publicado na Revista LTr 66-10/1237) Na petição inicial da reclamação trabalhista que ensejou referido julgado, o reclamante pediu, entre outros, a indenização por danos morais em virtude de “perseguições de natureza ideológica”. Do exame do acórdão depreende-se que fora preterido numa promoção, reagiu e se desentendeu com um colega, que recebeu a promoção, sem contar a animosidade gerada com o gerente. Desde então, o gerente anunciou, em reunião para os demais empregados, que o reclamante estava proibido de entrar na biblioteca (local onde realizava suas atividades); com o quê, por cerca de dois meses, ficou o reclamante sem receber trabalho, obrigado a ocupar uma escada interna do prédio, local que foi denominado pelos colegas de “gabinete do Harald” – prenome do reclamante – segundo uma testemunha
É o nosso parecer.
3-      CONCLUSÃO
Pelo exposto, o parecer é no sentido da possibilidade de indenização por danos causados pelo assédio moral no ambiente de trabalho.
Sorocaba, 29 de abril de 2016.
Advogado. XXXXXXXXX
OAB nº. XXXXX-X

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