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DIREITO CIVIL AULA 02

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DIREITO CIVIL – AULA 02 (27/03/2012)
BEM DE FAMÍLIA
01) Breve Histórico
- O direito norte americano traduz o referencial histórico mais importante do nosso bem de família: a lei texana de 26 de janeiro de1839 (Homestead Act).
- O CC de 1916 consagraria o nosso bem de família em seu art. 70, hoje revogado pelos arts. 1711 e ss. do CC/2002.
02) Espécies de Bem de Família
- No Brasil existem dois tipos de bens de família: bem de família voluntário (convencional) e bem de família legal.
- O bem de família voluntário está disciplinado pelos arts. 1711 e ss. do CC. O bem de família legal está regulado pela lei 8.009/90. O voluntário tem pouca aplicabilidade prática, mas foi ele que é regulado pelo CC. Contudo o CC remete à legislação especial, que é o bem de família legal.
- Conceito: O bem de família voluntário (convencional), disciplinado a partir do art. 1711 do CC, é aquele instituído por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou de um terceiro, mediante registro no Cartório de Imóveis (art. 167, inciso I, número 1, da Lei Registros Públicos).
- O bem de família voluntário nasce da autonomia privada, ou seja, não deriva diretamente da lei.
OBS: Logicamente, o instituidor do bem de família voluntário deve ser pessoa solvente, para se evitar o cometimento de fraude.
- A instituição do bem de família voluntário acarreta dois efeitos jurídicos fundamentais, ainda que com caráter relativo: a impenhorabilidade e a inalienabilidade do referido imóvel. A impenhorabilidade é por dívidas futuras.
- Nos termos do art. 1715, constata-se que a impenhorabilidade é relativa, na medida em que tributos relativos ao imóvel e despesas condominiais podem levar a sua execução. 
- À luz do art. 1717, a inalienabilidade do imóvel também é relativa, pois com o consentimento dos interessados e ouvido o ministério público, a alienação pode acontecer.
- Dois aspectos fundamentais foram consagrados no Novo CC para o bem de família voluntário: 1) o seu valor não pode ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido dos seus instituidores (art. 1711); 2) ao instituir o bem de família voluntário, é possível afetar valores mobiliários (art. 1712).
- O art. 1712 do CC permite que valores mobiliários, ou seja, rendas possam ser instituídas, juntamente com o imóvel, como bem de família voluntário. Estas rendas não podem exceder o valor de 1/3.
OBS: Situação diversa e peculiar, aplicável inclusive ao bem de família legal, é aquela em que o imóvel residencial próprio é alugado para que a família sobreviva da respectiva renda. Em tal situação, já assentou o STJ ser impenhorável a renda proveniente do imóvel locado (REsp. 439.920/SP, AG/RG no REsp. 975.858/SP).
- Ver o art. 1720 (sobre a administração do bem de família voluntário) e os arts. 1721 e 1722 (sobre a extinção do bem de família voluntário).
03) Bem de Família Legal
- Ao lado do bem de família voluntário, o bem de família legal, instituído pela L. 8.009/90, de muito maior aplicabilidade prática e social, consagra uma impenhorabilidade protetiva do imóvel residencial, independentemente de valor, instituição voluntária e registro cartorário.
- Não inalienabilidade nenhuma para o bem de família legal.
- Não há interesse quase nenhum em se instituir o burocrático bem de família voluntário, diante da ampla proteção do bem de família legal. Todavia, situação que pode surgir recomendando a instituição voluntária do bem de família a exemplo daquela prevista no parágrafo único do art. 5º da L. 8.009/90.
OBS: O STJ por meio da súmula 205 firmou o entendimento no sentido de que a L. 8.009/90 poderia ser aplicada inclusive a penhoras anteriores à sua vigência.
OBS: A despeito da dicção do parágrafo único do art. 1º da L. 8.009/90, em situações justificadas, o STJ tem admitido o desmembramento do imóvel para efeito de penhora (REsp. 207.693/SC, REsp. 510.643/DF, REsp. 515.122/RS e Noticiário STJ de 15/05/2007).
- O art. 2º da L. 8.009/90 estabelece parâmetro de proteção legal dos bens móveis que guarneçam o imóvel residencial. Este artigo deve ser decorado. Ele afirma que excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.
- A jurisprudência do STJ tem reconhecido a proteção do bem de família legal para os seguintes bens móveis quitados (p. único do art. 2º da L. 8.009/90): televisão, freezer, computador, ar condicionado e teclado musical (REsp 218.882/SP).
OBS: O STJ sumulou o entendimento no sentido de que a vaga de garagem que possua matrícula própria no Registro de Imóveis não constitui bem de família, podendo, portanto, ser penhorada (Súmula 449, do STJ). Então, se o número de matrícula da vaga de garagem for igual ao do apartamento, haverá a proteção, e se for diferente, não haverá proteção.
04) Exceções à proteção do bem de família legal:
- A impenhorabilidade trazida pela L. 8.009/90 é relativa, sendo que as exceções estão descritas no art. 3º da referida lei. Estas exceções devem ser lidas e decoradas.
OBS: O STJ julgando o REsp. 644.733/SC interpretou restritivamente a exceção constante no inciso I do art. 3º da L. 8.009/90 para excluir créditos de trabalhadores eventuais como pedreiro, eletricista, pintor ou diarista. Portanto, apenas o empregado doméstico poderá penhorar o bem de família.
- O inciso II afirma que não haverá proteção do bem de família legal se o processo foi movido por Banco que financiou a construção a aquisição do referido imóvel.
OBS: A título de curiosidade, o que são “juros no pé”? O STJ, julgando o REsp. 670.117/PB aceitou a ilegalidade da cobrança antecipada de juros compensatórios antes do financiamento e da respectiva entrega das chaves do imóvel. Ex: é o caso em que o indivíduo comprará um apartamento, sendo que antes da entrega das chaves ele pagará do próprio bolso algumas parcelas e só depois da entrega do apartamento é que seria feito o financiamento paga quitar o restante do imóvel. Os juros cobrados sobre o valor cobrado antes de receber a chave e contrair o financiamento é ilegal.
- O inciso IV afirma que não haverá a proteção do bem de família para a cobrança de impostos, taxas e contribuição devidas em função do imóvel familiar. Alguns exemplos são o IPTU e ITR.
OBS: O próprio STF, interpretando o inciso IV do art. 3º da Lei. 8.009/90 (RE 439.003), aceitou entendimento no sentido de que a cobrança de taxa condominial também resulta na penhora do bem de família legal.
- O inciso V afirma que não haverá a proteção do bem de família no caso de execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. Neste caso, foi instituído voluntariamente uma garantia real sobre o imóvel. A impenhorabilidade violaria a regra do comportamento contraditório.
OBS: O STJ, em mais de um julgado, tem entendido, nos termos do inciso V do art. 3º (AgRg no Ag 115.2734/SP, AgRg no AResp. 726.201/DF) que não poderá invocar-se a proteção do bem de família se for constituída hipoteca sobre o imóvel; Mas, tendo havido mera indicação à penhora, é possível voltar atrás, invocando-se a proteção (REsp. 875.687/RS).
- O inciso VII afirma que não haverá proteção do bem de família se o processo foi movido para cobrança de fiança de locação.
OBS: O STF já pacificou, inclusive reconhecendo repercussão geral (RE 612.360) a constitucionalidade da penhora do imóvel do fiador na locação. Também está pacificado no STJ que a proteção do bem de família ampara inclusive pessoas que vivam só (Súmula 364, REsp 450.989/RJ).

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