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INTRODUCAO 
Uma introdur;iio critica ao direito: este titulo, sob a sua aparente 
facilidade, exige algumas observar;6es. Convem, com efeito, niio nos 
enganarmos no objectivo. 
Tal objectivo e, em primeiro lugar, pedag6gico: trata-se de con-
vidar aquele que inicia o estudo do direito a uma reflexiio sabre 
aquila que vai fazer. Neste sentido, este projecto niio foi ainda reali-
zado em numerosas universidades em Franr;a. 
Voces acabam de chegar a universidade e escolheram a unidade 
de ensino e investigar;iio (U. E. R.) '' juridica. De momenta, niio tem 
seniio uma ideia bastante confusa do que pode ser o direito. Eis 
que chega a tempo um curso de «introdur;iio ao direito": ele vai 
certamente responder a expectativa de uma definir;iio do vosso estudo. 
Desenganem-se: niio haveni, realmente, introdur;iio ao direito. 
Assim e feita a universidade nos seus departamentos juridicos! 
E certo que M uma parte de uma cadeira, a de direito civil, 
que se intitula: «Introdur;iio ao direito>>. Mas como mostrarei adiante, 
essa introdur;iio niio junciona verdadeiramente como introdur;iio. 
Ser-vos-a dada tiio-somente- e e jd um grande trabalho- uma amos-
tra dos conhecimentos que viio constituir o conteiido das cadeiras 
que hiio-de vir no primeiro ano e tambem em todo o curso de licen-
ciatura. Por outras palavras, esta «introdur;iio" surge como uma 
apresentar;iio, nao como uma reflexao. Hd, aparentemente, alguma 
l6gica nesta posir;ao: como poderia um ne6jito reflectir sabre aquila 
que niio conhece ainda? Primeiro, e preciso aprender; poder-se-a, em 
* U, E, R, Unite d'enseignement et de recherche,-N, T. 
15 
Deborah Hüsemann
Realce
Uma Introdtu&lio Critica ao Direito 
seguida reflectir 1 • Encontra-se, enUio, justificado o desvio que, de uma 
reflexao sabre o direito, leva a uma apresentac;ao das regras de direito. 
Pode comer;ar-se imediatamente: <co direito e um conjunto de regras 
que ... », etc. 
Esta apresentar;ao, no entanto, nao e neutra. t o que vou tentar 
demonstrar. 
0 que seria, pois, uma introdur;ao critica ao direito? 
I. Uma introdu9iio 
Comecemos por um relembrar de vocabulario que tara compreen-
der melhor o alcance da tarefa. Introduzir e um termo composto de 
duas palavras latinas: um adverbio (intro) e um verba (ducere) 2 • 
lntroduzir e conduzir de um lugar para outro, tazer penetrar num 
lugar novo. 
Ora, ao contrario do que se poderia facilmente pensar, esta deslo-
car;ao de um lugar para outro, este movimento, nao pode ser neutro. 
Nao ha introduc;ao que se imponha por si mesma, pela l6gica q(J,s 
coisas. Tomemos um exemplo para nos convencermos desta afirmac;ao. 
A visita a uma casa desconhecida, sob a orientac;ao de um guia, 
e sempre uma ·estranha experiencia: o guia introduz-vos na casa, 
faz-vo-la visitar, faz-vos, de facto, descobrir as suas diferentes divisoes. 
Mas ha sempre portas que permanecem fechadas, zonas que se nao 
visitam, e, muitas vezes, uma ordem de visita que nao corresponde 
a l6gica do edificio. Em suma, voces descobriram essa casa «de uma 
certa maneira»: essa introduc;ao foi condicionada por imperativos 
praticos e nao necessariamente pela ambic;ao de dar um verdadeiro 
conhecimento do edificio. E, alias, admissivel que, se voces conheces-
sem bern o guarda, tivessem podido passear sem restric;oes na casa, 
abrir as portas proibidas e visitar as zonas fechadas ao publico. Em 
resumo, teriam tido um outro conhecimento dessa casa, porque 
teriam ai sido introduzidos de forma diferente. Que dizer, entao, se 
voces fossem um dos habitantes dessa casa? Conhece-la-iam <<do inte-
rior>>- conheceriam os seus recantos tamiliares, as escadas ocultas, 
o desgaste produzido pelo tempo e a atmosfera intima. Tudo se passa 
com se, nas tres hip6teses que acabamos de imaginar, nao houvesse 
uma casa, mas tres edificios, no fundo muito diferentes pelo conhe-
cimento que temos deles. 
Este exemplo nao e mais do que uma comparac;ao, e veremos 
os seus limites, mas permite compreender no inicio deste trabalho 
1 Daqui surgem muitas vezes as propostas que tendem a instaurar uma 
reflexao sobre o direito, chamada impropriamente filosofia do direito, nos 
anos superiores do curso de licenc'atura ou no de p6s.gradua<;iio. Depois 
de quatro anos de aprendizagem, urn pouco de reflexiio poderia ser interes-
sante ... 
2 Conduzir para dentro de, levar para dentro. 
16 
que nao ha introdur;ao em si, l6gica em si mesma, irretutavel. 
Ha introduc;oes possiveis, cada uma com a sua racionalidade, algumas 
vezes com o seu interesse, e, em qualquer caso, com as suas conse-
quencias. E isto vale, por maioria de razao, quando se trata de intro-
duzir alguem num universo social como o universo juridico: o direito 
nao tern a consistencia material de uma casa, nao e delimitado no 
espar;o por paredes e portas. Quando eu tomo a iniciativa de vos 
introduzir no direito, tomo a responsabilidade de abrir certas portas, 
de conduzir os vossos passos num determinado sentido, de chamar 
a vossa atenr;ao para este elemento e nao para um outro 8 • Ora, quem 
sabera dizer se as portas que eu abri eram as boas? Se o sentido 
da visita era instrutivo para o visitante? 
Estas questOes afiguram-se-me fundamentais quando se aborda 
a descoberta de um lugar novo: e exactamente nas respostas que 
lhes dermos que podereis provar-me o interesse e o valor do que 
pretendo fazer-vos conhecer. E, pois, extremamente importante pre-
cisar 0 que e uma introduc;ao. 
Com ejeito, para retomar a imagem da visita guiada, o conheci-
mento que tiverdes da casa dependera, como e evidente, do que o 
guia vos tiver mostrado: podereis muito bern nao ter vista senao as 
dependencias de servic;o, as salas de visitas ou somente os jardins. 
Arriscais-vos a concluir pela importancia da vida domestica nessa 
casa ou, pelo contrario, pela predominancia das relm;oes sociais 
muito mundanas. E essa imagem que vas tiverem dado podera mar-
car-vas ao ponto de nao voltardes a falar dessa casa senao em termos 
de cozinha ou em termos de salfio. Todas as discussoes que tiverdes, 
doravante, sabre essa casa, poderao ressentir-se desse conhecimento 
inicial. 
Finalmente, a tareta do quia e cheia de responsabilidades, ja que 
ela compromete um futuro imenso. E ainda, ate aqui, a comparac;ao 
fez-nos assimilar o guia a qualquer pessoa temivel que, voluntaria-
mente, poderia recusar-vos o acesso a certas partes da casa. Mas 
poderiamos peqar noutras comparac;oes em que esta curiosa perso-
naqem desaparecesse e em que ninquem tosse responsavel pelos erros 
da visita: quero !alar, por exemplo, da descoberta que tarieis sozi-
nhos de uma cidade desconhecida. Ninguem vos impoe ir para esta 
rua em vez de qualauer outra, de ir ver este monumento em vez 
de um outro. Par outras palavras, segundo os vossos gostos, os vossos 
interesses ou vossos habitos, voces poderiam muito bern «escolhen>, 
visitar igreias em luaar de fabricas, bairros comerciais em vez de 
bairros residenciais. E teriam, efectivamente, descoberto a cidade, ou 
melhor, um certo rosto da cidade. 
E preciso, pais, nao atribuir a nossa primeira imagem mais impor-
tancia do aue a que ela vode ter: a introduc;ao num lugar novo nao 
e o efeito de um «complot» sabiamente preparado por alguns guias 
s Tal e a minha tarefa de guia que nao e mais do que a traduc;ao de 
pedagogo. 
17 
Deborah Hüsemann
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todo-poderosos de que voces seriam as viti1'1,as mudas e inocentes. 
Se raramente constitui um mecanismo m~guiavelico para fechar 
deliberadamente certas portas, qualquer introdur;ao pode ser com~ 
parada a um itinerdrio cujo sentido e desenvolvimento nunca sao 
deixados ao acaso e condenam guias e. visitantes a nunca abrir certas 
portasinterditas. 
··· Este risco e real e tanto mais insidioso quanta a nossa univer-
sidade liberal nao afirma nenhuma ortodoxia precisa a respeitar: 
tudo e aparentemente possivel, tudo pode ser dito. Nao hd introdur;ao 
oficial. Assim, todos os estudantes e a maioria dos professores podem 
pensar que abriram todas as portas, em desmascarar guias desonestos; 
trata-se de saber porque e que a visita se faz sempre no mesmo 
sentido, porque e que sao sempre as mesmas portas que sao abertas 
e outras fechadas. 
Convenha-se que estas questoes nao sao desprovidas de impor-
tancia, jd que, em definitivo, e o problema do conteudo da introdur;ao 
que se encontra colocado, justamente quando nenhuma directiva 
impoe esta ou aquela direcr;ao. 
E, no entanto, nada de tudo isso se deixa adivinhar na prdtica. 
A introduc;ao ao direito tem todas as aparencias de uma simples 
tamiliarizac;ao com a terminologia juridica: tudo se passa como se, 
a partir de definic;oes dadas a priori, se entregassem ao estudante 
os materiais que ele ia ter para manejar: a pessoa juridica, o direito 
publico e o direito privado, o contrato, a lei, as decisoes judiciais 
e os aetas dos poderes publicos e toda a tecnologia juridica. Acaba 
por se ter a ideia de que, no tundo, a introduc;ao e uma coisa simples. 
A quem tenha o espzrito esclarecido e um pouco de boa vontade e 
dado, sem mais, um conhecimento imediato do mundo juridico. Nao 
hd diversas maneiras de conhecer o direito: bastaria mergulharem, 
sem hesitac;oes, nesse universo e, dominando o vocabuldrio e as 
tecnicas, voces poderiam, em breve, tornar-se juristas conhecedores. 
Vejamos! Se nenhuma introduc;ao e neutra, se todo o itinerdrio com-
porta a sua l6gica e as suas consequencias, esta impressao de um 
acesso imediato ao direito corre todos os riscos de ser uma falsa 
impressao. Vale, pais, a pena parar um pouco no limiar desse mundo 
novo se estd em jogo a propria qualidade de todo o conhecimento 
que dai tiraremos. 
Uma ultima palavra. Na sequencia de acontecimentos que nada 
tem de ocasionais- e cuja hist6ria taremos mais tarde- a intro-
dur;ao ao direito e objecto nos programas actuais • de um ensino 
integrado na cadeira de direito civil do ano respectivo. Esta situac;ao 
acarreta duas consequencias importantes. Em primeiro lugar, a intro-
duc;ao ao direito e atribuido, excepto em algumas universidades, um 
• 0 D. E. u. G.* foi institufdo pelos decretos de 27 de Feverelro e 
1 de Mar<;o de 1973. 
·* D. E, U. G., Dipl6me d'etudes Universitair81S Generales,-N. T. 
18 
lugar menor. Ela ntio tem o estatuto de uma cadeira aut6noma, com 
sessoes de trabalhos 0. ientadas e conduzindo, pais, a uma reflexao 
aprotundada. Bastaria para nos convencermos entrevistar os estudan-
tes do primeiro ano, para nos apercebermos que a introduc;ao, a seus 
olhos, reveste, no maximo, o cardcter de uma passagem obrigat6ria 
antes de abordar em protundidade as disciplinas juridicas. 0 impor-
tante, e o que se estudard em seguida: em direito civil, em direito 
constitucional ou em direito internacional. Nenhuma verdadeira inter-
rogac;ao e tormulada no inicio dos estudos juridicos; nenhuma duvida 
sabre a validade das noc;oes utilizadas, sabre o rigor dos raciocinios 
da l6gica juridica. A introduc;ao ao direito e um certo numero de 
pdginas a saber. Ntio e, pais, de espantar que a presenc;a da intro-
duc;tio nos programas funcione como uma ausencia. Cruel ausencia 
que s6 alguns fil6sotos do direito lamentam, de forma isolada, em 
revistas especializadas 5 ! Ao fim e ao cabo, o conhecimento juridico 
poderia dispensar uma reflextio sabre o direito. 
Mas hd uma segunda consequencia, de igual gravidade. Sendo 
a introdw;tio ao direito ensinada pelo professor de direito civil, 
aparece como uma parte do direito civil e nao verdadeiramente como 
uma introduc;tio a <<iodo>> o direito. E interessante a este respeito 
consultar os manuais e as sebentas. Apesar de certos esforr;os, a 
l6gica do direito privado predomina, o que obriga, a maior parte do 
tempo, os outros professores do primeiro ano a darem, cada um 
por sua vez, uma introduc;tio . . . ao seu ramo do direito. 0 estudante 
tem a impresstio de ouvir tres ou quatro vezes desenvolvimentos iden-
ticos e, nesta abundancia, se perde a introduc;tio ao direito. Esta 
constatac;tio e ttio verdadeira que raras stio as tentativas de coorde-
nar;tio que tenham tido exito. Frutos da interdisciplinaridade de 1968, 
as experiencias regressaram pouco a pouco as tradic;oes, e a intro-
duc;tio ao direito perde o seu lugar de reflextio comum no conjunto 
dos problemas juridicos. 
Mas hd ainda mais grave do que isto: a introduc;tio ao direito 
ntio e de todo sentida como uma necessidade. Cada um pode realizd-la 
numa cadeira ou mesmo ntio falar dela: afinal, isso ntio tem impor-
tancia nenhuma. E preciso saber, como pertinentemente nota um 
professor 6 que <dodos os protessores podem contentar-se com a intro-
duc;tio do professor de direito civil, sem examinar sequer se partilham 
a sua opinitio. Contentam-se com ela tanto melhor quanta tais 
5 0 melhor exemplo e, sem duvida, o combate solitario de M. VILLEY. 
Ver a sua ultima obra: Philosophie du droit, precis Dalloz, 1975. «Perguntem 
sobre o que e que assenta a nossa pretensa ciencia do direito, como e que 
se justificam os nossos metodos, quais sao as fontes dos nos.sos con.h,eci;. 
mentos quem sabera respcmder? ( ... ) 0 jurista omite a justifica<;;ao, a funda. 
menta<;ao do seu metoda de trabalho ou a explica<;ao de porque e que as 
solu<;5es se deixam ir buscar a esta ou aquela fonte» (p. 9). 
11'J exactamente o nosso ponto de partida. Mas nao tiraremos da[ as mes.. 
mas concLus5es,. 
a G. WIEDERKEHR, «Elements de philosophle du droit dans les manuels 
contemporains de droit civil», Archives de philosophie du droit, 1965, p. 244. 
19 
Deborah Hüsemann
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introdugoes deixam, todas elas, uma impressi'io de neutralismo». Que 
haja ou ni'io introdur;i'io, nada se modificara por isso nos estudos 
feitos nas cadeiras. 
Na realidade, ni'io ha verdadeiramente introdugi'io ao direito no 
sentido em que se revela necessaria uma reflexi'io sabre a maneira 
de conhecer o direito. Pode-se ficar surpreendido com esta ausencia, 
quando e certo que, tradicionalmente, as ensinamentos ditos litera-
rios, quer se trate de literatura propriamente dita ou de sociologia, 
de hist6ria, a fortiori de filosofia, ni'io se concebem sem esta inter-
rogar;i'io sabre o seu pr6prio objectivo. Veremos que esta situagi'io 
ni'io existe par acaso: basta-nos, de momenta, tamar consciencia dela. 
E-nos, pais, necessaria uma introdur;i'io ao direito que seja o des-
vendar do itinerario que vamos seguir. 
Em rigor, ni'io e qualquer introdugi'io que serve para nos fornecer 
esta clarificagi'io: e par essa razi'io que eu qualifico esta de critica. 
II. Uma introdw;iio critica 
Para compreender o alcance deste adjectivo, e preciso, em pri-
meiro lugar, relembrar a ambigi'io do projecto: introduzir o direito, 
clara, mas segundo um metoda cientifico. Esta precisi'io e plena de 
consequencias. 
Com efeito, a introdugi'io ao direito que ouvis ni'io e desenvolvida 
em qualquer instituic;i'io: ela e o objecto de um ensino ministrado 
numa unidade de ensino e investigagi'io integrada numa universidade. 
Estas instituigoes, sao, por definigi'io, aquelas onde se elabora e trans-
mite o saber. Mas e preciso ver de que saber se trata: aquele que 
tem o nome de ciencia. De facto, toda a gente sabe, mais ou menos, 
o que e o direito- teremos ocasii'io de voltar a este ponto funda-
mental- mas um estudante de direito pode ter o desejo legitimo de 
conhecer o direito melhor do que pelas instituigoes sociais au fami-
liares que o conduziramate la: ele pode exigir que se produza diante 
de si a ciencia juridica. Introduzir o direito e, implicitamente, intro-
duzir cientificamente o direito ou introduzir a ciencia juridica. 
Se e este o desejo do recem-cheqado e, ao mesmo tempo, a ambi-
t;i'io do professor, sera, pais, necessaria que nos interroguemos seria-
mente sabre o que e um pensamento cientifico. Ni'io se trata de um 
luxo inutil, uma observaci'io filos6fica sem importancia, uma perda 
de tempo: se eu ni'io estiver a altura de ser introduzido cientifica-
mente no direito, e enti'io de duvidar de todos os conhecimentos que 
me poderi'io ser ensinados. Qual e o valor de uma instituic:;i'io que 
ni'io conseque realizar o que ela inscreve nos seus frontoes? E, se a 
universidade ja ni'io e o lugar onde a ciencia e produzida, enti'io para 
que serve ela e onde e que se poderia encontrar um conhecimento 
cientifico? Volta, pais, ao pr6prio qualificativo desta introdugi'io: 
critica. Primeiramente, afastemos uma interpretagi'io que, embora cor-
20 
rente, ni'io e par isso menos errada. 0 termo critico ni'io tem o signi-
ficado da linguagem habitual: tomamo-lo no seu sentido te6rico. 
Dirigir criticas e, no sentido comum, exercer sabre as coisas au as 
pessoas que nos rodeiam urn certo numero de juizos tendentes a 
corrigir tal erro, a colmatar esta lacuna, a denunciar aquela insufi-
ciencia. Criticar, apesar do sentido geral da palavra, ni'io e, no entanto, 
sin6nimo de p6r em causa. A maior parte das vezes, as criticas niio 
tem nada em comum com uma critica. 
Com efeito, no conjunto bastante homogeneo dos professores que 
apresentam uma introdugi'io ao direito, ni'io deixam de encontrar-se 
tomadas de posir;ao, juizos, em suma, criticas. Estas dizem respeito 
ou as opinioes de urn au tor- critica-se esta au aquela explicagao -
ou as disposigoes das regras de direito- critica-se esta lei, aquela 
decisiio judicial, aqueloutro decreta. 0 liberalismo universitario favo-
rece uma situar;ao destas: se as criticas sao possiveis, o espirito 
critico esta salvo, garantia da liberdade de pensamento 1 • E, no entanto, 
o conjunto do edificio ni'io e verdadeiramente posto em questao; 
embora possamos distinguir diferentes correntes filos6ficas e poli-
ticas nas cadeiras e nos manuais que tratam da introdur;i'io ao 
direito 8 , estas surgem como variantes de uma melodia unica: a fila-
sofia idealista dos paises ocidentais, industrializados. 
As criticas feitas, aqui e alem, ni'io chegam para disfarr;ar a pro-
funda afinidade dessas correntes. Assim pais, uma introdur;i'io critica 
ni'io sera urna introdur;iio com criticas. 
E preciso tamar o termo em todo o seu sentido: o da possi~ 
bilidade de jazer aparecer o «invisivel». Expliquemos esta tormular;ao 
alga esoterica ". Aquila que e pr6prio de um pensamento abstracto 
consiste precisamente em poder evocar «coisas>> au realidades na sua 
pr6pria ausencia. A abstracgi'io intelectual permite-me falar de mesa 
ou de cavalo, mesmo que ni'io tenha uma mesa au um cavalo sob 
as olhos no momenta em que jalo deles. 
Esta taculdade, que parece evidente de tal modo nos e habitual, 
e, afinal, o que constitui o essencial do pensamento abstracto. Mas ~" 
0 pensarnento critico e mais do que 0 pensamento abstracto: e preciso 
(wcrescentar-lhe>> a dialectica. Que quer isto dizer? 0 pensamento I ' ' 
dialectico parte da experiencia de que o mundo e cornplexo: o real 
ni'io mantem as condir;oes da sua existencia seni'io numa luta, quer 
1 Urn exemplo particularmente nitido desta vontade expressa de 
«engagement» e dado pelo tratado de H., L. e J. MAZEAUD, Le<;ons de droit 
civil, Montchrestien, Paris, 1972, 5. • ooi<:;ao, pp. 43-44: «Este ensino do direito 
permanece demasiado exclusivamente centrl'ldo no estudo do direito positlvo 
(legisla<:;ao e jurisprudencia). ( ... ) 0 ens'no do d'reito deve propor·se urn outro 
objectivo: fazer urn juizo de valor sobre a regra de direito, e,studar essa 
regra de lege ferenda ( ... )». . 
s G. WIEDERKEHR, «Elements de philosophic ... », artigo citado pp. 243-
·266. 
9 H. MARCUSE, Raison et revolution, ll:ditions de Minuit, Paris, 1968. 
0 prefiicio, «Note sur la dialectique», pp. 41·50 e de leitura fiicil e extremamente 
interessante. 
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Deborah Hüsemann
Realce
Deborah Hüsemann
Realce
Deborah Hüsemann
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l 
~JL$eja c:Qnsciente~ quer inconsciente. A realidade que me surge num 
(Jgr]() momenta nfio e, pois, senfio um momenta, uma fase da sua 
r:~tzUzar;;ao: esta e, de facto, um processo constante. 
rlrn pensamento dialectico e precisamente um pensamento que 
«compreende» esta existencia ~ contradit6ria. Ao contrdrio, designarei 
por positivista um pensamento que se limite a descrever o que e 
visivel, a mostrar que uma dada coisa que existe se apresenta desta 
ou daquela maneira, com estas ou aquelas caracteristicas. A abundan-
c~ia. dos detalhes que eu poderei produzir sabre esta realidade, tal 
como ela se me apresenta, podera dar-me dela um certo conheci-
mento. E, no entanto, esse conhecimento sera de algum modo unila-
teral, porque !icard limitado a pr6pria imagem do que vejo. Completa-
mente diferente e, face ao mesmo objecto, o pensamento dialectico 
ou critico: este encara-o nfio s6 no seu estado actual, mas na totali-
dade da sua existencia, quer dizer, tanto naquilo que o produziu como 
no seu futuro. Este pensamento pode, pois, fazer c<aparecen> o que 
a realidade presente me esconde actualmente e que, no entanto, e 
igualmente importante. ccA realidade e coisa diversa e muito mais 
do que o que estd codificado (. . .) na linguagem dos factos 10». Tome-
mas um exemplo. 
Frente a um edificio, posso ultrapassar a estrita descrir;;fio, ou a 
analise dos materiais qzte o constituem, para mostrar de que e que 
esse edificio nasceu, as transformar;;oes que podem afectd-lo na sua 
materialidade ou no seu destino. Darei entfio dessa construr;;fio um 
conhecimento que, nao se limitando ao visivel que se me impoe, 
permite aprecid-lo de uma forma completamente diferente: qual o 
projecto que esse monumento representa, qual o trabalho que foi 
ncessario para a sua construr;;ao, mas tambem qual a funr;;fio que 
ele desempenha hoje, quais as modificar;;oes que sao possiveis ou 
desejdveis para hoje ou amanha. Em suma, eu reintegro este objecto 
num universo mais vasto, mais completo, que e o dos outros objectos 
e sobretudo de outras relar;;Bes com acontecimentos aparentemente 
independentes desse monumento e sem os quais, no entanto, nao se 
pode realmente compreende-lo. 
Assim funciona o que eu chama o pensamento critico: ele merece 
~~li!~-~gualificativo neste sentido em que, suscitando o que nfio e 
visivel, para explicar o visivel, ele se recusa a crer e a dizer que a 
realidade se limita ao visivel. Ele sabe que a realidade estd em movi-
mento, quer dizer, que qualquer coisa para ser apreendida e anali-
sada tem de o ser no seu movimento interne; nao se pode, pois, 
g}J'llstvamente reduzir o real a uma das suas manifestar;;oes, a uma 
dq,_s_ .. suas fases. V e-se que campo se abre assim a analise a partir 
do momenta em que ela tome este caminho. E, especialmente, nas 
ciencias que se propoem fazer o estudo dos homens que vivem em 
sociedade. Com efeito, o pensamento critico torna-se entao a l6gica 
de uma teoria cientijica~ Diversamente das teorias cientificas habi-
10 Ibid., p. 45. 
22 
tuais que se reduzem a uma tecnica de investigaqtio das coisas-
aplicar a inteligencia ao melhor recenseamento possivel dos jen6me-
nos- (lieoria critica nas ciencias sociais traz uma reflexiio de um 
genera compietamente. di[eren£e: eia reflecte, ao mesmo tempo, sabre 
as condir;;oes da sua existencia, sabre a sua situar;;fio no seio da vidasocial. Funciona, pais, nfio s6 por si mesma, mas definindo as suas} ~­
relar;;oes com o contexto em que surge 11 • 
Um pensamento critico ja nfio pode contentar-se em descrever 
dado acontecimento social, tal e qual ele se oterece a observaqiio: 
ele nao pode deixar de o reinserir na totalidade do passado e do 
futuro da sociedade que o produziu. Desenvolvido assim, em todas 
as suas dimensoes, esse acontecimento perde o cardcter chao, unidi-
mensional, que a mera descrir;;fio lhe conteria: torna-se prenhe de todas 
as determinar;;oes que o produziram e de todas as transformar;;oes pos-
siveis que podem ajectd-lo. A teoria critica permite nao s6 descobrir 
os dijerentes aspectos escondidos de uma realidade em movimento, 
mas sobretudo abre, entfio, as portas de uma nova dimensao: a da 
«emancipar;fio>>, segundo o termo de G. Raulet 12 • Reflectindo sabre 
as condir;;oes e os efeitos da sua existencia na vida social, a teoria 
reencontra a sua ligar;;ao com a pratica, quer dizer, com o mundo 
social existente. 
Esta observar;;ao e capital para o nosso objecto. Um estudo do·; 
direito no sentido que acabamos de indicar ultrapassa, entiio, o recen-1 
seamento, a classificar;;ao e o conhecimento do funcionamento das ; 
diversas nor;;oes juridicas, das instituir;;oes e dos mecanisrnos do i 
direito. 0 mundo juridico nao pode, enttio, ser vcrdadeiramente conhe-1 
cido, isto e, compreen:lido, senao em relar;;ao a tudo o que permitiu i 
a sua existencia e no seu futuro possivel. Este tipo de analise desblo-' 
queia o estudo do direito do seu isolamento, projecta-o no mundo 
real onde ele encontra o seu lugar e a sua razfio de ser, e, ligando-o 
a todos os outros fen6menos da sociedade, toma-o soliddrio da 
mesma hist6ria social. 
Porque, em definitive, trata-se de saber porque e que dada regra 
]uridica, e nao dada outra, rege dada sociedade, em dado momenta. 
Se a ciencia juridica apenas nos pode dizer como essa regra tun- . 
ciona, ela encontra-se reduzida a uma tecnologia juridica perfeita- · ~· 
mente insatisjat6ria. Temos direito de exigir mais dessa ciencia, ou 
rnelhor, de exigir coisa diversa de uma simples ·descrir;;ao de meca-' 
nismos. 
Existe uma outra significar;;fio para este qualificativo. Critica, 
It analise que clevemos tentar e-o em relac;;ao as andlises que nos 
sao propostas actualmente. Sou obrigado aqui a lembrar uma evi-
tlencia: a reflexao cientifica nao parte nunca do nada; nao existe 
n J. HABERMAS, Theorie et Pratique, Payot, Paris, 1975, tomo L 
Cfr. prefacio de G. RAULET, pp. 20 e seguintes: o marxismo e esta «teoria 
<Titica, por oposi<;ao a teoria tradicional que nao reflecte sabre a sua situa<;ao 
no seio do processo de trabalho social». 
12 Ibid., p. 11. 
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ponto zero do conhecimento, teremos oportunidade de voltar a esta 
ajirmagtio. 0 saber cientijico pode ser representado como um tra-
balho nunca terminado para jormular em termos mais exactos o 
objecto e os metodos da sua investigagtio. 0 conhecimento de hoje 
e o ultrapassar do de ontem, isso e bem sabido, mas a maior parte 
das vezes ignorado e mal conhecido. Com ejeito, uma representagtio 
espontanea da obra cientijica tende a deixar imaginar o avango da 
ciencia como uma traject6ria unida e unica em que cada autor teria 
vindo aumentar e tornar mais complexo um pensamento que, desde 
o principia dos tempos, se desenrolaria atraves da hist6ria dos 
homens. Esta hist6ria da ciencia e pura e simplesmente jalsa 13• 
Os progressos cientijicos stio sempre, segundo o termo consagrado 
cujo sentido real se esquece, «conquistas»: hd um que ataca e outro 
que e vencido. 0 conhecimento de hoje e recortado sabre o conheci-
mento de ontem, de tal modo e verdade que descobrir em ciencia 
ntio signijica melhorar o pensamento anterior, mas propor um outro 
modo de colocar o problema. Para utilizar apenas um exemplo, Coper-
nico ntio melhora o sistema de Ptolomeu: transjorma-o radicalmente, 
quer dizer, destr6i-o enquanto pretenstio cientijica e substitui-lhe todo 
um outro universo 14• E preciso absolutamente lembrar que, se Galileu 
encontra uma jeroz oposir:;tio, e exactamente porque ajirma uma con-
cepr:;tio do mundo que, lange de ser a continuagtio melhorada da 
precedente, apresenta-se como totalmente nova. Hoje jicais ceria-
mente espantados perante o obscurantismo da Igreja ojicial que jorga 
Galileu a abjurar as suas descobertas; no entanto, ntio esquegamos 
que a Igreja e a Universidade dessa epoca stio as instituigoes em 
que e ensinada e estudada a verdade, a verdade do conhecimento. 
Salvas as devidas proporgoes, Pasteur, alguns seculos depois, terd 
de enjrentar a hostilidade dos «meios cientijicos>> pouco convencidos 
do cardcter cientifico das suas descobertas. Por outras palavras, 
q_ conhecimento cientitico e sempre obtido violentamente contra um 
gutro conhecimento que se ajirma ciencia: e neste movimento, que 
necessita, por vezes, para se libertar, de ccqolpes de jorga>>, como 
veremos, que se constr6i e desenvolve a inteligeneia das coisas e dos 
homens. Ora, este ensino da introdur:;tio ao direito e precisamente 
realizado numa instituictio, a universidade, que e 0 lugar da ccverdade>> 
cientitica. Estamos todos acostumados a ideia de que o que e dito 
nesse luqar e l6gico, explicativo, portanto <<Verdadeiro>>. Esta e a raztio 
pela qual voces podem dar algum credito ao que os projessores dizem: 
senao, a universidade ntio teria mais raztio de ser. No entanto, deixai-
13 M. FICHANT, M. PECHEUX, Sur l'histoire 'aes sciences, col. Theo-
rie, Maspero. Paris, 1969, p. 54: «Le Probleme de l'h:stoire des sciences». 
L. ALTHUSSER, Philosophie et Philosophie spontanee des &avants (1967), 
col. Theorie, Maspero, Paris, 1974, pp 79 e seguintes. 
H Uma exposi<;iio muito simples desta muta<;iio, encontra.se em A.-
KOYR:€, Du monde clos a l'univers infini, P. U. F., Paris, 1962. Ler designa. 
damente o capitulo 2: «A Astronomia nova e a Nova Metaflsica,,, pp. 30 e 
seguintes. 
24 
-vos por um instante, como Descartes no seu destacamento militar 
durante um inverno alemtio, assaltar por uma duvida: e se exist-isse 
uma outra cmerdade>> possivel no conhecimento do direito? E se o que 
e ajirmado como «verdade>> evidente pudesse ser objecto de um ata-
que radical? Talvez seja possivel ir mais longe, ou melhor, por outro 
caminho, em relagtio as vias jd tragadas. Talvez haja portas que'' 
possamos abrir que as doutrinas precedentes e as ajirmagoes de hoje 
mantem jechadas. t esse ultrapassar a que vos convida toda a rejlextio 
cientijica: e, como qualquer rejlextio cientijica, ela reveste de algum 
modo o cardcter de uma aventura. Ninguem sabe o que ajinal de con-
tas sera descoberto, ninguem sabe que dijiculdades nos esperam nessa 
exploragtio. Mas vale bem a pena tentar a experiencia, mesmo se ela 
nos conduzir por caminhos solitdrios, mesmo se ela nos opuser a tudof 
o que se encontra cmormalmente>> dito e explicado hoje. Uma intro-1 
dugtio critica, e, portanto, bem a iniciagtio a um esjorgo de rejlextio,. 
com todos os seus riscos e todas as suas aberturas. 
Esta introdugtio critica rejere-se a um objecto particular: o direito, 
Convem ainda precisar o sentido deste. 
III. Uma introdw;iio critica ao direito 
0 termo direito conhece as metamorjoses de inumeros outros 
termos do nosso vocabuldrio: tem vdrios sentidos. Ntio e, em geral, 
uma dijiculdade intransponivel, mas para o nosso trabalho pode ser 
um obstdculo importante.Partamos de uma evidencia para mostrar a complexidade da 
situagtio. Quando vos perguntam qual o objecto dos vossos estudos 
e voces respondem <diro direito>> ( je jais du droit) - nas jamilias bur-
guesas, dir-se-ia <cele estd a tirar o curso de direitO>> (il fait son droit) -
voces ntio querem de modo nenhum dizer que jazem regras de direito, 
que stio autores do direito! 0 vosso interlocutor compreerideu nesse 
jogo de palavras que voces estudam direito. 
Este lembrar da linguagem corrente mostra sujicientemente a 
ambivazencia do termo direito. Ele signijica simultaneamente o con-
junto das regras (ditas juridicas) que regem o comportamento dos 
homens em sociedade e o conhecimento que se pode ter dessas regras. 
0 trances ntio tem sentio uma palavra para designar essas duas reali-
dades. Esta dualidade de sentidos e apresentada habitualmente nos 
manuais e cadeiras sob a distingtio elegante dos vocdbulos: direito-
arte, direito-ciencia. 
Q __ c!iJ:ejtQ_. e,__ ~m p_rimeiro lugar, um con junto_ de tecnicas para\ 
red.uz. ir o_s .. an.ta. g __ ·o·n·. is .. m. __ o. · __ s··· ·s·o· .. ci.az.·s,. p .. ·a.· .ra··· .·.p_e· rm .. ·· itir uma. v_z_·.d_·. a .. ·.· .. tiio .p. ac. itz.·c. a. quanta possivel entre homens propensos as paixoes. E dar conta do 
cardcter flutuante e pragmdtico dessa arte, uma arte de homens sen-. 
satos,-como--lem:brii sem ·humor a velha palavra jurisprud"encia. Assim, 
o conhecimentg . q'lle _ s_e _]JQ.d(} Jer •. _d~S§(l __ ar~e .. rejlectirti, as_ ir~g~rtezas 
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dessa tecnica de pacificas;Jio social. 0 direito e uma ciencia? Claro. 
Mas nfio a maneira das ci§ncias exactas. Uma ciencia aproximativa, 
de algum modo, mas uma ciencia, apesar de tudo. Nfio e unicamente 
para honrar as inscrigoes jeitas nos jrontispicios dos nossos edificios 
que dizemos que ensinamos a ciencia juridica: e porque o estatuto 
ofic,ial desse ensino e tido como cientijico. Que quer isto dizer? A ima-
gem que rapidamente se impoe a um estudant.e de direito e a divisiio 
entre praticos e te6ricos do direito. Nfio falo aqui da separagfio, 
muitas .vezes denunciada, entre conhecimentos te6ricos e realidades 
praticas, entre a universidade e o mundo que a envolve: ela vale 
para todas as especies de ensino. Quero designar o efeito particular 
que ela reveste nas universidades em que se ensina o direito. 
As cadeiras, os manuais ou os tratados apresentam-se expressa-
mente como um retomar da materia bruta dada pela pratica juridica 
ou pelas diversas praticas do direito: legislativas, administrativas, 
judiciarias, etc. 0 professor em direito eleva-se ao nivel da teoria 
juridica, juntando os jios dispersos de um novelo em que os praticos 
jrequentemente se perdem: com que autoridade a ccdoutrina», designa-
damente os projessores de direito, propoe esta ou aquela solugfio ao 
legislador ou ao juiz a jim de tornar mais coerente este ou aquele 
sistema. 0 estudante de direito passa, aparentemente, a maior parte 
do tempo a distanciar-se em relagfio as contingencias da pratica: 
repetiu-se jrequentemente que, saido da universidade, saido desse 
mundo artificial, perjeitamente estruturado, l6gico e racional, lhe era 
preciso reaprender tudo. Ha mais do que um passo entre a teoria 
juridica e a pratica do direito: ha muitas vezes um fossa. Tal pro-
cesso que constitui o objecto de um longo desenvolvimento em dada 
cadeira encontra-se praticamente inutilizado pelos julgadores; tal meca-
nismo sabio, objecto de capitulos inteligentes, encontra-se a maior parte 
das vezes alterado no dominio dos factos par processos menos regula-
Tes mas mais ejicazes. Em suma, a ciencia do direito ganharia em rigor 
o que perderia em actualidade. E com que cuidado, alias, o jormalismo 
de exposic;fio e de raciocinio e tambem salvaguardado. 0 plano em duas 
paTtes, sabre qualquer tema, da a aparencia de um dominio perjeito 
da questfio, jinamente articulado nos seus desenvolvimentos internos 
ao ponto de, para parajrasear Hegel, cdudo o que e real se tornar 
racional!>. E verdade que tais praticas sfio pr6prias do mundo univer-
sitario, como talentosamente rejere Levi-Strauss, lembrando a sua licen-
ciatura em filosojia 13• Claro, o estudante e pago na mesma moeda pela 
clareza, a minucia no raciocinio e a perjeigfio l6gica neste tipo de exer-
cicio intelectual. Para alem de toda a escolastica esteril e de toda a 
caricatura universitaria, e verdade que e dado um certo conhecimento 
met6dico, aprojundado e racional dos mecanismos juridicos. Neste sen-
lido, sera inutil querer negar os esjorgos daqueles que praticam esta 
<<ciencia>> e alguns dos resultados a que chegaram. E, com o com-
plexo de universitario a ajudar, seriamos jortemente tentados a pen-
15 C. Lll:VI-STRAUSS, Tristes Tropiques, Pion, Paris, 1955, Introdu!;aO. 
26 
.~t.rmo-nos como detentores da «verdade» te6rica, deixando para os 
,nilicos a ma compreensao ou a errada utilizagfio das tecnicas juri-
•lwas. 0 direito: uma arte, mas dominada implicitamente pela ciencia, 
• wu.pando esta sempre o lugar de destaque .. Esta concepgfio, que e aji-
nol bastante tecnocratica, convencer-nos-ia de que existe realmente uma 
··it'ncia juridica. 
Esta ajirmagfio oculta, no entanto, uma realidade bastante impar-
l" nte: a relagfio que existe entre ciencia juridica e arte do direito, 
'·n diria, a relagfio de dependencia da primeira em relagfio a segunda; 
tll!is, em definitivo, e isso mesmo que nos e ocultado na ajirmag{io 
• •Jieial da separagfio ciencia-arte e da supremacia implicita da ciencia 
o;o/Jre a arte. 
Retomemos as coisas na sua raiz: produzir direito, quero dizer 
'• ·qras de direito, e um dos jen6menos da nos sa sociedade. Esta 
,mdugfio de regras legislativas, administrativas, etc., esta necessaria-
n,.:nte ligada- e talvez dependente, como veremos mais tarde- a 
lorias as outras produgoes que a sociedade jaz surgir: prodU£;;fio lite-
/" ria, artistica, cultural, mas tambem produgfio de lagos e de insti-
lui.r,:oes politicas, e ainda produgiio de bens econ6micos. 
Assim, sem aprojundar mais de momenta, a produgao de regras 
.,,. direito apresenta-se tal como e: produr,;fio de instrumentos neces-
·:~irios ao tuncionamento e a reprodugfio de um certo tipo de socie-
.tarle. Consequentemente, as instituigoes juridicas, tanto na sua l6gica 
··"mo no seu vocabulario, pretendem coisa diversa do que dar a socie-
•lnde meios de se manter? Nem mais nem menos. Podemos, entfio, 
J/1/errogarmo-nos sabre o conteudo exacto da reflexao de que a 
,·i,'ncia vai investir esse campo de actividade social. Poderiamos 
···"1Jcrar que, como nos outros dominios, a ciencia, nao se ficando 
,,<'las aparencias e niio tomando as coisas ao pe da letra, desvendasse 
o:; rcalidades explicativas do real, do mesmo modo que o atomo 
n1nisivel explica a materia visivel na sua estrutura e na sua evolugiio. 
Ora, esta nfio e a concepgfio, ou pelo menos a pratica, da ciencia 
,uriclica na universidade. Esse nfio e, portanto, o direito no qual o 
'· ·; lndante habitual mente e introduzido. De facto, ele e introduzido 
111ts tecnicas jurid'icas, tais como a sociedade as apresenta e as propoe 
,. uiio numa rejlexao sabre essas tecnicas. Nfio e, portanto, senfio 
<~tlltrcntemente, que direito-arte e direito-cU~ncia se encontram sepa-
uulos: tudo sq passa, na realidade, como se a ciencia niio josse 
'"lui mais dG- que a auxiliar, a servidora da arte. Esta constatagfio 
.,,·arreta duas consequencias cuja importancia e preciso medir. 
Em primeiro lugar, a pretensfio dos te6ricos do direito de cons-
11 ui.r uma ciencia e, a maior parte das vezes, muito impr6priapara 
•lor conta do que e realmente produzido. Por razoes que terei oportu-
nulade de explicitar mais tarde, a ciencia juridica, tal como e prati-
, udll habitualmente, niio e mais do-q-ue uma jormalizagao, uma especie 
, "' racionalizagiio de textos juridicos mais ou menos homogeneos e 
, ompativeis entre si. A ciencia juridica limita-se a ser uma apresen-
'"':rio, exaustiva em alguns casas, por amostragem representativa nou~ 
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tros1 das regras e das instituir;oes. Alias, nao e por acaso que a 
evocar;ao-dos estudos de direito no espirito do comum dos mortais 
traz logo a imagem de enormes compilar;oes e de uma boa memoria 
necessaria. De facto, a licenciatura em direito p6de ser esse manu-
menta de conhecimentos armazenados em c6digos e recolhas, sendo 
todo esse conjunto aprendido nos cursos magistrais. A dificuldade 
surge de a produr;ao cientifica ser hoje tal, em quantidade e em com-
plexidade, que o jurista cientifico fica exausto a querer integrar tudo 
no seu conhecimento. E banal constatar e denunciar o empolamento 
exagerado dos programas de ensino. Que dizer dos da licenciatura em 
direito! 
C_ada ana traz novas problemas para analisar, cada reforma 
acrescenta au um capitulo au um objecto novo. Assim, as progra-
mas apresentam doravante um aspecto, nao somente sobrecarregado, 
mas_ sobretudo dispar, Nesta acumular;ao, perde-se o fio director e 
as ensinamentos juridicos sao aflitivos de tecnicismo e de detalhes. 
0 que se chama investigar;ao em ciencia juridica sofre o mesmo 
destino: as teses tornam-se enormes compilar;oes sem nenhuma 
demonstrar;ao; mesmo as antigas dissertar;oes dos diplomas de estu-
dos superiores tendiam a igualar, pelo seu volume, a medida de uma 
tese de doutoramento! Pouca reflexao no total, nada mais do que 
1Jm esforr;o de ordenar;iio, de clarijicar;ao numa selva cada vez mais 
inextrincavel. Tudo se passa como se as te6ricos tivessem par unica 
ambir;ao classificar as sentenr;as do Tribunal de Cassar;ao au anotar 
as ultimos decretos surgidos no Journal officiel. Esta visao, quase 
Caricatural, do que e a «Cierzcia juridiCal> actualmente nao e desmen-
tida pelo esjorr;o tentado par uns quantos para desenvolver estudos 
juridicos mais aprofundados: em geral, a vaga tecnicista irrompeu 
nas antigas faculdades de direito com a palavra de ordem bastante 
ambigua de um «regresso as realidades e as necessidades sentidas 
pela sociedade>>. Para evitar que se aprofunde o fossa existente entre 
universidade e sociedade, pos-se a universidade na escola da socie-
dade: encarregada de lhe jornecer as seus quadros e as seus tecnicos, 
ela estaria doravante votada a nao encarar a sua obra senao na 
estreita 6ptica de uma estrita formacao profissional. Longe de mim a 
ideia de conservar a universidade numa funr;ao aristocratica inutil: 
o problema nao e esse e e, em qualquer caso, muito mais complexo 16• 
T_1t_fJ_()__() q'l,le quero mostrar e que a teoria dos juristas niio e nunca, 
a maior parte das vezes, -mais _ do que o decalque das instituir;oes, dos 
meios e das tecnicas do mundo dos praticos. Ora, se e normal que 
estes criem e utilizem certas nor;oes e certos instrumentos, e curiosa 
que essas mesmas nor;oes e esses instrumentos se tornem, sem 
nenhuma alterar;ao, os elementos_ da «teoria juridical>. Se, por exemplo, 
a distinr;ao. entre dzreito publico . e direiio privado e simultaneamente 
10 Trata-se, na realidade, de todo o problema da fun<;ao da universldade. 
A literatura e abundante sobre este tema, sobretudo depois de 1968. Notemos 
urn precursor: G. GUSDORF, L'Univer.site en question. 
28 
c6moda e util na nossa sociedade, e, em contrapartida, discutivel que 
ela seja considerada como uma classificar;ao fundamental da ciencia 
juridica. Ora, poderemos observar numerosos deslizes que, do mundo 
da pratica para o que e suposto ser o da ciencia, transfiguram nor;oes 
au instituigoes que nao tinham qualquer pretensao cientijica. Fica-se, 
portanto, com direito a ver entre direito-arte e direito-ciencia mais 
do que uma simples relagao mas sim um lar;o de dependencia. Existe 
uma outra consequencia, menos aparente mas muito importante, em 
relar;ao a qual nao podemos agora fazer mais do que trar;ar as con-
tornos. Q_jU.'[i§~a J~(JrjCO, _embor_a_ creia que e pe_rfeitamente indepen- j 
dente na _sua investigar;a() e _no seu ensino, e o joguete de uma ilusao: l , .. 
ele nao faz mais do que ccreflectir>> o sistema juridico que julga estar 11 • 
a analisar, participa na sua reprodur;ao. Afastemos, desde ja, uma 
perniciosa querela: a boa fe au a sinceridade do nosso te6rico nao 
esta em causa. Apenas conta o movimento que efectivamente se rea-
liza. Qualquer que seja o argumento de boa vontade, se o discurso do 
nosso jurista retoma, sem as criticar, as nor;oes, as modos de racio-
cinio e as instituir;oes que sao correntes na prdtica social que o 
rodeia, ele coloca-se objectivamente ao servir;o dessa prdtica social. 
Fazendo isto, nao s6 ele ai molda todo o seu pensamento, mas tam-
bern ai integra todos os que venham a escutd-lo e a le-lo. Mais grave 
ainda, ele deixa crer que certas tecnicas ou certas instituir;oes sao 
universais e naturais: julgando falar racionalidade e Z6gica, ele tala 
contingencia e l6gica especifica de um dado tipo social. 0 anel aperta-se, 
entao, sem que os que falam nem os que escutam disso tenham cons-
ciencia: 0 discurso da ciencia e um pavilhao que cobre, na realidade, 
mercadorias completamente dijerentes e as vezes pouco conjessaveis. 
1:; verdade, como veremos mais adiante, que esta cumplicidade1 
objectiva e hoje denunciada em diversos lugares: sera preciso que as 
··lasses trabalhadoras denunciem a mistijicagao da pretensa liberdade 
Jlara que novas regras de direito sejam elaboradas em materia de: 
r'Ontrato de trabalho; sera precisa a descolonizar;ao e o surto de. 
revolur;oes no terceiro mundo para que o direito internacional clas-
·:ico seja pasta em causa nos seus fundamentos. Por outras palavras,, 
''-' termos e as instituir;oes que eles recobriam, par terem durante' 
11tuito tempo parecido «naturais>> e, l6gicos, deixam perceber hoje a 
.·:na profunda solidariedade- querida ou involunttiria, pouco importa 
com situac;oes eco-n6micas, politicas au sociais apenas favortiveis a 
"ma parte daqueles que os utilizavam ou lhes estavam submetidos. 
Um trabalho cientijico, por um lado, exige ter tornado consciencia 
"•·ssa realidade e, por outro lado, leva par caminhos novas o pros-
-;,·(rnimento da investigagiio. Jti nao e possivel continuar a utilizar 
• •:: mesmos termos, as mesmas teorias, os mesmos raciocinios para 
' rplicar as regras juridicas na sua realidade. Jti niio e uma simples 
,,,wstao de coerencia do pensamento, nem mesmo uma questao de 
''''"cstidade intelectual: a que obrigaria a consciencia a nao perpetuar 
"111 discurso que se sabe ser errado. E pura e simplesmente uma 
"''~'essidade do pensamento te6rico, critico, tal como o defini. Pura 
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e simplesmente- e, no entanto, nao chegdmos ao jim das nossas diji-
culdades. Que importa, desde que entremos neste movimento. 
Uma introdugao critica ao direito: um programa ambicioso e, 
no entanto, possivel. Trata-se, de algum modo, de jixar as condigoes 
nas quais um estudo cientijico do direito e hoje possivel. Esta inves-
tigagao levanta, como a continuagao o demonstrardamplamente, enor-
mes dijiculdades: este e o prego que toda a ciencia paga para comegar 
a existir. 
Assim, antes mesmo de langar um olhar sabre o mundo juridico 
que nos rodeia, e necessaria jixar claramente os pontos de rejerencia, 
a orientagiio que vamos adoptar. 
Nenhum cientista vai ao encontro da realidade que quer explicar 
sem «injormagfim>, sem jormagao: e, como veremos, uma ideia jalsa 
a de acreditar que a observagao e a jonte da descoberta 11. Nao se 
descobre senao aquila que se estava pronto intelectualmente para 
descobrir. E-nos, pois, necessaria precisar que «questOes>> vamos 
colocar ao direito para que ele nos «digw> o que e. Estas quest6es 
nao podem ser deixadas ao acaso: elas tem necessariamente de jar-
mar as bases de um sistema de explicagao; por outras palavras, elas 
tem de ter uma coerencia te6rica, a coerencia de uma teoria. Esse 
sera o objecto da nossa primeira tareja. Com o espirito e o «Olhan> 
injormados, iremos, entao, ao encontro desse mundo juridico que nos 
rodeia de maneira mais ou menos solene, mais ou menos repressiva, 
mais ou menos ejicaz. No nosso encontro com esse mundo do direito 
combateremos ao lado daqueles que, para alem das aparencias, que-
rem conhecer a ultima palavra das realidades: descobriremos, entiio, 
muitas cccoisas>> que uma observagao inocente nos teria ocultado, de 
tal modo e verdade nao haver ciencia senao ciencia do oculto. Essa 
sera a nossa segunda tareja. 
Sera possivel, nesse momenta, analisar de maneira critica as dije-
rentes teorias que se apresentaram como outras tantas explicagoes 
do direito. Algumas delas conjessaram a sua natureza propriamente 
jilos6jica, outras pretenderam, mais recentemente, contribuir para a 
jundagao de uma verdadeira ciencia do direito quando nao de uma 
ciencia pura. Estaremos em situagao de poder apreciar essas ajir-
mar;;oes a luz do que ja soubermos desse mundo juridico, das suas 
tecnicas e da sua l6gica de juncionamento. Sera essa a nossa terceira 
e ultima tareja nesta introdugao critica ao direito. 
Assim se explica o plano que vou seguir: 
1.• parte: 
2.• parte: 
3.• parte: 
Epistemologia e Direito. 
A Arte Juridica e as Contradir,;oes Sociais. 
Ciencia e ldeologias Juridicas. 
11 G. BACHELARD, Le Nouvel Esprit scientifique (1934), P. U. F., 
Paris, 1968, p. 5. Falando do espirito realista cien1tifico, o autor escreve: 
«Trata-se de urn realismo de segunda posigii.o, de urn realismo em reacgao 
contra a realidade usual, em poll~milla contra o imediato, de urn realilsmo feito 
de razii.o realizada, de razii.o experimentada».: 
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