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CP Tomo IV 2016 1

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Tomo IV
Poder – Partidos e Sistemas Partidários no Brasil
O poder, certamente, constitui-se num dos mais importantes processos sociais das sociedades humanas.
As relações de poder estão disseminadas por toda a sociedade, havendo, no entanto, uma hierarquia que difere de um grupo social para outro.
O que é comum a todos é que há um poder supremo a todos os outros, ao qual estão submetidos, que é o poder político.
Sua legitimidade deriva de sua necessidade para estabelecer a necessária convivência social, e desse modo tolera-se em grau maior ou menor a dominação de um grupo sobre os demais.
A despersonalização do poder também contribui para a aceitação desse tipo de dominação. A partir do momento em que se é obrigado a aceitar a dominação de um ente abstrato, fica facilitada a submissão e aceitação de suas determinações. No entanto, o exercício do poder é feito por pessoas reais, que detêm num determinado momento histórico a primazia de determinar as ações dos demais.
Esse grupo, dominante em determinado momento, que é sucessivamente substituído por novos indivíduos que perpetuam as relações de poder, é denominado elite.
Conceito de Poder 
O exercício do poder é um processo social, na medida em que indivíduos ou grupos sociais apresentam condições de modificar ou alterar o comportamento de outros grupos ou pessoas.
O exercício do poder está diretamente vinculado à cultura dos grupos sociais que estabelecem aquilo que tem ou não valor naquela sociedade particular.
Se a força física é valorizada, é ela que se tornará o principal componente do poder. Caso seja a capacidade dos indivíduos em relacionar-se com a divindade, os sacerdotes terão maior valor e desse modo exercerão mais poder.
Segundo Fleiner-Gerster, “ele repousa sobre a força e a superioridade de uma parte e, simultaneamente, sobre a – relativa – dependência ou fraqueza da outra”. Ao lado da força e da autoridade do Estado, em Estados onde a economia é centralizada e estatizada, a dependência econômica pode ser utilizada para impor decisões do Estado.
O Poder Político
Nenhum grupo humano pode articular-se ou manter-se sem um poder que o estruture e mantenha coeso, exercendo a sua direção e direcionando o conjunto em ordem para atingir seus objetivos. Em qualquer sistema político surge como forma de autoridade o poder político.
Todo agrupamento humano para a realização de fins comuns necessita da direção de uma vontade; esta vontade, que irá organizar e dirigir a execução de suas ordens, é o que chamamos poder de associação; daí que toda associação, por mínima que seja a força que possua, tem um poder peculiar que aparece como uma unidade distinta daquela de seus membros.
Embora o elemento distintivo do poder político, em relação a outras formas de poder, seja a possibilidade de recorrer à força, isso não significa para Bobbio “que o poder político se resuma ao uso da força: o uso da força é uma condição necessária, mas não suficiente para a existência do poder político”.
Não é todo grupo social com condições de usar, até mesmo com continuidade, a força que exerce um poder político (como uma associação criminosa, um grupo subversivo etc.). “O que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação a todos os grupos que agem em um determinado contexto social”, um processo que ocorre em toda sociedade organizada “na direção da monopolização da posse e do uso dos meios com os quais é possível exercer a coação física”.
Esse é um processo de monopolização que caminha lado a lado “com o processo de criminalização e penalização de todos os atos de violência que não forem cumpridos por pessoas autorizadas pelos detentores e beneficiários desse monopólio”.
Para Friedrich, há uma diferença entre o que lidera e o que governa. Para ele, “o líder é aquele que exerce uma afinidade dinâmica direta sobre seus seguidores. Tem pouco poder de coação, sua força sendo o produto de sua capacidade para convencer seus seguidores”.
Já “o que governa exerce o poder político de maneira muito mais formal, e isso é devido ao fato de que no desempenho de sua missão ele exerce um poder organizado e estruturado, um poder que, nas sociedades modernas, é geralmente organizado pelo direito e pelas leis ou por cartas constitucionais”. Um presidente, por exemplo, tem certos poderes especificados pela Constituição. “Esta lei básica, portanto, estrutura o poder”.
De um ponto de vista jurídico-político, pode-se dizer que o poder político se refere ao domínio, faculdade ou jurisdição que se tem para mandar ou para executar uma ação que afeta aos demais, mesmo contra sua vontade e através do uso da força, caso seja necessário.
O Estado, como grupo social, também se apresenta com um poder, que é o poder político. Isto significa que, na multiplicidade de poderes que se desenvolvem na sociedade, o poder político (o poder do Estado) é mais um que, no entanto, assume a coordenação e supremacia de todos os outros. Assim, o poder estatal constitui-se em centro de ação política.
Podemos dizer que o poder político pode ser entendido como o poder que tem como , meio específico a força, constituída em monopólio do Estado, tornando-o poder supremo, ou seja, o poder cuja posse identifica para toda a sociedade o grupo dominante.
Os indivíduos se submetem ao poder político e lhe prestam obediência em virtude da crença em sua legitimidade. Além disso, ele possui a coerção e os instrumentos de controle social que lhe permitem concretizar suas sanções pela utilização do monopólio da força física.
Sartori alerta que não se deve “confundir os recursos do poder, ou as influências sobre, com o possuir poder”, pois “uma vez estabelecidas estas distinções, desaparece a dificuldade de determinar os limites do sistema político”.
Prossegue afirmando que “condicionar e influenciar o poder político não é a mesma coisa que exercê-lo”. E cita o exemplo das corporações gigantes e os sindicatos poderosos, que, embora tenham influência, “não se segue que o seu poder seja ‘soberano’, sobrepondo-se ao poder político”.
Pois “enquanto um sistema político se mantém de pé, os comandos prevalecentes e obrigatórios erga omnes são os que emanam da sua dimensão propriamente política. Só as decisões políticas, sob a forma de leis (ou com outra forma), são aplicáveis coercitivamente à generalidade dos cidadãos”. Logo, “as decisões políticas podem ser assim definidas, como ‘soberanas’, as mais difíceis de evitar, seja pela determinação territorial, seja pela intensidade coercitiva”.
A Questão da legitimidade do poder político
A legitimidade consiste na crença predominante de que quem manda possui razões para isso e, portanto, gera a convicção do dever moral de obediência enquanto se respeitem as bases que a fundamentam e que essencialmente consistem nas opiniões, valores, crenças, interesses e necessidades de determinada comunidade.
Isto, por sua vez, relaciona a legitimidade com a autoridade e o valor justiça, pressupondo um acordo básico sobre o fundamental quanto à forma de governo justa e que tem o direito de mando. É a Constituição, em termos práticos, que concretiza esse acordo básico, como decisão política fundamental sobre a forma de governo, as qualidades exigidas para quem manda e as regras para alcançá-lo e operar sua sucessão de forma pacífica e continuada.
A legitimidade se refere à idéia de obrigação política de obediência, pela qual as pessoas aceitam e justificam um poder político. Ao longo da história podemos encontrar diversos fundamentos do poder político: a divindade, isto é, a crença em que o poder político tem origem divina; o carisma do líder, modelo de legitimidade encontrado tanto no passado quanto no presente; a tradição, os costumes e crenças compartilhadas por uma comunidade ao longo dos tempos; e , como característica do poder político da modernidade, o modelo de legitimidade baseado na legalidade.
Não existe, na prática, um único fundamento da legitimidade, mas uma pluralidade de fontes, que podem ser de índole religiosa, jurídica e tradicional
entre outras. A situação concreta determina que aquele que possui poder, virtualmente, tem aptidão para mandar. No entanto, isto não basta para que as ordens emanadas de quem possui o poder sejam executadas.
Se a força coercitiva é fonte de poder, no entanto, deve buscar revestir-se de autoridade, agregando motivos à sua vontade de mando para apresentar-se como legítima.
Um poder só é considerado legítimo, quando quem o detém exerce a justo título, e o faz enquanto for autorizado por uma norma ou conjunto de normas gerais que estabelecem quem, em uma determinada comunidade, tem o direito de comandar e de ter seus comandos obedecidos.
Em uma monarquia absolutista, a norma fundamental autorizadora, aquela que legitima, é norma que estabelece a ordem de sucessão no trono; em um Estado democrático, é a Constituição. A autorização transforma o simples poder em autoridade. Assim, autoridade pode ser compreendida como “o poder autorizado, e, apenas enquanto autorizado, capaz, por sua vez, de atribuir a outros sujeitos o poder de exercer um poder legítimo”.
E essa atribuição pode ocorrer, em uma cadeia de sucessivas delegações de poder, de dois modos: de cima para baixo em um grupo autocrático, de baixo para cima em um grupo democrático, e ambos constituindo uma cadeia que caracteriza a organização de qualquer grupo político complexo.
A democracia consiste num sistema político que, essencialmente, exige constante renovação da legitimidade dos governos, que ocorre na submissão periódica à vontade popular através da realização de eleições. Mesmo os governos ditatoriais, que detêm o poder de fato através do monopólio da força coercitiva, buscam legitimar-se. A ditadura militar no Brasil buscou legitimar-se realizando eleições com partidos controlados e criados pelo regime.
As elites e o poder
Considera-se elite uma categoria de pessoas que se destacam em determinado setor ou atividade social.
Em outros termos podemos definir elite como um grupo de indivíduos pouco numeroso, que apresenta características, interesses ou sentimentos comuns que os mantêm unidos, e tem a capacidade de se destacar do restante das pessoas devido a uma série de características singulares.
Em toda sociedade há numerosas elites segundo o âmbito da inclusão.
O que todas apresentam em comum é uma minoria que se destaca. Em termos qualitativos, dispõem de poder social para dominar e predominar sobre as demais, apresentando condições de tomar decisões e de influenciar o grupo maior que as envolve.
A noção de elite no âmbito político divide quem exerce o poder de quem é governado, uma minoria que detém o poder e uma maioria que lhe obedece. Do ponto de vista político, além da elite governante coexistem outras que lhe dão sustentação ou apoio.
Toda elite social tem possibilidade de exercer pressão ou participar de processo de tomada de decisões políticas; neste caso essa elite se transforma em elite política. Desse modo, qualquer elite se politiza quando toma posição a favor ou contra o poder oficial, assumindo e exibindo uma atitude política.
Logo, todas estas elites, são elites sociais e não políticas em sua essência, mas se politizam ao entrar em contato com o poder estatal. O processo político então converte-se em uma luta com a participação das elites sociais, dentro e fora da minoria governante. Em resumo, dentro do sistema político, somente a elite governante, ou seja, os titulares do poder político, são os que possuem o poder político.
As demais elites políticas têm força política, ou seja, capacidade de influenciar o poder político, mas não o detêm. O que as elites não governantes têm é um poder social com força política, um poder social que se politiza pela sua interação com o poder oficial, que é o único poder político.
As elites são minorias dominantes porque conduzem, difundem seus critérios e seus comportamentos, formam e induzem a opinião pública, e, às vezes como a elite governante, também exercem o poder político.
Teoria das elites
Essa teoria foi desenvolvida principalmente por Gaetano Mosca (1858 – 1941) e Vilfredo Pareto (1848 – 1923), que se baseando em dados empíricos, descritos, classificados e correlacionados chegaram à conclusão de que em toda sociedade há sempre uma minoria que detém o poder em suas diversas formas, diante de uma maioria que não o tem.
Nas sociedades humanas, o poder político pertence sempre a um círculo restrito de pessoas. Um aspecto importante desta teoria é que formula a antítese elites-massas, na qual as elites têm um papel positivo, contrapondo-se ao ideário socialista no qual esta polarização é favorável às massas.
A teoria de Mosca
Elementi di scienza politica, 1896.
Em todas as sociedades existem duas classes de pessoas: a dos governantes e a dos governados. A classe governante cumpre todas as funções políticas, monopoliza o poder e goza de todas as vantagens que obtém deste fato. Aqueles que são governados, mais numerosos, são dirigidos e regidos pela elite, quer seja através de modo violento ou legal.
Mosca acreditava que a classe política obtém sua força do fato de estar organizada em torno de um conjunto de interesses comuns que a une em um grupo homogêneo e solidário contra uma classe dirigida mais numerosa, mas dividida, desarticulada, dispersa e desunida. O aparato estatal serve como instrumento da classe política para alcançar seus próprios fins.
Segundo Mosca, em todas as formas de governo o poder verdadeiro e real reside em uma minoria dirigente. Para manter-se no poder, toda elite possui meios de legitimar-se, que se baseiam em síntese num conjunto de crenças e, sentimentos aceitos pela sociedade e que são encarnados na elite. Além da coerção, provida pelo Estado, a elite consegue da massa uma forte convicção de obediência.
A teoria de Pareto
Vilfredo Pareto – Systémes socialistes, 1902.
Pareto parte da idéia de que todos os homens são desiguais entre si em todos os campos de sua atividade, e esta desigualdade se expressa em vários graus desde o superior ao inferior. Denomina elites aos que se encontram no grau superior, e se dedicou particularmente ao estudo dos indivíduos que, pelo fato de ocupar os graus superiores de riqueza e poder, constituem as elites mais apropriadamente políticas ou aristocracias. Para Pareto a história exibe uma luta contínua e sucessiva entre uma aristocracia e outra.
Pareto desenvolve a teoria da circulação das elites, onde apresenta o processo dinâmico de formação e substituição das elites. Para ele, em toda sociedade é um fato permanente e inevitável a presença de uma elite no poder e a sucessiva substituição que ocorre entre as elites. Há um movimento permanente que eleva os indivíduos até os postos superiores, deslocando outros para os inferiores.
O teorema de Pareto sobre a “circulação das elites” tornou-se famoso, e coincide com a concepção de Mosca de que em todas as épocas e em todas as sociedades os homens podem dividir-se em duas camadas: uma camada inferior numerosa e uma camada superior, relativamente pequena mas politicamente poderosa. Esta última camada se subdivide, por sua vez, em uma elite governante e uma elite não-governante.
A teoria da circulação das elites designa o fenômeno de que a estrutura e a composição da camada governante sempre estão submetidas a mudanças contínuas. Levando em consideração que a força propulsora da camada aristocrática superior diminui periodicamente, é necessário, segundo essa teoria, que alguns membros das camadas inferiores ascendam à classe governante.
Como regra geral, essa circulação das elites se desenvolve de forma lenta, de tal modo que não ocorra nenhum desequilíbrio notável da sociedade. No entanto, caso as camadas superiores ainda não estejam constituídas com um número suficiente de indivíduos decididos a usar da força e a consolidar seu poder político, pode ocorrer que as camadas inferiores produzam a partir delas mesmas novas elites.
Dessa forma estão dadas, segundo Pareto, as condições para o nascimento das revoluções. Mas mesmo no caso destas revoluções
fica confirmada a regra de que em qualquer caso somente uns poucos dirigem as massas. Dessa forma, depois de concluídas as revoluções, se reconstitui o velho dualismo entre elites e massas, pois somente aquelas dispõem de capacidade suficiente para manter um poder político, enquanto estas nasceram para obedecer.
Wright Mills
Este autor desenvolveu uma análise histórica e sociológica da sociedade norte-americana e demonstrou que os Estados Unidos são dominados por um restrito grupo de poder. Essa elite é formada pelos que ocupam posições chaves em três setores: economia, exército e política. Estes constituem uma elite no poder porque estão ligados uns aos outros, se sustentam e se reforçam reciprocamente, e tendem cada vez mais a concentrar seus instrumentos de poder em instituições centralizadas e independentes.
Ao desenvolver sua teoria, Mills parte da contraposição do homem comum com a elite no poder. Para ele, o homem comum é aquele cujos poderes são limitados pelo mundo cotidiano em que vive e parece movido por forças que não pode compreender nem controlar; e a elite no poder por sua vez, é composta por homens que se encontram em posições tais que lhes permitem transcender o ambiente do homem comum e ocupam as posições estratégicas da estrutura social em que estão concentrados os instrumentos do poder, da riqueza e do prestígio, e onde tomam decisões de grandes conseqüências.
Os elementos comuns das teorias das elites são:
a) em toda sociedade organizada, as relações entre os indivíduos ou entre grupos são relações de desigualdade;
b) o motivo principal da existência da desigualdade está na distribuição desigual do poder, o qual tende a concentrar-se num grupo reduzido de pessoas;
c) entre as diversas formas de poder, o determinante é o poder político;
d) os que detêm o poder, a classe política, são sempre minoria;
e) a classe política, pelo fato de ser reduzida, é mais organizada e seus membros apresentam entre si uma solidariedade motivada pelo fato de apresentarem interesses comuns;
f) o grupo que se contrapõe a elite é a massa, que constitui o conjunto de pessoas que não tem poder relevante e que numericamente são maioria, apresentando pouco nível de organização;
g) o poder pertence sempre a uma minoria, e a única diferença entre um regime e outro se encontra na existência ou não de disputa entre as minorias.
Partidos Políticos Brasileiros
Os Partidos Políticos Brasileiros, no tocante à sua natureza jurídica, mantiveram-se desde o Império até a República de 1946 como corporações político-sociais, conservando a natureza jurídica de associação civil, sem uma regulamentação estatal própria. 
Nessa condição, falharam em quase todas as épocas decisivas da nossa vida constitucional, notadamente em 1930, 1934, 1937, 1945, 1961, culminando com o seu desprestígio total em 1964.
A partir da Constituição de 1969, a estrutura dos partidos políticos foi reformada em novas bases e regulamentada pela Lei Orgânica dos Partidos Políticos (Lei n. 5.682, de 20/07/1971) e pela Lei Complementar n. 42, de 1º de fevereiro de 1982, segundo a qual os partidos políticos passaram a ser, efetivamente, pessoas jurídicas de direito público interno, com a missão precípua de “assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo”.
A Constituição de 1988 consagrou definitivamente o sistema democrático do pluripartidarismo, assegurando a liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos. Os limites dessa liberdade situam-se no resguardo da soberania nacional, do regime democrático, do pluripartidarismo e dos direitos fundamentais da pessoa humana (art. 17 da CF).
Os partidos políticos adquirem personalidade jurídica na forma da lei civil e registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (art. 17,§ 2º, da CF).
A constituição e funcionamento dos partidos políticos está regulamentada atualmente pela Lei Orgânica dos Partidos Políticos, Lei n. 9.096 de 19/09/1995, e alterações posteriores.
Sufrágio
Derivado do latim, sufragium (aprovação, apoio), é um “direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder”.
Tal direito alicerça o princípio esculpido no parágrafo único do art. 1º de nossa Lei Maior: “(...) Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
O direito do poder emanar do povo nada mais é que o sufrágio. O exercício desse poder, no que tange ao exercício eleitoral, que decorre do sufrágio é o voto. Deste modo, não devemos confundir os conceitos sufrágio e voto, aquele consiste no direito e este no exercício deste direito na seara eleitoral.
O sufrágio pode ser consubstanciado de duas formas: quanto à extensão e quanto à igualdade.
Quanto à extensão o sufrágio pode ser universal ou restrito; quanto à igualdade pode ser igual e desigual.
Quanto à extensão: universal e restrito
Princípio da democracia, e sistema adotado pelo Brasil na Constituição Cidadã de 1988, o sufrágio universal consiste na possibilidade de o povo (entendidos aqui como eleitores) manifestar sua vontade para a formação do governo. 
O fato de considerar como titulares do sufrágio apenas os eleitores, não deve ser avaliado como uma maneira censitária de exercício do poder uma vez que essa exigência é técnica e não discriminatória. 
O exemplo de uma exigência técnica seria a capacidade civil como um dos elementos para uma pessoa ser eleitora. Note que neste caso a questão é meramente técnica e não discriminatória.
Por seu turno, o sufrágio restrito, é caracterizado por determinada condição econômica ou fator discriminatório, onde as pessoas não têm o poder e, conseqüentemente, não podem exercê-lo, seja diretamente, seja por meio de representantes. O exemplo desse sufrágio seriam os países em que os analfabetos ou mulheres não votam.
Por séculos, as mulheres ficaram excluídas do processo eleitoral, e, no Brasil, só se tornaram eleitoras na década de 30 do século passado. Mais grave ainda foi a situação dos analfabetos, que somente em 1985 tiveram esse direito garantido com a Lei 7.332, de 1º de julho de 1985.
Quanto à igualdade: igual e desigual
Para que seja universal, exige-se que o sufrágio seja também igual, ou seja, além do direito do eleitor exercer o sufrágio através do voto, que seu voto tenha a mesma importância de qualquer outro voto.
No revés da igualdade, está seu paradoxo, qual seja, a desigualdade do sufrágio, ou seja, nesse caso o eleitor pode votar mais de uma vez ou seu voto tem um valor superior ao de alguns. No caso, tal sistema causaria o fortalecimento de um determinado grupo desfigurando o sistema democrático em aristocrático.
O Voto
Como já definimos anteriormente, o voto é o exercício do sufrágio na seara eleitora. 
Consiste, portanto, na pratica efetiva de um direito, é o instrumento de manifestação da escolha do eleitor. 
No Brasil, adotou-se por muito tempo a cédula de papel como nome do candidato, que era colocada pelo eleitor em urnas. Hoje, com muito mais praticidade, e pioneiramente, vota-se em aparelhos eletrônicos, tornando as apurações muito mais rápidas e seguras.
Características do voto
O voto pode ser secreto ou público; obrigatório ou facultativo; igual ou desigual; direto ou indireto.
Atualmente adotado no Brasil, o voto secreto é aquele em que o eleitor não dá publicidade ao seu voto, ou seja, ninguém sabe quem o eleitor escolheu como seu representante.
Por outro lado, o voto público é aquele que o eleitor apresenta publicamente quem é seu candidato. Na atualidade, em quase todos os países o voto é secreto. Essa garantia dá mais liberdade para a escolha do eleitor, porquanto caso fosse aberto ou público o eleitor poderia ficar sujeito a intimidações, como no Brasil da República Velha de 1889 a 1930.
Também adotado no Brasil, o voto obrigatório consiste na necessidade de o eleitor comparecer às urnas no dia do pleito, e, caso
não o faça, deve justificar o motivo da ausência, sob pena de ser multado e ter seu título de eleitor cancelado.
Ao contrário do voto obrigatório temos o voto facultativo, que, como o próprio nome refere, traz a faculdade de escolha do eleitor para votar ou não naquele pleito. Aqueles que defendem o voto facultativo dizem que a liberdade está não só na escolha de um determinado candidato, mas na possibilidade em optar por não votar; por outro lado, os que defendem a obrigatoriedade dizem que, se todo poder emana do povo, este não pode negar seu poder não indo às urnas, nem que seja para anular o voto.
O voto pode ser também igual ou desigual como vimos anteriormente.
Por fim, o voto pode ser direto ou indireto. O voto direto, que entendemos ser mais conseqüente com a democracia, se dá quando os eleitores escolhem sem intermediários seus representantes e governantes. 
O voto indireto se dá quando os representantes são escolhidos por delegados dos eleitores, o exemplo que temos é o italiano, no qual o povo escolhe os deputados e senadores e estes escolhem o presidente da república, foi assim também no Brasil, no período militar. 
Atualmente em nosso País, o voto é direto, exceto na hipótese da vacância do cargo de Presidente e Vice-Presidente da república nos últimos dois anos do mandato presidencial.
Assim podemos definir o voto, no Brasil, como sendo: direto, secreto, obrigatório e igual; além de ser periódico, de quatro em quatro anos, pessoal, pois ninguém pode votar por outra pessoa, e universal, pois o deve ser garantido ao maior número de pessoas possíveis.
Sistemas eleitorais
Como vimos, todo poder emana do povo (sufrágio), sendo que este pode escolher seus representantes por meio de seu voto, em sistemas eleitorais definidos. Os sistemas eleitorais podem ser: majoritário, proporcional ou distrital.
Sistema proporcional – consiste em cada partido, eleger o número de representantes de acordo com sua força eleitoral. Essa força é medida pelo chamado quociente eleitoral, dividindo-se o número de votos válidos pelo número de lugares (“cadeiras”) a preencher no legislativo.
Tal sistema é o utilizado no Brasil para a eleição dos Deputados Federais (art. 45 da CF). O mesmo princípio se estende à escolha dos Deputados Estaduais e os Vereadores.
Sistema majoritário – é o mais utilizado no Brasil. Consiste na representação, em um determinado território, ao candidato que obtiver a maioria (absoluta ou relativa) de votos.
Em nosso País a escolha dos chefes do Poder Executivo (Presidente e Vice, Governador e Vice e Prefeito e Vice) é feita pelo sistema majoritário por maioria absoluta, em um ou dói turnos se necessário (art. 29, II, da CF). Já a escolha dos senadores federais segue o sistema majoritário por maioria simples (art. 28 da CF).
Sistema distrital – muito discutida, na atualidade, é a adoção ou não no Brasil do sistema distrital eleitoral, podendo ser puro ou misto.
O sistema eleitoral distrital puro divide cada Estado em um número de distritos equivalente ao de cadeiras no Legislativo. Os partidos apresentam seus candidatos e ganhará o mais votado em cada distrito. A condição básica para dividir o mapa é que cada área tenha um número equivalente de eleitores. Os distritos podem abranger vários municípios pequenos ou grandes municípios e serão divididos em vários distritos. Países como a França adotam esse sistema.
O sistema eleitoral distrital misto é aquele em que os Estados são divididos num número de distritos equivalente à metade do número de vagas no Legislativo. Metade dos deputados é eleita pelos distritos e a outra metade, por listas de candidatos feitas pelos partidos. Os nomes e a ordem de preferência na relação são definidos nas convenções de cada partido. 
Quanto mais votos de legenda um partido tiver, mais vagas ele poderá preencher com os candidatos eleitos pelos distritos. Se (os votos) forem insuficientes para preencher todas as vagas, são convocados os que estiverem na lista. É o sistema adotado pela Alemanha.

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