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Disciplina QUÍMICA DA MADEIRA Prof. Humberto Fundamentos da química de carboidratos Carboidratos: As plantas, mediante a fotossíntese são capazes de converter a energia do Sol em energia Química. O composto gerado é a glucose (glicose), um carboidrato, que pode se polimerizar a amido (como fonte de energia) e celulose (como tecido de sustentação). 6CO2 + 6H2O Energia solar C6H12O6 + 6O2 Fotossintese Carboidratos são polihidroxialdeídos e polihidroxiacetonas de fórmula geral Cn(H2O)n. O nome carboidrato foi dado para os compostos que contem hidrogênio e oxigênio nas mesmas quantidades de água e carbono. C6H12O6 (Gicose, Hexose), C5H10O5 (Xilose, Pentose). Os açucares com um grupo funcional aldeído são chamados aldoses e os que contêm um grupo cetona são chamados cetoses. A função carbonila está localizada na posição 2 (C-2) D-frutose cetohexose Função carbonila no carbono 1 D- Glicose Aldohexose Classificação: Monossacarídeos: não podem se hidrolizados. Dissacarídeos podem ser hidrolizados em 2 monossacarídeos. Polissacarídeos: podem ser hidrolizados em muitos monossacarídeos. H * * * C O HO H H CH2OH OH 2 C CH2OH C C OH OH C H OHC CHO C HHO OH CH2OH C H H 2 2. ESTEREOQUÍMÍCA DA GLICOSE: 2.1. Estereoisômeros A glicose possui 4 átomos de carbono assimétrico(*). Eles podem formar estereoisômeros. Estereoisômeros = 2n hexoses: 24 = 16 onde: n = *c pentoses: 23 = 8 tetroses: 22 = 4 Isômeros: É o fenômeno da existência de substâncias que apresentam mesmo número de átomos de cada elemento na molécula (mesma forma molecular) e no entanto possuem propriedades diferentes em virtude da diferentes disposição espaciais desses átomos na formação da molécula. 2.2 Configuração D e L L-gliceraldeído D-gliceraldeído Todos os açúcares que possuem o penúltimo átomo de carbono (último * C) com um OH para a direita é derivado do D-gliceraldeído. Eles pertencem a chamada série D. Aqueles possuindo o OH para a esquerda pertencem à chamada série L. Na configuração D, o grupo hidroxila está à direita do carbono quiral de maior número, ao passo que, na configuração L está à esquerda. A configuração D é mais comum que a L. D-ribose D-xilose L-arabinose * CHO Direita H OHC CH2OH * CHO HO HC CH2OH Esquerda H OHC H OHC CHO H OHC CH2OH HO H CH2OH H OHC C H OHC CHO HO H _ HO H C C H OHC CHO C H2OH HHO 3 CH2OH H OH OH 4 5 H CHO H OH 2 1 H OH CHO CH2OH H OH OH HHO C 4 * * * C C 5 C * 6 2 3 H 3 D-glicose D- Manose D -galactose Epímeros Epímeros Epímeros - diferem somente no C-2 em suas configurações. Diasteroisômeros- Não se sobrepõem e nem são imagens especulares uns dos outros. Os diasteroisômeros que se diferem uns dos outros, na configuração, em somente um carbono quiral (assimétrico) são chamados epímeros. Estereoisômeros com imagens especulares são também chamados enantiômeros. EX D- Gliceraldeído L- Gliceraldeído 3. ESTRUTURA CÍCLICA DA GLICOSE: A ciclização acontece como resultado de interação entre os carbonos distantes, tais como C1 e C-5. O carbono carbonílico torna-se um novo centro quiral, chamado carbono anomérico. O açúcar cíclico pode assumir duas formas diferentes e . Segundo a projeção de Fischer, o anômero de um açúcar D tem o grupo OH anomérico representado á direita do carbono anomérico e no à esquerda. H OH CH2OH C HO H C H OHC CHO C HHO 4 2 OH C H OHC CHO C HHO OH CH2OH C H H CHO C 2 C CHO H HHO CH H CH2OH OH OH 2 * CHO Direita H OHC CH2OH * CHO HO HC CH2OH Esquerda 4 Estruturas cíclicas de 6 membros, anéis de piranose: < 0,5% D-glicose , -D-glicopiranose < 0,5% acíclica = 63,6% = 36,4% -D-glicopiranose -D-glicopiranose CH2OH OH OH OH H H H H OH CHO OH C H OHC CHO C HHO OH CH2OH C H H Abaixo Acima O CH2OH OH OH OH OH HH H H H O HO O OH OH H H H H OH H O CH2OH CHO OH CH2OH OH OH OH H H H H C OH OHC CH2OH C H OH C H OH C OH H CH2OH H H HOH OH OHH COOH CH2O 5 4 3 2 ou H,OH O 5 3.2.2. Exemplos de alguns açúcares comuns: D-xilopiranose D-manopiranose D-galactopiranose Frutose é um ceto-açúcar: Existe sempre como uma furanose na natureza. -D-frutofuranose D – frutose 5.3. Celobiose Também produz 2 moles de glicose quando hidrolizada 4-O--D-glicopiranosil-D-glicopiranosídeo -D-glcp-(1 4)-D-glcp Celobiose (-Anômero) A celobiose é a unidade fundamental da celulose. Ela é produzida a partir da hidrólise ácida parcial da celulose. H C OH C OH CH2OH H H CHO CH2OH C O O OH H H H HO O O OH OH H H H OO OH OH H H H H HO H O CH2OHCH2OH H OH H OH H, OH H, OH H, OH Anel C2 C5 O H CH2OH OH HO OH H H 3 CH2OH 4 6 2 5 H, OH O CH2OH OH OH OO CH2OH OH OH O OH O 41 Celobiose 6 PAREDE CELULAR Organização da Parede Celular Figura 1- Esquema da organização da parede celular Na figura esta representado um esquema da organização da parede celular . Após a divisão celular, as células recém-formadas permanecem unidas por uma substância intercelular, chamada lamela média (LM), constituída principalmente por lignina e substâncias pécticas. A distribuição da lignina, celulose, hemiceluloses e pectina na lamela média nas fibras de madeira é muito heterogênea. Estudos indicam que aproximadamente 70-90% da lamela média é constituída de ligninaSobre a LM depositam as primeiras camadas de celulose, constituindo a parede primária ( 2% da espessura total da parede) suas microfibrilas não mantêm um arranjo em relação ao eixo longitudinal da fibra, apresentam se com um aspecto de rede, a parede primária (P) que é bastante delgada (0,1 - 0,2m). Imediatamente abaixo daparede primária está a parede secundária a qual compreende praticamente toda a parede celular. De acordo com a orientação das microfibrilas, a parede secundária é dividida em 3 camadas (S1, S2 e S3) a mais próxima a parede primária é denominada S1 correspondendo a 10% da espessura total da parede celular (têm de 0,1- 0,3m de espessura) e com ângulo entre as microfibrilas em torno de 50 a 70 ° com o eixo longitudinal da fibra, formando um arranjo helicoidal (epiral/cruzada) . A camada seguinte é a S2, bem mais espessa (1-5m) representando cerca de 85 % do total da parede celular. Sua microfibrilas formam um ângulo , cerca de 10 a 30 °, com o eixo longitudinal das fibras, orientadas quase que paralelamente ao eixo da fibra, fazendo com que essa camada seja mais resistente. A camada S3 (3% da espessura- 0,1m) tem suas microfibrilas dispostas com ângulo de 60 a 90 ° na direção perpendicular ao eixo da fibra, e as vezes pode apresentar-se revestida por uma camada verrugosa. Representação da celulose na parede da fibra: A organização física das moléculas de celulose começa pela fibrila elementar, passando pelas microfibrilas, macrofibrilas e, finalmente, a fibra e/ou traqueídeo de uma madeira. Assim, um grupo de fibrilas elementares constrói as microfibrilas que são as unidades básicas de uma fibra. O numero das fibrilas elementares que compõe as microfibras depende da espécie, podendo ser de 37 a 42 por microfibrila. O tamanho das microfibrilas depende da fonte de origem e da sua localização na parede celular. Na parede primária, as microfibrilas medem 1,0 nm e na parede secundária elas podem chegar até a 20 nm Na madeira, as microfibrilas estão embebidas numa matriz de polissacarídeos e lignina. 7 Figura 3 – Representação da celulose na parede celular Arranjo da Microfibrilas A celulose é o principal componente da parede celular de tecidos vegetais. Ela existe na parede celular na forma de micro fibrilas. Na planta madura as microfibrilas de celulose estão embebidas em uma matriz composta de hemiceluloses e lignina. Moléculas de celulose são completamente lineares e tem forte tendência para formar pontes de hidrogênio inter e intracelulares. Feixes de moléculas de celulose se agrupam na forma de microfibrilas na qual regiões altamente ordenadas (cristalinas) se alternam com regiões menos ordenadas (amorfas). Como conseqüência dessa estrutura fibrosa a celulose possui alta resistência à tração e é insolúvel na maioria dos solventes. Estudos realizados por meio de microscopia eletrônica demonstram que as células da madeira madura consistem de várias camadas de parede celular cercadas por uma substância intercelular amorfa. A Figura 5 mostra a organização de um traqueídeo de conífera ou fibra de folhosas. Figura 4. Modelo de franja micelar da celulose. Isolamento da celulose A celulose mais pura que existe na natureza é a do algodão com uma pureza de 99,8%. Ela pode ser isolada pelo tratamento do algodão com um solvente orgânico qualquer seguido da extração com NaOH 1% na ausência de oxigênio. A celulose da madeira não pode ser isolada com esse grau de pureza devida estar associada com outros componentes da madeira, de natureza não polissacarídica. Alfa-celulose preparada de MFL normalmente contém 10-15% de mananas e 2 - 5% de xilanas adicionalmente à celulose. Os métodos de laboratório para isolamento da celulose são variados, mas normalmente envolvem os seguintes passos: i. Redução da madeira a pequenas partículas ii. Extração das partículas de madeira com solventes orgânicos e água para remover resinas e outros extrativos. iii. Deslignificação suave da madeira com clorito acidificado ou cloração seguida de extração com monoetanolamina (NH2-CH2-CH2OH) ou oxidação com ácido peracético (CH3COOOH). iv. Extração das hemiceluloses com bases. Resultado: celulose parcialmente degradada e contaminada com lignina e frações de hemiceluloses resistentes ao álcali. (a) - seção longitudinal de parte de uma microfibrila (b) - seções transversais de 5 microfibrilas adjacentes, sendo que 3 estão ligadas lateralmente por co-cristalização 8 O grau de contaminação pode ser determinado pela hidrólise do resíduo e análise dos componentes individuais por cromatografia. A degradação pode ser avaliada pela medição do peso molecular do resíduo e pela determinação do teor de grupos carbonila e carboxila na celulose. A celulose não degradada não contém grupos carboxila e somente um grupo carbonila por molécula. Um método de isolamento mais suave consiste da nitração direta da madeira seguida de extração por solventes orgânicos. O produto desse isolamento é também contaminado com hemiceluloses. Cristalinidade da Celulose A celulose não é 100% cristalina sendo a cristalinidade dependente da matéria-prima de onde a celulose é originária. A presença de lignina e hemiceluloses na madeira parecem causar distúrbios na cristalinidade da celulose. O grau de cristalinidade da celulose nas madeiras varia entre 63-68%, aumentando para 71-74% depois do cozimento kraft. A cristalinidade da celulose pode ser observada no modelo de franjas micelares. Quanto mais cristalina a celulose, maior a sua densidade. A densidade da celulose cristalina é 1,59 enquanto a da celulose amorfa é 6% inferior. A celulose é altamente cristalina em função do grande número de pontes de hidrogênio. Esse fato explica porque a celulose é insolúvel em vários solventes mesmo possuindo 5 oxigênios para cada 6 átomos de carbono que compõe a sua molécula. As ligações de pontes de hidrogênio inter e intramoleculares são responsáveis pelo comportamento físico, químico e mecânico da mesma, incluindo sua solubilidade. Para uma boa uniformidade de reação, reagentes devem ser capazes de causar grande inchaço da celulose. Portanto, em muitos aspectos, a organização física das moléculas de celulose se tornam mais importantes que a estrutura química de suas moléculas individuais no que diz respeito à reatividade. 9 Figura Pontes de Hidrogênio inter e intramoleculares Distribuição dos constituintes químicos da madeira na Parede Celular Na figura acima está representada a distribuição dos componentes químicos nas diferentes camadas da parede celular. A lignina é o componente predominante na lamela média composta (lamela média e parede primária), estando a celulose e hemiceluloses presentes em 10 pequenas quantidades. A concentração da lignina é elevada na lamela média composta, mas a maior quantidade de lignina está presente na parede secundária (70 -80% do total de lignina da parede celular), uma vez que a camada S2 representa 80 a 85 % da espessura da parede celular, e a lamela média composta representa apenas cerca de 2% da espessura da parede celular. Na parede secundária a camada S1 é a mais lignificada, porém o seu ângulo fibrilar (50 a 70 °) faz com que ela seja pouco resistente a ação de químicos. Constituição Química da Madeira Como um todo, os elementos químicos que compõe a madeira estão distribuídos da seguinte forma: Carbono 50% Oxigênio 44% Hidrogênio 5,5% Nitrogênio 0,3% Inorgânicos traços No geral, esses elementos não diferem em % de ocorrência entre os diferentes gêneros e espécies de madeira, o que diferem são os arranjos desses para formar os principais constituintes químicos estruturais da madeira que são as celuloses, hemiceluloses, lignina, extrativos e cinzas. A maior parte da madeira é composta de carbono, hidrogênio, e oxigênio. O nitrogênio está presente na proporção de 0,2% e é proveniente de resíduos de proteína origináriado crescimento inicial das células Como características gerais a madeira contém muitos constituintes químicos. O comportamento químico da madeira não pode ser deduzido em detalhe a partir das propriedades de seus componentes porque estes não estão uniformemente distribuídos. A maior parte dos componentes é de alto peso molecular (a madeira é um sistema interpenetrado de polímeros de alto peso molecular). Os polímeros que constituem a madeira são difíceis de serem isolados sem modificações significativas. A maior porção da madeira é constituída de polissacarídeos e lignina. Estes constituem os componentes da parede celular que juntamente com pequenas quantidades de material intercelular formam a base da estrutura física da madeira. É muito comum diferenciar os componentes da parede celular dos componentes chamados estranhos, os quais não são considerados uma parte essencial da estrutura da madeira. Os componentes estranhos incluem as substâncias que são solúveis em solventes neutros e em água fria, ou são voláteis, e são chamados de extrativos. Os componentes químicos podem ser divididos em dois grandes grupos: componentes fundamentais e componentes acidentais ou secundários. Componentes fundamentais : holocelulose (Celulose e hemicelulose) e lignina Componentes secundários: extrativos e cinzas (minerais) Na figura é apresentado o arranjo ultra-estrutural da celulose, hemicelulose e lignina na parede celular da madeira. 11 Figura -Arranjo ultra-estrutural da celulose, hemicelulose e lignina na parede celular da madeira. Carboidratos São representados principalmente pelos polissacarídeos e correspondem a aproximadamente 3/4 da substância madeira. Eles incluem celulose, os polissacarídeos não-celulósicos e “insolúveis” em água comumente designados como hemiceluloses, amido, substâncias pécticas, e polissacarídeos solúveis em água tais como arabinogalactanas. A celulose é o maior constituinte da madeira, correspondendo a 50% do seu peso. CELULOSE A celulose é o principal componente das paredes celulares dos vegetais, é o composto orgânico mais abundante na natureza. Representa entre 40 e 50% de todas as plantas, havendo estimativas de que mais de 50 bilhões de toneladas de celulose sejam produzidas anualmente pela natureza. Além dos vegetais, algumas bactérias e algas também apresentam celulose em sua constituição, mas em pequena proporção. Ela está localizada principalmente na parede secundária da célula. FONTES DE CELULOSE Algas marinhas: O composto (1-3) glicana está presente em quase todas as algas marinhas (ex: valônia - possui longas microfibrilas), existindo portanto em grandes quantidades na natureza. Alguns autores acreditam que esse composto é mais abundante na natureza que a própria celulose. Pêlos de frutos-pericarpo (ex: algodão, casca de côco da Bahia, etc.). No algodão é encontrada a celulose mais pura (99,8%). Fibras do floema-líber (ex: Juta, linho, cânhamo, rami, etc). Gramíneas - monocotiledôneas (ex: esparto, bagaço-de-cana, bambu, palhas de cereais, etc). Fibras do xilema-lenho Exemplo de lenhos utilizados comercialmente: Madeiras de fibra longa: Brasil: Pinus spp., Cupressus spp., Araucaria angustifolia, Cunnhinghamia lanceolata, Podocarpus spp., etc. Mundo: Pinus spp., abeto, carvalhos, faia, etc. Madeiras de fibra curta: Brasil: Eucalyptus spp., Acacia molissima, madeiras tropicais, etc. Mundo: bétula, álamo, Eucalyptus spp. Fontes artificiais (ex: rayon, viscose, etc). 12 Conceito: É um polissacarídeo que se apresenta como um polímero de cadeia linear com comprimento suficiente para ser insolúvel em solventes orgânicos, água, ácidos e bases diluídos, todos à temperatura ambiente, consistindo única e exclusivamente de unidades de -D-anidroglicopiranose (glicose) unidas por ligações do tipo (1-4), e possuindo uma estrutura organizada e parcialmente cristalina. O prefixo anidro significa que, durante o processo de condensação das unidades de glicose para formar a celulose, uma molécula de água é eliminada: + n H2O (C6H10O5)n - n H2O n C6H12O6 Celulose Glicose A forma mais pura de celulose é obtida das fibras do línter de algodão que, quando submetida a cuidadoso processo de purificação, apresenta 99,8% de pureza, denominada celulose padrão ou referência. A madeira quimicamente pura possui idêntica natureza química da celulose-padrão. A fórmula molecular da celulose é: (C6H10O5)n; n = grau de polimerização, ou seja, o numero de vezes que a molécula se repete. O grau de polimerização da celulose varia de 8.000 a 10.000 havendo evidências de que esse valor diminua com o envelhecimento da árvore. Isso equivale dizer que o grau de polimerização é máximo nas células adjacentes ao câmbio e diminui em direção à medula. Estrutura da celulose: A celulose é um polímero constituído de um grande número de unidades idênticas de glicose, um açúcar simples, um monossacarídeo, cuja molécula pode ser, assim representada: Figura 2: Representações da configuração da β As moléculas de celulose são completamente lineares e os grupos hidroxilas (OH) são responsáveis pelo comportamento físico-químico da celulose, sendo capaz de formar dois tipos de ligações hidrogênio (pontes de hidrogênio), em função do seu posicionamento na unidade glicosídica. Existem ligações hidrogênio entre grupos OH de unidades glicosídicas adjacentes da mesma molécula de celulose, as chamadas ligações intramoleculares, responsáveis por uma certa rigidez das cadeias unitárias. Existem, também, as ligações intermoleculares, responsáveis pela formação das estruturas supramoleculares. As ligações hidrogênio não ocorrem somente com 13 hidroxilas da cadeia celulósica, mas também com as hidroxilas da água. As estruturas primárias formadas pelas ligações hidrogênio são as fibrilas que formam as camadas da parede celular. Com alta resistência a tração a celulose fornece estrutura à madeira. Tem alto grau de polimerização, forma fibras e possui regiões cristalinas e amorfas. É o componente de maior importância na parede celular das madeiras, tanto em termos de volume como em resistência físicas e mecânicas, respondendo por cerca de 40 a 50 % relação ao peso seco da madeira. Celulose I e II A celulose é um polímero que exibe um polimorfismo, apresentando várias formas poliméricas, comumente conhecidas como, por exemplo, celulose I e celulose II. A celulose nativa consiste em duas formas cristalinas diferentes, celulose Iα e Iβ. Celulose Iβ é a forma cristalina majoritária em plantas superiores. A estrutura cristalina da celulose nativa Iβ, pode ser descrita por uma cela unitária monoclínica com duas metades de celobiose por cela unitária (Figura ...). Cela unitária da Celulose O tratamento da celulose nativa (Celulose I) para formar fibras bem orientadas, invariavelmente, conduz a forma polimérica da celulose, a celulose II. No processo de mercerização, a celulose é tratada com soluções aquosa de hidróxido de sódio (NaOH de 12 a 50%) em condições específicas e dependendo da concentração de NaOH, da temperatura e da agitação, é possível converter a celulose I em várias formas álcali cristalinas. Durante esse processo, o material expande-se e a cadeia do polissacarídeos são arranjadas; a quantidade do material menos ordenado aumenta nas fibras, enquanto a parte cristalina diminui. Estas mudanças resultam em alta adsorção, devido à mercerização aumentar a área de superfícieespecífica da fibra, fazendo com que os grupos hidroxílicos das moléculas de celulose tornem-se mais facilmente acessíveis (Beatriz et. al. 2006) Segundo o modelo de Meyer-Misch (Figura 5) as cadeias de celulose não estão orientadas no mesmo sentido. Para a celulose I as cadeias estão num rearranjo paralelo enquanto que na celulose II num rearranjo anti-paralelo. 14 Ligações Intra e Intermoleculares Na celulose II existem entre os planos, pontes de hidrogénio e é mais termodinamicamente estável que a celulose I. Este tipo de celulose não pode ser encontrada na natureza. Obtém-se por mercerização (tratamento da celulose I com um alcali forte), A estabilidade adicional da celulose II sobre a celulose I é devido a uma extensa rede de ligações de hidrogênio. As ligações de hidrogênio intermoleculares podem ser classificadas em ligações intraplanos e interplanos, o que contribui mais significativamente para a estabilidade da celulose II. Cada unidade de monossacarídeo β-D-glucose da celobiose (duas moléculas de β-D- glucose unidas por ligação β(1-4) em que se orientam uma em relação à outra através de uma rotação de 180 ºC) apresenta três grupos hidroxilos livres, ligados aos carbonos 2, 3 e 6, que podem interagir através de pontes de hidrogénio intramoleculares (entre unidades de glucose da mesma molécula) e intermoleculares (entre unidades de glucose de moléculas adjacentes). A presença de ligações de hidrogénio intramoleculares é de alta relevância no que diz respeito à conformação da única cadeia. A existência de ligações de hidrogénio entre O-3-H e O-5’ e entre 15 O-2-H e O-6’ na celulose nativa cristalina pode ser verificado por difracção de raio-X, RMN e por IR. Estas ligações de hidrogénio intramoleculares, representadas esquematicamente na Figura 4 são responsáveis pela rigidez considerável das cadeias de celulose [Kroon - Batenburg et al., 1986]. As ligações de hidrogénio intermoleculares entre O-6-H e O-3 são as responsáveis pela formação da fibra vegetal onde as moléculas de celulose se alinham formando as microfibrilas (possuem regiões altamente organizadas), que por sua vez formam as fibrilas e estas ordenam-se para formar as sucessivas paredes celulares da fibra. Figura 4: Ligações de hidrogénio padrão na celulose alomórfica. (Kroon - Batenburg et al., 1986) Na figura a visão lateral das cadeias centrais de uma cela unitária, mostra uma ligação de hidrogênio intramolecular, O (3)H –O5, que enrijece menos a cadeia da celulose II e duas ligações de hidrogênio intermoleculares da tipo O(2)-O(6’)H e O(2’)-O(6)H (Oh et al 2005) Os grupos hidroximetila da celulose I encontram-se na conformação t-g (trans-gauche), enquanto para a celulose II essa conformação é gt. A consequência dessa diferença conformacional dos grupos hidroximetilas faz com que a celulose I apresente ligação intramolecular (HO-2’ ---- O-6) ao longo da cadeia, não existente na celulose II. Na celulosse II ainda se verifica a presença de duas ligações de hidrogénio na extremidade e no centro da cadeia, isto é, o O(2) de uma cadeia com o O(2)H de outra e, O(3)H com o O(6). É importante notar que, para a maioria dos modelos de celulose cristalina, não há ligações de hidrogênio entre as cadeias em diferentes camadas do cristal. Com todos os átomos de hidrogênio alifáticos em posições axiais e todos os grupos polares de hidroxilas em posições equatoriais, as partes superior e inferior das cadeias de celulose são, em essência, completamente hidrofóbicas, enquanto que as laterais das cadeias são hidrofílicas e capazes de fazer ligações de hidrogênio. Esta topologia é extremamente importante para o empacotamento das cadeias nos cristais. Em todos os esquemas propostos de empacotamento cristalino, as cadeias são empilhadas emparelhando as faces hidrofóbicas, as quais contribuem para a insolubilidade da celulose sob condições normais. 16 Higroscopicidade da celulose: O fenômeno da histerese é definido como "o fenômeno pelo qual uma determinada propriedade, modificada por um agente externo, não retorna ao seu estado original quando esse agente externo é removido". No exemplo mostrado na Figura 6 é típica a ocorrência da histerese. É possível verificar que para uma mesma unidade relativa, a quantidade de água retida pela celulose pode ser maior ou menor se ela for secada ou umedecida, respectivamente. A explicação para o fenômeno da histerese baseia-se na interconversão da ponte de hidrogênio de celulose-água e celulose-celulose. Durante a dessorção, muitas pontes de hidrogênio entre a celulose e a água são convertidas em pontes de celulose-celulose, as quais somente podem ser desfeitas pela absorção de água à pressão de vapor elevada. Outra explicação pode ser encontrada no fato de que a região amorfa da celulose é a única capaz de absorver água, pois esta não penetra na região cristalina. Quando a celulose sofre o procedimento de secagem, as cadeias da região amorfa se aproximam umas das outras, diminuindo a capacidade de absorção de água. Figura 6 – Efeito da umidade relativa de absorção de água pela celulose – fenômeno da histerese. Inchaço e dissolução da celulose: A celulose sofre inchaço em diferentes solventes. A extensão do inchaço depende do solvente e da natureza da amostra de celulose. Alguns exemplos de solventes são metanol, etanol, anilina, nitrobenzeno e benzaldeído. De maneira mais geral, as diferenças causadas podem ser distinguidas em termos de inchaço intercristalino e intracristalino. No primeiro caso, o solvente penetra somente nas regiões amorfas das microfibrilas de celulose e entre as microfibrilas enquanto no segundo caso, o solvente penetra na região cristalina das microfibrilas. O inchaço intercristalino típico é aquele que ocorre na presença de água e o intracristalino o que ocorre na presença de hidróxido de sódio. Quando fibras de celulose secas são expostas à umidade elas absorvem água e a seção transversal das fibras é aumentada por causa do inchaço. Em umidade relativa de 100%, esse inchaço corresponde a um aumento de cerca de 25% no diâmetro da fibra. Outros 25% de aumento no diâmetro podem ocorrer se as fibras forem imersas em água. Na direção longitudinal, no entanto, a variação dimensional é pequena. A retenção de água pelas fibras de celulose a uma dada umidade relativa é variável dependendo do modo como o equilíbrio foi atingido, por desorção ou absorção. A quantidade de água absorvida pela fibra decresce continuamente após ciclos de secagem e umedecimento das fibras. Outros fatores que afetam a habilidade das fibras de celulose de sofrerem inchaço são os seus graus de pureza (a presença de lignina reduz a absorção de água pela fibra de celulose). Fenômeno da Histerese 0 25 50 75 90 100 Umidade Relativa, % 0 2 4 6 8 10 12 14 Absorção de água, % Umedecimento Secagem Secagem 17 A celulose incha na presença de soluções eletrolíticas porque a penetração de íons hidratados requer mais espaço que as moléculas de água. O inchaço intracristalino pode ser conseguido por soluções concentradas de ácidos e bases fortes e também por alguns sais. Álcali não é capaz de dissolver a celulose nativa. Somente fragmentos de celulose despolimerizada podem ser dissolvidos por álcali. Certos compostos quaternários de amônia são efetivos na solubilização total da celulose. O inchaço da celulose ocorre por causa de sua alta polaridade (muitos grupos OH). Mercerização da celulose: O termo mercerização diz respeito ao tratamento alcalino da celulose. Foi uma técnica propostapor John Mercer em 1844. Mercer observou que o álcali forma uma série de derivados com a celulose e mesmo quando o álcali é lavado a celulose mostra-se alterada quimicamente. Conforme a concentração da solução de NaOH que reage com a celulose forma-se as celuloses alcalinas I e II. Tanto celulose alcalina I quanto celulose alcalina II são formas da celulose II. A celulose alcalina I absorve 1/2NaOH/glicose e a celulose alcalina II 1NaOH/glicose. A indústria de viscose/rayon utiliza como matéria-prima a celulose alcalina I. As outras indústrias de derivados da celulose utilizam celulose alcalina II. Solventes da celulose A celulose é um polímero que devido sua natureza polar é parcialmente cristalino e insolúvel nos solventes comuns. Mesmo os solventes específicos podem degradá-la durante isolamento. A dissolução da celulose pode ser conseguida de duas maneiras: (1) solubilização em solventes específicos e (2) transformação da celulose em um derivado (nitrato, acetato, xantato, etc) que é a seguir dissolvido em solvente apropriado. O nitrato de celulose é solúvel em acetona, o acetato de celulose em clorofórmio ou acetona e o xantato de celulose em hidróxido de sódio. Reações de degradação da celulose: Por degradação entende-se a quebra da ligação 1,4 glicosídica da molécula de celulose, ou seja, a quebra da ligação entre dois monômeros de glicose. A degradação produz moléculas com grau de polimerização menor, afetando, portanto, as propriedades que dependem do comprimento da cadeia molecular da celulose, tais como viscosidade e resistência mecânica. Os vários tipos de degradação sofridos pela celulose podem ser agrupados nas seguintes classes: - degradação hidrolítica; - degradação oxidativa; - degradação microbiológica; - degradação cujas causas não se enquadram em nenhuma das três classes anteriores. Degradação hidrolítica: A degradação hidrolítica pode ocorrer em meio ácido e em meio alcalino. A hidrólise ácida é bastante dependente do pH e, se a concentração do ácido for alta, sua velocidade é apreciável, mesmo em temperaturas abaixo de 100°C. A hidrólise alcalina, por sua vez, ocorre essencialmente de duas maneiras: - à temperatura superior a 150°C, mesmo em soluções relativamente concentradas de álcali; - à temperatura acima de 70°C, onde o ataque na unidade final redutora da molécula de celulose resulta na retirada de uma glicose na forma de ácido sacarínico. Essa reação denominada polimerização terminal, continua até se formar, no término da cadeia de celulose, um grupo carboxílico que estabiliza a celulose quanto a sua degradação. Degradação oxidativa: A celulose é facilmente oxidada, sendo os grupos hidroxilas e aldeídicos os pontos mais susceptíveis ao ataque. A maioria dos processos de oxidação á ao acaso e leva, principalmente, à introdução de grupos carbonilas e carboxilas em várias posições das glicoses da cadeia de celulose. As ligações glicosídicas ativadas pelos grupos introduzidos na cadeia de celulose podem sofrer degradação em meio alcalino ou ácido. Portanto, a degradação oxidativa consiste em uma oxidação seguida de uma degradação hidrolítica. A celulose oxidada (oxicelulose) pode conter quantidade, natureza e distribuição variada de grupos oxidados, dependendo do tipo de agente oxidante usado e das condições de reação empregadas. Alguns oxidantes têm ação específica, atacando e formando apenas determinados grupos (clorito e periodato). Outros agentes oxidantes são menos específicos, como o cloro e hipoclorito. O dióxido de cloro, ao contrário dos outros oxidantes, possui pouco reatividade com relação à celulose, fato importante no seu uso como agente alvejante não-degradante. Degradação microbiológica: 18 A degradação biológica da celulose consiste em uma hidrólise enzimática catalisada pela celulase, que é uma enzima produzida amplamente por fungos e bactérias. A degradação enzimática é bastante semelhante à degradação hidrolítica. Porém, no primeiro caso, ao contrário do que ocorre no segundo, o ataque é localizado, devido às moléculas de enzima serem grandes e, portanto, não poderem se difundir prontamente na celulose. Isso também contribui para o fato de que, na degradação microbiológica, embora haja perda de resistência da celulose, conforme a degradação se dá, esta não é acompanhada por uma grande diminuição da massa e do grau de polimerização da celulose. Outros tipos de degradação: Dentre os outros tipos de degradação que a celulose pode sofrer, os mais importantes são: a degradação pela luz e a por efeito térmico. - Ação do calor: A celulose pode ser aquecida sem perdas a medida que a temperatura esteja em torno dos 120°C, todavia se deixarmos sob uma prolongada exposição a essa temperatura pode causar um escurecimento em virtude da ausência de oxigênio. Sob temperaturas elevadas, se produz uma degradação, que se torna mais sensível a 140-150°C. As fibras tornam-se mais frágeis e perdem a maioria de suas propriedades físicas. A 200°C, a celulose perde a sua estrutura fibrosa, e a 325°C ocorre a destilação. - Ação da luz: A luz produz uma intensa degradação da celulose, que se traduz nas mesmas modificações, que sofre sob ação do calor (diminuição do grau de polimerização, oxidação, etc). A exposição de um papel durante 2 horas sob ação de raios ultravioletas conduz a uma queda de todas as características em torno de 70%. Derivados da celulose: Ésteres de Ácidos Inorgânicos: A celulose é tratada com certos ácidos inorgânicos tais como nítrico, sulfúrico e fosfórico. Um dos pré-requisitos é que os ácidos usados resultem em forte inchaço da celulose, penetrando para o interior de sua estrutura. A esterificação é uma reação de equilíbrio típica na qual um álcool e um ácido reagem para formar éster e água. Dos ésteres inorgânicos, nitrato de celulose é o único produto comercialmente importante. Nitrato de celulose: Nitrato de celulose é usualmente preparado em mistura nitrificante contendo, além do ácido nítrico, o ácido sulfúrico que funciona como catalisador. A concentração do ácido nítrico na mistura é usualmente 20-25%. O grau de nitração pode ser regulado por mudanças no conteúdo de água. Exemplos da solubilidade e usos de nitratos de celulose são dados na tabela que segue. Como subproduto do processo de nitração algum sulfato de celulose também é formado. Os grupos sulfato devem ser removidos por vários tratamentos e o ácido sulfúrico formado removido por lavagem porque eles resultam em instabilidade do nitrato de celulose. Tabela 1 - Nitratos de celulose comerciais Solventes Aplicações etanol Plásticos ésteres, etanol éter, álcool Laquês ésteres Filmes, cimentos acetona Explosivos Sulfato de celulose: A celulose sulfato pode ser preparada por uma variedade de combinações de reagentes, a saber: - ácido sulfúrico/etanol, propanol, butanol; - ácido sulfúrico fumegante/ trióxido de enxofre; - trióxido de enxofre/dióxido de enxofre, dimetilformamida, dissulfeto de carbono; - ácido clorosulfônico/dióxido de enxofre, piridina; O produto resultante é ácido porque somente uma valência do enxofre é ocupada para a formação do éster. Sulfatos de celulose são solúveis em água e são usados como agentes espessadores. Outros ésteres inorgânicos de celulose: Muita atenção tem sido dedicada à preparação de fosfatos de celulose por causa de suas propriedades de abafador de chama e pelo uso potencial em indústrias têxteis. A fosforilação pode ser conseguida de várias maneiras. Por exemplo, pelo aquecimento da celulose em altas temperaturas com uréia líquida e ácido fosfórico. Outros derivados da celulose contendo fósforo incluem os fosfitos,fosfinatos e fosfonitos. Ésteres do ácido bórico podem também ser preparados. Ésteres de Ácidos Orgânicos Acetato de celulose: O acetato de celulose substitui o nitrato de celulose em muitas aplicações, como por exemplo, na manufatura de filmes fotográficos de segurança. Quando uma solução de acetato de celulose é passada através de finos orifícios de uma fiandeira (extrusão) e o solvente evaporado, são produzidos filamentos sólidos. Acetato de rayon é preparado a partir desses filamentos. Algumas aplicações e solventes de acetatos de celuloses comerciais são resumidos na Tabela 2. 19 Tabela 2 - Acetatos de celulose comerciais Solventes Aplicações água-propanol-clorofórmio tecidos acetona laquês, plástico acetona acetato de rayon acetona filmes de segurança e de raio x cloreto de metileno-etanol lâminas de insulação cloreto de metileno tecidos A qualidade da celulose utilizada para a fabricação de acetato de rayon deve ser especial. Embora o algodão seja uma das melhores matérias-primas, a maioria dos acetatos de celulose são atualmente produzidos de polpa de madeira por causa da disponibilidade e dos preços competitivos. Tanto polpas kraft quanto sulfito pré-hidrolisadas são utilizadas. Alguns dos requerimentos de qualidade necessários são mostrados na Tabela 3. Outros ésteres de ácidos orgânicos: É conhecida uma variedade de outros ésteres orgânicos tais como propionato, butirato, acetato-butirato, propionato-isobutirato e propionato-valerato. Os ésteres mistos encontram muita aplicação na indústria de compostos plásticos, com boas propriedades repelentes de água e gordura. Existe também uma variedade de ésteres contendo nitrogênio tais como dialquil- diaminoacetato de celulose, N,N- dimetilaminoacetato de celulose e propionato-3-morfolina-butirato de celulose. Devido a presença de substituintes alcalinos, estes derivados, embora insolúveis em água, podem ser dissolvidos em condições ácidas. Esses derivados são usados no revestimento superficial de filmes fotográficos e na fabricação de comprimidos para indústria farmacêutica. Tabela 3 - Especificações típicas para polpas destinadas a acetilação. Alfa-celulose (%) > 95,6 Pentosanas (%) < 2,1 Viscosidade intrínseca (dm 3 /Kg) 550 - 750 Extraíveis em éter (%) < 0,15 Cinzas (%) < 0,08 Ferro (mg/Kg) < 10 Éteres Os éteres da celulose podem ser preparados pelo tratamento da celulose alcalina com vários reagentes tais como haletos de alquila ou arila, óxidos de alceno e compostos insaturados ativados por grupos que atraem elétrons. Uma variedade de produtos de importância comercial considerável têm sido desenvolvidos para diferentes usos (Tabela 4). A maioria dos éteres da celulose são solúveis em água e possuem geralmente propriedades semelhantes, mas devido a características específicas eles se completam em vez de competirem um com o outro. Tabela 4 - Éteres comerciais da celulose Éter Reagente Solventes Metil-celulose Cloreto de metila, Sulfato de dimetila Água Etil-celulose Cloreto de etila Solventes orgânicos Carboximetil-celulose Cloroacetato de sódio Água Hidroxietil-celulose Óxido de etileno Água Cianoetil-celulose Acrilonitrilo Solventes orgânicos Éteres de alquila: Os éteres mais simples da celulose são éteres de alquila. Os mais comuns manufaturados industrialmente são metil e etil-celulose. Metanol ou etanol são formados como subprodutos: Éteres da celulose são utilizados como aditivos em uma variedade de produtos. Suas aplicações incluem produtos agrícolas (agentes espessadores e dispersantes para sementes e pós) produtos alimentícios (agentes espessadores e estabilizadores) cerâmicas (agentes para aumentar viscosidade e resistência ao encolhimento), produtos tecnoquímicos (aditivos para aumento de fluxo) produtos farmacêuticos (comprimidos, suspensões, emulsões), cimentos (controle do tempo de assentamento) produtos têxteis (colas e revestimentos), produtos madeireiros (papel, compensado). Éteres de hidroxi-alquila: Os produtos mais comuns comercialmente são hidroxi-etil- e hidroxi-propil- celulose. A hidroxietil-celulose é usada como um espessador para tintas látex, como emulsão na polimerizaçao de acetato de polivinila, para colagem de papel, para aumentar a resistência a úmido do papel (junto com glioxal), na indústria de cerâmica, etc. 20 Hidroxipropil-celuloses são aplicados para usos similares à anterior mas esta é mais limitada. Devido ao fato da substituição por hidroxi-propil aumentar a termoplasticidade e a solubilidade em solventes orgânicos, ela pode ser usada como espessador de soluções orgânicas. Carboximetilcelulose: Carboximetilcelulose (CMC) é o mais largamente utilizado entre os derivados da celulose solúveis em água. CMC pode ser utilizada em uma variedade de produtos tais como detergentes, alimentos (protetor colóidal, estabilizador, aumentar capacidade de absorção e retenção de água), sorvetes, revestimentos de papéis, emulsões de tintas, fluídos para perfurações, cerâmicas, farmacêuticas e cosméticos. Cianometilcelulose: São usadas como a matriz resinosa para lâmpadas fosforescentes e eletroluminescentes. Cianometilcelulose feita de polpa kraft de madeira é usada para fazer papéis de insulação para transformadores. Papéis cianometilados possuem também boa estabilidade térmica e dimensional. Xantatos de celulose: A preparação de fibras de viscose para rayon e celofane é feita via xantato que é, portanto um importante derivado da celulose. No primeiro passo a celulose é tratada com hidróxido de sódio 18% entre 15-30 o C. Depois de removido o excesso de NaOH das fibras através de prensagem, a celulose alcalina é transformada em pequenos fragmentos e sujeita a envelhecimento para reduzir o grau de polimerização para valores entre 200 e 400. A xantação é então executada a 25- 30 o C por cerca de 3 horas. O xantato de celulose é dissolvido então em solução aquosa de hidróxido de sódio 40% resultando em um líquido viscoso de cor laranja chamado viscose. Depois de envelhecida, a solução de viscose é filtrada e forçada, através de uma fiandeira (por extrusão) onde a celulose é regenerada na forma de fios finos resultando em fibras de rayon. O celofane é preparado prensando-se a viscose, através de uma fenda estreita, para um banho de ácido onde são formadas as folhas de celofane. HEMICELULOSES As hemiceluloses são polissacarídeos de baixo peso molecular que estão intimamente associadas com a celulose nos tecidos das plantas; enquanto a celulose é formada pela repetição da mesma unidade monomérica, D-glicose, as hemiceluloses apresentam em sua composição várias unidades de açúcar e numa estrutura linear ou ramificada, representam de 20-30% do peso da madeira. Como a celulose, a maioria das hemiceluloses funciona como material de suporte na parede celular. Elas podem ser removidas do tecido original ou deslignificado por extração com álcali aquoso ou, menos freqüentemente, com água. Embora as hemiceluloses sejam usualmente consideradas como polissacarídeos estruturais, é conveniente incluir entre elas uns poucos outros polímeros das plantas tais como arabinogalactanas, os quais obviamente não têm funções definidas na árvore. As hemiceluloses de plantas vasculares terrestres são constituídas de relativamente poucos resíduos de açúcar, os mais comuns deles sendo D-xilose, D-manose, D-galactose, D-glicose, L- arabinose, ácido 4-0-metilglicurônico, ácido D-galacturônico e ácido D-glicurônico. Entre os constituintes mais raros estão L-ramnose, L-fucose e vários açúcares metilados neutros (Figura 7). Algumas das unidades de açúcar possuem apenascinco átomos de carbono e são denominadas pentoses; os polímeros formados pela condensação das pentoses são chamadas pentosanas; outras unidades de açúcar possuem seis átomos de carbono e são denominadas hexoses e os polímeros formados pela condensação são chamados hexosanas. As pentosanas e hexosanas são, portanto, anidridos poliméricos de pentoses e hexoses, com fórmulas gerais (C5H8O4)n e (C6H10O5)n, respectivamente, onde n é o grau de polimerização, o qual está em torno de 200. Deste modo, uma pentosana, que quando hidrolisada, leva apenas a unidades de xilose é denominada xilana; a que leva unidades de arabinose é denominada arabinana; da mesma maneira, a hexosana que, hidrolisada leva apenas a unidade de manose é denominada manana; a que leva a unidades de glicose é glucana, a que leva unidades de galactose é galactana e, assim por diante. Quando o polissacarídeo, ao ser hidrolisado, leva a unidades de arabinose e galactose, este em maior quantidade, é denominado arabinogalactana; o que leva a arabinose, ao ácido glucurônico e, principalmente, à xilose é denominado arabinoglucuronoxilana. 21 Figura 7 – Açucares componentes das hemiceluloses Embora relacionadas, as hemiceluloses de madeiras de fibra longa e fibra curta não são as mesmas, sendo os polissacarídeos das madeiras de fibra longa mais complexos, tanto quanto ao número de hemiceluloses presentes quanto às suas estruturas. Dentre as hemiceluloses, as arabinogalactanas ocorrem em pequenas quantidades, 1 a 3%, em todas as espécies. Glucomanana ocorre em pequenas quantidades, 2 a 5% em madeiras de fibra curta. Acetato de galactoglucomanana aparece em grandes quantidades em madeiras de fibra longa, cerca de 15 a 20%. Outra hemiceluloses importante, 4-0- metil-glucurono-arabinoxilana, aparece em quantidade equivalente a 10% em madeiras de fibra longa. Por outro lado, as madeiras de fibra curta mostram o acetato de 4-0-metilglucuronoxilana em grande quantidade, 20-35%. As xilanas são conseqüentemente, depois da celulose, os mais importantes carboidratos da madeira. A composição e estrutura das hemiceluloses nas madeiras de fibra longa diferem grandemente daquelas em madeiras de fibra curta. Diferenças consideráveis existem também no conteúdo e composição entre hemiceluloses do tronco, galhos, raízes e casca da árvore. Raios e células de parênquima geralmente possuem maior teor de hemiceluloses que as paredes das fibras. Existem também variações no conteúdo e composição das hemiceluloses de madeiras de tensão, de compressão e normal. Isolamento das hemiceluloses: As hemiceluloses são isoladas da madeira ou da polpa por tratamentos alcalinos. Excepcionalmente, arabinogalactanas podem ser removidas facilmente por água fria ou quente. Nestes casos, as hemiceluloses aparecem mais como extrativos. No caso de madeira de fibra curta, pode-se remover grande quantidade de hemiceluloses sem deslignificação prévia, enquanto que no caso das madeiras de fibra longa é necessária a deslignificação para se melhor isolar as hemiceluloses. Sabe-se que hemiceluloses e lignina se mantêm unidas por ligações fracas. A deslignificação da madeira conduz a holocelulose, que é a mistura dos seus carboidratos. A extração alcalina da holocelulose remove a maior parte das hemiceluloses. As xilanas são facilmente removíveis por álcali fraco enquanto as glucomananas precisam de soluções alcalinas mais fortes. Alguns componentes, principalmente parte das glucomananas são extraíveis somente quando se adiciona borato ao álcali (efeito de solvatação), visto que isso favorece a formação de um complexo que é facilmente removido por acidificação. Entretanto, os métodos de obtenção de holocelulose e a extração alcalina produzem alterações inevitáveis na quantidade de hemiceluloses. O isolamento de hemiceluloses que contenham grupos acetila pode ser realizado com sucesso pelo inchaço e extração da holocelulose com dimetil sulfóxido. Esta técnica preserva mais os grupos acetila. Nos extratos, as hemiceluloses podem ser isoladas por neutralização e precipitação com álcool. Para purificação posterior usam-se técnicas de fracionamento dos carboidratos. Os monossacarídeos separados podem ser determinados por cromatografia. Outras técnicas como as anteriormente citadas de metilação, oxidação com periodato, etc, podem ser utilizadas. Geralmente, a cromatografia, em suas diversas formas é usada para a caracterização dos produtos da hidrólise ácida de hemiceluloses isoladas. Isto é feito depois da hidrólise total (análise dos monossacarídeos) ou hidrólise parcial (análise dos oligossacarídeos). O método geral para a localização das ligações é a metilação completa seguida de hidrólise e identificação dos açúcares metilados (cromatografia gás-líquido-espectrometria de massa). Adicionalmente, pode se fazer a determinação em separado para os ácidos urônicos, pentosanas, grupos acetila e grupos metoxila. Localização das hemiceluloses: 22 Como as hemiceluloses são abundantes na madeira é importante conhecer sua localização na mesma. Normalmente a celulose constitui-se em 50 a 60% dos carboidratos de todas as células da madeira, à exceção das células de parênquima de madeiras de fibra curta que chegam a possuir 80% de acetato de 4-0-metilglucuronoxilana. Nas células parenquimatosas o teor de xilanas é tão alto que as xilanas chegam mesmo a mostrar cristalinidade. Sabe-se que as hemiceluloses ocorrem ao longo de toda a parede celular, desde M + P até S3. Entretanto, o teor delas é maior justamente em S1 e S3 e menor em S2. As xilanas são dominantes em S3. Tem-se evidenciado que durante os cozimentos químicos as hemiceluloses mudam de localização na parede celular e tornam-se mais intimamente associadas com a celulose. Isso ocorre para as xilanas no processo kraft e para as glicomananas em alguns dos processos sulfito. As hemiceluloses "in situ" são quase que totalmente amorfas, mas podem sofrer modificações químicas no cozimento ou isolamento, o que as torna mais cristalinas. Hemiceluloses das madeiras de fibras curtas (MFC): O-Acetil-4-O-Metilglucuronoxilana: Somente duas hemiceluloses podem ser isoladas em quantidades significativas pela extração direta da madeira. São elas as xilanas de madeira de fibra curta e as arabinogalactanas. Para o isolamento das xilanas de MFC, solução aquosa de hidróxido de potássio é o solvente preferido uma vez que ele assegura máximo rendimento com um mínimo de contaminação de glucomananas. Usualmente, 70 a 80% do total de xilanas na madeira pode ser isolado desta maneira. As xilanas das MFC são muito estáveis em solução alcalina em temperatura ambiente, e o produto obtido por extração é muito similar ao polissacarídeo nativo, exceto que ele é desacetilado. Para o isolamento quantitativo das xilanas de MFC, a madeira tem primeiro que ser deslignificada, depois a holocelulose resultante é extraída com álcali. Não existe um método completamente satisfatório para a preparação de holocelulose, e algumas perdas na fração de polissacarídeos são inevitáveis. Todas as MFC até hoje investigadas foram demonstradas conter o mesmo tipo de xilanas. O esqueleto do polissacarídeo consiste de aproximadamente 200 resíduos de -D-xilopiranose unidos por ligações glicosídicas (1-4). Algumas das unidades de xilose possuem uma cadeia lateral consistindo de um resíduo de ácido 4-0-metil-alfa-D-glucurônico, ligado diretamente na posição 2 da xilose. De cada 10 unidades de xilose, 7 contém um grupo O-acetil no C-2 ou mais freqüentemente no C-3. A presença dessa grande quantidade de grupos acetila aumenta a solubilidade das xilanas não somente pelo aumento da polaridade mas também pelo fato de tornar mais amorfa a estrutura dessahemicelulose. Glucomananas: As MFC contém somente de 3-5% de glicomananas. Para o isolamento dessas hemiceluloses, a holocelulose é primeira extraída com hidróxido de potássio aquoso, que removem quase todas a xilanas, mas deixa as glicomananas intactas. Extração subseqüente com hidróxido de sódio aquoso contendo borato produz uma glicomanana que ainda possui contaminação de xilanas. A purificação é facilmente conseguida via tratamento com hidróxido de bário que forma complexos com as glicomananas. Hemiceluloses Extraíveis com Água: Quando a serragem de MFC é extraída diretamente com água, aproximadamente 1% da madeira pode ser recuperada na forma de uma mistura de polissacarídeos solúveis em água. Alguns desses polímeros foram isolados por Adams na madeira de Acer saccharum e identificados como glicomananas, 4-O-metilglicuronoxilanas e uma arabinogalactana de natureza ácida. Galactana de Madeiras de Tensão A única hemicelulose de madeira de tensão já estudada foi a galactana isolada por Meier, da madeira de Fagus silvatica. A homogeneidade deste produto é questionável uma vez que ele continha não somente galactose, mas também quantidades consideráveis de ácido urônico e ramnose bem como quantidades menores de resíduos de arabinose e xilose. Ficou evidenciado pelos resultados de Meier que este novo tipo de hemiceluloses contém resíduos de -D-galactopiranose unidas por ligações (1-4) e (1-6), mas não se sabe ainda se os resíduos de ácido urônico e ramnose são ou não partes integrantes da molécula. Galactana da madeira de tensão difere de todas as hemiceluloses já descritas bem como das galactanas presentes nas madeiras de compressão e das chamadas galactanas pécticas. Estruturalmente, ela parece estar relacionada com certas gomas tais como aquelas presentes em espécies do gênero Kaya. Hemiceluloses de madeiras de fibra longa (MFL): Arabino-4-O-Metilglicurono-Xilana: Diferentemente das MFC, as MFL não podem ser extraídas diretamente com álcali para o isolamento das hemiceluloses. A razão para este fato é o mais alto conteúdo de lignina na parede celular das MFL, resultando num alto grau de incrustação dos polissacarídeos. Para o isolamento das hemiceluloses de MFL, a madeira tem primeiro que ser deslignificada, o que é usualmente feito por tratamento da serragem com clorito. Dentre todos os polissacarídeos presentes na madeira normal, a arabino-4-O-metilglucuronoxilana é o mais difícil de ser isolado puro e quantitativamente. Contrariamente ao que se pensava no passado, as xilanas de MFL não possuem grupos acetila. Não se sabe ainda se esta hemicelulose é completamente linear ou se apresenta ramificações. 23 Estudos mais recentes demonstram que as xilanas de MFL possuem uma unidade de D-ramnose e de ácido D- galacturônico por cadeia de xilana. As xilanas representam entre 5 e 10% do peso das MFL. O comprimento das cadeias de xilanas não é conhecido com exatidão. Embora a quantidade de xilanas seja menor que a de galactoglicomananas nas MFL, usualmente encontra-se mais xilanas do que galactoglucomananas na polpa kraft dessas madeiras. Esse fenômeno é explicado pela reprecipitação das xilanas sobre a fibra durante o processo de polpação. A maior parte das glucomananas é solubilizada. As principais diferenças entre as xilanas de MFL e de MFC são as seguintes: As xilanas de MFL não possuem grupos acetila As xilanas de MFL possuem grupos L-arabinofuranosil As xilanas de MFL possuem 2 vezes mais grupos ácidos que as de MFC (4-o-ácido metil--D- glucopiranosilurônico). Galactoglucomananas: Mesmo sendo as hemiceluloses predominantes em todas as MFL, as galactoglucomananas foram os últimos polissacarídeos da madeira a serem descobertos, a presença delas sendo anunciada em 1956 e 1960 por J.K. Hamilton e colaboradores. O principal polímero obtido com as xilanas quando a holocelulose é extraída com hidróxido de potássio é um polissacarídeo solúvel em água contendo resíduos de galactose, glicose, e manose na razão 1:1:3. Outras galactoglicomananas com uma composição de açúcares um pouco diferente está também presente nesta fração. As galactoglucomananas são as hemiceluloses mais importantes das MFL, representando cerca de 15-20% do peso da madeira. Arabinogalactanas do Gênero Larix: A extração direta com água do cerne da madeira de membros do gênero Larix resulta no isolamento de 5-30% de arabinogalactanas solúveis em água. As espécies Larix occidentalis e Larix dalurica são especialmente ricas deste polissacarídeo. As arabinogalactanas são os mais complicados dentre todos os polissacarídeos da madeira já estudados, sendo altamente ramificadas. Estudos feitos por um grande número de pesquisadores demonstram que todas as espécies do gênero Larix contêm a mesma arabinogalactana. As arabinogalactanas são hemiceluloses extras celulares, i.e., elas se localizam fora da parede celular. Elas são sintetizadas pelas células do raio do alburno que posteriormente se transforma em cerne, um pouco antes dessas células morrerem. Assim, elas se localizam no lúmen dos traqueídeos do cerne. Essa é uma das razões porque ela é facilmente removida pela água. Por extensão pode se dizer que a arabinogalactana constitui-se num extrativo da madeira. Não se tem notícia de que esta hemicelulose tenha nenhuma função na planta. As arabinogalactanas são largamente solúveis em água, mesmo quando extraídas de grandes pedaços de madeira (cavacos). Elas são também extremamente sensíveis à hidrólise ácida. As fábricas de celulose que usam espécies do gênero Larix extraem essas hemiceluloses dos cavacos por lavagem com água em contra-corrente e depois recuperam as hemiceluloses. Devido suas baixas viscosidades, o principal uso dessas hemiceluloses é na indústria gráfica para abaixar a tensão superficial de soluções aquosas (agente tensoativo). Para a polpação comercial da madeira de espécies do gênero Larix é necessária a remoção preliminar das arabinogalactanas que causam consumo dos reagentes. XILANAS DO BAMBU: O bambu é um tipo de gramínea que cresce muito rápido. Esta monocotiledônea pode apresentar algumas vezes cerca de 35% de xilanas. Entretanto, as xilanas do bambu são diferentes daquelas de MFL e MFC. Ela apresenta grupos acetila como as xilanas de MFC, mas apresentam também L-arabinose como as xilanas de MFL. Ela apresenta 1 ácido 4-O-metil glicopiranosil urônico: 1 L-arabinofuranose: 25 D-Xilopiranose. Função das hemiceluloses: A função primária da celulose e da lignina é obviamente imprimir altas resistências a tensão e compressão à árvore, respectivamente. A função das hemiceluloses parece menos óbvia. É possível que elas sirvam como um intermediário entre celulose e lignina, talvez facilitando a incrustação das microfibrilas. É importante notar que os poucos materiais fibrosos existentes na natureza que não possuem lignina tais como algodão, também não possuem hemiceluloses enquanto todas as plantas que contém lignina também contém hemiceluloses. Existe também a possibilidade que as hemiceluloses influenciam no teor de umidade da planta viva. É interessante notar que todas as hemiceluloses importantes da madeira são intrinsecamente solúveis em água no estado nativo e portanto muito hidrofílicas. Provavelmente não existe nenhuma ligação química entre celulose e hemiceluloses, mas suficiente adesão mútua é fornecida pelas pontes de hidrogênio e forças de Van der Waals. Ligações químicas existem, obviamente, entre hemiceluloses e lignina. Importância prática das hemiceluloses: As hemicelulose são importantes na fabricação de polpa celulósica, pois a sua preservação além de ser desejável na fabricação do papel, aumentao rendimento em produção de celulose. A preservação das hemiceluloses nos cozimentos químicos é a melhor forma de se aumentar rendimento. 24 As hemiceluloses são mais hidrofílicas em geral, as polpas mais ricas em hemiceluloses, sobretudo as não ligadas a celulose e a lignina, se refinam muito rapidamente. As polpas mais ricas em hemiceluloses provocam pouca drenagem sobre a máquina. Nota-se que a água da polpa fica fortemente absorvida nas fibras e são dificilmente extraídas. Na fabricação do papel as hemiceluloses colaboram no aumento das resistências que dependem da ligação entre fibras, sendo favoráveis para obter um papel resistente a tração e arrebento. O teor de hemicelulose influi igualmente sobre a resistência ao rasgo e as dobras duplas. As fibras que são mais ricas em hemiceluloses são menos flexíveis, então, dá uma resistência as dobras duplas mais baixas. Por outro lado, as hemiceluloses presentes nas polpas são um dos fatores importantes de perdas no branqueamento com o tempo, por amarelecimento. A mudança de cor pode ocorrer devido a grande reatividade das hemiceluloses com soluções que contenham bases; também são indesejáveis na produção de derivados de celulose, pois prejudicam as operações de fabricação e a qualidade do produto final. Algumas hemiceluloses como as arabinogalactanas podem vir a se constituir em subprodutos da fabricação da celulose. Depois de isoladas elas são utilizadas nas indústrias de tintas como agentes tensoativos. Tabela 5 – Diferenças entre celulose e hemiceluloses Celulose Hemicelulose Consiste em unidades de glicose ligadas entre si Consiste em várias unidades de açúcar (hexoses e pentoses) ligadas entre si Tem grau de polimerização elevado Tem grau de polimerização baixo Forma arranjo fibroso Não forma arranjo fibroso Leva a formação de regiões amorfas e cristalinas Leva a formação somente de regiões amorfas É atacada lentamente por ácido mineral diluído quente É atacada rapidamente por ácido mineral diluído quente É insolúvel em álcali É solúvel em álcali Outros carboidratos da madeira: Além da celulose e hemicelulose, a madeira contém outros polissacarídeos como pectina e amido. A pectina é mais abundante na casca que na madeira, onde se forma somente nos estágios iniciais do desenvolvimento celular. A hidrólise da pectina usualmente fornece ácido galacturônico e menores quantidades de arabinose e galactose. A pectina consiste de unidades de ácidos -D-galacturônico unidas por ligações (1-4). A molécula possui alto peso molecular e as vezes também possui L-arabinose e D-galactose. A sua estrutura geral é ainda desconhecida. O amido é o principal polissacarídeo de reserva da madeira. Ele consiste de dois componentes, amilose e amilopectina, ambos com alto peso molecular, especialmente a amilopectina que tem peso molecular maior que o da celulose. A amilose é composta de -D-anidro-glicopiranose unidas por ligação (1-4). A amilopectina também consiste de unidade de -D-anidroglicopiranose, unidas por ligações (1-4) e (1-6), mas que possui inúmeras ramificações. Em geral a proporção entre amilose e amilopectina é de 1:2. LIGNINA A lignina foi originalmente descoberta por Anselm Payen em 1838 após tratamento da madeira com ácido sulfúrico concentrado. O nome lignina vem do latim "lignum" que significa madeira. Em 1897, Peter Klason estudou a composição dos lignossulfonatos, provenientes da polpação sulfito da madeira, e lançou a idéia de que a lignina é quimicamente relacionada com o álcool coniferílico. Em 1907, ele propôs que a lignina era uma substância macromolecular, e 10 anos mais tarde, que era composta por unidades de álcool coniferílico unidos por ligações éter. Hoje em dia sabe-se que a lignina é um constituinte da parede celular, de natureza polimérica natural e tridimensional, extremamente complexa, proveniente de uma polimerização desidrogenativa (catalisada por enzimas), via radical livre, dos precursores do álcool cinamílico. É constituída de unidades de fenilpropano, unidas por ligações éter (C- O-O) e carbono /carbono (C-C). A lignina é a fração não-carboidrato da madeira livre de extrativos, compreende de 20 a 40% do peso da madeira, não ocorre sozinha na madeira e é impossível de ser removida quantitativamente da estrutura da madeira, sem considerável degradação. A lignina é um polímero aromático constituído de um sistema heterogêneo e ramificado, sem nenhuma unidade repetidora definida. A lignina, em seu estado natural, é denominada protolignina, muito diferente, pelo menos em peso molecular, da lignina isolada da planta, através de qualquer procedimento. Tal fato se deve à dificuldade de se isolar a lignina, de maneira intacta. O papel biológico da lignina nas plantas vivas é formar, juntamente com a celulose e outros carboidratos da parece celular, um tecido de excelente resistência e durabilidade. Os tecidos lignificados, como a madeira, são comparáveis às fibras de reforço coladas com plástico, nas quais a lignina representa o cimento, e a celulose, as fibras de reforço. A lignina incrusta o espaço intercelular e toda e qualquer abertura ou cavidade das paredes das células, após a deposição da celulose e hemicelulose. Auxilia na redução das mudanças dimensionais quando as paredes absorvem água e conferem rigidez e dureza ao conjunto de cadeia de celulose, conferindo coesão à madeira. Por sua característica fenólica, a lignina age como fungicida, protegendo a madeira contra microorganismos. 25 Na planta viva, a lignina está depositada na parede celular e no espaço entre as células (lamela média); embora a maior quantidade de lignina exista na parede secundária da fibra, a maior concentração se verifica na lamela média e nos cantos das células. A lignina é depositada nas diferentes regiões da célula durante o processo de lignificação, que coincide com a morte das células; por isso, a lignina se torna o produto final e irreversível do metabolismo da planta. A lignina ocorre na maioria das plantas, mas a sua composição não é idêntica em todas elas. Existem diferenças consideráveis entre as madeiras de fibra longa, madeiras de fibra curtas e gramíneas. A lignina é o único componente da madeira que absorve luz ultravioleta. Para a fabricação de celulose, através de processos químicos, a lignina é talvez o componente menos desejável da madeira, porque origina compostos coloridos que escurecem o papel. Originalmente, a lignina possui coloração branco ou amarelo-claro; devido a sua reatividade, sofre reações de seus grupos cromóforos tornando-se fortemente colorida. Para evitar o escurecimento ou o amarelecimento do papel, tenta-se retirar ao máximo a lignina nos processos de polpação; simultaneamente, boa parte dos carboidratos é também removida. Atualmente, dezenas de milhões de toneladas de lignina são queimadas ou perdidas nos efluentes das fábricas de celulose. Um melhor aproveitamento dos sub produtos da lignina representaria uma grande fonte potencial de subprodutos orgânicos. Atualmente, já são utilizados alguns derivados da lignina na indústria química, atuando como colóides industriais na fabricação de dispersantes, adesivos, extensores e agentes geleificantes. A lignina, quando submetida à temperatura, amolece, torna-se pegajosa e apresenta como adesivo. Tal fato se deve ao aumento da área de contato, aliado a interdifusão das cadeias poliméricas, causada pelo movimento molecular. As propriedades termoplásticas da lignina desempenham uma função importante na fabricação de papel e papelão não branqueados e, principalmente, na produção de chapas de fibras de madeira. As propriedades termoplásticas e adesivas da pasta paraformação da chapa são determinantes nas características finais do produto. Biossíntese da lignina: Acredita-se que a síntese da lignina foi uma adaptação básica e uma etapa fundamental na evolução das plantas terrestres superiores. As plantas primitivas tais como fungos e algas não possuem lignina, aparentemente porque seus aglomerados de células não diferenciadas não requerem a ação protetora e de suporte que é oferecida pela lignina. Especula-se que a lignina originou como agente antimicrobial e que ao longo da evolução a lignina começou a desempenhar um papel no suporte mecânico e no transporte de água na planta. Ela permitiu que as plantas aumentassem em diâmetro e altura uma vez que os tecidos lignificados eram capazes de resistir às forças de compressão e curvatura. Biossíntese da Lignina e Metabolismo Secundário na Planta: A lignina compartilha rotas biossintéticas comuns com uma variedade de metabólitos secundários, tais como os flavonóides, a suberina, os coumaranos, os estilbenos e as lignanas. Todos estes compostos são derivados da fenilalanina, o precursor de todas as rotas biossintéticas que partem da estrutura fenilpropanóide (C9). É possível que as rotas biossintéticas que partem dos intermediários comuns à lignina possam afetar a biossíntese da lignina, mas não se sabe como estas rotas competidoras são reguladas, nem a extensão da especificidade por um dado tecido de vegetal das principais rotas metabólicas. São necessários mais estudos direcionados ao esclarecimento do desenvolvimento específico dessas rotas biossintéticas relacionados na planta. Biossíntese dos Precursores da Lignina: Como a maioria dos constituintes aromáticos das plantas, os precursores da lignina são formados via a rota do ácido shiquímico (Figura 8). O ácido shiquímico é formado pela fusão do ácido fosfoenolpirúvico com a eritrose-4-fosfato, sendo estes intermediários formados a partir da glicose, o produto da fotossíntese na planta. O ácido shiquímico se torna a pedra fundamental na síntese dos aminoácidos L-tirosina e L- fenilalanina, que são formados por aminação redutiva via o ácido prefênico. Os aminoácidos são o ponto de partida do metabolismo enzimático fenilpropanóide (a rota do ácido cinâmico). As enzimas de desaminação (desaminases) subseqüentemente convertem os dois aminoácidos em seus respectivos ácidos cinâmicos (Figura 9). Hidroxilação passo a passo por hidroxilases e eventual metilação por 4-0-metiltransferases transformam os ácidos cinâmicos em três álcoois p- hidroxicinamílicos que são considerados os precursores da lignina. São eles os álcoois p-coumarílico, coniferílico e sinapílico (Figura 10). CH CHCOOH NH 2 2 2 2NH CHCOOHCHHO FENILALANINA TIROSINA O O 2 C C C C C C H HH H H GLUCOSE HO HO OH HO H H HO COOH 0H 0H ÁCIDO SHIQUÍMICO HO COOH CH COCOOH2 ÁCIDO PREFÊNICO Figura 8 - Rota do ácido shiquímico. 26 2 2 2 NH -CHCOOHCHHO -CH=CHCOOH FENILALANINA TIROSINA NH -CHCOOHCH2 HO -CH=CHCOOH ÁCIDO CINÂMICO ÁCIDO p-COUMÁRICO FENOLASES FENILALANINA AMÔNIA LIASE TIROSINA AMÔNIA LIASE Figura 9 - Rota do ácido cinâmico A extensão da hidroxilação e metilação dos ácidos cinâmicos tem um impacto significativo na estrutura da lignina porque ela determina se uma lignina vai ser do tipo guaiacil ou guaiacil-siringil. O álcool coniferílico é a base da lignina guaiacil, enquanto o álcool sinapílico é a base da lignina siringil. Higuchi e colaboradores fizeram estudos extensivos sobre a extensão da substituição dos precursores da lignina por grupos de metoxila. Eles determinaram que uma das razões para a maior proporção de unidades siringil na MFC do que na MFL é a maior afinidade das 4-0- metiltransferases da MFC para com o ácido ferúlico, o precursor do álcool sinapílico. Portanto, se torna aparente que a especificidade e atividade de enzimas são os fatores decisivos para determinar se a planta vai ser lignificada com guaiacil (lignina de MFL) ou guaiacil-siringil (lignina de MFC). Os álcoois p-hidroxicinamílicos diferem grandemente dos precursores sacarídicos com respeito a composição elementar, solubilidade em meio aquoso e reatividade química com relação a sistemas de enzimas oxidantes. A baixa solubilidade e a alta reatividade em relação a oxidantes fazem com que seja crucial para a célula estabilizar os álcoois p- hidroxicinamílicos contra a polimerização prematura e o término de suas atividades de sustentação da vida. Esta estabilização é conseguida através da formação de glicosídeos entre monômeros fenólicos e unidades de açúcar. A primeira elucidação estrutural do glicosídeo coniferina, o glicosídeo formado por -D-glicose e álcool coniferílico, mostrado na Figura 11, é creditado a Tiemann e Mandelsohn. A coniferina é caracterizada pela sua alta solubilidade em meio aquoso. Ela também possui uma alta estabilidade contra agentes oxidantes porque o grupo sensível à oxidação, a hidroxila fenólica, está protegido por uma ligação glicosídica. Este glicosídeo pode ser livremente armazenado e transportado pela planta sem o risco de uma polimerização prematura da metade fenólica. Do ponto de vista da bioquímica, é importante que todas as enzimas que participam da formação dos álcoois p- hidroxicinamílicos sejam tecido-específicos e localizados predominante ou exclusivamente nas células do xilema em processo de lignificação. Acredita-se que os glicosídeos encontrados na seiva do câmbio das MFL servem, portanto, como reservatório dos ácidos p-hidroxicinamílicos que são translocados até os sítios de deposição da lignina nesta sua forma solúvel. A liberação do álcool p-hidroxicinamílicos é feita pela célula em processo de lignificação através da enzima - glicosidase. Foi comprovada histoquimicamente pela reação colorimétrica indicadora da presença de -glicosidase presa na parede celular de células em processo de lignificação e sua ausência nas células do câmbio. Não se tem certeza ainda como os glicosídeos são transportados através da membrana celular para entrar em contato com a -glicosidase na parede celular, mas estudos recentes apontam para uma participação das vesículas de Golgi. 27 CH CH COOH OH ÁCIDO p-COUMÁRICO ÁCIDO FERÚLICO ÁCIDO SINÁPICO 1. Fenolases 2. Metiltransferases 1. Fenolases 2. Metiltransferases CO3H 3OCH3 OCH OH COOH CH CH CH CH COOH OH OH CH CHCH CH OH OCH3 OCH3H3CO OH CH CH CH2OH OH2CH OH2CH ÁLCOOL CONIFERÍLICO ÁLCOOL p-COUMARÍLICO ÁLCOOL SINAPÍLICO 1. Ligase Co A 2. Redutase 3. Desidrogenase 1. Ligase Co A 2. Redutase 3. Desidrogenase 1. Ligase Co A 2. Redutase 3. Desidrogenase Figura 10 - Desaminação, hidroxilação e metilação dos ácidos cinâmicos para formar os precursores da lignina, os álcoois p-coumarílico, coniferílico e sinapílico. CH CHCH OH2 OCH3 OH OH OH CH2OH O O Figura 11. Estrutura da coniferina, o glicosídeo do álcool coniferílico. Principais sub estruturas da lignina: Os resultados das reações de degradação e análise dos grupos funcionais de ligninas elucidaram as principais subestruturas da lignina, mostradas na Figura 12. Deve-se mencionar que as ligninas também contêm uma grande variedade de subestruturas secundárias. Mais de dois terços das unidades de fenilpropano da lignina são unidas por ligações éter e o restante por ligações carbono- carbono. As proporções de cada uma das ligações são apresentadas na Tabelas 5 e 6 para uma MFL e uma MFC, respectivamente. Pode se verificar que a mais importante ligação interunitária
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