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Caderno Penal III prof. Hermes Guerrero

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO E PROCESSO PENAL
ALUNO: Raimundo Jorge Ivo Metzker
NOTAS DE AULAS DE DIREITO PENAL III – DIN 103
Prof. Hermes Vilchez Guerrero
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[28/02/2007]
INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
Textos para leitura
Aníbal Bruno – Crimes Contra a Pessoa
Heleno Fragoso – Parte Geral e Especial do Código Penal
Código é um conjunto de normas sistematizadas, com institutos agrupados segundo um critério, diferentemente de consolidação de leis. No Código Penal, as normas estão agrupadas segundo o bem jurídico tutelado.
PLANO DE ENSINO
O curso será estruturado no estudo dos tipos penais, com seus elementos subjetivos e objetivos, das causas da exclusão da ilicitude e da culpabilidade.
[02/03/07]
A Constituição da República reza que não há crime sem lei que o defina e nem pena sem prévia comunicação legal, segundo o inciso XXXIX. Este é princípio da reserva legal� no qual o Código Penal se apóia. A parte especial do Código Penal tem 11 títulos, que são divididos em capítulos que, por sua vez, são divididos em seções. 
CRIMES CONTRA A VIDA
São quatro os crimes contra a vida. Os mais antigos e conhecidos são o homicídio, abortamento, infanticídio, instigação ou auxílio a suicídio e genocídio. Este último foi introduzido pela lei nº. 2.889, de 01/10/56, acolhendo na lei uma disposição celebrada em um tratado internacional sobre o assunto.
Os textos dos tipos penais das Ordenações Filipinas eram muito prolixos. Quanto mais se escreve sobre um assunto, menos objetivo se torna a escrita. O Código Penal é muito bem escrito justamente por ser conciso e objetivo. O art. 121, por exemplo, é claro quando diz que o crime é “matar alguém”. Sabemos todos que alguém é todo aquele nascido de uma mulher. Homicídio, portanto, significa matar um ser humano e para o direito penal, a vida começa com a concepção e ela é protegida até o último suspiro de alguém, independentemente da idade.
O sacrifício da vida antes do parto nunca será homicídio. Aqui é abortamento. Quando a vida é sacrificada após o parto é infanticídio (art. 123).
O induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio está tratado no art. 122.
Quando estudarmos o crime é importante será classificá-lo quanto ao bem jurídico ofendido, os sujeitos passivo e ativo do crime, o objeto material, os elementos subjetivos e objetivos, enfim, fazer a classificação completa.
HOMICÍDIO
O art. 121 aborda três tipos de homicídio:
§ 1º: homicídio privilegiado.
§ 2º: homicídio qualificado.
§ 3º: homicídio culposo.
Somente quatro tipos de crimes vão a julgamento pelo tribunal. A previsão do tribunal do júri é constitucional, conforme art. 5º, XXVIII da Constituição Federal. A competência do júri é para julgar os crimes dolosos contra a vida, ou seja, o abortamento, instigação ao suicídio, infanticídio, homicídio (genocídio). Não há como, aprioristicamente, designar o tipo do crime. Quem decidirá esta questão é o tribunal do júri mesmo que influenciado por todas as circunstâncias da época do julgamento. O homicídio é simples quando ele não é privilegiado ou qualificado, sendo a classificação feita por exclusão.
Há que se interpretar todos os termos dos artigos. O § 1º fala de “valor social”, que significa tudo aquilo que tem importância coletiva. “Valor moral” é tudo aquilo que importância individual: o valor social reveste legitimamente o interesse dos outros e o valor moral só é importante para o agente. “Logo em seguida”, do § 1º do art. 121, quer dizer a primeira oportunidade que o agente teve para praticar o ato.
O art. 28 trata de emoção e paixão. A emoção é alteração súbita dos sentidos, enquanto a paixão tem uma conotação de sentimento perene. Como na classificação do homicídio, quem estabelecerá se o agente agiu sob valor moral ou valor social, com emoção ou não, são os jurados do tribunal do júri.
O homicídio qualificado é tratado pelo art. 121, § 2º. É um crime adjetivado, revestido de características. O homicídio qualificado é um homicídio simples com características que revelam alto grau de censurabilidade social, dos meios, modos, circunstâncias ou profissão do agente. Crime premeditado, no Brasil, não mais ou menos grave do que o homicídio qualificado. Todo crime premeditado é qualificado.
São os incisos do art. 121, §2º que qualificam o crime.
I – exemplos de motivo torpe são a paga ou recompensa pelo crime. Motivo torpe é relevante para o agente, porém trata-se de um motivo abjeto, que causa repugnância.
II – Motivo fútil é motivo insignificante. Doutrinariamente é a quase ausência de motivo.
III - “tortura” é um meio insidioso. É um crime praticado desnecessariamente�. 
IV – O inciso I trata do motivo, o inciso II, do meio. Este inciso tratará do “modus operandi”, isto é, o Código Penal pune a maneira como o crime é cometido. Para existir um crime de traição é preciso que haja entre agente e vítima uma relação de confiança, caso contrário, não há que se falar em traição. Não basta ao promotor de justiça dizer que houve traição ou dissimulação: efetivamente ele deverá provar ou demonstrar, nos caso concreto, os elementos do crime, a confiança, e os motivos para a traição. Vale dizer, buscar os motivos pelos quais a vítima confiasse no agente que impossibilitasse ou dificultasse sua defesa.
V – Execução. Alguém desfalcou um banco e há uma testemunha que é assassinada pelo agente daquele crime. O homicídio terá sido praticado para que o primeiro crime ficasse oculto. Uma outra situação é o conhecimento do desfalque por todos e, ainda assim, a testemunha é assassinada. Neste caso, o crime terá sido para impunidade do agente.
Execução de outro crime. 
CASO DE LATROCÍNIO�. Vejam dois exemplos: no primeiro, um motorista dirige-se a seu carro e quando abre a porta do veículo, ele é abordado por um indivíduo armado, assasina-o e, subtraindo a chave do automóvel, rouba-o. No segundo caso, o indivíduo armado com revólver aborda o motorista, tenta constrangê-lo a dar-lhe as chaves, mas o proprietário do carro resiste, entra em confronto com o meliante que termina alvejando o outro com um disparo da arma, matando-o. É de se inquirir qual o bem jurídico que o agente pretendia agir nos dos casos. No primeiro caso, trata-se de homicídio, art. 121, CP, seguido de furto, configurando concurso material de crimes. NO segundo caso, a intenção é o patrimônio, art. 157, CP. É necessário verificar, no caso concreto, se é concurso material ou não. Também, é importante saber que, pela Súmula 603�, a competência para o julgamento do latrocínio é do juiz singular.
A CULPA NO DIREITO PENAL
A culpa é um instituto do direito civil quer o direito penal tomou emprestado e utiliza até hoje. Nelson Hungria, em “Os Pandectistas do Direito Penal” define os institutos dos direitos civis no direito penal. O Código Penal não define o que seja culpa. Só define quando há culpa, quando há negligência, imperícia e imprudência. Há uma palavra que resume tudo isto: previsibilidade. Previsibilidade é a possibilidade de prever o resultado. Se há previsibilidade, há culpa. Quando menos o bom-senso estiver envolvido, há negligência; de outro lado, quanto mais o bom-senso estiver envolvido, há imprudência.
O dolo eventual existe onde há previsão, há intenção de produzir o resultado e o agente exterioriza a conduta. Na culpa consciente, o agente não quer o resultado e nem assume a culpa de produzi-lo. 
ART. 121, § 5º - PERDÃO JUDICIAL
Só se aplica no caso de ascendentes ou descendente, irmãos e cônjuges. Este instituto também é aplicável nos crimes de lesão corporal, conforme Art. 129, § 8º.
[09/03/2007]
ART. 123 - INFANTICÍDIO
O crime significar matar infante, uma criança. É um crime antiqüíssimo que está deixando de existir. É um crime julgado pelo Tribunal do Júri.
Há duas teorias sobre a razão do infanticídio :
Teoria lactina (ou psicológica): É um crime privilegiado porque amãe mata um filho por ser um motivo relevante, por honra.
Teoria germânica (bio-psíquica): não nega a razão de ser um homicídio privilegiado. Ocorre por causa de uma transformação física-mental, pois a mãe não tem discernimento.
[14/03/2007]
ART 122 – INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO.
No Brasil, suicídio não é crime, mas gravitar em torno dele o é. Na Alemanha, não há crime comparado ao art.122, com a argumentação de que o suicídio não é crime, não penaliza a quem ajuda praticar o suicídio, por razões de política criminal.
Não existe tentativa no art. 122. O tipo penal é do tipo misto ou alternativo. O núcleo é formado por três verbos. Os verbos induzir e instigar são coisas diferentes. A indução se manifesta quando o sujeito ativo, a partir de uma conversa com outrem passa a pensar em si matar, como o possível diálogo:
A - Eu fiz uma coisa na minha vida.
B – Se eu fizesse uma coisa na minha vida, eu me mataria.
A instigação é como “colocar lenha na fogueira”, porque o agente já estava pensando no suicídio, como no seguinte diálogo:
A – Eu fiz isto e agora estou pensando em me matar.
B – Eu também acho que você deva se matar.
O dolo é direto, mas não pode ser imputado a alguém que faça apologia do suicídio, como alguém que, numa entrevista de televisão, defenda que as pessoas possam dispor de sua vida como quiser, até mesmo praticar um suicídio. Então, a instigação deve ser direta, pessoa para pessoa, sem intermediários.
O agente passivo do crime do art. 122 é qualquer pessoa de discernimento (capacidade de concordar ou discordar).
É importante entender que auxílio é auxílio material.
Para os casos de aumento de pena, o inciso II trata de menor, que deve ser entendido como o agente ativo de 14 a 18 anos que, por construção doutrinária e jurisprudencial pacificado, os menores de 14 anos de idade não têm discernimento.
O art. 224�, CP trata de presunção de violência. Se um rapaz apaixonado seduz uma moça também por ele apaixonada, de 13 anos e 11 meses de idade, que se entrega conscientemente a ele é crime de estupro. 
A lesão corporal é de natureza diversa prevista nos §§ 1º e 2º do art. 125. 
Caso de pacto de sangue
Há pessoas que se amam tanto que a vida só tem sentido se for compartilhada com o amante e que não sendo possível ser assim elas se matam. Há que se fazer a seguinte pergunta: “Em qual fase do crime entrou a conduta do agente?”
Como há “moris omnia solvit”�, se os dois morrerem, acabou-se tudo e não há mais nada para ser feito. Se um dos dois viver, ele será responsável pelo crime? Respondendo a pergunta acima, a resposta é encontrada. Se incidiu no ato preparatório do crime, aquele que sobreviveu responderá perante o art. 122; se ocorreu na fase executória responderá perante o art. 121, homicídio. 
Um pequeno exemplo: Um casal resolve se matar e vão a um motel no Rio de Janeiro (os chuveiros lá são a gás). Fazem toda a preparação. Abrem o gás, mas um, por algum motivo, vem a sobreviver. É homicídio porque a conduta se recaiu no ato executório.
[23/04/2007]
ABORTAMENTO = ARTS. 124 – 125 – 126 – 127 – 128
A discussão seja de caráter sociológico, religioso ou político sobre se o aborto deve ser considerado como crime ou não é uma discussão que não terá uma conclusão satisfatória ou não se chegará a conclusão nenhuma.
Penalmente, aborto é feto morto. O crime, em verdade é de abortamento, interrupção da gravidez com a conseqüente morte do feto. É necessário que o feto morra e não pode nascer. O abortamento natural não pertence ao direito e é comum o abortamento espontâneo devido à má-formação genética do feto. O aborto provocado é o que interessa ao direito penal. Ele pode ocorrer por meios químicos, físicos. O tratamento jurídico dado ao aborto pelo nosso ordenamento jurídico é a sua proibição. A Assembléia Constituinte para a elaboração da Constituição da República de 1988 discutiu-o muito, mas por pesadas pressões contrárias, deixou-o como estava: o aborto� é proibido. Há países que não aceitam o aborto sob nenhuma circunstância, mas há países como o Brasil que o proíbe, não é permitido como regra, mas abre duas exceções (art. 128).
1) Se não outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico ou necessário)
2) Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
O aborto de feto anencefálico não está previsto no Código Penal. À época da elaboração do Código não havia como evidenciar estas deformações como nossa medicina de hoje em dia é capaz. A discussão é infindável sobre este tema, mas o fato é que o Código Penal permite taxativamente o aborto só e somente no caso de não haver outro meio para salvar a gestante e feito por médico ou no caso de gravidez resultante de estupro. 
Para o primeiro caso o médico comprovará o perigo para a gestante se não retirar o feto. 
Para fazer o aborto no caso de gravidez resultante de aborto, falsamente diz-se que o Judiciário pode autorizar. A autorização por juiz para fazer aborto não encontra guarida em nenhum diploma legal. É forçado aquele que diz que o juiz pode autorizar. O médico tem condições para praticar ou não o aborto, depois de apresentado o boletim de ocorrência.
CASO DE ABORTO
Uma parteira fez um aborto numa gestante que foi comprovado posteriormente por junta médica que tal ação a salvou-lhe a vida. Qual é a defesa desta parteira diante da denúncia do Ministério Público que a acusou de crime de abortamento.
Argumentar o Estado de necessidade. O art. 24,
na íntegra, reza que “considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Deve combinar o art. 128 com o art. 23, I e art. 24. O art. 128 é uma causa especial de exclusão de ilicitude e o art. 23 é uma cláusula geral de exclusão de ilicitude.
O inciso II do art. 128 trata sobre aborto e gravidez resultante de estupro. Chama-se aborto humanístico ou sentimental.
O estupro está definido no art. 213 e estabelece como elemento para o estupro a conjunção carnal. Conjunção carnal tem uma única definição: é a penetração do pênis na vagina.
CASO DE ESTUPRO
1. Um rapaz, depois de muita insistência, levou sua namorada ao motel, sob o pretexto de só conhecer o local. Chegando lá, praticam conjunção carnal. É estupro? É.
2. A moça engravidou sem conjunção carnal e engravidou. Ela quer abortar. 
Usar analogia� (bona partem) para a defesa. (Art. 214)
ART. 124 – ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE COM SEU CONSENTIMENTO
Bem jurídico: vida intra-uterina.
Núcleo do tipo: Provocar, consentir.
Sujeito ativo: gestante.
Sujeito passivo: feto.
Objeto material: feto.
Elemento subjetivo: dolo. Não há crime de aborto a título de culpa.
CASO DO NAMORADO. O namorado, que não quer o filho que sua namorada está gestando, combina com um médico para que este diga a ela que o filho dela apresenta problemas de formação, para que ela concorde em fazer um aborto, o que é feito.
Em quais artigos do Código Penal cada um estaria sujeito?
O namorado – art. 126 – provocar aborto com o consentimento da gestante ou art.124 como partícipe.
A namorada – art. 124 – provocado pela com seu consentimento.
O médico – art. 126 – provocar com consentimento da gestante
Qual a diferença entre o art. 127 e o art. 129 § 2º, V? É necessário inquirir sobre que bem jurídico o agente visa atingir. A lesão corporal e aborto trocam de posição nos artigos. No art.127, o bem jurídico visado é a vida e a conseqüência é a lesão corporal, enquanto, no art. 129 § 2º, o bem jurídico visado é a incolumilidade da pessoa que resulta em aborto. A vontade do agente deve ser investigada no momento da denúncia.
A mulher foi estuprada� e vai a um advogado pedir que solicite ao juizautorização para o aborto. O advogado faz uma ação inominada e dirige-se ao juiz. Este juiz tem condições de dizer quem vai morrer ou viver? Não, o Estado não tem nenhuma poder ou vontade para tal. O médico se submete ao pedido, mas qual a garantia que houve um estupro? O Boletim de Ocorrência Policial somente não satisfaz. O médico pode recusar a fazer se ele não tiver um mínimo de garantia; é necessário analisar o caso concreto. Então ele deve se municiar de elementos e enviar um relatório ao CRM�. Entretanto, o juiz NÃO pode autorizar! Não há previsão legal para isto. O médico tem liberdade de agir, mas nada há que o faça a praticar um aborto numa gestante seja a que título for.
DAS LESÕES CORPORAIS
Depois de discutirmos a proteção à vida, vamos dar início às Lesões Corporais.
O caput do art. 129 reza sobre as lesões corporais simples, que são, por exclusão, nem aquelas graves nem aquelas gravíssimas. Para qualificar a lesão o ofendido será submetido a um exame de corpo de delito, direto ou indireto, segundo o Art. 158, CPP�. Os médicos responderão se houve ofensa à integridade da vítima. Se a resposta for positiva, eles deverão indicar onde as lesões se encaixam no Art. 129, § 1º, I, II, III, IV ou V. Se disseram não para todos os quesitos, lesão corporal simples, se disseram sim, lesão corporal grave.
[30/04/2007]�
A lesão corporal, que é um crime comum, podendo ser praticada por qualquer pessoa, está contida no art. 129. O legislador, ao considerar a lesão corporal grave, de certa forma, tutelou a lesão ao feto, amenizando o fato por ele não ter sido praticado diretamente.
A lesão à saúde está envolvida na lesão corporal.
A lesão corporal deve ser dolosa e na lesão grave há intenção de causar um prejuízo maior à vítima, como o afastamento de suas ocupações por mais de 30 dias, o que configura um crime preterdoloso ou dolo direto. Só se responde por lesão corporal grave para perigo de vida e deve ser causado por culpa, por ser o resultado previsível e deve também ser concreto. Como já dito, é um crime preterdoloso, que é caracterizado por dolo no antecedente e culpa no conseqüente, por exemplo, um sujeito, em briga soca outro sujeito, mas assustado cai e bate a cabeça no meio-fio vindo a falecer. 
Uma conseqüência da lesão corporal pode será debilidade permanente de um membro, sentido ou função (inciso III) e é definida como perda da capacidade de praticar certos atos, configurando a lesão grave. Se ocorrer a perda total da capacidade de membro, sentido ou função, a lesão é gravíssima. A perda de um dedo da mão causa debilidade da função de segurar objetos, mas a perda do dedo polegar causa incapacidade total.
O aborto é uma lesão gravíssima, mas como anteriormente citado, se a intenção era praticar o aborto, o crime é outro, de abortamento, no mínimo tentado. Outra lesão gravíssima é a que cause uma enfermidade incurável.
 
Suprir tecnologicamente capacidade para um incapacitado não retira o caráter gravíssimo da lesão.
Em última posição encontra-se a lesão corporal seguida de morte. Se a conseqüência era previsível responde-se por homicídio; contrariamente, se era imprevisível, responde-se por lesão corporal.
O princípio da insignificância pode ser aplicado à lesão corporal dolosa ou culposa da mesma forma que se aplica aos crimes patrimoniais, evitando a tipicidade do fato não reprovável socialmente.
E por fim, a contravenção penal no caso das vias de fato, mas sem lesão (empurra-empurra, sopapos, etc.) também se aplica o princípio da insignificância.
À lesão à saúde está envolvida na lesão corporal, pode ser aplicado o princípio da insignificância.
[11/04/2007]
O capítulo III trata da periclitação da vida e da saúde. Perigo é a probabilidade de dano. Então, os crimes regulados referem-se a perigo ou dano. O perigo se consuma como crime quando o bem protegido é submetido a provável dano. Ex.: dano de perigo. Os danos de perigo podem ser:
a) abstrato ou presumido, isto é, aqueles que não têm uma demonstração fática da situação concreta em que o perigo teria ocorrido e,
b) concreto. Neste caso, a acusação terá que mostrar, no caso concreto, em que se constitui o perigo.
Veja o caso do art. 306 do CTB.
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Este crime se consuma com exposição ao perigo. O crime não é dirigir bêbado, perigo abstrato. É expor outrem a perigo, perigo concreto. Se motorista estiver sem carteira ou embriagado e não expor ninguém a perigo não é crime, não constituiu o fato típico. O art. 32 da lei de contravenções penais ainda vige para as embarcações. Pilotar sem ARRAIS é crime. Mas foi revogado pelo CTB.
O art. 130 do Código Penal é um tipo penal que será revogado por falta de ocorrência processual. As doenças venéreas (hoje DST) já mataram mais pessoas do que guerra, por exemplo, pela sífilis durante a Idade Média. O Código Penal tem a mesma idade que a penicilina. Sem ela ainda não havia tratamento eficaz para este tipo de doenças. O crime de exposição a perigo de contágio de doenças venéreas, portanto, é desta época também. O crime do art. 130 é de perigo. Expor carrega a probabilidade de transmissão. AIDS não está enquadrada aqui. No início da AIDS, se houvesse o caso de transmissão, havia denunciava por homicídio tentado. México, Bélgica e Rússia são países cuja legislação contém tipos penais específicos para a AIDS. 
O art. 130 precisa de outra norma para dizer quais doenças são venéreas, então é uma norma penal em branco. O Ministério da Saúde relaciona todas estas doenças. 
O dolo está previsto no §1º do art. 130. O caput diz “de que sabe ou deve saber” constituindo, no mínimo, dolo eventual. Dever saber, é possível se portador de sífilis. A sífilis, no 2º estágio da doença, ele poderia pensar estar curada, mas a lei impõe que ele deveria saber. Este agente deve ser enquadrado no art. 18, parágrafo único ou poderia haver até um enquadramento marginal no art. 130, § 1º, conduta culposa punida a título de dolo, dolo eventual.
A ação penal é publica condicionada. A vítima deve pedir a denúncia.
ART. 131 – PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE
O crime é a probabilidade de transmissão de moléstia grave, ou seja, de difícil cura. 
ART. 132 – PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM
Os crimes de perigo são subsidiários dos crimes de dano. O crime é expor a vida ou a saúde outrem.
Aqui, deve aplicar o princípio da especialidade. Se o dano consubstanciar, o tipo é outro, homicídio; caso contrário é o art. 132.
É o caso da faxineira que, para lavar os vidros de um apartamento de um prédio pelo lado de fora, esgueira-se pelo parapeito da janela. Se cair e morrer, o tipo é homicídio; se não cair, é expor sua vida a perigo.
No concurso aparente, resolve-se a questão pela aplicação dos princípios da especialidade, alternativade e subsidiariedade.
Profissões de risco, como mergulhadores da PETROBRÁS, eletricistas de linha-viva da CEMIG, não estão sujeitos à aplicação do art. 132.
O parágrafo único do art. 132 foi introduzido em homenagem aos bóias-frias que morreram em um acidente de caminhão que os levava para o trabalho.
ART 133 – ABANDONO DE INCAPAZ
O art. 133, abandono de incapaz (não é do direito civil) deve ser examinado no caso concreto. Pode ser qualquer pessoa.
ART 134 – EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO
Magalhães de Noronha criticava o Código Penal neste ponto, porque o legislador, ou seja, Hungria, tipificou o crime levado a cabo pela mãe como homicídio. Mas o crime é de infanticídio (estado puerperal) porque para ocultar a desonra comete crime de infanticídio. Igualmente, se não há palavras vazias, porque o Código Penal colocou a alternativaexpor ou abandonar, se basicamente não há diferença? Mas Hungria, que tinha explicação para tudo, dizia que o Código Penal estava enviando uma mensagem para a mãe: “Não mate, abandone-o” Porque, se matar é homicídio e se abandonar e morrer é infanticídio. Nelson Hungria definiu os seus verbos, núcleo da ação.
Expor, o agente toma o recém-nascido e leva-o para outro local onde o expõe ao perigo e abandonar ocorre no mesmo local� do nascimento onde é exposto ao perigo. 
O pai também é sujeito passivo deste crime, mas não por desonra própria.
A pena de abandono de incapaz é maior do que a do art. Abandono de recém-nascido, mas não deve ter dolo.
Não existe crime de perigo tentado
ART. 135 – OMISSÃO DE SOCORRO
Não há omissão de socorro de pessoa morta.
ART. 136 – MAUS TRATOS
Ensinar é específico, é capacitar alguém. A educação tem um conteúdo voltado para a vida. 
Não há que se falar em maus tratos de marido com relação à esposa. 
O crime está ligado à profissão de babá, médico, seguranças, policiais.
[13/04/2007]
ART. 137 - RIXA
Crime de rixa é crime de concurso necessário, tem de haver mais de três pessoas. Quadrilha deve ter mais de quatro pessoas. Rixa é uma briga onde se confundem os contendores
Há concurso de pessoas, normalmente concurso eventual. Concurso eventual ocorre quando o crime ocorrer em conjunto, mas poderia também ter sido praticado individualmente.
Em direito penal não existe responsabilidade objetiva (causa-efeito), deve haver causa e efeito e um liame subjetivo.
Se ocorrer lesão corporal grave ou morte, a pena é a mesma do que a de homicídio. Todos respondem igualmente, com responsabilidade objetiva, a não ser que seja possível individualizar as condutas.
CAPÍTULO V – DOS CRIMES CONTRA A HONRA
Academicamente, não há nada mais desmotivador do que estudar crimes contra a honra, porque a resposta estatal para tais crimes é totalmente insatisfatória. Entretanto, é um dos capítulos que deve ser mais bem estudado, porque errar nesta seara é muito fácil, seja penal seja processualmente. 
Honra é um conceito que uma pessoa tem de si mesma e é o conceito dela perante a comunidade. Honra objetiva é o conceito que uma pessoa goza numa comunidade. Honra subjetiva é o conceito de si própria. Contra a honra tem-se a calúnia, difamação e injúria.
 
	calúnia
	difamação
	injúria
	Crime contra honra objetiva
	Crime contra honra objetiva
	Crime contra honra subjetiva
	Diploma legal distinto
	Diploma legal distinto
	Diploma legal distinto
	Art 138 cp
	art. 139 cp
	art. 140 cp
	art 324 ce�
	art. 325 ce
	art. 326 ce
	art 20 li �
	art. 21 li
	Art. 22 li
	Falsamente fato definido como crime
	Fato verdadeiro ou falso
	Atribuição ou qualificação negativa
	fato falso crime, consumação, terceiros tomam conhecimento da ofensa.
	consumação, terceiros tomam conhecimento da ofensa.
	o sujeito toma o conhecimento da ofensa
Fato é um acontecimento. Há de se contar um acontecimento. Deve conter uma narrativa de acontecimento e este fato não deve ser falso.
Os crimes eleitorais previstos no art. 324, a ofensa deve ser feita com fins eleitorais. No art. 20, da Lei de Imprensa, o meio para divulgação da ofensa deve ter acontecido via imprensa. Para ser considerado um jornal, este deve ter editor.
O fato ofensivo, na difamação, pouco importa se é falso ou verdadeiro. Incide sobre a reputação do sujeito.
É possível invocar a exceção da verdade, deve-se provar a verdade do fato. Na difamação, é impossível invocar este instituto.
 
A atribuição negativa, na injúria, não há atribuição de culpa, não há história a ser contada e a ofensa ocorre no âmago do sujeito ofendido. Não há retratação.
 O art. 144 trata da Interpelação Judicial é um instituto jurídico possível de ser aplicado nos casos de insinuação da honra de alguém. Interpelado o autor, se a resposta não for satisfatória, responde pela ofensa. É um dos melhores remédios jurídicos para crimes contra a honra.
CÓDIGO ELEITORAL
Art. 324. Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
        Pena - detenção de seis meses a dois anos, e pagamento de 10 a 40 dias-multa.
        § 1° Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
        § 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o crime, mas não é admitida:
        I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido, não foi condenado por sentença irrecorrível;
        II - se o fato é imputado ao Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro;
        III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
        Art. 325. Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
        Pena - detenção de três meses a um ano, e pagamento de 5 a 30 dias-multa.
        Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
        Art. 326. Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro:
        Pena - detenção até seis meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.
        § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
        I - se o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
        II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
        § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou meio empregado, se considerem aviltantes:
        Pena - detenção de três meses a um ano e pagamento de 5 a 20 dias-multa, além das penas correspondentes à violência prevista no Código Penal.
        Art. 327. As penas cominadas nos artigos. 324, 325 e 326, aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
        I - contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro;
        II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
        III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ofensa.
LEI DE IMPRENSA
Art . 20. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: 
        Pena: Detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa de 1 (um) a 20 (vinte) salários-mínimos da região. 
        § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, reproduz a publicação ou transmissão caluniosa. 
        § 2º Admite-se a prova da verdade, salvo se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. 
        § 3º Não se admite a prova da verdade contra o Presidente da República, o Presidente do Senado Federal, o Presidente da Câmara dos Deputados, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, Chefes de Estado ou de Govêrno estrangeiro, ou seus representantes diplomáticos. 
        Art . 21. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
        Pena: Detenção, de 3 (três) a 18 (dezoito) meses, e multa de 2 (dois) a 10 (dez) salários-mínimos da região. 
        § 1º A exceção da verdade sòmente se admite: 
        a) se o crime é cometido contra funcionário público, em razão das funções, ou contra órgão ou entidade que exerça funções de autoridade pública; 
        b) se o ofendido permite a prova. 
        § 2º Constitui crime de difamação a publicação ou transmissão, salvo se motivada por interêsse público, de fato delituoso, se o ofendido já tiver cumprido pena a que tenha sido condenado em virtude dêle. 
        Art . 22. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decôro: 
        Pena: Detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa de 1 (um) a 10 (dez) salários-mínimos da região. 
        Parágrafo único. O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
        a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamentea injúria; 
        b) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
        Art . 23. As penas cominadas dos arts. 20 a 22 aumentam-se de um têrço, se qualquer dos crimes é cometido: 
        I - contra o Presidente da República, Presidente do Senado, Presidente da Câmara dos Deputados, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Chefe de Estado ou Govêrno estrangeiro, ou seus representantes diplomáticos; 
        II - contra funcionário público, em razão de suas funções; 
        III - contra órgão ou autoridade que exerça função de autoridade pública. 
[20/04/2007]�
A exceção da verdade é um meio de prova. É o ato processual pelo qual o querelado se defende provando que o ato ofensivo é verdadeiro e se assim é não houve crime.
A difamação não admite a exceção da verdade, exceto quando a ofensa é atribuída a funcionário público e essa ofensa é relativa à atividade funcional.
Na calúnia sempre se admite a exceção da verdade. Na difamação não é possível, exceto, como já dito, se dirigida contra funcionário público no curso das suas funções. A injúria também não admite a exceção da verdade.
Se houver sentença absolutória, art. 138, § 3º, contra o acusado, nada pode ser feito contra ele. 
Não se pode alegar exceção da exceção contra o Presidente da República, de acordo com o Código Penal, mas pode provar que o fato é verdadeiro, pelo princípio da ampla defesa garantido pelo art. 5º da Constituição da República.
A ação penal está tratada no art. 145, CP. 
Queixa-crime
É difícil advogar em crimes contra a honra e deve-se ter uma procuração com poderes especiais, narrando o fato delituoso, ainda que resumidamente. A ação deve ser movida pelo ofendido. Ao final da queixa-crime deve ser pedida a condenação do acusado, sob pena de ser uma queixa-crime inepta. A queixa-crime deve ser apresentada em juízo. Se apresentada em delegacia, entra como “notitia criminis”, que pode perder o prazo decadencial, pois o inquérito pode demorar. Na queixa-crime, nenhum acusado deverá ser deixado de fora, caso contrário, presume-se o perdão e assim sendo, todos os outros devem ser perdoados.
Pelo art. 142, não se constitui injúria ou difamação punível ofensa feita pelo procurador em juízo a respeito da causa, pois há imunidade processual.
[25/04/2007]
CASO DE RACISMO – Jogador Grafite vs. Desábato
O zagueiro argentino Leandro Desábato foi acusado de racismo contra o atacante Grafite. O defensor foi direto para a delegacia. A acusação: ter chamado o Grafite de “macaco”. O jogador, detido pelo triunfante delegado Nico, após uma entrada triunfal no Morumbi, deixou o argentino na delegacia por três dias.
Os crimes raciais no Brasil têm previsão no art. 5º, da Constituição da República que reza que os crimes de racismo devem ser tratados na forma lei. É a lei nº. 9.459, que elenca os crimes de racismo. Chamar alguém de macaco não é crime racial. O jogador argentino cometeu uma injúria e injúria não é crime inafiançável, além de ser um crime de iniciativa privada.
CASO DE RACISMO - ELLWANGER
O Supremo Tribunal Federal decidiu em definitivo. O escritor gaúcho Siegfried Ellwanger foi condenado por crime de racismo. Argumentavam os advogados de Ellwanger, que judeus não são uma raça. Há judeus pretos, brancos, mulatos. Judeus são um grupo religioso e não racial. Ainda assim, todas as instâncias da justiça brasileira decidiram, pela condenação do pseudo-historiador Ellwanger.
Nesta época não havia sido divulgadas as primeiras conclusões do projeto GENOMA. O fato é de que este projeto científico contesta a existência de raças, pela diferenciação genética.
Nos crimes de ação penal privada, inicia-se, com a queixa da vítima, segundo o art. 6º, CPP.
Pelo art. 142, o advogado tem imunidade processual. Se ele for tomado por difamador no processo, não pode ser processo por isso.
A ofensa contra juiz não tem amparo legal, pois ele não é parte do processo e nem é objeto de discussão da causa.
Aquele que um dia quiser falar mal ou ofender um juiz de direito que o faça em sonhos.
O art. 142, II crítica literária, artística ou científica não é crime, de modo que não se constitui nenhuma injúria se o professor comentar, de modo severo, mas acadêmico, a prova de aluno na aula.
O art. 43, III, diz que a ação é publica quando dirigida contra um funcionário público nas suas funções.
Pela súmula 714 do STF, o funcionário público pode tanto representar quanto propor uma queixa crime (ação privada), para processar seu ofensor.
A retratação está regulada no art. 145. 
[11/05/2007]
Antes de entrarmos no Capítulo VI – Dos Crimes Contra a Liberdade Individual – do Código Penal, é importante fazer uma pequena digressão sobre aquilo que a Constituição da República remete quando se trata de defender as garantias e direitos individuais. Os crimes previstos neste capítulo estão refletidos no art. 5º da Carta e por uma leitura mais atenta deste e do Código Penal, observa-se que este não protege os bens jurídicos protegidos pela Constituição Federal. Exemplo: não há proteção à imagem, intimidade ou resguardo definidos no Código Penal, mas eles estão lá no inciso X do art. 5º: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Todas as pessoas têm o direito de preservar sua intimidade e privacidade, como se fosse uma bolha de proteção para seu resguardo.
Mas devemos nos aperceber que as bolhas não são iguais. Como mostra a figura, umas são mais estreitas ou apertadas do que as outras, porque as personalidades públicas, por mais que mereçam a sua privacidade ou intimidade têm maior propensão a ter sua vida devassada, simplesmente porque são pessoas públicas. A vida privada, de fato, não pertence ao homem ou à mulher pública, pois estes devem se limitar, ao máximo possível, à exposição. Na França, a vida privada é mais protegida que no Brasil e na Inglaterra, os jornais sensacionalistas, em muitas vezes, se vêem envolvidos em processos judiciais por invadir, de maneira intensa, a vida de celebridades.
Não há crime algum se algum homem que tem fetiche de fotografar mulheres trocando de roupas através de uma teleobjetiva e publicar estas fotos pela Internet, não há crime algum, pois, prestem atenção, o Código Penal não protege a imagem, a intimidade e o resguardo. Daqueles bens jurídicos descritos no art. 5º, X, CF, o único protegido é a honra.
Assim, se a intimidade não é protegida, há um vácuo de literatura jurídica sobre o assunto.
Outro ponto importante para os profissionais do direito penal perceber é que tal ramo do direito, em busca de uma verdade, desnuda a vida e a intimidade das pessoas, seja na fase dos inquéritos policiais, seja nos julgamentos. Houve um crime passional, em Armação dos Búzios, Cabo Frio, Rio de Janeiro, no dia 30 de dezembro de 1976, no qual Doca Street assassinou sua namorada Ângela Diniz. Esta mulher, mãe de três filhos, gozava de muita fama e era de uma beleza ímpar, a ponto de ser denominada “A Pantera de Minas”. Este crime foi intensamente acompanhado pela crônica policial-jornalística durante muito tempo e despertou interesse em toda a sociedade, ocasião em que se cunharam as expressões “Se se ama não se mata! Ou “Quem ama não mata!
O aspecto de interesse, neste caso, e tendo em vista o acima disposto, fica por conta de que, no julgamento desse crime pelo Tribunal do Júri, quem se sentou no banco dos réus foi a própria vítima, no sentido de dar ao assassino uma chance de ter uma explicação para a prática daquele delito. Isto ocorre em função de uma prática que é inerente ao Código de Processo Penal.
Vamos ver os crimes em espécie sob a luz da Constituição Federal.
ART. 146� – CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Este tipo penal é uma norma em branco e seu acometimento é decorrência do princípio da reserva legal. Tudo aquilo que a lei proíbeou tudo aquilo que ela que não permite pode ser objeto de constrangimento ilegal.
No Capítulo II – Dos Crimes Contra a Liberdade Individual – ver-se-á que as sanções são mais simples do que se possa imaginar. Há crimes-meio e há crimes-fim. Crimes-meio são aqueles que, para serem cometidos, o agente tem de percorrer um caminho que, por si só, é ilegal. É impossível para um agente que cometa um crime de estupro não tenha cometido antes um constrangimento ilegal.
CASO DO SUPERMERCADO. Houve um caso em um supermercado em que o alarme soou quando um cliente passou com uma mercadoria. Foi convidado, pelos seguranças, a mostrar o que carregava e mostrar as notas de compras. O cliente entrou com uma representação criminal e acionou judicialmente o supermercado com base no art. 146, CP. Em preliminar, isto não é constrangimento ilegal, pelos elementos do tipo. Este autor não teve sucesso em seu pedido. Ele deveria ter processado o supermercado com base no art. 345� - Exercício arbitrário das próprias razões - através de uma queixa-crime.
Se analisar bem o tipo penal, ele começará pelo seu núcleo com o verbo constranger. Pesquisando o Código Penal, o verbo constranger estará nos arts. 158, 197, 198, 199 e 213, que tratam do constrangimento ilegal específico. Só será crime previsto no art. 146, tudo aquilo que não se encaixar nos artigos acima. 
CASO DOS ESTUDANTES. Uma estudante de Direito convida um colega seu, um rapaz bem apessoado, para estudar Direito Penal em sua casa. Ardendo de paixão, ela o obriga a ter conjunções carnais. Se esta conduta for incriminada, ela o será pelo art. 146 – Constrangimento ilegal – visto que é atípica�, pois não há proteção contra liberdade sexual para os homens, nos crimes sexuais. No Brasil, só as mulheres podem� ser estupradas. Os homens só podem sofrer violências sexuais, conforme art. 147 – Ameaça. 
Os crimes-fim estão no art. 147 e art. 344�. Não há como ser denunciado por crimes sexuais nestes artigos. Uma vez mais a pergunta “Qual é o bem jurídico visado? A liberdade individual ou patrimônio?”.
[16/06/2007]
É relevante estudar o constrangimento ilegal dentro art. 46 o seu § 3º. Há de se examinar a sua natureza jurídica. Veja o seguinte exemplo: um médico, com uma criança em estado grave sob seus cuidados, diagnostica que ela deve receber uma transfusão de sangue, a única maneira de salvá-la da morte. Os pais, entretanto, não concordam porque sua religião não permite. De qualquer forma que o médico for aconselhado, fazer a transfusão ou seguir o mando dos pais, ele deverá ser processado. Na primeira forma, por constrangimento; na segunda, por deixar a criança morrer, sendo grande a possibilidade de condenação. A natureza jurídica, respondendo a pergunta inicial, é exclusão de tipicidade pelo próprio inciso I do § 3º do art. 146: não compreendem na disposição do artigo. 
O crime de rapto, art. 219 ao art. 222, foi revogado. O rapto é o seqüestro de pessoas para fins libidinosos. Saiu do Código Penal motivado pelos elementos normativos que continha tais como mulher honesta. Entretanto, após a revogação, ele está contemplado no art. 148, V. A extorsão mediante seqüestro, art. 159, CP, é crime contra o patrimônio e é muito importante não enquadrá-lo nos crimes contra a liberdade individual.
O seqüestro é um crime de privação de liberdade. Há três tipos de interpretação da lei: a lei se interpretando, a interpretação autêntica; a doutrina interpretando a lei, a interpretação doutrinária e os tribunais interpretando a lei, a interpretação jurisprudencial.
Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio do Código Penal, faz mister a interpretação da palavra casa, dado pelo § 5º do art. 150. Até uma moradia debaixo de ponte, para efeitos penais, é casa. 
Um outro ponto neste momento para reflexão é a art. 302, III, CPP�. O flagrante é entendido como o tempo enquanto durar a perseguição sem limite máximo ou mínimo.
CASO DO TEST-DRIVE (FLAGRANTE). Um homem, a pretexto de fazer um test-drive, tomou emprestado o carro à venda, deu uma volta no quarteirão onde se situava a loja de automóveis, entrou em uma outra rua e desapareceu com o carro indo para uma até mesmo para uma cidade praieira, onde descansou pela noite e no outro dia, ao amanhecer, voltou à cidade de origem, para devolver o carro. Chegando à loja foi preso em flagrante.
O advogado, que até hoje se lembra da perda desta causa, entrou com uma solicitação de habeas corpus para o seu cliente alegando o art. 302, III, CPP, porque não houve perseguição policial até a entrega do carro. O Ministério Público considerou legal, mas no mesmo parecer pediu a prisão preventiva alegando o art. 312, CPP�, o que foi concedido. 
Desta forma, é necessário prestar atenção na Constituição da República, art. 5º, LXI e LXII�, antes de pedir um habeas corpus ou se basear nestes dispositivos. Evidentemente, neste caso, não houve flagrante delito.
VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA – ART. 151�
Com este artigo entramos na Seção III do Título IV – Dos Crimes Contra a Inviolabilidade de Correspondência.
O núcleo do tipo do art. 151 é devassar que quer dizer tomar conhecimento, nada mais do que isto perante o Direito Penal. O problema que invade o artigo é a palavra “indevidamente” expressa logo após o verbo. Trata-se, portanto, de um elemento normativo cabendo sua valoração por parte do julgador. Se se tomar o art. 5º�, XII, CF ver-se-á o estatuto “é inviolável”, é um imperativo. Seguindo pelas letras do artigo em questão, vê-se o termo “salvo, no último caso”, isto é, as comunicações telefônicas são as últimas possibilidades de quebra de sigilo de correspondência, vulgarmente conhecida como “grampo”. Isto explica porque alguns autores digam, com certa razão, que o advérbio “indevidamente” não tem mais sentido ou não tem nenhuma eficácia jurídica.
Quanto a Constituição de 1988 foi promulgada, foi colocada a seguinte pergunta: Pode a penitenciária ler as cartas ou correspondências cujos destinatários são os detentos? A Constituição não permite e à polícia é vedado fazer isto. Dois exemplos em que há previsão legal para abertura de correspondência alheia sem se constituir em crime: intervenção em instituições financeiras e em processos falimentares de empresas.
As mensagens eletrônicas, e-mails, são correspondências fechadas tal como uma carta em um envelope lacrado.
VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL – ART. 154�
Há também neste artigo um elemento normativo que é “sem justa causa”, que necessita de valoração como no caso adiante descrito. Tudo aquilo que se ouve em função da profissão, seja um psicanalista, advogado de família ou criminal, etc. é segredo de confessionário. 
CASO DO IMPEACHMENT DO PRESIDENTE FERNANDO COLLOR DE MELLO.
Para escapar das acusações de corrupção e venda de influência e para escapar da acusação de crime de responsabilidade, foi montada uma operação denominada Uruguai, na qual o Presidente Collor, supostamente teria tomado um empréstimo num banco uruguaio. Estava tudo muito perfeito, fiadores conhecidos, papelada toda em ordem, nenhuma inconsistência de datas ou coisa parecida. Estava assim explicada a origem do dinheiro que fez a reforma da casa do Presidente em Brasília ou que comprovasse a origem de um dinheiro que teve como destino a compra de um carro modelo Fiat Elba. 
A operação Uruguai teria explicado a origem do dinheiro, mas desaguou num fracasso por um simples e singelo detalhe: a comemoração, regada a champanhe, foi comemorada no escritório de um grande empresário brasileiro, no qual ainda se encontrava presente uma secretária que se chamava Sandra, que ouviu toda a armação. Esta secretária, amiga de um senador da República, na ocasião pertencente a um partido político de oposição ao presidente, confiou-o o embuste. Este senador a convocou para depor na CPI logo quando teve conhecimento da comemoração e suas revelações.
O que importa é que a secretária tinha noção de não tinha uma profissão, mas um ofício.Ela está revelando segredo de seu ofício com ou sem justa causa, onde reside o elemento normativo: no caso do presidente Fernando Collor, o julgador houve por bem tomar a revelação uma causa justa.
CASO DA VELHINHA DO MARANHÃO
Na década de 40, no Maranhão, havia um casal de velhinhos que eram inseparáveis. Andavam sempre juntos, iam à igreja juntos, enfim uma vida dedicada um ao outro. Um dia a velhinha se matou. Para a Igreja Católica o suicídio é um grave pecado; considera o pecado do suicídio de Judas Iscariotes muito mais grave do que a própria traição que fez a Jesus. Assim, a velhinha foi enterrada do lado de fora da igreja sem nenhuma espécie de consagração ou sacramento. O marido, o velhinho, desde então não mais se confessou, até 	que um dia o faz e toma a comunhão. A partir da confissão, o padre chama o sacristão e enterra a velhinha do lado de dentro da igreja. O promotor denuncia o velhinho por homicídio e colocou o sacristão como testemunha. O deve se perguntar é com que provas o promotor denunciou o velhinho e se alguém duvida que o velhinho matou sua mulher. 
Trata-se, portanto da violação de um segredo profissional. 
Até mesmo um padre que revela uma confissão lhe é aplicada uma excomunhão “ipso facto”. V. art. 355 – Patrocínio infiel.
[23/05/2007]
TÍTULO II – DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
É necessário ao estudante de direito refletir sobre sua a seguinte questão antes de estudar os crimes contra o patrimônio: A serviço de quem estará o seu talento de advogado? Uma primeira abordagem a ser feita é que 95% dos acusados no Brasil não têm advogados; todos eles são defendidos pela Defensoria Pública. Uma segunda abordagem é que “o princípio do contraditório começa a ser desrespeitado na diferença dos contracheques do Ministério Público e da Defensoria Pública”�. É necessário notar que, subliminarmente, a sociedade não tem interesse que esta situação se resolva.
Assim, iniciamos a aula com o segundo título do Código Penal, o segundo bem jurídico mais importante: o patrimônio. Há algumas digressões a serem feitas.
Tomando a história do Direito Penal, ter-se-á no teatro do Código de Processo Penal dois protagonistas: um autor de um crime e uma vítima e sempre foi assim: alguém contra alguém. 
A identificação de um ser criminoso foi objeto de estudo de Cesare Lombroso�. Ele foi para uma penitenciária e começou a examinar todos os presos e classificá-los segundo um tipo físico, anotando o formato da testa, tamanhos dos dedos, se curtos ou longos, saliência das têmporas, etc. Pega o prontuário criminal de todos eles e faz uma correlação entre os crimes praticados e os tipos físicos, chegando à conclusão de que os biótipos iguais praticam crimes iguais, levando a crer que há uma tendência para um determinado crime aquelas pessoas com características típicas. Se não chega numa conclusão cabal, a s teorias de Lombroso, entretanto, deslocaram o foco do direito penal do crime para o criminoso e deu-se início aos estudos da antropologia criminal. 
Em 1939, um sociólogo americano, Edwin Hardin Sutherland�, em palestra fez críticas às teorias de Lombroso, porque há criminosos que ninguém nunca estudou porque eles não vão aparecem na criminalidade comum, daí cunhou o termo crime do colarinho branco. Sua visão era a de que somente os pobres ou peões vão para as cadeias�.
O crime do colarinho branco é praticado por um cidadão respeitado socialmente. Freqüenta as colunas sociais. Ele comete o crime nas suas atividades laboriais, são praticados durante o horário comercial (ninguém o pratica às sextas-feiras à noite) e é potencializado pelo consumo de álcool. 
O importante é saber qual a resposta que o direito penal dará aos crimes de colarinho branco, os crimes dos respeitáveis segundo são chamados em Portugal. Veremos que os crimes ou escândalos financeiros iniciaram-se na década de 70, como o caso Coroa-Brastel, Corretora Tiepo, onde milhares de pessoas foram prejudicadas. Os anos 90 deram lugar aos crimes hediondos e o no século XXI começaram a intensificar os crimes econômicos, matéria� que deverá ser mais bem tratada pelo Direito Penal. 
Voltando à reflexão inicial, de quem se servirá do talento do futuro advogado, ter sempre em mente que 95% dos acusados não têm dinheiro para contratar advogados, somente está na cadeia quem é pobre preso em flagrante. Uma constatação: a classe social e a falta de escolaridade não são determinantes para a condenação de uma pessoa, mas as características do advogado que o defende. O estudante deverá se posicionar neste teatro processual sendo advogado, promotor de justiça ou juiz.
[25/05/2007]
DO FURTO – ART. 155�
Daqui por diante, é proibido falar em assalto. Não existe este crime assim definido no Código Penal, como também não há chantagem. Assalto veio da Lei de Segurança Nacional, já revogada, que, no seu art. 7º dispunha sobre o assalto. Também daqui por diante fica proibido confundir furto com roubo. “Com somente três minutos de conversa já é possível constatar se uma pessoa sabe o que é roubo ou o que é furto”�. É necessário examinar a conduta com o tipo penal.
Há crimes naturais que se confundem o crime de pecado: Não furtarás!� Dos dez mandamentos mosaicos. Este crime e o homicídio fizeram o direito penal. Em contrário senso, não se pode dizer que a corrupção tenha mudado o Código Penal, para lembramos uma vez mais das reflexões iniciais sobre os crimes contra o patrimônio.
Para começar estudar o crime, tem-se de definir o que coisa alheia móvel e o que é coisa móvel alheia. Coisa móvel, segundo o Código Civil, é coisa que é capaz de deslocar-se de um lado para outro sem alterar suas características. 
CASO DO CACHORRO E DA LINGÜIÇA. Lydio Machado Bandeira de Mello�, no caso João Benello, nos conta que havia um cachorro olhando com muito apetite para uma lingüiça. Um sujeito, ao ver aquele cãozinho com tamanha ânsia, apanha a lingüiça e dá para o animal. Pergunta-se: ele cometeu o fato típico?
Evidentemente ele subtraiu, mas não se pode atestar que a subtração foi para si próprio ou para outrem. A engrenagem da conduta tem de ser igual e se encaixar na engrenagem do tipo penal, a relação é 1:1�. Não há aumento nem diminuição da rotação de nenhuma delas. Então, pode se dizer que não há crime de furto. O julgamento será político e não jurídico.
Não há um dia que passe sem que a jurisprudência não aumente a protelação do patrimônio. Veja o seguinte caso.
CASO DA LINGIERE. Uma empregada doméstica gosta muito de uma lingiere preta que sua patroa possui. Em um dia, convidada para fazer uma preparação mais sexy para o seu namorado em um motel, separa a peça de roupa da patroa, pega-a e veste-a na casa de uma amiga. Amores mil realizados. Após o motel, troca de roupa na casa da mesma amiga, chega com a lingiere dobrada e a pretexto de arrumar o quarto, na manhã seguinte, volta com ela para o lugar de onde a tirou.
Qual crime esta pessoa cometeu? Não há “animus domini”�. Furto de uso, no Brasil, é atípico. Não é furto; haverá condenação, mas se aplicará o art. 16 – Arrependimento posterior – com redução de até dois terços da pena. 
Da mesma forma não se constituirá crime se o mecânico, para quem um cliente deixou o carro para consertar, toma o carro e passa o fim de semana com ele e o devolve, nem o exemplo de tomar um cavalo, passear com ele e devolver logo após.
CASO DO SOLITÁRIO. Este é mais um caso de Lydio Machado Bandeira de Mello. Uma patroa demitiu uma empregada doméstica. Após alguns dias, a patroa deu falta do anel solitário que possuía. Chama a empregada e imprime-lhe uma reprimenda e diante da pressão, confessa que colocou a jóia dentro de envelope que está dentro de um livro, com a argumentação de que era o último lugar que a patroa iria procurar. Dentro de um livro.
Não se constitui crime contra o patrimônio. Mas poderia ser enquadrado em crime de injúria.
Não houve a consumação do furto. O furto se consuma quando o agente tem adisposição da coisa.
A jurisprudência age neste mesmo sentido no julgamento de crimes contra o patrimônio: a disposição tranqüila da coisa pelo agente. 
CASO DO CLIENTE. Uma pessoa vai ao supermercado e põe um CD no bolso. Na hora de pagar pelas compras, ele é perguntado se não está esquecendo de nenhuma outra compra. Ante a negativa, o cliente é preso. O furto é tentado, pois não houve a posse tranqüila da coisa. O agente responderá por mais ou menos o núcleo do tipo que tenha ocorrido.
[30/05/2007]
CASO DAS VAQUINHAS. Um fazendeiro tinha um vizinho e também possuía várias vaquinhas prontas para cobertura. O outro fazendeiro tinha um reprodutor cujo proprietário não tinha disposição em cobrar pela cobertura nem cedia o animal para o cruzamento. Certo dia, o primeiro fazendeiro tomou o garanhão fê-lo copular com todas suas vacas. Constitui-se crime em virtude do § 3º do art. 155: o sêmen tem valor econômico. São coisas móveis dotadas de valor econômico os sinais eletromagnéticos de TV a cabo, a energia elétrica, a radioatividade, o sêmen de reprodutores. Vide a Exposição de Motivos da Lei de Introdução ao Código Penal, de 04/11/1940, cuja redação é de autoria de Nelson Hungria.
FURTO QUALIFICADO
O § 4º do art. 155 acresce a reprovação da conduta do agente; qualifica, pois o crime de furto. Todo crime qualificado tem a pena do crime simples em dobro. O crime qualificado� faz surgir uma nova pena. As circunstâncias agravantes estão na parte e não dizem o quanto a pena pode ser reduzida ou aumentada, porém, nunca sairá dos limites impostos pelo Código Penal.
CASO DO COFRE. Tem-se um cofre em cima de uma mesa e dentro dele há um diamante. Imagine-se que um ladrão viola o cofre, subtrai a jóia e vai embora. Tome-se, agora outro ladrão, no mesmo cofre, que agarra violentamente o cofre, prende em sua bicicleta, evade-se do local do furto e num lugar tranqüilo arromba-o. Observa-se que no primeiro caso houve destruição, no segundo caso, destreza. 
A mesma há se notar entre o art. 155, § 4º, furto qualificado e o art. 171, estelionato. O núcleo do tipo é diferente: um é subtrair mediante fraude e o segundo é entregar uma coisa mediante fraude.
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Por que no furto o concurso de pessoas é uma circunstância qualificadora e no roubo é uma agravante de pena? Art. 157, § 2º, II.
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FURTO DE COISA COMUM – ART. 156�
Não é punível o sócio de uma fazenda de dois sócios se ele subtrair três sacas de café das 50 produzidas naquela safra, se esta quantidade estiver dentro da sua cota de participação na sociedade.
DO ROUBO E DA EXTORSÃO – ART. 157�
Nelson Hungria, ao comentar sobre os crimes contra o patrimônio fez um exercício de futurologia, ao intuir que na época de hoje os crimes seriam muito mais cerebrinos. Na época dele, os delitos desta ordem se situava entre o furto, o roubo e o punguismo. Hoje, percebe-se, como antevia Hungria, que, se os crimes de sua época não diminuíram, é certo também que os crimes cerebrinos tiveram expressivo aumento.
CASO DO METRÔ. Adaptando uma história de Lydio para os dias de hoje, um ladrão entra na estação Diamante do metrô de BH para ir para a Praça Sete “bater” carteiras de dinheiro dos transeuntes. Um outro ladrão, na estação Gameleira, entra no mesmo vagão do primeiro ladrão. Na viagem até a Praça Sete, um “bate” a carteira do outro sem se notarem. Ao descer na Praça Sete, os dois voltam a se encontrar casualmente e um ladrão “bate” a sua própria carteira do primeiro e é preso em flagrante.
No primeiro caso, houve furto qualificado pela destreza; o segundo houve crime impossível, sendo o fato atípico. 
O roubo é uma subtração de coisa mediante violência ou grave ameaça.
Furto x roubo x extorsão
Compare:
CASO DA JOALHERIA. Um meliante qualquer entra numa joalheria, aponta uma arma para uma vendedora e diz-lhe para entregar algumas jóias daquele balcão. A atendente abre os vidros do balcão, retira as jóias, coloca-os num saco e entrega para o ladrão, que dali se retira rapidamente.
Este caso é de extorsão, pois a vítima foi coagida a entregar; no roubo, o núcleo do tipo é subtrair. Porém, a pena é a mesma.
Em 1983, foi feito o anteprojeto da parte especial do Código Penal. À época, o jurista Miguel Reale Júnior ficou encarregado pela parte dos crimes patrimoniais. Houve quem quisesse transformar o roubo em crime de mera conduta, tirando o resultado para que não houvesse o crime tentado. Como ficaria a descrição da conduta? Uma poderia ser: “Constranger para subtrair...” ou “Se a subtração da coisa se consumar...”.
O §1º do art. 157 denomina–se roubo impróprio: é um furto que se tornou roubo. É o caso do sujeito que entra numa casa para furtar e o dono chega nesta mesma hora. Mas ainda assim pratica a subtração. O sujeito não praticou violência para furtar, mas usou de violência para manter coisa.
No exemplo acima, o dono chega a casa e vê o ladrão pulando o muro. Para detê-lo, o ladrão atira contra o dono. 
Capitule esta conduta! Tome o art. 157, § 2º, I: (notar que a palavra arma está no singular), não é o caso. Trata-se de crime previsto no art. 157, § 2, V, chamado impropriamente de “seqüestro” relâmpago, mas não se trata de seqüestro tal como tipificado no Código Penal.
Havia muitos juristas querendo dar autonomia ao seqüestro relâmpago, mas permaneceu da maneira como está.
ART. 157, § 3º - LATROCÍNIO
Não se constitui “nomem juris”. É a segunda pena mais grave, se resulta em lesão corporal grave, de sete a quinze anos; se sobrevém a morte, a pena é de 20 a 30 anos.
Para melhor compreender o art. 157, § 3º é importante saber de duas disposições legais:
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima.
Lei nº. 8.072, 25/07/1990:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: 
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); 
Ou seja, “se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos (...)”.
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Quatro hipóteses. Capitular�.
1 – Se o agente subtrai e mata.
2 – Se o agente subtrai e não mata.
3 – Se o agente mata, mas não subtrai.
4 – Se o agente tenta subtrair, tenta matar, mas não consegue nem subtrair nem matar.
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Antes de ler as respostas, ler a Nota de Rodapé nº. 42.
O caso 1 é o art. 157, § 3º, in fine, latrocínio. Crime hediondo.
O caso 2 é o art. 157, § 2º, I. Melhor seria o art. 157, § 1º, roubo impróprio; a violência empregada para a detenção da coisa.
O caso 3 é o da súmula 610 do STF. Houve vontade.
O caso 4 é latrocínio tentado, art. 14, II.
“Se a subtração é tentada e existindo violência ou grave ameaça na fuga, instaura-se concurso material entre furto tentado e aquele correspondente ao emprego da força”.
“Por delito de resultado a admissibilidade da tentativa é pacífica”.
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Para o latrocínio tentado ou consumado, a pena aumenta da metade estando a vítima nas hipóteses do art. 224.
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[01/06/07]
EXTORSÃO – ART. 158�
A palavra chantagem é de origem francesa (chantage); o Código Penal não possui a palavra chantagem. O que se conhece como chantagem pode ser encaixado no art. 158 ou no art. 316 – Concussão (extorsão praticada por funcionário público).
Há três formas forma s de extorsão, uma delas é constranger alguém, portanto o tipo penal é de mera conduta, não admite tentativa, é de dolo específico. Há que se examinar cada palavra do tipo penal Se há constrangimento e não há intenção de vantagem econômica não é este crime de que estamos tratando.Pode ser até outro, mas não este.
CASO DO CONCURSO PARA PROFESSOR. Uma importante universidade pública abriu concurso público para professor de Direito Penal. Dois professores se inscreveram para o cargo, sendo os dois conhecidos entre si. Um dos candidatos chama o outro e lhe diz que se participar do concurso, ela dirá para toda a universidade que ele (o outro) é homossexual. Este último não comparece ao concurso.
Não houve uma vantagem econômica indevida (ainda que facilitasse o concurso para o primeiro, e obtendo emprego auferiu remuneração), pois o outro não compareceu porque não quis. Não se trata de extorsão. Não constitui crime nenhum e o advogado deve demonstrar isto.
Uma história importante para balizar o compromisso de um advogado com o seu cliente é a história de Mário Firmenich. Líder montonero, grupo guerrilheiro peronista dos anos 70, explodiu bancos, assassinou pessoas em nome de sua causa. Condenado à prisão perpétua, conseguiu fugir para o Brasil onde foi preso. Argentina pediu sua extradição. Evaristo de Morais Filho o defendeu, auxiliado por Sepúlveda Pertenceu�. Este alegava que não deveria haver a extradição porque o Brasil não a concedia para perseguidos políticos e nem por aqueles acusados de crimes políticos. Firmenich foi extraditado para a Argentina em 20/10/1984.
Alguns anos depois, em 1989, tornou-se ministro do Supremo Tribunal Federal. Foi julgado um caso de um nacional de Angola nas mesmas condições do líder guerrilheiro. Sepúlveda Pertence votou pela extradição.
“O compromisso do advogado é com seu cliente; o compromisso de um juiz é com a justiça”.
Voltando ao caso dos professores, vê-se que a fundamentação é o que conta.
As outras duas formas de extorsão acompanham os outros núcleos do tipo do art. 158: constranger a tolerar que se faça e constranger a deixar de fazer. É um artigo que tem a mesma estrutura do artigo de roubo.
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO – ART. 159�.
Este crime passou a existir depois do seqüestro do filho de Charles Lindenberg. A babá do menino havia passado as informações necessárias para o seqüestro. Cobrava-se um preço pela liberdade da criança. Com diligência policial, chegou-se até a babá. O menino, mesmo durante as negociações para o pagamento do resgate já havia sido morto. A partir de então, todos os Códigos Penais contiveram a mesma redação.
Qualquer vantagem, descrita no texto do artigo, tem de ser e somente pode ser vantagem econômica, porque o bem jurídico tutelado é o patrimônio, então a vantagem deve ser patrimonial.
CASO CONCRETO DE EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO. Uma Senhora, muito fina de trato, apertada de dinheiro, com marido desempregado, tinha parentes ricos. Decidiu seqüestrar seu sobrinho. Dissimuladamente, resolveu visitar a família. Durante a visita, os seqüestradores invadiram a casa e toda a família foi contida, inclusive a Senhora, mas o seqüestro não teve sucesso, pois o seqüestrado, saindo amarrado, despertou atenção de vizinhos e, por outras façanhas, conseguiu acionar a polícia, que já chegou para prender, fez diligências rigorosas com todos os que estavam presentes. O resultado foi a prisão da Senhora, sob os protestos do marido, que não sabia de nada e se envergonhou bastante com a atitude de sua esposa.
O advogado de defesa, no julgamento, tentou desconstruir a acusação de extorsão mediante seqüestro para tentativa. Assim perguntou para a vítima há quanto tempo ela tinha ficado amarrada e ela deu como resposta que tinha sido uma por eternidade. 
Abrindo um parêntesis neste caso, há um artigo chamado Sociologia do Tempo mostrando que o tempo não passa igualmente para todas as pessoas e para os presos, em especial, o tempo tem maior duração do que para um ser liberto. Entretanto o Direito Penal não admite esta forma. Para que haja um seqüestro é necessária uma privação por um tempo razoável�.
Uma outra questão proposta para resposta da vítima foi responder a que distância ficou longe de sua casa.
Tais questões, para a defesa, foram postas para concluir, neste caso, racionalmente, que não houve um seqüestro, mas uma tentativa.
Mas a defesa não logrou êxito em sua tese e a Senhora recebeu uma condenação a 14 anos de reclusão por extorsão mediante seqüestro, numa pena cominada para este crime que é de 8 a 15 anos de reclusão.
[15/06/2007]�
DO CRIME DE DANO – ART 163�
O tipo deste crime é a destruição de coisa alheia com a intenção de destruir. O dolo é o elemento subjetivo do crime; não há crime se não existir o dolo. Todo dolo é específico, se abordado pela teoria finalista. 
Neste crime, nenhuma vantagem econômica pode ser obtida com a ação, diferentemente do furto. O inciso III do artigo merece atenção, pois protege o patrimônio público. Não deveria ser tipificado este crime como contra o patrimônio; foi um erro histórico, pois o valor do patrimônio contido no tipo é imaterial e histórico, sendo um patrimônio histórico, artístico e cultural.
Ao destruir algo, mas sem a intenção de destruir, pretendo fazer uma outra coisa, não constitui crime de dano. Um preso que destrói as grades de uma cela com a intenção de fugir não pode ser caracterizado como crime de dano. A destruição foi feita para facilitar a fuga.
A ação penal para este crime se faz através de queixa. 
CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA – ART. 168�
Ao encontrar um objeto que pertence a outrem, identificado e não havendo a procura do dono, tomando-a para si, a reprovação que o Código Penal faz para esta conduta é a mesma do furto, pois trata-se de apropriação indébita. Também é apropriação indébita tomar um objeto emprestado e não devolvê-lo. 
A diferença deste crime para o de furto é que aqui o agente já tem a posse da coisa, consumando-se o crime quando há o “animus domini” pelo agente.
ART. 169: Encontrar tesouro está regulado pelo Código Civil.
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[20/06/2007]
ESTELIONATO – ART. 171�.
Estelionato vem do latim stellionatu. Stellio, em latim, é estelião, uma espécie de lagarto, parecido com um camaleão. Em sentido figurado, mesmo em latim queria dizer velhaco, impostor. O camaleão é um réptil dotado da faculdade de mudar de cor, que tem a capacidade de dissimular, para enganar os seus possíveis predadores. Assim também é o estelionatário. 
Um ponto que o estudante de Direito deve estar atento é para o nome do crime: é estelionato, nunca deverá ser pronunciado como 1-7-1, um-sete-um. É importante deixar esta maneira de falar para quem realmente é malandro.
Para que haja estelionato é necessário:
Obtenção de vantagem ilícita;
Prejuízo;
Vantagens e prejuízos são conseguidos por meio de fraude.
A fraude se caracteriza por fazer alguma coisa. Então o agente pratica um ato. Há dois tipos de fraudes:
Comercial: inerente ou quase-inerente aos atos do comércio, sem nenhuma intenção de incriminar os negócios. Tal ação não caracteriza um crime de estelionato. Um proprietário de automóvel que queira vender o seu carro na feira do Mineirinho não falará certamente toda a verdade sobre o automóvel. Provavelmente, em algum quesito do carro, o vendedor pelo menos se calará. 
Penal: tal como está tipificada no art. 171.
Há farta jurisprudência sobre a linha que separa a fraude civil da fraude penal. 
Em 90 % dos casos, a vítima, de algum modo, concorre para a consumação do crime de estelionato, por usura, porque também gostaria de obter alguma vantagem em um negócio escuso. Isto não exclui o crime de estelionato, mas abaterá a culpa, pelo art. 59, CP.
O estelionato abrange outros crimes como a falsificação de documento público, art. 297. Se alguém falsificar um documento para obter o FGTS de alguém na Caixa Econômica Federal não é crime previsto no art. 297. Se houver uso de documento falso, é enquadrado no art. 304 – Uso de documento falso, não é crime do art. 297.
Se falsificar um documento e usá-lo, é típico do art. 304. Se falsificar um documento e usa-lo para obter vantagem ilícita, o tipo agora se perfaz no art. 171. É necessárioestabelecer a finalidade do agente.
FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE – ART. 171, VI.
É um crime de mera conduta; este crime teve o momento de consumação modificado pela jurisprudência (STF) Há o crime quando o cheque entra na conta-corrente e não há numerário suficiente para descontá-lo.
DUPLICATA SIMULADA - ART 172. Também é um crime de mera conduta.
OUTRAS FRAUDES – ART. 176. Se alguém vai a um restaurante e pede um bife bem passado, sob pena de não pagá-lo se vier com um mínimo de presença da cor vermelha, denotando que está mal-passado,e se assim acontecer, não constitui crime se o cliente não pagar, se dispuser de dinheiro para pagá-lo. Isto é um problema para o direito civil, não penal.
DA RECEPTAÇÃO – ART. 180
O crime de receptação tem a mesma cominação de pena que o crime de furto. Se não houver reprimenda à receptação, o furto não diminui, por isso as penas de crimes de receptação tem sido aumentadas.
CASO DO ROAD-STAR�. Em um ambiente onde várias pessoas conhecidas entre si operam, seja trabalhando seja estudando, todas sabedoras que havia ali por perto um sujeito que trabalhava com toca-fitas de origem criminosa. Um dia, este sujeito oferece um rádio para uma daquelas pessoas que rejeita a venda, mas diz que gostaria de ter Road-Star. Na semana seguinte, vem o sujeito com o pedido, entrega à pessoa que fez encomenda. O comprador paga o sujeito e o negócio está fechado. 
Isto nunca será crime de receptação, porque receptação é uma conduta autônoma, uma conduta “post factum”�. Neste caso, o crime foi encomendado, a conduta não foi “post factum”, foi “ante factum”: o crime é de furto, pelo art. 29. Se tivesse havido a primeira compra (o rádio ofertado anteriormente) seria receptação; no caso da encomenda, o comprador concorreu para a prática do furto.
INTERPRETAÇÃO DO § 4º DO ART. 180 – RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
O conceito analítico de crime é fato típico, ilícito e culpável. Por fato típico entende-se fato contra o ordenamento jurídico, reprovável, praticado por alguém maior de 18 anos de idade.
O Prof. Damásio, abriu uma determinada controvérsia, classificando o crime como fato típico e ilícito e a culpabilidade é pressuposto da pena. Juristas de alto coturno consideravam esta classificação uma estultice porque achavam mesmo que a culpabilidade era mesmo pressuposto da pena, mas acrescida da ilicitude.
O art. 23 dispõe: “Não há crime (...)” enquanto o art. 26 estatui: “Ê isento de pena (...)”. Reparem a diferença se se troca estas frases de lugar nos seus artigos. Agora, compare os artigos com as frases trocadas com o disposto no §3º do Art. 180: “(...) ou isento de pena”.
Se se compra um artigo de origem criminosa de um rapaz menor de 18 anos de idade, há crime? Ora, o rapaz é inimputável, então não houve crime.
Veja o que diz o art. 228 da Constituição Federal: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.
E o art. 27 do Código Penal: “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”.
Hungria, para fechar a lógica do crime de receptação, saiu-se com esta preciosidade que é este artigo: a receptação será sempre punida, mesmo que de outro lado esteja uma criança.
Neste campo, Prof. Damásio tem razão: “não é crime” é diferente de “é isento de pena”. 
DISPOSIÇÔES GERAIS – ART. 181
É isento de pena a subtração de coisas de cônjuges, de ascendentes ou descendentes, ou seja, se a filhinha maior de 18 anos retirar uma moedinha do bolso do pai, ela é isenta de pena.
Finalizando, é importante dizer que no Código Penal está estampada a culpabilidade do fato e a culpabilidade do autor, esta última, herança remota dos primeiros direitos, da longínqua Idade Média. O sujeito era punido não pelo crime, mas por ser algo, um bruxo, um traidor. O CP ainda traz este ranço. Ver art. 284 – Curandeirismo. Tal descrição de conduta é praticada em várias seitas religiosas ou em religiões e são aceitas normalmente. Mas o curandeiro ainda cheira à Idade Média. O art. 230 também é da culpabilidade do autor.
INDICAÇÕES DE LIVROS E FILMES 
SOBRE O ART. 121, § 3º.
Noronha, Edgar de. Do crime culposo.
Tavares, Juarez. Direito penal da Negligência.
Teoria penal do injusto.
CRIME CULPOSO
Hungria, Nelson. Os Pandectistas do Direito Penal.
PACTO DE SANGUE
Rabinowicks, Leon�. O crime passional.
PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO
Suzana. Dissertação de Mestrado.
ESTADO DE NECESSIDADE
Hugo, Victor. Os Miseráveis.
ABORTO
Chaves, Antônio. Direito à vida e ao próprio corpo.
Sá, Fátima Freire de. Direito de morrer.
CRIMES ELEITORIAIS
Costa Jr. Paulo José. Pedro Collor O Homem que mudou o País. 
Rosa, Mário. A Era do Escândalo.
DEFESA NOS CRIMES PASSIONAIS
Silva, Evandro Lins e. A Defesa tem a palavra.
Ovídio. A Arte de Amar.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Reis, Michel Wickland, Prof. Consentimento do Ofendido.
SEQÜESTRO
Fowles, John. O Colecionador�.
REVELAÇÃO DE SEGREDO PROFISSIONAL.
Juramento ao Silêncio� (filme).
PRISÃO
Lombroso, Cesare. Crepúsculo de uma era.
Lombroso, Cesare. O homem delinqüente.
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Zaffaroni, Eugênio. Em busca das penas perdidas.
Mello, Lydio Machado Bandeira de. Capitulação dos crimes e fixação das penas. Apontamento de Direito Penal. Ed. Do autor. 1952.
José Cirino. Introdução aos crimes sem espécie.
EXTORSÃO
Horta, Frederico, Prof. Concurso Aparente de Normas.
Marques Júnior, Antônio de Pádua. Conceitos de Violência no Direito Penal.
SEQÜESTRO
Fragoso, Heleno. Advocacia da Liberdade.
Revista de Informação Legislativa do Senado Federal. Sociologia do Tempo.
PUNIBILIDADE
Fragoso, Heleno. Da Conduta Punível.
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�
� Ao contrário do que se imagina a origem deste princípio não é romana. É de jus-filósofo alemão, Feuerbach, que a traduziu para o latim: “nullum crimen, nulla poena sine praevia lege”.
� Um exemplo grosseiro, mas bem explicativo é a morte feita com um cortador de unhas.
� Latrocínio não é um crime “nomini iures” ou de rubrica marginal. Não existe este crime como rubrica no Código Penal. Diz-se do roubo seguido de morte. Igualmente, o Código Penal não nomina assalto e chantagem. O latrocínio pode ser enquadrado no Art. 121, § 2º ou no Art. 157, § 3º.
� Súmula 603: A competência para processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.
� Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: 
        a) não é maior de catorze anos;
        b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
        c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.
� Há solução para tudo.
� A analogia não é possível no Código Penal, a não ser para a defesa. 
� Na prática isto não acontece. A mulher vai a uma clínica clandestina e pratica o aborto.
� Conselho Regional de Medicina
� Art. 158.  Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
� As anotações referentes a este dia são de autoria de Vladimir de Lima Santos.
� Local aqui não é naturalidade. É o local físico.
� Lei nº. 4.737
� Lei nº. 5.250
� Vladimir de Lima Santos
� Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
� Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
� Hungria jamais imaginou nem mesmo uma mulher tirando um cavalheiro para dançar.
� Poder aqui está no sentido de “ter possibilidade de”.
� Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra

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