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CRIMES CONTRA A PESSOA

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CRIMES CONTRA A PESSOA. CRIMES CONTRA A VIDA I. Homicídio. 
O Delito de Homicídio
 Bem jurídico tutelado. Considerações gerais sobre o início e término da vida extra-uterina. Elementos do tipo. Sujeitos do delito. Classificação do delito. Consumação e tentativa.Desistência voluntária e arrependimento eficaz no delito de homicídio.Crime impossível e o delito de homicídio.
Bem jurídico tutelado. Considerações gerais sobre o início e término da vida extra-uterina. 
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
CRFB/1988. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
O Conceito Biológico de Vida tem por principais teorias: Concepção (utilizada pelo Direito Civil), Nidação, Implementação do Sistema Nervoso e Sinais Eletroencefálicos para fins de caracterização do termo inicial da vida.
 Por outro lado, segundo Luiz Regis Prado, o conceito de Vida para fins de Direito penal deve partir de critérios normativos, matizados por critérios sociais (Material Didático, pp 45). Insta salientar que o bem jurídico vida é indisponível.
Distinção entre início e término da vida intra e extrauterina. 
 ► Vida Intrauterina - início.
 - término.
► Vida Extrauterina - início.
 - término (art. 3º, lei n.9434/1997)
Art. 3º - A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina
Conceito de Homicídio: Eliminação da vida extrauterina levada a termo por terceiro.
 
 Classificação doutrinária: crime comum, unissubjetivo, de dano, material, de forma livre, instantâneo de efeitos permanentes. 
► O delito pode ser perpetrado por meios físicos (mecânicos, químicos ou patogênicos – instrumentos perfurantes, substâncias corrosivas, vírus letais); morais ou psíquicos.
 ► Crime material e exigência da prova da materialidade do delito – Exame de corpo de delito direto e indireto (art.167, CPP)
Art. 158, CPP. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 165 , CPP.  Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
Art. 167 , CPP.  Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta         
► Sujeito passivo e objeto material do crime são correspondentes
Consumação e tentativa.
 
Por tratar-se de delito material, instantâneo e de efeitos permanentes consuma-se com a ocorrência do resultado naturalístico.
 A lei n.9434/1997, art.3º, estabeleceu como critério a morte cerebral, consistente na “parada das funções neurológicas segundo os critérios da inconsciência profunda sem reação a estímulos dolorosos, ausência de respiração espontânea, pupilas rígidas, pronunciada hipotermia espontânea e abolição de reflexos” (Dicionário Médico Blakiston, apud, CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal. V.2. 10.ed, pp 36)
Espécies de tentativa e critérios de diminuição de pena
 
 Perfeita ou Imperfeita.
 Branca ou Cruenta.
Art. 14, CP - Diz-se o crime: 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços
Figuras típicas
 
 2.1. Homicídio simples (art.121, caput, CP).
 2.2. Homicídio privilegiado (art.121§1º, CP).
 2.3. Homicídio qualificado (art.121, §2º, CP).
 2.4. Homicídio culposo (art.121, §3º, CP).
 2.1. Homicídio Simples (art.121, caput, CP).
 
 Art 121, CP. Matar alguém:
 Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Homicídio privilegiado (art.121§1º, CP).
 
 Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal.
 39. Ao lado do homicídio com pena especialmente agravada, cuida o projeto do homicídio com pena especialmente atenuada, isto é, o homicídio praticado "por motivo de relevante valor social, ou moral", ou "sob o domínio de emoção violenta, logo em seguida a injusta provocação da vítima". Por "motivo de relevante valor social ou moral", o projeto entende significar o motivo que, em si mesmo, é aprovado pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ante o irremediável sofrimento da vítima (caso do homicídio eutanásico), a indignação contra um traidor da pátria, etc.
Distinção entre Privilégio (causa de diminuição de pena) e Circunstância Atenuante (art. 65, III, c, CP)
Art. 65 – São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
 
 O Privilégio e o Concurso de Pessoas:
Art. 30, CP - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
Homicídio Qualificado.
 Natureza jurídica e incidência da Lei n. 8072/1990. 
 Exposição de Motivos do Código Penal.
38. O projeto mantém a diferença entre uma forma simples e uma forma qualificada de "homicídio". As circunstâncias qualificativas estão enumeradas no § 2º do artigo 121. umas dizem (...) outras, com o modo de ação ou com a natureza dos meios empregados; mas todas são especialmente destacadas pelo seu valor sintomático: são circunstâncias reveladoras de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente. Em primeiro lugar, vem o motivo torpe (isto é, o motivo que suscita a aversão ou repugnância geral, v.g.: a cupidez, a luxúria, o despeito da imoralidade contrariada, o prazer do mal, etc.) ou fútil (isto é, que, pela sua mínima importância, não é causa suficiente para o crime). 
Vem a seguir o "emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso (isto é, dissimulado na sua eficiência maléfica) ou cruel (isto é, que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima, ou revela uma brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar sentimento de piedade) ou de que possa resultar perigo comum". (...) São também qualificativas do homicídio as agravantes que traduzem um modo insidioso da atividade executiva do crime (não se confundindo, portanto, com o emprego de meio insidioso), impossibilitando ou dificultando a defesa da vítima (como a traição, a emboscada, a dissimulação, etc.). Finalmente, qualifica o homicídio a circunstância de ter sido cometido "para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime". É claro que esta qualificação não diz com os casos em que o homicídio é elemento de crime complexo
Art.121. Homicídio qualificado
 § 2° Se o homicídio é cometido:
 Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
 
 Incidência da Lei n. 8072/1990.
 Art. 1º. São considerados crimes hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n. 2848 de 07 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados:
 Homicídio (art.121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.121,§2º, I, II, III e IV).
 ► Questão controvertida: homicídio simples e atividade típica de grupo de extermínio –caracterização da hediondez
As circunstâncias qualificadoras.
A) Motivos qualificadores determinantes.
§2º. I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
 II - por motivo fútil;
► “Torpe é o motivo abjeto, indigno e desprezível, que repugna ao mais elementar sentimento ético” (PRADO, Luiz Regis. Material Didático, pp 53)
► “Motivo Fútil é aquele insignificante, flagrantemente desproporcional ou inadequado se cotejado com a ação ou omissão do agente”. (idem pp 52)
 
Obs. Confronto com o art.61, II, a, CP.
B) Meios e modos de execução qualificadores. A interpretação analógica no delito de homicídio qualificado.
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
► Meio insidioso é aquele dissimulado em sua eficiência maléfica; o meio cruel o que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima, ou revela uma brutalidade fora do comum, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade(...) o perigo comum é aquele capaz de afetar número indeterminado de pessoas.
O emprego de veneno ou a vingança sempre
 qualificam o homicídio? 
Confronto com o art.61, II, d, CP.
 
Confronto entre o delito de homicídio qualificado pelo emprego de tortura e o delito de tortura – Lei n.9455/1997.
► A traição pressupõe perfídia e deslealdade, enquanto a emboscada corresponde ao ocultamento do agente, que clandestinamente aguarda a vítima com o propósito de surpreendê-la e agredi-la; por fim, a dissimulação é o encobrimento dos próprios desígnios” (Material Didático, pp 55)
Obs. Confronto com o art.61, II, c, CP.
C) Fins qualificadores – conexão.
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
► “Pressupõe a existência de dois crimes entre os quais há conexão teleológica (meio/fim) ou consequencial (causa/efeito).” (Material Didático, pp 55)
Obs. Confronto com o art.61, II, c, CP.
Comunicabilidade das qualificadoras no caso de concurso de pessoas.
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. 
 ► Necessário identificar a espécie de qualificadora◀
 Concurso entre o homicídio privilegiado e
 qualificado. 
 ► Possível, desde que, as qualificadoras tenham natureza objetiva. ◀
 No sentido da possibilidade de incidência concomitante de privilégio e qualificadora vide decisão proferida pela Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: Apelação crime n. 70017589250, rel. Elba Aparecida Nicolli Bastos, julgado em 15/03/2007.
Ementa: Apelação juri homicídio qualificado privilegiado qualificadora objetiva coexistencia semi-imputabilidade reconhecimento inexistência de laudo decisão manifestamente contrária a prova dos autos. 1- O privilégio da violenta emoção a seguir a injusta provocação da vítima não é incompatível com a qualificadora do recurso que dificultou a defesa do ofendido, descrita circunstância fática de ter atirado de inopino, pelas costas, logo após a vítima virar-se para ir embora. 2- O reconhecimento da semi-imputabilidade só é possível se instaurado incidente de Insanidade com a conclusão dos peritos concluindo pela capacidade reduzida. A quesitação do parágrafo único do artigo 26 do Código Penal é irregular e o reconhecimento pelos jurados contraria, frontalmente a prova dos autos, determinando-se a anulação do julgamento para que outro se realize. Negado provimento ao apelo da defesa. provido o apelo do ministério público.
“ Admite-se a figura do homicídio qualificado-privilegiado, sendo fundamental, no particular, a natureza das circunstâncias. Não há incompatibilidade entre circunstâncias subjetivas e objetivas(...) ( STJ, RT/680/406 apud CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal. Parte Especial. 2 ed, pp 26)
 “ É de enfatizar-se, nesse passo, que são havidas como circunstâncias preponderantes aquelas que resultam dos motivos determinantes do crime (art.67, CP). (Material Didático, pp 51).
RECURSO. HOMICÍDIO QUALIFICADO PRIVILEGIADO (EMPREGO DE MEIO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA E INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA). TESE ACUSATÓRIA. AUMENTO DA PENA. PARCIAL PROVIMENTO. TESE DEFENSIVA. DIMINUIÇÃO DA PENA E MODIFICAÇÃO DO REGIME PRISIONAL INICIAL. PARCIAL PROVIMENTO. 
 1) No caso de tentativa, quanto mais próximo o agente chegar da consumação, menor será a redução e vice-versa. O réu, in casu, desferiu diversos tiros contra a vítima na região da cabeça, o que importa o reconhecimento de que o réu chegou bem perto de consumar o desígnio homicida. 
2) Não há nos autos nenhuma prova de que a vítima tenha sofrido sequelas definitivas. Tal fato somente poderia ser atestado por meio de prova pericial médica, o que, no caso não foi. Assim, por não haver provas quanto a extensão da consequência do crime praticado pelo réu, é de se considerar que as condições do art. 59 lhe são todas favoráveis. 
 3) O STF já se posicionou no sentido de que a hediondez do crime não implica, necessariamente, na obrigatoriedade de aplicação do regime fechado. Devem assim ser analisadas as regras do art. 33 c/c 59 do CPB. 
 5) Apelações conhecidas e parcialmente providas.
CASO CONCRETO
Adamastor Vale foi condenado como incurso nas sanções do artigo 121,§2º, inciso IV, do Código Penal por ter matado Anatalino da Silva, utilizando de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, desferindo pauladas no ofendido, causando-lhe as lesões descritas no auto de necropsia de fls. 19 do Inquérito Policial, que foram a causa de sua morte. Na ocasião, o denunciado utilizando-se de um pedaço de madeira, uma “trama” para cerca, desferiu pauladas na vítima, quando esta tentava se retirar do pátio da residência do acusado. Por outro lado, não se pode deixar de registrar que, momentos antes do fato, a vítima estaria embriagada no pátio da casa do réu, proferindo diversas ofensas verbais a ele e sua cunhada, além de tentar invadir sua residência e agredi-los fisicamente, razão pela qual, 
Adamastor Vale interpôs recurso de apelação com vistas ao reconhecimento da nulidade da decisão proferida pelo Tribunal do Júri por não ter sido formulado quesito relativo à forma privilegiada do delito, consoante entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal (Verbete de Súmula n.162), pedido julgado improcedente, haja vista a tese relativa à forma privilegiada do ilícito não ter sido ventilada pela defesa técnica em nenhum momento processual, nem mesmo no julgamento em plenário, ocasião em que propugnou apenas pelo afastamento da qualificadora e pela absolvição.
Arguiu o reconhecimento da causa de diminuição de pena (privilégio).
R) sim, há de prosperar, pois si trata de um crime de homicídio qualificado-privilegiado com base no art. 121, , § 1 do cp, nos traz circunstancias de caráter subjetivo pois si referem aos motivos determinantes, assim considerando o privilegio. Tendo agido Adamastor por motivo de relevante valor moral ou social sobre o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação. Vale lembrar que as privilegiadoras são todas subjetivas, posto que si relacionam com o motivo do crime ou com o estado emocional do agente.
2.	Afastamento da hediondez do delito. 
R) sim, pois o caso concreto trata de concurso de circunstancias agravantes e atenuante, onde o meio ou modo de execução usado pelo agente , no caso Adamastor, é uma qualificadora objetiva e no entanto exerce uma compatibilidade com a privilegiado que é o motivo determinante do crime. Caso em que si admite a possibilidade do tipo, vale salientar que é indispensável que a qualificadora seja de natureza objetiva. No art.67 do cp que diz, havendo concorrência de circunstancias agravantes e atenuantes dar-es preponderância asde natureza subjetiva, que são as que resultam dos motivos determinantes do crime.
A partir do caso concreto narrado e dos estudos realizados sobre a teoria da pena, os crimes contra a vida e os institutos repressores da lei de crimes hediondos (Lei n.8072/1990) analise a procedência dos pedidos sucessivos.
2.4.Homicídio Culposo
Art. 121, CP. Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
Conflito aparente de normas entre o homicídio culposo previsto no Código Penal e no Código de Trânsito Brasileiro
Art. 302, Lei n. 9503/1997. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
2.5.Perdão Judicial. 
 Direito Público Subjetivo do réu de caráter unilateral, no qual o Estado-juiz deixa de aplicar a pena em circunstâncias expressamente previstas em lei.
 Art.121, §5º, CP. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
QUESTÃO OBJETIVA
Com relação ao delito de homicídio, analise as assertivas abaixo e assinale a opção correta:
O homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que na forma simples, poderá ser considerado hediondo, consoante expressa previsão legal na Lei n.8072/1990. 
No caso de um delito de homicídio ser praticado em concurso de pessoas no qual haja um contrato para o pagamento, tanto o contratante, quanto o executor do homicídio que receber o pagamento, obrigatoriamente, serão responsabilizados pelo homicídio Estão corretas apenas:
 c) II e III.
CRIMES CONTRA A PESSOA. CRIMES CONTRA A VIDA II. 
Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio.
 1.1. A autolesão e o sistema jurídico-penal vigente.
 Princípio da Alteridade. 
 O A Legislação Penal não sanciona a conduta de destruir
 a própria vida por questões de Política Criminal.
 Segundo Nélson Hungria, apud Fernando Capez, são duas as razões de Política Criminal:
 1. caráter repressivo da sanção penal (não pode recair sobre
 um cadáver);
 2. caráter preventivo da sanção penal ( a ameaça da pena
 queda-se inútil ante aquele indivíduo que nem sequer teme a
 morte).
 (CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte
 Especial, v.2.10. ed. pp 121)
1.2. Elementos do tipo.
► Induzir significa inspirar, incutir, sugerir, persuadir (...) fazer brotar no espírito de outrem a idéia suicida (PRADO, Luiz Regis. Material Didático). 
► Instigar “é estimular, incitar (...) a idéia suicida preexiste e o instigador impulsiona sua concretização (PRADO, Luiz Regis. idem)
► Auxiliar é “fornecer os meios necessários para que a vítima alcance o propósito de matar-se”. (idem)
1.3. Sujeitos do delito.
 ► Indispensável que seja pessoa certa e determinada.
 ► O sujeito passivo e a necessidade de capacidade de discernimento.
1.5. Consumação e tentativa. 
 1ª Corrente: trata-se de delito instantâneo e de mera conduta, logo os resultados lesão corporal grave ou morte configuram mera condição de punibilidade. Neste caso, é correto afirmar que o delito se consuma com o mero induzimento, instigação ou auxílio. (Luiz Regis Prado).
 2ª Corrente: trata-se de delito material, logo os resultados lesão corporal grave ou morte configuram elementares do tipo penal e o delito só se consuma com sua ocorrência. Caso contrário, a conduta será atípica. (Fernando Capez. Op. Cit, pp 127).
 ATENÇÃO . Em ambos os casos a tentativa é inadmissível.
1.6. Figuras Típicas
► Simples
Art. 122, CP. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
► Majoradas.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Obs. Estupro de vulnerável - Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos
Pacto de Morte. Caracterização e distinção do delito de homicídio.
 Narrativa: Casal que firma o pacto de morte a ser concretizado mediante a utilização de gás de um aquecedor doméstico; para tanto, tranca-se em um banheiro, o rapaz veda as aberturas da janelas e porta, abre a torneira de gás enquanto a moça assiste a tudo deitada na banheira.
Hipótese 1. Ambos sobrevivem com lesões leves.
Hipótese 2. Ambos sobrevivem com lesões graves.
ipótese 3. O rapaz morre. 
Hipótese 4. A moça morre.
CASO CONCRETO
Marcos e Rodrigo instigaram Juarez, que sofria de depressão, a cometer suicídio, pois, na condição de herdeiros do último, pretendiam a morte do mesmo por interesses econômicos. Ainda que Juarez tenha admitido firmemente a possibilidade de eliminar a própria vida, não praticou qualquer ato executório. Diante desse contexto, Marcos e Rodrigo: (FCC - 2014 - DPE-RS - Defensor Público).
 
A) poderiam ter a pena reduzida de 1/3 a 1/2, se a pretensão tivesse caráter humanitário, de piedade, e a morte tivesse se consumado.
B) deverão responder por tentativa de homicídio, visto que a ideia de ambos era eliminar a vida de Juarez para posterior enriquecimento. 
c) serão responsabilizados pelo crime previsto no art. 122 do Código Penal, com redução da pena pelo fato de a vítima não ter atentado contra a própria vida, já que para a consumação do delito basta a mera conduta de instigar. 
 D) não responderão pelo crime de instigação ao suicídio, pois não houve morte ou lesão corporal de natureza grave na vítima. 
 E) responderiam por instigação ao suicídio, caso, no mínimo, Juarez atentasse contra a própria vida e tivesse ocasionado lesões corporais leves em seu corpo.
2. Infanticídio.
2.1. Elementos do tipo.
 ► Bem Jurídico tutelado. Início da vida extrauterina. 
 
 2.2. Sujeitos
 Ativo: delito especial próprio.
 Passivo: neonato.
 É indiferente a capacidade de vida autônoma. 
Art. 123, CP. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos
Natureza jurídica do estado puerperal.
 Critério fisiopsíquico a ser aferido mediante laudo pericial com vistas à atenuação da culpabilidade.
 ► Exposição de Motivos do Código Penal.
Item n. 40. O infanticídio é considerado um delictum exceptum quando praticado pela parturiente sob a influência do estado puerperal. Esta cláusula, como é óbvio, não quer significar que o puerpério acarrete sempre uma perturbação psíquica: é preciso que fique averiguado ter esta realmente sobrevindo em conseqüência daquele, de modo a diminuir a capacidade de entendimento ou de auto-inibição da parturiente. Fora daí, não há por que distinguir entre infanticídio e homicídio. Ainda quando ocorra a honoris causa (considerada pela lei vigente como razão de especial abrandamento da pena), a pena aplicável é a de homicídio. 
O Estado Puerperal configura elementar do tipo penal – distinção do delito de homicídio.
 Para Guilherme de Souza Nucci, o estado puerperal “é o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno (...) sendo uma hipótese de semi-imputabilidade que foi tratada pelo legislador(...) sendo o puerpério o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez”. (NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, 9 ed. pp 612).
Caso seja retirada total ou parcialmente a capacidade de entendimento ou de autodeterminação da parturiente em decorrência do grau de desequilíbrio fisiopsíquico, aplicar-se-ão as disposições do art. 26, caput ou parágrafo único do CP.
2.3. Consumação e tentativa
 Crime material: consuma-se com a morte do nascituro, sendo admissível a tentativa, haja vista tratar-se de crime plurissubsistente.
2.4. Questões controvertidas.
Distinção entre o delito de infanticídio e outras figuras típicas, tais como: homicídio e crimes de perigo.
Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 134, CP.Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Concurso de pessoas no delito de infanticídio: possibilidade e comunicabilidade do estado puerperal. 
Narrativa: Mãe que, sob a influência do estado puerperal, mata o próprio filho e a possibilidade da interferência de conduta de terceiro. (Material Didático pp 74)
 Hipótese 1: mãe e terceiro realizam
 dolosamente o núcleo do tipo. Ambos
 respondem pelo delito de infanticídio
 por força do art.29, CP; 
 Hipótese 2: mãe mata o nascente e é
 ajudada pelo terceiro; ambos
 respondem pelo delito de infanticídio
 por força do art.30, CP. Ele,
 entretanto, na condição de partícipe.
Hipótese 3: o terceiro mata a criança, com a participação da mãe. Neste caso, há a quebra da teoria unitária do concurso de pessoas, sendo o terceiro responsabilizado pelo delito de homicídio e a mãe, infanticídio por força do disposto no art.67, CP.
Art. 30, do Código Penal. 
 Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
Art. 67, do Código Penal. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência
Sobre a distinção entre os delitos de aborto, homicídio e infanticídio:
 DIREITO PENAL. CRIME DE ABORTO. INÍCIO DO TRABALHO DE PARTO. HOMICÍDIO OU INFANTICÍDIO.
 Iniciado o trabalho de parto, não há crime de aborto, mas sim homicídio ou infanticídio conforme o caso. Para configurar o crime de homicídio ou infanticídio, não é necessário que o nascituro tenha respirado, notadamente quando, iniciado o parto, existem outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente, por exemplo, os batimentos cardíacos
Aborto. 
Bem jurídico tutelado. 	
 Considerações gerais sobre o início da vida intra-uterina (teorias): compreendida a partir da adoção da teoria da Nidação, estudada no primeiro encontro acerca dos delitos contra a vida, a saber: “ com a implantação do óvulo fecundado no endométrio, ou seja, com a sua fixação no útero materno” (PRADO, Material Didático, pp 86) .
Vida Intrauterina ou Dependente.
 Conceito de Aborto: Eliminação dolosa da vida intrauterina, seja por meio da expulsão do útero materno, seja por meio da interrupção dolosa da gravidez, levada a termo por terceiro – gestante (art.124, CP) ou terceiro (art.125 e art. 126, CP). 
Aborto. 
Bem jurídico tutelado. 	
 Considerações gerais sobre o início da vida intra-uterina (teorias): compreendida a partir da adoção da teoria da Nidação, estudada no primeiro encontro acerca dos delitos contra a vida, a saber: “ com a implantação do óvulo fecundado no endométrio, ou seja, com a sua fixação no útero materno” (PRADO, Material Didático, pp 86) .
Vida Intrauterina ou Dependente.
 Conceito de Aborto: Eliminação dolosa da vida intrauterina, seja por meio da expulsão do útero materno, seja por meio da interrupção dolosa da gravidez, levada a termo por terceiro – gestante (art.124, CP) ou terceiro (art.125 e art. 126, CP). 
a) natural: geralmente ocorre por problemas de saúde da gestante – irrelevante penal (atípico).
b) acidental: decorrente de quedas, traumatismos e acidentes – em regra, atípico.
c) criminoso: previsto nos art. 124 a 127, CP
d) legal ou permitido: previsto no art. 128, CP.
2. Classificação do delito Elementares do Tipo Penal. 
 A figura típica, em todas as suas modalidades é dolosa, material e de forma livre, pois admite a sua prática por meios químicos, físicos ou psíquicos. 
 Compreendem-se por meios químicos, os meios internos, ou seja, uma vez introduzidos no organismo da gestante, estimulam as contrações dirigidas à expulsão do produto da concepção. Por meios físicos, mecânicos, térmicos ou elétricos e, por meios psíquicos, choques morais, provocação de terror etc
. Sujeitos do delito.
3.1. Sujeito Ativo - gestante (art. 124, CP)
 - gestante e terceiro (art. 126,
 CP)
 - terceiro (art.125, CP).
 
 3.2. Sujeito Passivo – ser humano em formação; nas figuras típicas dos art. 125 e 127, CP, também será sujeito passivo a gestante.
 
4. Consumação e tentativa.
 Por tratar-se de delito material, ou de dano, consuma-se com a morte do produto da concepção, sendo irrelevante que a mesma ocorra dentro ou fora do útero materno.
5. Figuras típicas.
 5.1. Autoaborto. 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
 Nesta figura típica, é possível a prática das condutas do auto-aborto pela gestante ou do consentimento, pela gestante, para que terceiro o pratique.
 Na primeira modalidade, estamos diante de um delito de mão própria, logo, não será admissível, no caso de concurso de pessoas, a coautoria, mas, somente, a participação. 
 
Na segunda modalidade, aborto consentido, o legislador optou pelo rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas, sendo a conduta da gestante tipificada no art. 124, CP e a do terceiro, no art. 126, CP.
 Questão controvertida: No caso da conduta do autoaborto, com a participação de terceiro, no qual resulte lesões corporais graves ou a morte da gestante, qual será a responsabilização penal do partícipe? 
 Neste caso, o melhor entendimento é no sentido de que o terceiro será responsabilizado pela participação na figura típica do art. 124, CP em concurso formal perfeito com a modalidade culposa afeta aos resultados mais gravosos – art.121, §3º ou art. 129, §6º c.c art. 124 n.f art. 70, 1ª parte, todos do CP.
Questão controvertida: a gestante que tenta suicidar-se responderá pelo delito de aborto na modalidade tentada ou consumada, haja vista a lesão ao bem jurídico vida intrauterina.
5.2. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante.
 Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
 Pena - reclusão, de um a quatro anos.
 Como dito anteriormente, nesta figura típica há o rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas no que concerne à conduta da gestante que consente com a prática do aborto, sendo sua conduta tipificada como incursa no art. 124, CP.
 
5.3. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante.
 Nesta figura típica, a gestante e o produto da concepção (óvulo, embrião ou feto) são sujeitos passivos da conduta praticada por terceiro. Questão de suma importância é a compreensão acerca da ausênciade consentimento da gestante, podendo ser o dissenso real ou presumido.
 
 Dissenso real: nos casos de emprego de fraude, grave ameaça ou violência contra a gestante. 
 
 Dissenso presumido: nos mesmos moldes da caracterização da “vulnerabilidade” da vítima prevista no art.217-A, CP - se a gestante não é maior de quatorze anos.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Aborto qualificado pelo resultado lesão corporal de natureza grave ou morte.
 A figura majorada prevista no art. 127, CP, Configura-se como figura preterdolosa e, somente, é aplicável às figuras típicas previstas nos art. 125 e 126, CP, ou seja, ao terceiro que pratica o aborto e não à gestante, no caso de lesões corporais de natureza grave por questões de política criminal, haja vista o ordenamento jurídico não sancionar, em regra, a autolesão (princípio da alteridade).
 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
6. Aborto Legal.
 Configura causa especial excludente de ilicitude e compreende os denominados aborto necessário e aborto humanitário.
Possui por fundamento o disposto no item n. 41, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, in verbis: 
 Item n. 41. (...) Mantém o projeto a incriminação do aborto, mas declara penalmente licito, quando praticado por médico habilitado, o aborto necessário, ou em caso de prenhez resultante de estupro. Militam em favor da exceção razões de ordem social e individual, a que o legislador penal não pode deixar de atender. 
Uma mulher de 37 anos, que cometeu um autoaborto em 2006, vai a júri popular. Dependente de drogas, desempregada e mãe de dois filhos, ela foi denunciada pelo Ministério Público, absolvida em primeira instância, mas terá de sentar no banco dos réus por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, que atendeu ao recurso da promotoria. Keila Rodrigues mora em Paulo de Faria, uma cidadezinha no interior de São Paulo com pouco mais de 8,5 mil habitantes, distante 150 quilômetros de São José do Rio Preto. 
Ela pagou R$ 100 por dois comprimidos Cytotec, um abortivo de uso restrito, comprados clandestinamente. No dia 31 de outubro de 2006, grávida de cinco meses, ela foi até o Hospital de Base de Rio Preto e colocou os comprimidos na vagina. Pouco tempo depois, passou a ter fortes contrações e precisou ser internada imediatamente. Como a gravidez era avançada, o feto não foi expulso naturalmente, e Keila entrou em trabalho de parto antecipado. O bebê - que recebeu o nome de Amanda - nasceu de parto normal no dia 2 de novembro, pesando 615 gramas. A menina viveu por 20 dias, mas não resistiu. Morreu em decorrência de uma infecção neonatal, provocada pela prematuridade extrema. 
O caso foi parar na polícia depois que uma enfermeira do hospital registrou uma queixa contra Keila numa delegacia. A atitude da enfermeira é condenada pelo Ministério da Saúde na nota técnica Atenção Humanizada ao Abortamento e pelo Código de Ética de Profissionais da Enfermagem. O inquérito foi concluído e enviado ao Ministério Público, que entrou com uma denúncia formal contra Keila na Justiça. Sem dinheiro para contratar advogado, Keila recebeu o benefício da assistência gratuita - uma parceria da Defensoria Pública com a Ordem dos Advogados. A advogada Maria do Carmo Rocha Chareti foi então nomeada para defender Keila no processo. E ela mesma teve dificuldade para localizar a acusada. "Keila mora nas ruas. É pobre, alcoólatra, dependente de drogas. na Justiça.
A partir do caso concreto narrado e dos estudos realizados sobre os crimes contra a vida, identifique. 
As figuras típicas do delito de aborto.
O momento consumativo do delito de aborto. Responda de forma objetiva e fundamentada.
c)	O fato da criança ter nascido e vindo a falecer após 20 dias de seu nascimento descaracteriza o delito de aborto? Responda de forma objetiva e fundamentada
5.1. Lesão corporal leve – art.129, caput, CP.
 
 A figura típica deverá ser analisada mediante o critério de exclusão em relação às demais figuras típicas dolosas. 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
5.2 Lesão corporal qualificada pelo resultado: grave ou gravíssimo – art.129, §§1º e 2º.
a) Resultado Grave
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
V – aborto.
Nesta figura, eminentemente preterdolosa, é indispensável que o agente tenha conhecimento da gravidez.. Caso o agente assuma o risco, ao lesionar a gestante, da ocorrência do resultado mais gravoso – aborto, sua conduta caracterizará concurso formal imperfeito de crimes entre o delito de lesões corporais e o delito de aborto praticado sem consentimento da gestante. 
Também não há que se confundir com a figura majorada do aborto prevista no art.127, CP, preterdolosa, na qual o dolo do agente consiste nas manobras abortivas e, em decorrência destas, advém, culposamente, as lesões corporais de natureza grave à gestante.
5.3. Lesão corporal seguida de morte.
 Delito preterdoloso. Neste caso não há que se falar em tentativa, pois não há, por parte do agente, vontade e consciência em relação ao resultado mais gravoso – morte, sendo, todavia, imputável face à previsibilidade objetiva deste resultado.
 Não há que se confundir com o delito de homicídio culposo, pois no delito previsto no art.129,§3º, há o concurso entre dolo e culpa – crime complexo, enquanto, na figura do art.121,§3º, o resultado morte advém de “um fato penalmente indiferente” (Nelson Hungria apud Capez, op cit pp 184)
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
5.4. Lesão corporal privilegiada. 
 Da mesma forma que no delito de homicídio, por questões de política criminal, o legislador optou pela redução de pena em decorrência dos motivos determinantes do crime.
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
5.5. Lesão corporal culposa.
§ 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano.
CASO CONCRETO
(UNEB - 2014 - DPE-BA - Estágio Jurídico - Defensoria Pública)
 “Uma criança de um 1 ano e 9 meses morreu após ser atropelada pelo próprio pai na zona sul de Porto Alegre, no início da tarde desta segunda-feira (30). Conforme a Polícia Civil, o pai, de 31 anos, estava saindo de ré da garagem de casa e não viu o menino, que foi atingido pelo veículo. O atropelamento aconteceu na Rua Dona Mariana, na Restinga.
 A criança foi encaminhada para o Hospital Moinhos de Vento da Restinga, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A Delegacia de Trânsito instaurou inquérito para investigar o caso. 
O pai e um tio da criança, que presenciou o ocorrido, prestaram depoimento durante a tarde”. (ATROPELO . Dísponivel em: < gaucha.clicrbs.com.br>. Acesso em: 30 dez. 2013).
Na hipótese narrada, o pai da criança responderá criminalmente por: 
 a) lesão corporal seguida de morte. 
 b) lesão corporal seguida de morte, na hipótese preterdolosa. 
 c) homicídio culposo, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão judicial. 
 d) homicídio culposo, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão do ofendido. 
 e) homicídio culposo e lesão corporal culposa, porém será possívela extinção da punibilidade pelo perdão do ofendido.
1) João, com emprego de arma de fogo,invade uma locadora de vídeo e anuncia um assalto exigindo do funcionário da mesma que lhe entregue todo o dinheiro que está no caixa. Diante da recusa do funcionário da locadora João desfere dois tiros no mesmo, que vem a falecer instantaneamente e foge do local do crime sem levar dinheiro algum. Neste caso, qual a tipificação correta à conduta de João? (30ºExame de Ordem – OAB/RJ)
a) João praticou o delito de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo na forma tentada;
b) João praticou o delito de homicídio qualificado para assegurar a execução de outro crime;
c) João praticou o delito de latrocínio;
d) Todas as respostas acima estão incorretas.
 Roubo qualificado pelo resultado morte (LATROCÍNIO).
 ► Incidência da Lei 8.072/90. Crimes Hediondos.
Art. 1o ...
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); 
► Competência para julgamento- 
Verbete de Súmula n. 603, do Supremo Tribunal Federal. 
A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.
► Consumação e Tentativa. 
Verbete de Súmula n. 610, do Supremo Tribunal Federal. 
Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima. 
Morte consumada, subtração consumada, gera latrocínio consumado, estando o tipo perfeito. 
Morte consumada, subtração tentada, latrocínio consumado, consoante verbete de Súmula n. 610, STF. 
Morte tentada, subtração tentada, latrocínio tentado. 
Morte tentada, subtração consumada, latrocínio tentado.
 
) Jorge (21 anos), um viciado em drogas e com dívidas contraídas junto a diversos credores, subtraiu, sem qualquer violência, da casa de seu pai (50 anos) uma televisão portátil e um aparelho de DVD. Ao deixar a casa na posse desses bens, foi detido por policiais chamados por seu pai. Conduzido a Delegacia de Polícia onde aguardava o desfecho do caso, admitiu a subtração demonstrando estar arrependido. Para a hipótese temos: (29º Exame de Ordem – OAB/RJ)
a) Furto simples;
b) Furto qualificado pelo abuso de confiança;
c) Uma escusa absolutória;
d) Arrependimento posterior.
3) Adelaide, empregada doméstica, após efetuar o pagamento de Rodrigo pela limpeza da piscina, fica com o troco destinado a sua patroa Lucinda. Considerando o fato de Adelaide trabalhar para Lucinda assinale a opção correta acerca da tipificação dada à sua conduta: (29º Exame de Ordem – OAB/RJ)
a) Adelaide praticou o delito de furto simples;
b) Adelaide praticou o delito de furto qualificado pelo abuso de confiança;
c) Adelaide praticou o delito de apropriação indébita;
d) Adelaide praticou o delito de apropriação indébita majorado pelo abuso de confiança
Furto e Apropriação Indébita
Na apropriação indébita a coisa é entregue licitamente ao agente e a sua posse sobre a coisa é desvigiada, no furto o agente não tem a posse do bem, apoderando-se deste contra a vontade da vítima. 
 
Estelionato e Apropriação Indébita.
No estelionato o agente atua dolosamente desde o inicio, enquanto neste ultimo, o dolo é posterior a posse ou a detenção.
Extorsão mediante seqüestro e seqüestro
Na extorsão há o especial fim de agir com relação à obtenção de vantagem; no seqüestro não há intenção de obter vantagem.
Em dificuldades financeiras, Anderson idealiza conseguir algum dinheiro às custas do filho de seu patrão. Para conseguir seu intento, resolve planejar um seqüestro, reunindo os petrechos necessários: adquire anestesia cirúrgica para controlar o menino, rouba um carro e aluga uma casa para se esconder. Entretanto, a segurança pessoal desconfia, de tanto ver Anderson rondando a casa, e chama a polícia, que prende o rapaz antes que ele consiga seu intento. Sendo assim: (28º Exame de Ordem – OAB/RJ):
a) Anderson responderá por tentativa de extorsão mediante seqüestro e tentativa de roubo;
b) Anderson responderá pelo crime de roubo consumado, mesmo tendo sido ato preparatório para o crime de extorsão mediante seqüestro;
c) Hipótese de crime impossível, pois Anderson não conseguiria realizar seu intento, tendo em vista a presença constante de seguranças;
d) Anderson responderá por roubo e tentativa de extorsão mediante seqüestro.
Acerca dos crimes contra o patrimônio, assinale a opção correta. (39º Exame de Ordem – OAB)
Quem falsifica determinado documento exclusivamente para o fim de praticar um único estelionato não responderá pelos dois delitos, mas apenas pelo crime contra o patrimônio.
b) O crime de apropriação indébita de contribuição previdenciária é delito material, exigindo-se, para a consumação, o fim específico de apropriar-se da coisa para si (animus rem sibi habendi).
(Apropriação indébita Previdenciária: acrescida pela Lei. 9983/2000.
 Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa). 
c) O crime de latrocínio só se consuma quando o agente, após matar a vítima, realiza a subtração dos bens visados no início da ação criminosa.
d) O crime de extorsão é consumado quando o agente, mediante violência ou grave ameaça, obtém, efetivamente, vantagem econômica indevida, constrangendo a vítima a fazer alguma coisa ou a tolerar que ela seja feita.
Estelionato e falsidade documental: 
 Em tema de conflito aparente de normas ou de concurso de crimes entre o estelionato e o falso, quando ambas as condutas são praticadas em um mesmo contexto, qual será a tipificação correta? 
● O estelionato absorve o falso (Súmula 17 do STJ) – “quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido” (contra, TJSP, AC 94.165-3). 
● O falso absorve o estelionato – TJSP, RT, 544/345 (caso em que houve compra de bens através da falsificação de assinaturas documentos públicos). 
Assinale a opção correta com base na legislação penal. (36º Exame de Ordem – OAB)
a) Pratica o crime de latrocínio o agente que subtrai uma bolsa mediante violência a pessoa, em face da qual resulta morte da vítima.
b) O agente que mata alguém, sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima, está legalmente acobertado pela excludente da legítima defesa.
c) Não pratica crime ou contravenção penal o agente que, no intuito de provocar alarme, afirma, inveridicamente, que há uma bomba em determinado prédio.
d) Pratica o crime de seqüestro em concurso formal com furto o agente que, no intuito de obter senha de cartão bancário, priva a vítima de liberdade e, obtendo êxito, a liberta.
O agente que se vale de disfarce de fiscal da saúde pública para penetrar na residência da vítima com consentimento desta última e subtrair objetos para si comete o crime de (33º Exame de Ordem – OAB)
a) furto simples.
b) furto qualificado pelo emprego de fraude.
c) estelionato.
d) apropriação indébita.
Furto mediante fraude e Estelionato
No furto há a subtração da coisa no momento em que a vigilância sobre o bem é desviada em face do ardil; no estelionato a fraude é empregada para obter a entrega voluntária do próprio bem pelo proprietário em decorrência do induzimento a erro.
No tocante aos crimes contra o patrimônio, é possível afirmar que (Concurso para o Ministério Público do Ceará – 2009)
a) é admissível o arrependimento posterior no crime de extorsão.
b) não haverá receptação se inimputável o autor do crime de que proveio a coisa.
c) a pena privativa de liberdade por roubo simples pode ser substituída por restritiva de direitos.
d) a pena de reclusão, no crime de estelionato, pode ser substituída pela de detenção ou reduzida de um a dois terços, se o agente é primário e a coisa apropriada for de pequeno valor.
e) o dano culposo admite a suspensão condicional do processo.
Marcelo, Rubens e Flávia planejaram praticar um crime de roubo. Marcelo forneceu a arma e Rubens ficou responsável por transportar em seu veículo os corréusao local do crime e dar-lhes fuga. A Flávia coube a tarefa de atrair e conduzir a vítima ao local ermo onde foi praticado o crime. Nessa situação hipotética, conforme entendimento do STJ, Rubens (Promotor de Justiça Substituto – MP/SE – 2010)
a) foi partícipe e não coautor do crime de roubo, considerando que não executou o núcleo do tipo.
b) foi coautor do crime, mas sua atuação foi de somenos importância, donde fazer jus às benesses legais respectivas.
c) não responderá pelo crime de roubo, mas somente por favorecimento pessoal.
d) foi partícipe do crime, pois não possuía o controle da conduta, conforme a teoria do domínio do fato, adotada pelo CP.
e) foi coautor funcional ou parcial do crime, não sendo a sua participação de somenos importância.
Assinale a alternativa que não corresponde a uma súmula do Supremo Tribunal Federal: (Promotor de Justiça Substituto – MP/GO – 2010)
a) Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
b) Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.
c) A lei penal mais grave não se aplica ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
d) Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
Crimes contra a Dignidade Sexual
João, empresário, encontra-se com Maria, serventuária do banco em que sua empresa possui conta corrente, num determinado bar de Porto Alegre. Com o objetivo de manter relações sexuais com ela, João dá início a diversas investidas verbais tentando convencê-la a dirigirem-se ao seu apartamento, a fim de chegarem a um "entendimento". Maria não aceita o convite. João, então, passa a ameaçá-la com a perda de seu emprego, uma vez que o gerente do banco é seu amigo e lhe deve um favor. Premida pela ameaça, ela decide acompanhá-lo. No apartamento, Maria vem a ser coagida fisicamente a manter coito vagínico com João. Nesse caso, é correto afirmar que João praticou o (s) crime(s) de: (28º Exame de Ordem – OAB/RJ)
a) Estupro e assédio sexual;
b) Estupro;
c) Assédio sexual;
d) Constrangimento ilegal.
 O indivíduo condenado em maio de 2009 pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor em concurso material, tendo a sentença transitado em julgado,
a) Poderá requerer a revisão de sua pena em razão das alterações promovidas pela Lei 12.015/09.
b) Não poderá requerer a revisão de sua pena, pois sua sentença já transitou em julgado.
c) Não poderá requerer a revisão de sua pena, pois a Lei 12.015/09 não retroagirá em nenhuma hipótese.
d) Poderá requerer a revisão de sua pena em razão das alterações promovidas pela Lei 12.015/09, mas o juiz não poderá promover a revisão de ofício.
Tício, 18 anos de idade, em 14 de julho de 2009, manteve relações sexuais com sua namorada Mévia, 13 anos de idade. Descoberto o fato pelos pais da adolescente, tudo foi levado ao conhecimento da autoridade policial que instaurou inquérito para sua apuração, findo o qual, foi encaminhado ao Ministério Público. Diante da narrativa, é correto afirmar que:
a) Tício responderá pelo crime de estupro de vulnerável.
b) Tício responderá por estupro de vulnerável, mas terá sua punibilidade extinta caso venha a se casar com Mévia.
c) Tício não responderá por nenhum crime, pois, na data em que praticou o fato não havia tipicidade penal para sua conduta.
d) Tício poderá responder por estupro, combinandose os artigos 213 e artigo 224, do Código Penal, com a redação anterior à Lei 12.015/09. 
Túlio, antes da entrada em vigor da Lei 12.015/09, praticou ato libidinoso, ao tocar os seios de Cida, e, nesse momento, decidiu estuprá-la. Túlio acabou, então, consumando ambas as condutas contra a mesma vítima e no mesmo contexto. Nessa situação hipotética, Túlio deverá responder (Promotor de Justiça Substituto – MP/SE – 2010 – adaptada pelo professor)
a) pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor em concurso formal.
b) pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor em concurso material.
c) pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor em continuidade delitiva.
d) por crime único de estupro.
e) por crime único de atentado violento ao pudor.
Em relação ao tipo penal previsto no artigo 216ª do Código Penal (Assédio sexual), com as alterações da Lei 12.015/09, é incorreto
afirmar: (Promotor de Justiça Substituto – MP/GO – 2010)
a) Revogou tacitamente a contravenção da importunação ofensiva ao pudor.
b) A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 anos.
c) Não configura o delito entre professor e aluno ou religioso e fiel.
d) A consumação ocorre quando o assediador realiza o ato de assédio.

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