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CAPÍTULO 2 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 57 2. PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA Em todo processamento metalúrgico, a energia está presente e é necessário que se saiba contabilizar os gastos energéticos desses processos. Para tal é fundamental dominar a utilização da função entalpia. 2.1. Definição e Utilização de Entalpia Em termodinâmica, a palavra entalpia tem sido utilizada para designar quatro tipos de calor: · entalpia de aquecimento: para designar o calor fornecido a uma substância, quando esta é aquecida até uma certa temperatura; · calor de transformação (calor de fusão, calor de evaporação): para designar a quantidade de calor cedida a uma substância para provocar sua mudança de fase durante o período em que a temperatura permanece constante; · calor de reação: designando o calor envolvido durante uma reação química, onde reagentes desaparecem e produtos são formados; · calor de dissolução: designando o efeito térmico ao se diluir um metal em outro. A seguir cada um desses tipos de calor será estudado separadamente. 2.1.1. Entalpia de Aquecimento Esse termo é utilizado simplesmente para designar o calor necessário para se aquecer uma substância até uma determinada temperatura. Normalmente, avalia-se a entalpia de aquecimento de um elemento ou composto a partir de uma dada temperatura de referência. 58 Geralmente, a temperatura ambiente clássica de 25ºC é igual a zero. Assim, quando se fala em entalpia do ferro sólido a 800 K, quer se dizer na realidade entalpia contida no ferro a 800 K, ou que para aquecer o ferro de 298 a 800 K consumiu-se uma certa quantidade de calorias. A função entalpia é designada pela letra “H” e a entalpia de aquecimento para o caso acima é representada da seguinte maneira: (H800 – H298) Fe onde o índice colocado tem o significado abaixo. · 800: temperatura até onde foi feito o aquecimento (K); · 298: temperatura a partir da qual se fez o aquecimento (K); · Fe : símbolo químico do elemento ou composto que foi aquecido. Genericamente, a entalpia de aquecimento é expressa da seguinte maneira: (HT – H298)i onde T é uma temperatura qualquer (K). A entalpia de aquecimento é calculada usando o calor específico da substância. O calor específico é a quantidade de calor necessário par aquecer a unidade de massa da substância de uma unidade de temperatura. Assim, a entalpia de aquecimento pode ser determinada pela seguinte relação: ( ) dTCHH T 298 i pi298T ×=- ò onde: i pC = calor específico da substância que está sendo aquecida (cal/mol.K). 59 (HT-H298)i = entalpia de aquecimento da substância “i” (cal/mol). Normalmente, os valores do calor específico, CP, são dados por relações do tipo: 2 P T/CTB2AC -××+= onde: A, B e C = constantes características de cada material A expressão para cálculo de “CP” mostra que essa propriedade sofre variações com a temperatura. É importante dizer também que o calor específico é alterado quando a substância muda de fase, sendo modificadas as constantes A, B e C. Substituindo a expressão para “CP” na relação para cálculo da entalpia de aquecimento, obtém-se: ( ) ( ) dTTCTBAHH T iT ×-××+=- ò 2 298 298 /2 Integrando, tem-se: ( ) ( ) ]298/298298[/ 22298 CBATCTBTAHHT +×+×-+×+×=- Como A, B e C são constantes e 298 é um valor numérico bem determinado, o termo entre colchetes é uma constante e a expressão acima pode ser colocada na seguinte forma: ( ) DT/CTBTAHH 2298T -+×+×=- 60 onde: D = A . 298 +B . (298)2 +C/298 (cal/mol) Veja a planilha “Cálculo de D”. Os “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas” fornecem da página 59 até 98, os valores das constantes A, B, C e D para diversas substâncias, bem como as faixas de temperatura onde essas constantes são válidas. Da página 99 até 188 são fornecidas tabelas com valores de entalpia de aquecimento de 100 em 100 K. A seguir serão resolvidos alguns exemplos de aplicação das tabelas acima para cálculo de entalpia de aquecimento. ___________________ Exemplo: Qual é a entalpia de aquecimento do ferro sólido de 25 até 700ºC? Fornecer o resultado em cal/mol. Solução: Tem-se que: 25ºC = 298 K e 700ºC = 973 K Logo, na realidade deseja-se determinar o valor de (H973 – H298) para o ferro. Pode-se resolver o problema de duas maneiras: a) Utilizando a tabela da página 132 dos “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas”. Pela tabela 340, obtém-se: (H1000 – H298) Fe = 5900 cal/mol 61 (H900 – H298) Fe = 4.695 cal/mol Através de uma interpolação linear, tem-se: 100 K --------------- 5900 – 4695 73 K --------------- x x = 879,65 cal/mol Desse modo: ( ) molcalmolcalHH Fe /5575/65,557465,8794695298973 @=+=- Como a função (HT – H298) não é linear em relação à temperatura, a interpolação linear levará a um pequeno erro no valor calculado acima. b) Nem sempre é conveniente recorrer-se às tabelas de dados termodinâmicos para obter-se os valores de HT – H298. Por exemplo, quando é utilizado o computador em cálculos termodinâmicos é mais interessante integrar as equações do calor específico, utilizando as tabelas que fornecem os valores de A, B, C e D. Na página 74 tem-se os valores de A, B, C e D para o ferro na faixa de 298 a 1033 K, que é a pertinente ao problema. Tem-se: ( ) 1042T/106,0T1079,3T04,3HH 523Fe298T -´-×´+×=- - Substituindo o valor de T na expressão acima, obtém-se: ( ) 36,442.5HH Fe298973 =- cal/mol 62 A diferença entre os valores obtidos se deve à imprecisão na interpolação linear. Este exemplo pode ser feito através de uma planilha eletrônica, veja “Cálculo de entalpia / Cálculo de entalpia de aquecimento sem entrada das constantes”. _____________________ Exemplo: Para o CO, tem-se a seguinte expressão para o cálculo de calor específico: 253 P T/1011,0T1098,079,6C ´-×´+= - (cal/mol . K) Determinar uma relação para cálculo de (HT – H298)CO. Conferir o resultado com os valores da tabela da página 68. Solução: Obtém-se a expressão para a entalpia de aquecimento integrando a expressão para “CP”: ( ) ( )ò ´-×´+=- - T COT TTTHH 298 253 298 d /1011,01098,079,6 Obtém-se: ( ) ( ) 89,2104/1011,01049,079,6 )298/1011,02981049,029879,6( /1011,01049,079,6 523 523 523 298 -´+×´+×= ´+´´+´- ´+×´+×=- - - - TTT TTTHH COT Na página 68, a expressão fornecida é: ( ) 2105T/1011,0T1049,0T79,6HH 523CO298T -´-×´+×=- - 63 ___________________________ Exemplo: Calcular o calor necessário para aquecer uma tonelada de ferro líquido de 1900 a 2200 K. Solução: Usando a expressão da página 74, válida para o ferro líquido na faixa de temperatura de 1812 a 3000 K, tem-se : ( ) 670T1020,0T77,9HH 23Fe298T -××+×=- - cal/mol Substituindo para as temperaturas de 1900 e 2200 K, obtém-se: ( ) 615.18HH Fe2981900 =- cal/mol ( ) 792.21HH Fe2982200 =- cal/mol Mas: ( ) ( ) ( )Fe2981900Fe2982200Fe19002200 HHHHHH ---=- Logo: ( ) 177.3615.18792.21HH Fe19002200 =-=- cal/mol Como se deseja calcular o calor necessário para aquecer 1 tonelada de ferro, deve-se determinar o número de moles contido nessa massa de ferro: 1,905.17 85,55 10 FeAP g10 n 66 Fe ==×× = moles E o calor total, Q, será: 64 ( ) 5,884.56503.884.56177.31,905.1719002200 ==´=-×= calHHnQ FeFe kcal/t . Fe É óbvio que o mesmo cálculo poderia ter sido feito utilizando as tabelas da página 132. _________________________ 2.1.2 Entalpia de Transformação Esse termo é utilizado para designar a quantidade de calor cedido à substância para provocar sua mudança de fase, durante o período em que a temperatura permanece constante. Quando existe a transformação de fase é introduzido nos cálculos o calor de transformação. Esses calores (fusão, evaporação, sublimaçãoe mudança de fase cristalina) são listados da página 9 até 57 dos “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas”. A seguir serão resolvidos alguns exemplos envolvendo calores de transformação. _________________________ Exemplo: Calcular o calor de fusão do ferro, em kcal/kg de ferro. Solução: Na página 28, obtém-se a entalpia de fusão do ferro designada da seguinte maneira: 3,3HFef =D kcal/mol . Fe Em 1 Kg de ferro, tem-se o seguinte número de moles: 905,17 85,55 10 FeAP g10 n 33 Fe ==×× = moles E o calor Q, necessário para fundir uma tonelada de ferro, é dado por : 65 087,593,3905,17HnQ FefFe =´=D×= kcal/kg . Fe _________________________ Exemplo: Determinar o calor necessário para fundir 1 tonelada dos seguintes óxidos: CaO, SiO2 (cristobalita) e Al2O3 . Solução: Consultando os dados termodinâmicos, obtém-se os seguintes valores: Página Óxido Peso molecular (g/mol) Calor de fusão (kcal/mol) 20 CaO 56,08 19,0 49 SiO2 60,09 3,6 12 Al2O3 101,95 28,3 Genericamente, tem-se que o calor para fundir uma tonelada de cada um desses materiais é dado por: i fii HnQ D×= Inicialmente, calcula-se os números de moles: 67,831.17 08,56 10 CaOMP 10 n 66 CaO ==×× = moles 70,641.16 09,60 10 SiOMP 10 n 66 SiO ==×× = moles 73,808.9 95,101 10 OAlMP 10 n 6 32 6 3O2Al == ×× = moles Veja planilha: “Cálculo da entalpia de fusão”. 66 e os calores para fusão de 1 tonelada são: 73,801.3381967,831.17 ==D×= xHnQ CaOfCaOCaO Kcal/t . CaO 12,910.596,370,641.16HnQ 2SiOf2SiO2SiO =´=D×= kcal/t . SiO2 06,587.2773,2873,808.9HnQ 3O2Alf3O2Al3O2Al =´=D×= kcal/t . Al2O3 _________________________ A figura 1 mostra um gráfico de (HT – H298) para o alumínio de 298 até 1300 K. Observa-se que na temperatura de fusão (932 K) fornece-se calor ao alumínio sem alterar a temperatura: calor é usado para fundir o alumínio. Quando se deseja calcular a entalpia de aquecimento de uma substância no estado líquido, utiliza- se a seguinte relação genérica: ( ) ò ò ×+D+×=- i fT 298 T fT )l(P i f)s(Pi298T dTCHdTCHH Interpretando a relação acima tem-se: integra-se, inicialmente, o calor específico do sólido de 298 K até a temperatura de fusão, soma-se o valor do calor de fusão e adiciona-se o valor da integral do calor específico do líquido da temperatura de fusão até uma temperatura T qualquer. Um procedimento análogo seria adotado no caso de uma substância gasosa: soma-se o calor de vaporização e integra-se o calor específico do gás. 67 Avaliação da Entalpia de Transformação de Fase. 0 5000 10000 15000 20000 25000 298 498 698 898 1098 1298 1498 1698 1898 2098 2298 2498 2698 Temperatura (K) E n ta lp ia d e A q u ec im en to ( ca l/m o l) (HT – H298)Al(s) Entalpia de fusão (2570 cal/mol) (HT - H298)Al(l) Figura 1 – Calor de Aquecimento do Alumínio A mesma técnica seria válida no caso de transformações de fase cristalina. Nas tabelas que iniciam na página 59, quando se toma uma relação de (HT – H298) para uma substância líquida, o calor de fusão já está incorporado à expressão. _________________________ Exemplo: Conhecendo os dados que serão fornecidos abaixo, obter uma expressão para cálculo de (HT - H298) para o alumínio líquido, válida para temperaturas entre 932 e 2700 K. Comparar a expressão obtida com a que é fornecida na página 61 dos “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas”. Dados: Temperatura de fusão do alumínio: 932 K 68 T1096,294,4C 3Al )s(P ×´+= - (cal/mol . K) 570.2HAlf =D cal/mol 7CAl )l(P = cal/mol . K Solução: Utiliza-se a relação desenvolvida anteriormente. Obtém-se: ( ) ( ) òò ×++××´+=- - T 932 932 298 3 )l(Al298T dT7570.2dTT1096,294,4HH ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) .mol/cal22.331T7 932T7570.2298932 2 1096,2 29893294,4HH 22 3 )l(Al298T +× =-×++-× ´ +-×=- - A expressão fornecida na página 61 é: ( ) 330T7HH )l(Al298T +×=- cal/mol _________________________ Exemplo: Através dos dados anteriores calcule o valor da constante “D” da equação de entalpia de aquecimento para o alumínio, válido para temperatura superior a temperatura de fusão. Solução: Da mesma forma que foi desenvolvida a solução do exemplo anterior, utiliza-se a seguinte relação genérica: ( ) ò ò ×+D+×=- i fT 298 T fT )l(P i f)s(Pi298T dTCHdTCHH ( ) ( ) òò ×++××´+=- - T 932 932 298 3 )l(Al298T dT7570.2dTT1096,294,4HH 69 (HT – H298)Al(l) = 4,94 . (932 – 298,15) + 1,48 x 10 -3 . [9322 – 298,152] + 2570 + 7 .T – 7 . 932 O termo independente será a constante D. D = 331,22 Veja planilha: Cálculo de “D”com transformação de fase. _________________________ Exemplo: Determinar o calor necessário para aquecer o ferro de 298 K até 1800ºC. Fornecer o resultado em cal/mol. Solução: Novamente, existem duas maneiras de resolver o problema. Usando a tabela da página 132, tem-se: (H2200 – H298)Fe = 21.790 cal/mol (H2000 - H298)Fe = 19.665 cal/mol Interpolando linearmente, obtém-se: (2200 - 2000) ------------------------ (21.790 - 19665) (2073 - 2000) ------------------------ x x = 775,63 cal/mol Logo: (H2073 - H298)Fe(1) = 19.665 + 775,63 = 20.440,63 cal/mol . Fe 70 Outra maneira de resolver o problema é usar a expressão adequada é para o ferro líquido, válida para temperatura entre 1812 e 3000 K. Veja planilha: Cálculo da entalpia A relação é: (HT – H298)Fe(1) = 9,77 . T + 0,20 x 10 -3 . T2 - 670 cal/mol . Fe Para T = 2073 K (1800ºC), obtém-se: (H2073 - H298) = 20.442,68 cal/mol . Fe A diferença está associada ao erro na interpolação. 2.1.3. Entalpia de Transformação em Temperaturas Diferentes da Temperatura Normal de Transformação. Algumas vezes, a substância é fundida em temperaturas diferentes daquelas que são encontradas nas tabelas. Isso ocorre quando se tem misturas de diversas substâncias, como é o caso do gusa, aço e escórias. Nessa situação, pode ser interessante estimar o calor dessa transformação na nova temperatura. Para se determinar esse calor, usa-se uma importante propriedade da entalpia e de todas as funções chamadas termodinâmicas. A variação de entalpia entre dois estados quaisquer só depende desses dois estados e não do caminho percorrido para se sair de um estado e atingir o outro. Essa propriedade caracteriza as chamadas funções de estado. Esse caso será tratado através de um exemplo. _________________________ Exemplo: Calcular o calor de fusão do ferro a 1200º C. 71 Solução: A temperatura de fusão normal do ferro é 1539º C (página 28 dos “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas”). Logo Tf = 1812 K. Para resolver o problema pode-se lançar mão do seguinte esquema: Mudança de fase Temperatura (K) Fe(s) 1812fHD Fe(l) 1812 1473 fHD Fe(s) Fe(l) 1473 No cálculo a ser desenvolvido, tem-se: · estado inicial: Fe sólido a 1473 K · estado final: Fe líquido a 1473 K. Pode-se partir do mesmo estado inicial e atingir o estado final de duas maneiras: · fazendo a fusão do ferro a 1473; · aquecendo o ferro sólido de 1473 a 1812 K, fazendo a sua fusão a 1812 K e resfriando o ferro líquido a 1812 a 1473 K. Como entalpia é uma função de estado, os valores de entalpia associados aos dois processos ou caminhos acima são idênticos. 72 Desse modo, pode-se escrever a seguinte relação: ( ) ( ) )l(Fe14731812 1812 f)s(Fe14731812 1473 f HHHHHH --D+-=D Para determinar as parcelas da equação anterior, usa-se os dados abaixo (“Dados Termodinâmicos para Metalurgistas”, página 74): Validade (K) () )s(Fe298T HH - = 5,80 . T + 0,99 x 10-3 . T2 + 49 1183-1673 ( ) )s(Fe298T HH - = 6,74 . T + 0,80 x 10-3 . T2 – 825 1673-1812 ( ) )(298 lFeT HH - = 9,77 . T + 0,20 x 10-3 . T2 – 670 1812-3000 Tem-se: ( ) )s(Fe2981473 HH - = 10.740,43 cal/mol . Fe ( ) )s(Fe2981812 HH - = 14.014,56 cal/mol . Fe Assim, obtém-se: ( ) ( ) ( ) mol/cal13,274.3 43,740.1056,014.14HHHHHH )s(Fe2981473)s(Fe2981812)s(Fe14731812 = -=---=- O calor de fusão do ferro a 1812 K é: 73 300.3H1812f =D cal/mol.Fe Finalmente, deve-se calcular o valor de (H1812 – H1473) para o ferro líquido. Como a faixa de validade para a expressão do ferro líquido é de 1812 a 3000 K, faz-se uma aproximação de extrapolar a faixa de validade da equação para temperaturas na faixa de 1473 a 1812 K. Isso leva a uma imprecisão nos cálculos, mas é a única maneira de abordar o problema devido à absoluta falta de dados. Assim: ( ) )l(Fe2981812 HH - = 17.689,91 cal/mol . Fe ( ) )l(Fe 2981473 HH - = 14.155,16 cal/mol . Fe e: ( ) ( ) ( ) Femol/cal75,534.3 16,155.1491,689.17HHHHHH )l(Fe2981473)l(Fe2981812)l(Fe14731812 ×= -=---=- Finalmente obtém-se: 38,039.375,534.3300.313,274.31473 =-+=D fH cal/mol . Fe Observa-se que a diferença entre os calores de fusão do ferro a 1812 e 1473 K é pequena. Como o cálculo desenvolvido é bastante trabalhoso e sempre envolve algumas aproximações, a variação da entalpia de fusão com a temperatura é muitas vezes desprezada. _________________________ 74 A seguir serão vistos exemplos de cálculo de calor contido para misturas de elementos e compostos, como no caso do ferro gusa e escórias. _________________________ Exemplo: Calcular o calor necessário para aquecer 1 tonelada de ferro gusa de 25 até 1400 ºC, supondo que a esta temperatura ele se encontra líquido. Composição do gusa: C = 4,5 % Si = 0,5 % Mn = 0,5 % P = 0,1 % S = 0,02 % Fe = 94,38 % Solução: A maneira mais correta de resolver este problema envolveria as seguintes etapas: · determinação da temperatura “liquidus” para o ferro gusa com a composição dada; · cálculo do calor consumido no aquecimento dos diversos elementos sólidos de 298 K até a temperatura “liquidus” ; · cálculo dos calores de fusão dos diversos elementos, na temperatura “liquidus” ; · cálculo do calor consumido no aquecimento dos elementos líquidos da temperatura “liquidus” até 1400ºC. A adoção do procedimento descrito acima esbarra em uma série de dificuldades: · determinação da temperatura “liquidus” de um gusa com composição complexa ; · os diversos elementos que aparecem no gusa apresentam temperaturas de fusão diferentes quando puros; · alguns deles a 1400 ºC ainda são sólidos e outros se fundem abaixo de 1400ºC; · obtenção de dados termodinâmicos adequados. Na maioria dos casos, tem-se que extrapolar a faixa de validade das expressões para cálculo de (HT – H298). Para contornar alguns desses inconvenientes, pode-se desenvolver um cálculo mais simples e que fornece resultados razoáveis. Esse cálculo envolve as seguintes etapas: 75 · cálculo do calor consumido no aquecimento dos diversos elementos de 25 até 1400ºC, incluindo a entalpia de fusão, caso o elemento puro esteja líquido à essa temperatura; · avaliação do calor de fusão dos elementos que, quando puros, estejam sólidos a 1400ºC. Esse calor de fusão é determinado na temperatura normal de fusão do elemento. Pode-se, então, desenvolver os cálculos segundo esquematizado acima. Inicialmente, avalia-se os números de moles de cada elemento. Tem-se: 84,898.16 10085,55 38,9410 100FeAP Fe%10 n 66 Fe =´ ´ = ××× × = moles 750.3 10012 5,410 100CAP C%10 n 66 C =´ ´ = ××× × = moles 178 10009,28 5,010 100SiAP Si%10 n 66 Si =´ ´ = ××× × = moles 01,91 10094,54 5,010 100MnAP Mn%10 n 66 Mn =´ ´ = ××× × = moles 29,32 10097,30 1,010 100PAP P%10 n 66 P =´ ´ = ××× × = moles 24,6 10007,32 02,010 100SAP S%10 n 66 S =´ ´ = ××× × = moles 76 A seguir calcula-se os calores de aquecimento e fusão dos diversos elementos. Tem-se: · Aquecimento do ferro O ferro puro se funde a 1812 K. Nesse caso, aquece-se o ferro sólido até 1673 K (1400ºC) e soma-se o calor de fusão. Tem-se na página 74: ( ) 825T108,0T74,6HH 3 )s(Fe298T -××+×=- - 1673 – 1812 K Substituindo o valor de temperatura: ( ) 16,690.12HH )s(Fe2981673 =- cal/mol O calor de fusão é: 300.3HFef =D cal/mol (página 28) Logo: ( ) ( ) 16,990.15300.316,690.12HHHHH Fef)s(Fe2981673)l(Fe2981673 =+=D+-=- cal/mol E o calor total para aquecer o ferro é: ( ) kcal16,215.270cal155.215.270 16,990.15898.16HHnQ )l(Fe2981673FeFe = =´=-×= 77 · Aquecimento do carbono O carbono se funde a 4073 K (página 18). Nesse caso, segue-se um procedimento análogo ao do ferro. Na página 67, tem-se: ( ) 1936T/1004,2T1057,0T03,4HH 523C298T -´+×´+×=- - 298 – 2500 K Para T = 1673 K, obtém-se: ( ) 52,523.6HH C2981673 =- cal/mol Entretanto, não se tem o valor do calor de fusão de carbono. Nesse caso, esse calor é desprezado por absoluta falta de dados. Se esse valor fosse conhecido, ele deveria se somado ao calor de aquecimento acima. Assim, o calor total para aquecer o carbono é: ( ) kcal2,463.24cal200.463.2452,523.6750.3HHnQ C2981673CC ==´=-×= · Aquecimento do silício O silício se funde a 1683 K (página 48). Segue-se, então, um procedimento análogo ao caso do ferro. Na página 91, tem-se: ( ) 2079T/1004,1T1035,0T70,5HH 523)s(Si298T -´+×´+×=- - 298 – 1685 K Para T = 1673 K: 78 ( ) 89,498.8HH )s(Si2981673 =- cal/mol E o calor de fusão é (página 48): 100.12HSif =D cal/mol Assim: ( ) ( ) 89,598.20100.1289,498.8HHHHH Sif)s(Si2981673)l(Si2981673 =+=D+-=- cal/mol E o calor total para aquecer o silício é: ( ) kcal60,660.3cal602.660.389,598.20178HHnQ )l(Si2981673SiSi ==´=-×= · Aquecimento do manganês: O manganês se funde a 1517 K. Nesse caso, basta aquecer o manganês até 1673 K e o calor de fusão já estará incorporado. Na página 82, tem-se: ( ) 1220T11HH )l(Mn298T -×=- 1517 –2300 K Para T = 1673 K, tem-se: ( ) 183.17HH )l(Mn2981673 =- cal/mol E o calor total para aquecer o manganês é: QMn = nMn . (H1673 – H298)Mn(l) = 91,01 x 17.183 = 1.563.825 cal = 1.563,82 kcal 79 · Aquecimento do fósforo O fósforo se funde e vaporiza em temperaturas baixas, até 600ºC (página 43) e não se tem os valores dos calores de fusão. Nesse caso, usa-se a relação de (HT-H298) para o fósforo vermelho e extrapola-se a sua faixa de validade até 1673 K. Novamente, isso é feito por falta de dados. Assim, tem-se na página 75: ( ) 1587T1095,1T74,4HH 23P298T -×´+×=- - 298 – 800 K Para T = 1673, obtém-se: ( ) 93,800.11HH P2981673 =- cal/mol E o calor total para aquecer o fósforo é: ( ) 05,381cal052.38193,800.1129,32HHnQ P2981673PP ==´=-×= kcal · Aquecimento do enxofre O enxofre também se funde e evapora em temperaturas baixas até 450ºC (página 47). A solução aproximada é usar a relação para cálculo de (HT-H298) do enxofre líquido e extrapolar a sua validade até 1673 K. Na página 72, obtém-se: ( ) 2457T73,8HH )l(S298T -×=- 392 – 717,8 K Substituindo T = 1673 K, tem-se: 80 ( ) 29,148.12HH )l(S2981673 =- cal/mol E o calor total para aquecer o enxofre é: ( ) 81,75cal33,805.759,148.1224,6HHnQ )l(S2981673SS ==´=-×= kcal O calor total para aquecer o gusa de 298 até 1673 K é dado por: gusat/kcal74,359.300 81,7505,38182,563.16,660.32,463.2426,215.270 QQQQQQQ SPMnSiCFegusa × =+++++=+++++= Veja planilha: “Calor de aquecimento do gusa”. Quando se desenvolve cálculos rápidos, sem necessidade de grande precisão, pode-se fazer uma aproximação e supor que o gusa é composto apenas por ferro. Nesse caso: 1,905.17 85,55 10 FeAP 10 n 66 Fe ==×× = moles E o calor total para aquecimento será: ( ) 46,305.286cal461.305.28616,990.151,905.17HHnQ )l(Fe2981673FeFe ==´=-×= kcal Esse valor apresenta uma diferença de 4,7% em relação ao cálculo completo e é bem mais simples. _________________________ 81 Exemplo: Calcular o calor necessário para aquecer 1 tonelada de escória de alto-forno de 25 a 1400ºC, sendo que a esta temperatura a escória está líquida. Composição da escória: CaO = 41,84 % SiO2 = 36,39 % Al2O3 = 13,56 % MgO = 6,21 % MnO = 0,8 % FeO = 1,2 % Solução: A maneira mais correta de resolver este problema é: · determinar a temperatura “liquidus” da escória com a composição dada; · calcular o calor consumido no aquecimento dos óxidos sólidos de 298 K até a temperatura “liquidus”; · calcular o calor de fusão dos diversos óxidos, na temperatura “liquidus”; · calcular o calor consumido no aquecimento dos óxidos líquidos da temperatura “liquidus” até 1400ºC. Esse procedimento apresenta inconvenientes análogos aos que existiam no caso do ferro gusa. Daí, segue-se o seguinte roteiro: · cálculo do calor consumido no aquecimento dos diversos óxidos de 25 a 1400ºC, incluindo a entalpia de fusão, caso o óxido puro esteja líquido a esta temperatura; · determinação do calor de fusão dos óxidos que, quando puros, estejam sólidos a 1400ºC. Esse calor de fusão é determinado na temperatura normal de fusão do óxido. Primeiramente, calcula-se os números de moles de cada óxido presente na escória. Tem-se a seguinte relação genérica: ( ) iMP 10 100 i% n 6 i ×× ×= Assim, obtém-se: 82 77,7460 08,56 10 100 84,41 n 6 CaO =×= moles 92,6055 09,60 10 100 39,36 n 6 2SiO =×= moles 06,330.1 95,101 10 100 56,13 n 6 3O2Al =×= moles 1,1540 32,40 10 100 21,6 n 6 MgO =×= moles 77,112 94,70 10 100 8,0 n 6 MnO =×= moles 01,167 85,71 10 100 2,1 n 6 FeO =×= moles Nos “Dados termodinâmicos para Metalurgistas” obtém-se as seguintes informações: Óxido Temperatura de fusão (K) Calor de fusão (cal/mol) página CaO 2888 19.000 20 SiO2 1883 3.600 49 Al2O3 2323 28.300 12 MgO - 18.500 36 MnO 2148 13.000 38 FeO 1651 - 29 Calcula-se, então, os calores de aquecimento para cada um dos óxidos. · Aquecimento do CaO 83 Como a temperatura de fusão do CaO é superior a 1673 k, aquece-se o CaO até essa temperatura e soma-se o calor de fusão. Na página 65, obtém-se: ( ) 4051T/10556,1T1054,0T67,11HH 23 )s(CaO298T -´+×´+×=- - 298 – 2000 K Para T = 1673, tem-se: ( ) 58,077.17HH )s(CaO2981673 =- cal/mol e: ( ) ( ) 58,077.36000.1958,77.17HHHHH CaOf)s(CaO2981673)l(CaO2981673 =+=D+-=- cal/mol E o calor total para aquecer o CaO é: ( ) 51,166.26958,077.3677,460.7HHnQ )l(CaO2981673CaOCaO =´=-×= kcal · Aquecimento de SiO2 Como a temperatura de fusão do SiO2 é maior que 1673 K, segue-se o procedimento análogo ao do caso do CaO. Na página 91, para a sílica (cristobalita), obtém-se: ( ) 4696T1002,1T40,14HH 23 )s(2SiO298T -×´+×=- - 523 – 2000 K Para T = 1673 K, tem-se: 84 ( ) 11,250.22HH )s(2SiO2981673 =- cal/mol e: ( ) ( ) 11,850.25600.311,250.22HHHHH 2SiOf)s(2SiO2981673)l(2SiO2981673 =+=D+-=- cal/mol O calor total para aquecer a SiO2 é: ( ) 2,546.156cal198.546.15611,850.2592,55.6HHnQ )l(2SiO29816732SiO2SiO ==´=-×= kcal · Aquecimento da Al2O3 A temperatura de fusão da Al2O3 é maior que 1673 K. Na página 61, tem-se: ( ) 132.11T/1038,8T1041,1T49,27HH 523 )s(3O2Al298T -´+×´+×=- - 298 – 1800 K Para T = 1673 K, obtém-se: ( ) 16,306.39HH )s(3O2Al2981673 =- cal/mol e: ( ) ( ) 16,606.672830016,306.39HHHHH 3O2Alf)s(3O2Al2981673)l(3O2Al2981673 =+=D+-=- cal/mol E o calor total para aquecer a Al2O3 é: QAl2O3 = n Al2O3 . (H1673 – H298)Al2O3(l) = 1.330,06 x 67.606,16 = 89.920.244 cal = 89.920.24 kcal. 85 · Aquecimento do MgO Como a temperatura de fusão do MgO é maior que 1673 K, segue-se o procedimento análogo ao do caso do CaO. Assim, na página 81: ( ) 3609T/1048,1T1087,0T18,10HH 523 )s(MgO298T -´+×´+×=- - 298 – 2100 K Para T = 1673 K, obtém-se: ( ) 67,945.15HH )s(MgO2981673 =- cal/mol Na página 36, para MgO puro, obtém-se: DHfMgO = 18.500 cal/mol e: (H1673 – H298)MgO(l) = (H1673 – H298)MgO(s) + DHfMgO = 15.945,67 + 18.500 = 34.445,67 cal/mol O calor total para aquecer o MgO é: QMgO = nMgO . (H1673 – H298)MgO(l) = 1540,18 x 34.445,67 = 53.052,53 kcal · Aquecimento do MnO A temperatura de fusão do MnO é superior a 1673 K. Na página 82, tem-se: 86 ( ) 694.3T/1088,0T1097,0T11,11HH 523 )s(MnO298T -´+×´+×=- - 298 – 1800 K Para T = 1673 K, obtém-se: ( ) 59,660.17HH )s(MnO298163 =- cal/mol e: (H1673 – H298)MnO(l) = (H1673 – H298)MnO(s) + DHfMnO = 17.660,59 + 13.000 = 30.660,59 cal/mol E o calor total para aquecer o MnO é: ( ) 59,457.3cal595.457.359,660.3077,112HHnQ )l(MnO2981673MnOMnO ==´=-×= kcal · Aquecimento do FeO Nos “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas” encontra-se dados para o composto Fe0,947 O Desse modo, calcula-se o número de moles desse composto e não do FeO. Tem-se: 89,681685,55947,0OAPFeAP947,0OFeMP 947,0 =+´=××+×××=×× e: 19,174 89,68 10 100 2,1 n 6 O947,0Fe =×= moles Como esse composto se funde em temperatura inferior a 1673 K, usa-se a relação de (HT - H298) para o Fe0,947 O líquido. Na página 74, obtém-se: 87 ( ) 1200T30,16HH )l(O947,0Fe298T -×=- 1650 – 2000 K Para T = 1673 K, tem-se: ( ) 9,069.26HH )l(O947,0Fe2981673 =- cal/mol E o calor total para aquecer esse composto é: QFe0,947O = n Fe0,947O . (H1673 – H298)Fe0,947O(l) = 174,19 x 26.069,6 = 4.541.116 cal = 4.541,12 kcal O calor total para aquecer a escória de 298 até 1673 K é: Qescória = QCaO + QSiO2 + QAl2O3 + QMgO + QMnO + QFe0,947O = 269.166,51 + 156.546,2 + 89.920,24 + 53.052,53 + 3.457,59 + 4.541,12 = 576.684,19 kcal/t.escória Veja planilha: Cálculo da entalpia de aquecimento da escória. _________________________ Exemplo: Calcular o calor necessário para aquecer 1000 Nm3 de gás de topo de alto-forno de 25 até 200ºC. A composição do gás é: N2 = 54 % CO = 22 % CO2 = 20 % H2 = 4 % Solução: Esse cálculo é bem mais simples que os anteriores, uma vez que na faixa de temperatura acima todos os compostos permanecem gasosos, não ocorrendo mudanças de fase. Desse modo, para calcular o calor consumido nesse aquecimento, basta determinar o calor necessário para aquecer cada um dos gases individualmente. Para os gases acima, obtém-se: 88 ( ) 2117T/1012,0T1045,0T83,6HH 523 )g(2N298T -´+×´+×=- - 298 – 3000 K (página 86) ( ) 2105T/1011,0T1049,0T79,6HH 523 )g(CO298T -´+×´+×=- - 298 – 2500 K (página 68) ( ) 3936T/1006,2T1005,1T57,10HH 523 )g(2CO298T -´+×´+×=- - 298 – 2500 K (página 68) ( ) 1938T/1012,0T1039,0T52,6HH 523 )g(2H298T -´-×´+×=- - 298 – 3000 K (página 77) Inicialmente, determina-se o número de moles de cada um dos gases contido nos 1000 Nm3. Tem-se a seguinte relação genérica: ( ) 100 i% 4,22 10001000 n i ´ ´ = Assim, tem-se: ( ) 14,107.24 100 54 4,22 10 100 N% 4,22 10 n 6 2 6 2N =×=´= moles ( ) 43,821.9 100 22 4,22 10 100 CO% 4,22 10 n 66 CO =×=´= moles ( ) 57,928.8 100 20 4,22 10 100 CO% 4,22 10 n 6 2 6 2CO =×=´= moles 89 ( ) 71,785.1 100 44,22 10 100 H% 4,22 10 n 6 2 6 2H =×=´= moles Substituindo o valor de temperatura (200ºC = 473 K) nas expressões de calor contido, obtém-se: ( ) 64,239.1HH 2N298473 =- cal/mol ( ) 55,239.1298473 =- COHH cal/mol ( ) 04,734.1HH 2CO298473 =- cal/mol ( ) 21,233.1HH 2H298473 =- cal/mol Determina-se, então, o calor para aquecer cada um dos gases. Tem-se: ( ) 18,884.29cal175.884.2964,239.114,107.24HHnQ 2N2984732N2N ==´=-×= kcal ( ) 15,174.12cal56,153.174.1255,239.143,821.9HHnQ CO298473COCO ==´=-×= kcal ( ) 5,482.15cal52,497.482.1504,734.157,928.8HHnQ 2CO2984732CO2CO ==´=-×= kcal ( ) 16,202.2cal43,55.202.221,233.171,785.1HHnQ 2H2984732H2H ==´=-×= kcal O calor total é: 3 2H2COCO2Ngás Nm1000/kcal99,742.5916,202.25,482.1515,174.1218,884.29 QQQQQ =+++ =+++= _________________________ 90 Através de relações mostradas anteriormente, constata-se que o calor específico varia com a temperatura. Algumas vezes é importante determinar o calor específico médio, dentro de uma faixa de temperatura. O calor específico médio, pC , é definido pela seguinte relação: ( ) ( ) ( ) ( )12 2981T2982T 12 2T 1T p p TT HHHH TT dTC C - --- = - × = ò _________________________ Exemplo: Determinar o calor específico médio do ferro líquido entre 1812 e 2200 K. Solução: A expressão de (HT – H298) para o ferro líquido na faixa de temperatura acima é obtida na página 74: ( ) 670T1020,0T77,9HH 23 )l(Fe298T -×´+×=- - 1812 – 3000 K Substituindo os valores de 1812 e 2200 K, obtém-se: ( ) 91,689.17HH )l(Fe2981812 =- cal/mol ( ) 792.21HH )l(Fe2982200 =- cal/mol Usando a definição de pC , obtém-se: ( ) ( ) 572,10 18122200 91,689.17792.21 18122200 HHHH C )l( Fe2981812)l(Fe2982200 p =- - = - --- = cal/mol . K _________________________ 91 Exemplo: Calcular o acréscimo na entalpia do ferro líquido entre 1812 K e a temperatura T, para T igual a 1900, 2000, 2100 e 2200 K, usando o Cp médio e o verdadeiro. Solução: Usando o Cp verdadeiro, tem-se a seguinte relação: ( ) ( ) ( )2981812298T1812T HHHHHH ---=- Assim: ( ) ( ) ( )91,689.17670T1020,0T77,9HH 23 )l(Fe1812T --×´+×=- - Para o Cp médio, tem-se: ( ) ( ) ( )1812572,101812 1812 1812 )( -=-×=×=- ò TTCdtCHH p T pFeT l Substituindo valores de temperatura nas expressões acima, obtém-se os seguintes resultados: Cp verdadeiro (cal/mol . K) Cp médio (cal/mol . K) Diferença (%) (H1900 – H1812) 925,09 930,37 0,57 (H2000 – H1812) 1980,09 1987,61 0,38 (H2100 – H1812) 3039,09 3044,85 0,19 (H2200 – H1812) 4102,09 4102,09 0,00 Pelos resultados desse exemplo, constata-se que as expressões de entalpia podem ser colocadas como funções lineares da temperatura sem grandes erros nos valores obtidos. Normalmente, essas linearizações são válidas para pequenos intervalos de temperatura onde não ocorrem mudanças de fase. 92 2.1.4 Entalpia de reações químicas Entalpia de reações químicas é o termo utilizado para designar o calor liberado ou absorvido quando certos reagentes se combinam formando determinados produtos. Antes de se avaliar o calor para reações químicas é necessário fazer algumas definições. Uma delas é a do estado-padrão. Tem-se: · sólidos e líquidos: forma estável e pura a 1 atm de pressão na temperatura T. · gases: o gás a 1 atm de pressão na temperatura T. Uma outra definição ou convenção importante é que foi estipulado que a entalpia padrão de formação de um elemento puro a 25ºC na sua forma estável a essa temperatura é igual a zero. Desse modo, tem-se que o calor de formação do oxigênio gasoso a 25ºC é igual a zero. Esse calor pode ser designado pelos seguintes símbolos: 0Ho 2O 298 =D cal/mol Ainda seriam nulas as entalpias de formação a 298 K dos seguintes elementos; Fe-a, Zn(s), Al(s), N2(g), Hg (l). Nas tabelas que iniciam na página 9, a coluna referente a o298HD fornece o calor de formação da substância a 298 K, a partir dos elementos que a constituem. Desse modo: o 3O2Fe298 HD corresponde ao calor associado à seguinte reação: )s(32)g(2)s( OFeO2 3 Fe2 =+× 93 Outra convenção importante está associada ao sinal da entalpia de reação: quando seu sinal é negativo significa que a reação ocorre com liberação de energia e a reação é dita exotérmica. Quando a entalpia de reação é positiva ocorre consumo de energia e a reação é denominada endotérmica. _________________________ Exemplo: Determinar o calor de formação dos seguintes compostos a 298 K: Fe3O4, Fe2O3, SiO2, CaO, Al2O3 e MgO. Solução: A entalpia de formação de Fe3O4 corresponde à seguinte reação: )s(43)g(2)s( OFeO2Fe3 =+ Na página 29 obtém-se: 9,266 43 298 -=D o OFe H kcal/mol A reação de formação do Fe3O4 é exotérmica. Deve-se observar que o sinal negativo aparece na parte superior da tabela, junto com as unidades. Para o Fe2O3, tem-se na página 29: )s(32)g(2)s( OFeO2 3 Fe2 =+ 3,196Ho 3O2Fe298 -=D kcal/mol Na página 49, tem-se para a SiO2, quartzo. )s(2)g(2)s( SiOOSi =+ 0,217H o 2SiO298 -=D kcal/mol 94 Para o CaO, obtém-se na página 21: )s()g(2)s( CaOO2 1 Ca =+ 6,151Ho CaO298 -=D kcal/mol Na página 12, tem-se para o Al2O3: )s(32)g(2)s( OAlO2 3 Al2 =+ 4,400Ho 3O2Al298 -=D kcal/mol Na página 36, obtém-se para o MgO: )s()g(2)s( MgOO2 1 Mg =+ DHº298MgO = -143,7kcal/mol Todos os calores de formação dos compostos acima são negativos; ou seja, as reações são exotérmicas. _________________________ Para avaliação do calor associado a uma reação química tem-se a seguinte relação genérica: Calor de reação = S Calor de formação dos produtos - S calor de formação dos reagentes ou em símbolos: åå == D×-D×=D y 1r o rr x 1p o pp o R HnHnH onde: o RHD = entalpia da reação; np = coeficiente estequiométrico do produto “p” na equação da reação; 95 o pHD = entalpia de formação do produto “p”; nr = coeficiente estequiométrico do reagente “r” na equação da reação; o rHD = entalpia de formação do reagente “r”. _________________________ Exemplo: Calcular o calor associado à seguinte reação: )g(2)s(43)g()s(32 COOFe2COOFe3 +=+ a 298 K. Solução: O calor da reação acima será dado pela seguinte relação: o CO298 o 3O2Fe298 o 2CO298 o 4O3Fe298 o R HH3HH2H D-D×-D+D×=D Consultando as tabelas dos “Dados Termodinâmicos” tem-se: o 4O3Fe298 HD = - 266,9 kcal/mol (página 29) o 2CO298 HD = - 94,054 kcal/mol (página 19) o 3O2Fe298 HD = -196,3 kcal/mol (página 29) o CO298 HD = - 26,42 kcal/mol (página 19) Daí: ( ) ( ) ( ) ( ) 534,1242,263,1963054,949,2662HoR -=---×--+-×=D kcal. O calor determinado acima corresponde à entalpia da reação quando 1 mol de CO é consumido ou um mol de CO2 é formado. Quando se desejar saber o calor associado à formação de 1 mol de 96 Fe3O4 o valor acima deve ser dividido por dois. Já o calor associado à reação de 1 mol de Fe2O3 é obtido dividindo o valor acima por três. Assim tem-se: 534,12HoR -=D kcal/mol CO ou CO2 267,62/534,12HoR -=-=D kcal/mol Fe3O4 178,43/534,12HoR -=-=D kcal/mol Fe2O3 Finalmente, observa-se que a reação do exemplo é exotérmica. _________________________ Exemplo: Calcular o calor da reação abaixo, a 298 K: )g()s()gr()s(2 CO2SiC2SiO +=+ Solução: Para essa reação tem-se: ooooo R CSiOCOSi HHHHH 298298298298 22 2 D×-D-D×+D=D Conforme foi visto anteriormente, por definição tem-se: 0HH o )gr(C298 o )s(Si298 =D=D Nos “Dados Termodinâmicos” obtém-se: 42,26Ho CO298 -=D kcal/mol (página 19) 217Ho )quartzo(2SiO298 -=D kcal/mol (página 49) 97 Logo:( ) ( ) 16,164217042,2620HoR =----×+=D kcal/mol SiO2 Observa-se que a reação é endotérmica (ou seja, absorve calor). _________________________ O símbolo “º” colocado à direita do “DH” significa que todos os reagentes e produtos estão nas condições padrão na temperatura de reação. _________________________ Exemplo: Determinar o calor total associado à geração de 1000 Nm3 de CO através da seguinte reação a 298 K: )g()g(2)s( CO2COC =+ Solução: Inicialmente calcula-se a entalpia de reação: o 2CO298 o C298 o CO298 o R HHH2H D-D-D×=D Nos “Dados Termodinâmicos” obtém-se: 42,26Ho CO298 -=D kcal/mol (página 19) 054,94Ho 2SiO298 -=D kcal/mol (página 19) E por definição: 0Ho )g(C298 =D 98 Logo: ( ) ( ) 214,41054,94042,262HoR =----×=D kcal Como oRHD é maior que zero, a reação é endotérmica. Calcula-se agora o número de moles de CO gerados: ( ) 86,642.44 4,22 10001000 4,22 1000NmV n 3 CO CO = ´ = ´ = moles Pode-se escrever a seguinte regra de três: 2 moles de CO gerados ---------------- 41,214 kcal 44.642,86 moles de CO gerados ----------------- x x = 919.955,42 kcal Logo a geração de 1000 Nm3 de CO pela reação acima envolve o consumo de 919.955,42 kcal. _________________________ Exemplo: Em um reator ocorre a produção de ferro metálico segundo as seguintes reações a 298 K. )g()s()s()s(32 CO3Fe2C3OFe +=+ e )g()s()s()s(43 CO4Fe3C4OFe +=+ 99 Calcular o calor total associado à produção de uma tonelada de ferro, supondo que 60% do ferro é produzido pela primeira reação e 40% pela segunda. Solução: Inicialmente determina-se as entalpias das duas reações. Tem-se os seguintes dados: 3,196Ho 3O2Fe298 -=D kcal/mol (página 29) 9,266Ho 4O3Fe298 -=D kcal/mol (página 29) 42,26Ho CO298 -=D kcal/mol (página 19) 0HH o Fe298 o )gr(C298 =D=D (por definição) Para a primeira reação: ( ) ( ) kcal04,11703,19642,2630 H3HH3H2H o C298 o 3O2Fe298 o CO298 o Fe298 o 1R =----×+ =D×-D-D×+D×=D Para a segunda reação: ( ) ( ) kcal22,16109,26642,2640 H4HH4H3H o C298 o 4O3Fe298 o CO298 o Fe298 o 2R =----×+ =D×-D-D×+D×=D Calcula-se agora o número de moles de Fe produzido nas reações: 100 1,905.17 85,55 10 FeAP m n 6 Fetotal Fe ==×× = moles Pela reação 1: Pela reação 2: 04,162.74,01,905.174,0nn totalFe 2 Fe =´=´= moles O calor de 117,04 kcal da reação 1 corresponde à formação de 2 moles de Fe, logo o calor total consumido ( )0Ho 1R >D nessa reação é: 87,683.628 2 04,117 06,743.10 2 11 1 =´= D ×= o R Fe H nQ kcal Já o calor de 161,22 kcal da reação 2 envolve a formação de 3 moles de Fe, logo o calor total consumido ( )0H o 2R >D nessa reação é: 03,888.384 3 22,161 04,162.7 3 H nQ o 2R2 Fe2 =´= D ×= kcal E o calor total consumido nessas reações é: 9,571.013.103,888.38487,683.628QQQ 21total =+=+= kcal _________________________ molesxxnn totalFeFe 06,743.106,01,905.176,0 1 === 101 Em anexo apresentamos um planilha para o exercício do cálculo do calor de reação para diversas reações: CAP 214 ERQ Rev 00.xls _________________________ 2.1.4.1. Entalpia de reação em temperaturas superiores a 298 K. Algumas vezes pode ser necessário determinar a entalpia de uma reação em temperaturas diferentes de 298 K. O procedimento a ser adotado nesse tipo de cálculo será mostrado através de um exemplo. _________________________ Exemplo: Calcular o calor da reação abaixo a 1400ºC: )g()s()gr()s(2 CO2SiC2SiO +=+ Solução: Para se realizar esse cálculo é necessário lembrar que a entalpia é uma função de estado, ou seja, seu valor só depende dos estados inicial e final do sistema. Assim, pode-se adotar um procedimento análogo ao feito no caso da determinação do calor de fusão em temperaturas diferentes da temperatura normal de fusão. Para tal, lança-se mão do seguinte esquema: No cálculo a ser desenvolvido, tem-se: Q2Q1 Q3 Q4 REAÇÃO Temperatura (K) o 1673HDSiO2(s) + 2C(gr) Si(s) + 2CO(g) o 298HD SiO2(s) + 2C(gr) Si(s) + 2CO(g) 1673 298 102 · estado inicial: SiO2(s) e C(gr) a 1673 K; · estado final: Si(s) e CO(g) a 1673 K. Uma das maneiras de se partir do estado inicial acima e alcançar o estado final é dada pelos passos abaixo: · resfriamento da SiO2(s) e C(gr) de 1673 até 298 K; · reação da SiO2(s) e C(gr) produzindo Si(s) e CO(s) e CO(g) a 298 K; · aquecimento do Si(s) e CO(g) de 298 até 1673 K. É óbvio que o calor associado aos passos acima é idêntico ao calor da reação a 1673 K. Desse modo pode-se escrever a seguinte relação: 43 o 29821 o 1673 QQHQQH ++D++=D onde: ( ) ( ) )( )(2 29816732 29816731 2 gr s C SiO HHQ HHQ -×-= --= =D o298H entalpia da reação a 298 K ( ) ( ) )g(CO29816734 )s(Si29816733 HH2Q HHQ -×= -= Pelos “Dados Termodinâmicos” tem-se: 103 ( ) 4455T1097,0T41,14HH 23 )s(2SiO298T -×´+×=- - 848 –2000 K (página 91) ( ) 1936T/1004,2T1057,0T03,4HH 523 )gr(C298T -´+×´+×=- - 298 – 2500 K (página 67) ( ) 2079T/1004,1T1035,0T70,5HH 523 )s(Si298T -´+×´+×=- - 298 – 1685 K (página 91) ( ) 2105T/1011,0T1049,0T79,6HH 523 )g(CO298T -´+×´+×=- - 298 – 2500 K (página 68) Substituindo T = 1673 K nas relações acima, obtém-se: ( ) 8,367.22HH )s(2SiO2981673 =- cal/mol ( ) 52,523.6HH )gr(C2981673 =- cal/mol ( ) 89,498.8HH )s(Si2981673 =- cal/mol ( ) 72,632.10HH )g(CO2981673 =- cal/mol Assim: Q1 = - 22.367,89 cal Q2 = - 2 x 6.523,52 = -13.047,04 cal 104 =D o298H 164,16 kcal = 164.160 cal (exemplo anterior) Q3 = 8.498,89 cal Q4 = 2 x 10.632,72 = 21.265,44 cal Assim: 51,158cal4,509.15844,265.2189,8498160.16404,047.1389,367.22Ho1673 ==+++--=D kcal Observa-se que houve uma variação de cerca de 3,5% no valor do calor da reação. Quando não ocorrem mudanças de fase dos reagentes nem dos produtos no intervalo entre 298 K e a temperatura na qual se vai calcular a entalpia da reação, as variações do calor de reação são sempre pequenas. _________________________ O exemplo acima permite que se desenvolva uma relação genérica para cálculo do calor de reação em temperaturas diferentes de 298 K. Essa relação é dada por: ( ) ( )åå == -×--×+D=D y 1r r298Tr x 1p p298Tp o 298 o T HHnHHnHH onde: o THD = entalpia da reação em uma temperatura “T”; np = coeficiente estequiométrico do produto “p” na equação da reação; nr = coeficiente estequiométrico do reagente “r” na equação da reação. 105 2.1.5. Entalpia de dissolução Quando dois metais são misturados, geralmente existe um processo térmico (com liberação ou absorção de calor) devido às interações entre um e outro. O termo entalpia de dissolução é usado para designar o calor envolvido nesse processo de mistura. Para se avaliar a entalpia de dissolução é necessário definir um parâmetro denominado propriedade parcial molar. Apenas por simplicidade e facilidade de entendimento será tomado como exemplo o caso do volume parcial molar. Para as outras propriedades a definição é análoga. Em cálculos envolvendo soluções (misturas de metais, por exemplo) é desejável saber como uma dada propriedade da solução varia com a adição de um dado constituinte. Como essa propriedade só pode ser referida a uma certa composição fixa, essa variação deve ser descrita como a taxa de variação quando uma quantidade infinitesimal do constituinte é adicionada. Considere-se então, os volumes parciais molares de uma mistura binária constituída pelos componentes A e B. Essa solução de composição definida vai ocuparum dado volume a uma certa condição de temperatura e pressão. Esse volume pode ser imaginado como consistido pelo volume ocupado pelas moléculas de A e o volume das moléculas de B. O volume ocupado por 1 mol de A nessa solução é o volume parcial molar de A e é denotado por AV . O conceito de volume parcial molar é expresso matematicamente por: Bn,P,TA n V AV ÷ ÷ ø ö ç ç è æ ¶ ¶ = e An,P,TB n V BV ÷ ÷ ø ö ç ç è æ ¶ ¶ = Por essa definição AV representa a taxa de aumento de volume da solução quando uma quantidade infinitesimal, dnA moles de A, é adicionada, sendo que a quantidade de B, a temperatura e a pressão são mantidas constantes. 106 Pode-se agora calcular a variação de volume quando pequenas quantidades dnA e dnB de A e B são adicionadas simultaneamente à solução. Obtém-se: BBAA dnVdnVdV ×+×= Desde que os valores de AV e BV dependem apenas da composição da solução e se os constituintes são adicionados simultaneamente na mesma proporção em que estão presentes na solução (nA moles de A para nB moles de B), a equação acima pode ser integrada para fornecer: BBAA nVnVV ×+×= Dividindo a relação acima por nA +nB, obtém-se: BBAA NVNV'V ×+×= onde: V’ = volume ocupado por um mol da solução (cm3/mol da solução); NA = fração molar de A na solução; NB = fração molar de B na solução. A equação acima mostra que o volume de um mol da solução é igual a soma dos produtos das frações molares e dos volumes parciais molares dos constituintes. Apesar de ter-se desenvolvido todo o equacionamento em termos do volume parcial molar, uma equação análoga é obtida para o cálculo da entalpia associada à mistura de dois elementos. A entalpia de dissolução ou calor de mistura é avaliado pela seguinte equação: BBAAM HNHNH D×+D×=D 107 onde: =D MH entalpia de dissolução ou calor de mistura (cal/mol solução) NA = fração molar de A na solução; NB = fração molar de B na solução; =D AH entalpia parcial molar de A (cal/mol de A); =D BH entalpia parcial molar de B (cal/mol de B); A entalpia parcial molar é definida por uma equação semelhante à do volume parcial molar. Tem- se: jn,P,Tni M i H H ÷÷ ø ö çç è æ ¶ ¶ =D Os valores de iHD são tabelados para ligas metálicas binárias. Esses dados são inexistentes para ligas de três ou mais componentes e para escórias. Nos “Dados Termodinâmicos para Metalurgistas”, nas páginas 217 a 229, encontram-se tabeladas as entalpias parciais molares para dissolução de vários elementos no ferro a 1600ºC. A seguir serão resolvidos alguns exemplos envolvendo a determinação da entalpia de dissolução. _________________________ Exemplo: Qual é o calor por mol de liga devido à dissolução de 0,1 mol de Si líquido a 1600ºC em 0,9 mol de Fe a 1600ºC? Solução: Pela relação obtida anteriormente, tem-se: 108 FeFeSiSiM HNHNH D×+D×=D Inicialmente, determina-se às frações molares do Fe e do Si: 9,0 1,09,0 9,0 nn n N SiFe Fe Fe =+ = + = 1,0 1,09,0 1,0 = + = + = SiFe Si Si nn n N Para as frações molares acima, obtém-se nos “Dados Termodinâmicos” página 227: 99HFe -=D cal/mol 897.29-=D SiH cal/mol Logo: ( ) ( ) 8,078.3999,0298971,0HM -=-´+-´=D cal/mol liga Como DHM é menor que zero, conclui-se que na mistura do ferro com o silício houve liberação de energia. Isso ocorre quando há atração entre os elementos. Quando ocorre repulsão, a entalpia de dissolução é positiva: há absorção de energia durante a mistura. _________________________ Exemplo: Qual é o calor total envolvido quando se adiciona 10 kg de Si a 1600ºC, de tal modo que a liga resultante tenha as seguintes frações molares: NFe = 0,8 e NSi = 0,2 109 Solução: Como já se conhece as frações molares, determina-se as entalpias parciais molares na página 227 dos “Dados Termodinâmicos”: 786HFe -=D cal/mol 214.26HSi -=D cal/mol Logo, a entalpia de dissolução por mol de liga será: ( ) ( ) 6,871.57868,0214.262,0HNHNH FeFeSiSiM -=-´+-´=D×+D×=D cal/mol liga Entretanto, deseja-se calcular o calor total associado à dissolução de 10 kg de silício e não por mol de liga. Determina-se, então, o número de moles de silício nesses 10 kg. Tem-se: 356 09,28 000.10 SiAP m n SiSi ==×× = moles Calcula-se agora o número de moles de liga que são formados. Obtém-se: 0,2 moles de Si ---------------------- 1 mol de liga 356 moles de Si --------------------- x moles de liga x = 356 / 0,2 = 1780 moles de liga Assim, a entalpia total de dissolução totalMHD será: 45,451.10cal448.451.1017806,5871nHH ligaM total M -=-=´-=´D=D kcal _________________________ Exemplo: Determinar o calor total associado à mistura de 10 kg de silício líquido em 990 kg de ferro líquido a 1600ºC. 110 Solução: Inicialmente, determina-se os números de moles e as frações molares dos elementos na liga: 05,726.17 85,55 000.990 FeAP m n FeFe ==×× = moles 00,356 09,28 000.10 SiAP m n SiSi ==×× = moles 98,0= + = SiFe Fe Fe nn n N 02,0= + = SiFe Si Si nn n N Como os valores fornecidos nos “Dados Termodinâmicos” aparecem para frações molares de 0,1 em 0,1, deve-se fazer uma interpolação para obtenção dos valores pertinentes. Na página 227 tem-se: NSi = 0 400.31HSi -=D cal/mol NSi = 0,1 897.29HSi -=D cal/mol Interpolando linearmente para NSi = 0,02 obtém-se: ( ) ( ) 4,3109902,0 01,0 3140029897 400.31HSi -=´- --- +-=D cal/mol 111 Para o ferro: NFe = 0,9 99HFe -=D cal/mol NFe = 1,0 0HFe =D cal/mol Interpolando para NFe = 0,98 obtém-se: ( ) ( ) ( ) 8,199,098,0 9,01 990 99HFe -=-´- -- +-=D cal/mol Logo: ( ) ( ) 39,6418,1998,04,09.3102,0HNHNH FeFeSiSiM -=-´+-´=D×+D×=D cal/mol liga Para determinar o calor total, calcula-se o número de moles de liga formada. Tem-se: 0,02 moles de Si --------------- 1 mol de liga 356 moles de Si --------------- x moles de liga 800.17 02,0 356 x == moles de liga A entalpia total de dissolução é: 74,416.11cal742.416.11800.1739,641nHH ligaM total M -=-=´-=´D=D kcal _________________________ Exemplo: Determinar o calor associado à dissolução de 50 kg de Fe-Si 75 a 1600ºC em uma tonelada de Fe a 1600ºC. 112 Solução: Nesse exemplo, tem-se os seguintes estados inicial e final: · inicial: 50 kg de Fe-Si 75 e 1000 kg de Fe a 1600ºC. · final: liga corresponde à dissolução dos 50 kg de Fe-Si 75 na 1 tonelada de ferro a 1600ºC. Como a entalpia é uma função de estado, qualquer caminho seguido para sair do estado inicial e atingir o estado final fornecerá o mesmo valor para o calor. Um caminho bastante conveniente e que simplifica os cálculos envolve as seguintes etapas: · separação da liga Fe-Si 75 obtendo Fe e Si a 1600ºC. O calor envolvido nessa etapa é o mesmo associado à dissolução do Si no Fe formando a liga Fe-Si; entretanto, o sinal é invertido; · dissolução do Si no ferro formando a liga final. Essas etapas podem ser vistas esquematicamente na figura abaixo: Inicialmente, avalia-se os números de moles e as frações molares de Si e Fe na liga Fe-Si 75 e na liga final. Na liga Fe-Si 75 tem-se: 113 99,1334 10009,28 75000.50 SiAP m n SiSi =´ ´ = ×× = moles 81,223 10085,55 25000.50 FeAP m n FeFe =´ ´ = ×× = moles 856,0 81,22399,133 99,1334 nn n N FeSi Si Si =+ = + = 144,0 81,22399,1334 81,223 nn n N FeSi Fe Fe =+ = + = Na liga final tem-se: nSi = 1334,99 moles 913,128.18 85,55 10 81,223n 6 Fe =+= (1 t . ferro) 069,0 913,128.1899,133 99,1334 nn n N FeSi Si Si =+ = + = 931,0 913,128.1899,1334 913,128.18nn n N FeSi Fe Fe =+ = + = Pode-se agora calcular os calores envolvidos nas duas etapas. Na primeira etapa faz-se a separação do Fe-Si 75. Determina-se inicialmente, as entalpias parciais molares. Tem-se na página 227: 114 NSi = 0,8 435HSi -=D cal/mol NSi = 0,9 76HSi -=D cal/mol Interpolando linearmente para NSi = 0,856, tem-se: ( ) ( ) ( ) 96,2338,0856,0 8,09,0 43576 435HSi -=-´- --- +-=D cal/mol Para o ferro, obtém-se: NFe = 0,10 727.23HFe -=D cal/mol NFe = 0,20 751.21HFe -=D cal/mol Interpolando para NFe = 0,144 obtém-se: ( ) ( ) ( ) 56,857.221,01441,0 1,02,0 727.23751.21 727.23HFe -=-´- --- +-=D cal/mol E a entalpia de dissolução é: ( ) ( ) 76,349156,857.22144,096,233856,01 -=-×+-´=D×+D×=D FeFeSiSiM HNHNH cal/mol liga O número de moles de liga é: 57,559.1 856,0 99,1334 N n n Si Si liga === moles 115 E a entalpia total de dissolução é: 64,5445cal636.445.557,155976,3491nHH liga 1 M ;tpta1 M -=-=´-=×D=D kcal O calor associado à primeira etapa é: 64,445.5HQ total1M1 =D-= kcal Na Segunda etapa faz-se a dissolução do Si no Fe, obtendo a liga final. Determina-se, então, as entalpias parciais molares. Para o silício, tem-se: NSi = 0 31400HSi -=D cal/mol NSi = 0,1 897.29HSi -=D cal/mol Interpolando para NSi = 0,069, obtém-se: ( ) ( ) 93,362.30069,0 01,0 400.31897.29 400.31HSi -=´- --- +-=D cal/mol Para o ferro, tem-se: NFe = 0,9 99HFe -=D cal/mol NFe = 1,0 0HFe =D cal/mol Interpolando para NFe = 0,931, tem-se: ( ) ( ) ( ) 31,689,0931,0 9,01 990 99HFe -=-´- -- +-=D cal/mol 116 A entalpia de dissolução é: ( ) ( ) 64,215831,68931,093,362.30069,0HNHNH FeFeSiSi2M -=-´+-´=D×+D×=D cal/mol liga O número de moles de liga é: 25,347.19 069,0 96,1334 N n n Si Si liga === moles A entalpia total de dissolução é: 74,763.41cal9,739.763.4125,347.1964,2158nHH liga 2 M total2 M -=-=´-=×D=D kcal O calor associado à segunda etapa é: 74,763.41HQ total2M2 -=D= kcal Assim, o calor total devido a dissolução de 50 kg de Fe – Si 75 em 1 tonelada de ferro é: ( ) kcal QQQtotal 1,318.3674,763.4164,445.5 21 -=-+= += 117 2.2. Primeira Lei da Termodinâmica A primeira lei da termodinâmica é a expressão do princípio da conservação da energia e é uma generalização da experiência, não sendo dedutível a partir de nenhum outro princípio. Seu enunciado pode ser colocado na seguinte forma: “A energia não pode ser criada nem destruída em um sistema de massa constante, mas pode ser convertida de uma forma para outra”. O princípio da conservação de energia é que permite o estabelecimento de balanços térmicos, que serão tratados a seguir. 2.2.1. Balanço térmico A elaboração de um balanço térmico envolve alguns pré-requisitos. O primeiro deles é a definição do sistema. Por sistema entende-se o espaço contido dentro do limite a ser definido pela pessoa que for calcular o balanço térmico. Assim, o sistema pode ser tanto uma chama, como um forno, uma usina e até um país. É óbvio que a definição do sistema vai guardar íntima relação com os objetivos que se pretende alcançar com o cálculo do balanço térmico. Outro pré - requisito é o conhecimento do balanço de massa e das reações globais que ocorrem no sistema. É evidente que sendo a entalpia uma grandeza que depende da massa (chamada grandeza extensiva) do elemento ou composto, qualquer erro no balanço de massa influirá diretamente no balanço térmico. Desse modo, o desenvolvimento do balanço de massa deve preceder a realização do balanço térmico. Finalmente, deve-se dizer que o objetivo do balanço térmico deve ser considerado antes da formulação apropriada do problema. Dois tipos bastante comuns de objetivo no desenvolvimento de balanços térmicos são: 118 · comparação entre vários processos que produzem um mesmo material, determinando qual deles consome menos energia; · obter informações necessárias para controle de processo. 2.2.1.1. Conceituação Uma expressão genérica para o balanço térmico pode ser colocada na seguinte forma: Entrada de energia no sistema – Saída de energia no sistema = Energia acumulada no sistema A energia acumulada no sistema geralmente está associada à variação de algum parâmetro (na maioria dos casos a temperatura) com o tempo. Como normalmente, esse balanço é desenvolvido no estado estacionário (características do sistema constantes com o tempo), o termo de acumulação é nulo e pode-se escrever: Entrada de energia no sistema = Saída de energia no sistema O primeiro passo no desenvolvimento de um balanço térmico é a escolha da temperatura de referência, a partir da qual serão avaliadas todas as entradas e saídas de calor. Essa escolha é arbitrária e é óbvio que os resultados do balanço térmico independem da temperatura de referência. Entretanto, o trabalho envolvido no desenvolvimento do balanço térmico é função da escolha que é feita: uma temperatura de referência adequada pode simplificar bastante o equacionamento do balanço. Uma vez escolhida a temperatura de referência, todos os cálculos de entalpia devem tomar como base o seu valor; inclusive as entalpias de reações devem ser avaliadas nessa temperatura, considerando as fases estáveis nessa mesma temperatura. Antes de se resolver um exemplo ilustrando a escolha da temperatura de referência, deve-se fazer um comentário sobre as perdas térmicas. As perdas térmicas representam saídas de energia e muitas vezes os balanços térmicos são desenvolvidos para determinar o seu valor. Entretanto, é comum fornecer o valor de perdas térmicas em termos de porcentagem do calor total envolvido 119 no balanço. Esse valor é ambíguo pois depende de uma série de parâmetros (inclusive da temperatura de referência). Já o valor de perdas térmicas em termos de energia (kcal, por exemplo) é o único e independente de quaisquer parâmetros, como será visto no exemplo abaixo. Exemplo: Em um reator utiliza-se nitrogênio gasoso (N2) para fazer o aquecimento de um minério de ferro que tem a seguinte composição: Fe2O3 = 95 % SiO2 = 5 % O minério entra no reator a 25ºC e sai a 627ºC. O nitrogênio entra a 827ºC e sai a 127ºC. Considerando que são consumidos 700 Nm3 de nitrogênio por tonelada de minério, determinar as perdas térmicas para as seguintes temperaturas de referência: 25, 627 e 827ºC. Comparar os valores obtidos e discutir os resultados. Solução: Antes de se iniciar os cálculos do balanço térmico, determina-se os números de moles de cada uma das espécies envolvidas no processo. Tem-se (referência: 1 tonelada de minério): ( ) 65,948.5 1007,159 9510 100OFeMP OFe%M n 6 32 ériomin32eriomin 3O2Fe = × × = ××× × = moles ( ) 09,832 10009,60 510 100 % 6 2 min2min 2 = × × = ××× × = SiOMP SiOM n érioerioSiO moles ( ) 250.31 4,22 1000700 4,22 1000NmV n 3 2N 2N = × = ´ = moles CLIQUE AQUI, PARA ACESSAR A PLANILHA ELETRONICA DESTE PROBLEMA. (arquivo: balanco1.xls) Senha de proteção: termod 120 Inicialmente resolve-se o problema para uma temperatura de referência de 25ºC ou 298 K. Pode- se montar o diagrama abaixo mostrando as entradas e saídas de calor. Pelo diagrama acima, obtém-se as seguintes informações: · o minério entrando a 298 K não contribui com calor no processo; · as setas para baixo indicam etapas de resfriamento que são exotérmicas e, portanto, representam entradas de calor para o sistema; · as setas para cima indicam etapas de aquecimento que são endotérmicas e representam saídas ou consumo de calor do sistema. Assim, tem-se a seguinte tabela de entradas e saídas de calor: Entradas de calor 1. Resfriamentodo N2 de 1100 até 298 K = calor de aquecimento do N2 a 1100 K (referência 298 K). Saídas de calor 1) Aquecimento do N2 de 298 até 400 K = calor de aquecimento do N2 a 400 K (referência 298 K). 2) Aquecimento do minério de 298 até 400 K = calor de aquecimento do minério a 900 K (referência 298 K). NITROGÊNIO (1100 K) MINÉRIO (900 K) NITROGÊNIO (400 K)Q1 Q3 Q2 298K MINÉRIO (298K) 121 3) Perdas térmicas (incógnita do problema). Pode-se agora calcular cada uma das parcelas acima. Entrada de calor 1. Calor de aquecimento do N2 a 1100 K Na página 86 ( ) 2117/1012,01045,083,6 523298 2 -´+×´+×=- - TTTHH NT 298 – 3000 K Substituindo T = 1100 K, obtém-se: ( ) 41,951.5HH 2N2981100 =- cal/mol ( ) 56,981.185cal5,562.981.1853125041,951.5nHHQ 2N2N29811001 ==´=×-= kcal Saídas de calor 1. Calor de aquecimento do N2 a 400 K Usando a mesma expressão acima e substituindo para T = 400K, obtém-se: ( ) 717HH 2N298400 =- cal/mol ( ) 25,06.22cal 22.406.25031250717 222984002 ==´=×-= NN nHHQ kcal 2. Calor de aquecimento do minério a 900 K Na página 74 ( ) 021.9T/1055,3T1030,9T49,23HH 523 3O2Fe298T -´+×´+×=- - 298 – 950 K 122 Na página 91: ( ) 4455T1097,0T41,14HH 23)quartzo(2SiO298T -×´+×=- - 848 – 2000 K Substituindo para T = 900 K: ( ) 44,047.20HH 3O2Fe298900 =- cal/mol ( ) 70,299.9HH 2SiO298900 =- cal/mol Tem-se: ( ) ( ) kcal39,993.126cal4,391.993.126 7,299.909,83244,047.2065,948.5 HHnHHnQ 2SiO2989002SiO3O2Fe2989003O2F3 == ´+´= -×+-×= 3. Perdas térmicas Q4 = PERDAS Como as entradas e saídas de calor devem ser as mesmas, podem ser igualadas e assim obter-se-á o valor das perdas. Tem-se: Q1 = Q2 + Q3 + Q4 185.981,56 = 22.406,25 + 126.993,39 + PERDAS Logo: 123 PERDAS = 36.581,92 kcal Finalmente, o balanço térmico pode ser representado da seguinte maneira: Temperatura de referência – 298 K ENTRADAS DE CALOR SAÍDAS DE CALOR Item kcal % Item kcal % 1. Calor de aquecimento do N2 a 1100 K 185.981,56 100,00 1. Calor de aquecimento do N2 a 400K 2. Calor de aquecimento do minério a 900K 3. Perdas térmicas 22.406,25 126.993,39 36.581,92 12,0 68,3 19,7 TOTAL 18,981,56 100,0 TOTAL 185.981,56 100,0 Para uma temperatura de referência de 900 K, tem-se o seguinte diagrama: NITROGÊNIO (1100 K) 900K MINÉRIO (298 K) NITROGÊNIO (400 K) Q1 Q3 Q2 MINÉRIO (900K) 124 Pelo diagrama acima, tem-se a seguinte lista de entradas e saídas de calor: Entradas de calor 1. Resfriamento do N2 de 1.100 até 900 K 2. Resfriamento do N2 de 900 até 400 K Saídas de calor 1. Aquecimento do minério de 298 até 900 K 2. Perdas térmicas Pode-se agora calcular cada uma das parcelas acima. Entradas de calor 1. Resfriamento do N2 de 1.100 até 900 K Usando a expressão de ( ) 2N298T HH - já vista anteriormente e substituindo para temperaturas de 1100 e 900 K tem-se: ( ) 41,951.5HH 2N2981100 =- cal/mol ( ) 83,407.4HH 2N298900 =- cal/mol Sabe-se que: ( ) ( ) ( ) cal/mol 1.543,5883,407.441,951.5 22 298900229811009001100 =-= ---=- NNN HHHHHH 125 ( ) 88,236.48cal 48.236.87558,1543250.31 22 90011001 ==´=-×= NN HHnQ kcal 2. Resfriamento do N2 de 900 até 400 K Da mesma maneira acima, tem-se: ( ) 83,407.4HH 2N298900 =- cal/mol ( ) 717HH 2N298400 =- cal/mol e: ( ) ( ) ( ) 83,690.371783,407.4HHHHHH 2N2984002N 2989002N400900 =-=---=- cal/mol Finalmente: ( ) 44,338.115cal5,437.338.11583,690.3250.31HHnQ 2N4009002N2 ==´=-×= kcal Saídas de calor 1. Aquecimento do minério de ferro de 298 a 900 K Essa parcela já foi calculada anteriormente: ( ) ( ) kcal 93,993.126 223232 2989002989003 =-×+-×= SiOSiOOFeOF HHnHHnQ 2. Perdas térmicas Q4 = PERDAS Igualando entradas e saídas de calor, obtém-se: Q1 + Q2 = Q3 + Q4 48.236,88 + 115.338,44 = 126.993,39 + PERDAS 126 Logo: PERDAS = 36.581,93 kcal E o balanço térmico pode ser assim representado: Temperatura de referência 900 K ENTRADAS DE CALOR SAÍDAS DE CALOR Item kcal % Item kcal % 1. Resfriamento do N2 de 1100 a 900K 2. Resfriamento do N2 de 900 a 400K 48.236,88 115.338,44 29,5 70,5 1. Aquecimento do minério de 298 a 900 K 2. Perdas térmicas 126.993,39 36.581,93 77,6 22,4 TOTAL 163.576,32 100,0 TOTAL 163.575,32 100,0 Para temperatura de referência de 1.100 K, tem-se o seguinte diagrama: Tem-se, então, a seguinte lista de entradas e saídas de calor: NITROGÊNIO (400 K) MINÉRIO (298 K) 1100 K Q1 Q3Q2 MINÉRIO (900K) NITROGÊNIO (1100 K) 127 Entradas de calor 1. Resfriamento do N2 de 1100 a 400 K 2. Resfriamento do minério de 1100 a 900 K Saídas de calor 1. Aquecimento do minério de 298 a 1100 K 2. Perdas térmicas Calcula-se, agora, cada uma das parcelas. Entrada de calor 1. Resfriamento do N2 de 1100 K a 400 K Usando a expressão de ( ) 2N298T HH - e substituindo para temperaturas de 1100 K e 400 K tem-se: ( ) 41,951.5HH 2N2981100 =- cal/mol ( ) 717HH 2N298400 =- cal/mol e: ( ) ( ) ( ) 41,234.571741,951.5HHHHHH 2N2984002N29811002N4001100 =-=---=- cal/mol ( ) 31,575.163cal5,312.575.16341,234.5250.31HHnQ 2N40011002N1 ==´=-×= kcal 2. Resfriamento do minério de 1100 a 900 128 Para calcular essa parcela necessita-se da expressão abaixo: ( ) 8446T1088,0T71,31HH 23 3O2Fe298T -×´+×=- - 1050 – 1800 K (página 74) Usando a expressão acima e outras já vistas, determinar-se os valores abaixo: ( ) 8,499.27HH 3O2Fe2981100 =- cal/mol ( ) 44,047.20HH 3O2Fe298900 =- cal/mol ( ) 70,569.12HH 2SiO2981100 =- cal/mol ( ) 7,299.9HH 2SiO298900 =- cal/mol Tem-se que: ( ) ( ) ( ) 36,452.744,047.208,499.27HHHHHH 3O2Fe2989003O2Fe29811003O2Fe9001100 =-=---=- cal/mol ( ) ( ) ( ) 270.37,299.97,569.12HHHHHH 2SiO2989002SiO29811002SiO9001100 =-=---=- cal/mol ( ) ( ) kcal 47.052,42cal ,6147.052.415 270.309,83236,452.765,948.5 2232 90011003290011002 == ´+´= -×+-×= SiOSiOOFe HHnOFeHHnQ 129 Saídas de calor 1. Aquecimento do minério de ferro de 298 a 1100 K Usando valores já obtidos anteriormente: ( ) ( ) kcal 174.045,81cal 74.045.8071 7,569.1209,8328,499.2765,948.5 223232 298110029811003 == ´+´= -×+-×= SiOSiOOFeOFe HHnHHnQ 2. Perdas térmicas Q4 = PERDAS Igualando entradas e saídas de calor, obtém-se: Q1 + Q2 = Q3 + Q4 163.575,31 +47.052,42 = 174.045,81 + PERDAS Logo: PERDAS = 36.581,92 kcal Finalmente, tem-se o quadro a seguir: 130 ENTRADAS DE CALOR SAÍDAS DE CALOR Item kcal % Item kcal % 1. Resfriamento do N2 de 1100 a 400 K 2. Resfriamento do minério de 1100 a 900 K 163.575,31 47.052,42 77,7 22,3 1. Aquecimento do minério de 298 a 1100 K 2. Perdas térmicas 174.045,81 36.581,92 82,6 17,4 TOTAL 210.627,73 100,0 TOTAL 210.627,73 100,0 Pelos resultados obtidos constata-se que o valor das perdas térmicas é o mesmo (36.581,92 kcal), independente da temperatura de referência escolhida. Á a porcentagem de perdas varia quando se altera a referência. Daí a importância de se especificar a referência quando se fornece as perdas térmicas, em termos de porcentagem do calor total envolvido no balanço térmico. _________________________ Pelo exemplo acima verifica-se que a temperatura de referência de 298 K foi a que levou aos cálculos mais simples. Isso é verdade na maioria das situações, apenas em alguns casos particulares pode haver escolha mais adequada. Outro problema que surge quando se faz balanços térmicos em sistemas onde ocorrem reações é a escolha das reações químicasa serem consideradas. Normalmente, se conhece os reagentes e produtos, e existe uma série de possibilidades de reações que levam à conversão desses reagentes nos produtos. 131 Como a entalpia é uma função de estado e só depende dos estados inicial e final, qualquer que seja a escolha das reações o resultado será o mesmo; entretanto, o equacionamento pode se tornar mais simples ou trabalhoso em função dessa escolha. Como um exemplo, pode-se considerar o sistema representado no esquema abaixo: Pelo esquema acima, observa-se que foram introduzidos no reator 3 moles de carbono e 1 mol de Fe2O3 e foram produzidos 2 moles de Fe e 3 moles de CO. A seguir serão consideradas 3 três possibilidades de reação que levam à transformação dos reagentes em produtos. Primeira possibilidade. Pode-se considerar que ocorre a seguinte reação: )g()s()s()s(32 CO3Fe2C3OFe +=+ O calor associado ao processo acima é: ooooo R COFeCOFe HHHHHQ 298298298298 332 32 D×-D-D×+D×=D= Nos “Dados Termodinâmicos” obtém-se: 42,26Ho CO298 -=D kcal/mol (página19) 3,196Ho 3O2Fe298 -=D kcal/mol (página 20) Por definição: REAÇÕES 2 Fe 3 CO Fe2O3 3 C 132 0HH o C298 o Fe298 =D=D Assim: ( ) ( ) 04,11703,19642,2630HQ oR =----×+=D= kcal Segunda possibilidade. Pode-se supor que o processo envolve as duas reações abaixo: )g(2)s()s(32 O2/3Fe2OFe += o 1R HD )g()g(2)s( CO3O2/3C3 =+ o 2R HD E o calor total envolvido no processo será: o 2R o 1R HHQ D+D= Usando os dados já mostrados acima e lembrando que: 0Ho 2O298 =D Tem-se: ( ) kcal3,1963,19602/302 HH2/3H2H o 3O2Fe298 o 2O298 o Fe298 o 1R =--´+×= D-D×+D×=D 133 ( ) kcal 79,2602/30342,263 3233 22 298298298 -=´-´--´= D-D×+D×=D ooooR OCCO HHHH e ( ) 04,11726,793,196 21 =-+=D+D= oR o R HHQ kcal Terceira possibilidade. Considera-se agora que o processo ocorre segundo as reações abaixo: )g()s(43)s()s(32 CO3/1OFe3/2C3/1OFe +=+ o 1R HD )g()s()s(43 CO3/2FeO2C3/2OFe3/2 +=+ o 2R HD )g()s()s()s( CO2Fe2C2FeO2 +=+ o 3R HD Os calores de formação do Fe3O4 e FeO são: 9,266Ho 4O3Fe298 -=D kcal/mol Fe3O4 (página 20) 2,63Ho FeO298 -=D kcal/mol FeO (página 20) Assim: ( ) ( ) ( ) kcal/mol 9,5603/13,19642,263/19,2663/2 3/13/13/2 298298298298 32431 =´----´+-´= D×-D-D×+D×=D oooooR COFeCOOFe HHHHH 134 ( ) ( ) ( ) mol/kcal92,3303/29,2663/242,263/22,622 H3/2H3/2H3/2H2H o C298 o 4O3Fe298 o CO298 o FeO298 o 2R =´----´+-´= D×-D-D×+D×=D ( ) ( ) mol/kcal566,73022,63242,26202 H2H2H2H2H o C298 o FeO298 o CO298 o Fe298 o 3R =´--´--´+´= D×-D-D×+D×=D E o calor total envolvido é: 04,11756,7392,3356,9HHHQ o 3R o 2R o 1R =++=D+D+D= kcal/mol Fe2O3 Observa-se que nas três possibilidades o calor envolvido foi o mesmo. Assim na escolha das reações químicas, deve-se optar por aquelas que possibilitem um equacionamento mais simples. Finalmente, deve-se dizer que o calor associado a reações exotérmicas deve ser contabilizado como entrada de calor. O calor de reações endotérmicas é contado como saída de calor. Antes de desenvolver balanços térmicos aplicados a processos industriais, serão resolvidos três exemplos aplicados a processos mais simples. _________________________ Exemplo: Quando se adicionam 140 kg de FeSi 75% a 25ºC em uma panela com 19 t de aço a 1600 ºC, qual será a temperatura final do banho? O teor inicial de O2 no banho era de 300 ppm e o final praticamente nulo ______________________________ CLIQUE AQUI, PARA ACESSAR A PLANILHA ELETRONICA DESTE PROBLEMA. Arquivo:balanço2.xls Senha proteção: termod 135 Exemplo: Calcular o consumo de energia elétrica em um forno elétrico (em kWh / tonelada de ferro) quando se aquece o ferro puro até a temperatura de 1700 ºC, supondo que as perdas térmicas sejam 40.000 kcal / tonelada de ferro. O ferro é carregado no forno a 25ºC. Solução: Escolhendo a temperatura de referência como sendo 298 K, tem-se as seguintes entradas e saídas de calor. Entradas de calor 1. Calor cedido por energia elétrica (incógnita do problema) Saídas de calor 1. Calor de aquecimento do ferro a 1700ºC 2. Perdas térmicas Determina-se, agora, cada uma das parcelas acima. Entrada de calor 1. Calor cedido por energia elétrica Q1 = ENERGIA ELÉTRICA Saídas de calor 1. Calor de aquecimento do ferro a 1700ºC Tem-se que: ( )Fe2981973Fe2 HHnQ -×= 136 Inicialmente, calcula-se o número de moles de ferro: 1,905.17 85,55 10 FeAP m n 6 Fe Fe ==×× = moles Na página 74 dos “Dados Termodinâmicos” obtém-se: ( ) 670T1020,0T77,9HH 23Fe298T -×´+×=- - 1812 – 3000 K Para T = 1973 K obtém-se: ( ) 76,384.19HH Fe2981973 =- cal/mol Assim: 99,085.3471,991.085.34776,384.191,905.172 ==´= calQ kcal 2. Perdas térmicas Q3 = 40.000 kcal Igualando entradas e saídas de calor, obtém-se: Q1 = Q2 + Q3 ENERGIA ELÉTRICA = 347.085,99 + 40.000 = 387.085,99 kcal Como: 1 kWh = 860 kcal 137 Tem-se ENERGIA ELÉTRICA = 1,450 860 99,085.387 = kWh / tonelada Fe Exemplo: Considerar que no mesmo exemplo anterior ao invés de utilizar energia elétrica como fonte de calor, queima-se carbono puro carregado a 200ºC com ar pré-aquecido a 450ºC. Determinar o consumo de carbono nesse caso, supondo o ar em quantidade estequiométrica para formação de CO2 e os gases saindo do forno a 1227ºC. Solução: Inicialmente, adota-se a temperatura de referência somo sendo 298 K. A partir dessa referência pode-se listar as entradas e saídas de calor no processo. Obtém-se: Entradas de calor 1. Calor de aquecimento do carbono a 200ºC (Q1) 2. Calor de aquecimento do ar a 450ºC (Q2) 3. Calor da reação exotérmica de combustão (Q3) Saídas de calor 1. Calor de aquecimento do Fe a 1700ºC (Q4) 2. Calor de aquecimento dos gases produzidos a 1227ºC (Q5) 3. Perdas térmicas (Q6) Pode-se agora avaliar cada uma das parcelas acima. A incógnita do problema é a massa de carbono, M. O primeiro passo é desenvolver um balanço de massa para o problema. Tem-se: M33,83 12 1000M CAP 1000)kg(M nC ×= ´ = ×× ´ = A reação de queima do carbono é: 138 C(s) + O2(g) = CO2(g) Desse modo: M33,83nn C2O ×== Sabendo que no ar: %O2 = 21 e %N2 = 79 tem-se: M48,313 21 79 M33,83 21 79 nn 2O2N ×=××=×= Entradas de calor 1. Calor de aquecimento do carbono a 200ºC (473 K) Na página 67 dos “Dados Termodinâmicos” tem-se: ( ) 1936T/1004.2T1057,0T03,4HH 523C298T -´+×´+×=- - 298 – 2500 K Para T = 473 K obtém-se: ( ) 01,529HH C298473 =- cal/mol e: ( ) MMcalMHHnQ CC ×=×=´×=-×= 082.44082.4401,52933,832984731 kcal 2. Calor de aquecimento do ar a 450ºC (723 K) Nas páginas 85 e 86, obtém-se: 139 ( ) 2313T/1040,0T1050,0T16,7HH 523 2O298T -´+×´+×=- - 298 – 3000 K ( ) 2117T/1012,0T1045,0T83,6HH 523 2N298T -´+×´+×=- - 298 – 3000 K Para T = 723 K tem-se: ( ) 37,180.3HH 2O298723 =- cal/mol ( ) 92,072.3HH 2N29872 =- cal/mol e: ( ) ( ) Mkcal32,228.1Mcal19,319.228.192,072.3M48,31337,180.3M33,83 HHnHHnQ 2N2987232N2O2987232O2 ×=×=××+××= -×+-×= 3. Calor da reação exotérmica de combustão O calor da reação é: C(s) + O2(g) = CO2(g) 054,94HoR -=D kcal/mol (página 19) O sinal negativo acima apenas indica que a reação é exotérmica e que seu calor deve ser contabilizado nas entradas de calor. Daí: M52,837.7054,94M33,83HnQ oRC3 ×=××=D×= kcal Saídas de calor 140 1. Calor de aquecimento do Fe a 1700ºC (1973 K) Esse item já foi calculado no exemplo anterior. Tem-se: Q4 = 347.085,99 kcal 2. Calor de aquecimento dos gases produzidos a 1227ºC (1500 K) Usando a correlação de
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