Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Licenciamento Ambiental: A importância do EIA/RIMA como instrumento de tutela do meio ambiente1 Leonardo Garcez Guns2 Resumo: Com o advento da Constituição Federal de 1988 o meio ambiente ganhou uma nova forma de tutela, digo isto porque nunca antes um texto constituinte deu ao tema tamanho destaque com direito a um artigo especifico definindo os meios de tutela ambiental, que, diga-se aqui, somente de passagem, não deve ser interpretado de forma isolada já que como veremos há uma nebulosidade do texto que deve ser esclarecida. Tocante a este ponto é que destaco a atenção para a leitura deste artigo, pois com este presente trabalho busco definir a importância dos instrumentos de tutela ambiental, iniciando pela concessão das licenças, já que não se deve entender o licenciamento de modo isolado pois o mesmo é composto de fases. Avançando ao objeto principal do artigo, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, que é um instrumento de grande importância ligado aos princípios constitucionais e que figura como protagonista, apesar de discordâncias e confusões nos textos doutrinários, na obtenção das licenças ambientais que se dão de forma ordenada. Fundando-se em obras doutrinárias do âmbito Ambiental, textos Constitucionais, legislação infraconstitucional e recorrendo aos princípios norteadores do Direito, caberá a este artigo trazer ao leitor não apenas o esclarecimento sobre o tema objeto de estudo, mas servirá também para trazer ao leitor uma visão crítica que possibilitará ver a partir da leitura deste trabalho a importância da preservação do patrimônio ambiental com simples instrumentos que muitas vezes passam despercebidos e que estão ao nosso alcance para uma maior cobrança das autoridades públicas no tocante à tutela do meio ambiente. Palavras-chaves: Meio Ambiente; Licenciamento Ambiental; Licença Ambiental; Estudo Prévio de Impacto Ambiental; EIA/RIMA; Audiência Pública; Mecanismos de tutela. Sumário: Introdução. 1 – Tipos de licenciamento ambiental. 2 – O Estudo Prévio de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). 3 – A Audiência Pública. 4 – A Equipe Multidisciplinar. 5 – Discussões acerca do EIA/RIMA. 6 – Os Efeitos do EIA/RIMA. 7 – Considerações Finais. 8 – Bibliografia. INTRODUÇÃO 1 Artigo apresentado como requisito para nota do G2, disciplina Direito Ambiental e Biodireito do Curso de Direito, do CESUCA – Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha- Faculdade INEDI, sob a orientação do Mestre Emerson de Lima Pinto. 2 Acadêmico do Curso de Direito do Cesuca – Complexo de Ensino Superior – Faculdade INEDI, disciplina de Direito Ambiental e Biodireito. 2 Primeiramente exclui-se daqui qualquer ideia relacionada a um simples documento, pois, no tocante ao meio ambiente se faz necessária a distinção entre a licença e o licenciamento ambiental3 sendo, a primeira um fruto de ato administrativo facultado àquele que preencha os requisitos legais para o exercício de uma atividade, ou seja, a licença é um ato declaratório consequente do licenciamento que trata de um complexo de etapas administrativas que objetiva à concessão da licença após claro o cumprimento de todas essas fases de procedimentos administrativos que se destinam a licenciar atividades utilizadoras de recursos ambientais com potencial de causar alguma degradação ao meio ambiente. O licenciamento como já referido no parágrafo inicial, divide-se em fases: a) licença prévia; b) licença de instalação; e c) licença de funcionamento; estas por si não excluem a possibilidade de o órgão concessor da licença solicitar durante ou em meio a este processo o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o seu respectivo relatório (RIMA) que será, como já aludido anteriormente, tema deste artigo onde se trará esta análise ao leitor para que se possa entender os benefícios e a importância deste instrumento constitucional de tutela ambiental salientando desde já que nem sempre os danos ambientais são de fácil constatação o que nós fará ir ao encontro dos princípios que paralelamente a estes instrumentos serão um guia para a tutela deste bem foco principal de toda a produção deste trabalho, o Bem Ambiental. Felizmente o legislador pátrio criou diversos instrumentos que permitem a ampla participação social na proteção dos bens ambientais, dentre estes encontramos o de realização do Estudos Prévio de Impacto Ambiental (EIA), pois, quando há a potencialidade de que alguma atividade que venha a ser desenvolvida seja danosa ou implique em algum risco a natureza, deverá ser realizado o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e este dever está emanado em nosso texto constitucional pátrio que estabelece a realização deste estudo em alguns casos como pressuposto para o consentimento das licenças, como veremos no decorrer do artigo. 3 Resolução nº 237/97 - Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. 3 Há primeiramente que se fazer algumas distinções entre os tipos de licenciamento para que fique claro a importância e aplicação deste instrumento que norteará as autoridades competentes no andamento do licenciamento ambiental e por consequência na concessão das licenças. 1 – TIPOS DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL Orienta nossa Constituição Federal que incumbe à legislação federal a criação de normas gerais cabendo aos Estados a complementação naquilo que lhes for permitido4, no entanto, a norma geral não invade ou suprime a competência dos Estados, por ser genérica, pois não ditará ela qual o funcionário ou órgão será incumbido de autorizar o licenciamento mas poderá ordenar os critérios válidos que deverão ser observados com relação à proteção do meio ambiente. O texto da lei 6.938/81 aponta em seu artigo 8º, I, a competência do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em “estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, a ser concedidas pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA”5. “As normas e critérios gerais para o licenciamento, estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, devem dar para todo o País os fundamentos do licenciamento. Essa competência do órgão colegiado – no qual estão representados os Estados – é relevante, pois evitará que Estados possam ser menos exigentes que outros no momento da instalação de empresas ou na renovação do licenciamento”.6 O licenciamento ambiental, como já tratado, deverá ser feito em três etapas distintas e insuprimíveis, sendo do Poder público no exercício de suas competências a responsabilidade pela expedição das licenças7,segundo o artigo 19 da já citada lei 4 Conforme o artigo 24 da Constituição Federal de 1988. 5 Art. 8º Compete ao CONAMA: I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA. 6 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21º edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, Página 339. 7 Art. 19. O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: I - Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento de atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo; II - Licença de Instalação (LI), autorizando o início da implantação, 4 6.938/81 regulamentada pelo decreto 99.274/90, reiterando que dentre as etapas poderá se fazer necessária a solicitação do Estudo Prévio de Impacto ambiental (EIA) e de seu devido relatório (RIMA), pois, poderão os Estados aumentar as modalidades de licenciamento adicionando exigências para cada fase. O que não se permite, contudo, é a redução do número de exigências já estabelecidas na norma geral. A resolução do CONAMA nº237/97 enuncia em seu artigo 8º as seguintes licenças: Licença Prévia – “Concedida na fase preliminar do planejamento da atividade ou empreendimento, aprovando a sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de implementação. ”8 Se houver no projeto em tela a possibilidade potencial de um dano significativo ao meio ambiente, este fato dará ensejo à realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), já citado anteriormente pois o texto da resolução que cita “atestando a viabilidade” possibilita e fundamenta o pedido deste estudo na fase de projeto antes da própria outorga da Licença Prévia pois conforme o entendimento citado pelo professor CATALAN: “Assevere-se que o estudo prévio de impacto ambiental, como se extrai de sua denominação, há de anteceder a emissão de quaisquer licenças que eventualmente possam ser necessárias para o desenvolvimento de atividades potencialmente degradadoras, devendo ser custeado pelo empreendedor. ”9 O autor ao decorrer sobre a importância da exigência do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) não se prende apenas as referências Constitucionais e Infraconstitucionais que o remetem, mas, busca fonte na própria denominação, ou seja, na nomenclatura do estudo referido usando o significado para fundamentar essa exigência do Poder Público, que para fins de proteção ao meio ambiente recorre aos de acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado; e III - Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação. 8 Artigo 8º, I, da Resolução Conama nº 237/97. 9 CATALAN, Marcos. Proteção Constitucional do meio ambiente e seus mecanismos de tutela. São Paulo: Editora Método, 2008, Página 156. 5 próprios princípios constitucionais, no caso o princípio da prevenção10, para uma devida fundamentação da exigência deste instrumento que será tema deste artigo com um maior detalhamento. Licença de instalação – Esta licença já adentra no âmbito da efetivação do projeto, popularmente falando seria tirar o projeto do papel, deverá ser precedida pela licença prévia, já discorrida anteriormente, pois ela “autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante”.11 Neste caso o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), poderia antecipar os riscos da instalação do empreendimento ou atividade constante do projeto para que se pudesse minimizar os impactos que a efetivação do projeto causaria ou no caso, como veremos adiante, promover um equilíbrio entre a atividade causadora e a degradação pensando não apenas nos danos futuros, mas como também nas futuras gerações. Licença de operação – A licença de operação já se dá em um âmbito de finalização do empreendimento, como por exemplo, ao término da obra de construção de um shopping, este, necessitará de uma licença para seu devido funcionamento, inclusive esta seria outra denominação para a licença de operação – licença de funcionamento – que tem por finalidade, como já exemplificado, “autorizar a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação”.12 No tocante a estas duas últimas licenças, não diferente do que ocorrera com a primeira, a licença prévia, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental se mostra necessário, pois, por mais que já haja a concretização do projeto o estudo também terá seu protagonismo ancorado nos princípios da prevenção e da precaução13 visando medidas 10 “O princípio da prevenção assegura a eliminação dos perigos cientificamente já comprovados, isto é, risco concreto e conhecido pela ciência. O princípio da prevenção atua quando existe certeza científica quanto aos perigos e riscos ao meio ambiente, determinando obrigações de fazer ou de não fazer. Um exemplo da aplicação de tal princípio é o licenciamento ambiental e o estudo prévio de impacto ambiental. Com esses instrumentos de gestão de riscos, os impactos negativos ambientais são identificados, mitigados e compensados depois da avaliação.” PILATI, Luciana Cardoso, DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental Simplificado. São Paulo: Saraiva, 2011, Página 20. 11 Artigo 8º, II, da Resolução Conama nº 237/97. 12 Artigo 8º, III, da Resolução Conama nº 237/97. 13 “O princípio da precaução, especificamente, determina que os perigos ao meio ambiente sejam eliminados antes mesmo da comprovação cientifica do nexo de causalidade entre o risco e o dano ambiental. Esse preceito recomenda um comportamento indubio pro ambiente.” PILATI, Luciana 6 acauteladoras diante das ameaças hipotéticas ao meio ambiente, conforme aludido pelo autor abaixo: “Ocorre que, aparentemente, a Constituição estabeleceu uma presunção relativa de que toda atividade é causadora de impacto ao patrimônio ambiental, e, desse modo, o proponente do projeto tem o dever de elaborar o EIA ou pelo menos o Rais (Estudo de impacto ambiental simplificado) e levá-lo à apreciação do órgão público competente visando a expedição da licença de instalação e operação ou demonstrar que sua atividade não se encontra entre aquelas que exigem o aludido estudo.”14 Caberá, como visto, ao empreendedor o ônus de provar que sua atividade ou empreendimento não está dentre àquelas em que se faz necessária a apresentação do estudo prévio de impacto ambiental, contudo não será esta uma tarefa simples conforme veremos ao adentrarmos no estudo específico sobre o aludido instrumento, antes, cabe salientar que todo procedimento de licenciamento ambiental será regido na sua elaboração de acordo com o princípio do devido processo legal, dando uma segurançajurídica não apenas ao meio ambiente tutelado, mas ao próprio empreendedor que terá garantias para o exercer da sua atividade. Relevante a este ponto destaca-se dez aspectos principais ancorados pelo devido processo legal que regerão o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório (EIA/RIMA). “a) um órgão neutro; b) notificação adequada da ação proposta e de sua classe; c) oportunidade para a apresentação de objeções ao licenciamento; d) o direito de produzir e apresentar provas , ai incluindo-se o direito de apresentar testemunhas; e) o direito de conhecer a prova contrária; f) o direito de contraditar testemunhas; g) uma decisão baseada somente nos elementos constantes da prova produzida; h) o direito de se fazer representar; i) o direito à elaboração de autos escritos para o procedimento; j) o direito de receber do Estado auxilio técnico e financeiro; l) o direito a uma decisão escrita motivada.”15 Relevante ao exposto, não estará o Poder Público tomado pelo poder absoluto de imposição frente ao empreendedor no momento da outorga da licença ambiental, dadas Cardoso, DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental Simplificado. São Paulo: Saraiva, 2011, Página 20. 14 CATALAN, Marcos. Proteção Constitucional do meio ambiente e seus mecanismos de tutela. São Paulo: Editora Método, 2008, Página 156. 15 MILARÉ, Édis, VASCONCELLOS, Antônio Hermann. Estudo Prévio de Impacto Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, Página 91. 7 as garantias referidas acima, pois o mesmo contará com princípios protecionistas do bem ambiental e com princípios limitadores de sua atividade discricionária que será melhor entendida ao adentrarmos no estudo deste instrumento, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA). 2 – O ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL E O RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA/RIMA O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e seu consequente inseparável, o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que será melhor definido adiante, ganharam, como mencionado na introdução, importância constitucional a partir do Constituinte de 1988. Fazem parte atualmente do tão aludido artigo 225, que trata do meio ambiente, figurando no §1º, IV no que pertine à tutela preventiva do meio ambiente16. A menção a palavra preventiva e a sua ligação ao princípio da prevenção não deverão ser compreendidas como mera coincidência pois, como já aludido ao princípio cabe ressaltar que... “Convém ressaltar que a previsão constitucional acerca do estudo de impacto ambiental reflete a adoção do princípio da prevenção, haja vista a capacidade que o referido estudo possui de antever futuros problemas decorrentes da atividade empreendedora. Somada tal previsão à referência feita no caput do art. 225 às futuras gerações, reforça-se o envolvimento da Carta brasileira com o princípio do desenvolvimento sustentável, cuja a importância em matéria de licença ambiental destaca-se. Isto porque a licença ambiental possui o intuito de permitir a administração pública o controle dos empreendimentos, defendendo-se, assim, o meio ambiente de novas agressões e solicitando alternativas capazes de compatibilizar a idéia de desenvolvimento com a proteção ambiental.”17 Qualquer alteração no cenário ambiental da área em que se pretende instalar determinado empreendimento, já traria ensejo para a realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, segundo uma leitura estrita da norma constitucional, este, porém, é 16 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; 17 CATALAN, Marcos. Proteção Constitucional do meio ambiente e seus mecanismos de tutela. São Paulo: Editora Método, 2008, Página 154. 8 tema de muita controvérsia pois o texto constitucional pátrio é nebuloso no que concerne à realização do estudo, que, certamente figura entre os instrumentos mais importantes na defesa do meio ambiente já que através dele, ou melhor, do seu respectivo relatório, que se dará ciência à coletividade dos potenciais danos futuros que poderá o meio ambiente vir a sofrer, por isso a menção ao princípio do desenvolvimento sustentável18 que servirá de balança na discussão que envolve o meio ambiente e o desenvolvimento. Nesse contexto faz-se necessária para que prossigamos com o assunto a definição do Relatório de impacto ambiental (RIMA), que não se surpreende ser também regido por princípios, no caso o da informação ambiental19, já que o intuito do mencionado relatório é o de possibilitar sua leitura pelo público da forma mais clara possível sobre o teor do estudo prévio de impacto ambiental. “A existência de um relatório de impacto ambiental tem por finalidade tornar compreensível para o público o conteúdo do EIA, porquanto este é elaborado segundo critérios técnicos. Assim, em respeito ao princípio da informação ambiental, o RIMA deve ser claro e acessível, retratando fielmente o conteúdo do estudo, de modo compreensível e menos técnico. O relatório de impacto ambiental e o seu correspondente estudo deverão ser encaminhados para o órgão ambiental competente pra que se procedam a análises sobre o licenciamento ou não da atividade”.20 O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), como exposto, deverá ser simplificado e de fácil entendimento a todos, pois, há nele uma grande importância já que o mesmo é responsável pela transparência do que fora levantado no aludido Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA). Saliente-se que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) não deva ser visto apenas como um estudo de possível degradação ao meio ambiente, pois através de seu 18 “ O homem é portador solene da obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras, os recursos não renováveis da Terra devem ser utilizados de forma a evitar o seu esgotamento futuro, deve ser realizado um planejamento adequado e integrado, com o ordenamento mais racional, para a preservação do ar, do solo, da fauna, da flora e dos ecossistemas naturais, valorizando-se a planificação dos agrupamentos humanos e da urbanização, a maximização e a repartição dos benefícios sociais, econômicos e ambientais.” FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, Página 76. 19 “A informação serve para o processo de educação de cada pessoa e da comunidade. Mas a informação visa, também, a dar chance à pessoa informada de tomar posição ou pronunciar-se sobre a matéria informada.” FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, Página 127. 20 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, Página 248 9 respectivo relatório, poderá, a administração pública solicitar Audiência pública, quando julgar necessário, o que não obsta que a mesma ocorra por outros meios. 3 – A AUDIÊNCIAPÚBLICA As audiências públicas têm por finalidade a exposição aos interessados, como meio de análise e discussão, do conteúdo do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) recolhendo dos presentes as críticas e as sugestões a respeito do produto em análise, bem como dirimir as suas dúvidas. As audiências, um fruto da publicidade do relatório, são reguladas pela resolução nº 9/87 do Conama que em seu artigo 1º, conforme o exposto acima, expressa a sua finalidade e vale destacar aqui o artigo 2º da mesma resolução que nos remete a participação da sociedade já que, como visto, a audiência se realizará sempre que a Administração Pública julgar necessária, embora, o aludido artigo incumba também ao Ministério Público, a entidade civil por solicitação, ou a 50 ou mais cidadãos a competência de realizar a audiência. “O local e horário adequados para a realização de audiência pública não são aqueles que convêm aos interesses do membro do Ministério Público. Não é durante o horário de seu trabalho, nem nas proximidades do fórum que deve a Administração Pública obrigatoriamente designar a realização da audiência, mas sim em local e horário que mais convenham à população em geral. Poderá, assim, a audiência pública ser realizada fora do horário de trabalho (após as 19h), ou mesmo em finais de semana, já que não há previsão legal para abono de faltas ao trabalho para participação em audiência pública para exposição de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Indispensável, porém, que haja transporte coletivo tanto para ida como para a volta da audiência, pena de restar frustada a publicidade da audiência.”21 Do exposto acima, observa-se a preocupação em tornar a realização da audiência o mais acessível o possível, devido a isto a preocupação na disponibilidade do horário, transporte e acessibilidade da população. Principalmente acesso facilitado ao teor do texto compreendido pelo Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), o que incumbe ao órgão de Meio Ambiente, a partir do recebimento do Relatório de Impacto Ambiental 21 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. Curso de Direito Ambiental. 5º edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, Página 216. 10 (RIMA), fixar através de edital, que deverá ser anunciado em imprensa local, a abertura do prazo para solicitação da audiência pública, sendo este prazo não inferior a 45 dias. Serão disponibilizados, aos interessados, cópias do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) que estarão a disposição nos centros de documentação ou bibliotecas do órgão federal e do órgão estadual de controle ambiental. Os locais deverão ser claramente indicados no edital da audiência pública como forma de possibilitar que os interessados possam previamente conhecer da matéria a ser debatida bem como a possibilidade de formular seus questionamentos de forma racional e não apressada, podendo o não cumprimento do aqui exposto causar nulidade do procedimento administrativo conforme o artigo 11, caput, 2º parte da resolução 1/86 do Conama. 4 – A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Os estudos destinados ao processo de licenciamento, compreendendo o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), deverão ser realizados por profissionais, independentes do proponente do projeto, legalmente habilitados conforme o aludido texto abaixo: “... o empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais. A hipótese está tipificada no art. 69-A da Lei 9605/98, que comina pena de reclusão, de três a seis anos, e multa, a quem elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal, ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão.”22 Óbvia a razão de serem os profissionais responsáveis pela realização do estudo de maneira alguma vinculados ao empreendedor proponente do projeto, apesar de que o texto legislativo disciplina penas severas àquele que burlar o estudo. Essa pequena passagem pela definição da equipe multidisciplinar e das audiências públicas, se faz necessária para que o leitor compreenda e identifique a quem incumbe a responsabilidade pelos danos ambientais que possam vir a ocorrer, independentes do 22 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. Curso de Direito Ambiental. 5º edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, Página 217. 11 parecer favorável ou não do constante no relatório de impacto ambiental (RIMA) consequente do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA). 5 – DISCUSSÕES ACERCA DO EIA/RIMA Não há de se negar que o legislador constituinte deu um grande passo ao elevar a necessidade do estudo prévio de impacto ambiental (EIA) à condição de norma constitucional, porém, o texto Constitucional é vago, não fornecendo regras específicas para a exigência ou não do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), daí a nebulosidade brevemente referida neste artigo que trará deste ponto em diante críticas severas de doutrinadores que atacam não apenas o texto constitucional como também a própria fundamentação que veio a positivar a exigência do Estudo de impacto Ambiental. “A Constituição Federal, através do aludido dispositivo, passou a admitir a existência de atividades impactantes que não se sujeitam ao EIA/RIMA, porquanto o estudo somente será destinado àquelas atividades ou obras potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. Além disso, a atividade de significativa impactação não foi definida, de forma que se criou um conceito jurídico indeterminado, o que, por evidência, dificulta a tarefa do operador da norma. Vale frisar ainda que a palavra obra também não foi definida, de modo a sugerir que qualquer uma pode estar sujeita à execução do EIA/RIMA. ”23 A ideia de impacto ambiental, como já aludido, implica em qualquer degradação ao meio ambiente o que neste caso poderia ser consequência de uma terraplanagem, de um corte de uma árvore, de uma escavação, se estendendo até aos casos de extração de minérios, porém, como disposto no teor do dispositivo constitucional nem toda atividade que seja fonte de impacto deverá ser precedida do estudo ora analisado, mas apenas as que sejam potencialmente degradantes, devemos no entanto fazer esta leitura não no conceito de atividade ou de obra de forma ampla mas sim no efeito e na impactação que esta atividade poderá causar. Não é de se duvidar que aparentemente a Constituição estabeleceu uma presunção relativa de que toda a atividade é causadora de impacto ambiental, de onde vem a crítica que... 23 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, Página 249. 12 “O estudo de impacto ambiental é uma modalidade de avaliação de impacto ambiental. Antes do advento da Constituição de 1988, é compreensível que estivesse previsto apenas em simples resoluções do Conama. Espantosamente, porém, ainda hoje decorridas mais de duas décadas do advento da nova ordem constitucional, este dispositivo ainda é regulado por referidas resoluções, dando margem com isto a um alto grau de insegurança jurídica.”24 Bem na verdade, o texto constitucional não deve ser tomado de forma isolada, apesar de autônoma, a ciência Ambiental, converge com diversos dispositivos não apenas no âmbito constitucional,mas como também no ramo administrativo e, considerando as sanções, inclusive na esfera penal. Atualmente, como se fundamenta na citação anterior, se tem como parâmetro para o pedido do estudo, o rol exemplificativo contido no texto da Resolução do Conama 1/86 que em seu artigo 2º relaciona os casos25 em que é exigível a realização de estudo de impacto ambiental o que não obsta mais críticas. “No particular, o direito brasileiro vive uma situação curiosa, pois uma norma constitucional foi “regulamentada” por uma mera resolução, ou resoluções, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o que me parece não ser exatamente o determinado pelo Constituinte que usou a expressão “na forma da lei”. Dado que os estudos prévios de impacto ambiental incidem diretamente na esfera de direitos e garantias individuais, seja o direito ao meio ambiente equilibrado, seja o direito ao empreendedorismo 24 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. Curso de Direito Ambiental. 5º edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, Página 81. 25 Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA e1n caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto- Lei nº 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia. 13 empresarial, penso que, no caso, o ideal seria a existência de uma lei definindo diretrizes mínimas para o enquadramento de uma obra ou atividade no conceito de causadora de significativa degradação ambiental, remetendo ao Executivo a implementação de tais diretrizes.”26 O próprio texto da resolução gera conflitos ao se indagar se o rol de obras e atividades constantes na resolução é realmente exemplificativo ou se ele é exaustivo, o que incumbe ao Poder Público definir discricionariamente qual empreendimento causaria ou não um significativo impacto ambiental, mesmo estando este expressamente relacionado no rol da resolução. Não se deve interpretar que estaria a Administração Pública contrariando o ordenamento jurídico ao decidir de forma discricionária, pois a este incumbe a finalidade expressa constitucionalmente no artigo 225, §1º “Para assegurar a efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado...” devendo o mesmo se valer dos princípios da prevenção, do desenvolvimento sustentável e da informação ambiental como um guia para a avaliação deste rol ao caso concreto, pois, fato é o de que todas as atividades humanas são modificadoras do meio ambiente. A esse respeito, afirma GUILLERMO FOLADORI: “Cada forma de vida é um complexo que ordena matéria em seu interior, ao mesmo tempo em que gera desordem no exterior. Nesse processo, modifica o meio abiótico a tal extremo que pode resultar numa crise ambiental para algumas formas de vida. Em seu conjunto, a vida é a contratendência mais espetacular do processo de entropia de mais largo alcance e amplitude. Em seu desenvolvimento, a vida manifestou grandes mudanças ou revoluções, que se expressaram pela sua capacidade de avançar sobre novos espaços, de metabolizar a partir de diferentes fontes energéticas, de associar-se ou competir pela sobrevivência e de desenvolver formas cada vez mais complexas.”27 Retomando o já exposto, no tocante à solicitação do estudo prévio de impacto ambiental, a temática haverá de ser orientada de acordo com as diretrizes fixadas pelos §§ 1º a 4º do artigo 24 da Constituição Federal28, pois, somente quando não existir lei 26 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 15º edição. São Paulo: Editora Atlas, 2013, Página 626. 27 FOLADORI, Guillermo. Limites do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora da Unicamp, 2001, Página 40. 28 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa 14 federal sobre normas gerais é que os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender as suas necessidades. TOSHIO MUKAI, acerca da forma de regramento do dispositivo constitucional no âmbito federativo discorre que... “A referida lei deve ser federal, estadual ou municipal. Cada entidade está obrigada, constitucionalmente, a disciplinar, em lei própria, o estudo prévio de impacto ambiental e a forma de sua publicidade”.29 Portanto, podem, os Estados e Municípios legislaram, dentro daquilo que lhes compete, sobre o Estudo de impacto Ambiental, reiterando que compete à União estabelecer normas gerais sobre a matéria e a superveniência desta lei suspenderá a eficácia da lei Estadual naquilo que lhe for contrário. 6 – OS EFEITOS DO EIA/RIMA Imprescindível se faz algumas considerações sobre os efeitos causados pelo Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) pois ainda que o estudo tenha por escopo realizar um diagnóstico da situação ambiental existente tanto previamente quanto, a depender do caso, no momento de implementação do projeto analisando os possíveis danos ou impactos futuros que este poderá causar ao meio ambiente, não devemos entender o que o estudo prévio tenha um caráter vinculante, ou seja, que imponha, em caso favorável, ao órgão expedidor o dever de conceder a licença. “Deve-se observar que a existência de um EIA/RIMA favorável condiciona a autoridade à outorga da licença ambiental, existindo, dessa feita, o direito de o empreendedor desenvolver sua atividade econômica. Temos nessa hipótese o único caso de uma licença ambiental vinculada. De fato, se a defesa do meio ambiente é limitadorada livre iniciativa (art.170, VI), e inexistem danos àquele, não haverá razão para que o empreendimento não seja desenvolvido. ”30 plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. 29 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. Curso de Direito Ambiental. 5º edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, Página 210. 30 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, Página 239. 15 O justificador dessa possibilidade decorre do próprio texto constitucional no artigo citado31 ao referir o princípio do desenvolvimento sustentável aludindo a um equilíbrio entre a livre concorrência e a proteção do meio do ambiente e neste ponto concordo com o autor, porém, não creio que haja um condicionamento, como descreve o autor, pois este apesar de estar amparado ao encontro do princípio supracitado, desenvolvimento sustentável, viria a estar de encontro com outro de grande importância e regência na própria elaboração do Estudo prévio de impacto ambiental (EIA), o princípio do devido processo legal, que permitiria sim a autoridade indeferir o pedido desde que devidamente fundamentado. Apenas uma pequena imposição textual redigida pelo autor, porém, meu entendimento vai ao encontro do Professor CATALAN que expressa: “Além disso, ratifique-se, apesar de em princípio ser difícil sustentar que o EIA tenha caráter vinculante, ou seja, que imponha aos órgãos públicos responsáveis pela concessão das licenças ambientais o dever de seguir a risca o contido nos estudos científicos preparatórios, certamente não se pode negar que sua inobservância atrairá responsabilidades, tanto a do empreendedor quanto a do Estado, caso a atividade venha a causar danos de qualquer natureza em razão do desrespeito às orientações contidas naquele.”32 O texto não muito difere, porém traz uma suavizada em relação a imposição dada pelo outro autor na “concessão obrigada” da licença, o que me destaca atenção no trecho e a remetência à responsabilidade que quero adentrar neste artigo, mas primeiramente cabe destacar em contrapartida o entendimento de FIORILLO no caso em que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) venha a ser desfavorável. “Por outro lado, se o EIA/RIMA mostra-se desfavorável, totalmente ou em parte, caberá à administração, segundo critérios de conveniência e oportunidade, avaliar a concessão ou não da licença ambiental, porquanto, como já foi realçado, o desenvolvimento sustentável é princípio norteador da preservação do meio ambiente e do desenvolvimento da ordem econômica.”33 31 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: IV - livre concorrência. 32 CATALAN, Marcos. Proteção Constitucional do meio ambiente e seus mecanismos de tutela. São Paulo: Editora Método, 2008, Página 157. 33 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, Página 239. 16 Apesar da evidente discricionariedade já criticada, acerta o autor em fundamenta-la com o princípio do desenvolvimento sustentável amenizando a visão capitalista do desenvolvimento desenfreado e preocupando-se assim com o patrimônio ambiental para as futuras gerações, evidentemente essa licença, assim como já destacado ao tratarmos do devido processo legal, deverá ser devidamente fundamentada atacando cada um dos pontos que se mostrarem divergentes a tutela ao meio ambiente sob pena de ferir, como destacou o próprio autor em sua obra, o preceito contido no artigo 37 da Constituição Federal. A aceitação do estudo prévio de impacto ambiental na concessão de licença infere na responsabilidade objetiva do Estado, pois no caso de um dano, a responsabilidade do Poder Público se dará na medida em que houver um nexo causal entre seu ato e o dano concorrido. Se houver o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e este for favorável à concessão da licença, inexiste a responsabilidade do Estado, porém, se este for desfavorável mesmo que apenas em parte e a licença tiver sido concedida, há a responsabilidade solidária do Estado, caso contrário, se a licença não fosse concedida, aí inexistiria como regra a responsabilidade do Estado, salvo se ficar comprovado que este, o Estado, se quedou inerte ou omisso e por consequência o dano ambiental ocorreu. 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, inegável é, na opinião deste que vos lhe escreve, a importância do referido Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), claro que aqui cabe salientar quanto a nebulosidade do texto constitucional que acarreta uma discricionariedade do poder público, porém, não deverá, na minha visão, este se escusar de uma devida e cuidadosa ponderação ao solicitar ou não o mencionado estudo, pois, lembremos, que, no caso de uma degradação este poderá juntamente com o empreendedor concorrer com a responsabilidade o que não seria o objetivo daquele que está incumbido de guardar, no sentido de proteger, o patrimônio ambiental. Não poderei deixar de mencionar aqui a importância dos princípios, esses que são norteadores não apenas no âmbito ambiental, mas, presentes em todo o nosso ordenamento jurídico como protagonistas nas resoluções de conflitos, por exemplo, como na implantação de um complexo automotivo, por óbvio haverá desmatamento na área de instalação, mas, até onde esta degradação afetará o patrimônio ambiental? 17 Pensando inclusive nas futuras gerações? E até quanto esse mesmo empreendimento contribuirá para a economia do país? Claro que aqui estou mencionando um caso claro onde predominantemente há que se valer do princípio do desenvolvimento sustentável, mas o que venho a concluir neste trabalho é que necessária se faz a proteção ambiental, porém, esta não deverá limitar o progresso e nem este deverá arrasar com o meio ambiente, como num capitalismo desenfreado. Neste cenário de freios e contrapesos, deixo ao leitor a reflexão quanto a importância do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), pois, no tocante a qualquer empreendimento que venha a modificar de alguma forma o meio ambiente, este instrumento, no caso em que se verificar uma real necessidade de solicita-lo, não será apenas uma ferramenta de prevenção, mas será um norte para uma recompensação ou inclusive uma responsabilização, no caso de um futuro e possível dano ambiental. 8 – BIBLIOGRAFIA MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21º edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2013 CATALAN, Marcos. Proteção Constitucional do meio ambiente e seus mecanismos de tutela. São Paulo: Editora Método, 2008 PILATI, Luciana Cardoso, DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental Simplificado. São Paulo: Saraiva, 2011 MILARÉ, Édis, VASCONCELLOS, Antônio Hermann. Estudo Prévio de Impacto Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito Ambiental Brasileiro. 14º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. Curso de Direito Ambiental. 5º edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 15º edição. São Paulo:Editora Atlas, 2013 FOLADORI, Guillermo. Limites do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora da Unicamp, 2001
Compartilhar