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Gritos e Cochichos

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA 
FACULDADE DE PSICOLOGIA 
ANA CAROLINA CRUZ GOMES 
DÉBORA BISON DOMICIANO 
FERNANDO PERRI SATORRES 
GEANINI CAROLINE A. BAPTISTA 
ISADORA ANDRADE DELLA COLLETA DE SOUZA 
 
 
GRITOS E COCHICHOS 
 
 
 
PUC CAMPINAS 
2013
 
 1 
 
 
 
 
ANA CAROLINA CRUZ GOMES 
DÉBORA BISON DOMICIANO 
FERNANDO PERRI SATORRES 
GEANINI CAROLINE A. BAPTISTA 
ISADORA ANDRADE DELLA COLLETA DE SOUZA 
 
GRITOS E COCHICHOS 
 
 
 
PUC CAMPINAS 
2013 
Relatório apresentado à disciplina de História da Psicologia, da 
Faculdade de Psicologia, do Centro de Ciências da Vida, da 
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, como requisito 
parcial para avaliação da disciplina. Responsável pela disciplina: 
Prof. Dirceu Antonio Scali Junior. 
 
 2 
1. INTRODUÇÃO 
 História da vida privada traz um panorama do século XIX, que aborda o 
avanço acelerado da industrialização, a mobilização dos trabalhadores, a 
redefinição dos papéis sociais de mulheres e crianças, e outras transformações 
profundas desencadeadas pela Revolução Francesa. 
 No início do século XIX, é dentro do espaço privado que o indivíduo se 
prepara para afrontar o olhar dos outros; ali configura a apresentação em 
função das imagens sociais do corpo. É imposto nessa época, a elaboração de 
uma estratégia de aparência, um sistema de comunhões e ritos que visam 
somente a esfera privada. 
Ressaltando que nesse relatório foi abordado o livro História da Vida 
Privada. Da Revolução Francesa á Primeira Guerra. São Paulo: Cia das Letras, 
1991, pp. 563-611. Páginas que contém os seguintes tópicos: 1- A DROGA 
DOS CAMPOS. 2- O AFLORAR DE UMA NOVA ESPÉCIE. 3 O ESTIGMA 
SOCIAL. 4- A LESBICA, SINTOMA DO HOMEM. 5- AUMENTO DOS 
SUICÍDIOS. 6- ELES SE ENFORCAM, ELAS SE AFOGAM. 7- AS MULHERES 
E O MÉDICO. 8- O MÉDICO COM OS POBRES. 9- AS FALSAS 
APARÊNCIAS DA TRADIÇÃO. 10- HIGIENE FAMILIAR E CONTÁGIO. 11- O 
NECESSÁRIO AJUSTE DO MICRÓBIO. 12- O ALIENISTA E A VIDA 
PRIVADA. 13- A NOVA DEMANDA “PSI”. 14-GESTOS TRADICIONAIS E 
MODELAEM DO CORPO. 14- CORRIGIR AS POSTURAS E ENCURRALAR A 
INDOLÊNCIA. 15- RUMO AO DESABROCHAR DO CORPO LIBERADO. 
Serão apresentadas análises da vida cotidiana, mostradas de forma que 
se possa compreender melhor as transformações da sociedade européia, a 
partir da revolução francesa. 
 
2. DESDOBRAMENTOS 
 
 
2.1 A droga dos campos 
 3 
A Revolução Industrial na passagem do capitalismo comercial para o 
industrial assinalou a transição da Idade Moderna para a Idade 
Contemporânea. Com as modificações estruturais por ela provocadas na 
sociedade, o relacionamento das pessoas com o álcool passou por mudanças 
profundas. 
A partir da revolução industrial inglesa alguns fatores contribuíram para 
mudança desta situação. Em primeiro lugar passou-se a produzir álcool não 
mais de forma artesanal, mas industrialmente em grandes quantidades. Além 
disto, modificou-se também o tipo de bebida produzida, pois criou-se tecnologia 
para produzir, por exemplo, destilados na forma de gin, com um conteúdo 
alcoólico muito maior. Em segundo lugar o preço do álcool diminuiu bastante, 
pois foi possível produzi-lo em grandes quantidades e, portanto o acesso das 
pessoas a ele ampliou bastante. O terceiro fator que também contribuiu foi que 
as pessoas passaram a viver mais em grandes concentrações urbanas o que 
mudou consideravelmente o perfil das relações sociais (LARANJEIRA 
RONALDO). 
 Portanto esses fatores mudaram muito o caráter do uso do álcool pela 
sociedade. O álcool deixou de ser uma bebida que era consumida com a 
comida e que por muitos séculos era a fonte de água menos contaminada 
possível de se beber e passou a ser uma bebida forte que podia ser consumida 
a preços muito baratos e buscando essencialmente a intoxicação. Todas essas 
mudanças permitiram que um número muito maior de pessoas passassem a 
consumir álcool constantemente e a partir daí os médicos começaram a 
observar uma série de complicações físicas e mentais decorrentes desse 
consumo excessivo, inclusive as primeiras descrições daquilo que hoje nós 
chamamos de alcoolismo. 
 Mas esse fenômeno social em torno do álcool não ocorreu de modo 
uniforme em todos os locais, a conquista das zonas rurais foi mais tardia. 
Fazendo um problema ser apresentado: a presença do álcool na vida privada. 
 O isolamento do individuo rural, a voz que mal se escuta nas profundezas 
do campo. A embriaguez que atiça as discórdias domésticas exacerba os 
 4 
ciúmes do marido enganado, estimula a violência nascida de uma simples 
suspeita, provoca a brutalidade do esposo e a recriminação da mulher por ter 
sido agredida. 
Hoje sabemos que o consumo de bebidas alcoólicas depende de uma 
complexa interação de fatores biológicos, culturais e ambientais, e que em 
resumo, geralmente, não é somente a dependência um fator preocupante. 
Os bebedores, por exemplo, com problemas constituem um subgrupo de 
usuários de álcool que não têm a doença alcoolismo, porém devem ser objeto 
de preocupação das autoridades de saúde, visto que são causadores de 
agressões físicas e de acidentes de trânsito e de trabalho, além de 
apresentarem uma série de problemas de saúde (JR. M. SEBASTIÃO). 
 
2.2 O aflorar de uma nova espécie 
O século XIX vinculou o homossexualismo à patologia. Pois se 
considerava a pederastia algo contrário às leis da natureza. O termo 
“homossexualismo” esteve vinculado à perversão, não somente física, mas 
também moral. Que então se encontrava vinculado a preconceitos de toda 
ordem: socioculturais, jurídico e psiquiátrico. 
A questão sociocultural é latente, o sistema jurídico, por achar que o 
homossexualismo caracteriza o antijurídico e o sistema psiquiátrico por 
classificá-lo como uma doença mental. 
Ao longo da história, os aspectos individuais da homossexualidade foram 
condenados, de acordo com as normas sexuais vigentes na cultura da época. 
Esses aspectos eram considerados pecado ou algum tipo de doença, sendo 
alguns casos, proibidos por lei. 
Do final do século XVIII, um olhar preconceituoso crescia ao emergir uma 
nova espécie. Um tipo humano despertava curiosidade e aversão. Acreditava 
que estes vinham da libertinagem, perversão ou eram produtos de uma 
determinação biológica. Foucault definiu a irregularidade sexual à doença 
 5 
mental; da infância à velhice foi definida uma norma do desenvolvimento sexual 
e foram cuidadosamente caracterizados todos os desvios possíveis; foram 
organizados controles pedagógicos e tratamentos médicos, em torno das 
mínimas fantasias (MAGNAVITA D. A.). 
O século XIX atribui ao homossexual todas as infâmias, até a morfologia 
da palavra pederasta, do grego, paiderastês - aquele que ama meninos virou 
causa das injúrias. 
 Ambroise Tardieu é um bom exemplo de um homem de ciência que 
cumpriu seu papel no quadro de formação do saber médico-legal. Seu objetivo 
era o de oferecer aos médicos e juristas não uma explicação das causas da 
pederastia, mas de apontar um caminho sólido em direção a definição das 
marcas físicas da inversão. Assim, os pederastas poderiam ser reconhecidos 
pelos homens de ciência e de lei (MACHADO. N. C. D. L.). 
Tardieu se propôs a definir a pederastia, deu uma noção geral sobre as 
condições nas quais este vício se exercia e finalmente traçar com a maior 
exatidão possível os seus sinais físicos ( MACHADO. N. C. D. L.). 
O “vício” acabou por contaminar a vida dos artistas e da burguesia. Então 
no último terço do século a proto-sexologia que se desenvolvia, definiu o 
sodomita em uma comum marca da patologia,vítimas da loucura moral ou da 
neuroge genital (que se dá durante a adolescência. Nessa fase as pulsões 
sexuais, depois da longa fase de latência e acompanhando as mudanças 
corporais, despertam-se novamente, mas desta vez se dirigem a uma pessoa 
do sexo oposto. Além disso, continuam agindo durante toda a vida do 
indivíduo). 
Então o homossexual vira um história individual. O desenvolvimento de 
sua infância e até sua vida intra-uterina contribui para justificar seu destino. 
Torna-se além de pecador, um doente. É imposta sobre ele a cura, com 
hipnose, castidade ou uso de prostitutas. 
2.3 O Estigma Social 
 6 
Os documentos mais antigos do Ocidente sobre as relações de mesmo 
sexo são derivados da Grécia antiga. A pederastia na Grécia Antiga era 
largamente utilizada como meio pedagógico; sabe-se que Platão, em seus 
primeiros escritos, elogiou os seus benefícios. 
Já foi exemplificado a repressão que atingiu os homossexuais no século 
XVIII. Então surgiram as leis. 
Em 1810 o código penal ignora a especificidade do delito de pederastia. E 
a lei de 28 de abril de 1832 que institui o crime da pedofilia, contra menor de 11 
anos. Só em 13 de março de 1863 a idade vai para menor de 16 anos. Entre 
1850 e 1880 a repressão é igual às das mulheres da vida. 
Foi se instituindo um modelo de vida privada para o homossexual. 
Reprimido, mantido as escuras, escondido. Criando assim um estigma para os 
antifísicos na sociedade. Muitos não suportam não poderem assumir seu 
desejo por homens, e enlouquecera. 
O final do século XIX vai aproximando o homossexual da sociedade. Que 
vão abandonando a clandestinidade, começam então a quererem ser vistos 
como normais. 
 
2.4 A lesbica, sintoma do homem. 
É impossível determinar o momento na História em que surgiu a primeira 
relação lésbica. O homossexualismo feminino era realizado nos bordeis e 
prisões e instigava a imaginação dos homens da época. 
Os médicos do final século XVIII identificaram o homossexualismo 
feminino como uma pratica mundana, eles se intrigam com este prazer 
feminino onde nenhum homem é capaz de satisfazer. Porém identificam que 
uma das parceiras assume o papel masculino. Dizia-se que os clitóris das 
lésbicas eram enormes e suas vulvas deformadas. 
 7 
O termo “lésbica”, passa a ser usado no século XIX, descrita como uma 
doce figura cheia de finura e limpeza, cujo simples nome é uma carícia para a 
língua. 
A policia vigiava as mulheres para não se vestirem como homens e 
exigiam que estas solicitassem uma autorização para assim o fazer como 
1Rosa Bonheur. Porem as vestimentas não provavam o lesbianismo e nenhum 
sintoma clinico diferenciavam as mesmas das heterossexuais. 
A imagem da perversão sexual feminina permanecia duvidosa para os 
homens, eles oscilavam entre a atração pela fartura feminina, ao temor do 
prazer manifestado sem a presença do homem. 
No texto “Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre 
os sexos” (1923 [1976], p. 273-288 passim), Freud observa que a menina tem 
um problema a mais que o menino na passagem pelo 2Édipo, pois em ambos 
os casos a mãe é o objeto riginal. Isso quer dizer que a primeira relação de 
prazer de uma menina é homossexual. (Mariano, L.R.P.G.; 2008) 
 
2.5 Aumento dos suicídios. 
O suicídio vem de um grito desesperado de sofrimento do individuo pela 
falta de comunicação. É um fenômeno humano complexo, universal e 
representa um grande problema de saúde pública em todo o mundo. A morte 
por suicídio ocupa a terceira posição entre as causas mais frequentes de óbito 
 
1 Pintora considerada a mulher mais famosa artista de sua época ia visitar matadouros e 
desempenho dissecção para estudar anatomia animal, preparando esboços e estudos 
detalhados para ela pinturas e esculturas. Hoje, ela é talvez famosa por causa de suas roupas 
masculinas sendo vista como uma feminista precoce, ela dizia na altura que esta prática era 
simplesmente, uma vez que o seu trabalho facilitado com animais. (CATÁLOGO DAS ARTES.; 
2008) 
2 Segundo Sigmund Freud, o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período 
sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a 
sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. É um conceito 
fundamental para a psicanálise, entendido por esta como sendo universal e, portanto, 
característico de todos os seres humanos. (WIKIPÉDIA.; 2013) 
 8 
de pessoas de ambos os sexos com idades entre 15 e 34 anos. O grupo de 
maior risco é o idoso do sexo masculino, mas os índices de suicídio têm 
aumentado entre pessoas jovens. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, 
L.A.; 2013) 
Desde o século XVIII o suicídio vinha sendo estudado como um problema 
moral, para o século XIX. Era visto como um "crescente problema social a 
exigir explicação", nas palavras de Lukes (1977), que retoma as análises feitas 
por Douglas (1970). Segundo este autor, o estudo estatístico do suicídio foi 
entendido pelos pesquisadores e teóricos como um estudo da moralidade, 
incluindo-o na categoria geral das estatísticas morais, junto com outros eventos 
como assassinato e outros crimes. "Assumia-se", segundo Douglas (1970:8), 
"que o suicídio era um problema moral e implicitamente que qualquer teoria 
sobre o suicídio deveria incluir os aspectos morais do suicídio como um dos 
fatores básicos". O acúmulo de informações estatísticas proporcionou, de outro 
lado, que se estabelecessem inúmeras correlações, juntamente com o 
levantamento de hipóteses. Estas irão relacionar taxas diferenciais de suicídio 
a fatores sociais, tais como: ocupação, urbanização, religião, mudança social, 
como também a fatores não sociais: hereditariedade, raça, clima e a questão 
não resolvida se o suicídio era ou não relacionado à desordem mental. No 
mais, nas palavras de Lukes (1977:192): "Havia também uma concordância 
geral que aceitava que a escalada das taxas globais de suicídios eram devidas 
à passagem da ordem tradicional a uma nova ordem e ao crescimento do 
industrialismo". (NUNES, E.D.; 1998) 
Durante o século XIX os suicídios aumentam em toda a Europa e França, 
fascinando médicos e sociólogos de primeiro escalão da época que se 
empenham em entender o fenômeno. As famílias parisienses visitam 
rotineiramente os necrotérios suicidas para se saciarem com os corpos nas 
mesas de mármore. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um incremento 
de 60% entre as mortes por suicídio nas últimas cinco décadas. A taxa mundial 
de suicídio situa-se em torno de 16 por 100 mil habitantes, e estima-se que 
cerca de um milhão de pessoas se suicidaram no ano 2000, o que 
 9 
representaria uma morte a cada quarenta segundos. A projeção para o ano de 
2020 é que mais de um milhão e meio de pessoas cometam suicídio e que o 
número de tentativas seja até vinte vezes maiores que o número de mortes. 
(VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) 
Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais 
tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a 
cada ano poderia ser prevista e evitada. (GALVÃO, A.L.; ABUCHAIM, 
C.M.;2010) 
 
 
Gráfico 1. Comparação das taxas de suicídio nos estados brasileiros, 
entre homens e mulheres e no mundo. (BIDERMAN, I.; 2013) 
 10 
O gráfico 1. Quando comparada com as taxas de suicídio de diferentes 
países, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil é uma das mais baixas. Em 
números absolutos, porém, o Brasil está entre os dez países com o maior 
número de mortes por essa causa. 
Durkheim (2003) descreveuvários tipos de suicídio, tendo em conta que, 
para haver tipos de suicídio diferentes, teriam também que existir causas 
diferentes. Assim, o autor classifica os suicídios de acordo com as causas 
sociais, tornando-se desta forma "[...] tipos sociais do suicídio [...]". Entre 
esses, estão o suicídio altruísta, quando o indivíduo encontra-se 
demasiadamente integrado na sociedade, levado por lealdade a uma causa. 
(GONÇALVES, L.R.G.; GONÇALVES, E.; JÚNIOR, L.B.O.; 2011) 
A falta de desejo de viver acompanhada do crescimento da insegurança é 
o que o individuo desencantado da vida sente, acontece quando o nível de 
integração social é baixo, levado pelo isolamento e depressão levando-o ao 
“Suicídio Egoísta” definido por 3Durkheim em 1897. 
O desencadear dos desejos (surgimento de homossexualismo) que está 
relacionado a paixões propriamente individuais, e o crescimento excessivo das 
diferenças sociais, aumenta cada vez mais as decepções do individuo sendo 
cada vez mais intensa dando origem ao “Suicídio Anônimo”. 
As estatísticas da época apontam o isolamento individual de toda 
sociedade cultural, dos indivíduos suicidas. No século XIX aparece também 
com destaque o predomínio de suicidas solteiros, viúvos e divorciados tendo 
em contrapartida o casamento, ou ao menos a presença de filhos que protege 
contra a tentação de autodestruir-se. A séculos á debates que o suicídio é 
derivado antes de mais nada de fatores individuais, de ordem psíquica ou 
genética. 
 
3 Émile Durkheim é considerado um dos pais da Sociologia tendo sido o fundador da escola 
francesa, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. 
(WIKIPÉDIA.; 2013) 
 11 
As causas alegadas pelas próprias vitimas e pelas testemunhas não são 
nada convincentes. As famílias ou as autoridades tendem a amenizar os fatos, 
manipulam os testemunhos, escondem fontes. 
Na hierarquia dos motivos aos quais se atribui a morte aos indivíduos que 
se suicidam entre 1860 e 1865 depois da considerada “Enfermidade Mental” as 
causas denominadas “amor, ciúmes, mau comportamento” antecedem a 
miséria e os problemas familiares. 
 
2.6 Eles se enforcam, elas se afogam. 
No Século XIX o predomínio do suicídio masculino é evidente a França, 
na época os homens se que se matam é de três a quatro vezes a mais que as 
mulheres. 4Quételet observou que a autodestruição e a vulnerabilidade 
crescem com a idade, já a divisão social gera controvérsias. 
Os intelectuais, profissionais liberais, os quadros do exército colonial se 
matam com mais facilidade que os demais indivíduos, assim pode-se associar 
o fato de que estes indivíduos tem maiores chances de suicídio conforme o 
aumento intelectual, cultural e o grau de consciência individual. 
No final do século os domésticos a partir do momento que tomam 
consciência do seu estado de servidão, os desempregados e os presos 
aparecem com igual nitidez ao predomínio da tendência suicida. 
Na Paris da Monarquia de Julho, os “miseráveis” suicidam-se em legião, 
como se fossem incapazes de superar as novas condições de vida impostas 
pela cidade grande. Por outro lado contrapondo os dias atuais à taxa de 
mortalidade por suicídio é extremamente baixa entre os agricultores do século 
XXI. 
 
4 Lambert Adolphe Jacques Quételet foi um matemático, astrônomo, estatístico e sociólogo 
belga, precursor do estudo da demografia e criador do índice de massa corporal. (WIKIPÉDIA.; 
2013) 
 
 12 
Mais da metade dos suicidas masculinos se enforcam, um quarto escolhe 
o afogamento, de 15% a 20% preferem dar um tiro na cabeça ou no peito, 
solução nobre preferencialmente das elites. 
A metade dos suicidas femininos escolhe o afogamento, de 20% a 30%, 
conforme a época, o enforcamento e com o tempo cresce a opção/recurso a 
asfixia e ao envenenamento. 
Os suicídios do século XIX ocorrem mais pela manhã ou à tarde, 
raramente à noite, seu número diminui de sexta a domingo, aumenta de janeiro 
e Julho e diminui de Julho a Dezembro. 
Em suma parece que o prolongamento do dia, a presença do sol, o 
espetáculo da vida desperta mais o suicídio que a angustia da noite ou o friu do 
inverno. 
Hoje dentre os 807 indivíduos que tentaram o suicídio ocorreram 52 
(6,4%) óbitos, sendo 58% de homens. A idade mediana foi de 38 anos e 59,7% 
dos óbitos ocorreram na faixa dos 30 aos 49 anos, com o predomínio de 
indivíduos de cor branca, casados, com escolaridade menor que 8 anos e 
aqueles que trabalhavam em ocupações de baixa qualificação. (VIDAL, C.E.L.; 
GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) 
No grupo que faleceu, a maioria (64,1%) havia tentado suicídio por 
ingestão de medicamentos. Não houve associação significativa entre óbito e 
número de tentativas prévias. Doze indivíduos (23%) morreram por suicídio, 
dez (19%) por causas externas e trinta (58%) por outras causas. Entre as 
mortes por suicídio, seis (50%) foram consequentes à ingestão de 
medicamentos, quatro (33%) por enforcamento e duas (17%) por exposição à 
fumaça ou fogo. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) 
Noventa por cento das mortes por suicídio ocorreram no período de 24 
meses depois da tentativa. Verificou-se significativo aumento do risco de 
morrer entre os homens, nas pessoas casadas e naqueles com idade maior 
que 60 anos. O perfil revela o predomínio de indivíduos de cor branca, 
ocupação doméstica, solteiros, jovens na faixa etária dos 20 aos 29 anos e 
 13 
com escolaridade inferior a oito anos de estudos. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, 
E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) 
 
2.7 As mulheres e o médico. 
Desde o início do século XIX, a visão humanística da medicina começou a 
dominar diversas gerações de médicos em todo o mundo. Durante essa época 
forjou-se a imagem romântica do médico sábio, conhecedor dos avanços 
científicos no campo da clínica, da patologia, da farmacologia, mas também 
amante da literatura, da filosofia, da história. Homem culto, o médico romântico 
aliava seus conhecimentos científicos com os humanísticos e utilizava a ambos 
na formulação dos seus diagnósticos e prognósticos. Conhecedor da alma 
humana e da cultura em que se inseria, a presença médica se acentua no seio 
da aristocracia e da burguesia. Como andava muito próximo de seus pacientes, 
o médico se tornava quase um íntimo – como médico de família que era – este 
respeitável doutor sabia que curar não era uma ação meramente técnica, mas 
fundamentalmente humano-científica; um trabalho que envolvia elementos de 
caráter cultural e psicológico. 
Por outro lado, essa inserção do médico em seu meio sociocultural, fazia 
com que seu papel não se restringisse ao de simplesmente curar ou não as 
enfermidades. Ele era também aquele que, sabia acompanhar o enfermo e 
seus familiares, ajudando-os no sofrimento, na preparação para a morte, além 
de intervir como orientador nos assuntos mais diversos, tais como o despertar 
da sexualidade nos adolescentes, os problemas de relacionamento do casal e 
inúmeras outras questões da vida familiar. 
Eles dispõem das mulheres como aliadas. Todo médico deve agradar 
essas damas, pois são elas que fazem suas reputações e gerenciam as coisas 
da saúde. Pouco a pouco o doutor faz da mulher sua mensageira. Ele, o 
médico do final do século XIX, reunia na mesma imagem o cientista, o homem 
culto e de princípios e o protetor da mulher. Cresce a convicção de que o 
médico conhece a mulher, não só sua anatomia e fisiologia, mas também sua 
 14 
alma, principalmente quando atormentada pelas dúvidas da vida e pelos 
receios que tinha.2.8 O médico com os pobres. 
Na vida privada das famílias pobres o aparecimento do médico mostra 
feição bem distinta. A intervenção médica é pontual, descontínua. Essa 
medicina desenvolve-se em um ambiente de caridade. Suas visitas são quase 
gratuitas. 
A clientela rural, do século XIX, não procurava explicação fisiológica para 
o mal. O camponês crê na medicina que reina entre as ordens cósmicas, 
vegetal e animal. Assim como a população operária, quando se tinha uma 
ameaça de doenças, eles tratavam de poupar suas forças, de estabelecer um 
repouso. 
 
2.9 As falsas aparências da tradição. 
Durante a primeira metade do século XIX, assim como hoje em dia, muitos 
enfermos procuravam ajuda de terapeutas não oficializados, que se baseavam 
em conhecimentos adquiridos de outros mais velhos ou por experiência 
própria. Outros tantos doentes se automedicavam ou buscavam conselhos com 
parentes e vizinhos. O comportamento tradicional diante da doença funcionava 
uma medicina popular, feita de receitas mágicas e prática ancestral. O recurso 
aos feiticeiros e “benzedores”, as romarias até os “bons santos” e as “boas 
fontes” perduram ao longo de todo o século. Os curandeiros conhecem a arte 
de restabelecer os corpos, às vezes por meio de práticas cruéis e dramáticas. 
Entretanto, estes procedimentos não estão distantes da terapêutica 
acadêmica. Opera-se uma permanente circulação entre os diversos níveis de 
cultura. O médico não se recusa a tomar de empréstimo outros saberes. 
 15 
Uma complexa rede medicinal paralela funciona no interior das classes 
dominantes. O padre e as religiosas-professoras distribuem remédios, dão 
conselhos. Uma farmácia funciona nos castelos, que é utilizada pelas 
aristocratas. São elas que curam os pobres do lugar. As mães de boa família 
não hesitam em recorrer aos velhos remédios das avós. Usa-se uma medicina 
domestica. 
O mesmo século XIX, que assistiu a consagração da moderna medicina 
humanística em sua versão romântica, marcou também o início da sua crise. 
Principalmente a partir da segunda metade desse século, as importantes 
descobertas em campos como o da microbiologia, desencadearam uma 
verdadeira revolução no terreno da patologia, gerando profundas 
transformações na ciência médica como um todo. 
O desenvolvimento das análises laboratoriais e outros métodos clínicos 
incrementaram consideravelmente a formulação dos diagnósticos, assim como 
o aparecimento de medicamentos como a penicilina, começaram a propiciar 
aos médicos uma eficácia na cura e um domínio sobre as doenças sem 
precedentes na história. Assistia-se a um verdadeiro “milagre” e, ao se iniciar o 
século XX, tudo dava a entender que a medicina estava prestes a atingir a sua 
idade de ouro, o seu estágio de “ciência exata”. 
Comparando com os dias atuais, século XXI, a medicina avançou 
bastante. Não existe mais uma relação íntima com as famílias, o médico já não 
dispõe de tempo e também não permanece horas nas casas dos pacientes. O 
clínico hoje é responsável apenas pela saúde dos clientes, quem se encarrega 
de ouvir os segredos da família, resolver os problemas pessoais e da mente é 
o Psicólogo. 
A relação do médico com os pobres, em tese, é a mesma com os ricos. 
Mas na pratica já não é bem assim. O pobre ainda tem desvantagens em 
consultas, leitos e tratamento. Mesmo agora ele tendo um atendimento pelo 
SUS (Sistema Único de Saúde) continua sendo uma intervenção médica 
pontual, descontínua. 
 
 16 
2.10 Higiene familiar e contágio 
1880: Surge a HIGIENE FAMILIAR, que é um projeto de higiene mais 
definido e refinado, para as famílias burguesas. Esta abrange: higiene corporal 
e higiene alimentar. Tudo é regulamentado, desde exercícios corporais até 
paixões e devaneios. Tudo com o objetivo de controlar os excessos. 
Crescimento exacerbado das civilizações, incluindo na área industrial, leva a 
patologia urbana. 
Médicos tentam desviar a atenção do foco principal, que se trata de 
criação de técnicas de isolamento, visando esconder casos de 
TUBERCULOSE e ALIENADOS. O fato de que a doença funcionava por 
contágio, era ignorado pelas pessoas. Os figurões se negavam a assumir esse 
risco como algo real, por medo de que os enfermos fossem abandonados por 
suas famílias. A medicina se reafirma com as curas dos doentes, que é 
razoavelmente fácil, já que depende apenas da higiene pessoal. Inclusive os 
médicos passam a se cuidar melhor, por consequência. 
 
2.11 O necessário ajuste do micróbio 
Cidade e áreas rurais tinham tratamentos diferentes: na cidade, o médico 
evitava infecções nos pobres causadas pela superpopulação na tentativa de 
deter epidemias; no campo, o médico tentava orientar na questão do 
saneamento das famílias camponesas. Teorias sobre a doença fizeram com 
que ocorresse uma ação sanitária e social que implica novas táticas de 
vizinhança sobre as famílias. 
A necessidade de cuidados e atitudes dramáticas a serem tomadas fez 
com que o limite entre os pobres e ricos se tornasse, de pouco em pouco, 
obsoleto. Enfermeiras e Assistentes sociais começam a aparecer, somente 
moças da alta burguesia. A luta contra a tuberculose faz com que as escolas 
passem a formar novo pessoal como ajuda. Esse surgimento de novos papéis 
confirma, por fim, o sucesso dos médicos na sociedade. 
 
 17 
2.12 O alienista e a vida privada 
1800 - 1914: Ocorre uma estimulação na área da medicina da alma, por 
que, na época, surge uma diferente crise relacionada com problemas 
psicológicos. Com isso, convicções, como a de que existe um vínculo forte 
entre o físico e o moral do homem, começaram a aparecer. Uma perturbação 
mental se acentua nas famílias. 
Isso leva tais famílias ao desespero, pois um parente com doença mental 
poderia arruinar suas reputações e afins. Quando se tratava de uma criança 
doente, eles simplesmente as escondiam por toda a vida, confinando-as. O 
desespero maior era quando se tratava de um adulto. O adulto alienado é 
totalmente afastado de sua família, sobretudo quando se tratava de uma 
mulher, pois era vista como menos útil que um homem doente. Surge então 
uma lei que facilita a internação desses parentes, dependendo somente de um 
certificado. 
 Quando finalmente se livram do alienado, se esquecem totalmente do 
mesmo, abandonando-o. A diferença de tratamento entre alienados de famílias 
ricas e os de família pobres torna-se transparente. Os vindos de famílias ricas 
possuíam maiores benefícios e mais cuidados. O tratamento destes se 
mostrava mais efetivo do que os de famílias pobres. Asilos particulares 
possuíam maior eficácia relacionados aos públicos. 
 
2.13 A nova demanda “PSI” 
A necessidade dos pacientes de serem ouvidos, reflete a experiência da 
crise das suas subjetividades privatizadas. Os homens do século XIX ficam 
perplexos ao perceberem que não tão livres e tão singulares quanto 
imaginavam. A psicologia científica encontra solo fértil quando esses homens 
começam a pensar acerca das causas e do significado de tudo que fazem, 
sentem e pensam sobre eles mesmos. Surge, para o Estado, a necessidade de 
disciplinar esse homem para colocá-lo a serviço da ordem social. A psicologia 
aplicada na educação e no trabalho, principalmente, surgiu dessa demanda 
governamental, para previsão e controle. 
 18 
No final do século XIX, a figura do psicólogo surge como mais um recurso 
no tratamento dos sofrimentos íntimos engendrados pelo progresso da 
individualização. Os profissionais, até então, não se preocupavam, e nem 
tinham o interesse, em escutar seus pacientes. Sejam aqueles que seguiam os 
procedimentos de Charcot, hipnotizavam seus pacientes e usavam dasugestão para afastar algum comportamento indesejável, sejam os clínicos 
gerais que seguiam Pasteur - empolgados no combate de doenças 
contagiosas-, sejam os neurologistas com prestígio em alta pelas suas 
descobertas, nenhum deles se preocupava em ouvir seus pacientes. Daí a 
demanda de um profissional especializado nessa área, o psicólogo clínico. 
Nessa época a psicologia seguia por duas direções: 
a) A psicologia experimental, que preocupava-se com o construto 
inteligência e, na figura de Alfred Binet, desenvolve os primeiros testes para 
avaliar as diferenças individuas. Os processos de mensuração da inteligência 
irão interferir na vida pessoal de muitas crianças devido a instauração da 
escolaridade obrigatória. 
b) Análise psicológica de Pierre Janet que era um método baseado 
no exame cara a cara, na anotação precisa das palavras pronunciadas. Esse 
processo de investigação buscava vestígios de um inconsciente não totalmente 
separado do consciente. A análise psicológica impõe um novo ideal 
terapêutico; abandona procedimentos autoritários, rejeita a hipnose, substitui o 
hospital pelo silêncio do consultório privado. 
O progresso da individualização, no entanto, pode ser verificado nas 
expressões artísticas. A música também testemunha o aprofundamento da 
experiência subjetiva privatizada. Pela análise das obras, podemos identificar 
com muita segurança seu autor e mesmo especular com alguma base sobre 
quem e como ele era. A música, originada do canto popular, sempre se 
retemperando na fonte popular, fora gradativamente se aristocratizando, se 
divorciando do espírito do povo. Chegara assim a se transformar em 
manifestação orgulhosamente aristocrática, com a música pura, dos clássicos. 
Após a revolução francesa, a música se voltou para o espírito popular, batizada 
com a palavra Romantismo. 
 19 
 
2.14 A música sagrada - Canto gregoriano – Medievalismo 
 
Experiência de sentimento de comunhão, sentimento de ser parte de uma 
ordem superior que ampara e constrange. Representa a essência ideal e mais 
íntima da religião católica, ele provoca insensivelmente o estado de 
religiosidade. 
 “E como cada indivíduo, antes de sentir como indivíduo, sente como 
homem duma fase histórica e duma raça, a expressão musical dos artistas 
principiou definindo caracteres coletivos, que não eram mais universais, mas 
raciais e nacionais.” (Mário de Andrade). 
 
2.15 A polifonia protestante - Bach (1685-1750) – Barroco 
Bach resume em si todos os compositores de sua época. Considerado a 
síntese de seis séculos musicais. Sua música não se prende ao classicismo, 
pois é essencialmente religiosa, com emprego escessivo de ornamentos. A 
polifonia protestante encontra sua forma perfeita com a ‘Fuga’ tonal (tema é 
iniciado em diversas vozes -fuga de si mesmo?) que se fundamenta na técnica 
de imitação. Eminentemente popularesca, com linguagem vulgar (por isso 
repudiada pela Igreja Católica) a canção alemã é propensa à religiosidade 
mística. O pensamento barroco reage à idéia renascentista de que o homem 
pode atingir a verdade absoluta e indubitável. Esse tipo de conhecimento só 
pode ser conseguido pelo método, seja racional (Descartes) seja empírico 
(Bacon). Assim, modos de controle vão surgindo junto com a individualidade, 
novos dogmas para as ações humanas no âmbito das experiências subjetivas. 
“Os gênios são homens que nem nós mesmos. A diferença é que vão 
sempre além daquilo que pretendem fazer. Cumprem um destino de homem, 
ao passo que nós cumprimos o destino da humanidade.” (Mário de Andrade) 
 
 20 
2.16 A música aristocratizada - Mozart (1756-1791) – Classicismo 
Mozart é um protótipo da musicalidade humana. O sec XVIII apresenta o 
mais refinado dos períodos musicais, sua música procurava reforçar a 
expressão dos estados de alma de modo decorativo, por um senso arquitetural 
da forma. A música setecentista não tem carácter popular. 
A sinfonia despontou como forma musical, e o concerto foi desenvolvido até se 
tornar um veículo para demonstrações de virtuosismo técnico dos 
instrumentistas. A música é caracterizada pela claridade, simetria e equilíbrio, 
seu período coincidiu com o Iluminismo, que enfatizava a razão e a lógica. A 
crença nesse período é que todos os homens são iguais, mas têm interesses 
próprios e cada um pode alcançar o conhecimento (virtuosismo) pelo método 
racional. 
 
2.17 A música psicologizada – Beethoven (1770-1827) - 
Romantismo 
Um gênio ao acaso da arte, tinha preocupações intelectuais, de ordem 
literária e filosófica além da música. Manifesta o romantismo na sua forma mais 
pura, juntamente com Berlioz, Chopin, Schumann, Liszt e Richard Wagner. A 
música como “a arte de exprimir os sentimentos por meio de sons”. O 
romantismo queria dignificar e elevar o povo, e nesse reforçamento está a 
deformação que caracteriza o movimento. Evidencia-se as potências dos 
impulsos das forças da natureza. Na música, os compositores confiavam seus 
ideais, sentimentos, paixões, suas impressões de leitura ou viagem, etc. 
Sistematizou-se os processos construtivos e interpretativos de intenção 
expressiva sentimental. O que preocupa os românticos é o cume da comoção e 
o cultivo à dor, a expressão mais intensa e vigorosa de sua emoção, 
frequentemente revelando seus pensamentos e sentimentos mais profundos, 
inclusive suas dores. A música aparece violenta, expressiva e cheia de formas 
livres. Não havia regra que o artista não pudesse contrariar em benefício da 
expressão. O objeto da música não é a beleza formal mas a verdade da 
expressão. Dá-se grande valor à individualidade e à intimidade. Richard 
 21 
Wagner (1813-1883) cria o drama lírico, um dos fenômenos mais 
extraordinários da história musical, tão admiravelmente lógica pela fusão teatral 
de poesia, música, dança, pintura, concebendo a música como fusão de todas 
as artes. Busca-se a liberdade de ser diferente. 
 
2.18 A música no sec. XX – Debussy (1862-1918) - Impressionismo 
O homem percebe a liberdade (exaltada no classicismo) e as diferenças (exaltadas 
no romantismo) como ilusões, pois há disciplinas disfarçadas em todas as esferas da 
vida. Pensando sobre si mesmo, o homem percebe que sua liberdade é muito limitada e, 
no crescimento das indústrias e do trabalho em série, não vê tanta singularidade entre 
seus semelhantes quanto imaginavam os românticos. Esse período retrata as condições 
que permitiram a elaboração dos projetos de psicologia como ciência. As músicas de 
Debussy expressam a crise pela qual o homem passa. O que havia experimentado 
como liberdade, igualdade, fraternidade, é agora contestado e assumido como ilusão. 
Prélude à l'Après-midi d'un faune de Debussy marca o estilo impressionista, termo 
emprestado da pintura, em que o artista em vez de fazer suas pinturas parecerem reais, 
ele procurava dar apenas uma impressão de vagos e nebulosos contornos. O músico 
lidava com harmonias e timbres instrumentais. Noite transfigurada de Schoenberg 
(1874-1951) marca o estilo expressionista em que o artista expressa o mundo 
tenebroso de seus terrores mais secretos e as fantásticas visões do 
inconsciente, muitas vezes sugerindo esquizofrenia. Num estilo de romantismo 
tardio, os compositores passaram a despejar na música toda a carga de suas 
emoções mais intensas e profundas. 
 
2.19 Gestos tradicionais e linguagem do corpo - Corrigir as 
posturas e encurralar a indolência 
As novas necessidades socioeconômicas organizam a pedagogia que 
tenta amoldar-se aos comportamentos e impor-lhes gestos e posturas com 
intuito de ‘corrigir’ os movimentos. Paralelo a isso, um movimento de 
resistência surge em contrapontoe defende a emancipação do corpo. 
 22 
As disciplinas somáticas criam códigos gestuais de boas maneiras, 
impondo atitudes e gestos de alunos a presidiários dentro da sociedade. A 
partir de 1850 até 1920, opera-se uma brusca renovação dos gestos cotidianos 
que impregnam a vida privada. No meio rural, algumas técnicas de ‘correção’ 
ainda perduram. 
A crença na modelagem dos corpos está baseada em pensar o corpo 
como um sistema de forças. Após 1851, o corpo aparece como um motor e o 
intuito já não é moldá-lo, mas adestrá-lo. A ginástica, emprestada do serviço 
militar, visa conferir ao corpo sua máxima potência. 
A arte renovada preconiza a retidão da postura. Para o homem, trata-se 
de apertar a cintura, estufar o peito, suprimir a barriga. Para a mulher, o 
corpete feminino, causador da lordose coletiva. Assim, os aparelhos que 
serviam para modelar o corpo, tendem a ceder lugar às máquinas que 
canalizam o exercício e facilitam o treinamento. 
No final do século XIX, a ginástica converte-se em dever nacional que 
somando-se com atividades lúdicas, logo converge para o esporte como 
equitação, caça, jogos com bola. Essas atividades esboçam modelos de 
práticas que partem da classe alta da sociedade. O esporte age sobre os 
comportamentos e é dominado pela perseguição do resultado que exalta o 
campeão. 
 
 
 
2.20 Rumo ao desabrochar do corpo liberado 
As atividades indicadas pela medicina natural, tais como: passeio pelo 
campo, banhos de mar, bicicleta, excursão à montanha, deixam de ser da 
esfera médica. O interesse agora não é tanto de corrigir, exercitar ou mesmo 
curar, mas de usufruir do bem estar, da expansão de um corpo em liberdade. 
Uma busca por experimentar o próprio corpo. 
 23 
 
3. CONCLUSÃO 
A experiência da subjetividade privatizada é reconhecer-se como ser 
moralmente autônomo, capaz de iniciativas, dotado de sentimentos e desejos 
próprios; formas da pessoa pensar, tomar decisões e sentir sua própria 
existência; no sistema social-econômico, cada um deve ser capaz de identificar 
sua especialidade, aperfeiçoar-se nela e identificar-se com ela; ocorre em 
situações de crise social, graves conflitos, revoluções, pois obriga os homens a 
tomar decisões sem necessariamente com apoio da sociedade; ‘Foro íntimo’, 
sentimentos, juízos de valor. Referências internas construídas pelo homem que 
perde suas referências externas tais como a raça, o povo, a família ou lei 
confiável. 
Embora seja uma capacidade humana, a experiência da subjetividade 
privatizada não é universal. A crença na liberdade é um dos elementos básicos 
da democracia e da sociedade de consumo que em alguns aspectos essa 
crença é completamente ilusória. Uma das tarefas da psicologia será, talvez, a 
de revelar essa ilusão (crença no livre arbítrio). 
 
 
 
 
 
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