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Responsabilidade Civil Resumo II

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1 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
 
Responsabilidade Civil – Resumo II 
 
Aluno: Rached da Silva Centeno 
 
Sumário 
 
1. Responsabilidade pós-contratual (culpa post pactum finitum) ................................................ 2 
1.1 Algumas situações de responsabilização pós-contratual: ................................................... 2 
2. Responsabilidade pré-contratual (culpa in contrahendo) ........................................................ 5 
2.1 Pressupostos da responsabilização pré-contratual............................................................. 7 
3. Dano .......................................................................................................................................... 8 
3.1 Danos patrimoniais ............................................................................................................. 9 
Dano emergente ................................................................................................................. 10 
Lucro Cessante .................................................................................................................... 10 
Perde de uma Chance ......................................................................................................... 10 
3.2 Danos Extrapatrimoniais ................................................................................................... 12 
3.2.1 Reparação integral dos danos extrapatrimoniais .......................................................... 12 
3.2.2 Tarifamento legal e Método Bifásico ............................................................................. 14 
3.3 Indenização por dano-morte ............................................................................................. 16 
4. Objetivação da responsabilidade civil ..................................................................................... 17 
4.1 Responsabilidade dos profissionais liberais ...................................................................... 18 
4.2 Responsabilidade do empregador .................................................................................... 19 
4.3 Responsabilidade do Estado ............................................................................................. 20 
4.4 Finalidades da objetivação da responsabilidade civil ....................................................... 20 
4.5 Hipóteses de exclusão da responsabilidade objetiva........................................................ 21 
 
 
 
 
2 
 
1. Responsabilidade pós-contratual (culpa post pactum finitum) 
 
É importante relembrar algumas das ideias trabalhadas na responsabilidade 
contratual: 
 Fontes das obrigações: negociais, não negociais e os atos ilícitos, 
 Da fonte contratual (negocial) surge o ilícito com vínculo, o ilícito contratual, o 
qual é fundado no descumprimento de um contrato. 
 Alguns pressupostos devem ser observados para que se extraia também uma 
tutela indenizatória (imputabilidade, violação de um dever jurídico, nexo causal 
e dano). Nem todo descumprimento de um contrato irá gerar uma 
responsabilidade civil. 
 O vínculo é estabelecido através de uma vinculação fixada no tempo, a qual é 
extinta pelo pagamento (um dos atos pelo quais se extingue a obrigação). 
Mas se com o adimplemento extingue-se o vínculo contratual, como é possível 
falarmos em responsabilidade pós-contratual, se o vínculo já foi extinto? Qual a fonte 
da responsabilidade pós-contratual? Embora muitos autores atribuam à culpa post 
pactum finitum a natureza contratual, essa definição não pode ser feita sem analisar o 
caso concreto e, principalmente, o modo como foram construídos os deveres anexos 
ao contrato entre as partes. É justamente a violação a esses deveres ligados a boa-fé 
objetiva que justifica a responsabilização mesmo após adimplemento do contrato. 
 
1.1 Algumas situações de responsabilização pós-contratual: 
 
 Prestação de informações sobre o empregado após o fim do vínculo 
empregatício: Um emprego é uma vinculação contratual, a qual extingue-se 
pelo rompimento da relação trabalhista. Quando o indivíduo procura um novo 
emprego, submetendo-se a um processo seletivo, o provável novo empregador 
pode, por exemplo, entrar em contato com o antigo empregador solicitando 
referências. Dependendo da forma como foi a extinção do vínculo, o antigo 
empregador pode fornecer informações falsas que desqualifiquem seu ex-
empregado, agindo de má-fe. 
Após o fim da relação contratual, permanece, entre ex-empregado e ex-
empregador, um vínculo de confiança construído e mantido durante a 
vigência do vínculo contratual, de onde deriva a exigência de um 
comportamento baseado na boa-fé mesmo em fase pós-contratual do processo 
obrigacional. Caso esses deveres anexos relacionados com a boa-fé objetiva 
 
3 
 
sejam violados, o violador poderá ser civilmente responsabilizado. Nesses 
casos, a fonte da responsabilidade pós-contratual é extracontratual. 
 
“(...) Mesmo após o término do contrato de trabalho, o ex-
empregador não pode fornecer informações desabonadoras 
sobre o ex-empregado, que dificultem a continuidade de sua vida 
profissional. Tal atitude configura conduta ilícita da empresa, que 
deve ser responsabilizada pelo dano moral causado ao 
trabalhador, por afronta ao direito ao trabalho, garantido pela 
Constituição da República como direito fundamental (artigos 5º, 
XIII, e 6º), mormente porque inviabilizou ou dificultou o exercício 
deste direito pelo ex-empregado na fase pós-contratual.”1 
 
 Cláusula de confidencialidade: Ainda tratando de relações trabalhistas, ao 
longo do vínculo contratual, conforme visto acima, são construídos deveres 
anexos para ambas as partes, sendo outro exemplo os segredos industriais ou 
financeiros de uma empresa, os quais o empregado não pode, em hipótese 
alguma, revelar para pessoas não autorizadas, sob pena de responder 
civilmente pelos danos causados, ainda que o vínculo contratual já tenha sido 
extinto. 
“A condição imposta através de um pacto de sigilo e não 
concorrência para não se revelar as informações confidenciais, 
mesmo após o término da relação empregatícia, deve ser 
estabelecida dentro dos parâmetros da razoabilidade e 
proporcionalidade. Isto porque a regulação de tais pactos não 
pode ser considerada como restritiva, de forma inconstitucional, 
a ponto de afetar o princípio fundamental do valor social do 
trabalho.”2 
 Não é possível, a priori, determinar se a quebra de deveres anexos, após o 
vínculo contratual, tem natureza contratual ou extracontratual sem analisar o 
caso concreto. Se, por exemplo, no caso da cláusula de confidencialidade, 
houvesse uma cláusula no contrato proibindo a revelação de certas 
informações a natureza da responsabilidade pós-contratual seria contratual, e 
caso inexistente, sendo considerada tal cláusula implícita, seria 
extracontratual. 
 
1
 TRT-4 - RO: 00011386120115040751 RS 0001138-61.2011.5.04.0751, Relator: CLÓVIS FERNANDO 
SCHUCH SANTOS, Data de Julgamento: 11/10/2012, 1ª Vara do Trabalho de Santa Rosa 
 
2
 TRT-3 - RO: 01184201209703000 0001184-65.2012.5.03.0097, Relator: Convocada Maria Cecilia Alves 
Pinto, Quarta Turma, Data de Publicação: 02/09/2013 30/08/2013. DEJT. Página 147. Boletim: Sim.) 
 
4 
 
 
 Comprometimento por garantia de manutenção de fornecimento/comércio 
de bens duráveis: O vínculo contratual em uma relação de compra e venda de 
um veículo à vista, em regra, extingue-se no momento do pagamento e entrega 
do bem, no entanto, isso não significa que o fornecedor se encontra totalmente 
desobrigado,pois permanece, por exemplo, o dever de fornecer peças para o 
veículo durante o estimável tempo de duração do bem. Para facilitar o ônus de 
prova do consumidor, essa relação é classificada como contratual, usando-se 
todas as garantias de objetivação da responsabilidade civil por parte do código 
de defesa do consumidor. 
“(...) Imputação à ré da responsabilidade pela demora no 
fornecimento da peça e, consequentemente, pelos danos. 
Inteligência do artigo 32 do CDC. Cabe à fabricante fornecer 
peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou 
importação do veículo. Fornecimento este que, para ser efetivo, 
deve ser realizado em período de tempo razoável. Atraso no 
fornecimento da peça. Privação do uso do veículo por 4 meses. 
Demora excessiva. Ocorrência de danos morais. Transtornos que 
fogem à normalidade. Substancial abalo à rotina dos 
proprietários do automóvel. Responsabilidade civil da ré. Culpa 
por negligência. (...) ”3 
Cabe ressaltar, todavia, que, ainda que o bem tenha “vida” de longo prazo, o 
fornecedor pode estar desonerado de garantir a sua manutenção se o modelo 
vendido é rapidamente substituído por outro, dada a velocidade do avanço 
tecnológico. Exemplo dessa situação é a comercialização de celulares, onde um 
aparelho disponibilizado pelo fabricante em certo momento é totalmente 
ultrapassado em poucos anos, não fazendo sentido exigir do fabricante a 
garantia do fornecimento de peças para os aparelhos durante todo o estimável 
tempo de “vida”. 
 Dever de garantia sobre a segurança. Anticoncepcional microvlar. Houve uma 
produção de um lote placebo - “pílulas de farinha”, o qual seria utilizado para 
testar a validade dos medicamentos, mas por um descuido esse lote foi posto 
no mercado de consumo. Nove meses após o ocorrido nasceram as crianças em 
decorrência dessas pílulas. E como resultado: Muitas ações das pessoas 
buscando indenização por conta de gravidez indesejada. A maior dificuldade 
para o caso era o estabelecimento de provas, já que, dentre outras 
circunstâncias, as pílulas originais não têm 100% de eficácia. Uma segunda 
 
3
 TJ-SP - APL: 00232102620138260196 SP 0023210-26.2013.8.26.0196, Relator: Carlos Alberto de Salles, 
Data de Julgamento: 24/02/2016, 3ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/02/2016 
 
5 
 
problemática do caso foi o arbitramento do dano, o quantum a ser indenizado 
se comprovado que a causa da gravidez foram as “pílulas de farinha”. 
“(...) II. Consoante jurisprudência desta Corte Superior "ainda 
que se trate de relação regida pelo CDC, não se concebe inverter-
se o ônus da prova para, retirando tal incumbência de quem 
poderia fazê-lo mais facilmente, atribuí-la a quem, por 
impossibilidade lógica e natural, não o conseguiria. Assim, diante 
da não-comprovação da ingestão dos aludidos placebos pela 
autora - quando lhe era, em tese, possível provar -, bem como 
levando em conta a inviabilidade de a ré produzir prova 
impossível, a celeuma deve se resolver com a improcedência do 
pedido" (REsp 720930/RS, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, DJe 
09/11/2009). III. Indemonstrado o nexo de causalidade, com a 
comprovação da utilização de pílulas oriundas dos lotes de 
placebo indevidamente enviados ao mercado, incabível a 
indenização. IV. Recurso especial conhecido e provido para se 
restabelecer o acórdão que julgou improcedente o pedido 
inicial.”4 
2. Responsabilidade pré-contratual (culpa in contrahendo) 
 
Surge do rompimento imotivado (ou injustificado) da relação de confiança 
(preceito de boa-fé) entre dois ou mais sujeitos, sem a existência de um vínculo 
contratual. A maior dificuldade consiste em demonstrar em que ponto o contato entre 
as partes gerou a confiança específica capaz de gerar, com o rompimento injustificado, 
a responsabilidade civil de uma das partes. O ordenamento jurídico não prevê 
expressamente a hipótese de responsabilidade pré-contratual, o que dificulta a análise 
da matéria. 
A responsabilidade pré-contratual é atribuída a um dos sujeitos do contato 
social quando verificada “a constatação que desse contato preliminar entre os 
indivíduos interessados na constituição de um contrato possam verificar-se prejuízos 
significativos a uma das partes contratantes, tendo em vista os esforços empregados 
 
4
 STJ - REsp: 844969 MG 2006/0089046-5, Relator: Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Data de 
Julgamento: 19/10/2010, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/11/2010 
 
6 
 
para a concretização do negócio jurídico não efetivado”5, estabelecendo que devem 
ser reparados o dano emergente e os lucros cessantes decorrentes do ilícito6 
Exemplo de responsabilidade pré-contratual: 
 Rompimento de Noivado: Pessoas com vistas à formação de um contrato 
futuro estabelecem um vínculo de confiança. O rompimento de noivado pode 
gerar a responsabilização civil dependendo da forma como ocorre. Não basta a 
mera desistência da construção de um vínculo contratual para que se 
responsabilize a parte que rompe. No caso do noivado é preciso analisar a 
forma como houve o rompimento, que deve ser de modo abrupto e causar um 
prejuízo real a outra parte, para que se estabeleça o nexo de causalidade. (Ex.: 
abandono no altar). Quando os danos são patrimoniais, como os gastos com a 
realização do evento, são mais fáceis de serem comprovados. 
“1. O ônus de prova a intenção de prejudicar ou algum fato 
que fuja à normalidade quando do rompimento do noivado 
incumbe à parte autora, nos moldes do art. 333, I, do 
Código de Processo Civil. Inexistindo proposta séria e de 
data marcada para o casamento, referida união marital 
configura mera expectativa decorrente de 
aproximadamente três anos de relação afetiva, não 
caracterizando ato ilícito o rompimento do noivado nessas 
condições. 2. "A simples ruptura do noivado não legitima só 
por isso a pretensão indenizatória, se não vislumbrada a 
ilicitude no rompimento. Mas também para a configuração 
dos pressupostos necessários à responsabilidade civil, 
reclama-se que a promessa não cumprida de casamento 
tenha se revestido de seriedade, firmeza e certeza de 
convicção quanto à sua viabilidade (...)"7 
“A ruptura de noivado, quando este ocorre após sinais de sua 
exteriorização, alcançando familiares e amigos, gera a 
indenização por dano moral, uma vez abalados os sentimentos 
da pessoa atingida, não só em relação a si própria como 
também perante os grupos sociais com os quais se relaciona”8 
 
5
 CACHAPUZ, Maria Cláudia. Algumas notas sobre a responsabilidade pré-contratual. Revista da AJURIS - 
n. 76 - Dezembro/1999. Pag. 67 
6
 CACHAPUZ, Maria Cláudia. Algumas notas sobre a responsabilidade pré-contratual. Revista da AJURIS - 
n. 76 - Dezembro/1999. Pag. 81 
7
 TJ-SC - AC: 115390 SC 2003.011539-0, Relator: Denise Volpato, Data de Julgamento: 19/06/2009, 
Primeira Câmara de Direito Civil, Apelação Cível n. , de Joinville 
8
 AgIn 036.868-4/3 - 2.a Câm. - j. 25.02.1997 - rel. Des. Osvaldo Caron. 
 
7 
 
2.1 Pressupostos da responsabilização pré-contratual 
 
 Inexistência de justo motivo: Conforme visto no caso do rompimento de 
noivado, não é todo rompimento de vínculo de relação pré-contratual que irá 
ocasionar responsabilização civil. O justo motivo, por exemplo, pode afastar a 
responsabilidade civil. Na relação de confiança pré-contratual existe apenas 
mera expectativa de realizaçãode um contrato, onde as partes não têm 
obrigação de consolidar essa expectativa, em respeito à autonomia privada, 
mas sim de não causar prejuízos uma a outra pela quebra de expectativas de 
modo inadequado e sem justo motivo. 
 
“A análise da indenizabilidade do dano apresenta-se 
necessária na matéria da responsabilidade pré-contratual 
tendo em vista o fato de que, na perspectiva de conclusão de 
um contrato futuro, a ausência de um motivo justificador à 
ruptura é fonte geradora de um dano efetivo. A origem de tal 
dever parte do princípio de que da obrigação pré-contratual de 
boa fé decorre o dever de não interromper as negociações 
preliminares sem justa causa. Logo, em se entendendo possível 
estabelecer a existência de vínculos pré-contratuais, em razão 
de um posicionamento de confiança estabelecida entre as 
partes possivelmente contratantes, igualmente viável se faz o 
reconhecimento do dever de reparação por prejuízo causado 
pela ruptura sem justa causa.”9 
 
 Criação de suficiente confiança ao estabelecimento de contrato futuro com 
prejuízo em face da interrupção dos contatos estabelecidos. Se ainda não 
houve a criação de vínculo de confiança capaz de gerar expectativas reais de 
consolidação do contrato, não há que se falar em responsabilização civil. 
“Afirma-se, à luz do direito italiano, que a finalidade essencial de 
quem negocia é a representação preventiva do conteúdo do 
futuro contrato. Busca-se preparar o contrato futuro. Todavia, 
em razão da vinculação que passa a existir entre as 
possíveis partes contratantes no momento de negociação 
contratual, criam-se deveres independentes na base de uma 
relação de confiança que, uma vez cindida, pode constituir-se 
em suporte fático suficiente para a verificação de um dever de 
 
 
9
 CACHAPUZ, Maria Cláudia. Algumas notas sobre a responsabilidade pré-contratual. Revista da AJURIS - 
n. 76 - Dezembro/1999. Pag. 80 
 
8 
 
reparação. (...) O conteúdo desta verdadeira obrigação entre 
os sujeitos de direito, ainda que não ocorra vinculação 
contratual futura, é verificado a partir dos deveres gerados a 
cada uma das partes conforme o comportamento esperado - 
de lealdade e de honestidade - na consecução de negócios 
jurídicos.”10 
 Prejuízo real pelo rompimento: Prejuízo gerado pela quebra de expectativas, 
as quais impulsionaram atitudes da parte prejudicada. 
“O dano pré-contratual, por conseqüência, assume 
importância essencial, cumprindo que seja identificado, a 
partir do contato mantido entre as partes e do prejuízo 
verificado no tráfico jurídico. Por isso, a premissa básica é a de 
que, verificado o prejuízo, o ressarcimento do dano seja integral, 
compreendendo não apenas o dano emergente (prejuízo 
efetivo), como também o que o sujeito lesado deixou de 
receber em razão da confiança depositada para a execução do 
negócio futuro.”11 
Logo, a responsabilização civil em fase pré-contratual pretende reparar os 
danos gerados pelo rompimento sem justo motivo do contato social por quem, através 
de suas atitudes, gerou deveres anexos de confiança, lealdade e honestidade. Uma das 
partes, tendo expectativas reais de realização de um contrato, é prejudicada pela 
quebra imotivada e sem justo motivo da outra parte com seus deveres anexos de 
boa-fé objetiva. 
3. Dano 
 
A ideia de prejuízo é muito subjetiva, sendo auferível apenas diante do caso 
concreto. O mero incomodo ou aborrecimento, por exemplo, uma viagem que não sai 
da forma esperada, atrapalhando os planos do cliente, é, de forma indevida, motivo 
para muitas ações judiciais. Isso acontece dada subjetividade da medição do dano. 
A doutrina mais atual já menciona, em algumas circunstancias excepcionais, a 
responsabilização civil mesmo quando o prejuízo ainda não foi constituído de forma 
concreta, como na ocorrência de catástrofes, onde há um prejuízo coletivo genérico, 
em danos ao meio ambiente, situações coletivas na área de consumo, em suma, 
 
10
 CACHAPUZ, Maria Cláudia. Algumas notas sobre a responsabilidade pré-contratual. Revista da AJURIS 
- n. 76 - Dezembro/1999. Pag. 77 
11
 CACHAPUZ, Maria Cláudia. Algumas notas sobre a responsabilidade pré-contratual. Revista da AJURIS 
- n. 76 - Dezembro/1999. Pag. 86 
 
9 
 
situações onde há potencialidade de dano futuro. Um exemplo recente foi o incêndio 
na Boate kiss, em Santa Maria/RS, no qual centenas de pessoas ficaram feridas e, além 
dos danos imediatos, ficaram com a potencialidade de maiores danos futuros. Esses 
danos potenciais, ou seja, que possuem possibilidade de concretização futura, foram 
causa para responsabilização civil, gerando dever de prestar tratamento psicológico e 
psiquiátrico (tutela de fazer) a algumas vítimas a fim de evitar, por exemplo, traumas 
decorrentes do acontecimento (responsabilidade civil sem dano). 
Embora muitos autores admitam a hipótese da responsabilização por danos em 
potencial (ou sem danos imediatos), a regra geral continua sendo, sem dúvidas, que só 
há responsabilidade civil mediante comprovação dos danos imediatos. 
 Quanto à reparação do dano, segue-se o princípio previsto no artigo 944 do 
código civil, o da reparação integral do dano, isto é, nem mais nem menos do que fora 
causado, sendo a indenização medida em proporção direta com a extensão do dano. 
 O dano pode ser analisado sob duas perspectivas: A) Dano patrimonial; 
B) Dano extrapatrimonial (moral e estético). O primeiro, ao contrário do dano 
extrapatrimonial, é quantificável. Antes da constituição de 1988 a doutrina não 
reconhecia a existência de duas esferas de dano, não considerando possível a 
cumulação entre um dano patrimonial e outro extrapatrimonial, pois ambos estariam 
sob a rubrica “dano”. O STJ pacificou a questão com a edição da súmula 37: “São 
cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato” 
e posteriormente com a súmula 387: “É lícita a cumulação das indenizações de dano 
estético e dano moral. ” Ainda que se subdivida em duas esferas, o dano é uno. Em um 
acidente de carro, por exemplo, será gerado um dano, o qual poderá ser subdividido 
em duas esferas, uma patrimonial e outra extrapatrimonial. 
3.1 Danos patrimoniais 
 
É sempre um prejuízo quantificável, do qual resulta valor determinado 
conforme relação entre perda efetivamente ocorrida, ou seja, aquilo que foi retirado 
indevidamente do patrimônio, e aquilo que a vítima do dano deixou de lucrar. Mesmos 
esses últimos, os lucros cessantes, podem ser deduzidos e quantificados diante do caso 
concreto. Por exemplo, um acidente de trânsito envolvendo um taxista, que não tem 
culpa pelo ocorrido, deixando-o sem seu meio de trabalho. Para quantificar os lucros 
cessantes, o que deixou de lucrar em decorrência do dano sofrido, o taxista terá que 
demonstrar de alguma forma o histórico dos seus ganhos (ganhos habituais) para que, 
através da proporcionalidade e razoabilidade, defina-se um valor médio a ser 
indenizado. Quanto aos danos emergentes, o taxista teria que demonstrar os prejuízos 
sofridos através de uma simples perícia, entretanto, a reparação do veículo, de acordo 
com princípio da reparação integral, vincula-se aos danos sofridos no acidente, não 
 
10 
 
podendo ser calculado outro possível dano que o veículo possua decorrente de causa 
diversa. 
Art. 402. “Salvo as exceçõesexpressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas 
ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente 
deixou de lucrar.” 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
Dano emergente 
 
Aquilo que uma de forma direta representa uma diferença no patrimônio total 
existente antes da ocorrência do ilícito e o que dele restou após o ilícito. 
Lucro Cessante 
 
Prejuízo mediato ou futuro que reduza ganhos e/ou impeça lucros. Exemplo dos 
taxistas. Todavia, não se trata de um ganho hipotético ou imaginário, pois demonstra-
se uma média aproximada dos lucros e ganhos obtidos em períodos anteriores a 
ocorrência do ilícito, através das diversas provas admitidas em direito. Por isso a ideia 
de razoabilidade, uma aproximação média entre o que efetivamente ocorreu (ganhos 
habituais) e o que ocorreria na hipótese da não ocorrência do ilícito (lucros cessantes). 
Perda de uma Chance 
 
Não há uma positivação desse instituto no direito brasileiro. É uma construção 
doutrinária e jurisprudencial (institucional). Conforme a teoria da perda de chance, se, 
através da análise do caso concreto, verificar-se a probabilidade de que evento 
danoso não acontecesse caso alguém tivesse agido de modo diverso, esse alguém, 
ainda que não seja o causador direto do dano, deve ser responsabilizado na medida 
dessa probabilidade. Por exemplo, um diagnóstico impreciso no primeiro atendimento 
médico. Posteriormente, o paciente tem a sua perna amputada, corretamente, pois 
era o único meio possível para salvar a vida da vítima. O que se discute é a chance da 
vítima não ter sua perna amputada se o diagnóstico no primeiro atendimento tivesse 
sido correto (é uma probabilidade). É justamente essa probabilidade que vai majorar 
ou reduzir o valor a ser indenizado. A teoria da perda de chance, nesse caso, cria um 
nexo entre o atendimento equivocado do paciente e a amputação, estabelecendo, 
através da probabilidade do evento danoso não acontecer se a causa (atendimento 
equivocado) não existisse, o valor a ser indenizado. 
Difere-se do lucro cessante pela não existência de uma razão definitiva, sendo 
uma mera probabilidade de ocorrência de resultado diverso, ainda que o prejuízo 
 
11 
 
sofrido seja real. No lucro cessante é preciso demonstrar uma regularidade dos ganhos 
que, por conta do ilícito, não serão auferidos. Já na hipótese de perda de uma chance, 
é preciso demonstrar a possibilidade da não ocorrência do dano ou que esse não 
ocorreria no mesmo grau, se situação diversa tivesse ocorrido. 
 Exemplos: 
 
A) Perda de chance por conta do banco cadastral de inadimplentes: O autor da 
ação alega perda de chance ao seu demitido pelo empregador em razão da 
inscrição indevida de seu nome em banco cadastral de inadimplentes. “No 
caso, a própria contratação da demandante (fl. 12) ocorreu quando já 
existentes as inscrições indevidas, não havendo, portanto, como se inferir que a 
dispensa teria ocorrido justamente em razão de tal fato. Afinal, se o 
empregador confere tamanha importância a tal espécie de informação 
negativa, nem teria efetuado a contratação específica da demandante para o 
cargo. Segundo, porque não restou demonstrada, de forma específica, uma 
perda de vantagem ou de oportunidade de obtenção de vantagem futura 
justamente em razão da inscrição existente em banco cadastral. Ônus, no 
caso, que compete à parte demandante, não se tratando, pela alegação 
específica promovida, de um dano, para esta finalidade, in re ipsa.”12 
 
B) Programa show do milhão. Autor entra com ação alegando que não havia 
resposta correta para a pergunta de “um milhão de reais”. Como a pergunta foi 
mal formulada, induzindo a participante a erro, ocasionou a perda da chance 
de ganhar o prêmio. A participante já havia ganhado 500 mil até o momento. O 
STJ entendeu que ela não teria direito a ganhar mais 500 mil reais, pois, ainda 
que a pergunta tivesse sido corretamente formulada, a chance de acerto não 
seria 100%, mas sim de 25%, já que eram quatro alternativas. Logo 500 mil 
divididos por 4 = 125 mil reais. 
“O questionamento, em programa de perguntas e respostas, 
pela televisão, sem viabilidade lógica, uma vez que a 
Constituição Federal não indica percentual relativo às terras 
reservadas aos índios, acarreta, como decidido pelas instâncias 
ordinárias, a impossibilidade da prestação por culpa do devedor, 
impondo o dever de ressarcir o participante pelo que 
 
12
 TJ-RS - AC: 70059421974 RS Relator: Maria Claudia Cachapuz, Data de Julgamento: 28/05/2014, 
Quinta Câmara Cível 
 
12 
 
razoavelmente haja deixado de lucrar, pela perda da 
oportunidade.”13 
o No direito Brasileiro, a teoria da perda de chance tem sido aplicada em dois 
sentidos: 
 
A) Como elemento do dano  A perda de chance como situação que majora o 
cálculo do lucro cessante, sendo usada no momento do arbitramento do dano. 
 
B) Como Nexo Causal  Não usada como quantificação, mas como caracterização 
do nexo causal. Para juntar a conduta ilícita ao dano. Utilizada nos caos em que 
se aproxima ilícito e dano causado por profissionais liberais para estabelecer a 
existência de um nexo causal. Quando se quer responsabilizar um médico 
liberal por erro que tenha causado consequências mais graves. Outro exemplo 
erro da advocacia, perda de prazo por exemplo. 
 
3.2 Danos Extrapatrimoniais 
 
São prejuízos não quantificáveis que, em um primeiro momento, não possuem 
um conteúdo econômico, mas que violam a esfera da existência humana. Há uma 
tendência de associá-los, equivocadamente, a um sofrimento, à dor, à tristeza, a 
sentimentos de carga negativa. No entanto, não há necessidade de demonstrar tais 
sentimentos para comprovação do dano extrapatrimonial, o qual é considerado “em 
ré ipsa”, inerentes ao próprio fato. O dano extrapatrimonial não está relacionado com 
a sensação individual decorrente do ilícito, mas sim com o quanto esse ilícito atingiu a 
personalidade da vítima, diante da análise das circunstâncias da situação fática. Em um 
acidente de carro, por exemplo, a vítima não precisa comprovar os sentimentos de 
carga negativa decorrentes do ilícito, apenas as situações fáticas que contenham um 
dano “em ré ipsa”, em si mesmas, como exemplo, o fato de o acidente ter impedido de 
assistir a formatura do filho, evento aguardado e planejado pela família por muito 
tempo. 
3.2.1 Reparação integral dos danos extrapatrimoniais 
 
De acordo com artigo 944 do código civil, a reparação não pode ser mais nem 
menos do que o dano causado. Diante dessa ideia, surge a problemática da 
indenização representando, além do retorno ao estado anterior ao ilícito, uma função 
 
13
 STJ - REsp 788459 BA 2005/0172410-9 RS Relator: Min. Fernando Gonçalves, Data de Julgamento: 
08/11/2005, T4 Quarta turma 
 
13 
 
punitiva-pedagógica para o agente imputável pelo dano, com interesse de educá-lo e 
que o ilícito não seja cometido novamente. Sendo assim, a função punitiva-
pedagógica da indenização, que não tem previsão legal, está em contradição com 
artigo 944 do código civil. 
Não há unanimidade na doutrina em relação às funções do princípio da reparação 
integral do dano, mas, dentre as funções ordinariamente citadas, destacam-se: A) 
Reparatória; B) Indenitária; C) Concretizadora; D) Compensatória. 
O Ministro Paulo Sanseverino expõe, em seu livro “princípio da reparação integral”, 
expõe três funções ao princípio da reparação integral (Art. 944), a função 
compensatória, a função indenizatória, a função concretizadora. No entanto, háautores que distinguem a função compensatória da função reparadora, sedo esta para 
os danos patrimoniais e aquela restrita aos danos extrapatrimoniais. Como 
Sanseverino trabalha apenas com a função compensatória, segundo a qual a reparação 
deve corresponder à totalidade do dano, ele a afasta da incidência na restituição dos 
danos extrapatrimoniais por impossibilidade. 
A) Classificação de Paulo Sanseverino: 
 Função compensatória  Essa função, de reparar o todo o dano, certamente 
não é aplicável quando se trata de danos extrapatrimoniais, pois não é possível 
restituir em sua totalidade com bens materiais o prejuízo causado à esfera 
extrapatrimonial de alguém. No entanto, quando a situação é de prejuízo 
causado a esfera patrimonial, esse princípio determina a reparação completa 
do dano. É a função que melhor caracteriza o princípio da reparação integral. 
 Função indenitária: A indenização não deve ultrapassar os limites do dano. 
Significa que a extensão do dano é o alcance máximo da indenização.14 
Enquanto a função compensatória determina a restituição da totalidade do 
dano, a função indenitária estabelece a extensão do dano como limite à 
indenização. 
 A função punitiva e sua incompatibilidade com o princípio da reparação 
integral do dano: Antes do artigo 944 do código de 2002, havia parte da 
doutrina que dividia a indenização em dois aspectos, o caráter punitivo e outro 
satisfativo. Ainda hoje há um estímulo à denominada “função punitiva” ou 
“função punitiva-pedagógica” (punitive damages), embora essa ideia contrarie 
o artigo 944, pois, ao estabelecer um valor além do dano para punir o 
causador, ultrapassa a integralidade do prejuízo. A função punitiva é de caráter 
exemplar, com a reparação além do dano busca-se evitar a repetição do ilícito. 
A “punição” do imputável não é, necessariamente, em razão de suas reiteradas 
 
14
 LAGO, Alexandra Magro. Exceção ao princípio da reparação integral do dano na responsabilidade civil 
objetiva. Porto Alegre. 2011. P. 16 
 
14 
 
condutas, mas sim do mesmo ilícito causado diversas vezes, ainda que por 
autores distintos. Na prática, a função punitiva-pedagógica é utilizada não raras 
vezes e sem a devida fundamentação, mesmo com entendimento do STJ no 
sentido da excepcionalidade do instituto. 
 Função concretizadora: Determina que a restituição deve respeitar os prejuízos 
verificados diante do caso concreto e comprovados pela vítima. “A terceira 
função é a denominada concretizadora, em que a indenização deverá 
corresponder, na medida do possível, aos prejuízos efetivamente sofridos e, 
por consequência, devidamente comprovados pela vítima.”15 
Conforme Ministro Sanseverino16, “a plena reparação do dano deve corresponder à 
totalidade dos prejuízos efetivamente sofridos pela vítima do evento danoso (função 
compensatória), não podendo, entretanto, ultrapassá-los para evitar que a 
responsabilidade civil seja causa para o enriquecimento injustificado do prejudicado 
(função indenitária), devendo-se estabelecer uma relação de efetiva equivalência 
entre a indenização e os prejuízos efetivos derivados dos danos com avaliação em 
concreto pelo juiz (função concretizadora)” 
 
B) Classificação que distingue função compensatória da função reparadora: 
Enquanto a função reparadora determina reparação de todo o dano, restaurando a 
situação a um estado anterior ao acontecimento da causa, a função compensatória, 
restrita aos danos extrapatrimoniais, busca compensar o prejuízo à esfera da 
personalidade da vítima o quanto possível, considerando impossível a restituição 
integral. Nesse sentido, distinguindo o “compensar” do “reparar”. 
3.2.2 Tarifamento legal e Método Bifásico 
 
O quantum indenizatório pode ser definido por tarifamento legal, 
predeterminação do legislador de um mínimo e de um máximo para um determinado 
ilícito, ou por arbitramento, o qual é realizado por um árbitro mediante análise das 
circunstâncias fáticas. Conforme artigo 953, a definição do dano deve seguir os 
métodos de arbitramento e não de tarifamento legal, o qual encontra rejeição da 
jurisprudência: “A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na 
Lei de Imprensa” (Súmula 281 STJ). 
Dentre os métodos de arbitramento utilizados para definição do quantum 
indenizatório decorrente de danos extrapatrimoniais, o bifásico é o que demonstra- 
ser mais apto a garantir equidade e segurança jurídica. Como próprio nome 
 
15
 LAGO, Alexandra Magro. Exceção ao princípio da reparação integral do dano na responsabilidade civil 
objetiva. Porto Alegre. 2011. P. 17 
16
 SANSEVERINO, P. T. V, Princípio da Reparação Integral, Ed. Saraiva, 2011, p.58 
 
15 
 
pressupõe, o método é divido em duas fases, na primeira “arbitra-se o valor básico ou 
inicial da indenização, considerando-se o interesse jurídico lesado, em conformidade 
com os precedentes jurisprudenciais acerca da matéria (grupo de casos). Assegura-se, 
com isso, uma exigência da justiça comutativa que é uma razoável igualdade de 
tratamento para casos semelhantes, assim como que situações distintas sejam 
tratadas desigualmente na medida em que se diferenciam”17. É importante salientar 
que na primeira fase o julgador deve valorizar a jurisprudência regional 
primeiramente, tendo em vista as diferenças sociais entre os Estados da Federação, a 
exemplo da expectativa de vida média. 
Já na segunda da fase “procede-se à fixação definitiva da indenização, 
ajustando-se o seu montante às peculiaridades do caso com base nas suas 
circunstâncias. Partindo-se, assim, da indenização básica, eleva-se ou reduz-se esse 
valor de acordo com as circunstâncias particulares do caso (gravidade do fato em si, 
culpabilidade do agente, culpa concorrente da vítima, condição econômica das partes) 
até se alcançar o montante definitivo. Procede-se, assim, a um arbitramento 
efetivamente eqüitativo, que respeita as peculiaridades do caso”18. 
Sendo assim, na primeira fase, mais ampla que a segunda, busca-se a 
observância do princípio da igualdade diante de casos assemelhados, gerando 
segurança jurídica, e na segunda a realização da função concretizadora, majorando ou 
reduzindo o montante fixado na primeira fase de acordo com as circunstâncias 
peculiares ao caso. Parte-se de uma situação geral (primeira fase) para uma situação 
específica (segunda fase). 
Não há determinação legal acerca de quais peculiaridades do caso concreto 
devem ser relevantes para definição do quantum indenizatório, sendo a construção de 
tais critérios fruto de um trabalho doutrinário e jurisprudencial. São os principais 
critérios utilizados: A) Dimensão do dano; B) Culpabilidade do agente; C) Culpa 
concorrente; D) Condições econômicas do ofensor; E) Condições especiais da vítima; F) 
Interesse jurídico lesado (direito de personalidade atingido); 
 Dimensão do dano  A gravidade do fato em si e as consequências para a 
vítima. 
 Culpabilidade do agente  Para o reconhecimento da existência de um ilícito, 
não é relevante se o agente incorreu em dolo ou culpa, no entanto, o grau de 
culpa é uma circunstância importante na definição do quantum indenizatório. 
 Culpa concorrente da vítima e do autor  É a circunstância que a vítima 
também possui culpa ou pelo acontecimento do fato ou pelas consequências 
do ocorrido. É uma atenuante ou minorante, interferindo na composição do 
 
17
 STJ - REsp: 959780 ES 2007/0055491-9, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de 
Julgamento: 26/04/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data dePublicação: DJe 06/05/2011. Pag. 17 
18
 Ibidem 
 
16 
 
dano. Por exemplo, em acidente de trânsito, uma moto com duas pessoas, o 
motorista distrai-se causando um acidente, o carona cai bate a cabeça. É 
deveras relevante se estava usando ou não capacete, levando ao 
reconhecimento ou não de uma culpa concorrente. 
 
 Condição econômica do ofensor: É um critério um tanto duvidoso e 
controvertido. A exemplo de um ilícito causado por uma grande empresa, esse 
critério poderia ser utilizado para majorar a indenização. Dois aspectos dentro 
desse critério são importantes: A) Se o agente, em decorrência de sua situação 
econômica, poderia ter evitado o dano. B) Se praticou o ilícito porque 
economicamente era atraente do que uma possível responsabilização civil. 
Entretanto, a mera justificação de que o agente causador do dano possui alta 
condição econômica não se mostra razoável para majoração da indenização. 
 Condições especiais da vítima: Um dano estético, por exemplo, não pode ser 
tratado de forma igual em relação a um cidadão que não depende de sua 
estética como meio de trabalho e um ator ou uma modelo, nos quais, 
certamente, o prejuízo decorrente do dano estético causa maiores prejuízos. 
 
 Interesse jurídico do lesado: De acordo com aquilo que efetivamente é 
atingido na personalidade da vítima. 
 
 
3.3 Indenização por dano-morte 
 
É uma das situações mais complicadas de serem analisadas diante do caso 
concreto. Por morte entende-se a perda da vida alguém em razão de um ilícito. Por 
exemplo: Em um acidente de trânsito a vítima falece. Os legitimados para requererem 
a indenização são os familiares. O dano ou prejuízo a ser indenizado, que pode versar 
sobre direitos de personalidade ou sobre perda econômica, é para os familiares e não, 
logicamente, para quem morre, tendo dois aspectos: A) Extrapatrimonial (ex.: A dor 
de não conviver mais com a pessoa que morreu); B) Patrimonial (Ex.: O quanto a vítima 
contribuía para manutenção econômica dos dependentes). Ambos os aspectos do 
dano são cumuláveis. 
Quanto à definição de familiares para fins de legitimidade processual, 
ordinariamente, são considerados legitimados as pessoas mais próximas da vítima, 
prescindindo de vínculo sanguíneo, sendo mais relevante a comprovação de afinidade, 
em relação aos danos extrapatrimoniais, e de dependência econômica quando os 
danos forem patrimoniais. 
 
17 
 
Outra problemática acerca da questão é se o simples fato de uma pessoa ser 
testemunha de uma morte a legitima a requerer dano decorrente do acontecimento, 
pelo desenvolvimento de um possível trauma. Em uma espaço público, a questão tem 
uma dimensão menor, com pouca probabilidade de ser considerada causa para 
indenização civil. No entanto, quando se trata de uma instituição bancária, por 
exemplo, ainda que ninguém tenha apontado a arma ou roubado dinheiro do sujeito, 
se for considerada a responsabilidade do banco pela segurança das pessoas que nele 
estão presentes, pode ser considerado caso de responsabilização civil, ainda que a 
pessoa tenha sido apenas testemunha. 
 Sobre os danos patrimoniais em decorrência da morte de pessoa que possui 
dependentes, diversas circunstâncias do caso concreto são relevantes como a idade da 
vítima, sua expectativa de vida, local onde morava, medida das contribuições 
tributárias etc.. O princípio da integralidade (Art. 944) não faz proporcionalidade com o 
que efetivamente a vítima auferia economicamente, já que raramente alguém 
contribui com 100% de seus ganhos para seus dependentes. Desse modo, a 
jurisprudência dominante entende que se deve excluir, em média, 1/3 do valor total, 
valor esse compreendido como gastos pessoais da vítima. 
4. Objetivação da responsabilidade civil 
 
A principal finalidade de tornar a responsabilidade objetiva, independente da 
prova de culpa, é facilitar a atribuição de responsabilidade ao causador do dano, 
objetivando a prova. Corriqueiramente, a objetivação ocorre nas relações de consumo, 
dada proteção aos consumidores estabelecida pelo CDC, a exemplo da equiparação 
das vítimas do evento a consumidores (Art 17). Nas relações de consumo, atribui-se ao 
fornecedor a responsabilidade objetiva pela segurança do produto ou serviço 
fornecido, atribuindo-lhe o ônus de provar que buscou evitar o dano. 
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, 
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.” 
“§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só 
não será responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
 
18 
 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito 
inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” 
4.1 Responsabilidade dos profissionais liberais 
 
O artigo 14, §4 do código de defesa do consumidor trata da hipótese dos 
profissionais liberais (médicos, advogados, nutricionistas, dentistas etc...). Nesse caso, 
a responsabilidade foi definida como subjetiva - “Art 14. § 4° A responsabilidade 
pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.” – 
quando esse artigo menciona que deve ser verificada a culpa do profissional liberal 
está estabelecendo a regra de que a responsabilidade desses profissionais é subjetiva. 
Quando a obrigação assumida pelo profissional liberal é de meio, a doutrina é unânime 
em apontar que a responsabilização pelos danos causados depende de prova de culpa 
– responsabilidade subjetiva. 
No entanto a obrigação se assumida for de resultado, há divergência nos 
entendimentos. Parcela da doutrina simplesmente considera responsabilidade objetiva 
sempre que a obrigação assumida for de resultado, e outra, em uma interpretação 
alternativa, considera que a responsabilidade continua sendo subjetiva, mas com culpa 
presumida. 
“A responsabilidade do profissional liberal é sempre subjetiva, 
sendo necessária a verificação dos elementos caracterizadores 
da culpa (negligência, imprudência ou imperícia), nos termos da 
exceção prevista no art. 14, § 4º do CDC. - O dentista, em regra, 
não tem obrigação de meio, mas de resultado, considerando-se 
as técnicas inovadoras disponíveis na atualidade que 
proporcionam o resultado pretendido pelo paciente. - A 
responsabilidade continua sendo subjetiva, porém com culpa 
presumida, já que o réu assume obrigação de resultado. - No 
caso, o autor alega que não obteve sucesso no tratamento 
odontológico que contratou com o réu. (...) Há nexo de 
causalidade entre os fatos narrados e os danos causados, o que 
impõe o dever de indenizar, ante a manifesta responsabilidade 
subjetiva pela culpa na modalidade de imperícia. - Danos 
materiais devidamente provados.”19 
 
19
 TJ-RJ - APL: 00322057320118190202 RJ 0032205-73.2011.8.19.0202, Relator: DES. PETERSON 
BARROSO SIMÃO, Data de Julgamento: 19/11/2014, VIGÉSIMA QUARTA CAMARA CIVEL/ 
CONSUMIDOR, Data de Publicação: 26/11/2014 
 
19 
 
 Responsabilidade subjetiva com culpa presumida: i) inversão do ônus da prova. ii) 
imprescindível verificação da culpa para responsabilização. 
 Responsabilidade objetiva: Não exige culpa para responsabilização. Para o acusado 
eximir-se da responsabilidade deve provar inexistência de nexo causal. (Facultado ação 
regressiva contra terceiro responsávelpelo dano, se for o caso) 
“A cirurgia estética gera obrigação de resultado para o médico, 
cuja responsabilidade é subjetiva e para a clínica de estética 
com responsabilidade objetiva. Para que se conclua pela 
responsabilidade, no entanto, é necessário que estejam 
presentes os requisitos da responsabilidade civil, quais sejam: 
dano, conduta culposa e nexo de causalidade. Concluindo a 
perícia médica pela ausência de erro médico e de falha na 
prestação do serviço do hospital, têm-se como elidido o nexo de 
causalidade entre o dano e a conduta, apto a afastar tanto a 
responsabilidade subjetiva como a objetiva. Recurso conhecido e 
improvido.”20 (nesse caso o médico não é profissional liberal. A 
Clínica empregadora tem responsabilidade objetiva – com direito 
de regresso – e o médio empregado responsabilidade subjetiva. 
Como considerou-se a responsabilidade objetiva da clínica, o 
único meio para eximir-se reponsabilidade é a comprovação de 
inexistência de nexo causal, como aconteceu no caso em 
questão) 
Portanto, no caso do erro médico, quando há relação trabalhista entre clínica e 
empregado, há unanimidade tanto na doutrina quanto na jurisprudência no sentido de 
que a clínica responde objetivamente o médico subjetivamente. Já no caso do 
profissional liberal, incluindo os médicos liberais, há dois entendimentos quando 
obrigação assumida for de resultado, um no sentido de que a responsabilidade é 
subjetiva com culpa presumida, isto é, invertendo-se o ônus da prova e exigindo-se a 
culpa para responsabilização, e outro de que a responsabilidade é objetiva, 
prescindindo de culpa, sendo única hipótese de afastamento da responsabilidade a 
comprovação de inexistência de nexo causal. 
4.2 Responsabilidade do empregador 
 
A responsabilidade objetiva do empregador justifica-se pela teoria do risco 
criado, segundo a qual quem põe em funcionamento determinada atividade responde 
pelos eventos danosos que essa atividade gera para os indivíduos, independentemente 
 
20
 TJ-DF - APC: 20130110284800, Relator: HECTOR VALVERDE SANTANNA, Data de Julgamento: 
13/05/2015, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 19/05/2015 . Pág.: 365) 
 
20 
 
de culpa. Sendo a responsabilidade do empregador, para eximir-se da 
responsabilização, ele deve provar a inexistência de nexo causal, isto é, mostrar a 
ausência de relação entre a atividade desempenhada pelo empregado e as atividades 
da empresa. 
4.3 Responsabilidade do Estado 
 
Conforme artigo 37, §6º da Constituição Federal: “As pessoas jurídicas de 
direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão 
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o 
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” Sendo assim, a 
responsabilidade civil do Estado é objetiva (teoria do risco administrativo), com direito 
de regresso, e a dos agentes públicos é subjetiva, devendo ser comprovado o dolo ou a 
culpa. Exemplo: Acidente envolvendo uma viatura da Polícia Federal e um particular. A 
responsabilidade da União é objetiva e dos policiais subjetiva. 
Quando a responsabilidade do Estado for de guarda, a responsabilização por 
omissão precisa da comprovação da omissão (responsabilidade subjetiva). São 
exemplos: A responsabilidade pelo suicídio de um preso; A responsabilidade pelo 
acidente de uma criança em escola pública. 
4.4 Finalidades da objetivação da responsabilidade civil 
 
São três as principais finalidades da objetivação da responsabilidade civil: 
 Facilitação à atribuição de responsabilidade ao causador do dano: Exemplos: 
objetivação nas relações de consumo, onde os vulneráveis – os consumidores – 
não precisam demonstrar a culpa dos fornecedores. Facilitação da 
comprovação pelos empregados (mais vulneráveis da relação contratual) em 
caso de acidentes de trabalho, cabendo ao empregador demonstrar a 
inexistência de nexo causal. 
 
 Relevância ao pressuposto do risco inerente à atividade: Utilizada como 
fundamento para objetivação da responsabilidade daquele que se propõe a 
exercer determinada atividade empresarial. Justifica a responsabilidade 
objetiva da clínica empregadora do médico. 
 
 Imposição ao responsável de afastamento da culpa do agente ou da relação 
de vigilância pressuposta: Por exemplo, se um empregado, por ausência de uso 
dos meios de segurança adequados, os quais não foram fornecidos, deixa cair 
objeto sobre pessoa que passa na rua, a responsabilidade do empregador, 
 
21 
 
quem é responsável por afastar a culpa e possui o dever de vigilância sobre o 
empregado, é objetiva. 
4.5 Hipóteses de exclusão da responsabilidade objetiva 
 
São excludentes do nexo de causalidade, afastando a responsabilidade objetiva: 
A) Culpa exclusiva ou fato exclusivo da vítima 
B) Culpa exclusiva ou fato exclusivo de terceiro 
C) Caso fortuito: Totalmente imprevisível decorrente de ato humano ou evento 
natural 
D) Força maior: Evento previsível, mas inevitável ou irresistível 
A responsabilidade civil objetiva pode ter fundamento nas teorias: A) Do risco criado; 
(Agente cria o risco voluntariamente) B) Do risco administrativo; (Responsabilidade do 
Estado) C) Do risco-proveito; (agente retira do risco um proveito lucrativo) D) Do risco 
integral. 
Nessa última categoria citada, a do risco integral, nem mesmo as excludentes 
do nexo causal afastam a responsabilização civil, a qual é caracterizada mediante a 
simples comprovação do dano. É exemplo de atividade que assume o risco integral a 
exploração do meio ambiente, onde os responsáveis pela atividade devem responder 
por quaisquer danos causados, tratando-se de direito humano fundamental e de 
interesse público.

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