Buscar

Artigo Pena de multa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A importância da pena de multa e sua eficácia executiva 
 
Resumo: A pena de multa que, na legislação brasileira consiste no pagamento ao 
fundo penitenciário de quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa, configura-
se em importante tendência da política criminal contemporânea, sendo adequada à 
criminalidade de baixo relevo. Ademais, possui vantagens sobre a privação de liberdade, 
pois além de humanitária, tem força intimidatória nos crimes patrimoniais. Mas sua 
eficácia está diretamente relacionada com a forma de execução, que deverá, em respeito 
à sua essência de sanção criminal, ser promovida pelo Ministério Público, órgão 
legitimado pela Constituição Federal para o ingresso da ação penal pública, junto ao Juízo 
das Execuções Penais. 
Palavras-chave: pena de multa – importância – eficácia executiva – legitimidade 
ativa do Parquet – juízo competente 
 
Abstract: The penalty of fine, that, at the Brazilian legislation is to pay the fund's 
prison sentence in the amount established and calculated a daily fine, appears in an 
important trend in contemporary criminal policy, while appropriate to the crime of low 
relief. Besides, it has advantages over the deprivation of liberty, because it is 
humanitarian, even though as well it has intimidating force in property crimes. But their 
effectiveness is directly related to the performance mode, which should, in respect of the 
essence of criminal sanction, to be promoted by the prosecution legitimate body by the 
Federal Constitution for the entry of public prosecution, with the Chamber of Executing 
Criminal Penalties. 
Keywords: a fine – importance – effective executive – legitimacy active Parquet 
– competent court – financial penalty 
 
Sumário: 
1. Introdução. 
2. A importância da multa como sanção penal. 
3. Eficácia da pena de multa: um resultado da legitimidade ativa e do juízo competente 
para a sua execução. 
4. Conclusão. 
5. Referências. 
 
“A pena pecuniária é perfeitamente variável, desce até os primeiros degraus da 
escala penal; circunstância esta que a faz muito superior aos castigos corporais, que não 
prestam para castigar pequenos defeitos, porque sempre trazem consigo alguma sombra 
de infâmia enquanto nas penas pecuniárias não há outra vergonha mais do que a que 
resulta do convencimento do crime”. Jeremy Benthan. Teoria das Penas Legais e Tratado 
dos Sofismas Políticos 
 
1. INTRODUÇÃO 
A pena de multa, sanção de caráter patrimonial, que se subsume na diminuição do 
patrimônio do condenado através de uma prestação em dinheiro, tem assumido papel cada 
vez mais importante no cenário jurídico-criminal da atualidade. 
Na legislação brasileira, está prevista na Constituição Federal, em seu art. 5º, 
inciso XLVI, letra “c”, e no Código Penal encontra-se regulada no art. 49, consistindo no 
pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-
multa, sistema este introduzido pela reforma da Parte Geral do Código Penal de 1984. 
O Estatuto Penal pátrio, em seu art. 44, parágrafo 2º, autoriza a substituição da 
pena privativa de liberdade, em caso de condenação igual ou inferior a um ano, por multa 
ou por uma pena restritiva de direitos. Se a condenação for superior a um ano, a pena 
privativa de liberdade poderá ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa 
ou por duas restritivas de direitos. Trata-se da chamada “multa substitutiva”. Pode ainda 
ser aplicada nos tipos em que é cominada de forma isolada ou alternativa, ou 
cumulativamente à privação de liberdade naqueles que a abrigam em seu preceito 
secundário. 
A multa traz vantagens substanciais em detrimento da privação de liberdade e, 
somando-se às restritivas de direitos, constitui arcabouço punitivo de real eficácia, desde 
que bem aplicada e perfeitamente executada. 
Com o advento da Lei n. 9268/96, que transformou a pena de multa em dívida de 
valor, através da nova redação do art. 51, surgiu na doutrina e jurisprudência pátrias, um 
sério questionamento sobre a sua forma de pagamento e execução. 
Embora o art. 50 do Código Penal estabeleça que a multa deve ser paga dentro de 
10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença, ou ainda em parcelas mensais, 
conforme requerimento do condenado, permitindo também o desconto no seu vencimento 
nos casos específicos elencados no parágrafo 1º do mencionado dispositivo, o art. 51 reza 
que “transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de 
valor, aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda 
Pública”. 
Surgem, assim, dúvidas relevantes que concernem à subsistência do dispositivo 
penal inserto no art. 50, ou sobre a sua implícita revogação em face do novo comando do 
art. 51. E, sobretudo, sobre o juízo competente para efetuar a execução da pena pecuniária 
e a legitimidade do órgão que deve dar início à sua execução. 
Não se pode perder de vista que a solução a ser adotada em nível de competência 
do juízo e de legitimidade ativa para a execução da pena de multa terá séria repercussão 
na eficácia desta sanção, assunto que será analisado nas próximas linhas. 
 
2 A IMPORTÂNCIA DA MULTA COMO SANÇÃO PENAL 
A pena privativa da liberdade, considerada em meados do século XIX como o 
principal instrumento punitivo, vem se mostrando, na contemporaneidade, 
essencialmente ineficaz no combate à criminalidade e também na ressocialização dos 
condenados, e tem sido mantida, na legislação de diversos países democráticos, por 
absoluta falta de opção em casos de crimes graves e/ou agentes perigosos. 
Nesse passo, é salutar concluir que se houver possibilidade de aplicação de uma 
pena menos opressiva, a exemplo das restrições de direitos e da pena de multa, estas 
devem ser fixadas em detrimento da privação de liberdade.[1] 
Observa Alberto Silva Franco, acertadamente, que a postura legislativa no sentido 
de alargar sempre espaços para a pena pecuniária corresponde a uma tendência bem 
definida da moderna Política Criminal, que lhe dá “inquestionável primazia como tipo de 
sanção punitiva, adequada em relação à criminalidade de mínimo relevo e preferível no 
que tange à criminalidade de média importância”.[2] 
Luiz Regis Prado, por sua vez, atesta que entre as várias medidas de política 
criminal alternativa, a sanção pecuniária se destaca não só como a mais importante, mas 
também como a de utilização cada vez mais freqüente. Ressalta suas vantagens, ao 
afirmar que tem caráter aflitivo; que é divisível e flexível e se adapta às condições 
pessoais do condenado; que não degrada, não corrompe e não desonra a família do agente, 
ao contrário do presídio; que é econômica, porque evita gastos do Estado e se destina à 
manutenção dos estabelecimentos carcerários; e que é a mais reparável, pois pode ser 
devolvida em caso de erro judiciário.[3] 
Na doutrina, entretanto, levantam-se críticas à pena de multa. Basileu Garcia 
sustenta o fato de que a multa abastece “as arcas do tesouro nacional” às expensas do 
crime, que compete ao Estado prevenir, denotando-lhe certo cunho de “imoralidade”. 
Pontua que esse mesmo Estado se locupleta invocando a sua própria ineficiência.[4] 
Nesse pólo, Ferrajoli assegura que a pena pecuniária é uma pena aberrante sob 
vários pontos de vista: porque é impessoal, ou seja, duplamente injusta, “ao réu, que não 
a quita e se subtrai” e “qualquer um pode saldar”, em relação a um terceiro (amigo ou 
parente) que a paga e fica submetido à sanção por fato alheio; que é pena desigual[5], por 
recair de maneira diversamente aflitiva segundo o patrimônio, sendo fonte de intoleráveis 
discriminações no plano substancial; desproporcional por estar abaixodo limite mínimo 
que justifica a sua imposição, encontrando-se “destinada a ser percebida mais como um 
tributo do que como uma pena”.[6] 
Por primeiro, oportuno acentuar que o fato de o Estado auferir receita com o 
pagamento da pena de multa não o torna menos responsável com a prevenção da prática 
de delitos. Deve adotar, sim, as medidas necessárias para obstar a criminalidade, mas é 
certo que ilícitos penais sempre serão praticados, ainda que envide esforços no sentido de 
tomar úteis providências para impedi-los de se consumarem.[7] Desta maneira, é lícito ao 
agente que infringiu o ordenamento jurídico, desrespeitando as leis penais, contribuir para 
o sistema carcerário, o qual necessita de fundos para promover o sustento daqueles 
infratores que se encontram detidos, não havendo qualquer imoralidade em face dessa 
contribuição. 
O argumento de que a pena de multa pode ter repercussão na família ou em 
pessoas caras ao condenado não é suficiente para rechaçá-la como sanção penal. Há muito 
se tem conhecimento dos grandes prejuízos sofridos pelos familiares e outras pessoas 
próximas de réus condenados à pena de prisão. 
Também a alegação de que a pena de multa é desigual não encontra relevância, 
pois a depender do critério em que é adotada, na legislação, pode ser perfeitamente 
adstrita à situação econômica do condenado. Segundo o sistema de dias-multa, adotado 
no Código Penal pátrio, por exemplo, é possível proceder à individualização da pena de 
modo a considerar a situação econômica do agente em face do amplo espectro 
dimensionado ao valor do dia-multa, como disposto em seu art. 49.[8] 
É ainda importante ressaltar que sob a ótica do direito penal mínimo defendido 
por Ferrajoli, somente devem ser previstas e castigadas como delitos aquelas infrações 
relativamente graves. Daí entender-se sua posição no sentido de que nenhuma pena 
pecuniária pode ser considerada suficiente para sancioná-las de maneira adequada. 
Acentua Claus Roxin, em outro diapasão, que o princípio da subsidiariedade não 
está restrito à seleção das condutas típicas penais, mas se concentra também na seleção 
das penas. Assim, explicita: “De resto, o princípio da subsidiariedade também encerra 
todo um conjunto de exigências de reforma para a aplicação da pena; apenas mencionarei 
a substituição das penas privativas de liberdade de curta duração por multas, assim como 
admoestações e prestações de trabalho”.[9] 
Indubitavelmente acertada a posição do jurista alemão, pois embora deva o poder 
legislativo minimizar o acervo de infrações criminais que poluem os ordenamentos 
jurídicos de diversos países, importante se faz a reflexão sobre a necessidade de 
imposição de penas mais humanas e menos dispendiosas, como a pena de multa, 
adequada, sobretudo, aos crimes contra o patrimônio. 
Assim, a par das críticas assacadas contra a pena de multa, não se pode deixar de 
reconhecer que suas vantagens preponderam sobre as desvantagens. 
Com efeito, trata-se de pena que não retira o condenado do convívio com a 
comunidade, não o afasta do trabalho, com o qual mantém a si próprio e a sua família, 
nem de suas ocupações normais lícitas; tampouco o corrompe, pois evita sua inserção no 
meio deletério da prisão. Também não o avilta, por sua ausência de caráter infamante, 
além de atingir bem jurídico de menor importância que a liberdade. Preserva intacta a 
personalidade do condenado, possibilita melhor individualização judicial ao se fundar na 
sua situação econômica, e possui, sobretudo, força intimidatória, principalmente nos 
crimes patrimoniais, ao recair sobre bens econômicos que, na sociedade capitalista, são 
tidos de considerável valor.[10] 
Urge, entretanto, que a multa seja aplicada de forma adequada ao agente e sua 
periculosidade, às suas condições econômicas, e também à gravidade do crime praticado, 
para que atinja os reais fins de prevenção geral e especial, além da retribuição, que deve 
se pautar na medida de culpabilidade do infrator.[11] Ademais, sua eficácia também está 
diretamente relacionada com a infra-estrutura estatal no sentido de promover sua 
execução, sob pena de tornar-se sanção inócua. 
Daí a importância a ser creditada ao órgão legitimado para promover a sua 
execução e ao juízo competente para o seu processamento. 
 
 
 
3 A EFICÁCIA DA PENA DE MULTA: UM RESULTADO DA 
LEGITIMIDADE ATIVA E DO JUÍZO COMPETENTE PARA A SUA EXECUÇÃO 
O real propósito da Lei n. 9268/96, consoante se dessume da exposição de motivos 
n. 288, de 12 de julho de 1998, referente ao projeto que lhe deu origem (Mensagem 785), 
foi o de revigorar a execução criminal, consignando um procedimento adequado às 
dificuldades que se opunham à eficácia da pena de multa, como medida de combate à 
criminalidade patrimonial.[12] Nesse passo, não se pode conceber que o art. 50 do Código 
Penal tenha sido revogado pelo art. 51. O primeiro dispositivo persiste em vigor para os 
fins de possibilitar o pagamento da multa, no prazo de dez dias, ou o seu parcelamento, 
em prestações mensais, além de poder ser descontada no salário do condenado. E, como 
não poderia deixar de ser, tal procedimento preliminar à execução propriamente dita deve 
tramitar no Juízo da Execução Penal. Porém, muitas têm sido as discussões doutrinárias 
e jurisprudenciais sobre a parte legítima que deverá propor a ação executiva da pena de 
multa e do seu juízo competente. 
A primeira postura, adotada pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que 
segue importante segmento da doutrina, é no sentido de que a multa imposta em processo 
criminal passa a ser mera “dívida de valor”, e que exclui, nesse contexto, as atribuições 
do Ministério Público, o qual deixa de ser parte legítima para promover sua execução, 
concedendo-a ao Procurador da Fazenda, cujo processo deverá tramitar no juízo da 
Fazenda Pública. 
Damásio de Jesus afirma que a execução da pena de multa deixou, com a nova lei, 
de ser “atribuição do Ministério Público, passando a ter caráter extrapenal”, isto é, 
sustenta que “a multa permanece com sua natureza penal”, e que subsistem os efeitos 
penais da sentença condenatória que a impôs. Assevera, entretanto, que a execução é que 
se procede em termos “extrapenais”.[13] 
Em posição semelhante, Paulo José da Costa Júnior vocifera: “Pode-se afirmar, 
portanto, que a pena de multa será cobrada, na nova disciplina, como se crédito tributário 
fosse, mediante execução fiscal”.[14] 
Na mesma esteira de raciocínio, Luiz Regis Prado sinaliza que “houve, de 
conseguinte, a transferência para a Procuradoria da Fazenda Pública da titularidade da 
ação fiscal de cobrança da pena de multa”.[15] 
Alberto Silva Franco também se posiciona no sentido de que “diante dos termos 
explícitos do art. 51 do CP, não se compreende como possa estar, o Ministério Público, 
do ponto de vista ativo, legitimado para dar início à execução da pena pecuniária”. 
Inobstante, reconhece que “nasce um inconveniente, uma disfunção da execução da pena 
de multa pelos Procuradores da Fazenda, enquanto título da dívida ativa, consistente no 
fato de que não há interesse da Fazenda na execução de pequenos valores, o que 
descaracteriza a multa enquanto punição estatal, que visa a prevenção e repressão de 
delitos”.[16] 
Celso Delmanto, em posição oposta, atesta que em vista do caráter penal da multa, 
“a atribuição para promover a sua execução continua sendo do Ministério Público, perante 
a Vara das Execuções Criminais, aplicando-se a Lei n. 6.830/80”.[17] 
Cezar Bitencourt, por sua vez, preleciona que a Lei 9.268/96 não alterou a 
competência para a execução da pena de multa, que continua sendo regulada pelos 
dispositivos da LEP. Pontua que a nova redação do art. 51 nãofaz referência à inscrição 
na dívida ativa da Fazenda Pública, mas tão-somente determina a aplicação das regras 
atinentes à execução da dívida ativa da Fazenda Pública, fato que não desnatura a pena 
de multa enquanto sanção criminal, a qual deve respeitar os princípios constitucionais 
penais.[18] 
Na mesma linha de intelecção, Rogério Greco afirma que mesmo sendo a multa 
considerada dívida de valor pelo art. 51 do Código Penal, não perdeu a sua natureza de 
sanção penal, além de não ter ocorrido qualquer mudança no que tange a competência do 
juízo para a sua cobrança, que deverá ser operada nos trâmites da Lei de Execução Fiscal, 
sendo o Ministério Público legitimado para a sua propositura.[19] 
Guilherme Nucci textualiza: “Segundo nos parece, deveria ser executada pelo 
Ministério Público, na Vara das Execuções Penais, embora seguindo o rito procedimental 
da Lei 6.830/80, naquilo que for aplicável”. Assevera que no estado de São Paulo a sua 
execução vem sendo realizada pela Procuradoria Fiscal, na Vara de Execuções Fiscais, 
levando a vários inconvenientes, dentre eles, o de que embora a multa penal deva ser 
cobrada com todo o empenho, pois se trata de sanção criminal, o excesso de execuções 
fiscais e os valores baixos das multas estabelecidas desestimulam os procuradores e 
demais agentes a promover a efetiva cobrança. Ademais, ressalta que a certidão de dívida 
ativa não contém dados do processo criminal que a originou, de modo que, quando o 
executado morre, não se sabe a quem remeter o feito para que seja julgada extinta a 
punibilidade. Registra que, na prática, a execução vem sendo arquivada, permanecendo 
em aberto a questão penal.[20] 
Ora, mesmo sendo considerada “dívida de valor” pela legislação vigente, a multa 
não perdeu sua natureza de sanção penal, como reconhece a doutrina majoritária. E como 
“dívida de valor” tem, em suma, apenas três conseqüências: a multa não poderá ser 
convertida em pena privativa de liberdade; a sua execução deverá seguir o rito das 
execuções fiscais, como bem estabelece o art. 51 do Código Penal; por fim, a atualização 
monetária da pena de multa deverá ser procedida conforme a lei fazendária. Nesse 
raciocínio, permanece inalterado o juízo competente para a sua execução e o órgão 
legitimado para promovê-la. 
É importante observar ainda que, antes da edição da Lei 9.268/96, a execução da 
pena de multa seguia as disposições do art. 164 da Lei de Execução Penal, em cuja leitura 
se observa a regulação dos trâmites estabelecidos pelo Código de Processo Civil. Rogério 
Greco[21] adverte, com sapiência, que jamais se disse, por isso, que sua execução deveria 
competir às Varas Cíveis, a não ser quando a penhora viesse a recair sobre bem imóvel, 
hipótese em que os autos apartados deveriam ser remetidos ao juízo cível para o 
prosseguimento da execução, conforme inteligência do art. 165, da LEP. 
Saliente-se, como bem observado por Guilherme Nucci, que o Procurador da 
Fazenda, estando à frente da execução de uma pena de multa, não possui o empenho 
necessário para a cobrança, pois os baixos valores fixados na sentença pelo Juiz Criminal 
são tidos como irrisórios e, muitas vezes por motivos administrativos, deixados de serem 
executados. 
Um exemplo dessa situação é o Decreto n. 7.343, de 27 de maio de 1998, do 
Estado da Bahia, que autoriza o não ajuizamento de execuções fiscais de pequeno valor. 
In verbis: “Art. 1º. Fica a Secretaria da Fazenda do Estado autorizada a não ajuizar 
execuções fiscais de valor inferior a 100 UPF’s”.[22] 
Outrossim, o argumento que fulmina qualquer discussão a respeito do tema está 
na própria Constituição Federal. Diz o art. 129, inciso I: “São funções institucionais do 
Ministério Público: I – Promover, privativamente, ação penal pública, na forma da lei”. 
Nesse passo, há de se refletir sobre a execução das penas em geral, incluída a pena de 
multa. 
Sem dúvida que a execução de um título judicial, tanto no juízo cível como no 
criminal, pertence ao vencedor da demanda, parte ativa legítima da fase jus-satisfativa. 
Ainda que haja uma relação de autonomia entre o processo de conhecimento e o de 
execução, na seara penal, existe uma relação instrumental entre ambos. E quando a 
Constituição Federal dispõe que compete ao Ministério Público, “privativamente”, 
promover a ação penal pública, ao mesmo órgão compete a execução da sentença 
condenatória. 
Nessa porfia, o fato de deslocar a legitimidade processual, na fase executória, para 
a Fazenda Pública, viola, frontalmente, a atribuição ministerial privativa que lhe foi 
conferida pela Carta Magna, além de transferir, de forma equivocada, a implementação 
de sanção penal ao Juízo das Execuções Fiscais, pois a multa penal não deve ser encarada 
como mero crédito fazendário. 
Foi com esse espírito que o então Procurador Geral da República, Cláudio 
Fonteles, ingressou, em 2004, com a ADI n. 3150, com o escopo de a Corte Suprema dar 
interpretação conforme a Constituição ao art. 51 do Código Penal, em face da redação 
que lhe foi estabelecida pela Lei n. 9.268/96. Observa-se, contudo, que esta ação ainda 
não foi julgada, encontrando-se conclusa ao seu Relator, Ministro Marco Aurélio, desde 
a data de 17.06.2008.[23] 
No entanto, os argumentos expendidos na aludida ação já foram aceitos pelo 
Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial n. 699286/SP, da relatoria do Min. José 
Arnaldo da Fonseca, cuja ementa segue transcrita: 
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. EXECUÇÃO PENAL. 
MULTA. COMPETÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERPRETAÇÃO DO 
ART. 51 DO CP, COM ALTERAÇÃO DADA PELA LEI 9.268/96. Nos termos do art. 
129, I, da Constituição Federal, cabe ao Ministério Público, enquanto titular da ação 
penal, promover a execução da pena de multa, perante o Juízo das Execuções Penais. 
Recurso desprovido.” (REsp 699.286/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA 
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 08/11/2005, DJ 05/12/2005 p. 369).[24] 
Os ministros da 5ª Turma do STJ encamparam, nesse julgado, à unanimidade, as 
razões da Subprocuradora-Geral da República, Célia Regina Souza Delgado que, 
invocando os ensinamentos de Hugo Nigro Mazzilli, pontuou que a pena de multa não 
perdeu, em face da nova redação do art. 51, o caráter sancionatório penal, embora seja 
considerada “dívida de valor”, e decidiram que o Ministério Público é parte legítima para 
promover sua execução perante o Juízo das Execuções Criminais. 
Percebe-se que esse posicionamento respeita a essência da multa como “pena”, 
preservando o seu próprio conteúdo e, por conseqüência, suas funções intrínsecas que se 
subsumem na retribuição, na prevenção geral e especial, deixando de considerá-la, por 
pífias conjunções utilitárias, um mero crédito da Fazenda Pública. 
Como diz Edmund Husserl: “em toda a esfera fenomenológica, não há acasos, 
nem facticidades, tudo é precisamente motivado por essência”. [25] Assim o é também 
com a “multa-pena”, fenômeno cultural em que se vislumbra, através da consciência 
racional, seu caráter originário. 
 
4. CONCLUSÃO 
A pena de multa é importante ferramenta do direito penal contemporâneo a ser 
utilizada com os fins de evitar o encarceramento de autores de pequenos delitos por prazo 
de curta duração, sendo de potencial eficácia quando aplicada em delitos patrimoniais a 
agentes que não apresentam periculosidade social. 
Possui legitimidade ainda que o Estado seja responsável pela prevenção de crimes, 
pois os membros de uma sociedade também são responsáveis pelas desordens que 
promovem, e devem contribuir para o restabelecimento da paz coletiva com o seu 
patrimônio. 
A problemática que surgiu em face da edição da Lei n. 9268/96, que deu nova 
redação ao artigo51 do Código Penal, tornando-a dívida de valor, deve ser resolvida com 
base na Constituição Federal, que confere legitimidade ativa ao Ministério Público para 
o ingresso da ação penal pública e, conseqüentemente, à sua execução. 
A eficácia da pena de multa está fundamentalmente ligada à sua adequada 
execução, que deverá ser promovida pelo Ministério Público, no respectivo Juízo das 
Execuções Penais, em absoluto respeito à sua real essência de sanção criminal. 
 
Referências 
[1] Observa-se que as primeiras críticas ao sistema prisional quanto às penas 
detentivas de curta duração de que se tem notícia foram encetadas pelo Programa de 
Marburgo, em 1882, por Franz Von Liszt, quando este afirmou que da forma como 
costumam ser aplicadas, “elas não corrigem, não intimidam, nem põem o delinqüente fora 
de prejudicar e, ao contrário, muitas vezes encaminham para o crime o delinqüente 
novel”. Assevera resultar daí a exigência de que o legislador substitua as pequenas penas 
de prisão por outras medidas adequadas.(LISZT, Franz Von. Tratado de Direito Penal 
Alemão. Tradução de José Higino Duarte Pereira. Campinas: Russel, 2003, v.1, p. 153). 
2 FRANCO, Alberto Silva. Temas de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 
159-160. 
3 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral, v.1.São 
Paulo: RT, p. 565. 
4 GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal, v.1, t 2. 7. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2008, p.65. 
5 Luiz Regis Prado esclarece que a “objeção de que a multa é desigual não se 
dirige, na verdade, à teoria da multa, mas antes à sua organização defeituosa”, o que 
carece de importância, hodiernamente, em vista da utilização do sistema apropriado. 
(PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral, v.1.São Paulo: RT, 
p. 565-566). 
6 FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. Tradutores 
Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes. São Paulo: 
RT, 2002, 334. 
7 Claus Roxin pontua com acerto que “nunca será possível acabar completamente 
e para sempre com a criminalidade”, mas que tal constatação não desvincula a sociedade 
da obrigação que possui com relação ao delinqüente. Se ele é co-responsável pelo bem-
estar da comunidade, ela também tem responsabilidade pela sua sorte. (ROXIN, Claus. 
Problemas Fundamentais de Direito Penal. Tradução de Ana Paula dos Santos Luís 
Natscheradetz. 3. ed. Lisboa: Veja, 2004, p. 43). 
8 Antes da Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984, que procedeu à Reforma da parte 
geral do Código Penal de 1940, os preceitos secundários dos tipos penais especificavam 
os valores correspondentes à pena de multa, o que levava à completa ineficácia da pena 
de multa em virtude da inflação, que sempre dominou o País. Após a edição desta Lei, 
passou a viger o “sistema dias-multa”, através do qual a pena será de, no mínimo, de dez 
(10) e, no máximo, de trezentos e sessenta (360) dias-multa, sendo que o valor do dia-
multa será fixado pelo juiz, não podendo ser inferior a um trigésimo do valor do salário 
mínimo mensal vigente à época do fato, nem superior a cinco vezes esse salário (art. 49, 
§ 1º, do CP). Desta maneira, a pena de multa passou a estar sempre atualizada com 
relação aos valores monetários. 
9 ROXIN, Claus. Problemas Fundamentais de Direito Penal. Tradução de Ana 
Paula dos Santos Luís Natscheradetz. 3. ed. Lisboa: Veja, 2004, p. 40. 
10 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2007, 
p.692. 
11 Para Roxin, a culpabilidade assume um conceito limitador da pena, ou seja, 
age no sentido de preservar o homem dos abusos do poder do próprio Estado, sendo, 
inclusive, possível aplicar-se uma pena inferior à culpa, com respaldo no princípio da 
solidariedade quando, no caso concreto, houver possibilidade de restauração da paz 
pública com sanções menos graves. (ROXIN, Claus. Problemas Fundamentais de Direito 
Penal. Tradução de Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz. 3. ed. Lisboa: Veja, 2004, 
p. 40). 
12 BRASIL. Exposição de Motivos n. 288, de 12.06.1995. Mensagem 785. As 
Mudanças na Lei Penal: Boletim IBCCrim 33/77, set. 1995. 
13 JESUS, Damásio Evangelista de. Comentários ao Código Penal. 20. ed. São 
Paulo: Saraiva, 1997, p. 533. 
14 COSTA JR., Paulo José da. Curso de Direito Penal. 8. ed. São Paulo: DPJ, 
2005, p. 171. 
15 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral, v.1.São 
Paulo: RT, p.567-568. 
16 FRANCO, Alberto Silva. Código Penal e sua Interpretação: doutrina e 
jurisprudência. 8.ed. São Paulo: RT, 2007, p. 332. 
17 DELMANTO, Celso; DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, 
Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Código Penal Comentado. 7. ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2007, p. 178. 
18 BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas Penas Alternativas: análise político-
criminal das alterações da Lei n. 9.714/98. São Paulo: Saraiva, 1999, 160-161. 
19 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. Niterói: Impetus, 2007, 
p. 555. 
20 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral-parte 
especial. 4.ed. São Paulo: RT, 2008, p.426-427. 
21 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. Niterói: Impetus, 2007, 
p. 555. 
22 BAHIA, Decreto n. 7.343, de 27 de maio de 1998. Disponível em: 
1998http://www2.casacivil.ba.gov.br/NXT/gateway.dll?f=templates&fn=default.htm. 
Acesso em: 03 mai. 2009. 
23 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI/3150. Rel. Min. Marco Aurélio, 
Brasília, DF. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=3150&class
e=ADI&codigoClasse=0&ORIGEM=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=> Acesso em: 
24 abr. 2009. 
24 BRASIL.Superior Tribunal de Justiça. REsp 699286. Relator: Min. José 
Arnaldo da Fonseca. Quinta Turma, do Tribunal de Justiça de São Paulo . Brasília, DF, 
08.11.2005. Disponível em: 
http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=MULTA+E+PENAL+E+CO
MPET%CANCIA+E+LEGITIMIDADE&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=6# Acesso 
em: 24.abr.2009. 
25 A essência do fenômeno “pena” aqui invocada encontra explicação na 
“Fenomenologia Pura”, de Edmund Husserl, corrente filosófica que compreende os 
fenômenos através da observação da realidade ou da verdadeira “categoria do ser”. 
(HUSSERL, Edmund. Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia 
fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura. Tradução: Márcio Suzuki. 
Aparecida-SP: Idéias & Letras, 2006. Capítulo II, p. 303). 
 
Informações Sobre o Autor 
Sheilla Maria da Graça Coitinho das Neves - Procuradora de Justiça do Ministério Público 
da Bahia. Mestra em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia. Especialista em 
Processo Civil e Penal pela Fundação Faculdade de Direito da Universidade Federal da 
Bahia. Professora convidada do Curso de Especialização em Ciências Criminais da 
Universidade Federal da Bahia e do Programa de Capacitação e Educação em Direitos 
Humanos da Fundação Escola Superior do Ministério Público da Bahia. Ex-Professora 
de Direito Penal da Faculdade 2 de Julho

Outros materiais

Perguntas Recentes