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Aula 08 Características > Pesquisa estética, cuidado formal; > Renovação das formas de expressão literária – tanto na prosa quanto na poesia; > Temática humana universal; poder de significação da palavra e do texto. AUTORES Psicologia da Composição Não a forma encontrada como uma concha, perdida nos frouxos areais como cabelos; não a forma obtida em lance santo ou raro, tiro nas lebres de vidro do invisível; mas a forma atingida como a ponta do novelo que a atenção, lenta, desenrola, aranha; como o mais extremo desse fio frágil, que se rompe ao peso, sempre, das mãos enormes. (...) Morte e Vida Severina O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. (...) Mas isso ainda diz pouco: Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte Severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte Severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). > Laços de Família – contos (1960) - Treze contos que, por meio do fluxo de consciência, traduzem o universo íntimo das personagens; personagens flagradas no momento em que, a partir do cotidiano banal, alcançam o lado misterioso da existência humana (epifanias). > A Hora da Estrela (1977) - Narração em dois planos: narrador Rodrigo S. M. decide escrever uma novela sobre uma jovem migrante nordestina, Macabéa. Questiona-se sobre seu estilo narrativo e sua capacidade de compreensão da personagem principal (metanarrativa). No segundo plano, acompanhamos a trajetória medíocre de Macabéa, uma jovem alagoana que migrou para o Rio de Janeiro. A inexistência da identidade da protagonista e sua incompreensão dos valores que regem a cidade grande marcam sua vida. Após uma consulta a uma cartomante, Macabéa é atropelada, vindo a falecer e a ter seu momento de fama, sua “hora da estrela”. > Trecho de “Paixão Segundo G. H.” "É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. (...) Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar". > Primeiras Estórias (Contos; 1962) - Livro de contos nos quais predominam o insólito e o ilógico. > Corpo de Baile (Novelas; 1956): novelas de forte e impressionante lirismo. Aqui, a confluência entre prosa e poesia é bastante notada; o processo de criação e o experimentalismo da linguagem atingem grande momento. - Manuelzão e Miguilim: constam “Campo Geral” e “Uma história de amor”. - No Urubuquaquá, no Pinhém: se encontram “Lélio e Lina”, “O recado do morro” e “Cara de bronze”. - Noites do Sertão: composta por “Dão-lalalão” e “Buriti”. > Grande Sertão: Veredas (Romance; 1956) - Relato oral de Riobaldo (memória + reflexes) - Interlocutor oculto - Joca Ramiro X Hermógenes - Pacto com o Diabo - Riobaldo ♥ Diadorim Exercícios 01. Leia o texto abaixo. A Hora da Estrela (Clarice Lispector) A moça tinha ombros curvos como os de uma cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se realizaria muito mais se se desse ao delicado labor de restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não o era. Não sabia que era infeliz. (...) Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão - os maus antecedentes de que falei. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins do sertão do Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas. (...) Macabéa era na verdade uma figura medieval enquanto Olímpico de Jesus se julgava peça-chave, dessas que abrem qualquer porta. Macabéa simplesmente não era técnica, ela era só ela. (...) Mas Macabéa de um modo geral não se preocupava com o próprio futuro: ter futuro era luxo. Sobre A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, é correto afirmar que (A) Macabéa é uma nordestina retirante, e o desfecho de sua história é semelhante ao de Fabiano e Sinhá Vitória, personagens de Graciliano Ramos. (B) a heroína do livro, como a maioria dos brasileiros em situação de privação, se revolta contra as injustiças. (C) a narrativa mistura vários planos de realidade, que permitem uma visão multifacetada da personagem central. (D) a escritora usa uma linguagem técnica com predomínio de termos exatos, para advertir sobre problemas sanitários brasileiros. (E) a narrativa põe em destaque a disposição de Macabéa em lutar pela igualdade e pela ascensão social. 02. Leia os trechos abaixo, extraídos do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. 1. "O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam." 2. "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego [...] Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu - ; e com máscara de cachorro." 3. "O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: [...] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade." 4. "Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder." 5. "[...] sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que issoseja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois." Associe adequadamente as seis afirmações abaixo com os cinco fragmentos transcritos acima. (__) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim, Riobaldo procura entender a diferença desse amor importo pelo destino. (__) O narrador busca definições exemplares do sertão, espaço que não se pode dimensionar. (__) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão sinais da existência de um interlocutor presente. (__) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua região, narrando o seu desejo de compreender os sentimentos e as forças que movem a vida humana. (__) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos episódios vividos pelos seres humanos. (__) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do pacto, pode assumir várias formas, como as de animais. A sequencia correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é (A) 3-2-5-4-1-3. (B) 5-3-2-4-1-2. (C) 4-2-3-1-5-4. (D) 5-3-4-2-2-1. (E) 4-1-3-1-5-2. Instrução: Leia atentamente o poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto: A educação pela pedra Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições de pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma. (MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 21.) 03. Assinale a alternativa que NÃO traduz uma leitura possível do poema acima: (A) O poeta apreende da pedra a própria vivência na vida agreste do Sertão: de austeridade, resistência silenciosa e sempre capaz de dar lições de vida e de poesia. (B) Os versos metalinguísticos revelam a própria poética cabralina: concreta, impessoal, concisa, embora profundamente social. (C) Ao partir do pressuposto de que a pedra é muda, e, portanto, não ensina nada, o poeta suscita uma reflexão sobre a situação educacional precária no Nordeste. (D) O eu lírico também apreende da pedra os próprios versos enxutos, num esforço de dissecação de quaisquer sentimentalismos. (E) No poema, de intensa economia verbal, a pedra faz-se metáfora da paisagem do Sertão, que “entranha a alma”, e espelha o fazer poético do autor pernambucano. Instrução: Leia o texto abaixo para responder à questão 04. “Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía. As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o, E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem pra meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo” (LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina) 04. Sobre o texto de Clarice Lispector seria CORRETO afirmar que: (A) A narradora do conto demonstra seu descontentamento com o ideia de que a leitura seja capaz de transformar as atitudes de sua antagonista, pois mesmo após ter lido diversos livros, inclusive os de Monteiro Lobato, a mesma não demonstra qualquer sensibilidade aprimorada. (B) A felicidade clandestina citada no título está relacionada ao fato de que a verdadeira ansiedade da protagonista era rever a garota que, muitas vezes, tratava-a de maneira humilhante, mesmo que para isso tivesse de usar como desculpa em fato corriqueiro, como o empréstimo de um livro, estabelecendo uma relação de amizade quase sadomasoquista entre ambas. (C) A narradora do conto é um exemplo claro das personagens claricianas, pois em sua introspecção e em seu amor pela leitura é capaz de suportar até mesmo as piores humilhações para ter em sua posse um objeto ao qual atribui poderes quase transcendentais, capazes de gerar uma epifania na protagonista. (D) A personagem central parece sentir-se secretamente aliviada ao constatar que o livro já tinha sido emprestado a outra escola, uma vez que o mesmo era “um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele”. Dessa sensação vem o título que Clarice Lispector dá ao texto, uma vez que a protagonista sabe que deveria ler obrigatoriamente a obra e o fato de escapar da mesma é felicidade clandestina. (E) A verdadeira crueldade exposta no texto de Clarice é representada pela continua insistência da protagonista em torturar sua colega, pedindo-lhe repetidamente o empréstimo do livro que já sabia estar de posse de outra pessoa, humilhando assim a amiga que prometera o que não poderia cumprir. 05. Sobre Guimarães Rosa, considere as afirmações abaixo. I. Situa sua obra na paisagem mineira, manifestando preocupações de ordem metafísica e valendo-se de uma linguagem inventiva, rica em neologismos, formas de oralidade e liberdades linguísticas. II. O sertão, na obra do autor, pode ser visto como a metáfora do mundo, pois nele têm lugar reflexões que, poeticamente, transcendem a realidade regional e social. III. É um regionalista que se atém à descrição da paisagem mineira e ao falar mineiro, tendo a sua obra a mesma dimensão pitoresca daquelas realizadas pelos regionalistas anteriores. Quais estão corretas? (A) Apenas I. (B) Apenas I e II. (C) Apenas I e III. (D) Apenas III. (E) I, II e III. Gabarito 1 – C 2 – B 3 – C 4 – C 5 – B
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