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Arbitragem em direito societário Pedro A. Martin fls. 1 até 119
MACKENZIE
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em várias jurisdi- ções, e mesmo naquelas em que o tema é tratado as questões jurídicas atinen- tes à arbitrabilidade subjetiva e/ ou objetiva é e continuará sendo objeto de muito debate pelos operadores do Direito. Se, por um lado, a difusão da arbitragem societária é fato inquestionável, de outro, com o surgimento dos conflitos a prática arbitral necessitará valer-se dos estudos teóricos disponíveis na literatura jurídica que, diga-se a bem da verdade, não são muitos. 22- ARBITRACFM NO DIRFITO SOCIITÁRIO E, nesse ponto, funde-se a originalidade teórica e prática do presente trabalho aliada à escassez de material escrito, notadamente de livros específi- cos e, mesmo, de artigos sobre o tema. Registre-se, nesse sentido, a divergência ou a indefrnição em ambos os sistemas jurídicos - espanhol e brasileiro - quanto ao alcance da cláusula de arbitragem a toda a comunidade de acionistas, nomeadamente àqueles que não concordaram expressamente com a sua introdução nos estatutos sociais. Dado que na Espanha o direito positivo é silente (conferir Nota do Autor), o presente estudo buscou demonstrar, de lege ferenda, através de análise histórica, jurisprudencial e doutrinária o melhor sistema de Direito a ser adotado. O mesmo se pode dizer quanto ao interesse jurídico brasileiro, haja vista que a única disposição legal existente não pôs fim aos debates e às dúvidas que a matéria encerra. Com efeito, no caso brasileiro, de lege lata, o estudo expressa originalida- de ao buscar extrair do criticado e discutido dispositivo legal uma gênese e um alcance favorável à tese defendida. Com a análise da jurisprudência existente e da doutrina, o presente tra- balho objetiva nortear o contorno e o alcance jurídico de eventual e futura regra legal a ser lançada no direito espanhol, bem como direcionar a interpre- tação do existente sistema jurídico brasileiro. Sob o ângulo de projeção prática, ainda se demandará tempo para que os tribunais e a doutrina se aproximem, razoavelmente, de um ponto de convergência. Ademais, a par do sofrido tema da arbitrabilidade subjetiva, o presente estudo enfrenta matéria, não especificamente nas duas jurisdições, qual seja, a das controvérsias societárias passíveis de submissão à arbitragem (arbitrabili- dade objetiva). Dada a ausência de previsão legal expressa tanto no direito espanhol quanto no brasileiro1, ao presente estudo se impõe uma análise menós legalis- ta e mais jurídico-interpretativa dos tópicos nele contidos. Neste ponto, é importante mencionar que se trata, por conseguinte, de um trabalho mais restrito ao Direito Internacional do que ao Direito Compa- Como salientado, a previsão legal brasileira merece interpretação sistemática c profunda dada a generalidade de seu conteúdo que não toca na seara da arbitrabil idade objetiva. PEDRO A. BATISTA MARTINS - 23 rado, embora o tema se trate sempre de uma "zona cinza" na delimitação de disciplinas jurídicas nos trabalhos de pesquisa. Segundo Palao Taboada, "cada comparatista debe ser también un internacionalista, ya que, de otro modo, aquél no puede tener una idea exacta de la medida en que las diferencias de derechos pueden constituir un obstáculo en las relaciones internacionales. Se ha dicho, asimismo que todo internacionalista deberia ser comparatista"2• A ausência de regras próprias e objetivas nos direitos espanhol e brasileiro sobre os dois grandes tópicos da presente tese - arbitrabilidade subjetiva e obje- tiva no direito societário - conduz o trabalho mais para o campo do estudo de Direito estrangeiro, com a análise de ordenamentos jurídicos particulares, resul- tando de suas descrições dados ilustrativos e informativos que possibilitarão nortear as ideias e construções jurídicas apresentadas e defendidas nesta tese. Para a elaboração deste trabalho foram examinadas fontes normativas ' nomeadamente as leis societárias e de arbitragem brasileira e espanhola, e dou- trina e jurisprudência desses e de alguns outros países. Do ponto de vista de sua estrutura, a presente investigação se divide, basicamente, em três partes. A primeira traz uma abordagem filosófica do instituto da arbitragem que, a par de encerrar uma introdução, estende suas reflexões para a melhor compreensão dos seus paradigmas visando com isso nortear a interpretação dos temas que se abordarão à frente. Nele se analisam questões históricas, conceituais e dogmáticas atinentes à justiça, à liberdade e à regra de coexistência em sociedade, elementos rele- vantes na defesa deste trabalho. Como intróito ao tema da arbitragem no campo das sociedades anônimas, o Capítulo 2 apresenta as principais teorias relacionadas à natureza jurídica de tais sociedades de forma a demonstrar, conceitualmente, que a arbitragem com elas se harmonizam, não obstante a tese ou corrente doutrinária que se adote. A natureza jurídica das sociedades anônimas não é fator prejudicial ao uso da arbitragem como método de solução das disputas interna corporis. Partindo-se, portanto, de uma visão mais ampla e filosófica, o estudo passa a reduzir seu foco para a seara das sociedades anônimas, no que diz com 2 Cf. Palao Taboada, C. "EI Método Comparativo en el derecho Tributaria" . In: Estudios Jurídicos en Memoria de Don César Albiriana Carcia-Quintana Vil lar Ezcurra Marta (dir) Madrid IEF 2008, p. 76. . ' ' ' ' 24- ARBITRAGEM NO DIREITO SOCIETÁRIO as correntes doutrinárias existentes ao redor de sua natureza jurídica e, ato contínuo, já em seu Capítulo 3, aborda, especificamente, a matéria da arbitra- bilidade subjetiva no tocante à cláusula compromissória estatutária. Para tanto, inicia-se o estudo com uma parte histórica e conceitual que leva o·intérprete a encarar a importância das sociedades anônimas no contexto do comércio e da economia mundial e o tripé que a sustenta. Desse tripé extrai-se a relevância para as anônimas do princípio da maioria, elemento central do desenvolvimento do trabalho e das-conclusões quanto à validade e eficácia da cláusula de arbitragem introduzida por maioria nos estatutos sociais. O estudo desse princípio é apresentado sob o seu prisma histórico e contemporâneo. É analisada a evolução legislativa e posta à luz a forte doutri- na de suporte ao pressuposto majoritário. Ainda nesse mesmo capítulo, torna-se imperioso traçar as esferas legais que limitam o poder de controle de modo a se demonstrar a legalidade do voto majoritário proferido no âmbito de seu restrito escopo. O exercício desse direito nos estritos limites legais resta por sufragar a vontade majoritária. A dogmática jurídica que norteia o controle do exercício desse poder foi posto à mostra. Passa-se, a seguir, a uma análise interpretativa e conceitual do eventual ponto de confronto entre os pressupostos essenciais da arbitragem e da socie- dade anônima de modo a se investigar qual das disciplinas deve prevalecer. Esse estudo se faz necessário frente ao preceito da autonomia da vontade e o pressuposto majoritário que norteiam cada qual dos institutos e que, aparen- temente, podem restar confrontados. Em suporte à tese da prevalência do princípio majoritário, é importante salientar, como feito no trabalho através de informes governamentais, dentre outras argumentações, as regras de governança corporativa que hoje são esti- muladas e não raro impostas às sociedades anônimas abertas. Foi o que se procurou demonstrar. Como preliminar ao tema da validade e eficácia da cláusula compromis- sória estatutária inserida por maioria, o trabalho enfrentou, para afastar, a ques- tão da natureza de adesão dos estatutos sociais. Feita essa inicial análise histórica, dogmática e conceitual, passou-se ao tema específico da arbitrabilidade subjetiva no que toca aos acionistas da so- PEDRO A. BATISTA MARTINS - 25 ciedade, estendendo-o, inclusive,