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As origens do pensamento grego - Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins

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J.-P. Vernant, As origens do pensamento grego, p. 42. in Filosofando
Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins
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Os pré-socráticos
	Os primeiros filósofos viveram por volta do século VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos (a divisão da filosofia grega se centraliza na figura de Sócrates) e agrupados em diversas escolas. Por exemplo, escola jônica(Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Empédocles). escola itálica (Pitágoras), escola eleática (Xenófanes, Parmênides, Zenão); escola atomista (Leucipo e Demócrito).
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Os pré-socráticos ou Milésios
	Os escritos dos filósofos pré-socráticos desapareceram com o tempo, e só nos restam alguns fragmentos ou referências feitas por fi lósofos posteriores. Sabemos que geralmente escreviam em prosa, abandonando a forma poética característica das epopéias dos relatos míticos 
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É interessante notar que, enquanto Hesíodo, ao relatar o princípio do mundo (cosmogonia) e dos deuses (teogonia), refere-se a sua gênese ou origem, as preocupações dos primeiros pensadores levam à elaboração de uma cosmologia, pois procuram a racionalidade do universo. 
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Isso significa que, ao perguntarem como seria possível emergir do Caos um "cosmos" - ou seja, como da confusão inicial surgiu o mundo ordenado -, os pré-socráticos procuram o princípio (a arché) de todas as coisas, entendido este não como o que antecede no tempo, mas enquanto fundamento do ser.
Buscar a arché é explicar qual é o elemento constitutivo de todas as coisas.
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O surgimento da Filosofia
A filosofia surgiu no século VI a.C. nas colônias gregas da Magna Grécia e da Jônia. Só no século seguinte desloca-se para Atenas, centro da fermentação cultural
 do período clássico.
As respostas dos filósofos à questão do fundamento das coisas são as mais variadas. Cada um descobre a arché, a unidade que pode explicar a multiplicidade: para Tales é a água; para Anaximenes é o ar; para Demócrito é o átomo; para Empédocles, os famosos quatro elementos, terra, água, ar e fogo, teoria aceita até o século XVIII. quando foi criticada por Lavoisier.
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Mito e filosofia: continuidade e ruptura
Já podemos observar a diferença entre o pensamento mítico e a filosofia nascente: os filósofos divergem entre si e a filosofia se distingue da tradição dogmática dos mitos oferecendo uma pluralidade de explicações possíveis. 
Assim justificamos a perspectiva comumente aceita da ruptura entre mythos e logos (razão).
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No entanto, estudiosos como Cornford se preocuparam em encontrar os elementos que, apesar das diferenças, mostrassem como o pensamento filosófico nascente ainda tinha vinculações com o mito. 
Segundo Vernant, Cornford observou que a física jônica é a expressão do pensamento filosófico racional e abstrato, pois recorre a argumentos e não a explicações sobrenaturais.
No entanto, se a atitude do filósofo o distingue do homem mítico, o conteúdo da filosofia permanece semelhante ao do mito, e dele o aproxima.
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Por exemplo, Hesíodo relata na Teogonia como Gaia (Terra) gera sozinha, por segregação, o Céu e o Mar; depois, a união da Terra com o Céu, presidida por Eros (princípio de coesão do Universo), resulta na geração dos deuses. 
Ora, examinando os textos dos filósofos jônicos, Cornford descobriu neles a mesma estrutura de pensamento existente no relato mítico: os jônios afirmam que, de um estado inicial de indistinção, separam-se pares opostos (quente e frio, seco e úmido) que vão gerar os seres naturais (o céu de fogo, o ar frio, a terra seca, o mar úmido), 
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Para os filósofos, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união dos opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo que vive.
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	Portanto, na passagem do mito à razão, há continuidade no uso comum de cenas estruturas de explicação. 
	Na concepção de Cornford não existe "uma imaculada concepção da razão", pois o aparecimento da filosofia é um fato histórico enraizado no passado.
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Embora existam esses aspectos de continuidade, a filosofia surge como algo muito diferente, pois resulta de uma ruptura quanto à atitude diante do saber recebido, Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. 
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Enquanto no mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos.
A filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, o debate e a discussão, organiza-se em doutrina e surge, portanto, como pensamento abstrato.
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Na nova abordagem do real caracterizada pelo pensamento filosófico, podemos ainda notar a vinculação entre filosofia e ciência. O próprio teor das preocupações dos primeiros filósofos é de natureza cosmológica. de maneira que, na Grécia Antiga, o filósofo é também o homem do saber científico. 
Só no século XVII as ciências encontram seu próprio método e separam-se da filosofia, formando as chamadas ciências particulares.

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