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Aula 05 Direito Penal Prof. André Henrique PERIGO DE CONTÁGIO VENÉRIO Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Somente se procede mediante representação. Conceito: O bem jurídico é a saúde da pessoa humana. O legislador criou o tipo para tentar evitar contaminação de pessoas de modo geral, tentando evitar a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, embora o crime possa ser definido como tentativa de lesão corporal ou lesão corporal dolosa ou culposa. Anibal Bruno faz severas críticas a este tipo penal, alegando que com a evolução da medicina, não haveria mais necessidade de tipificação do perigo de contágio. Bem jurídico tutelado: Incolumidade física e saúde de outrem. Sujeito ativo. Qualquer pessoa, desde que portador de moléstia venérea (DST). Estar contaminado é condição para a prática do crime. Casamento ou prostituição não excluem a punibilidade. Sujeito passivo: Qualquer pessoa com quem se pratique o ato libidinoso. Irrelevância do consentimento da vítima: trata-se de interesse público, portanto indisponível (interesse público de impedir o avanço da moléstia). Obs: em que pese a irrelevância do consentimento, somente se procede mediante representação da vítima. Tipo objetivo: consiste em expor a contágio de moléstia venérea de que sabe ou devia saber ser possuidor. O perigo deve ser concreto e imediato, e não presumido. Meio de execução: Relações sexuais ou ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Obs: se a moléstia venérea for grave, mas o ato não for libidinoso, ou se o ato for libidinoso, mas a moléstia não for venérea, tipificado o crime do art. 131, CP. Obs: AIDS. Não é moléstia venérea. Pode tipificar art. 131, 129 ou 121, dependendo da intenção. Obs: o contato deve ser direto. O autor só é responsável pela pessoa com que teve contato sexual. Se essa pessoa adquiriu a moléstia grave, e transmitiu a terceiro, o primeiro autor não tem relação com o terceiro. Tipo subjetivo. 3 figuras distintas: Agente sabe que está doente (dolo direto de perigo); Não sabe, mas deveria saber que está contaminado (forte discussão se é caso de dolo eventual – Noronha, ou culpa consciente – Celso Delmanto); Sabe que está doente e tem intenção de transmitir doença (§ 1º) – Dolo direto de dano. Pergunta: Se o dolo era de dano, e o sujeito efetiva o contagio, sobrevindo um dos resultados do art. 129, §§ 1° e 2°, reponde por qual delito? 1ª. Corrente: responderá pelas lesões corporais, por serem mais graves (Capez); 2ª Corrente: somente responderá por resultado gravoso se ocorrer morte. Se ocorrerem lesões graves ou gravíssimas, ainda assim responderá pelo art. 130, § 1° (Bitencourt). Obs. 2: se ocorrer morte da vítima em razão da doença: Se a intenção era de matar: homicídio doloso; Se a intenção era de contaminar, mas a morte era resultado previsível e não querido: lesão corporal seguida de morte; Se houve contaminação sem dolo, e decorreu a morte: homicídio culposo, se o resultado morte era previsível. Concurso formal: Pode ocorrer em concurso com crimes contra a liberdade sexual. Somente ocorre na forma dolosa. Consumação e tentativa: Consuma-se com a prática sexual, independente do contágio (mero exaurimento). Forma qualificada: § 1° - exige intenção especial de transmissão da doença. Ação penal: Pública condicionada à representação – fica à parte a escolha de se submeter à chamada “strepitus fori”. PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Sujeito ativo. Qualquer pessoa, desde que portador de moléstia grave. Estar contaminado é condição para a prática do crime. Sujeito passivo: Qualquer pessoa, desde que não esteja contaminada. Tipo objetivo: Pratica ato capaz de produzir contágio de moléstia grave. Crime de execução livre Questão da AIDS: Pode tipificar art. 131, 129 ou 121, dependendo da intenção. Tipo subjetivo. Dolo de produzir o perigo de contágio + fim especial de transmitir moléstia grave. Não há aqui dolo eventual, pois o fim especial exige a vontade direta. Consumação e tentativa: Consuma-se com a prática de ato capaz de causar o contágio. É delito forma, ou seja, independe do contágio para consumação (mero exaurimento). Se houver o efetivo contágio, e dele sobrevier lesão corporal ou morte, segue-se o mesmo entendimento do crime anterior. Tentativa possível PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998). Considerações iniciais: esse tipo penal nasceu para proteger o trabalhador europeu. É delito subsidiário, apenas se aplicando se não houver conduta mais grave. Sujeito ativo: Comum. Sujeito passivo: Comum. No caso do sujeito passivo, é imperioso que seja determinado. Caso seja indeterminado, poderá ocorre os crimes de perigo comum do art. 250 e seguintes. Algumas profissões diminuem a capacidade de se posicionar no sujeito passivo, uma vez que o perigo é inerente de sua atividade. Bem jurídico tutelado: Vida e saúde das pessoas. Tipo objetivo: Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direito ou iminente. É o perigo certo, não tolerável pela sociedade. Crime de forma livre. Ex. pessoa agride motorista de ônibus e expões todos os passageiros no interior a perigo (comissiva). Familiares não autorizam transfusão de sangue por questões religiosas (omissiva). Obs: patrão que omite fornecimento de equipamentos de segurança a seus funcionários: Simples omissão: Contravenção penal do art. 19 da Lei. 8.213/91 (lei sobre benefícios penitenciários); Omissão causar perigo concreto: art. 132, CP. Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. § 2 Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho. O perigo deve ser: Direito: pessoa determinada Iminente: imediato, prestes a ocorrer. Tipo subjetivo: Dolo de perigo, podendo ser direito ou eventual. Não pode haver dolo de morte (animus necandi) ou de lesão (animus laendi), sob pena de modificação do tipo penal. Consumação e tentativa: Consuma-se com a efetiva exposição ao perigo. Se da conduta advier lesão corporal? Em tese, lesão corporal culposa. Todavia, esse delito possui pena menor, devendo ser aplicada a pena do art. 132, CP. Todavia, se a lesão corpora ocorrer no trânsito, aplica-se a lei de trânsito, uma vez que mais gravosa. Mesmo raciocínio se a lesão corporal tiver causa de aumento (art. 129, § 7°). Se da conduta advier morte, o crime será de homicídio culposo. Causa de aumento de pena: Paragrafo único – busca coibir o transporte irregular de pessoas para o exercício de atividade laborativas (ex: boias-frias). Se o transporte é para o lazer, religioso, político, não se configura o delito. Para Damásio de Jesus, por conta da “teoria do domínio do fato”, o dono da empresa de transporte é autor dodelito, e o motorista será coautor. Para ocorrer essa causa de aumento, o transporte não deve observar as normas de trânsito, além de causar perigo concreto para a vida ou saúde. Conflito aparente de normas – disparo de arma de fogo Aplica-se o princípio da especialidade: Disparo de arma de fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1) Se o crime se amoldar exatamente ao tipo penal acima, será crime de disparo de arma de fogo. Se faltar um elemento (ex: via pública, lugar habitado), e causar perigo a alguém, será o crime do art. 132. OMISSÃO DE SOCORRO Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Questões introdutórias: O crime de omissão de socorro traduz uma norma de solidariedade humana. Sujeito ativo O sujeito ativo é comum, ou seja, pode o crime ser praticado por qualquer pessoa. Não precisa haver relação entre o sujeito ativo o passivo. Se houvesse relação de dependência entre vítima e agente, este seria garantidor, podendo responder por homicídio e não por omissão de socorro. O crime de omissão de socorro admite coautoria? Estar-se diante de um dever genérico de agir, ou seja, atinge a todos indistintamente. Logo, não é possível coautoria, sendo cada omitente autor do crime de omissão de socorro. Se houver quatro pessoas olhando a vítima agonizando e um delas resolve socorrer a vítima, não há crime para os outros três agentes, pois se está diante de obrigação solidária, ou seja, quando um agente cumpre a sua obrigação desonera os demais. É possível omissão de socorro a distância, ou seja, o autor do crime de omissão de socorro deve estar presente no local? - a primeira corrente afirma que a presença do sujeito ativo é indispensável, conclusão extraída da natureza do delito (omisso). Adotada por Cezar Roberto Bittencourt. É a corrente que predomina. - a segunda corrente afirma que a presença do sujeito ativo é dispensável. Se tinha condições de se deslocar ao local do perigo, haverá crime em caso de omissão. Damásio adota essa tese. Sujeito passivo A vítima não é comum, mas sim própria: “à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo”. Só pode ser vítima quem ostentar essas qualidades. Magalhães Noronha fez a seguinte indagação: e se o sujeito passivo recusar o socorro? A pessoa que consente e não socorre, pratica o crime? Sim, pois o bem protegido é indisponível, pois independe do consentimento da vítima. Assim, mesmo que haja oposição da vítima, deve-se insistir no socorro, desde que não haja risco para a pessoa que vai socorrer. Bem jurídico tutelado O bem jurídico tutelado é a segurança do indivíduo, protegendo-se a vida e a saúde humana. Tipo objetivo O crime de omissão de socorro consiste em deixar de: a) prestar assistência: Há uma omissão de uma assistência imediata, ou seja, pessoal. b) não pedir socorro da autoridade competente: Há uma omissão de assistência mediata. É uma assistência subsidiária. Só se pode requerer socorro da autoridade competente quando não possa fazê-lo. Se o fizer por mera comodidade, o crime será cometido. Em ambos os casos o agente não pratica ação imposta pelo dever genérico. Está-se diante de uma inação, ou seja, o agente não pratica a ação devida. “Possível fazê-lo sem risco pessoal”: dessa expressão do tipo pode-se extrair o seguinte: - se houver risco pessoal, não há crime. Isso porque não se preenche o tipo penal, havendo atipicidade. - risco meramente patrimonial ou moral não exclui a tipicidade, mas, dependendo do caso, pode excluir a ilicitude. Ex: Camões salvando a obra e deixando as pessoas em perigo. Obs: É imprescindível que o omitente não tenha sido o causador doloso ou culposo do perigo. Se assim o for, passa a ser garante ou garantidor. Não terá mais o dever genérico de agir, mas sim o dever jurídico de evitar o resultado. Art. 13, § 2.º, “c” do CP: § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Tipo subjetivo O crime de omissão de socorro é punível a título de dolo, concernente em não prestar socorro à vítima. Consumação e tentativa O crime se consuma com a omissão geradora de perigo. Está-se diante de um crime de perigo. Mas o perigo é abstrato ou concreto? No perigo abstrato não há necessidade de se demonstrar o perigo, pois presumido absolutamente por lei. No perigo concreto precisa-se comprovar o perigo. No caso do crime de omissão de socorro: se for omissão de socorro à criança abandonada ou extraviada, o perigo é abstrato; se for pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo, o crime é de perigo concreto, precisando ser comprovado. O crime de omissão de socorro admite tentativa? Não, pois é crime omissivo próprio. É um crime unisubsistente, não podendo a execução ser fracionada. Aumento de pena Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Está-se diante de majorante preterdolosa ou preterintencional. O agente age com dolo na omissão e culpa na morte ou lesão grave. O crime de omissão de socorro do CP é a geral, mas ainda há os crimes de omissão de socorro no CTB e no Estatuto do Idoso. No caso do CTB, a omissão de socorro é uma majorante do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor. Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente: III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior. Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves. Art. 302 ou 303, majorados quando: a) omitente for condutor: b) omitente for condutor envolvido em acidente de trânsito: c) omitente for condutor envolvido em acidente de trânsito, culpado pelo acidente. Se o omitente for condutor envolvido em acidente de trânsito, culpado pelo acidente e cometer infração de socorro, responde pelo art.302 ou 303 do CTB. Os casos do art. 304 são os seguintes: a) omitente condutor: b) omitente condutor envolvido em acidente: c) omitente condutor envolvido em acidente, não culpado. Se se tiver um omitente condutor não envolvido em acidente, aplica-se o art. 135 do CP. Omissão de Socorro no Estatuto do Idoso: Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena - detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. O art. 135 do CP é a norma geral, cedendo espaço para o Estatuto do Idoso, o qual, por sua vez, cederá espaço para o CTB, se a omissão ocorreu no caso de acidente de trânsito.
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