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Caio Prado Junior - A Era do Liberalismo

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PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2008. “A Era do Liberalismo”
CAPÍTULO 13 - LIBERTAÇÃO ECONÔMICA
Os domínios ibéricos (Espanha e Portugal) representam, desde o século XVII, um anacronismo. Apesar de conservarem a maior e melhor parte de seus imensos domínios, não possuíam mais o equilíbrio mundial de forças econômicas e políticas.
Depois do passado remoto do apogeu luso-espanhol, outras potências tinham vindo ocupar o primeiro lugar no plano internacional: Os Países Baixos (Holanda), a Inglaterra e a França.
No séc. XVIII, uma delas é ofuscada (Países Baixos), mas permanecem a Inglaterra e a França digladiando-se sem cessar.
É essa rivalidade que será a mais efetiva proteção dos impérios ibéricos. Cada uma das duas monarquias se ampara num dos contendores: a Espanha, na França; Portugal, na Inglaterra.
Essa situação voltar-se-á inteiramente contra as monarquias ibéricas na segunda metade do século XVIII.
O antigo sistema colonial, fundado no chamado pacto colonial (que representa o exclusivismo do comércio das colônias para as respectivas metrópoles) entra em declínio: é o aparecimento do capitalismo industrial em substituição ao antigo e decadente capitalismo comercial
Até o séc. XVII, o capital que domina de uma forma quase pura é o comercial. A indústria ainda não entrara na fase capitalista e se acha inteiramente nas mãos do artesanato.
No século XVIII se esboça um verdadeiro capitalismo industrial, isto é, aparece um capital industrial propriamente dito, autônomo e independente do comercial, e dedicado exclusivamente à produção manufatureira.
Vai desaparecendo o artesão, o pequeno produtor independente que trabalha diretamente para o consumidor; que é substituído pelas grandes unidades produtoras, que reúnem grande número de trabalhadores, como simples assalariados, sob a direção de um patrão que dispõe do capital.
Para o industrial – naturalmente o industrial dessa primeira fase, em que os mercados não faltam e quando o único problema é chegar a eles -, só pode haver um ideal: é um comércio absolutamente livre que estabeleça o maior intercâmbio possível, seja por quem for, nacional ou estrangeiro, entre sua produção e os mercados mundiais.
O progresso do capitalismo industrial na segunda metade do século XVIII voltar-se-á assim contra todos os monopólios; e a destruição completa desses aparece cada vez mais como condição necessária do seu desenvolvimento.
Assim, quando em fins do século XVIII, os conflitos internacionais se agravaram, arrastando as monarquias ibéricas, elas não resistiram ao choque, e seu império se desagregou. Dessa desagregação sairá a independência das colônias americanas; e para o mundo em geral, uma nova ordem.
Portugal chegara nessas relações ao limite extremo de sua capacidade realizadora e colonizadora. A sua obra, nesse terreno, achava-se terminada; e o reino se tornara em simples parasita da colônia
Não é difícil avaliar como seria pesado para a colônia esse domínio de uma metrópole empobrecida e de recursos econômicos mínimos. A arruinada marinha mercante portuguesa atendia muito insuficientemente às necessidades da colônia.
O regime colonial representa assim um obstáculo intolerável oposto ao desenvolvimento do país. O monopólio do comércio externo caiu por terra.
Iniciada a desagregação do regime colonial, o resto não tardará. Será toda a estrutura que nos vinha de três séculos de formação colonial que é abalada: depois do monopólio do comércio externo e dos demais privilégios econômicos, virão os privilégios políticos e sociais, os quadros administrativos e jurídicos do país. Mais profundamente ainda, será abalada a própria estrutura tradicional de classes e mesmo o regime servil.
É na base das contradições geradas por essessistema que resultará a paulatina transformação do regime, em todos seus aspectos, de colônia em nação.
Nos primeiros anos do século XIX desencadeiam-se então as forças renovadoras latentes que daí por diante se firmarão cada vez mais no sentido de transformarem a antiga colônia numa comunidade nacional e autônoma.
Será um processo demorado – em nossos dias ainda não se completou -, evoluindo com intermitências e com uma sucessão de arrancos bruscos, paradas e mesmo recuos.
Em 1807, para forçar a adesão de Portugal ao bloqueio continental decretado contra a Inglaterra, os exércitos napoleônicos invadem e ocupam o reino. O regente d. João, que governava em nome de sua mãe demente, a rainha d. Maria, resolve, depois de longas hesitações entre a adesão ao sistema napoleônico e a fidelidade à sua aliança tradicional, a Inglaterra, emigrar para sua colônia americana.
A chegada da corte ao Brasil seria o precursor imediato da independência do Brasil e trouxe grandes repercussões políticas, sociais e econômicas.
Deixando o reino europeu ocupado pelos franceses, e fixando-se na colônia, o soberano rompia efetivamente todos os laços que ligavam o Brasil à sua metrópole.
A corte e a presença do soberano constituirão um ponto de referência e atração que centraliza no Rio de Janeiro a vida política, administrativa, econômica e financeira da monarquia.
A permanência da corte se prolongará por treze anos (1808-1821). Até 1815, o estado de guerra na Europa atemorizará o tímido regente que não ousa por isso retornar à pátria abandonada, embora ela estivesse livre de inimigos havia seis anos.
Depois de um tempo, os interesses de boa parte da comitiva real formada por fidalgos e funcionários estarão de tal forma ligados ao Brasil, que se formará entre eles um forte partido oposto ao retorno.
O próprio regente, logo depois rei d. João VI com a morte da rainha sua mãe, em 1816, não escondia suas preferências pela nova pátria. Somente se decidirá partir quando a revolução portuguesa vitoriosa em 1820, abala-lhe os fundamentos do trono e lhe põe em risco a coroa.
No terreno econômico, sucedem-se as medidas que não somente libertam a colônia dos entraves que três séculos de sujeição tinham acumulado em oposição ao seu livre desenvolvimento, como também as que procuram estimular as atividades do país.
Algumas melhorias: constroem-se estradas; melhoram-se os portos; introduzem-se novas espécies vegetais, promove-se a imigração de colonos europeus; tenta-se aperfeiçoar a mineração do outro.
A administração da corte portuguesa no Brasil velará, embora dentro das possibilidades limitadas de um aparelhamento burocrático oneroso, complexo e muito ineficiente, pelos interesses da colônia.
Os resultados contribuíram para o desenvolvimento econômico do país e assinalaram um primeiro passo nessa grande transformação que se ia operar no país.
CAPÍTULO 14: EFEITOS DA LIBERTAÇÃO
Os efeitos trazidos pela liberdade comercial e demais medidas resultantes da transferência da corte portuguesa para o Brasil são evidentes em estatísticas da época, que apesar de não serem totalmente seguras, servem pelo menos como orientação
	
	EXPORTAÇÃO
	IMPORTAÇÃO
	Anos
	Contos de Réis
	Libras esterlinas
	Contos de Réis
	Libras esterlinas
	1812
	4.000
	1.233.000
	2.500
	770.000
	1816
	9.600
	2.330.000
	10.300
	2.500.000
	1822
	19.700
	4.030.000
	22.500
	4.590.000
A ascensão contínua nos anos seguinte, mesmo com a desvalorização da moeda, e o progresso do intercâmbio exterior do Brasil é muito grande.
O progresso econômico do país é geral, e em todos os setores sente-seo influxo da grande transformação operada pela revogação da política de restrições que até 1808 pesara sobre a colônia.
Mas esse desdobramento positivo não deixa de ser acompanhado de graves perturbações. A mais geral e profunda é observada na balança comercial externa.
Dentro da antiga mediocridade da vida colonial, e graças a ela, achavam-se ao menos equilibradas as nossas contas externas.
A uma produção sem grande vulto, correspondia uma vida de padrão medíocre.
A franquia dos portos e a transformação dos hábitos estimulam largamente as necessidades de consumo do país. Deriva daí, como consequência imediata, o profundodesequilíbrio da vida financeira do país.
O comércio internacional do Brasil se torna permanentemente deficitário. Entre 1821 e 1860 só excepcionalmente ocorrem anos com balanços positivos.
O déficit será saldado pelo afluxo de capitais estrangeiros, sobretudo empréstimos públicos, que efetivamente começam a encaminhar-se para o Brasil desde que o país é franqueado ao exterior.
Mas isso representa apenas solução provisória que de fato ia agravando o mal para o futuro, pois significava novos pagamentos sob formas de juros, dividendos, amortizações e, portanto, novos fatores de desequilíbrio da balança externa de contas.
Mas esse mesmo afluxo não impedirá a drenagem de todo ouro existente e daquele que continuava a ser produzido no país.
Depois da transferência da corte o ouro desaparece da circulação, sendo substituído, a princípio, pelos pesos espanhóis de prata; este logo se escasseia e aparecerá uma moeda depreciada de cobre e, finalmente, papel-moeda de valor instável e sempre em acelerado declínio.
O valor da moeda precipita-se numa rápida linha descendente, que apenas na segunda metade do século XIX conseguirá uma relativa estabilidade.
	Anos
	Moeda
	Moeda inglesa
	1808
	1.000 réis
	= 70 dinheiros
	1822
	1.000 réis
	= 49 dinheiros
	1831
	1.000 réis
	= 20 dinheiros
	1850
	1.000 réis
	= 28 dinheiros
	
Outra grave perturbação provocada pela fraqueza comercial ocorrerá em certos setores de produção nacional. Fora a produção dos gêneros destinados à exportação, a economia brasileira não poderá concorrer com as mercadorias importadas do estrangeiro.
Ao decretar-se a liberdade do comércio estabelecera-se uma pauta ad valorem de 24% sobre todas as importações.
Veio, porém, a tarifa preferencial outorgada à Inglaterra de 15%. Esse benefício concedido foi respeitado pelo império independente.
Assim, após a Independência, quando o Brasil assinou tratados com outras nações foi obrigado a conceder-lhes o mesmo tratamento dado à Inglaterra, já que com a diferença na tarifa apenas a Inglaterra se beneficiava de um quase monopólio.
Fica estabelecida a taxa de 15% nas alfândegas brasileiras, até o ano de 1844.
Enquanto perdurou a tarifa primitiva, tornou-se impossível desenvolver a produção nacional num país como o Brasil, pobre de recursos, de defeituosa organização produtiva, diante da concorrência quase sem restrições da produção estrangeira.
A produção brasileira estava reduzida aos poucos gêneros de sua especialidade e que se destinavam à exportação. Prolongava-se e se agravava o sistema econômico colonial.
Em lugar das restrições do regime de colônia, operava agora a liberdade comercial no sentido de resguardar e assegurar uma organização econômica disposta unicamente para produzir alguns poucos gêneros destinados à exportação.
Essa pequena indústria não poderá sobreviver à livre concorrê3ncia estrangeira, mesmo nos mais insignificantes artigos. A qualidade, os preços, a própria moda fará desprezar seus produtos. Tudo passa a vir do estrangeiro.
Essa situação tenderá sempre a se agravar com o correr dos anos, graças ao aperfeiçoamento contínuo da indústria europeia e consequente barateamento e melhoria de seus produtos.
O artesão brasileiro, que por força das circunstâncias e ambiente desfavorável terá ficado nos seus modestos padrões do passado, perde terreno cada vez mais.
As indústrias mais importantes do país, Brasil. Ambas contavam com as vantagens de matéria-prima abundante e mercados locais apreciáveis.
A fixação da corte no RJ e a abolição dos escravos, num primeiro momento, estimularam essas indústrias.
Pequenas manufaturas têxteis surgiram em diferentes pontos de Minas Gerais, que era a província a esse respeito mais avantajada, tanto pela relativa densidade da população e abundância de matéria-prima de produção local, como pelo seu afastamento dos portos e isolamento.
Na metalurgia, MG e SP organizaram empresas de certa importância.
Esses ensaios de indústrias não suportam a concorrência estrangeira e apenas na metade do séc. XIX surgirão na indústria têxtil as primeiras manufaturas de certo vulto. A metalurgia, só em época muito recente aparecerá algo apreciável
A ruína da pequena indústria local lançara na desocupação um artesanato que reunia uma parte apreciável da população
Cresceram as dificuldades e a instabilidade dessa camada social, já antes pouco próspera pelo ambiente desfavorável de uma colônia de poucos recursos. E isso se refletirá em graves agitações sociais e políticas.
O comércio também sofrerá; quase só os ingleses a princípio, franceses e outros logo depois, tornar-se-ão senhores absolutos deste ramo de atividades.
Aos ingleses caberão o grande comércio e as transações financeiras; aos franceses, o negócio do luxo e da moda.
Os brasileiros nativos da colônia não sofrem com essa concorrência, já que eram os portugueses que se ocupavam com o comércio.
A concorrência estrangeira se reflete mais desvantajosa na vida e na população nacional. O resultado é a eclosão e o desenvolvimento de uma crescente animosidade contra o estrangeiro.
A súbita transformação de hábitos, a introdução de um conforto e luxo desconhecidos ainda na colônia e trazidos por estrangeiros e seus costumes que todo mundo quer imitar, desequilibrarão as finanças de certas classes da população que conformadas até então com a mediocridade da vida colonial, tornam-se subitamente de aspirações e sentem necessidades antes ignoradas.
Não serão poucos aqueles que se arruinarão na ânsia de se aproximarem da corte e nela figurarem, alcançarem títulos, condecorações e honrarias. Situação que o rei, sempre em aperturas financeiras, não deixará de explorar. Mais grave ainda será o que se passa com as finanças públicas. Em meados do século XIX, o serviço das dívidas já absorvia quase 40% do total da receita.
CONSEQUÊNCIAS: descrédito público, desvalorização da moeda, inflação, encarecimento do custo de vida, etc. Todas essas consequências serviram para agravar o geral desequilíbrio e instabilidade da vida econômica do Brasil.
A emancipação do Brasil representa um ponto de partida bem nítido para o novo surto econômico do país, porque dentro dos quadros políticos e administrativos coloniais, e ligado a uma metrópole decadente que se tornara puramente parasitária, ela (a emancipação) não encontraria horizontes para utilizar-se das facilidades que o mundo do século XIX lhe proporcionava.
Junto com progresso econômico sofremos um desequilíbrio profundo que afetou todos os setores da vida e se agravou muito. Essa crise se prolongou até meados do século XIX, quando entramos num “relativo ajustamento” em meio a esse processo contraditório de evolução.
Transferindo-se para o Brasil, o governo metropolitano trará consigo um complexo aparelhamento administrativo que substituirá bruscamente, sem transição de qualquer espécie, a reduzida administração que até então existia na colônia. Instalam-se aqui grandes repartições públicas e serviços de cortes.
As pobres finanças da colônia não estavam aparelhadas para tamanhos gastos.
Acrescentam-se a tudo isso as guerras em que se empenhou o soberano português logo à sua chegada: no Prata (ocupação da Banda Oriental, hoje República do Uruguai), na Guiana Francesa (ocupada em 1809).
Parte das novas despesas representava a necessidade da criação de serviços indispensáveis: ampliação das forças armadas, instrução pública, higiene, povoamento, abertura de novas estradas, obras de urbanismo no RJ, etc.
Contudo, boa parte (a maior) se destinava ao desperdício e ao sustento de fidalgos que haviam acompanhado o soberano no exílio.
Os compromissos públicos ainda se agravarão com os juros e amortizações de uma dívida contraída com a Inglaterra em 1825, no valor de 3 milhões de libras, que se dilapidaram em despesas mal controladas (em boa parte comissões de intermediários, agenciadores e banqueiros). Outros empréstimos externos, aliás, virão a jacto contínuo.
Para fazer frente a esse aumento considerável de gastos, o Tesouro públiconão contava com grande coisa. (...) Seria preciso uma remodelação completa, mas isso não se fez por duas razões:
Por incapacidade (pois herdamos, como quadros administrativos da metrópole, a rotina burocrática de uma nação decadente: Portugal.
Não era fácil organizar uma arrecadação eficiente num território tão vasto como o brasileiro, e parcamente habitado por uma população dispersa e mal estruturada.
Desde a transferência da corte em 1808, pelos anos afora, as contas públicas saldar-se-ão, quase sem exceção, em débito.
Isso se resolverá de duas formas: 1) pelo não pagamento dos compromissos (funcionalismo em atraso, dívidas proteladas, etc.); 2) pela emissão de papel moeda continuamente; e 3) por empréstimos externos, que representavam apenas um alívio momentâneo.
CAPÍTULO 15 – CRISE DO REGIME SERVIL E ABOLIÇÃO DO TRÁFICO
O Processo difícil e complicado da emancipação política do Brasil, pondo em evidência todas as contradições do regime anterior, vai polarizar as forças políticas e sociais em gestação e desencadeia o embate, não raro de grande violência, entre os diferentes grupos e classes em que se divide a sociedade colonial.
Os escravos, apesar de representarem 1/3 da população, não terão nesse processo um papel ativo e de vanguarda. Isso se deve a 2 fatos:
O tráfico africano, que despejando continuamente no país novas e novas levas de africanos de baixo nível cultural, ignorantes ainda da língua e inteiramente desambientados, neutralizava a ação de escravos já radicados no país e por isso mais capazes de atitudes políticas coerentes.
A divisão reinante entre grupos de escravos oriundos de nações africanas distintas e muitas vezes hostis umas às outras; coisa que a administração pública e os senhores sempre cuidaram muito, procurando impedir a formação de aglomerações homogêneas.
Na Bahia, onde chegou a haver na massa escrava certa unidade nacional é que vamos encontrar maior número de agitações e revoltas servis.
O fato é que a participação dos escravos nos movimentos da época não terá vulto apreciável. Por isso, a estrutura fundamental da economia brasileira não sofre abalos suficientes para transformá-las desde logo.
Contudo, a simples presença dessa massa de escravos, com uma débil participação, era o bastante para desencadear a crise do sistema servil e pôr em equação o problema da escravidão.
A escravidão vai aceleradamente perdendo sua base moral. Após a Independência ela se torna alvo de crítica geral. Ela passa a ser aceita como uma “necessidade”, um mal momentaneamente inevitável.
Estabelecera-se uma posição dúbia (incoerente e contraditória): enquanto se critica a escravidão, sustenta-se energicamente sua manutenção; reconhecem-se seus males, mas raros os que ousam combate-la e propor medidas efetivas e concretas para a sua extinção. É que a escravidão era a mola mestra da economia dopaís.
Dois fatores concorrem para o surgimento de uma posição antiescravista no Brasil:
A contradição profunda que representa a vigência do sistema servil na estrutura do Novo Estado, cindindo sua população em castas nitidamente diferenciadas e opostas umas às outras. A contradição estrutural que representa a escravidão para a jovem nação recém-libertada do regime colonial, tornar-se-á patente quando se trata de organizá-la politicamente em Estado autônomo.
Sobre isso, José Bonifácio de Andrada e Silva, primeiro ministro do Brasil Independente e deputado à Assembleia Constituinte, escreve: 
É tempo de irmos acabando gradualmente até os últimos vestígios da escravidão entre nós, para que venhamos a formar em poucas gerações uma nação homogênea, sem o que nunca seremos verdadeiramente livres, respeitáveis e felizes. É da maior necessidade ir acabando tanta heterogeneidade física e civil; cuidemos pois, desde já, em combinar sabiamente tantos elementos discordes e contrários, em amalgamar tantos metais diversos para que saia um TUDO homogêneo e compacto, que se não esfarele ao pequeno toque de qualquer nova convulsão política.
Outro fator que concorre para o surgimento de uma posição antiescravista no Brasil é a questão do tráfico africano.
O tráfico e a escravidão achavam-se indissoluvelmente ligados. Esta não poderia sem manter sem aquele. Abolido o tráfico a escravidão, em curto prazo, seria extinta. A população escrava, sem o tráfico, entra em declínio.
A escravidão no Brasil era uma questão relacionada à servidão doméstica; o tráfico, ao contrário, constituía assunto internacional que afetava a todos os países e nações do mundo.
No séc. XIX, a Inglaterra encabeça um movimento de condenação geral do tráfico africano. Curiosamente, no séc. anterior a mesma Inglaterra era o país mais interessado no comércio humano.
No séc. XVIII, a Inglaterra se envolveu em guerras para obter e conservar a prioridade sobre as demais nações no tráfico de escravos, nessa época ela era responsável por mais da metade de todo esse comércio.
Em 1815, em Viena, a Inglaterra reconhecea ação ilegal dos seus cruzeiros (que perseguiam navios negreiros) nos cinco anos precedentes, e obriga-se a indenizar os prejudicados. Em contrapartida consegue uma nova concessão: a abolição do tráfico ao norte do equador, excluindo, com isso, as possessões portuguesas que mais contribuíram para alimentar a população escrava do Brasil.
Em 1817, é incluída uma cláusula ao acordo de 1815, que acrescenta mais uma concessão aos ingleses: o direito de visita em alto-mar a navios suspeitos de tráfico ilegal.
Enquanto isso se passava no terreno dos acordos internacionais, a ideia da extinção do tráfico e até da própria escravidão começa a fazer caminho no Brasil.
Até a data da fixação da corte portuguesa no Rio de Janeiro, ninguém pusera aqui seriamente em dúvida a legitimidade do tráfico e muito menos da instituição servil.
A Inglaterra assume o papel de medianeira e obtém a aceitação do soberano português da Independência brasileira. (Legitima-se a independência).
A Inglaterra, autora de toda essa hábil trama, cobrará o preço de sua intervenção. Com relação ao tráfico exigirá do Brasil medidas definitivas.
Essas medidas serão concretizadas em um tratado de 1826, ratificado em 1827, em que o Brasil se compromete a proibir o tráfico humano em 3 anos. Depois desse prazo seria considerado pirataria e punido como tal.
Além disso, ratificam o acordo de 1815 e 1817 (proibição do tráfico ao norte do Equador e direito de visita em alto-mar a navios suspeitos de tráfico ilícito).
Em 07/11/1831 promulga lei em que proíbe o tráfico de africanos, considerando-se livres os que desembarcaram no país a partir dessa data. (Lei considerada morta pelas autoridades)
Em 1831, D. Pedro I abdica ao trono em favor de seu filho. Em nome do jovem imperador governará uma regência tirada dos proprietários e senhores rurais, avessos a qualquer medida que afetasse a escravidão.
Novamente a Inglaterra se incumbe de executar a lei brasileira.
Mesmo podendo reprimir os navios negreiros, a Inglaterra encontra grande dificuldade em reprimir o tráfico, pois os navios negreiros, quando se viam acossados pelo inimigo e não podiam escapar, lançavam ao mar sua carga humana, destruindo o corpo delito comprometedor e inocentando-se perante os tribunais internacionais.
Para fazer face a essa manobra, a Inglaterra tenta uma nova cláusula em seus tratados, pela qual a incidência no tráfico ilegal se provasse não apenas pela presença de escravos, mas por qualquer indício que evidenciasse a finalidade da embarcação: ferros para acorrentar, etc.
Surge em 1834 mais um projeto destinado a reforçar a lei de 1831 edar-lhe efetiva aplicação: projeto rejeitado pelo Parlamento.
O tráfico, embora condenado pela lei e pela opinião confessada de todo mundo (já ninguém mais ousava defendê-lo), se mantinha com dantes, protegido pela tolerância das autoridades e da generalidade do país.
Mesmo proibido, o tráfico encontra força e condições para se expandir. Em face da animosidade já existente contra os ingleses, em razão do controle dos negócios e comércio brasileiro,surge um consenso velado em favor do tráfico.
O Brasil mantém seu crescimento econômico que era alimentado pelo trabalho dos negros.
Em 08/08/1845 é aprovado no Parlamento inglês um ato (Bill Aberdeen) que declara lícito o apresamento de qualquer embarcação empregada no tráfico africano e sujeita os infratores a julgamento por pirataria perante os tribunais.
Tal situação correspondia a um quase estado de guerra. A soberania brasileira era violada permanentemente pela Inglaterra decidida a liquidar o tráfico fosse por que meio fosse.
Em 1850 adotam-se medidas efetivas de repressão ao tráfico: não só leis eficientes, mas uma ação severa e continuada. Destaca-se entre as medidas a expulsão dopaís de traficantes notórios, portugueses na maioria, o que contribui muito para desorganizar o negócio.
Os resultados foram magníficos:
1849 – 54 mil africanos entraram no país.
1850 – 23 mil
1851 – pouco mais de 3 mil
1852 – 700 e poucos escravos, até cessar completamente em 1856.
Com a abolição do tráfico, encerra-se a fase de transição que se iniciou em 1808, com a chegada da corte ao Brasil.
A abolição é o último toque da série de reformas consideráveis que se sucedem e que modificariam tão profundamente o país, tornando-o de colônia submetida ao exclusivismo mercantil da metrópole portuguesa, em Estado Soberano, aberto à concorrência internacional.
Até 1850 o tráfico movimentara uma parcela considerável de atividades e constituía-se o maior negócio brasileiro da época. Com a sua extinção as atividades e pessoas nele ocupadas achar-se-ão deslocadas, e com elas os capitais que representavam parcela avultada.
Assistiremos então àquilo que é normal em situações semelhantes: a ativação dos negócios noutros setores, e logo em seguida, a inflação.
Novas iniciativas em empresas comerciais, financeiras e industriais se sucedem ininterruptamente; todos os índices de atividade sobem de um salto.
A circulação monetária é fantasticamente alargada pela faculdade emissora concedida ao Banco do Brasil e pelo abuso de emissão de vales e outros títulos pelos demais estabelecimentos de crédito, firmas comerciais e até simples particulares.
Tudo isso terminará num desastre tremendo – a crise de 1857, seguida por outra mais grave em 1864.
A abolição do tráfico terá efeitos indiretos: põe termo ao conflito com a Inglaterra e há um incremento das atividades inglesas no Brasil, muito importante para essa nova fase que por aqui se inaugura.
Mercantilismo
Política econômica que priorizava o acúmulo primitivo de capital, metalismo (riqueza através de ouro e prata), protecionismo alfandegário, Pacto Colonial (relações comerciais exclusivas entre Metrópole e Colônia) e a balança comercial favorável (mais exportações do que importações);
 
Desenvolvimento do sistema bancário que favoreceu o avanço do capitalismo comercial.
 
CAPITALISMO INDUSTRIAL
Atividades industriais como principal fonte de negócio e lucros. Destaque para a indústria têxtil.
 
Concentração de renda nas mãos da burguesia industrial (grandes donos de indústrias);
 
Alta desigualdade social, pois os lucros ficavam quase integralmente com os donos de indústrias que pagavam salários muito baixos para os operários;
 
Evolução nos meios de produção com a invenção e uso de máquinas a vapor. Aumento da produção com custo mais baixo.
 
Uso do carvão como fonte de energia e ferro como principal matéria-prima;
 
Desenvolvimento de meios de transporte (locomotivas e navios a vapor) rápidos e de longas distâncias para atender a logística.
 
Uso nas indústrias de mão-de-obra assalariada;
 
Salários baixos, poucos direitos trabalhistas e exploração de mão-de-obra infantil. Grande parte dos operários vivia em péssimas condições sociais.
 
Êxodo rural - saída de trabalhadores do campo para buscar empregos nas indústrias das cidades;
 
Crescimento desordenado das cidades industriais europeias com piora na qualidade de vida e surgimento de problemas sociais;
 
A partir da segunda metade do século XIX, o capitalismo industrial cresceu em outros países como, por exemplo, França, Bélgica, Alemanha, Holanda, Estados Unidos e Japão;
 
No final do século XIX começou a surgir as empresas multinacionais com a união do capital industrial com o financeiro (principalmente bancos). Ocorreu neste contexto, a formação de monopólios em vários setores da economia, organizados e mantidos pelas grandes indústrias.
 
Neocolialismo e Imperialismo
 
Como forma de ampliar o mercado consumidor e obter novas fontes de matérias-primas, as principais potências econômicas europeias conquistaram países na Ásia e África. Além de impor o modo de vida europeu nas regiões colonizadas, os europeus vendiam seus produtos e exploravam recursos minerais e vegetais nestes países. Foi uma forma de expandir o capitalismo no século XIX.
 
Você sabia?
 
O socialismo surgiu no século XIX como oposição ao capitalismo industrial. Os socialistas propunham um modelo econômico e social baseado na igualdade social, com o controle dos meios de produção realizado pelos trabalhadores das fábricas. Karl Marx foi o principal representante do socialismo.
Capitalismo Financeiro
Principais características, significado, surgimento, história, resumo, práticas capitalistas da fase, aspectos econômicos, crises
Capitalismo financeiro: fortalecimento do sistema financeiro
Significado: O capitalismo financeiro é um sistema econômico, subtipo do capitalismo, que surgiu no começo do século XX e apresenta como característica principal a subordinação dos meios de produção para a acumulação de dinheiro e obtenção de lucros através do mercado financeiro (ações, produtos financeiros, títulos, derivativos e mercado de câmbio). O capitalismo financeiro está presente na economia mundial até os dias de hoje.
 Principais características
Forte presença, na primeira metade do século XX, de empresas (indústrias, comércios e finanças) monopolizadoras;
Integração do capital industrial ao bancário;
Busca de lucros expressivos no mercado financeiro, através da negociação de ações, moedas, derivativos e outros produtos financeiros;
Fortalecimento do sistema de empréstimos e financiamentos para aquisição de bens (imóveis, carros e outros produtos);
Fortalecimento das bolsas de valores;
Surgimento de empresas multinacionais (transnacionais);
Aumento da importância dos bancos na vida das empresas e pessoas. Dependência para pagar contas, obter empréstimos e financiamentos, investimentos e outras atividades financeiras.
Aumento da especulação financeira nos mercados;
Aumento dos lucros dos bancos, financeiras, corretoras de seguros e corretoras que operam com ações nas bolsas de valores;
Surgimento e valorização de profissões voltadas para o mercado financeiro;
Surgimento, uso e dependência de sistemas tecnológicos nas operações financeiras.
 Crises
O capitalismo financeiro já enfrentou duas fortes crises. 
A primeira delas ocorreu em 1929 com a Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. A desvalorização das ações das empresas norte-americanas ocorreu de forma rápida e significativa. Muitas empresas foram a falência e a crise se espalhou pelos países capitalistas do mundo todo.
A outra crise foi recente e ainda espalha pelo mundo suas consequências negativas. Surgiu nos Estados Unidos, em 2008, com o estouro da bolha imobiliária e a desvalorização de produtos financeiros presentes nas carteiras de diversos bancos norte-americanos e europeus. A crise gerou falências, além de diminuir o crescimento econômico em diversos países e aumentar o desemprego nos EUA e na Europa.

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