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LINGUISTIC ;
DE
 
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*'~\ Obr pub/xcd —'
. . Com õ CO/õbdrcão da h
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14 UNl\/ERSIDADE DE SAO PAULO V
vrår °š
Reítm-: Prcf. Drr \'\/Aidvr Mur\rzO\Ív ' L
EDWORA D.-\ UNWERSIDADE DE SÅO PALLO
š
Presidente: Prof Dr. Mrro Cdrrnreõ Ferrr {
Cxxmxxxx Editorxaîz
Presidente: Proí. Dr Mário Curmares Ferr. Vlrxxtrmro
de Bîocrêocrs Membros: Prdf. Dr Arutomo Brxto da 
Corrhõ ~Ir\St\tutO de B:ouëmõSB Proí Dr Carlos da
Sw Lõcaz xacmdõde de Medrcšnõï, Pror, Dr Pérsu
de Souza Srrroè lESCo\õ Poücecmc e Pro. Dr. Roque °
Sperweer Mõuel de Barros xacmdõde de Educgrw
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Reítm-: Prcf. Drr \'\/Aidvr Mur\rzO\Ívă ' L
EDWORA D.-\ UNWERSIDADE DE SÅO PALLO 
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Presidente: Prof Dr. Mărro Cdrrnărāeõ Ferrr {
Cxxmăxxăxx Editorxaîz 
Presidente: Proí. Dr Mário Curmarāes Ferr. Vlrxxtrmro 
de Bîocrêocrćs Membros: Prdf. Dr Arutomo Brxto da ‛
Corrhõ ~Ir\St\tutO de B:ouëmăõSB Proí Dr Carlos da
Săwă Lõcaz xřacmdõde de Medrcšnõï, Pror, Dr Pérsău
de Souza Sărrroè lESCo\õ Poücecmcă e Proř. Dr. Roque °
Sperweer Mõuel de Barros xřacmdõde de Educăgārw
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I
CIP-Brasil. Cstalcgxço-na-Fome
Câmara Brasileira do Livro, SP
Fontæine. `lacqueline.
F752c 0 Círculo Lingüísrico de Praga / Iacqueiîne Fontaíne ; u'adu·
ção de Ïøãø Pedro Mendes. —- São Paulo : Cultrix : Ed. da Univer»
Sidade de São Paulo, 1978.
Bibliczgrafia.
1. Círculc Lingüístico de Praga. 2. Língüística [. Títulc.
E
784297 CDD410
indices para catálogo Sîstemátiw:
1. Circulo Lingüísticn de Praga : Lingüístíca 410
2. Lingùística 410
I
CIP-Brasil. Cstalcgxçāo-na-Fome
Câmara Brasileira do Livro, SP
Fontæine. `lacqueline.
F752c 0 Círculo Lingüísrico de Praga / Iacqueiîne Fontaíne ; u'adu·
ção de Ïøãø Pedro Mendes. —- São Paulo : Cultrix : Ed. da Univer»
Sidade de São Paulo, 1978.
Bibliczgrafia.
1. Círculc Lingüístico de Praga. 2. Língüística [. Títulc.
E
784297 CDD410
indices para catálogo Sîstemátiw:
1. Circulo Lingüísticn de Praga : Lingüístíca 410
2. Lingùística 410
JACCJUELINE FONTAINE A %;
î
Ï
î
O CIRCULO à
LINGUISTICO
DE PRAGA
†
Trduçãø de I
JOÃD PEDFIO MENDES [
1
7 `èrrC\~û< ·:».x%;r; EJÁLSÏA';
1
EDITORA CULTRIX V
São Paulo 7*
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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JACCJUELINE FONTAINE A %; 
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O CIRCULO à
LINGUISTICO 
DE PRAGA 
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JOÃD PEDFIO MENDES [
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EDITORA CULTRIX V 
São Paulo 7* 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
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ý
Títulu do original:
LE CERCLE LINGUISTIOUE DE FRAGUE L
Publicsdu por Maxsøn Mame. Paris
© MA\SON MAMB 157A
Å
MCMLXXVIH
Díreîtus de tradução para A língua portuguesa adquiridos com excïush/idade pE\a
EDITORA CULTRIX LTDA
`
Rua Gønseüweîru Furtsdu, 548. fone 27B—4St1.—O15t1 S. Paulo, SP
que as reserva a propriedade Iírerárla desta tradução
Impressp no Brasil
Prlntwl în Bnzll
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Títulu do original:
LE CERCLE LINGUISTIOUE DE FRAGUE L
Publicsdu por Maxsøn Mame. Paris
© MA\SON MAMB 157A
Å
MCMLXXVIH
 
Díreîtus de tradução para A língua portuguesa adquiridos com excïush/idade pE\a
EDITORA CULTRIX LTDA
`
Rua Gønseüweîru Furtsdu, 548. fone 27B—4St1.—O15t1 S. Paulo, SP
que as reserva a propriedade Iírerárla desta tradução
 
Impressp no Brasil
Prlntwl în Bnzll
S U M Á R 1 O _ 1
Capítulc I — Nascïmentc do C.L P .. . . . . .. . 7
Cspíîulo H — 0 Manífesto . . . . . . , . . ., ., 19
capitulo N! 0 C L P. herdexrø de Sõuure ,. . .. 33 
cuízuiø N — A Fønuicgm . . .. . .. . . . ., . S7 É
capitulo V — OS estudos grmõeuùms . .. .. .. .. 81
Cpituln Vl — O estuda pnétxcn . ,, . , . . . 103 È
Cõpítuiù VM Lugr de 0 L P AA hitónõ da Lmgüísnc . .. . ' 115
Ccmclusn ., . ,, ,, 139
Bîhhograhs sumária sobre 0 Círculu Lïngûísîxrm de Praga ....., . 141
Š
î
à
1
S U M Á R 1 O _ 1
Capítulc I — Nascïmentc do C.L P .. . . . . .. . 7
Cspíîulo H — 0 Manífesto . . . . . . , . . ., ., 19
capitulo N! ―― 0 C L P. herdexrø de Sõuăăure ,. . .. 33 ‛
căuízuiø N — A Fønuicgm . . .. . .. . . . ., . S7 É
capitulo V — OS estudos grămõeuùms . .. .. .. .. 81 
Căpituln Vl — O estuda pnétxcn . ,, . , . . . 103 È
Cõpítuiù VM ― Lugăr de 0 L P AA hiătónõ da Lmgüísncă . .. . ' 115
Ccmclusān ., . ,, ,, 139
Bîhhograhs sumária sobre 0 Círculu Lïngûísîxrm de Praga ....., . 141
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Capítulo I Ã
NASCXMENTO
DO C. L. P.
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Capítulo I Ã
NASCXMENTO
DO C. L. P.
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Outubro de 1926 — mais precisamente, a noite de 6 de outubro ,
 é a data comumente aceita do nascimento do Circulo Linguístico
de Praga lPražsky Lingvistický Kroužeck), quando \/ilem Nlathesius con- ~
vidou os colegas para uma reunião em seu gabinete da Universidade `
Charles, a fim de ouvirem uma palestra do lingüista alemão H. Bea ,
cker, que ia falar de um problema especifico de sintaxe —~ a unifor- ' î
mização sintática, que ele pensava verificar, luntamente com outros i
lingüistas, nas linguas faladas no seio de culturas aparentadas, no
caso as línguas da Europa Ocidental, A comunicação de Becker inti-
tulava-se: “0 Espírito Europeu da Linguagem". No fim da exposição,
travouse aceso e animado debatei É que a esse público, em grande
parte constituído por lingüistas formados na escola dos Neogramáti 1
cos, a tese do conferencista podia surgir como nova e audaciosa, l
uma reposição em pauta do principio basico dessa escola. que exclui Ï
a possibilidade de semelhança sintática explicável por um fator di-
verso da filiação lingüística. Declcliram reunir-se dali em diante to-
dos os meses, para debater questões análogas, em virtude de todos
sentirem a necessidade de prosseguir o debate iniciado na ocasião,
A pedido dos participantes, aumentou posteriormente a freqüência
de tais reuniões. ' ,
Para o primeiro congresso internacional dos lingüistas, convoca- Š
do para Haia em 1Q2S, Floman Jakobson, que então lecionava em 1
Bratislava, redigiu em outubro de 1927 uma espécie de manifesto Ï
expondo suas posições de principio sobre os pontos que lhe pare- }
ciam capitais na teoria lingüística e, em especial, onológica. Esse
texto constituía resposta a uma das questões levantadas pelo comitê
do congresso, vindo depois a ser consignado nas Atas desse mesmo i
congresso, R, Jakobson submeteu a proposta a dois colegas russos, È
como ele emigrados da União Soviética. os quais a subscreveram `
com suas assinaturas: Nicolai Trubetzkoy o principe Trubetzkoy, i
como se dizia em Praga —, encarregado de curso em Viena, e Serge
Karcevsky, professor em Genebra, onde fora aluno de Ferdinand de
Saussure. Fol esse manifesto, que depois N, Trubetzkoy modestamen -
te ciiamou de "pequeno programa declarativo", que deu origem a
9
Outubro de 1926 — mais precisamente, a noite de 6 de outubro ,
― é a data comumente aceita do nascimento do Circulo Linguístico
de Praga lPražsky Lingvistický Kroužeck), quando \/ilem Nlathesius con- ~
vidou os colegas para uma reunião em seu gabinete da Universidade `
Charles, a fim de ouvirem uma palestra do lingüista alemão H. Bea ,
cker, que ia falar de um problema especifico de sintaxe —~ a unifor- ' î
mização sintática, que ele pensava verificar, luntamente com outros i
lingüistas, nas linguas faladas no seio de culturas aparentadas, no
caso as línguas da Europa Ocidental, A comunicação de Becker inti-
tulava-se: “0 Espírito Europeu da Linguagem". No fim da exposição,
travou―se aceso e animado debatei É que a esse público, em grande
parte constituído por lingüistas formados na escola dos Neogramáti­ 1
cos, a tese do conferencista podia surgir como nova e audaciosa, l
uma reposição em pauta do principio basico dessa escola. que exclui Ï
a possibilidade de semelhança sintáticaexplicável por um fator di-
verso da filiação lingüística. Declcliram reunir-se dali em diante to-
dos os meses, para debater questões análogas, em virtude de todos
sentirem a necessidade de prosseguir o debate iniciado na ocasião,
A pedido dos participantes, aumentou posteriormente a freqüência
de tais reuniões. ' ,
Para o primeiro congresso internacional dos lingüistas, convoca- Š
do para Haia em 1Q2S, Floman Jakobson, que então lecionava em 1
Bratislava, redigiu em outubro de 1927 uma espécie de manifesto Ï
expondo suas posições de principio sobre os pontos que lhe pare- }
ciam capitais na teoria lingüística e, em especial, řonológica. Esse
texto constituía resposta a uma das questões levantadas pelo comitê
do congresso, vindo depois a ser consignado nas Atas desse mesmo i
congresso, R, Jakobson submeteu a proposta a dois colegas russos, È
como ele emigrados da União Soviética. os quais a subscreveram `
com suas assinaturas: Nicolai Trubetzkoy ― o principe Trubetzkoy, i
como se dizia em Praga —, encarregado de curso em Viena, e Serge
Karcevsky, professor em Genebra, onde fora aluno de Ferdinand de
Saussure. Fol esse manifesto, que depois N, Trubetzkoy modestamen― -
te ciiamou de "pequeno programa declarativo", que deu origem a
9
todo 0 movimento lingüístico de Praga Seu incentivador foi incon-
testavelmente Fl. Jakobson, que redigiu com certo calor essas breves
paginas, em seguida apresentadas por ele a aprovação de seus co-
legas russos.
Ouem era, nessa época, R, Jakohson? Na Rússia, fora ele 0
animador do Circulo Lingtiistico de Moscou (MOskovskii iingvîsti-
eskij kružckl, fundado em 1915 pelos estudantes da universidade
de Moscou que se interessavam pela Linguistica e pelas tradições
populares. Para evitar a curiosidade da policia, o Círculo filiara-se a ,
comissão de dialefologia, por sua vez dependente da Academia das —
Ciências. 0 Círculo de Mcscou, segundo o relatório de suas ativida-
des elaborado por G. I. Vlnokur, tinha como objetivo “elucidar os
problemas lingüísticos da língua corrente e da língua poética, bem
como questões de tradições populares e Etnologia", O Circulo defi·
nia seu trabalho como sendo pesquisa de laboratório. OS métodos de
estudo eram elaborados mediante "pesquisa coletiva" Em 1924, o
Clrculo foi dissolvido, após uma atividade de cerca de dez anos.
fértil em discussões e confrontos atinentes aos métodos de analise
lingülstica a utilizar no estudo da linguagem poética. Realizaramse
intercâmbios de pontos de vista entre teóricos e poetas, em que
participaram os maiores poetas, como V. Niaiakovski, B. Pasternack
e O. Nlandelchtam. infelizmente. devido as dificuldades econômicas
e técnicas da época, a maior parte dos estudos que ali se fizeram
não foi publicada].
A vocação fundamentai inicial de Fl. Jakobson foi O estudo da
linguagem poética, Foi a Poetica que levou Jakobson à Lingüística,
Tal vocaçao não foi desmentida ao longo de toda a sua carreira cien-
tífica. Em 1962, escrevia ele: "a poesia de Khlebnikov tornou-se lema
da minha primeira 'confrontação` com a analise da linguagem em
seus meios e funções, um ensaio impresso em Praga no início de
1921, mas escrito e discutido quase dois anos antes. em nosso Cír— 1
culo Lmgulstico de li/loscou," Foi precisamente a indagação sobre a
linguagem poetisa que motivou o interesse de Jakooson pela FonO—
iogia: ‘A textura fónica nada tem a ver com os sons, e sim com os
fonemas, isto e, com representações acústicas suscetíveis de ser
associadas as representações semânticas` [Ensain acerca de KhIe
bnikov. 1921]. Graças ao apoio de V. Mathesius, o qual, segundo O
testemunho de Jakobson, estava desde 192D a par da atividade do `
1 ct, Jakobson tll. "Un exemple de mrgrafion de termes et de medeies
.nst1tut1onnels“. in Tel ûuel. 41. 1910.
10
todo 0 movimento lingüístico de Praga Seu incentivador foi incon-
testavelmente Fl. Jakobson, que redigiu com certo calor essas breves
paginas, em seguida apresentadas por ele a aprovação de seus co-
legas russos.
Ouem era, nessa época, R, Jakohson? Na Rússia, fora ele 0
animador do Circulo Lingtiistico de Moscou (MOskovskii iingvîsti-
českij kružckl, fundado em 1915 pelos estudantes da universidade
de Moscou que se interessavam pela Linguistica e pelas tradições
populares. Para evitar a curiosidade da policia, o Círculo filiara-se a ,
comissão de dialefologia, por sua vez dependente da Academia das —
Ciências. 0 Círculo de Mcscou, segundo o relatório de suas ativida-
des elaborado por G. I. Vlnokur, tinha como objetivo “elucidar os
problemas lingüísticos da língua corrente e da língua poética, bem
como questões de tradições populares e Etnologia", O Circulo defi·
nia seu trabalho como sendo pesquisa de laboratório. OS métodos de
estudo eram elaborados mediante "pesquisa coletiva" Em 1924, o
Clrculo foi dissolvido, após uma atividade de cerca de dez anos.
fértil em discussões e confrontos atinentes aos métodos de analise
lingülstica a utilizar no estudo da linguagem poética. Realizaram­se
intercâmbios de pontos de vista entre teóricos e poetas, em que
participaram os maiores poetas, como V. Niaiakovski, B. Pasternack
e O. Nlandelchtam. infelizmente. devido as dificuldades econômicas
e técnicas da época, a maior parte dos estudos que ali se fizeram
não foi publicada].
A vocação fundamentai inicial de Fl. Jakobson foi O estudo da
linguagem poética, Foi a Poetica que levou Jakobson à Lingüística,
Tal vocaçao não foi desmentida ao longo de toda a sua carreira cien-
tífica. Em 1962, escrevia ele: "a poesia de Khlebnikov tornou-se lema
da minha primeira 'confrontação` com a analise da linguagem em
seus meios e funções, um ensaio impresso em Praga no início de
1921, mas escrito e discutido quase dois anos antes. em nosso Cír— 1
culo Lmgulstico de li/loscou," Foi precisamente a indagação sobre a
linguagem poetisa que motivou o interesse de Jakooson pela FonO—
iogia: ‛‘A textura fónica nada tem a ver com os sons, e sim com os
fonemas, isto e, com representações acústicas suscetíveis de ser
associadas as representações semânticas‛` [Ensain acerca de KhIe―
bnikov. 1921]. Graças ao apoio de V. Mathesius, o qual, segundo O
testemunho de Jakobson, estava desde 192D a par da atividade do `
1 ct, Jakobson třll. "Un exemple de mrgrafion de termes et de medeies
.nst1tut1onnels“. in Tel ûuel. 41. 1910.
10
>
l
Círculo de Mosoou e possivelmente desejaria lançar um empreendi- [
mento análogo na Tchescoslováquia. manteve-se no seio do Circulo ~
de Praga a preocupação de dar relevo ao estudo poético entre os Ï
estudos geralmente lingüísticos — o que veio e ter certa influência
sobre o desenvolvimento do pensamento teórico: podemos até di· ~
zer que, para alguns estudiosos de Praga, em primeiro lugar para
Jakobson, a investigação lingüística estava organicamente ligada ao
estudo poético. Cumpre, aliás, notar que o setor da Lingüística geral
mais estudado em Praga foi o da Fonologia, cujo interesse em Poéti
oa é imediato, visto possuir um campo de utilização muito amplo
nesse domínio.
0 apadrinhamento poético manifestou-se na própria forma dada` _ ;
à redação da Proposiço para o Congresso de Haia; seu tom evoca V
0 de um manifesto, incisivo e peremptório, afirmando posições que l
sabemos não poder ser aceitas pelos demais especialistas. Ela po l
deria ser colocada na linha da tradição dos manifestos poéticos que 1
floresceram um pouco por toda a parte na Europa no começo do `
século e, particularmente, na Flússia.
O texto dessa Proposição foi reformulado, ampliado, submetido
à discussão dos membros do Cîrculo e. sob o nome de “Tese do
Gírculo de Praga”, publicado no primeiro volume dos Trahalhos do `
Circulo [Travau× du Cerclei. 1
A redação das Teses é de um tom moderado; tem simplesmente *
o caráter de um programa que deve surgir como podendo servir de \
texto que reunisse lingüistas de convicções vizinhas. Contudohpor 1
mais moderada que nos pareça a forma revestidapelas escolhas fei-
tas pelos russos e seus amigos de Praga, ela rompia com os hábitos ¿
e provocou algum rumor entre os lingüistas. B. Malmberg faz-se eco `
da irritação de alguns: “~Muitos se chocaram pelo zelo e intolerância `
com que os fonologistas avançavam suas opiniões. e objetavam que
os princípios básicos não eram bastante originais para motivar tai 1
atitude entre os adeptos da nova escola" (LeS nouvelles tendances \
de la Iinguistique, 1962, trad. fr. de 1966. p. 131"]. 1
O segundo lingüista russo que assinara a Proposiço de Haia 1
era N. Trubetzkoy. Ouem era ele? Um sábio lingüista que se intores~ 1
sare desde os treze anos de idade pela Etnografia e pelos folclores ~
russo e tino-úgrico: encetara uma carreira comum de filólogo, bem
' Malmherg, senti, Au Novos Íeudncixs da Llngniuux. companhia Edltors Nacional,
São Paulo. teu. 2: exi.. p. 117.
11 È
`
>
l
Círculo de Mosoou e possivelmente desejaria lançar um empreendi- [
mento análogo na Tchescoslováquia. manteve-se no seio do Circulo ~
de Praga a preocupação de dar relevo ao estudo poético entre os Ï
estudos geralmente lingüísticos — o que veio e ter certa influência 
sobre o desenvolvimento do pensamento teórico: podemos até di· ~
zer que, para alguns estudiosos de Praga, em primeiro lugar para
Jakobson, a investigação lingüística estava organicamente ligada ao
estudo poético. Cumpre, aliás, notar que o setor da Lingüística geral
mais estudado em Praga foi o da Fonologia, cujo interesse em Poéti­
oa é imediato, visto possuir um campo de utilização muito amplo
nesse domínio.
0 apadrinhamento poético manifestou-se na própria forma dada` _ ;
à redação da Proposiçāo para o Congresso de Haia; seu tom evoca V
0 de um manifesto, incisivo e peremptório, afirmando posições que l
sabemos não poder ser aceitas pelos demais especialistas. Ela po­ l
deria ser colocada na linha da tradição dos manifestos poéticos que 1
floresceram um pouco por toda a parte na Europa no começo do `
século e, particularmente, na Flússia.
O texto dessa Proposição foi reformulado, ampliado, submetido
à discussão dos membros do Cîrculo e. sob o nome de “Tese do
Gírculo de Praga”, publicado no primeiro volume dos Trahalhos do `
Circulo [Travau× du Cerclei. 1
A redação das Teses é de um tom moderado; tem simplesmente *
o caráter de um programa que deve surgir como podendo servir de \
texto que reunisse lingüistas de convicções vizinhas. Contudohpor 1
mais moderada que nos pareça a forma revestida pelas escolhas fei- 
tas pelos russos e seus amigos de Praga, ela rompia com os hábitos ¿
e provocou algum rumor entre os lingüistas. B. Malmberg faz-se eco `
da irritação de alguns: “~Muitos se chocaram pelo zelo e intolerância `
com que os fonologistas avançavam suas opiniões. e objetavam que
os princípios básicos não eram bastante originais para motivar tai 1
atitude entre os adeptos da nova escola" ‛(LeS nouvelles tendances \
de la Iinguistique, 1962, trad. fr. de 1966. p. 131"]. 1
O segundo lingüista russo que assinara a Proposiçāo de Haia 1
era N. Trubetzkoy. Ouem era ele? Um sábio lingüista que se intores~ 1
sare desde os treze anos de idade pela Etnografia e pelos folclores ~
russo e tino-úgrico: encetara uma carreira comum de filólogo, bem
' Malmherg, senti, Au Novos Íeudăncixs da Llngniăuux. companhia Edltors Nacional,
São Paulo. teu. 2: exi.. p. 117.
11 È
`
notado na Universidade de Moscou após um estagio em Leipzlg em
1913, cenáculo do pensamento neogramãtico. A Revolução de 1517 .
perturbou violentamente o curso dessa carreira. Em 1920, vemOio em
Sófia, como “encarregado de curso de Filologia eslava, com direito
a ministrar cursos de Lingüística comparada". segundo ele próprio
escreve na autobiografia que teve de redigir para os Arquivos da
Academia de Viena, da qual foi eleito membro em 1930. Desde o
outono de 1922 ocupava a cadeira de Filologia eslava na Univer-
sidade de Viena, graças ao eslavista Jagi, que reconhecera sua
alta competência. _ '
Em sua autobiografia, Trubetzkoy relata um acontecimento que
parece haver influido em sua biografia intelectual: em 1915, foi pu-
blicada a obra cujo título traduzido em português e Esboço do Periq-
do mais Antigo da História da Língua Russa, do célebre eslavista A.
A. Saxmatov, que nela tentava fazer a síntese de suas pesquisas
aplicando o método de reconstrução do seu mestre F. F. Fortunatov.
chefe da Escola de Moscou. Trubetzkoy, então com vinte anos de
idade, apresentou numa sessão da comissão de dialetologia uma aná-
lise Crítica minuciosa do livro. A exposição — diz Trubetzkoy “te-
ve o efeito de uma bomba", pois era o primeiro ataque a onipotência
da escola de Fortunatov em I\/Ioscou. Os jovens lingtiistas tomaram
o partido de Trubetzkoy; alguns dedicaram—se, como foi o caso do
próprio Trubetzkoy, ã pesquisa de um novo método de reconstrução.
A indagação dos princípios de análise lingüística sempre esteve, por
tanto, no primeiro plano da atividade científica de Trubetzkoy. Era já
pela preocupação do método que Trubetzkoy explicava sua inscrição
como aluno na seção de Lingüistica da Llniversidade de l\/loscou:
“Jã naquela época eu estava persuadido de que a Linguística era o
único ramo das ciências humanas que possuía um método científico
positivo", tendo os outros ramos -— Etnografia e História das reli-
giões permanecido, de acordo com suas próprias palavras, em
“nivel alquimico". 
Foi sobre o pano de fundo dessa decepção sofrida em relação
a doutrina dos neogramaticos e seus herdeiros que Trubetzkoy rece-
beu uma carta de Jakobson, em fins de 1926, que propunha preencher
“o fosso contranatura entre a analise slncrônica e a ‘fonética nisto-
rica' do ponto de vista do sistema global". Ate então, o “historia·
dor" Trubetzkoy seguira com interesse a reflexão lingüística sobre
os estados das iinguas contemporâneas, mas de algum modo a se- 
guira de fora, pois não percebera a possibilidade de conciliar os
pontos de vista sincronico e diacrônico numa mesma perspectiva.
Trubetzkoy ficou desconcertado: mas logo manifestou sua concordân-
12
notado na Universidade de Moscou após um estagio em Leipzlg em
1913, cenáculo do pensamento neogramãtico. A Revolução de 1517 .
perturbou violentamente o curso dessa carreira. Em 1920, vemO­io em
Sófia, como “encarregado de curso de Filologia eslava, com direito
a ministrar cursos de Lingüística comparada". segundo ele próprio
escreve na autobiografia que teve de redigir para os Arquivos da
Academia de Viena, da qual foi eleito membro em 1930. Desde o
outono de 1922 ocupava a cadeira de Filologia eslava na Univer-
sidade de Viena, graças ao eslavista Jagič, que reconhecera sua
alta competência. _ '
Em sua autobiografia, Trubetzkoy relata um acontecimento que
parece haver influido em sua biografia intelectual: em 1915, foi pu-
blicada a obra cujo título traduzido em português e Esboço do Periq-
do mais Antigo da História da Língua Russa, do célebre eslavista A.
A. Saxmatov, que nela tentava fazer a síntese de suas pesquisas
aplicando o método de reconstrução do seu mestre F. F. Fortunatov.
chefe da Escola de Moscou. Trubetzkoy, então com vinte anos de
idade, apresentou numa sessão da comissão de dialetologia uma aná-
lise Crítica minuciosa do livro. A exposição — diz Trubetzkoy ― “te-
ve o efeito de uma bomba", pois era o primeiro ataque a onipotência
da escola de Fortunatov em I\/Ioscou. Os jovens lingtiistas tomaram
o partido de Trubetzkoy; alguns dedicaram—se, como foi o caso do
próprio Trubetzkoy, ã pesquisa de um novo método de reconstrução.
A indagação dos princípios de análise lingüística sempre esteve, por­
tanto, no primeiro plano da atividade científica de Trubetzkoy. Era já
pela preocupação do método que Trubetzkoy explicava sua inscrição
como aluno na seção de Lingüistica da Llniversidade de l\/loscou:
“Jã naquela época eu estava persuadido de que a Linguística era o
único ramo das ciências humanas que possuía um métodocientífico
positivo", tendo os outros ramos -— Etnografia e História das reli-
giões ― permanecido, de acordo com suas próprias palavras, em
“nivel alquimico". ‛
Foi sobre o pano de fundo dessa decepção sofrida em relação
a doutrina dos neogramaticos e seus herdeiros que Trubetzkoy rece-
beu uma carta de Jakobson, em fins de 1926, que propunha preencher
“o fosso contranatura entre a analise slncrônica e a ‘fonética nisto-
rica' do ponto de vista do sistema global". Ate então, o “historia·
dor" Trubetzkoy seguira com interesse a reflexão lingüística sobre
os estados das iinguas contemporâneas, mas de algum modo a se- ‛
guira de fora, pois não percebera a possibilidade de conciliar os
pontos de vista sincronico e diacrônico numa mesma perspectiva.
Trubetzkoy ficou desconcertado: mas logo manifestou sua concordân-
12
‘
cia: “O caráter logico da evolução da língua e um corolário do fato {
de que a língua constitui um sistema" {carta a Fi. Jakobson, de de- 
zembro de 1926). Essa a razão por que ele subscreveu, ao lado de
Jakobson, a Proposfcao ao Congresso de Haia,
O terceiro signatário era S Karcevski, Esiudara em Genebra,
onde seguira as lëçoes de F de Saussure. do qual se considerava A
discipulo. R, Jakobson relata como Karoevski. em 1917 em li/loscou,
de volta de Genebra, informava seus colegas da doutrina de Saus-
sure, e com que atenção era ouvido, quando na Universidade reinava
grande atração pela Psicologia e pela Linguistica sob um fundo de
Fenomenologia e de Semiologia nascente. Embora participasse da
atividade do Círculo de Praga S Karcevski, na época da Proposiçao, » «
continuava a exercer suas funções em Genebra ‘ i
E notável que três russos emigrados tenham estado na origem de .
um novo questionamento da Lingilistica e, simbolicamente graças a —
Proposição de Haia. sido os arautos da nova ciência. Oue motivação ;
poderia impeli-los a escolher tal caminho? Sentiram eles. testemu-
nhas da Fievoiuco, a necessidade de explorar uma camada estável.
permanente. universal. que sofreu a Historia como u'ma invariante?
iam eles atrás do sonho de reconstituir um mundo a partir da estaca
zero. ou sela, pela da língua? Em todo caso, esta fora de dtlvida que
a conjuntura histórica desempenhou importante papel em seus es- V
piritos. ,
Se foi o russo Jakobson o inspirador do Círculo, seu criador 
foi o tcheco V. iviathesius. Era um "organizador de gênio", segundo ,
o testemunho de Jakobson. Soube encontrar os meios de fazer viver —
o Círculo, estimulando a pesquisa com a oferta de possibilidades de *
numerosos e diversos encontros, apelando em especial a pesquisa-
dores diversos dos lingilistas, a nacionalidades diversas da tcheca
ou da eslovaca. Graças a ele. Praga transformou-se numa tribuna
onde expuseram suas idêias lingüistas tão diferentes como Hjeimslev.
Bloomfield ou Jones, por exemplo.
Em torno de Mathesius achavam-se os seus dois alunos B.
Trnka e J. Vachek, assim como B. Havránek, J, Mukaovský, K. Hora-
iek, V Sl<aiil<a, L. Novak, î\/i. Weingart [que mais raras rompeu com
o C.l. P.) e J. lvi. Koinek — todos tchecos ou eslovacos, Havránek
e Koinek haviam sido estudantes iunto a 1. Zubatý, lingüista critico `
dos pontos de vista "mecanisias' dos neogramáticos i
Participaram igualmente da atividade do grupo o neerlandês Ar `
W. De Grootr o iuguslavo A Beli, o polonês W. Doroszewski. os ,
franceses l.. Tesniere e L, Brun, depois A. Martinet e E. Eenveniste, `
o austríaco l<. Bühler e muitos outros
ia §
‘
cia: “O caráter logico da evolução da língua e um corolário do fato {
de que a língua constitui um sistema" {carta a Fi. Jakobson, de de- ‛
zembro de 1926). Essa a razão por que ele subscreveu, ao lado de
Jakobson, a Proposfcao ao Congresso de Haia,
O terceiro signatário era S Karcevski, Esiudara em Genebra,
onde seguira as lëçoes de F de Saussure. do qual se considerava A
discipulo. R, Jakobson relata como Karoevski. em 1917 em li/loscou,
de volta de Genebra, informava seus colegas da doutrina de Saus-
sure, e com que atenção era ouvido, quando na Universidade reinava
grande atração pela Psicologia e pela Linguistica sob um fundo de
Fenomenologia e de Semiologia nascente. Embora participasse da
atividade do Círculo de Praga S Karcevski, na época da Proposiçao, » «
continuava a exercer suas funções em Genebra ‘ i
E notável que três russos emigrados tenham estado na origem de .
um novo questionamento da Lingilistica e, simbolicamente graças a —
Proposição de Haia. sido os arautos da nova ciência. Oue motivação ;
poderia impeli-los a escolher tal caminho? Sentiram eles. testemu-
nhas da Fievoiucāo, a necessidade de explorar uma camada estável.
permanente. universal. que sofreu a Historia como u'ma invariante?
iam eles atrás do sonho de reconstituir um mundo a partir da estaca
zero. ou sela, pela da língua? Em todo caso, esta fora de dtlvida que
a conjuntura histórica desempenhou importante papel em seus es- V
piritos. ,
Se foi o russo Jakobson o inspirador do Círculo, seu criador ğ
foi o tcheco V. iviathesius. Era um "organizador de gênio", segundo ,
o testemunho de Jakobson. Soube encontrar os meios de fazer viver —
o Círculo, estimulando a pesquisa com a oferta de possibilidades de *
numerosos e diversos encontros, apelando em especial a pesquisa-
dores diversos dos lingilistas, a nacionalidades diversas da tcheca
ou da eslovaca. Graças a ele. Praga transformou-se numa tribuna
onde expuseram suas idêias lingüistas tão diferentes como Hjeimslev.
Bloomfield ou Jones, por exemplo.
Em torno de Mathesius achavam-se os seus dois alunos B.
Trnka e J. Vachek, assim como B. Havránek, J, Mukařovský, K. Hora-
iek, V Sl<aiičl<a, L. Novak, î\/i. Weingart [que mais raras rompeu com
o C.l. P.) e J. lvi. Kořinek — todos tchecos ou eslovacos, Havránek
e Kořinek haviam sido estudantes iunto a 1. Zubatý, lingüista critico `
dos pontos de vista "mecanisias'‛ dos neogramáticos i
Participaram igualmente da atividade do grupo o neerlandês Ar `
W. De Grootr o iuguslavo A Belič, o polonês W. Doroszewski. os ,
franceses l.. Tesniere e L, Brun, depois A. Martinet e E. Eenveniste, `
o austríaco l<. Bühler e muitos outros
ia §
0 Circulo Lingüístico de Praga fez editar, de 1929 a 1939, oito
volumes de Trabalhos redigidos em francês, alemão ou inglês. Publi-
cava em tcheco uma revista. Slovo a slovesnost [MOrte e Arte das '
Palavras), que começou a sair em 1935. Além dísso, eramvpublicados '
no Anuãrio da Universidade, seção de filologia moderna (CaSopic pro
moderni filologiii, recensões das comunicações apresentadas no
Círculo. .
0 termino da atividade do C.L.P. foi marcado pelo surgimento
do último volume dos Trabalhosg coincidiu com o advento da guerra,
a morte de Trubetzkoy em 1938 e a fuga de Jakobson para a Dinæ
marca. Após a guerra, os membros do Círculo de Praga mal tiveram
tempo de publicar a Compilaço de Bratislava, um volume de mis-
celãneas em homenagem a l<oi'inel< [1948], redigido com preocupa-
ções bem afins das do período clássico do C.L,P., quando a Lingüís
tica tcheca estava submetida as tributações ideológicas importadas
da União Soviética. Desde então, os lingüistas de Praga tentaram
reatar com a tradição do C.L.P. e, em 1966. deram início à publica-
ção de novos Trabalhos denominados Trabalhos Língüístîcos de Pra-
ga [T.L.P.).
Ciual a situação de Praga quando foi criado o C,P.L.? Oue terreno
possibilitou a eclosão de tal empreendimento?
“/-\ marca do universo tcheco-eslovaco esta em sua situação na
encruzilhada de culturas diferentes”, afirmou Jakobson numa pales-
tra sobre o trabalho da Escola de Praga ~lCopenhague, 1936, trad.
francesa in Change, 3, 1969]. Com efeito, Praga está numa situação
geográfica propícia aos intercâmbios com a Áustria, a Alemanha; a
Hungria e a Suíça, situação essa que a história política e cultural ainda
contribui para tornar mais propícia: a Tcheco~Eslováquia é a plata-
forma giratória da Europa central.
O período quevai de 1780 a 1848 é chamado período do Desper
tar nacional. Em países tchecos sob dominação dos Habsburgos, ele `~
foi marcado pelo ressurgimento da língua e literatura tchecas, obra
daqueles que alguém já denominou "DespertadoreS" [Boditelel. Es-
tes, apoiandose na classe popular essencialmente camponesa.
portanto , empreenderam urna autêntica reconstrução da língua
tcheca, extremamente ameaçada em regiões onde a germanização
ia muito avançada. O combate foi travado em nome de uma ideolo-
gia pan—esIavista. Na Eslovaquía, por outro lado, sob dominação do
reino da Hungria, a primeira tarefa do Despertar nacional consistiu
em criar uma língua escrita independente, a partir de um dos dia-
letos. Apos alguns decênios de vicissitudes políticas acompanhadas
1/1
0 Circulo Lingüístico de Praga fez editar, de 1929 a 1939, oito
volumes de Trabalhos redigidos em francês, alemão ou inglês. Publi-
cava em tcheco uma revista. Slovo a slovesnost [MOrte e Arte das '
Palavras), que começou a sair em 1935. Além dísso, eramvpublicados '
no Anuãrio da Universidade, seção de filologia moderna (CaSopic pro
moderni filologiii, recensões das comunicações apresentadas no
Círculo. .
0 termino da atividade do C.L.P. foi marcado pelo surgimento
do último volume dos Trabalhosg coincidiu com o advento da guerra,
a morte de Trubetzkoy em 1938 e a fuga de Jakobson para a Dinæ
marca. Após a guerra, os membros do Círculo de Praga mal tiveram
tempo de publicar a Compilaçāo de Bratislava, um volume de mis-
celãneas em homenagem a l<oi'inel< [1948], redigido com preocupa-
ções bem afins das do período clássico do C.L,P., quando a Lingüís­
tica tcheca estava submetida as tributações ideológicas importadas
da União Soviética. Desde então, os lingüistas de Praga tentaram
reatar com a tradição do C.L.P. e, em 1966. deram início à publica-
ção de novos Trabalhos denominados Trabalhos Língüístîcos de Pra-
ga [T.L.P.).
Ciual a situação de Praga quando foi criado o C,P.L.? Oue terreno
possibilitou a eclosão de tal empreendimento?
“/-\ marca do universo tcheco-eslovaco esta em sua situação na
encruzilhada de culturas diferentes”, afirmou Jakobson numa pales-
tra sobre o trabalho da Escola de Praga ~lCopenhague, 1936, trad.
francesa in Change, 3, 1969]. Com efeito, Praga está numa situação
geográfica propícia aos intercâmbios com a Áustria, a Alemanha; a
Hungria e a Suíça, situação essa que a história política e cultural ainda
contribui para tornar mais propícia: a Tcheco~Eslováquia é a plata-
forma giratória da Europa central.
O período que vai de 1780 a 1848 é chamado período do Desper­
tar nacional. Em países tchecos sob dominação dos Habsburgos, ele `~
foi marcado pelo ressurgimento da língua e literatura tchecas, obra
daqueles que alguém já denominou "DespertadoreS" [Boditelel. Es-
tes, apoiando­se na classe popular ― essencialmente camponesa.
portanto ―, empreenderam urna autêntica reconstrução da língua
tcheca, extremamente ameaçada em regiões onde a germanização
ia muito avançada. O combate foi travado em nome de uma ideolo-
gia pan—esIavista. Na Eslovaquía, por outro lado, sob dominação do
reino da Hungria, a primeira tarefa do Despertar nacional consistiu
em criar uma língua escrita independente, a partir de um dos dia-
letos. Apos alguns decênios de vicissitudes políticas acompanhadas
1/1
do renascimento das culturas nacionais, deuse o desmembramento
da AuStriaHungria e a proclamação, em 28 de outubro de 1918, da
República em Praga, logo depois da proclamação da união dos tche-
cos e eslovacos em um só Estado. Foi nomeado presidente provisório
da Republica um dos principais artifices do Fienascimento tcheco
desde 1880, Thonias-Garrigue l\/lasar;/l<. Aluno de F Brentano, amigo
de Husseri e de N/Iarty, l\/iasaryk era, desde 1882, professor de Filo-
sofia na Universidade tcheca de Praga, depois de têlo sido em
Viena. A influência de l\/lasaryk não podia deixar de incentivar a
discussão linguistlca. Ele próprio, num texto amiúde citado pelos in-
tegrantes do Circulo de Praga — Princípius de Lógica Concreta {Zak-
Iadové kronkretné logiky, Praga, 1885] — traduzido para o alemão no
ano seguinte, se pronunciara a favor de uma clara distinção entre
estudo estético e estudo histórico da Ilngua. “Fiealista" (do nome
do partido político que ele promovera), hostil ao nacionalismo emo~
cional e às manifestações de chauvinismo, ele contribuiu, com a
aluda do boernista Jan Gebauer, para desmascarar a fraude dos ma
nuscritos do Kralove Dvïir e da Zelena Hora, fragmentos "achados",
no início do século Xl><, de uma epopéia escrita em tcheco antigo,
Eis como Jan Mukarovský apresenta a situação de Praga na época
da fundação do C.L.P.: “Depois da primeira guerra mundial, nasceu
um forte élan cultural da derrocada austro-húngara. O império. o Es-
tado austro-húngaro. era um muro que nos separava do resto do mun-
do" [entrevista de J. Aiiukaovský, in Change, 3, 196,9l. A que língua
de cultura universal se iria fazer apelo para servir de traço de
união com o “mundo" com o qual se restabelecia contactoî A língua
alemã ficaria reduzida. por motivos óbvios, a um papel de comodi-
dade; o mundo anglo-saxônio, não obstante os vinculos pessoais de
lvlasaryk com ele, parecia muito distante; a orientação foi para a
Franca, onde O novo governo tcheco, particularmente na pessoa de
Eenes, colaborador de ivlasaryk, possuia amizades e que. ainda na
época, era símbolo de liberdade e cultura. Os Trabalhos do Círculc
de Praga foram, pois, com muita freqüência redigidos em francês, da
mesma forma que as intervenções dos seus membros nos diferentes
congressos. Foi igualmente em francês que se redigiram as Teses.
internacionalmente aberto. 0 C.L.P, também o era no plano da
informação cultural. O Circulo tornou-se lugar de encontro para os
lingüistas e alguns representantes da vanguarda literária tcheca, co-
mo V. Nezval, K. Teige e L. Vanura, No Gírculo de Praga, como no
Circulo de Moscou. estavam amalgamados o estudo da língua e a
pratica da linguagem literãria, poética. Era a retornada de uma tra-
ÍS
do renascimento das culturas nacionais, deu­se o desmembramento
da AuStria­Hungria e a proclamação, em 28 de outubro de 1918, da
República em Praga, logo depois da proclamação da união dos tche-
cos e eslovacos em um só Estado. Foi nomeado presidente provisório
da Republica um dos principais artifices do Fienascimento tcheco
desde 1880, Thonias-Garrigue l\/lasar;/l<. Aluno de F Brentano, amigo
de Husseri e de N/Iarty, l\/iasaryk era, desde 1882, professor de Filo-
sofia na Universidade tcheca de Praga, depois de tê­lo sido em
Viena. A influência de l\/lasaryk não podia deixar de incentivar a
discussão linguistlca. Ele próprio, num texto amiúde citado pelos in-
tegrantes do Circulo de Praga — Princípius de Lógica Concreta {Zak-
Iadové kronkretné logiky, Praga, 1885] — traduzido para o alemão no
ano seguinte, se pronunciara a favor de uma clara distinção entre
estudo estético e estudo histórico da Ilngua. “Fiealista" (do nome
do partido político que ele promovera), hostil ao nacionalismo emo~
cional e às manifestações de chauvinismo, ele contribuiu, com a
aluda do boernista Jan Gebauer, para desmascarar a fraude dos ma―
nuscritos do Kralove Dvïir e da Zelena Hora, fragmentos "achados",
no início do século Xl><, de uma epopéia escrita em tcheco antigo,
Eis como Jan Mukarovský apresenta a situação de Praga na época
da fundação do C.L.P.: “Depois da primeira guerra mundial, nasceu
um forte élan cultural da derrocada austro-húngara. O império. o Es-
tado austro-húngaro. era um muro que nos separava do resto do mun-
do" [entrevista de J. Aiiukařovský, in Change, 3, 196,9l. A que língua
de cultura universal se iria fazer apelo para servir de traço de
união com o “mundo" com o qual se restabelecia contactoî A língua
alemã ficaria reduzida. por motivos óbvios, a um papel de comodi-
dade; o mundo anglo-saxônio, não obstante os vinculos pessoaisde
lvlasaryk com ele, parecia muito distante; a orientação foi para a
Franca, onde O novo governo tcheco, particularmente na pessoa de
Eenes, colaborador de ivlasaryk, possuia amizades e que. ainda na
época, era símbolo de liberdade e cultura. Os Trabalhos do Círculc
de Praga foram, pois, com muita freqüência redigidos em francês, da
mesma forma que as intervenções dos seus membros nos diferentes
congressos. Foi igualmente em francês que se redigiram as Teses.
internacionalmente aberto. 0 C.L.P, também o era no plano da
informação cultural. O Circulo tornou-se lugar de encontro para os
lingüistas e alguns representantes da vanguarda literária tcheca, co-
mo V. Nezval, K. Teige e L. Vančura, No Gírculo de Praga, como no
Circulo de Moscou. estavam amalgamados o estudo da língua e a
pratica da linguagem literãria, poética. Era a retornada de uma tra-
ÍS
diço instaurada pelos russos da década de 20. Em compensação, não
se estabelecera um vínculo com a vanguarda oientifica. ao passo ,
que, em Copenhague, eram estreitos os contaotos entre cientistas e ‘
lingüistas. 0 neopositivismo do Circulo de Viena interessava os lin-
güistas de Praga: segundo o testemunho de R. Jakobson. estes convi-
daram, em 1935, Fi. Carnap a vir expor suas idéias acerca da lingua-
gem, Por outro lado, sabe-se que o interesse por um estudo da Iin .
guagem do ponto de vista da lógica aproximava, por exemplo, Fi.
Jakobson do lingüista dinamarquês V. Bröndal.
}`
Praga era assim o lugar em que, por diversas razões — históri- ’
cas, culturais, conjugadas com intenções individuais [em primeiro
lugar a de li/lathesius), que souberam acolher a iniciativa e dar-lhe
os meios para se desenvolver —, deviam ganhar corpo uma certa
reflexão e uma certa atividade lingüísticas. A flexibilidade da fórmula
de organização favoreceu o debate de idéias; segundo l\/lukaovský.
“a condição única necessária para ingresso no Círculo era apresen-
tar um trabalho discutido em comum /. . ./ em cada sessão. depois
de exposto qualquer trabalho, era norma a discussão oral" [entre-
vista de J. l\/lukaovský, in Change, 3, 1969). Jakobson, por seu turno,
insiste no caráter “independente e não-convencional" do C.L.P.: as
primeiras reuniões tiveram lugar no gabinete de li/Iathesius na Uni-
versidade Charles, ou na residência de um dos membros, depois nas
salas de conferências da Universidade, para mais tarde, fugindo a
tentação de acaclemismo, serem escolhidos os salões reservados dos
bares de Praga (c. "Un exemple de migration de termes“, in Tel
Ouel, 41, 1970i. O trabalho em grupo, com discussões regulares nes-
sa associação livre, encorajava o debate de idéias, que eram novas
para a maioria dos lingüistas que aí se reuniam. Cada um tinha a
sensação de que caira a barreira que até ali o mantivera numa espé-
cie de compartimento sem abertura para o exterior, de gueto. Deste
modo, vários trabalhos dão a impressão de haver sido redigidos num t
certo clima de arrebatamento filosófico: tornara-se possível expri-
mir-se sobre determinados assuntos que antes eram considerados
tabus.
Já uma primeira “oiência humana". a Psicologia. com a Gestal!-
theorie se libertara dessa dependência rotineira da experimentação,
questionando as bases do seu estudor Ela não podia deixar de servir
de referência a nova Lingüistica. Para além da Gestaltpsychologie, a '
referencia ao pensamento de l-iusserl — de quem Nlathesius fora
aluno-ouvinte —— paira, frouxa, todavia presente. sobre a reflexão dos
estudiosos de Praga.
iß
diçāo instaurada pelos russos da década de 20. Em compensação, não
se estabelecera um vínculo com a vanguarda oientifica. ao passo ,
que, em Copenhague, eram estreitos os contaotos entre cientistas e ‘
lingüistas. 0 neopositivismo do Circulo de Viena interessava os lin-
güistas de Praga: segundo o testemunho de R. Jakobson. estes convi-
daram, em 1935, Fi. Carnap a vir expor suas idéias acerca da lingua-
gem, Por outro lado, sabe-se que o interesse por um estudo da Iin― .
guagem do ponto de vista da lógica aproximava, por exemplo, Fi.
Jakobson do lingüista dinamarquês V. Bröndal.
}`
Praga era assim o lugar em que, por diversas razões — históri- ’
cas, culturais, conjugadas com intenções individuais [em primeiro
lugar a de li/lathesius), que souberam acolher a iniciativa e dar-lhe
os meios para se desenvolver —, deviam ganhar corpo uma certa
reflexão e uma certa atividade lingüísticas. A flexibilidade da fórmula
de organização favoreceu o debate de idéias; segundo l\/lukařovský.
“a condição única necessária para ingresso no Círculo era apresen-
tar um trabalho discutido em comum /. . ./ em cada sessão. depois
de exposto qualquer trabalho, era norma a discussão oral" [entre-
vista de J. l\/lukařovský, in Change, 3, 1969). Jakobson, por seu turno,
insiste no caráter “independente e não-convencional" do C.L.P.: as
primeiras reuniões tiveram lugar no gabinete de li/Iathesius na Uni-
versidade Charles, ou na residência de um dos membros, depois nas
salas de conferências da Universidade, para mais tarde, fugindo a
tentação de acaclemismo, serem escolhidos os salões reservados dos
bares de Praga (cř. "Un exemple de migration de termes“, in Tel
Ouel, 41, 1970i. O trabalho em grupo, com discussões regulares nes-
sa associação livre, encorajava o debate de idéias, que eram novas
para a maioria dos lingüistas que aí se reuniam. Cada um tinha a
sensação de que caira a barreira que até ali o mantivera numa espé-
cie de compartimento sem abertura para o exterior, de gueto. Deste
modo, vários trabalhos dão a impressão de haver sido redigidos num t
certo clima de arrebatamento filosófico: tornara-se possível expri-
mir-se sobre determinados assuntos que antes eram considerados
tabus.
Já uma primeira “oiência humana". a Psicologia. com a Gestal!-
theorie se libertara dessa dependência rotineira da experimentação,
questionando as bases do seu estudor Ela não podia deixar de servir
de referência a nova Lingüistica. Para além da Gestaltpsychologie, a '­
referencia ao pensamento de l-iusserl — de quem Nlathesius fora
aluno-ouvinte —— paira, frouxa, todavia presente. sobre a reflexão dos
estudiosos de Praga.
iß
A emulação científica e uma certa íamiliaridade com o pensa- `
mento filosófico contemporâneo, sobretudo 0 da fenomenologia hus-
serliana. ia conhecida no Circulo de Ívloscou, contribuíram para gerar
um clima de ažividade e criatividade, do qual Trubetzkoy iria conser-
var emocionada lembrança: numa carta endereçada a V. l\/laîhesius
a propósito do décimo anîversario do Circulo de Praga, escreve: "As
diversas etapas do desenvolvimento do Circulo de Praga que com
ele vivi retornam a minna memória i.. ' Todas essas recordações
estão associadas em meu espirito a um maravilhoso sentimento de
excitação pois a todo contacto com o Circulo de Praga eu experi-
mentava um novo arroubo de alegria criadora. que sempre acabava
por entorpecer-se durante o meu trabalho solitário longe de Praga.l`
A manifestação do C.L.P que meîor agitação provocou foi a da 7
Reunião Fonologica internacional, realizada em Praga ern dezembro
de 1930. O objetivo era preparar o Congresso dos Lingüistas de Ge-
nebra, em 1931. Fora O C.l..P. que, em seu nome, convocara a Fšeu-
nião. Participaram cerca de vinte linguistas tchecos e russos, bem
como estudiosos vindos do exterior. entre os quais A. Sommereit,
l<. Buhler, J. \/an Ginneken, A W De Groot, W. Doroszewski e A.
Eeii.
No final da Reunião, foi decidida a criação de uma Associaço
internacional de Fonologša, sendo eleito N. Trubetzkoy para seu pre-
sidente. A Reunião foi inteiramente consagrada a Fonologia, As con-
tribuições dos membros do Círculc de Praga ficaram consignadas no
volume l\/ dos T.C.L.P. [1931). No suplemento desse volume apare- `
ceram os dois proletos ["Terminologia Fonologica F’adronizada"· e
"Transcriço Fonologica"] que haviam sido elaborados ern Cornurn pe-
los membros do Clrculo e publzcados aposter sido "inserido no
texto certo número de correções propostas por Bally, Brun e Tes-
niere". correspondentes do Circulo. A Reunião de Fonologia foi opor- .
tunidede para numerosos debates e intercâmbios com lingüistas que
trabalhavam noutros países: E. Saoir e W. F. Tvvadell nos Estados Uni-
dos, A. Meillet em Paris Alguns excertos de cartas recentemente
publicados por A. lvlertinet [in La Linguistique, l, 1967} dão uma idéia
do movimento que se fez, a partir dessa eooca, em torno do C.L.P.
e de Trubetzkoy. Este explica a Sapir que a participação da América
na Assoclação pode ser de grande valia para os lingüistas de Praga,
ainda relativamente isolados no concerto europeu dos lingüistas. Eie
cita a tradicional Revue des Etudes Slaves de Paris como `orgo de
combate contra a Fonolcgia` e da esta explicação: “Se quisermos
achar uma razão para O surgimento e o êxito da Fonologia em dife~
rentes países, podemos dizer que ela prospera melhor nos locais
17 `
l
A emulação científica e uma certa íamiliaridade com o pensa- `
mento filosófico contemporâneo, sobretudo 0 da fenomenologia hus-
serliana. ia conhecida no Circulo de Ívloscou, contribuíram para gerar
um clima de ažividade e criatividade, do qual Trubetzkoy iria conser-
var emocionada lembrança: numa carta endereçada a V. l\/laîhesius
a propósito do décimo anîversario do Circulo de Praga, escreve: "As
diversas etapas do desenvolvimento do Circulo de Praga que com
ele vivi retornam a minna memória i.. ' Todas essas recordações
estão associadas em meu espirito a um maravilhoso sentimento de
excitação pois a todo contacto com o Circulo de Praga eu experi-
mentava um novo arroubo de alegria criadora. que sempre acabava
por entorpecer-se durante o meu trabalho solitário longe de Praga.l`
A manifestação do C.L.P que meîor agitação provocou foi a da 7
Reunião Fonologica internacional, realizada em Praga ern dezembro
de 1930. O objetivo era preparar o Congresso dos Lingüistas de Ge-
nebra, em 1931. Fora O C.l..P. que, em seu nome, convocara a Fšeu-
nião. Participaram cerca de vinte linguistas tchecos e russos, bem
como estudiosos vindos do exterior. entre os quais A. Sommerřeit,
l<. Buhler, J. \/an Ginneken, A W De Groot, W. Doroszewski e A.
Eeiić.
No final da Reunião, foi decidida a criação de uma Associaçāo
internacional de Fonologša, sendo eleito N. Trubetzkoy para seu pre-
sidente. A Reunião foi inteiramente consagrada a Fonologia, As con-
tribuições dos membros do Círculc de Praga ficaram consignadas no
volume l\/ dos T.C.L.P. [1931). No suplemento desse volume apare- `
ceram os dois proletos ["Terminologia Fonologica F’adronizada"· e
"Transcriçāo Fonologica"] que haviam sido elaborados ern Cornurn pe-
los membros do Clrculo e publzcados apos ter sido "inserido no
texto certo número de correções propostas por Bally, Brun e Tes-
niere". correspondentes do Circulo. A Reunião de Fonologia foi opor- .
tunidede para numerosos debates e intercâmbios com lingüistas que
trabalhavam noutros países: E. Saoir e W. F. Tvvadell nos Estados Uni-
dos, A. Meillet em Paris Alguns excertos de cartas recentemente
publicados por A. lvlertinet [in La Linguistique, l, 1967} dão uma idéia
do movimento que se fez, a partir dessa eooca, em torno do C.L.P.
e de Trubetzkoy. Este explica a Sapir que a participação da América
na Assoclação pode ser de grande valia para os lingüistas de Praga,
ainda relativamente isolados no concerto europeu dos lingüistas. Eie
cita a tradicional Revue des Etudes Slaves de Paris como `‛orgāo de
combate contra a Fonolcgia`‛ e da esta explicação: “Se quisermos
achar uma razão para O surgimento e o êxito da Fonologia em dife~
rentes países, podemos dizer que ela prospera melhor nos locais
17 `
l
onde é débil a tradição neogramatica, ou onde foi rejeitada por uma
geração por motivos precisos” [carta a H. Lindrofn, de 1531]. i
Em 1938. numa carta a A. Martinet, Trubetzkoy comunicava sua
impressão de que a Fonologia ainda não se impusera entre os lln-
güistas: “O programa preliminar do Congresso de Gand que recebl
há cerca de dois meses mostre que os fonologistas terão que lutar
nesse Congresso com grande número de adversários?
Foi a partir da convocação da Reunião fonológica de 1930 que
o Circulo de Praga obteve audiência internacional. Seus membros
manitestaram-se no primeiro Congresso das Ciências Foneticas de
Amsterdã de 1932, onde pela primeira vez foi usada a expressão
'Escola de Praga”, e mais tarde no terceiro Congresso dos Lír\güis~
ias de Roma, em 1933. Em 1935, realizouse O segundo Congressodas
Ciências Fonéticas em Londres e apareceu a revista do Círculo
[SIOvc a sIoveSnost); em 1936. o quarto Congresso dos Lirtgüistas
em Copenhague, onde Trubetzkoy verificou os progressos feitos pela
Fonologia entre os jovens lingüistas: "Pe|a vez primeira em Cope-
nhague, tornouse claro que não apenas ocupamos postos de van-
guarda, mas também que somos seguidos pelos jovens formados
pelos nossos escritos, podendo trabalhar de forma independente`
(carta de outubro de 1936).
0 tema da luta com vistas a promover a idéia nova da FonoIo—
gia entre os lingüistas acompanha toda a atividade dos estudiosos
de Praga, partlcularmente de Trubetzkoy. As dificuldades materiais
por este experimentadas para criar a Associação internacional de
Fonologia são como que o eco da dificuldade encontrada para difun
dir as novas idéias fora de Pragai.
Alvo dos ataques e das críticas mais ou menos competentes,
Trubetzkoy sempre se sentiu firme na obrigação de assegurar as
bases da análise fonológica o que O induziu a concentrar-se sobre
esse aspecto da língua. quiçá a superestimado; em todo caso. devido iï
à sua própria limitação, a explorá-lo no plano da metodologia, assim
como no da prática lingüística.
r. cr. “Extraits de la eorrapandsnce de N. S. íroubetzl<Oy' par Claue Hsgaae.
in \.x ltngustiqua. iss7, 1.
18
onde é débil a tradição neogramatica, ou onde foi rejeitada por uma
geração por motivos precisos” [carta a H. Lindrofn, de 1531]. i
Em 1938. numa carta a A. Martinet, Trubetzkoy comunicava sua
impressão de que a Fonologia ainda não se impusera entre os lln-
güistas: “O programa preliminar do Congresso de Gand que recebl
há cerca de dois meses mostre que os fonologistas terão que lutar
nesse Congresso com grande número de adversários?
Foi a partir da convocação da Reunião fonológica de 1930 que
o Circulo de Praga obteve audiência internacional. Seus membros
manitestaram-se no primeiro Congresso das Ciências Foneticas de
Amsterdã de 1932, onde pela primeira vez foi usada a expressão
'Escola de Praga”, e mais tarde no terceiro Congresso dos Lír\güis~
ias de Roma, em 1933. Em 1935, realizou­se O segundo Congressodas
Ciências Fonéticas em Londres e apareceu a revista do Círculo
[SIOvc a sIoveSnost); em 1936. o quarto Congresso dos Lirtgüistas
em Copenhague, onde Trubetzkoy verificou os progressos feitos pela
Fonologia entre os jovens lingüistas: "Pe|a vez primeira em Cope-
nhague, tornou­se claro que não apenas ocupamos postos de van-
guarda, mas também que somos seguidos pelos jovens formados
pelos nossos escritos, podendo trabalhar de forma independente`
(carta de outubro de 1936).
0 tema da luta com vistas a promover a idéia nova da FonoIo—
gia entre os lingüistas acompanha toda a atividade dos estudiosos
de Praga, partlcularmente de Trubetzkoy. As dificuldades materiais
por este experimentadas para criar a Associação internacional de
Fonologia são como que o eco da dificuldade encontrada para difun―
dir as novas idéias fora de Pragai.
Alvo dos ataques e das críticas mais ou menos competentes,
Trubetzkoy sempre se sentiu firme na obrigação de assegurar as
bases da análise fonológica ― o que O induziu a concentrar-se sobre
esse aspecto da língua. quiçá a superestimado; em todo caso. devido iï
à sua própria limitação, a explorá-lo no plano da metodologia, assim
como no da prática lingüística.
r. cr. “Extraits de la eorraăpandsncede N. S. ‛íroubetzl<Oy' par Clauće Hsgaae.
in \.x ltngustiqua. iss7, 1.
18
Capítulo II
0 MANIFESTO
Capítulo II
0 MANIFESTO
Acabamos de examinar as circunstancias historicas, culturais e
filosóficas que serviram de pano de fundo ao surgimento do Círculo
Lingüistico de Praga, A historia da Lingüistica possui a vantagem de
ter ao seu dispor, além dos diversos escritos assinados pelos mem-
bros do Círculo, em sua maioria já publicados nos oito volumes dos.
Trabalhos que foram saindo de 1929 a 1939 em Praga (em abreviatura '
T.C.L.P.], mas também na revista Slovo a slovesnost e em coleções
particulares, a mais importante das quais foi a miscelênia em home-
nagem a V, l\/Iathesius [ChSriSteria Guilelmo Mathesio quinquagene-
rio a discipulis et circuli lingvistiei pragensis sodalibus oblata, Pra-
gae, 1932], sem contar o que foi escrito fora de Praga por uns e por
outros. o texto do manifesto do grupo conhecido pelo nome de Teses
do Círculo Lingüístico de Praga. Essas Teses, em sua redação defini-
tiva, são, portanto, obra coletiva e, por isso mesmo, marcadas por
um tom de compromisso muito sensível, que pode, em determina-
dos passos, tornar o texto dificilmente compreensivel: em tais casos,
e necessário recorrer aos escritos individuais, onde o desenvolvi-
mento das idéias segue um curso mais fácil de rastrear.
0 texto das Teses foi discutido e redigido pelo comitê do Cir-
culo, então integrado por V, Nlathesius. R. Jakobson, J Mukaiovský
e B. Trnka, com base em esboços que haviam sido elaborados por di-
versos membros do Círculo. Em 1969. quarenta anos mais tarde, Fl.
Jakobson fornecia as seguintes indicações sobre os autores de tais
esboços icf. Change, 3): o texto da primeira tese foi preparado por V.
Mathesius e R. Jakobson: na segunda tese o concernente ao aspecto
fònico da língua e aquele que, na terceira tese, evoca as funções da
Iingua foram elaborados por Fi. Jakobson; o trecho sobre a língua
literária, na terceira tese, foi apresentado por B. Havranek, ao passo
que, nesta mesma tese, o texto sobre a língua poética foi preparado,
em colaboração, por J. lvlukaovský e Fi. Jakobson; a tese número
quatro, sobre os "Problemas Atuais do Eslavo de igreja", foi obra
do russo Durnovo: o texto da tese Sete. sobre os "Problemas Eslavos
Reiativos a um Atlas Lingüístico, Sobretudo LexiCal`, e o da tese
oito, acerca dos ‘Problemas de lvletodo da Lexicografia Eslava", foram
elaborados por N, Trubetzkoy.
21
Acabamos de examinar as circunstancias historicas, culturais e
filosóficas que serviram de pano de fundo ao surgimento do Círculo
Lingüistico de Praga, A historia da Lingüistica possui a vantagem de
ter ao seu dispor, além dos diversos escritos assinados pelos mem-
bros do Círculo, em sua maioria já publicados nos oito volumes dos.
Trabalhos que foram saindo de 1929 a 1939 em Praga (em abreviatura '
T.C.L.P.], mas também na revista Slovo a slovesnost e em coleções
particulares, a mais importante das quais foi a miscelênia em home-
nagem a V, l\/Iathesius [ChSriSteria Guilelmo Mathesio quinquagene-
rio a discipulis et circuli lingvistiei pragensis sodalibus oblata, Pra-
gae, 1932], sem contar o que foi escrito fora de Praga por uns e por
outros. o texto do manifesto do grupo conhecido pelo nome de Teses
do Círculo Lingüístico de Praga. Essas Teses, em sua redação defini-
tiva, são, portanto, obra coletiva e, por isso mesmo, marcadas por
um tom de compromisso muito sensível, que pode, em determina-
dos passos, tornar o texto dificilmente compreensivel: em tais casos,
e necessário recorrer aos escritos individuais, onde o desenvolvi-
mento das idéias segue um curso mais fácil de rastrear.
0 texto das Teses foi discutido e redigido pelo comitê do Cir-
culo, então integrado por V, Nlathesius. R. Jakobson, J Mukaiovský
e B. Trnka, com base em esboços que haviam sido elaborados por di-
versos membros do Círculo. Em 1969. quarenta anos mais tarde, Fl.
Jakobson fornecia as seguintes indicações sobre os autores de tais
esboços icf. Change, 3): o texto da primeira tese foi preparado por V.
Mathesius e R. Jakobson: na segunda tese o concernente ao aspecto
fònico da língua e aquele que, na terceira tese, evoca as funções da
Iingua foram elaborados por Fi. Jakobson; o trecho sobre a língua
literária, na terceira tese, foi apresentado por B. Havranek, ao passo
que, nesta mesma tese, o texto sobre a língua poética foi preparado,
em colaboração, por J. lvlukařovský e Fi. Jakobson; a tese número
quatro, sobre os "Problemas Atuais do Eslavo de igreja", foi obra
do russo Durnovo: o texto da tese Sete. sobre os "Problemas Eslavos
Reiativos a um Atlas Lingüístico, Sobretudo LexiCal`‛, e o da tese
oito, acerca dos ‘‛Problemas de lvletodo da Lexicografia Eslava", foram
elaborados por N, Trubetzkoy.
21
0 texto das nove teses representava o programa do C.L.P. ao qual
se era obrigado a aderir para tornar-se membro do Círculo. Como Ã
manifesto do novo grupo, foi apresentado ao Congresso dos filólogos
eslavos em Praga. em outubro de 1929, e proposto a debate nesse
mesmo congresso.
Um ano antes, no primeiro congresso internacional dos lingüis-
tas em Haia, a proposição intitulada “Ouais os Nlétodos mais Ade-
quados a Uma Exposição Completa e Prática da Fonologia de Guai-
quer Língua?”, redigida por R. Jakobson, depois subscrita por S. Kar- ¿
cevski e N. Trubetzkoy, fora igualmente submetida a reflexão dos
membros do congresso. Esse primeiro texto, mais curto e incisivo
que O segundo, constitui referência necessária à compreensão das
Teses do C.LJP, no que diz respeito aos trechos sobre Fonologia.
~Em que bases teóricas e metodológicas entraram em acordo os
membros do Círculo provindos de horizontes geográficos e filosóficos
diversos? Esfa pergunta será respondida pelo exame das Teses, que
são em número de nove, das quais apenas três reterão aqui nossa
atenção, por debaterem problemas de Iinguística geral, enquanto as
seis restantes abordam problemas concernentes a Eslavística - es-
pecialidade da maioria dos membros do Círculo - aliás considera-
dos dependentes das posições expressas nas três primeiras teses.
As Teses estão redigidas em francês, como já dissemos. A primeira
tem este título: “Froblemas de Método Decorrentes da Concepção
de Lingua Como Sistema e importância da Fleferida Concepção Para
as Línguas Eslavasf
A língua deve ser concebida como um “sistema funcional"Ï Ela
possui caráter de finalidade como os demais produtos da atividade
humana, quer dizer. os meios por ela utilizados o são em vista de
um fim. “A língua é um sistema de meios de expressão adequados
a um objetivo? Tal objetivo pode ser a comunicação ou a expressão,
Em ambos os casos, a intenção do locutor apresenta-se como a ex- 4
plicação “mais natural" em análise lingüística: essa intenção do lo-
cutor e que fundamenta o discurso.
Como complemento do aspecto funcional da língua, surge seu
aspecto sistemático: “Não se pode compreender um único fato lin-
güístico sem referi|o ao sistema ao qual pertencef
De qual estado de língua é possível dar conta com mais sucesso
e comodidade? De um estado de língua atual, por ser o único a “ofe '
recer materiais completos cuja percepção direta e impossível ter".
Foi V. Nlathesius quem se expressou com mais insistência sobre a
prioridade do estudo sincrônico em qualquer pesquisa lingüística. 0
22
0 texto das nove teses representava o programa do C.L.P. ao qual
se era obrigado a aderir para tornar-se membro do Círculo. Como Ã
manifesto do novo grupo, foi apresentado ao Congresso dos filólogos
eslavos em Praga. em outubro de 1929, e proposto a debate nesse
mesmo congresso.
Um ano antes, no primeiro congresso internacional dos lingüis-
tas em Haia, a proposição intitulada “Ouais os Nlétodos mais Ade-
quados a Uma Exposição Completa e Prática da Fonologia de Guai-
quer Língua?”, redigida por R. Jakobson, depois subscrita por S. Kar- ¿
cevski e N. Trubetzkoy,fora igualmente submetida a reflexão dos
membros do congresso. Esse primeiro texto, mais curto e incisivo
que O segundo, constitui referência necessária à compreensão das
Teses do C.LJP, no que diz respeito aos trechos sobre Fonologia.
~Em que bases teóricas e metodológicas entraram em acordo os
membros do Círculo provindos de horizontes geográficos e filosóficos
diversos? Esfa pergunta será respondida pelo exame das Teses, que
são em número de nove, das quais apenas três reterão aqui nossa
atenção, por debaterem problemas de Iinguística geral, enquanto as
seis restantes abordam problemas concernentes a Eslavística - es-
pecialidade da maioria dos membros do Círculo - aliás considera-
dos dependentes das posições expressas nas três primeiras teses.
As Teses estão redigidas em francês, como já dissemos. A primeira
tem este título: “Froblemas de Método Decorrentes da Concepção
de Lingua Como Sistema e importância da Fleferida Concepção Para
as Línguas Eslavasf
A língua deve ser concebida como um “sistema funcional"Ï Ela
possui caráter de finalidade como os demais produtos da atividade
humana, quer dizer. os meios por ela utilizados o são em vista de
um fim. “A língua é um sistema de meios de expressão adequados
a um objetivo? Tal objetivo pode ser a comunicação ou a expressão,
Em ambos os casos, a intenção do locutor apresenta-se como a ex- 4
plicação “mais natural" em análise lingüística: essa intenção do lo-
cutor e que fundamenta o discurso.
Como complemento do aspecto funcional da língua, surge seu
aspecto sistemático: “Não se pode compreender um único fato lin-
güístico sem referi­|o ao sistema ao qual pertencef
De qual estado de língua é possível dar conta com mais sucesso
e comodidade? De um estado de língua atual, por ser o único a “ofe­ '
recer materiais completos cuja percepção direta e impossível ter".
Foi V. Nlathesius quem se expressou com mais insistência sobre a
prioridade do estudo sincrônico em qualquer pesquisa lingüística. 0
22
l
l
recurso à “percepção direta', à introspecção, é proposto como ar- .
gumento de comodidade: que referência melhor podia ter o lingüista ,
do que a dada pela sua percepção da língua? Porem, ele é igualmente É
compelido por uma preocupação filosófica: a consciência lingüís- l
tica é o lugar onde se funda a análise lingüística [Matheslus fora 
ouvinte de Husserl).
Não é somente no plano sincrõnico, isto é, no plano da língua
atual, que a concepção da língua como sistema correspondente a uma
função deve prevalecer, também quando o pesquisador se dedique a
estudar os estados passados da língua, “quer se trate de reconstruí-
los, quer de verificar-lhes a evOlução”. .
Com efeito, as mudanças sofridas pela língua não podem ser` ‘
consideradas “ataques destruidores lançados ao acaso, independen-
temente uns dos outros": isso seria incompatível com a concepção
de língua como sistema. Se houver mudança, o sistema é necessaria-
mente afetado. Contudo, a redação do texto apresenta neste ponto
certa atenuação: “as mudanças lingüísticas visam freqüentemente o
sistema", 0 advérbio “freqüentemente” representa um compromisso:
vários membros do C.L.P. e, em particular, B. Trnka do comitê — e
inclusive N. Trubetzkoy — contestavam a fatalidade “absoluta' da
incidência de uma alteração lingüística sobre o sistemas Por outro
lado, uma vez que a língua foi analisada como respondendo essen-
cialmente a uma função, o sistema lingüístico, submetido a mudança,
é envolvido num processo de perpétuo remanejamento a fim de
manter essa funcionalidade, num esforço incansável de estabilização
(princípio de teleologia e “motivaço terapêutica" das mudanças lin-
güísticas), “A questão que se impõe cada vez mais ao lingüista, em
lugar da tradicional questão das causas, e a da finalidade de um
acontecimento fonético" [Froposiçãc ao Gongresso de Haia, 1927).
E, portanto, uma certa concepção determinista que aqui se
expõe.
Em outro sentido, trazse um esclarecimento à noção de sincro
nia, anteriormente definida mediante referência à consciência lin-
güísrica: a descrição Sincrõnica não pode “excluir em absoluto a
noção de evolucão”, pois em qualquer estado da língua coexistem
elementos tidos como produtivos, no estagio considerado, e outros
sentidos como arcaísmos, sobreviventes de um estado mais antigo
da língua. Fazer esta distinção introduz na analise sincrônica dos
“fatos de diacroníaï
Desta forma. sincronia e diacronia são tributárias uma da outra,
surgindo numa relação dialética.
23
l
l
recurso à “percepção direta', à introspecção, é proposto como ar- .
gumento de comodidade: que referência melhor podia ter o lingüista ,
do que a dada pela sua percepção da língua? Porem, ele é igualmente É
compelido por uma preocupação filosófica: a consciência lingüís- l
tica é o lugar onde se funda a análise lingüística [Matheslus fora ‛
ouvinte de Husserl).
Não é somente no plano sincrõnico, isto é, no plano da língua
atual, que a concepção da língua como sistema correspondente a uma
função deve prevalecer, também quando o pesquisador se dedique a
estudar os estados passados da língua, “quer se trate de reconstruí-
los, quer de verificar-lhes a evOlução”. .
Com efeito, as mudanças sofridas pela língua não podem ser` ‘
consideradas “ataques destruidores lançados ao acaso, independen-
temente uns dos outros": isso seria incompatível com a concepção
de língua como sistema. Se houver mudança, o sistema é necessaria-
mente afetado. Contudo, a redação do texto apresenta neste ponto
certa atenuação: “as mudanças lingüísticas visam freqüentemente o
sistema", 0 advérbio “freqüentemente” representa um compromisso:
vários membros do C.L.P. e, em particular, B. Trnka do comitê — e
inclusive N. Trubetzkoy — contestavam a fatalidade “absoluta' da
incidência de uma alteração lingüística sobre o sistemas Por outro
lado, uma vez que a língua foi analisada como respondendo essen-
cialmente a uma função, o sistema lingüístico, submetido a mudança,
é envolvido num processo de perpétuo remanejamento a fim de
manter essa funcionalidade, num esforço incansável de estabilização
(princípio de teleologia e “motivaçāo terapêutica" das mudanças lin-
güísticas), “A questão que se impõe cada vez mais ao lingüista, em
lugar da tradicional questão das causas, e a da finalidade de um
acontecimento fonético" [Froposiçãc ao Gongresso de Haia, 1927).
E, portanto, uma certa concepção determinista que aqui se
expõe.
Em outro sentido, traz­se um esclarecimento à noção de sincro­
nia, anteriormente definida mediante referência à consciência lin-
güísrica: a descrição Sincrõnica não pode “excluir em absoluto a
noção de evolucão”, pois em qualquer estado da língua coexistem
elementos tidos como produtivos, no estagio considerado, e outros
sentidos como arcaísmos, sobreviventes de um estado mais antigo
da língua. Fazer esta distinção introduz na analise sincrônica dos
“fatos de diacroníaï
Desta forma. sincronia e diacronia são tributárias uma da outra,
surgindo numa relação dialética.
23
Depois de ter tratado da concepção de língua como “sistema
funcional' e das relações entre sincronia e diacronia, a primeira tese A
aborda um ponto importante da metodologia lingüística dos membros
do Circulo de Praga: a utilização do método comparativo. Ate então,
o método comparativo fora apenas empregado numa perspectiva ge-
netica, “em busca do patrimônio comum", pelos lingüistas que rece-
beram a denominação de comparatistas e por seus sucessores. Do-
ravante, esse método servirá para fazer surgir as leis de estrutura
dos sistemas lingüísticos, podendo a comparação analítica ser estu- (
dada tanto entre línguas não-aparentadas, muito dessemelhantes, ·
quanto entre línguas estreitamente aparentadas como as eslavas.
que apresentam “diferenças profundas sobre uma base de semelhan-
ças essenciais e numerosas?
O objetivo final do método de comparação analítica e constituir
uma tipologia de todas as línguas,começando pelas línguas eslavas.
Na opinião de V. Matheeius, trata-se de uma justificativa filosófica
da investigação lingüística: comparar os meios postos em ação pelas
diferentes línguas, para responder as necessidades da comunicação
e, desta forma, atingir o conhecimento da linguagem. Ao nível de
cada língua. Mathesius propõe, desde o Congresso de Haia, a orga-
nização hierárquica dos traços distintivos numa “caraCterologia", o
que implica uma unidade necessária na descrição não apenas fono-
Iógica, mas também gramatical, lexicológica, etc.
É a distinção entre “parentescO de origem ou Consangiiineidade"
e “parentesco adquirido ou afinidade" (as expressões são de ~Fl. Ja-
kobsoni que permite a Trubetzkoy agrupar as línguas segundo ‘dois
tipos: famílias [Sprachfamilien) de fundo gramatical e lexical comum
e alianças [Sprachbiinde] que apresentem semelhanças notáveis em
suas estruturas sintática. morfológica e fonológica. Mathesius insis-
tirá amiúde no parentesco adquirido do inglês moderno com o fran-
cês e de seu relativo afastamento do alemão. li
0 método de comparação estrutural aplicado a evolução das lín-
guas eslavas permitirá revelar algumas leis de solidariedade entre
fatos que serão chamados de convergentes e fatos que serão cha-
mados de divergentes, que anteriormente surgem como tendo um
“carãter fortuito e episódico'. As tendências evolutivas das diver-
sas línguas eslavas poderão em seguida ser confrontadas com as
das línguas geograficamente vizinhas, fino-úgricas ou balcânicas não ;
1. cvi S. Tmka. wiexncde de ao-nparaism analytique ex grammaire compares
nisrariquai ir- \'. c. L. F.. i, luza.
24
Depois de ter tratado da concepção de língua como “sistema
funcional' e das relações entre sincronia e diacronia, a primeira tese A
aborda um ponto importante da metodologia lingüística dos membros
do Circulo de Praga: a utilização do método comparativo. Ate então,
o método comparativo fora apenas empregado numa perspectiva ge-
netica, “em busca do patrimônio comum", pelos lingüistas que rece-
beram a denominação de comparatistas e por seus sucessores. Do-
ravante, esse método servirá para fazer surgir as leis de estrutura
dos sistemas lingüísticos, podendo a comparação analítica ser estu- (
dada tanto entre línguas não-aparentadas, muito dessemelhantes, ·
quanto entre línguas estreitamente aparentadas como as eslavas.
que apresentam “diferenças profundas sobre uma base de semelhan-
ças essenciais e numerosas?
O objetivo final do método de comparação analítica e constituir
uma tipologia de todas as línguas, começando pelas línguas eslavas.
Na opinião de V. Matheeius, trata-se de uma justificativa filosófica
da investigação lingüística: comparar os meios postos em ação pelas
diferentes línguas, para responder as necessidades da comunicação
e, desta forma, atingir o conhecimento da linguagem. Ao nível de
cada língua. Mathesius propõe, desde o Congresso de Haia, a orga-
nização hierárquica dos traços distintivos numa “caraCterologia", o
que implica uma unidade necessária na descrição não apenas fono-
Iógica, mas também gramatical, lexicológica, etc.
É a distinção entre “parentescO de origem ou Consangiiineidade"
e “parentesco adquirido ou afinidade" (as expressões são de ~Fl. Ja-
kobsoni que permite a Trubetzkoy agrupar as línguas segundo ‘dois
tipos: famílias [Sprachfamilien) de fundo gramatical e lexical comum
e alianças [Sprachbiinde] que apresentem semelhanças notáveis em
suas estruturas sintática. morfológica e fonológica. Mathesius insis-
tirá amiúde no parentesco adquirido do inglês moderno com o fran-
cês e de seu relativo afastamento do alemão. li
0 método de comparação estrutural aplicado a evolução das lín-
guas eslavas permitirá revelar algumas leis de solidariedade entre
fatos que serão chamados de convergentes e fatos que serão cha-
mados de divergentes, que anteriormente surgem como tendo um
“carãter fortuito e episódico'. As tendências evolutivas das diver-
sas línguas eslavas poderão em seguida ser confrontadas com as
das línguas geograficamente vizinhas, fino-úgricas ou balcânicas não ;
1. cvi S. Tmka. wiexncde de ao-nparaisćm analytique ex grammaire compares
nisrariquai ir- \'. c. L. F.. i, luza.
24
eslavas, o que possibilitará esclarecer os problemas levantados pe-
las “uniões regionais” (por exemplo, o problema da eliminação da
declinação na língua búlgara, fato excepcional nas línguas eslavas,
fato comum ao conjunto das línguas balcânicas?].
A reconsideração da Lingüistica histórica na perspectiva estru-
turalista acima caracterizada implica uma revisão da noção de lei.
A lei não e mais, como o era para os neogramáticos, o registro de
“fatos produzidos arbitrariamente e ao acaso conquanto realizados
com uma regularidade absoluta`; ela torna-se o fundamento da evo-
lução do sistema: trata-se de uma nomogênese. Esta nova posição
leva a repensar o problema do “desmembrarnento” da língua comum ,
original, foco de constantes discussões entre os eslavistas prece- “
dentes, Considerar-se-a a existência de uma língua una “na medida
em que os dialetos seiam capazes de desenvolver mudanças co-
muns”. Se esses dialetos provêm historicamente de uma língua ini-
cial única, e problema sem grande interesse. caso se admita a idéia
de que o importante e o estudo da evolução dos sistemas lingüísti-
cos. Em outras palavras, não se procura mais resolver o problema
da língua de origem que subsiste como problema, mas que já não
aflora na perspectiva estrutural-funcionalista, que e a dos Praguenses.
A segunda tese enuncia as tarefas a abordar pelo estudo de um
sistema lingüístico, em particular o do sistema eslavo, do ponto de
vista tônico e gramatical.
Nas pesquisas sobre o aspecto fônico da língua, e preciso “dis-
tinguir o som como fato fisico objetivo, como representação e como
elemento do sistema funcional". Deve ser dada prioridade a análise
acústica sobre a analise articulatória, “pois é precisamente a ima-
gem acústica e não a imagem motora que é visada pelo sujeito fa-
lante'.
0 estudo dos fenômenos acústico-motores, estritamente falan-
do, não entra nas preocupações do lingüista, visto que tal estudo ig-
nora a “funço diferencial de significações” ou função distintiva dos
sons que constituem o sistema fonológico. O mesmo acontece com '
as imagens acústico-motoras subjetivas que, enquanto tais, ignoran-
tes da referência distintiva, não podem servir de definição aos ele-
mentos do sistema.
2. Hevrnek iniciou esta pesquisa sobre as línguas balcânicas iArquavas Neer-
iarraesee de Fonética Experimerrrai. ia de setembro de tez:] e Jekalxsorr tratou das
línguas da Eurásia no cume congresso de Lirrgnisxice (Atas do congresso de Cu-
penhegue, assai
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eslavas, o que possibilitará esclarecer os problemas levantados pe-
las “uniões regionais” (por exemplo, o problema da eliminação da
declinação na língua búlgara, fato excepcional nas línguas eslavas,
fato comum ao conjunto das línguas balcânicas?].
A reconsideração da Lingüistica histórica na perspectiva estru-
turalista acima caracterizada implica uma revisão da noção de lei.
A lei não e mais, como o era para os neogramáticos, o registro de
“fatos produzidos arbitrariamente e ao acaso ― conquanto realizados
com uma regularidade absoluta`; ela torna-se o fundamento da evo-
lução do sistema: trata-se de uma nomogênese. Esta nova posição
leva a repensar o problema do “desmembrarnento” da língua comum ,
original, foco de constantes discussões entre os eslavistas prece- “
dentes, Considerar-se-a a existência de uma língua una “na medida
em que os dialetos seiam capazes de desenvolver mudanças co-
muns”. Se esses dialetos provêm historicamente de uma língua ini-
cial única, e problema sem grande interesse. caso se admita a idéia
de que o importante e o estudo da evolução dos sistemas lingüísti-
cos. Em outras palavras, não se procura mais resolver o problema
da língua de origem que subsiste como problema,

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