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Crimes de Colarinho Branco Paula Veras

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RYANNA PALA VERAS
OS CRIMES DO COLARINHO BRANCO NA 
PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA CRIMINAL
MESTRADO EM DIREITO
PUC/ SÃO PAULO
2006
RYANNA PALA VERAS
OS CRIMES DO COLARINHO BRANCO NA 
PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA CRIMINAL
Dissertação apresentada à banca 
examinadora da PUC-SP - 
Pontifícia Universidade Católica 
de São Paulo, como exigência 
parcial para obtenção do título de 
Mestre em Direito Penal (Direito 
das Relações Sociais), sob a 
orientação do professor Doutor 
Oswaldo Henrique Duek Marques.
PUC/ SÃO PAULO
2006
Banca Examinadora
_________________________________
_________________________________
_________________________________
Dedico este trabalho a
Angelo Augusto Costa
Meus sinceros agradecimentos ao
Professor e Orientador Dr. Oswaldo Henrique Duek Marques
RESUMO
O trabalho analisa, na óptica da macrossociologia, qual o paradigma deve 
ser utilizado para se estudar os crimes do colarinho branco em criminologia. O 
estudo sistematizado do delito se iniciou no século XVIII com a Escola Clássica, 
entretanto, foi no fim do século XIX que surgiram os estudos sociológicos do delito, 
influenciados pelo trabalho de Durkheim. No início do século XX a sociologia se 
tornou disciplina universitária, na Universidade de Chicago, dando origem à primeira 
teoria sociológica do delito, a chamada Escola de Chicago. Então, a sociologia 
passou a se desenvolver em duas linhas distintas, a microssociologia, que estuda a 
interação entre a sociedade e o indivíduo e a macrossociologia, que se detém no 
estudo da sociedade. “Crimes do colarinho branco” foi um termo criado pelo 
sociólogo norte-americano Edwin Sutherland, em 1939. Para ele crime do colarinho 
branco é aquele cometido por pessoa de respeito e elevada classe social, no 
exercício de sua atividade. Suhterland percebeu que a punição de tais delitos era 
bem menor do que a punição dos crimes ditos comuns. As teorias 
macrossociológicas que abordaram os crimes do colarinho branco foram a teoria da 
anomia, o labeling approach, a criminologia do conflito e a criminologia crítica. A 
primeira o fez sob o paradigma etiológico e as demais adotaram o paradigma da 
reação social. O paradigma etiológico busca no delito um conteúdo ontológico e, 
assim, revelar suas causas. O paradigma da reação social entende que o delito é 
um fenômeno criado pelo sistema penal, por meio da seleção de condutas, 
interpretação e definição final em uma sentença. A dissertação pretende demonstrar 
que o estudo dos delitos do colarinho branco deve adotar o paradigma da reação 
social, pois deve, necessariamente, responder em primeiro lugar a pergunta: por que 
os crimes do colarinho branco não são absorvidos pelo sistema penal? Pois, não há 
como se obter qualquer amostra confiável para realizar estudos etiológicos se não 
forem desvendadas as verdadeiras forças que regem o sistema penal e informam a 
própria organização social como um todo.
ABSTRACT
This work analises, in the sociological macro level, which perspective should 
be applied to study white collar crimes in criminology. The sistematic study of crime 
has begun in the beginning of the XVIII century with the Classic School, however, it 
has been in the end of the XIX century that emerged the sociologycal studies of 
crime, influenced by the works of Durkheim. In the beginning of the XX century, 
sociology has turned an universitary discipline, in the University of Chicago, where 
has been developped the first sociologycal theory of crime, the Chicago School. 
Then, the sociology has been divided in two distinct levels, the micro level sociology, 
which studies the interaction between society and man, and the macro level, which 
studies the society's structure. The term “white collar crime” was criated by the 
american sociologist Edwin Sutherland, in 1939. For him, white collar crime is that 
one commited by respectable person from the high social class, in his business. 
Sutherland noted that the punishment of these crimes was less commom than the 
punishment of the ordinary crimes. The macro level theories which considered this 
question were the anomie theory, labeling approach, conflict criminology and critical 
criminology. The first one has analised the theme in the etiologic perspective and the 
others has used the perspective of social reaction. The etiologic perspective intends 
to find an ontologic substract in crime and reveal its causes. The perspective of 
social reaction considers the crime a criation of the criminal system, by the selection 
of actions, interpretation and a final definition in a judicial sentence. This work intends 
to demonstrate that the study of white collar crimes should addopt the social reaction 
perspective, because, it should answer in first place the question: why the white 
collar crimes are not absorved by the criminal system? As it's impossible to obtain 
some reliable sample to develop etiologic studies if the real forces that control the 
penal system and the society were not revealed.
Sumário
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
CAPÍTULO 1. ORIGEM DA SOCIOLOGIA CRIMINAL ............................................... 8
1.1. A criminologia como ciência ............................................................................ 8
1.2. A Escola Clássica........................................................................................... 10
1.3. A Escola Positiva............................................................................................ 12
1.4. Antecedentes da sociologia criminal............................................................... 15
1.5. O surgimento da sociologia criminal como disciplina..................................... 17
1.6. A microssociologia e a macrossociologia criminal.......................................... 20
1.7. Escolas microssociológicas: o indivíduo e a sociedade................................. 22
1.7.1. Teorias do aprendizado........................................................................... 22
1.7.2. Teorias do controle.................................................................................. 24
1.8. Escolas macrossociológicas........................................................................... 25
1.8.1. Sociologia do consenso........................................................................... 26
1.8.2. Sociologia do conflito .............................................................................. 28
1.8.2.1. A sociologia conflitual de Dahrendorf............................................... 28
1.8.2.2. O modelo marxista........................................................................... 30
1.9. Conclusões..................................................................................................... 31
CAPÍTULO 2. A OBRA DE SUTHERLAND............................................................... 34
2.1. O surgimento dos white collar crimes............................................................. 34
2.2. O artigo de Sutherland de 1940...................................................................... 36
2.3. O conceito de white collar crime. ................................................................... 40
2.4. A pesquisa de Sutherland: a obra de 1949..................................................... 43
2.5. As três causas da menor reação penal aos white collar crimes .................... 45
2.6 A teoria criminológica de Sutherland: a associação diferencial....................... 48
2.7. A teoria da associação diferencial e os white collar crimes............................ 50
2.8. Principais críticas ao conceito de Sutherland.................................................53
2.9. A estagnação dos estudos dos white collar crimes nos anos 1960................55
2.10. A atualidade do trabalho de Sutherland........................................................ 56
2.11. Conclusões................................................................................................... 58
CAPÍTULO 3. A TEORIA DA ANOMIA...................................................................... 60
3.1. O método e o objeto das teorias etiológicas................................................... 60
3.2. O crime é um fato normal à formação social ................................................. 62
3.3. O artigo de 1938 de Robert Merton................................................................ 63
3.4. A anomia......................................................................................................... 67
3.5. A teoria microssociológica de Merton (strain theory)...................................... 71
3.5. O American Dream......................................................................................... 72
3.6. A criminalidade do colarinho branco e a anomia............................................ 74
3.7. A política criminal............................................................................................ 77
3.8. Críticas ........................................................................................................... 80
3.9. Conclusões..................................................................................................... 82
CAPÍTULO 4. LABELING APPROACH .................................................................... 85
4.1. A crise do paradigma etiológico...................................................................... 85
4.2. O interacionismo simbólico............................................................................. 88
4.3. O surgimento do labeling approach na criminologia....................................... 93
4.4. A formação e a aplicação das leis para Becker.............................................. 96
4.5. As conseqüências da rotulação do criminoso ................................................ 99
4.6. Críticas.......................................................................................................... 101
4.7. A política criminal.......................................................................................... 105
4.8. Os crimes do colarinho branco: ausência de seleção.................................. 107
4.9. Conclusões................................................................................................... 111
CAPÍTULO 5. A CRIMINOLOGIA DO CONFLITO................................................... 114
5.1. Contexto histórico-científico.......................................................................... 114
5.2. A sociologia do conflito................................................................................. 117
5.3. A criminologia conflitual de Vold................................................................... 119
5.4. O modelo criminológico de Turk................................................................... 122
5.5. O conflito em Chambliss e Seidman............................................................. 124
5.6. O conflito em Quinney.................................................................................. 127
5.7. A política criminal.......................................................................................... 133
5.8. Críticas.......................................................................................................... 136
5.9. O crime do colarinho branco na perspectiva conflitual................................. 138
5.10. Conclusões................................................................................................. 141
CAPÍTULO 6 – A CRIMINOLOGIA CRÍTICA........................................................... 145
6.1. Contexto histórico e científico....................................................................... 145
6.2. A macrossociologia marxista........................................................................ 146
6.3. O surgimento da criminologia crítica............................................................. 148
6.4. A criminologia crítica na América Latina: um discurso marginal...................152
6.5. A desconstrução do sistema penal de Michel Foucault................................ 153
6.6. A desconstrução do sistema penal de Alessandro Baratta.......................... 160
6.7. A desconstrução do sistema penal de Zaffaroni........................................... 163
6.8. Bases da reconstrução da criminologia sob a perspectiva crítica................ 165
6.9. Críticas.......................................................................................................... 172
6.10. Crimes do colarinho branco........................................................................ 174
6.11. Conclusões................................................................................................. 179
CAPÍTULO 7 – ANÁLISE DAS TEORIAS................................................................ 182
7.1. Sobre o objeto da criminologia..................................................................... 182
7.2. Os crimes do colarinho branco no paradigma etiológico.............................. 184
7.3. A teoria da anomia........................................................................................ 186
7.4. Os crimes do colarinho branco na perspectiva da reação social .................188
7.5. O labeling approach ..................................................................................... 189
7.6. A criminologia do conflito.............................................................................. 190
7.7. A criminologia crítica..................................................................................... 191
7.8. A pergunta e a resposta............................................................................... 193
CONCLUSÃO.......................................................................................................... 195
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 197
1
INTRODUÇÃO
I.
Os crimes do colarinho branco constituem um capítulo à parte na história da 
criminologia e um ponto sobre o qual ainda restam muitas interrogações, tanto pela 
dificuldade de investigar suas “causas” pelos métodos da criminologia tradicional, 
devido à ausência de dados estatísticos que dêem a sua verdadeira dimensão, 
quanto pela resistência do sistema penal estatal à efetiva persecução desses 
crimes. Essas razões para tantas dúvidas, como se verá, são rigorosamente 
complementares e interdependentes: a baixa criminalização secundária reduz a 
disponibilidade de material empírico (estatísticas), indispensável para que a 
criminologia tradicional elabore suas conclusões a respeito das “causas” dessa 
espécie de delinqüência.
Embora se saiba (ou ao menos se presuma) que os crimes nas mais altas 
instâncias das atividades econômicas ocorrem todos os dias com tanta freqüência 
quanto os demais crimes do chamado direito penal tradicional, não se costuma vê-
los em manchetes de jornais (nem mesmo daqueles especializados em negócios), 
nos cadernos policiais nem em programas de televisão. Porém, quando um grande 
escândalo financeiro se deflagra, são enormes os prejuízos que gera à sociedade 
como um todo e o que permanecia oculto adquire grande visibilidade. 
Esses fatos se tornaram uma preocupação acadêmica no fim do século XIX 
e início do século XX, quando o desenvolvimento do sistema capitalista e a 
expansão industrial muitas vezes eram alcançados mediante práticas ilícitas em 
detrimento da ordem econômica, do sistemafinanceiro, do meio ambiente e dos 
consumidores.
Edwin Sutherland, o primeiro sociólogo a escrever uma obra específica 
sobre essa forma de criminalidade, denominou white collar crimes os crimes 
2
cometidos por pessoas de respeitabilidade e alto status social no curso de sua 
atividade profissional. Criou um conceito sociológico, aberto, mas que destaca os 
dois principais elementos desses delitos: o prestígio social de seus autores e a 
finalidade profissional do comportamento. Sutherland realizou uma pesquisa a 
respeito da forma específica como se operava a reação social nesses casos. 
Constatou que a punição de tais condutas, quando ocorria (acreditava que em 
menos de 50% dos casos), se dava na esfera civil ou administrativa – sem o caráter 
estigmatizante do processo e da condenação criminal. Analisou também como o 
poder econômico, a boa reputação e a influência política de seus agentes 
dificultavam a persecução de tais condutas de uma forma geral. 
Essas preocupações continuam presentes na atualidade, pois ainda se 
verifica uma lacuna na reação social a tais delitos, que, no entanto, continuam 
ocorrendo. Embora pouco se saiba a respeito deles. 
A criminologia não pode conformar-se em analisar dados estatísticos 
provindos da justiça criminal, que não representam a real proporção da ocorrência 
de delitos na sociedade. Deve a ciência, se quiser ser ciência e não repartição 
anexa aos tribunais penais ou à Administração Pública, buscar as verdadeiras 
razões dessa falha na reação social aos crimes do colarinho branco. .
Mas a conclusão de que a reação social é o dado que interessa na análise 
dos crimes do colarinho branco – em razão da quase ausência de persecução penal 
e, pois, de estatísticas – não se impõe por si só. A abordagem teórica que 
instrumenta a pesquisa nessa área pode ser tão variada quanto o de toda a 
criminologia, uma ciência que ainda procura seu objeto e discute vivamente a 
metodologia adequada a esse estudo. Por exemplo, além de revelar a brecha na 
reação social e, assim, provocar o “giro copernicano” da criminologia, Sutherland 
desenvolveu e aplicou aos crimes do colarinho branco sua “teoria da associação 
diferencial”, que dificilmente poderia ser incluída entre as teorias macrossociológicas 
e decididamente procura uma etiologia do crime. A extrema heterogeneidade das 
teorias criminológicas exige, portanto, uma tomada de decisão radical. Que 
3
paradigma seguir? Quais as perguntas relevantes? Onde buscar as respostas?
Por essa razão, o presente estudo propõe-se fazer uma incursão na 
criminologia, analisar o que as diversas teorias têm a dizer sobre o crime do 
colarinho branco na perspectiva da macrossociologia criminal. Por que da sociologia 
criminal e não da psicologia? A razão é simples: o conceito de “crimes do colarinho 
branco” nasceu no seio da sociologia e, por isso, reteve uma grande influência de 
elementos sociológicos em sua configuração. Ao final, o dilema da criminologia 
sociológica contemporânea será revelado, e com ele virá a necessária tomada de 
posição a respeito do objeto e do método a serem seguidos nas pesquisas 
criminológicas sobre os crimes do colarinho branco.
II.
A criminologia, desde seu surgimento, com a Escola Clássica, preocupou-se 
com as causas da criminalidade. Primeiramente, essas causas foram associadas ao 
livre-arbítrio de todo indivíduo, ou seja, a uma decisão livre de buscar o maior prazer 
por meio do menor esforço, mesmo que significasse a utilização de meios ilícitos. 
Era essa concepção que adotava o marquês de Beccaria, em sua clássica obra Dos 
delitos e das penas.
A Escola Positiva, no fim do século XIX e início do século XX, defendia haver 
um determinismo na conduta humana. Os estudos se desenvolviam com aplicação 
da metodologia das ciências naturais, baseando-se principalmente no evolucionismo 
de Darwin. Defendiam que o comportamento criminoso não era produto de uma 
decisão livre, mas sim derivava de uma série de fatores de ordem antropológico-
biológica (Lombroso), psicológica (Garofalo) ou sociológica (Ferri).
Posteriormente, já nas primeiras décadas do século XX, desenvolveu-se no 
âmbito da criminologia o ramo da sociologia criminal, cujos primeiros estudos se 
deram ainda no século XIX, na Europa, com Durkheim, Tarde e Lacassagne, que 
4
travaram importantes debates com os positivistas, principalmente nos Congressos 
Internacionais de Antropologia Criminal1. Apesar disso, seu reconhecimento como 
disciplina ocorreu nos Estados Unidos, precisamente na Universidade de Chicago, 
no início do século XX.
A primeira teoria sociológica, denominada “Escola de Chicago”, formou-se 
no interior dessa universidade com a proposta de aplicar os métodos do estudo 
sociológico, principalmente a análise estatística, à compreensão do fenômeno 
criminal.
A sociologia criminal se dividiu então em dois ramos: a microssociologia ou 
psico-sociologia, que conjugava a estrutura social e o aparelho psíquico do indivíduo 
na análise do fenômeno criminal; e a macrossociologia, que busca somente no 
estudo da estrutura social as causas do crime, ou a forma como se dá a reação 
social ao ilícito por parte das instâncias oficiais de controle (polícia, Ministério 
Público, Judiciário, sistema penitenciário). 
A macrossociologia surgiu da mesma raiz das escolas microssociológicas: a 
sociologia de Durkheim. Já no século XIX, Durkheim entendia que o crime não era 
uma doença social, mas um fenômeno inseparável dela. Assim, desde que dentro de 
uma margem de normalidade (demonstrada pela estabilidade das estatísticas), o 
crime possuía até alguns aspectos positivos para a evolução do grupo social. Para 
Durkheim, o crime poderia ser estudado como um fato social – sem apreciação de 
suas especificidades individuais (variáveis irrelevantes num estudo de caráter 
macrossociológico).
Portanto, o crime pode ser estudado como parte de qualquer sociedade. O 
conhecimento do funcionamento da sociedade pode trazer muitas informações sobre 
a criminalidade que nela ocorre.
Esta dissertação pretende expor, analisar e criticar o modo como as teorias
1 Principalmente no II Congresso em Paris (1889) e no III Congresso de Bruxelas (1892).
5
macrossociológicas descrevem e explicam o fenômeno dos crimes do colarinho 
branco. Para tanto serão analisadas quatro teorias: 1) a teoria da anomia; 2) o 
labeling approach, 3) a criminologia do conflito e 4) a criminologia crítica.
III.
A teoria da anomia, criada por Robert Merton, em 1938, foi a primeira teoria 
macrossociológica surgida após a Escola de Chicago. Para Merton, o fenômeno 
criminal se explicava em grande parte pela forte valorização na sociedade de metas 
de sucesso econômico e financeiro. Todos buscavam enriquecer e ser bem 
sucedidos, porém as oportunidades para alcançar tais fins eram limitadas. A ênfase 
cultural dada à riqueza material impregnou todas as estruturas institucionais da 
sociedade com um conteúdo econômico. Assim, a família, a escola e o sistema 
político estão todos a serviço das instituições econômicas. Objetivos não 
econômicos não são valorizados. Esse contexto gera o estado de anomia social 
(termo criado por Durkheim), no qual todo o sistema de regras perde o valor, 
enquanto um novo sistema ainda não se afirmou. É a crise da estrutura cultural, que 
se verifica especialmente quando ocorre uma forte discrepância entrenormas e fins 
culturais, de um lado, e as possibilidades socialmente estruturadas de agir em 
conformidade com aquelas, de outro.
O labeling approach propõe que o estudo criminológico não se concentre no 
ação do ofensor, mas na reação social. Altera o objeto da criminologia. Sua base 
sociológica é o interacionismo simbólico, que entendia que tanto a sociedade quanto 
a natureza humana não são realidades estáticas, imutáveis. Estão sempre se 
relacionando e se redefinindo num processo dinâmico. Portanto, a definição do 
crime não se dá simplesmente com a lei, é um conceito construído depois da 
atuação de todo o sistema punitivo estatal sobre o indivíduo – ao fim do processo 
pelo qual o sistema o rotula (label) como criminoso. Não há um conceito ontológico 
de crime, mas o resultado de uma reação social. E essa reação social é seletiva. Só 
alguns comportamentos são etiquetados como crimes, enquanto outros não – 
6
embora todos estejam previstos em leis penais. Ser um criminoso não depende 
tanto de uma decisão pessoal, mas sim de como as instâncias sociais reagem a 
essa pessoa. Ademais, isso envolve fatores legais e extra-legais. Assim, para 
compreender o problema criminológico deve-se estudar o funcionamento das 
instâncias que participam deste processo de reação: a polícia, a Administração 
Pública, o Poder Judiciário, o Ministério Público, instituições penitenciárias entre 
outros.
A criminologia do conflito funda-se na sociologia de Ralf Darhendorf, que 
tem por princípio uma sociedade formada na ausência de consenso ou equilíbrio. O 
que mantém a coesão das sociedades é a coerção. Não há valores comuns, mas 
valores impostos por uma classe social dominante. Essa concepção de sociedade 
põe em relevo o caráter de “classe” do direito penal, que é entendido como um 
instrumento de grupos detentores do poder para assegurar seu domínio e sancionar 
comportamentos de grupos conflitantes. Daí se explica a tendência histórica de 
criminalização sistemática de condutas das classes inferiores.
Última teoria a ser considerada, a criminologia crítica, baseou-se sobretudo, 
mas não exclusivamente, na sociologia marxista. Acreditava que, em geral, no 
sistema capitalista, o modelo econômico determinava a divisão da sociedade em 
classes. Toda a sociedade se estrutura para manter o status quo dessa divisão 
social. Nessa visão, o direito penal é um instrumento de separação de ilegalidades 
cometidas pela classe inferior, e de exercício de controle e vigilância sobre ela. A 
partir dessa constatação, a criminologia crítica ocupa-se em deslegitimar o sistema 
penal, por meio do paradigma da reação social, que havia sido introduzido pelo 
labeling approach.
IV.
Portanto, da análise de cada uma destas quatro escolas da 
7
macrossociologia, buscará a esta dissertação demonstrar que paradigma 
criminológico (etiológico ou da reação social) deve ser adotado para a análise 
dos crimes do colarinho branco na perspectiva macrossociológica. Isso não 
significa negar a importância de outras abordagens teóricas (psicologia, 
microssociologia, economia etc.), mas realizar uma incisão no vasto campo dos 
estudos criminológicos para isolar uma linha de pensamento em que surgiu e se 
desenvolveu o próprio conceito de crimes do colarinho branco.
O trabalho está dividido em sete capítulos. O capítulo 1 situa a sociologia 
criminal no contexto histórico e científico da criminologia. O capítulo 2 expõe a 
origem dos white collar crimes na criminologia, com a análise da obra de Sutherland. 
O capítulo 3 trata da teoria da anomia e da forma como ela explica os crimes do 
colarinho branco. O capítulo 4 descreve o surgimento do labeling approach e a 
introdução do paradigma da reação social no estudo dos crimes do colarinho branco. 
O capítulo 5 traz o enfoque da criminologia do conflito, e o capítulo 6, da criminologia 
crítica. No capítulo 7 realiza-se uma reflexão a respeito de todas as teorias expostas. 
Por fim, a conclusão tenta responder, a partir da visão da autora, à pergunta 
formulada.
As citações textuais de obras em língua estrangeira são de tradução livre da 
autora.
8
CAPÍTULO 1. ORIGEM DA SOCIOLOGIA CRIMINAL 
1.1. A criminologia como ciência 
A criminologia, que pode ser definida, genericamente, como a ciência que 
investiga o fenômeno criminal de um ponto de vista não normativo, tem como 
primeira e talvez mais importante característica a interdisciplinariedade. Isso significa 
que na tarefa a que se propõe, a criminologia se vale tanto dos métodos quanto das 
conclusões de outras ciências, como a psicologia, a sociologia, a biologia e a 
antropologia. Essa condição por muito tempo foi um obstáculo a seu reconhecimento 
como ciência autônoma, dotada de método e objeto próprios. Há um pouco de 
exagero nessa afirmação, mas, de qualquer modo, sendo o crime um fenômeno 
histórico e cultural (em sentido amplo: depende de uma certa valoração para existir), 
produzido no seio da sociedade e pela ação de indivíduos, estaria comprometida, 
mesmo porque seria uma ficção, qualquer pretensão a uma “criminologia pura”, 
alheia às conquistas alcançadas por outras ciências naturais e humanas que se 
ocupam da delinqüência.
Ao mesmo tempo em que a criminologia possibilita essa abertura científica, 
e talvez por isso mesmo, cada vez mais se percebe a dificuldade ou até a 
impossibilidade de elaboração de uma teoria única, de aplicação incondicional e 
geral, que dê conta de descrever e explicar a totalidade dos crimes, bem como de 
fundamentar políticas criminais abrangentes. Para tanto, seria necessário identificar 
um núcleo explicativo ontológico comum a todos os crimes, o que não foi ainda 
alcançado – e talvez não exista. 
Daí que, negando o conteúdo ontológico, invariável, da noção de “crime”, 
surgiram teorias, na segunda metade do século passado, segundo as quais todo 
crime é uma realidade essencialmente construída pelo homem, ou seja, o único 
ponto em comum a todos os crimes é o fato de assim serem definidos pelas 
9
agências de reação e controle social (que incluem o legislador, a polícia, o Ministério 
Público, o Poder Judiciário e até mesmo a imprensa). Afirma-se, por isso, que o 
dualismo ontologia/construção do fenômeno criminal representa o paradoxo atual da 
criminologia.
Pode-se afirmar que o crime, por ser uma conduta humana (des)valorada, 
sempre terá duas dimensões igualmente importantes: a dimensão objetiva (social) e 
a dimensão subjetiva (psíquica). Assim como as estruturas sociais podem 
proporcionar condições mais ou menos favoráveis ao cometimento do delito, a 
resposta individual a tais condições só pode ser compreendida de forma plena com 
base na consciência de cada homem. Pois nem todo indivíduo absorve e responde 
da mesma maneira a pressões sociais. Segue-se, portanto, que a forma individual 
de reação a estímulos provindos da organização social só pode ser compreendida 
por meio do estudo do funcionamento do aparelho psíquico e das experiências 
vivenciadas por cada sujeito. Estudo que se realiza sobretudo no âmbito da 
criminologia psicanalítica Sobre as origens dos estudos da dimensão subjetiva do 
crime, afirmam Figueiredo Dias e Manoel da Costa Andrade:
(...) a criminologia psicanalítica conheceu as primeiras manifestações 
na obra dos fundadores da psicanálise (Freud, Adler e Jung) e deles 
recebeu as suas linhas essenciais. Desde então não tem deixado de 
seexpandir, a partir sobretudo dos meados da década de vinte, 
época que pode ser considerada sua idade de ouro”2 
Apesar de haver ainda sérios problemas metodológicos que estão longe de 
alcançar o consenso dos criminólogos, a pretensão deste trabalho consiste 
exatamente em investigar qual a metodologia mais adequada ao estudo dos crimes 
do colarinho branco em sua dimensão objetiva. Não se nega a existência de uma 
dimensão subjetiva, psíquica, interior ao indivíduo que pratica o crime, nem a 
legitimidade dos estudos da criminologia psicanalítica também nos crimes do 
colarinho branco. Apenas se optou por restringir o alcance das pesquisas, a fim de 
se concentrar no grande debate das escolas macrossociológicas a respeito do 
paradigma que melhor explica a criminalidade do white collar: o paradigma etiológico 
2 Jorge de Figueiredo DIAS, Manoel Costa ANDRADE, Criminologia: o homem delinqüente e a 
sociedade criminógena, p. 184.
10
(por que alguém comete crimes) ou o paradigma da reação social (por que as 
instâncias de poder atribuem, ou não, a determinadas condutas a qualidade de 
“criminosas”).
Esse campo de investigação, mais restrito, foi escolhido porque o próprio 
conceito de white collar crime surgiu historicamente como um conceito sociológico, 
ou seja, define-se por elementos retirados das estruturas sociais: seriam condutas 
realizadas por membros de camadas sociais de prestígio, no âmbito da atividade 
profissional. Não se tomamos sujeitos de modo individual, mas em conjunto, como 
membros de uma classe social. Relaciona-se, dessa forma, ao modelo de 
organização da sociedade e a seus valores primordiais. Hermann Mannheim afirma 
que, ao contrário do que se pode afirmar sobre outros crimes, “...aqui (nos crimes do 
colarinho branco) é a própria pertinência do delinqüente a uma dada classe social 
que constitui um elemento essencial e definidor...”.3 
Entretanto, antes de ingressar na abordagem criminológica dos crimes do 
colarinho branco realizada pelas modernas teorias sociológicas, convém, 
inicialmente, situar o contexto histórico em que a sociologia passa a integrar o 
universo da investigação criminológica, e, então, expor os principais postulados das 
diversas escolas que desenvolvem essa pesquisa até hoje.
1.2. A Escola Clássica
O direito penal surgiu praticamente com a organização do homem em 
sociedade. Por muito tempo o crime foi encarado sob um aspecto sobrenatural, 
como uma manifestação demoníaca, ou sob um aspecto moral e religioso, como um 
comportamento pecaminoso. Essa forma de encarar o crime gerou duras reações, 
para afastar o mal e fazer purgar o criminoso.
3 Hermann MANNHEIM, Criminologia comparada, p. 721.
11
O abandono da concepção metafísica e a secularização do estudo do crime 
só veio a ocorrer no século XVIII, sob a influência da filosofia iluminista, com a 
chamada Escola Clássica. Seu precursor foi o italiano Cesare Bonesana, o marquês 
de Beccaria, que em 1764, publicou a consagrada obra Dei delitti e delle penne. 
Esse livro constitui a primeira reflexão sistematizada sobre o problema do 
crime, que posteriormente foi desenvolvida por autores como o alemão Paul Johann 
Von Feuerbach (1775/1833), o inglês Jeremy Bentham (1748/1832), o italiano 
Francesco Carrara (1805/1888), entre outros. Devido a essa racionalização da visão 
do crime e a seu estudo organizado por um grupo homogêneo ideologicamente, 
costuma-se tomar a Escola Clássica como o ponto de partida para o estudo da 
criminologia.4
A preocupação central nessa primeira fase da criminologia consistia na 
pergunta: por que o homem comete crimes? 
Na estrutura do pensamento clássico, o crime era uma entidade de direito, 
uma realidade jurídica. O homem era tido como um sujeito que age de forma 
racional, motivado pela busca de maior prazer e menor sofrimento. O conteúdo do 
crime não era posto em questão. A criminologia recebia apenas o conteúdo que lhe 
davam as leis penais.
Tendo por base a filosofia iluminista, a Escola Clássica entende que todos 
os indivíduos são iguais, têm livre-arbítrio e controle sobre suas ações. A prática do 
delito é produto da liberdade de decisão do homem motivada pela busca do prazer 
e, desse modo, a pena, como mal que representa, deve superar (sem, porém, 
exagerar) as vantagens que a prática do delito traz a seu autor. Dizia, por exemplo, 
Beccaria, numa idéia que veio a ser plenamente desenvolvida por Bentham:
4 Cf. Jorge de Figueiredo DIAS, Manoel da Costa ANDRADE, Criminologia: o homem delinqüente e 
a sociedade criminógena; Antonio GARCIA-PABLOS de MOLINA, Tratado de criminologia; 
Winfred HASSEMER, Francisco MUÑOZ CONDE, Introducción a la criminologia, e Francis 
CULLEN, Robert AGNEW, Criminological theory: past to present.
12
Se o prazer e a dor são a força motora dos seres sensíveis, se entre 
os motivos que impelem os homens às ações mais sublimes foram 
colocados pelo Legislador invisível o prêmio e o castigo, a distribuição 
desigual destes produzirá a contradição, tanto menos evidente quanto 
mais é comum, de que as penas punem os delitos que fizeram 
nascer.5 
Por mais de um século as teorias da Escola Clássica predominaram no 
cenário acadêmico e até hoje exercem influência na criminologia. Por exemplo, 
fornecem a base para modernas teorias do desencorajamento (deterrence theories), 
da escolha racional (rational choice), e da rotina (routine activities) que, assumindo 
os pressupostos teóricos da racionalidade do comportamento e da ponderação de 
custos e benefícios, destacam a importância do papel das penas – em especial de 
sua celeridade e severidade – como meio de prevenção de crimes.6
1.3. A Escola Positiva
A Escola Clássica teve seus postulados fortemente contestados pela Escola 
Positiva italiana no fim do século XIX. As críticas foram impulsionadas pelo fracasso 
das reformas penais realizadas no período, de influência clássica, que não 
impediram o aumento da criminalidade e da reincidência. Houve também influência 
do desenvolvimento das ciências naturais, principalmente da teoria da evolução de 
Charles Darwin (1809/1882), que fundamentaram uma nova resposta do problema 
criminológico.
O surgimento da Escola Positiva se deu em 1876, quando foi publicada a 
obra L'uomo delinquente, daquele que foi seu principal representante, o médico 
italiano Cesare Lombroso. Foi com a Escola Positiva que surgiu a chamada 
criminologia científica, como uma disciplina propriamente dita, estruturada segundo 
a metodologia das ciências naturais. Ao lado de Lombroso, seus principais 
5 Cesare BECCARIA, Dos delitos e das penas, p. 52.
6 Os principais autores a desenvolver esta concepção são os economistas Gary Becker nos anos 70 
(criador da deterrence theory), e, atualmente Mark Stafford e Mark Warr (com uma atualização da 
deterrence theory de Becker), Derek B. Cornish e Ronald V. Clarke (Crime as a rational choice 
theory), e Lawrence Cohen e Marcus Felson (Routine activity theory)
13
representantes foram Enrico Ferri e Rafael Garofalo. Cada um desses autores 
desenvolveu a criminologia científica a partir de uma diferente área do saber, ou 
seja, respectivamente, a antropologia, a sociologia e a psicologia. Foi Garofalo que 
publicou pela primeira vez em 1885 obra com o título Criminologia, muito embora já 
tenha o vocábulo sido empregado em 1879 pelo antropólogo francês Topinard7. 
Para a Escola Positiva, o delito não era então visto como uma entidade 
meramente jurídica, mas fenômenonatural, cujo conteúdo ontológico era produto de 
um complexo de causas de caráter biológico, psicológico ou social que agiam sobre 
o indivíduo. A resposta à questão criminológica se dava com base nas ciências 
naturais, que negavam o livre-arbítrio e seus pressupostos, pois, assim como nos 
fenômenos da natureza, entendiam haver determinismo no comportamento dos 
indivíduos. Se a regularidade observada na natureza pudesse ser encontrada no 
comportamento humano, haveria previsibilidade e alguma chance de, em 
conhecendo as causas do comportamento desviante, prevenir com eficácia o crime. 
A Escola Positiva assume o pressuposto teórico da regularidade/ previsibilidade dos 
fenômenos humanos (especialmente da conduta) e, com base nele, desenvolve 
suas teorias. 
A atenção dos criminólogos, então, passou a ser a pessoa do delinqüente e 
a busca das causas do crime em sua anormalidade constitutiva. Para Lombroso8, 
essa anomalia era de natureza biológica/antropológica e constituía manifestação de 
traços de antecessores primitivos em estado selvagem (atavismo), enquanto Enrico 
Ferri9 sustentava ser de natureza social a causa. Já Garofalo10 estudava o elemento 
psicológico que levava à quebra dos sentimentos básicos e universais da sociedade. 
Embora hoje os estudos da Escola Positiva, e particularmente de Lombroso, 
sejam vistos com preconceito e até mesmo considerados inocentes, em 1876 foram 
os maiores responsáveis pelo desenvolvimento do conceito de causalidade 
7 Roberto LYRA, João Marcelo de ARAÚJO JR, Criminologia: de acordo com a Constituição de 
1988, p. 03.
8 Cesare LOMBROSO, L'Homme criminel, passim.
9 Enrico FERRI, Sociologie criminelle, passim.
10 Rafael GAROFALO, Criminologia, passim.
14
naturalística para o direito penal. Até então a causalidade, num resíduo pré-moderno 
do direito penal, era considerada produto da simples vontade divina, devido à forte 
influência religiosa que imperou por toda a Idade Média e que, apesar dos esforços 
da Escola Clássica, avançou o início da modernidade no direito penal. A superação 
da concepção metafísica por um conceito científico proporcionou a evolução de toda 
a dogmática penal do século XX.
O principal legado da Escola Positiva, entretanto, foi a reivindicação da 
neutralidade axiológica da ciência e da unidade do método empírico-indutivo para 
comprovar suas proposições. Assim, independentemente do conteúdo 
antropológico, psicológico ou sociológico das hipóteses testadas, o que caracteriza 
um estudo como positivista é a utilização do método indutivo para comprovar os 
postulados do determinismo e do homem delinqüente como anormal. Essa 
metodologia , como será exposto no capítulo 3, é a base de toda criminologia 
etiológica, modelo, talvez, predominante da ciência criminal que se realiza hoje. No 
campo sociológico, é a metodologia utilizada por todas escolas microssociológicas e 
pelas teorias ecológicas e da anomia, dentro das explicações macrossociológicas.
A Escola Positiva tradicional, centralizada na figura do indivíduo delinqüente, 
ainda exerce muita influência na América Latina. Afirma Rosa Del Olmo, ao analisar 
de maneira comparada a prática da criminologia em todos os países da América 
Latina, que “...predomina uma concepção de sociedade dividida em “normais” (os 
que cumprem a lei) e “outros”, que têm que ser anormais porque não acatam as 
normas da sociedade e particularmente a lei...”11 
Uma reformulação moderna e mais sofisticada das teorias biológicas 
positivistas tem surgido recentemente na literatura criminológica. Representam 
principalmente estudos médicos que buscam associar certos traços genéticos e até 
não genéticos ( tabagismo, alcoolismo, uso de entorpecentes) a tendências para a
11 Rosa del OLMO, A América Latina e sua criminologia, p. 287.
15
prática de determinadas espécies de delitos.12
Assim, mesmo que Lombroso, Ferri e Garofalo sejam vistos com 
desconfiança e até um certo desprezo pelos criminólogos contemporâneos, sua 
contribuição para o desenvolvimento da criminologia não pode ser ignorada. 
1.4. Antecedentes da sociologia criminal
As primeiras manifestações da sociologia criminal se deram já na metade do 
século XIX, representadas principalmente pelos trabalhos de Alexandre Lacassagne 
(1843/1924), Gabriel Tarde (1843/1904) e Émile Durkheim (1858/1917), muito 
embora sua expansão tenha sido contida pelo predomínio da Escola positiva nesse 
período. A sociologia criminal entendia não estar no sujeito, mas na sociedade, a 
causa da criminalidade.
A primeira corrente sociológica que se desenvolveu foi a chamada sociologia 
do consenso. Observa a sociedade de forma estática. Baseia-se na premissa de que 
a sociedade e seus organismos mantêm-se pelo consenso dos membros em torno 
de valores comuns tidos como relevantes para toda a coletividade. A sociedade é 
considerada como um sistema estável, equilibrado, fechado em si mesmo e 
tendente à conservação. A sociedade (estrutura maior) é formada de um conjunto de 
estruturas (sistema educacional, jurídico, familiar, cultural, etc.) que atuam de forma 
harmônica, cada uma com uma função específica no todo.
Foram as obras de Durkheim que lançaram as bases da sociologia criminal 
consensual desenvolvida no século XX, sendo certamente um dos autores mais 
influentes no universo da criminologia contemporânea. Suas principais obras foram: 
De la division du travail social (1893), Les règles de la méthode sociologique (1895), 
12 A respeito, Lee Elis e Anthony Walsh elaboraram teoria genética para tentar explicar tendências 
para crimes de natureza sexual; e David Rowe explica como podem ocorrer influências de fatores 
biológicos, como serotonina, neurotransmissores e hormônios, respectivamente em Gene-based 
evolutionary theories in criminology, e, Does the body tell?, in Francis CULLEN e Robert AGNEW, 
Criminological theory: past to present, p. 48-72.
16
e Le suicide (1897).
Em De la division du travail social, Durkheim define a sociedade como um 
organismo vivo, dotado de vontade e protetor de valores morais de solidariedade 
essenciais ao desenvolvimento de toda a comunidade. Essa solidariedade provém 
de que um certo número de estados de consciência é comum a todos os membros 
de uma mesma sociedade e aceito por todos de forma consensual. Neste contexto, 
Durkheim tenta conceber um conceito sociológico de crime em substituição a um 
conceito puramente jurídico, definindo o ato como criminoso quando ofende os 
estados fortes e definidos da consciência coletiva. Ou seja, o crime ofenderia os 
sentimentos comuns à média dos indivíduos da mesma sociedade, de maneira 
intensa e determinável por regra clara e precisa13.
Mas é na obra Les régles de la méthode sociologique que se encontra uma 
das mais importantes contribuições de Durkheim, a concepção do crime como um 
fator de funcionalidade de toda e qualquer sociedade, e não uma patologia, como 
era considerado até então. Constata Durkheim que em qualquer sociedade, seja de 
qualquer tipo e de qualquer época, haverá crime. As taxas de criminalidade até 
mesmo aumentam com a evolução das sociedades. Entende Durkheim que não há 
fenômeno que apresente de maneira mais irrecusável todos os sintomas da 
normalidade, uma vez que aparece estreitamente ligado às condições de toda a vida 
coletiva. Pode, ainda, nesse contexto, o crime apenas ser considerado patológico 
quando atingir taxas anormais. No entanto, para Durkheim, é normal a existência de 
uma criminalidade que atinja mas não ultrapasse certo nível. Considera que o crime, 
ainda quelamentável, é inevitável. É uma condição de saúde pública – parte de uma 
sociedade sã.14 
Portanto, Durkheim considerou o crime um fato social normal – o que será o 
ponto de partida de todas as escolas macrossociológicas, que basearão seus 
estudos sobre a criminalidade nas próprias instituições sociais.
13 Émile DURKHEIM, Da divisão do trabalho social, p. 50.
14 IDEM, As regras do método sociológico,
17
Por fim, em Le suicide, Durkheim toma o conjunto de suicídios como um fato 
social, ou seja, abstrai do evento toda a individualidade e realiza um estudo a partir 
do conjunto de suicídios em determinadas sociedades. Analisa como a estrutura 
social influencia as taxas de suicídios em determinados períodos nessas 
sociedades. E demonstra, por meio de estatísticas, que tal perspectiva permite 
identificar causas estritamente sociais para os suicídios, examinados somente como 
um fato social.
De fato, se ao invés de enxergá-los (os suicídios) apenas como 
acontecimentos particulares, isolados uns dos outros e cada um 
exigindo um exame à parte, considerarmos o conjunto de suicídios 
cometidos numa determinada sociedade durante uma determinada 
unidade de tempo, constataremos que o total assim obtido não é uma 
simples soma de unidades independentes, uma coleção, mas que 
constitui por si mesmo um fato novo e sui generis , que tem a sua 
unidade e sua individualidade, por conseguinte sua natureza é 
eminentemente social.15 
Baseado principalmente nas estatísticas, Durkheim abre a possibilidade de 
estudar o crime somente a partir da estrutura social, como um fato social normal, 
sem analisar o homem individualmente.16
1.5. O surgimento da sociologia criminal como disciplina
A primeira teoria propriamente sociológica formulada no âmbito da 
criminologia, ou seja, uma teoria voltada exclusivamente para a explicação do 
fenômeno criminal, foi a denominada teoria ecológica ou “Escola de Chicago”. Esse 
15 Émile DURKHEIM, O suicídio: estudo de sociologia, p. 17.
16 Enrico Ferri, muito embora esteja associado à escola positiva, em sua obra Sociologie criminelle, 
chegou praticamente às mesmas conclusões de Durkheim, partindo, porém de influências 
diferentes (Comte, Spencer, Darwin). Analisou diversos dados estatísticos, e ligou o fenômeno 
criminal mais à estrutura social do que ao próprio indivíduo. Entretanto, jamais teve afinidades 
ideológicas com a mencionada escola sociológica da criminologia. Chegou, inclusive, ao lado de 
Lombroso, a travar calorosos debates com Lacassagne e Tarde, da escola sociológica, nos 
Congressos Internacionais de Antropologia Criminal – principalmente no 3°, realizado em 
Bruxelas, em 1892. Feitas essas ressalvas necessárias, pode-se afirmar que Ferri foi o verdadeiro 
precursor da sociologia criminal. 
18
nome se deve ao surgimento da sociologia como disciplina e a seu grande 
desenvolvimento na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, principalmente 
nas três primeiras décadas do século XX. A Universidade de Chicago estabeleceu-
se em 1891, e foi a primeira universidade norte-americana a ter um departamento de 
sociologia, fundado em 1892.
Segundo Wagner Cinelli de Paula Freitas:
A Universidade de Chicago assumiu posição mundial de destaque em 
sociologia. Poucas universidades mantinham centros de pesquisa em 
ciências sociais no início dos anos 20. Segundo Martin Bulmer, a 
única instituição de ensino que se equiparava à Escola de Chicago 
durante a década de 20, em termos de escopo de trabalho e de um 
corpo docente de elevado nível internacional, era a London School of 
Economics and Political Science, que integrava a Universidade de 
Londres, Inglaterra, embora esta fosse menos que a primeira, tanto 
em corpo docente quanto em alunado. A Universidade de Columbia, 
em Nova Iorque, só conseguiu rivalizar a sociologia de Chicago, no 
final da década de 30, período em que coincidiu com a perda de 
influência da Escola de Chicago.17 
A Escola de Chicago surgiu como uma crítica às teorias de perspectiva 
individual. Influenciou-se pela industrialização dos Estados Unidos e pela mudança 
radical de seu espaço urbano. Essa transformação, segundo a Escola de Chicago, 
estava intimamente relacionada à causa da criminalidade. Dessa forma, sua 
compreensão dependia de um estudo de forças externas ao indivíduo, sobretudo 
ligadas à área geográfica onde viviam os criminosos, que, pelas condições precárias 
de organização, geravam uma propensão ao crime.
A cidade de Chicago em 1890 contava com um milhão de habitantes e, em 
apenas vinte anos, teve este número duplicado. Além disso, foi o centro de 
imigração de uma diversidade de grupos étnicos: afro-americanos do sul dos 
Estados Unidos, alemães, ingleses, irlandeses, escandinavos, judeus, poloneses e 
italianos.18 Esses novos habitantes obtinham empregos e se estabeleciam nas 
sombras das indústrias erguidas no centro da cidade, em bairros pobres, poluídos,
17 Wagner Cinelli de Paula FREITAS, Espaço urbano e criminalidade: lições da escola de Chicago, p. 
53.
18 Francis CULLEN, Robert AGNEW, Criminological theory: past to present, p. 95.
19
sob condições precárias e superlotação.19
Seus principais representantes, entre os muitos teóricos, foram Ernest 
Burgess, Clifford R. Shaw e Henry D. McKay.
Burgess, em sua obra The growth of the city (1925), sustentava que a área 
urbana cresce num processo contínuo de expansão do centro para o exterior . Para 
demonstrar sua teoria, apresentou um mapa de Chicago sobre ele traçou cinco 
círculos concêntricos. Ao círculo menor, que correspondia ao centro comercial e 
bancário da cidade, Burgess denominou Zona I. A área imediatamente no entorno 
do primeiro círculo denominou Zona II. Era nesta área que se concentrava a 
criminalidade.20
Já Shaw e McKay realizaram trabalho estatístico abrangendo mais de dez 
anos na área geográfica de Chicago, para o estudo da delinqüência juvenil, na obra 
Juvenile delinquence and urban areas (1942). Coletaram dados estatísticos de 
criminalidade e os distribuíram sobre os círculos concêntricos de Burgess. Como 
resultado, verificaram a predominância da criminalidade juvenil, em nível estável no 
tempo, na Zona II. Concluíram que eram as características da área, e não de seus 
habitantes, que determinavam o nível de delinqüência – já que a movimentação dos 
imigrantes era constante. O que causava a delinqüência era a desorganização 
social, ou seja, um rompimento entre as instituições oficiais da sociedade e a 
comunidade. Na Zona II, as famílias eram desestrutradas, as escolas, 
desorganizadas, o atendimento religioso era escasso, o lazer quase inexistente, e os 
grupos políticos eram poucos influentes. Quando ocorria esse rompimento, os 
adultos não conseguiam controlar os jovens, que tinham contatos com criminosos 
mais velhos que lhes transmitiam os valores do crime.21 
Shaw e McKay acreditavam que a organização da comunidade 
19 Esses “bairros” receberam a denominação em inglês de slum, palavra ainda sem correspondente 
em português, mas algo próximo de gueto e favela.
20 Ernst BURGESS, The city, p. 47-62, Chicago: University of Chicago Press, 1967, apud Francis 
CULLEN, Robert AGNEW, Criminological theory: past to present, p. 96.
21 Clifford SHAW e Henry MACKAY, Juvenile delinquency and urban areas, p. 78.
20
(principalmente a Zona II) poderia gerar a diminuição da criminalidade juvenil. 
Criaram, em 1930, um projeto (Chicago Area Project) que envolvia programas de 
recreação,revitalização do espaço físico do bairro, e um trabalho integrado com a 
justiça criminal para acompanhamento dos jovens, com a utilização de membros da 
comunidade para aconselhá-los22.
Hoje, continua-se a acreditar que existe uma conexão importante entre o 
fenômeno urbano e a delinqüência, embora a sociedade tenha se tornado mais 
complexa e tais influências tenham assumido formas novas.23 É por tal razão que 
medidas como o projeto de Shaw e McKay ainda hoje encontram grande respaldo 
na formulação da política criminal.
1.6. A microssociologia e a macrossociologia criminal
A partir do surgimento da Escola de Chicago, o estudo da sociologia criminal 
dividiu-se em duas vertentes: a microssociologia, ou escolas psico-sociológicas, e a 
macrossociologia criminal.
As teorias psico-sociológicas ou microssociológicas estudam o problema do 
crime sob a perspectiva do indivíduo em interação com o meio social. A sociedade 
cria as condições para o desvio (o espaço geográfico, a pressão por sucesso, a falta 
de oportunidades etc), e a micro-sociologia estuda como essas condições atuam no 
indivíduo, de forma particular. Encontram a predeterminação do crime no sujeito. 
Analisam as formas de transmissão do comportamento criminoso e as motivações 
sociais que levam um indivíduo a delinqüir. São teorias que abandonaram a variante 
puramente individualista (biológica), e consideram importante a influência da 
sociedade sobre o homem, enfatizando a formação, os valores e contatos sociais. A 
linha de pesquisa microssociológica é a predominante nos Estados Unidos24 
22 Francis CULLEN, Robert AGNEW, Criminological theory: past to present, p. 104.
23 Cf. Teresa CALDEIRA, Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo, e Wagner 
Cinelli de Paula FREITAS, Espaço urbano e criminalidade: lições da escola de Chicago.
24 Francis CULLEN, Robert AGNEW, Criminological theory: past to present, p.131.
21
A segunda linha de pesquisa da sociologia, a perspectiva macrossociológica, 
detém-se na estrutura social, não considerando o indivíduo como objeto de seu 
estudo. Considera a própria “sociedade criminógena” seu objeto de estudo. O crime 
é tomado como um fato puramente social, produto da atuação das estruturas 
sociais, sem referência a condições individuais. Assim, o objeto de estudo da macro-
sociologia não é o indivíduo, mas o funcionamento da sociedade. 
A macrossociologia criminal se subdivide em duas vertentes de estudos: 
uma voltada ao paradigma etiológico e outra ao paradigma da reação social. 
A macrossociologia etiológica tem por objeto a compreensão das causas do 
crime, como um dado ontológico, resultante das estruturas sociais.
A macrossociologia da reação social analisa, de outro lado, o processo de 
criminalização realizado pelos órgãos da persecução penal. Entende o crime como 
uma realidade construída pelo homem (e não ontológica), que é criada e recriada 
por um processo de e interpretação e seleção de condutas. Atribui ao fenômeno da 
criminalização uma natureza política – no sentido de exercício do poder.
É a macrossociologia, principalmente sob a perspectiva da reação social, a 
forma predominante dos estudos criminológicos desenvolvidos na Europa.25
25 Cf., por exemplo, Winfred HASSEMER, Francisco MUNÕZ CONDE, Introducción a la criminología; 
Jorge de Figueiredo DIAS e Manoel da Costa ANDRADE, Criminologia: o homem delinqüente e a 
sociedade criminógena; Antonio GARCIA-PABLOS de MOLINA, Tratado de criminologia.
22
1.7. Escolas microssociológicas: o indivíduo e a sociedade
1.7.1. Teorias do aprendizado
Sob essa denominação reúne-se um grupo de teorias que entende que 
uma pessoa se torna um criminosa por meio da aprendizagem dentro da sociedade. 
O aprendizado do delito se dá da mesma forma pela qual a pessoa aprende 
qualquer tipo de comportamento lícito.
A primeira e mais importante teoria da aprendizagem foi a da 
associação diferencial. 
Exposta em um artigo chamado A theory of differencial association, por 
Edwin Sutherland em 1939, no seu livro Principles of criminology, buscou explicar as 
razões pelas quais os vários fatores analisados pela Escola de Chicago (classe 
social, lares desestruturados, raça, localização urbana, etc) se relacionavam com o 
crime. Entendeu que tal relação se dava pela existência de um processo de 
aprendizagem. Para Sutherland não era herdado nem determinado por fatores 
fisiológicos. Era simplesmente aprendido, como qualquer outro comportamento. 
Nesse artigo, o autor elaborou nove proposições que tentavam explicar como se dá 
a transmissão do comportamento criminoso26 (que serão expostas no capítulo 2). O 
delito é uma conduta aprendida na interação entre as pessoas, principalmente as 
mais próximas (pais, amigos). Por meio da interação são ensinadas as técnicas de 
cometimento de delitos e são reforçados os argumentos favoráveis à violação da lei. 
Um indivíduo se torna criminoso principalmente porque está fortemente exposto a 
motivações, tendências, racionalizações e atitudes que convergem para o crime. E é 
o ambiente em que ele vive que propicia tais contatos.
Essa teoria teve grande influência nos Estados Unidos e suas recentes 
26 Edwin SUTHERLAND, Donald CRESSEY, A theory of diferencial association, in Francis CULLEN, 
Robert AGNEW, Criminological Theory: past to present, p. 131-135.
23
reformulações predominam na explicação da criminologia juvenil norte-americana.27
Gresham M. Sykes e David Matza também entendiam que o 
comportamento criminoso era o produto de aprendizagem. Afirmavam que surgia a 
motivação para o crime pela consideração prioritária de argumentos favoráveis. No 
entanto, resolveram desenvolver o conceito de argumentos favoráveis, sugerido por 
Sutherland. Sykes e Matza escreveram em 1957 o artigo Techniques of 
neutralization. Para eles, ao contrário do que se entendia na época, o criminoso não 
aprovava seu próprio comportamento, ele sabia que contrariava valores da classe 
média. No entanto, criava mecanismos psicológicos de justificação de suas atitudes, 
que as tornavam válidas para ele, mas não para o restante da sociedade. Esses 
mecanismos, foram chamados por Sykes e Matza de “técnicas de neutralização”. 
Podiam ser justificativas de várias naturezas, tais como: a) exclusão da própria 
responsabilidade: com o delinqüente entendendo que seus atos se devem a forças 
externas e fora do seu controle, como falta de amor paterno, más companhias (uma 
intencional alienação do self), b) negação da ilicitude: quando o delinqüente entende 
haver em sua atitude apenas mala prohibita e não mala in se (vandalismo como 
protesto, furto como empréstimo, agressões como problemas privados), c) negação 
da vitimização: interpretando que a vítima merece o tratamento sofrido (mau patrão, 
homossexual, prostituta), d) a condenação dos que condenam: um ataque às 
instâncias de controle social (poder corrupto, justiça lenta), e) apelo a valores morais 
superiores de seu grupo social, irmandade, gangues.28 
27 Atualmente, a clássica teoria da aprendizagem de Sutherland é defendida pela moderna teoria do 
social learning, do sociólogo norte americano Ronald Akers, que acrescentou a esta alguns 
princípios gerais da teoria comportamental presentes no contato entre o jovem e o criminoso, com 
suporte em pesquisas mais recentes. Cf. Ronald AKERS Criminological theories: introduction and 
evaluation, passim.
28 Gresham M SYKES, David MATZA, Thechniques of neutralization in Francis CULLEN, Robert 
AGNEW, Criminological Theory: past to present, p. 138-141.
24
1.7.2. Teorias do controle
As teorias docontrole são teorias microssociológicas desenvolvidas por 
Walter C. Reckless e Travis Hirschi.
Walter Reckless, autor da obra The crime problem (1961), acreditava 
que havia uma série de condições favoráveis ao cometimento de delitos a que 
estavam expostos os indivíduos, alguns mais, outros menos, em razão do bairro em 
que viviam. Esses apelos atuam de forma diferente em cada pessoa. Tudo depende, 
na verdade, do controle de cada um, que pode ser externo ou interno. O controle 
externo se assemelha ao controle social informal, forte nas comunidades 
organizadas. Nas comunidades desorganizadas, onde o controle externo é fraco, 
predomina o controle interno, ou seja, crenças pessoais, comprometimento com 
objetivos lícitos, auto-conceito de honestidade, habilidade de não absorver as 
pressões e uma forte consciência, entre outras coisas. Esses fatores permitem que 
uma pessoa diga “não” quando surgir a oportunidade de ingressar no mundo do 
crime. Portanto, a prevenção do crime ocorreria ainda na fase da infância com uma 
educação eficiente.29
Hirschi, na obra Causes of delinquency (1969), ao contrário de seus 
antecessores, defendia que o homem busca sempre vantagens, e o crime, com 
freqüência, é um meio fácil de obtê-las. Para ele, uma teoria criminológica não 
precisa explicar as razões que atraem o homem ao crime, pois elas são evidentes. 
Precisa, sim, explicar a razão pela qual algumas pessoas resistem e não cometem 
crimes. E a razão está no controle que a sociedade exerce sobre esses indivíduos. É 
a variação no controle e não na motivação que explica a razão de algumas pessoas 
cometerem crimes e outras não. Ao contrário de Reckless, Hirsch não se fixou nos 
controles internos, mas na influência da sociedade no controle do instinto criminoso. 
Controles fracos causam crimes. Afirmava que havia quatro elementos de controle 
social: a) o apego (attachment): ligação entre os jovens e seus colegas, professores 
29 Walter C. RECKLESS, Walter C. Containment theory. in Francis CULLEN, Robert AGNEW, 
Criminological theory: past to present, p. 227. 
25
e principalmente seus pais, que faz com que o indivíduo se preocupe com o que vão 
pensar dele; b) o empenho (commitment): envolvimento com o estudo e a educação; 
c) o envolvimento (involvement): realização de atividades convencionais, paralelas à 
educação, que preenchem o dia dos jovens; e d) a crença (belief): concordância no 
cumprimento da lei em benefício da sociedade.30 
As teorias do controle são estudadas predominantemente nos Estados 
Unidos, ao lado das teorias da aprendizagem e da pressão (que será exposta no 
capítulo 3).
1.8. Escolas macrossociológicas
As escolas macrossociológicas têm por objeto o estudo do papel da 
sociedade na produção do crime. Essas teorias descrevem as instituições que 
formam a sociedade e como seu funcionamento induz os indivíduos a realizar 
comportamentos criminosos . 
As principais teorias macrossociológicas são a teoria da anomia, o labeling 
approach, a criminologia do conflito e a criminologia crítica.
O estudo macrossociológico foi responsável pela ampliação do objeto da 
criminologia. As primeiras escolas macrossociológicas (ecológica e anomia) tinham 
como pressuposto um conceito ontológico de delito e a sociedade como um 
organismo estável, com valores próprios. Após o labeling approach, que introduziu o 
paradigma da reação social, algumas teorias (conflitual e crítica) passaram a 
entender o crime como um conceito construído pela seleção de comportamentos e 
sua interpretação, realizada pelos órgãos estatais de reação social. Houve, assim, 
uma alteração no estudo da criminologia para alcançar os órgãos e o processo de 
seleção, interpretação e definição das condutas criminosas. A perspectiva da reação 
30 Travis HIRSHI, The social bond, in Francis CULLEN, Robert AGNEW, Criminological theory: past 
to present, p. 231. 
26
social estuda a sociedade de forma dinâmica, com valores em constante conflito, em 
que o próprio conteúdo das condutas criminalizadas é questionado. 
Hoje a macrossociologia abrange as duas linhas de estudo acima expostas, 
distintas em seus pressupostos: a sociologia do consenso e a sociologia do conflito.
1.8.1. Sociologia do consenso
A sociologia do consenso, como exposto anteriormente, foi o primeiro 
modelo abstrato de sociedade a tratar do fenômeno do crime. Seu surgimento, no 
final do século XIX, marca o nascimento da sociologia como ciência autônoma. Os 
principais responsáveis pelo desenvolvimento dessa concepção são Émile 
Durkheim, Talcott Parsons e Robert King Merton.
Nessas teorias, a sociedade é vista como um organismo próprio 
formado por indivíduos que se reúnem voluntariamente em torno de um conjunto de 
valores tidos por todos como fundamentais à vida em comum. Baseia-se na 
harmonia e no equilíbrio das relações entre seus membros.
Durkheim entende que a sociedade tem valores comuns à média dos 
cidadãos, e é para defender esse sentimento coletivo que os crimes são definidos. A 
sociedade é um organismo estável internamente pois agrega valores homogêneos. 
A sociedade é de tal forma independente que detém, assim como um organismo 
próprio, uma consciência coletiva. Afirma:
O conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos 
membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado 
que tem sua vida própria; poderemos chamá-lo consciência coletiva 
ou comum. Sem dúvida, ela não tem por substrato um órgão único; é 
por definição, difusa em toda extensão da sociedade; mas tem, ainda 
assim, características específicas que fazem dela uma realidade 
distinta. De fato, ela é independente das condições particulares em 
que os indivíduos se encontram: eles passam, ela permanece. É a 
mesma no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas
27
diferentes profissões. Do mesmo modo, ela não muda a cada 
geração, mas liga umas às outras as gerações sucessivas. Ela é, 
pois, bem diferente das consciências particulares, conquanto só seja 
realizada nos indivíduos. Ela é o tipo psíquico da sociedade, tipo que 
tem suas propriedades, suas condições de existência, seu modo de 
desenvolvimento, do mesmo modo que os tipos individuais, muito 
embora de outra maneira.31
Talcott Parsons também trabalha com um modelo estático, de equilíbrio 
na sociedade. Sua teoria tem um caráter altamente abstrato, pois descreve as 
relações sociais por meio de símbolos e papéis sociais. Tentou abandonar o 
empirismo e desenvolver uma metodologia própria para as ciências sociais, baseada 
no funcionamento de sub-sistemas e seus códigos. O sistema social, para ele, 
orienta-se por valores institucionalizados (e, portanto, uniformes) que definem a 
forma e profundidade da solidariedade existente entre seus membros.32 
Robert K. Merton elaborou a teoria da anomia, que será analisada no 
capítulo 3. Foi aluno de Talcott Parsons. Sua teoria da análise funcional parte de três 
postulados, a saber: a) a unidade funcional da sociedade, que consiste em uma 
harmonia interna de todas as partes da sociedade; b) o funcionalismo universal, que 
afirma haver uma função positiva em todas as estruturas sociais, ou seja, todo 
objeto, todo tipo de civilização tem uma função vital dentro do todo; e c) a 
indispensabilidade de todas as estruturas estabelecidas como parte operacional do 
todo social.33 
A sociologia do consenso fornece o fundamento teórico para o 
desenvolvimento da teoria criminológica da anomia, que será analisada no capítulo3.
31 Émile DURKHEIM, Da divisão do trabalho social, p. 50.
32 Talcott PARSONS, The social system, in Ana Maria de CASTRO, Edmundo Fernandes DIAS (org.) 
Introdução ao pensamento sociológico, p.27.
33 Robert K. MERTON, Social theory and social structure, p. 25-36.
28
1.8.2. Sociologia do conflito 
A sociologia do conflito enxerga a sociedade de forma dinâmica, ou 
seja, considera que a sociedade define-se por sua permanente instabilidade. A 
coesão social e a ordem não são mantidas por um acordo universal entre seus 
membros, mas pela coerção. Há uma constante disputa interna pelo poder; e a 
aparente ordem estabelecida nada mais é do que o reflexo do modelo imposto pelo 
grupo dominante, que detém o poder.
Todas as instituições sociais, como a lei e o sistema de repressão, são 
produtos dessa dominação e estão a serviço da manutenção do status quo. Por isso 
tratam as pessoas de forma desigual. 
A sociologia do conflito impulsionou a ampliação dos estudos 
criminológicos, que se deu com a análise valorativa da sociedade, e principalmente 
com a introdução da visão política – o crime e a criminalização como resultantes de 
fatores de poder – na criminologia. Passa a estudar o poder que está por trás da 
elaboração das leis (escolha dos bens jurídicos), da seleção e da definição das 
ações que serão objeto de persecução penal. Contestará a neutralidade da 
metodologia positivista (até então a única utilizada), que não permite ver a 
sociedade do ponto de vista político.
Essa sociedade conflitual é descrita por dois modelos institucionais 
distintos: um baseado na economia (Karl Marx) e o outro na política (Ralf 
Dahrendorf).
1.8.2.1. A sociologia conflitual de Dahrendorf
Para sociólogo alemão Ralf Dahrendorf, toda formação social é 
desigual. E não se trata de uma desigualdade natural, com base em dons ou 
29
talentos (meritocracia). É uma diferença que ele denomina “estratificação”, ou seja, 
que se baseia na reputação e na riqueza. Expressa-se em status distintos entre os 
membros das camadas sociais.34
O critério predominante na distinção entre as pessoas em uma 
sociedade estratificada é o poder. Historicamente ele já foi associado à nobreza, à 
posse de terras, à origem familiar, à honra, entre outros fatores. A estratificação é 
meramente uma conseqüência da estrutura de poder da sociedade. Para a teoria 
conflitual, é difícil imaginar uma sociedade e seu sistema de normas e sanções sem 
uma autoridade que a sustente. Essa autoridade é o poder institucionalizado, que 
legitima os critérios de estratificação de uma dada sociedade. Afirma Dahrendorf:
Isso significa que a pessoa mais favoravelmente colocada na 
sociedade é aquela mais bem sucedida na adaptação às normas 
vigentes; ao contrário, isso significa que os valores regulados na 
sociedade podem ser estudados em sua forma mais pura olhando-se 
para as classes mais altas.35 
A desigualdade significa o ganho de alguns às expensas de 
outros, e por isso a sociedade estará sempre em conflito, em pressão para abolição 
dessas desigualdades pelos dominados. Portanto, não pode haver uma sociedade 
ideal, perfeita, justa e a-histórica.
Dahrendorf, por considerar a desigualdade estrutural a toda 
formação social, não consegue conceber uma sociedade sem classes sociais. É na 
disputa entre dominantes e dominados que está a fonte das mudanças sociais, da 
evolução da civilização como um todo.
Há bons motivos para se lutar contra as históricas forças arbitrárias, 
que levantam insuperáveis barreiras de casta ou status entre os 
homens. A existência da desigualdade social, contudo, é um incentivo 
na busca da liberdade, que garante a evolução da sociedade, e a 
torna dinâmica e histórica. Uma sociedade perfeitamente igual não 
seria apenas irreal; seria terrível. Utopia não é fonte de liberdade, é 
sempre um esquema de um futuro incerto, gera terror e absoluto 
tédio.36
34 Ralf DAHRENDORF, Essays in the theory of society, p. 152.
35 Ibid, p. 178.
36 Ibid, p. 178.
30
A criminologia conflitual, que nasce com base na sociologia do 
conflito será analisada no capítulo 5.
1.8.2.2. O modelo marxista
O modelo marxista de descrição da sociedade baseia-se no 
conflito entre duas classes, determinado pela propriedade dos meios de produção. 
São a burguesia (detentores dos meios de produção) e o proletariado (trabalhadores 
assalariados que vendem a força de trabalho). Esse conflito, ao contrário do conflito 
de Dahrendorf, não é inerente a toda a organização social, nem funcional. O conflito 
é nocivo e faz parte de uma etapa do desenvolvimento da humanidade que deve ser 
superada. É resultado do modo de produção vigente: o capitalismo. 
A causa da desigualdade social, para a sociologia marxista, é 
puramente econômica, ditada por uma superestrutura imposta a todas as esferas da 
vida coletiva pelo modo de produção capitalista. O direito – principalmente o direito 
penal - e a organização estatal visam à manutenção desse modelo de desigualdade 
social, e por isso devem ser reformados.
Afirma Marx:
No que me diz respeito, nenhum crédito me cabe pela descoberta da 
existência de classes na sociedade moderna ou da luta entre elas. 
Muito antes de mim, historiadores burgueses haviam descrito o 
desenvolvimento histórico da luta de classes, e economistas 
burgueses, a anatomia econômica das classes. O que fiz de novo foi 
provar: 1) que a existência de classes somente tem lugar em 
determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; 2) 
que a luta de classes necessariamente conduz à ditadura do 
proletariado; 3) que esta mesma ditadura não constitui senão a 
transição no sentido da abolição de todas as classes e da sociedade 
sem classes.37 
As idéias da classe burguesa são as idéias dominantes no
37 Karl MARX, Carta a J. Weydemeyer, in Karl MARX, Sociologia, p. 14.
31
discurso político. Ou seja, a classe que exerce o poder material na sociedade 
possui, ao mesmo tempo, o poder espiritual, ideológico. A classe que tem à sua 
disposição os meios para a produção material dispõe com isso, ao mesmo tempo, 
dos meios para a produção espiritual, o que faz que submetam a si, no tempo 
devido, em termos médios, as idéias dos que carecem dos meios necessários para 
produzir espiritualmente. Segundo Marx, os valores protegidos pela sociedade são 
impostos por aqueles que detêm o poder material.38 
O direito penal, assim como outros ramos do direito, para o 
marxismo, exprime uma ideologia. Portanto, todo o discurso realizado em direito 
penal é produzido pela classe dominante e serve apenas para legitimar e reproduzir 
um sistema de desigualdade social, gerada pelo binômio capital-trabalho 
assalariado. A igualdade formal dos indivíduos perante a lei encobre a grande 
desigualdade material existente. A criminologia também é uma ideologia e não uma 
ciência, e os que se posicionam diante do crime de forma neutra, assumindo sua 
verdade como um dogma, são instrumentos dessa ideologia e não cientistas.39 
Essa é a base sociológica da criminologia crítica, que se 
estudará no capítulo 6.
1.9. Conclusões
1) A criminologia é uma ciência multidisciplinar. O fenômeno criminal pode 
ser analisado sob várias dimensões. Dentre essas dimensões, sobressaem duas 
realidades, igualmente importantes: uma subjetiva (que se atém ao indivíduo) e uma 
objetiva (que se atém à sociedade). A realidade subjetiva do comportamento 
criminoso é estudada sobretudo pela psicologia e pela psiquiatria. A realidade

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