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Primeira Guerra, Depressão e Ditadura

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PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, A GRANDE DEPRESSÃO E A DITADURA: (1910 – 1945)
Introdução (fora do livro, mas para entendimento do conteúdo)
Para abordar o impacto da guerra de 1914-1918 sobre o Brasil seria preciso ter bem presente o que era o Brasil em 1914, o que era a Europa, o que ela representava para o Brasil nessa época, e o que a guerra alterou no padrão de relacionamento, direta e indiretamente. Vamos resumir um complexo quadro político, econômico e diplomático. 
O Brasil de cem anos atrás era o café, e o café era o Brasil. Toda a política econômica, aliás toda a base fiscal da República e dos seus estados mais importantes, assim como a própria diplomacia, giravam em volta das receitas de exportação, que compreendiam tanto ao próprio produto, e que faziam a riqueza dos barões do café, quanto os impostos de exportação, que afluíam ao orçamento de São Paulo e dos demais estados produtores. O Brasil dominava então quase quatro quintos da oferta mundial de café, e essa posição lhe assegurava a capacidade de fazer grandes manobras.
Mais tarde, em 1914, justamente, outros concorrentes tinham entrado nesse lucrativo mercado, a Colômbia, por exemplo, que sem poder competir em quantidade, começou a dedicar-se a melhorar a qualidade dos seus cafés. Na mesma época, o Brasil estava sendo processado em tribunais de Nova York, por práticas anti-concorrenciais na oferta de café, justamente. Foi também quando os mercados financeiros se fecharam repentinamente para o Brasil, com o estalar da guerra em agosto desse ano. O Brasil sempre dependeu do aporte de capitais estrangeiros, seja para financiar projetos de investimento em infraestrutura ou seja para o financiamento do próprio Estado, que vivia permanentemente em déficit orçamentário.
O Brasil já tinha efetuado uma operação de funding-loan* em 1898, isto é, um empréstimo de consolidação trocando os títulos das dívidas anteriores por novos títulos, e tinha conseguido fazer um novo pouco antes da guerra, e já não mais teve acesso ao mercado de capitais durante toda a duração do conflito europeu. Este representou um tremendo choque para a economia brasileira, pois os mercados europeus ainda eram importantes consumidores dos produtos primários de exportação, e os principais ofertantes de bens manufaturados, equipamentos e, sobretudo, capitais.
* Funding Loan era um acordo financeiro em nível internacional, mediante o qual o país credor suspendia temporariamente a cobrança dos juros de dívidas anteriores, com o objetivo de ajudar o país devedor com um novo empréstimo para que ele tivesse meios e tempo para se reorganizar e poder saldar seu débito.
Pág. 138
O Choque da Primeira Guerra
Em meio a uma época de instabilidade mundial, a elite brasileira seguia e imitava os padrões da Europa, pois acreditavam ser um modelo de grande “cidade” para a América latina. A alma do Brasil era europeia, pois buscavam copiar a estrutura constitucional do EUA. Até aproximadamente 1914 a Europa exercia a supremacia econômica, política e ideológica sobre o resto do mundo. O poder derivava do fato da Europa ser a responsável pela maior parte da produção e investimentos em escala global. 
O surgimento da guerra foi o resultado de uma série de conflitos menores envolvendo disputas comerciais e/ou militares que a antecederam, todos os conflitos presentes no contexto de expansão capitalista e imperialista das potências econômicas. Os únicos países que estavam fora da dominação europeia eram os EUA e o Japão, que não só lutavam, mas também, chegavam a ameaçar a supremacia europeia em alguns lugares do globo, especialmente extremo oriente e na América Latina.
Nos três primeiros anos da guerra, o Brasil permaneceu neutro. Mas com a pressão nacionalista o Brasil junto aos seus aliados entrou na guerra em 1917, usando como justificativa oficial os ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros. No dia 26 de outubro de 1917 por meio do presidente Venceslau Brás o Brasil tornou pública sua decisão de entrar na Primeira Guerra Mundial contra a Alemanha ao lado das potências aliadas, França e Inglaterra. Uma mudança decisiva em relação às oposições ocorreu em abril de 1917, quando a política de guerra submarina irrestrita da Alemanha fez com que os EUA abandonassem sua posição de isolacionismo e tomassem parte central no conflito.
Ainda assim, a maioria dos brasileiros era favorável ao lado aliado devido à forte identificação da elite com a França. Uma nítida minoria apoiava a Alemanha, inclusive certos oficiais mais graduados do Exército, que acreditavam que os militares alemães eram os melhores da Europa. 
Pág. 139
Favoráveis ou não, os militares apoiavam uma possível mobilização do Brasil, acreditando que isso poderia ajudá-los em suas batalhas por maiores orçamentos. A intervenção do Brasil era argumentada por duas associações cívicas que defendiam que o Brasil devia seguir seu próprio caminho no mundo. A primeira delas era a Liga de Defesa Nacional tendo o poeta Olavo Bilac como patrono. Fundada em 1912 tinha vínculos estreitos com o Exército e dedicava a conseguir apoio civil para os militares. A segunda era a Liga Nacionalista fundada em 1917 com sede em São Paulo, que focava menos nos interesses militares.
As relações entre Brasil e o Império Alemão foram abaladas pela decisão alemã de lançar-se a guerra submarina irrestrita no Atlântico, autorizando seus submarinos a afundar qualquer navio que entrasse nas zonas de bloqueio. O congresso brasileiro finalmente optou por unir-se aos aliados tornando o Brasil o único país latino americano em combate na Primeira Guerra Mundial.
Com o prolongamento da guerra, as passagens marítimas no Atlântico foram bloqueadas pelos submarinos alemães, e assim como o Brasil, toda a América Latina ficou isolada em suas relações comerciais; as exportações também foram prejudicadas, reduzindo a capacidade de obter no estrangeiro o dinheiro necessário para pagar importações. O Brasil ficou sem opções para importar produtos manufaturados da Europa. Ricos cafeicultores brasileiros, aproveitaram o momento e investiram capital acumulado nas indústrias.
Assim, o estrago feito pela Primeira Guerra Mundial no continente europeu possibilitou que o Brasil passasse por um surto de industrialização, influenciando ainda mais na dinamização da economia e na diminuição de produtos importados. Alguns historiadores afirmaram durante muito tempo que, as restrições ao comércio causadas pela Primeira Guerra Mundial, estimularam a industrialização brasileira.
Quanto mais os países europeus se industrializavam, maior ficava a disputa entre eles, que queriam dominar não apenas a Europa, mas modernizar sua economia se sobrepondo sobre as outras nações. Esse clima acirrado provocou uma forte tensão, pois os países industrializados disputavam os mercados consumidores mundiais e as matérias primas com todas as armas que lhes eram possíveis.
Pág. 140
A elite brasileira esperava que a entrada do país na guerra trouxesse um status mundial. Os diplomatas políticos brasileiros estavam convencidos de que o próximo passo seria uma cadeira no Conselho Permanente da recém fundada Liga das Nações* (obter a cadeira era uma questão de dignidade nacional). Os brasileiros lançaram uma grande campanha, mas não conseguiram a cadeira, em parte por causa da oposição das outras delegações latino-americanas. Frustrado o Brasil em protesto retirou-se da liga em 1926.
*Liga das Nações, também conhecida como Sociedade das Nações, foi uma organização internacional, idealizada em 28 de abril de 1919, em Versalhes, nos subúrbios de Paris, originando o Tratado de Versalhes **onde as potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial se reuniram para negociar um acordo de paz.
**Tratado de Versalhes foi um tratado de paz que determinou os termos de paz na Europa pondo fim oficialmente à Primeira Guerra Mundial. A data de sua assinatura é 28 de junho de 1919 e teve lugar na cidade de Versalhes, antiga residência do monarca da França. Além do acerto da paz entre os combatentes, estedocumento abordava também a criação da Liga das Nações, organização destinada a promover a paz e a prevenir conflitos entre seus membros.
A economia depois da Guerra
Pág. 141
A primeira guerra dramatizou uma mudança no padrão do comércio mundial que havia começado antes de 1914. O mais importante era o relativo declínio da posição da Inglaterra na economia mundial em face da Alemanha e os Estados Unidos. Cerca de um terço das riquezas acumuladas pela Inglaterra e pela França foram perdidas com a Primeira Guerra. A Inglaterra havia gasto boa parte de seu investimento para financiar o esforço da guerra, além disso sua tecnologia, capacidade industrial e produtividade estavam ficando pra trás em relação aos Estados Unidos e Alemanha. Apesar disso a Inglaterra ainda era o principal investidor estrangeiro do Brasil, mas estava perdendo terreno especialmente na indústria. 
A Europa deixava de ser o grande símbolo da prosperidade capitalista, estando atolada em dívidas e observando a desvalorização de suas moedas. Foi a partir de então que os Estados Unidos alcançaram a condição de grande potência. Daí no decorrer da década de 1920 o investimento norte americano e alemão na indústria brasileira aumentou. Dessa forma para o bom êxito brasileiro na competição por investimento estrangeiro dependeria de agora em diante cada vez mais dos Estados unidos e Alemanha.
Embora a economia brasileira saísse dos anos de guerra com a inflação alta, ela ainda demonstrava ser notavelmente elástica na década de 1920. O país ainda dependia das exportações de café, mas felizmente em 1923 os preços mundiais para essas exportações começaram a subir e chegando a dobrar em 1925, nível esse que teve apenas um ligeiro declínio até a crise de 1929. Entre 1922 e 1929 esses altos preços possibilitaram o Brasil no aumento de suas importações, nesse período a indústria brasileira foi capaz de duplicar suas importações de bens de capital e usava boa parte de seus ganhos com a exportação para financiar a importação necessária a industrialização, isto é, o Brasil estava afastando sua economia da dependência da agricultura. O rápido crescimento da indústria na década de 1920, estimulou a organização mais afetiva dos sindicatos urbanos.
Pág. 142
Para o setor trabalhista e da esquerda o desdobramento mais significativo foi a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922, que reuniu antigos sindicalistas revolucionários que haviam dominado a organização do trabalhismo urbano antes da guerra. Em torno de 1930, o PCB havia se tornado a força mais bem organizada da esquerda.
A GRANDE DEPRESSÃO: 
A bolha econômica estourou quando a economia capitalista entrou em colapso em 1929. A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929: cujo símbolo máximo é a Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.
A crise de 1929 afetou também o Brasil. Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro. Com a crise, a importação deste produto diminuiu muito e os preços do café brasileiro caíram. Para que não houvesse uma desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café. Desta forma, diminuiu a oferta, conseguindo manter o preço do principal produto brasileiro da época. O Brasil então foi perdendo todas as suas reservas cambiais estrangeiras em poucos meses com os comerciantes trocando sua moeda brasileira por ouro, dólares ou libras.
O Brasil junto aos demais países da América Latina, enfrentava agora perspectivas desoladoras. A Europa e os Estados Unidos haviam deixado a economia periférica como a brasileira sem nenhuma chance de recuperação. Dirigentes brasileiros e da América Latina foram aconselhados pelos especialistas de Londres e Nova York a cortar gastos do governo e equilibrar o orçamento. Mas o Brasil por inadvertência o governo brasileiro deixou e seguir a receita e os gastos federais continuaram a crescer e os déficits do orçamento foram presentes em toda parte. A compra de estoque excedentes de café que resultava no plantio excessivo era por exemplo um gasto pesado para o momento.
Pág. 143
Mas a intenção do governo brasileiro era acalmar os irritados fazendeiros nacionais e ao mesmo tempo elevar os preços do café no exterior. O efeito foi estimular a demanda geral na economia brasileira e dessa forma incrementar uma recuperação precoce no Brasil estimulando também a industrialização brasileira. 
O Desenvolvimento desigual do Brasil
A década de 1930 foi marcada pela Grande Depressão. A atividade econômica capitalista regrediu e a diversificação econômica teve efeitos desiguais. A industrialização se concentrou no Sul e no Sudeste especialmente no triângulo formado pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Enquanto o Sudeste e o Sul progrediam economicamente, o Nordeste e o Norte sofriam declínio nas décadas de 1920 e 1930. O açúcar que tinha sido a base econômica do Nordeste, foi se tornando cada vez menos competitivo no mercado internacional e nenhuma outra cultura surgiu para substitui-lo em quantidade suficiente.
Pág. 144	
A bacia Amazônica era outra região a margem do desenvolvimento, pois havia desfrutado de uma expansão rápida e abrangente na atividade econômica na borracha natural. Mas em 1912 fontes concorrentes da borracha chegaram ao mercado mundial e a região retornou a uma economia de coleta de baixa produtividade. A área atraia pouca atenção da elite ou dos políticos nacionais, embora para os norte-americanos e europeus era uma fonte fascinante.
Apesar da diversificação e maior crescimento econômico nas regiões urbanas do Sul e Sudeste, o país permanecia predominantemente rural. O transporte era difícil e lento, com poucas estradas pavimentadas. A comunicação rápida era feita por telégrafo ou por rádio, no qual desde 1920 tornara-se a principal forma de comunicação de massa. A imprensa escrita existia apenas para os brasileiros alfabetizados mais ricos das cidades grandes.
Novas correntes na década de 1920.
A década de 1920 viu um crescente descontentamento com o liberalismo que havia sofrido influencias da Republica Brasileira desde a sua criação em 1889. Os militares, a comunidade cultural e os intelectuais participavam dessa agitada discussão. A Primeira Guerra Mundial dera ao Exército brasileiro a oportunidade de fazer lobby* para suas necessidades crônicas. Os comandantes do Exército sabiam que seus equipamentos eram atrasados e seus métodos de treinamento era inadequado.
*Lobby: é o nome que se dá à atividade de pressão, ostensiva ou velada, de um grupo organizado com o objetivo de interferir diretamente nas decisões do poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos defendidos pelo grupo. 
Pág. 145
Contudo a entrada do Brasil na guerra europeia não ajudou os militares na luta para modernizar equipamentos ou treinamentos, deixando-os no fim da guerra o sentimento de terem sido prejudicados. Nas palavras de um historiador militar: “A Cavalaria não tinha cavalos, a Artilharia não tinha peças de artilharia e a Infantaria não tinha rifles.”
O fim da guerra também estimulou novas questões entre os oficiais menos graduados, sobre o fracasso do Brasil em alcançar taxas de crescimento econômico da Argentina e dos Estados Unidos. Esses militares haviam sido enviados para treinamento ao Exército alemão. Ao regressarem para Alemanha em 1912, fundaram um jornal, “A defesa nacional” e organizaram um grupo de lobby para promover novas ideias junto ao oficialato*. Esse grupo se tornou conhecido como os “Jovens Turcos”, pois admiravam Mustafá Kemal Paxá, que havia transformado o Império Otomano apoiando-se nos militares.
* Oficialato é a denominação dada aos militares que ocupam um posto/patente.
Pág. 146
Durante a presidência de marechal Hermes da Fonseca (1910 – 1914) esses jovens militares começaram a intervir nos partidos políticos estaduais e a insatisfação desses jovens oficiais, acabou explodindo e trazendo revoltas nos quartéis, e os participantes dessas revoltas foram chamadas coletivamentede “tenentes”. A insatisfação de parte dos militares (tenentismo) se desencadeou com a forma que o Brasil era governado na década de 1920: falta de democracia, fraudes eleitorais, concentração de poder político nas mãos da elite agrária, exploração das camadas mais pobres pelos coronéis (líderes políticos locais).
A primeira revolta ocorreu em 1922 no Rio de Janeiro, dezoito rebeldes de Copacabana escaparam do forte e marcharam para a praia. Liderados inicialmente pelo coronel Euclides Hermes, filho do ex-presidente Marechal Hermes da Fonseca, tinham por propósito impedir a posse do presidente recém-eleito Artur Bernardes*. A revolta foi rapidamente contida, com todos os rebeldes mortos, capturados ou forçados a esconder. Uma outra rebelião aconteceu em São Paulo em 1924, mas que foi malsucedida. A mais importante e famosa revolta militar foi lançada em 1924 no Rio Grande do Sul, e que foi liderada pelo Capitão Luís Carlos Prestes, que se revelou mais carismático dos rebeldes.
*Para compreender as motivações dos revoltosos, é preciso lembrar um pouco da política da época. O presidente Arthur Bernardes (1922-1926) governou o país em constante estado de sítio, apoiado por lideranças rurais, em um sistema que isolava politicamente os grupos urbanos. Diante desse quadro, a classe média em ascensão - militares, funcionários públicos, pequenos proprietários e trabalhadores em geral - começou a reivindicar sua fatia no bolo. O clima de tensão culminou no tenentismo.
Não conseguindo atingir o objetivo de tomar uma base militar local, Prestes liderou um bando de soldados rebeldes e tenentes sobreviventes da revolta de São Paulo numa marcha de 3 anos por 25 mil quilômetros pelo interior Sul do Oeste do Brasil. O objetivo era percorrer grande parte do território brasileiro (principalmente interior), incentivando a população a se rebelar contra o governo e as elites agrárias a fim de derrubar o governo do presidente Arthur Bernardes; era objetivo também implantar o voto secreto e o ensino fundamental obrigatório no Brasil e acabar com a miséria e a injustiça social no Brasil. 
Conhecido então como a Coluna Prestes, conseguiu despistar forças estaduais e federais, demonstrando assim fraqueza da autoridade governamental. Eles se tornaram heróis nacionais, mas foram vencidos pela exaustão e escassez de suprimentos, e após dois anos e meio e percorrer 11 estados, terminou dissolvido e cruzando a fronteira para exilar-se na Bolívia.
Essas revoltas, particularmente o sucesso da Coluna Prestes deixaram uma marca significativa na política brasileira. Primeiro, demostraram uma profunda falta de disciplina no Exército devido ao alto comando nunca ter sido obedecido. Segundo, a capacidade de sobrevivência dos rebeldes mostrou a ineficácia do Exército Federal e sua falta de coordenação com as autoridades estaduais e locais.
Pág. 147
Terceiro, a revolta mostrou que parte da geração mais jovem estava disposta a pegar em armas contra os políticos nacionais no poder. Quarto, a resistência bem sucedida da Coluna de Prestes demonstrou a fraqueza da elite da política civil. Durante o final do Império, os militares menos graduados tinham sido influenciados pelas novas doutrinas de republicanismo e positivismo. Na década de 1920, mostravam uma influência intelectual semelhante, mas menos focalizada. E por trás de tudo estava a percepção generalizada de que o Brasil fracassara em sua luta pela modernidade. Eles queriam um governo central forte que unificasse o país e pusesse fim aos “políticos profissionais que enriqueciam as despesas públicas” bem como a legislação social progressista com um salário mínimo e uma legislação do trabalho infantil. 
Embora não tenha conseguido derrubar o governo, Luis Carlos Prestes saiu conhecido do conflito como o “cavaleiro da esperança”. Nessa época, consolidou uma orientação política mais bem definida ao filiar-se ao Partido Comunista Brasileiro. A Coluna Prestes foi um movimento que enfraqueceu politicamente a República Velha*, abrindo caminho para a Revolução de 1930. Parte dos tenentes que integraram a coluna concederam apoio ao governo de Getúlio Dornelles Vargas.
* República Velha é a denominação dada à primeira fase da República brasileira, que se estendeu da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 até a Revolução de 1930. Quando a elite cafeeira paulistana e mineira revezava o cargo da presidência da República movida por seus interesses políticos e econômicos.
Modernismo ao estilo brasileiro.
Até a Primeira Guerra Mundial, o Brasil havia vivido sua própria versão Belle Époque*. Este mundo literário e artístico de orientação francesa copiava os estilos europeus com pouco espaço para a originalidade artística. Quando a guerra terminou, o Brasil estava diante as influencias europeias. Escritores e artistas brasileiros foram a Europa logo depois de 1918 e absorveram novas ideias e novas influências que, somadas ao desejo de instaurar uma arte moderna brasileira, longe da imitação de padrões europeus, com valorização do nacional, possibilitou o início do Modernismo no Brasil. O ano de 1922 serviu de referência para datar o ingresso do Brasil no movimento modernista. Em fevereiro do mesmo ano, uma Semana da Arte Moderna foi realizado na cidade de São Paulo.
*A Belle Époque é compreendida como um momento na trajetória histórica francesa que teve seu início no final do século XIX (19), mais ou menos por volta de 1880, e se estendeu até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. É mais um estado espiritual do que algo mais preciso e concreto. No Brasil, por exemplo, este período tem início em 1889, com a Proclamação da República, e vai até 1922, quando explode o Movimento Modernista, com a realização da Semana da Arte Moderna na cidade de São Paulo. A Belle Époque brasileira é, no entanto, instaurada lentamente no país, por meio de uma breve introdução que começa em meados de 1880, e depois ainda sobrevive até 1925, sendo aos poucos minada por novos movimentos culturais.
Pág. 148
A Semana da Arte Moderna consistiu de uma série de exposições, peças teatrais, concertos, leitura de poesia e foi financiada grande parte por Paulo Prado, herdeiro de uma rica família de São Paulo, (sua fortuna vinha do gado e do café) e liderada por Mário de Andrade, um mulato talentoso, artista, dramaturgo e musico, também paulistano. (Deve-se notar que mulatos não eram comum nos círculos artísticos).
Esse modernismo era alimentado também por uma nova atitude em relação aos afro-brasileiros, já que o começo da República havia sido marcado pelo dogma do “branqueamento” (uma crença da elite ao atribuir superioridade aos brancos). Questionamentos frontais a essa atitude racista eram poucos antes de 1918. Entre os francos oponentes do racismo naquela época estavam o jurista e político Alberto Torres, o educador e escritor Manuel Bonfim e o crítico literário Sílvio Romero. Os mesmos serviram como mentores antirracistas para a nova geração de pensadores brasileiros após a Primeira Guerra Mundial.
Pág. 149
O elemento não-branco, especialmente o africano agora era visto como um fator positivo na formação social do Brasil. Concepções racistas por uma significativa parte da elite, vinham sendo substituídas por uma ênfase nos papeis da saúde e da educação no reparo do aparente atraso dos não brancos. O resultado foi percebido na transformação da cultura brasileira, que ajudou a levantar questões sobre o sistema de valores que havia cercado a criação da Republica. O fascismo* já havia aparecido na Itália e estava dando sinais de força na Espanha e em Portugal.
* Fascismo é um regime autoritário criado na Itália, que remetia para uma "aliança" ou "federação", que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador. Os seus membros são na sua grande maioria provenientes da classe operária e da pequena burguesia rural e urbana.
Ascenção do pensamento antiliberal
Ataques ao liberalismo após aPrimeira Guerra não ocorreriam apenas no Brasil. Conflitos sobre valores sacudiam os Estados Unidos, como por exemplo na experiência da proibição do álcool. Ao Brasil, o enfoque era nos supostos defeitos do sistema político em vez de sobre questões filosóficas.
Um desses defeitos era o repetido colapso do próprio sistema político, com fraude generalizada e manipulação eleitoral tanto no nível federal como estadual. Um segundo era a decepção com o fracasso da economia em crescer mais rapidamente devido as faltas no sistema político. Em torno de 1920 a incapacidade do Brasil de se igualar ao desenvolvimento dos Estados Unidos e da Argentina era evidente. As ambiciosas promessas republicanas no final da década de 1880 não haviam sido cumpridas. Embora tendo-se industrializado num certo grau, O Brasil permanecia dependente dos ganhos com a exportação do café. Doença e analfabetismo eram comuns. E a elite estava começando a perceber do imenso abismo entre o Brasil urbano e rural.
Pág. 150	
Quando os críticos brasileiros olhavam para a Europa, viam democracia eleitoral liberal questionada pelo bolchevismo da Rússia, pelo fascismo da Itália e Alemanha e pelo anarquismo e corporativismo da Espanha e em Portugal. Tudo isso colocava em questão os pressupostos sobre os quais a República brasileira havia sido fundada, sugerindo que o capitalismo tinha de ser eliminado ou profundamente transformado para capacitar a sociedade industrial a sobreviver no século XX.
O início da década de 1920 pôs cena um coro de críticos intelectuais no Brasil. Torres, um pensador antirracista desiludiu-se com todo sistema constitucional e renunciou a magistratura para publicar suas críticas. Escrevendo em forma de artigos de jornal a principal mensagem de Torres era a de que os brasileiros deveriam estudar seus próprios problemas e encontrar suas próprias soluções.
Torres era um pensador altamente idiossincrático. Condenava vigorosamente urbanização, rotulando cidades de perniciosas e prejudiciais ao desenvolvimento brasileiro que acreditava deveria ser agrário. Seus discípulos, entre eles oficiais do Exército, concentravam-se nos argumentos que serviam aos seus propósitos e em particular a sua crítica a estrutura política republicana e a necessidade de encontrar soluções brasileiras para os problemas brasileiros.
Pág. 151
No final da década de 1920, o sistema republicano tinha mais críticos que defensores entre os intelectuais. A legitimidade da democracia eleitoral era posta em dúvida, embora seus críticos inclusive os tenentes, fosse notavelmente genérico quanto as alternativas preferíveis. Eles falavam de “soluções nacionais para problemas nacionais”, melhor representação do povo e da necessidade de maior disciplina. Mas havia pouco debate sobre as instituições específicas necessárias para realizar tais mudanças.
A desintegração da velha política
A descentralização estimulada pela nova Constituição, resultou em uma autoridade federal extremamente desfragmentada, ao mesmo tempo que o capitalismo enfrentava testes cada vez mais severos à sua viabilidade. Desde a Constituição de 1891, os estados podiam cobrar imposto sobre mercadorias que cruzasse suas divisas e contrair empréstimos no exterior, assim como tinha autoridades sobre áreas decisivas como as exportações de café e a construção de ferrovias. Esses poderes haviam facilitado o desenvolvimento industrial em regiões como São Paulo, mas deixaram regiões mais pobres como o Nordeste. Vastas regiões afastavam-se uma das outras economicamente.
Pág. 152
Esse temor foi exacerbado por um outro desdobramento. A prolongada fraqueza do Exército Nacional havia estimulado os principais estados a construir suas próprias forças militares. Mais importante ainda, as eleições haviam perdido sua legitimidade como um meio de distribuir poder político no Brasil republicano. Por mais manipuladas que tivesse sido, em geral tinham sido toleradas pela elite nas décadas anteriores. Na década de 1920 isso já não era mais verdadeiro.
Primeiro o exercício do direito do voto era cada vez mais obscurecido pelas alegações de fraude com eleições estaduais transformando-se ainda com frequência em farsas eleitorais. Era impossível solucionar esses conflitos de maneira imparcial porque os governos estaduais no poder controlavam a contagem de votos e confirmavam os vencedores. Acusações de fraude eleitoral geralmente se concentravam no campo, onde agentes contratados pelos donos de terras podiam manipular com facilidade os eleitores semianalfabetos.
As eleições presidenciais de 1918 e 1922 forneceram ampla munição para os críticos do sistema. Em 1918, sem nome para candidatura à presidência, os líderes estaduais recorreram a Rodrigues Alves que já havia sido presidente em 1902 a 1906. Alves foi eleito mas morreu antes da posse.
Pág. 153
Epitácio Pessoa renomeado Jurista de Pernambuco, foi escolhido para ser o substituto, foi eleito e empossado. Mas ele carecia de apoio consensual nos estados principais e logo se tornou alvo de disputas políticas destrutivas que prosseguiram durante todo o mandato.
O governo de Epitácio Pessoa foi marcado por inúmeras agitações sociais, principalmente na área trabalhista, por rebeliões militares e pelo aprofundamento das divisões políticas entre as oligarquias dominantes. Essas crises de origem política e social prenunciaram a desintegração da República oligárquica, fato que ocorreria no final da década com a Revolução de 1930.
A Revolução de 1930*.
Em 1929, as lideranças de São Paulo deram fim a aliança com os mineiros, conhecida como “política do café-com-leite”, e recomendaram o paulista Júlio Prestes como candidato à presidência da República. Os preparativos para a campanha presidencial de 1929 ocorreram em meio a suspeitas e manipulações ainda mais intensas do que as usuais. Isso era significativo porque as rivalidades entre os estados eram intensas, colocando São Paulo contra Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o pequeno estado da Paraíba, que apoiavam a candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas.
Em março de 1930, foram realizadas as eleições para presidente da República, eleição esta, que deu a vitória ao candidato governista, o então presidente do estado de São Paulo Júlio Prestes. No entanto, Prestes não tomou posse, em razão do golpe* de estado desencadeado a 3 de outubro de 1930, e foi exilado.
*A Revolução de 1930 foi um movimento armado, liderado pelos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais e que resultou em um golpe de Estado, o Golpe de 1930. O Golpe derrubou o então presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e colocou fim à República Velha.
* O Golpe de 1930: A situação do presidente Washington Luiz era crítica, porém o mesmo não pretendia renunciar ao poder. Então, chefes militares do Exército e Marinha depuseram o presidente, instalaram uma junta militar que, em seguida, transferiu o poder para Getúlio Vargas.
A oposição a chapa oficial formou a Aliança Liberal, que indicou Getúlio Vargas, então governador do Rio Grande do Sul, para presidente. Durante a campanha, a oposição desconfiada da contagem final dos votos, havia considerado organizar um golpe se Prestes fosse declarado vencedor, o que ocorreu. 
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Muitos na oposição declararam o resultado fraudulento, mas Getúlio decidiu que carecia de poder para contestar com êxito a eleição. Getúlio e seus companheiros de conspiração decidiram então organizar um ataque ao governo federal em seu exercício. No Rio Grande do Sul, Minas Gerais e dos rebeldes do Nordeste, os governadores usaram milícias para assegurar seus estados. Em seguida convenceram efetivos do Exército federal estacionados no Rio Grande do Sul, a unir-se a eles e conseguiram um apoio de uma série de rebeldes de outras regiões. Grupos conspiradores armados convergiu para o Rio vindo do Norte, Sul e Oeste.
No Rio o presidente Washington Luís estava determinado a permanecerem seu posto tempo suficiente para transmitir o cargo a seu colega paulista. Mas comandantes do Rio decidiram que continuariam apoiando o presidente em exercício. Quando sugeriram a Washington Luís que renunciasse, ele recusou. O Cardeal D. Sebastião Leme, Arcebispo do Brasil, concordou com os limitares e convenceu o presidente que seu tempo estava esgotado e Washington Luis pariu para o exílio.
Getúlio Vargas então, assume a chefia do "Governo Provisório" em 3 de novembro de 1930, data que marca o fim da República Velha e do início as primeiras formas de legislação social e de estímulo ao desenvolvimento industrial. 
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Caciques do Partido Republicano de São Paulo que apoiaram Prestes, altos comandantes do Exército e banqueiros, que haviam apoiado a aderência do Brasil ao padrão Ouro, eram declarados os perdedores de 1930. Mas a maioria dos brasileiros mal percebeu a ruptura na sucessão legal. A vida deles tinha sido muito mais afetada pelo grande crash que havia custado empregos e ganhos.
A revolução de 1930 havia trazido mudanças importantes na relação de propriedade ou condição de trabalho, a despeito da criação de um Ministério do Trabalho, Industria e Comércio federal em 1930. O Brasil era ainda um país em que donos de terra, comerciantes, industriais era ainda rural e não se falava tampouco de reforma séria da terra.
Desvio para centralização. “A Era Vargas” *
* Era Vargas é o nome que se dá ao período em que Getúlio Vargas governou o Brasil por 15 anos, de forma contínua (de 1930 a 1945). Esse período foi um marco na história brasileira, em razão das inúmeras alterações que Getúlio Vargas fez no país, tanto sociais quanto econômicas.
A crise financeira de 1929, havia criado um poderoso argumento econômico para o fortalecimento do governo central no Brasil. Getúlio aproveitou o momento e dissolveu o Congresso Nacional. Durante o Governo Provisório, o presidente Getúlio Vargas deu início ao processo de centralização do poder, eliminou os órgãos legislativos (federal, estadual e municipal), designando representantes do governo para assumir o controle dos estados, e obstruiu o conjunto de leis que regiam a nação.
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Essa afirmação de autoridade federal estava destinada a ameaçar as elites políticas dos estados. As implicações para arrecadação de impostos e distribuição do orçamento eram óbvias, assim como importante era a ameaça de intervenção federal na política estadual. O confronto entre o Governo Getúlio Vargas e São Paulo não demoraria a chegar. A elite paulistana rapidamente restaurou a solidariedade. Ainda assim, os paulistanos se sentiram ofendidos quando Getúlio designou um não paulistano João Alberto Lins de Barros como interventor do estado. João Alberto não conseguiu aplacar os políticos e a imprensa paulistana o transformaram em um alvo do ridículo e das hostilidades locais.
A elite paulistana decidiu combater os novos poderes no Rio, mas a liderança de Minas Gerais e Rio Grande do Sul resolveram ficar de fora. Em 1932, os paulistas lançaram sua revolta. Eles mobilizaram suas ricas matriarcas para doar suas joias de ouro e prata para ajudar financiar a guerra, as metalúrgicas da cidade produziram tanques e uma pequena indústria de armamentos floresceu. A partir desse movimento que durou apenas três meses, teve origem a chamada Revolução Constitucionalista de 1932. *
* Revolução Constitucionalista de 1932: também conhecida como guerra paulista, aconteceu em São Paulo entre os meses de julho e outubro de 1932. Tinha por objetivo a elaboração de uma nova constituição para o País. Foi uma tentativa da velha oligarquia paulista voltar ao poder. Os rebeldes paulistas queriam derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas após a anulação da constituição de 1891, pela Revolução de 1930. 
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Em outubro de 1932 os paulistanos de renderam arriando a bandeira de secessão. Vargas reagiu com moderação e impôs termos de paz e chegou a determinar que o governo federal assumisse metade da dívida contraída pelos rebeldes.
A revolta mal sucedida desacreditou a elite política paulista, pois confirmava que o mais poderoso estado do Brasil sempre colocaria seus interesses a frente dos da nação, debilitando gravemente sua capacidade de atuar na política nacional. Um consolo para os paulistanos foi a criação da Universidade de São Paulo em meados da década de 1930 projetada para ser afirmação de poder do estado no nível intelectual, eu posteriormente iria se tornar a mais importante universidade da América Latina.
Mesmo derrotando as forças oposicionistas, o presidente Getúlio convocou eleições para uma Assembleia Constituinte em maio de 1933, que foi estabelecida em 15 de novembro de 1933, tendo como presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrade. Essas eleições trouxeram pela primeira vez na história brasileira uma lei que atribuía a responsabilidade pela garantia de uma eleição honesta no país. Agora uma autoridade federal, conhecida como Justiça Eleitoral, deveria proteger o voto secreto.
No processo eleitoral, devido ao desgaste gerado pelos conflitos paulistas, as principais figuras militares do governo perderam espaço político e, em 1934 uma nova constituição foi promulgada. A Carta de 1934 (Constituição de 1934, a terceira do Brasil) deu maiores poderes ao poder executivo, adotou medidas democráticas e criou as bases da legislação trabalhista. Além disso, sancionou o voto secreto e o voto feminino, responsabilidades de um novo governo pelo desenvolvimento econômico e bem-estar social. 
Parecia que o Brasil ia finalmente poder experimentar a democracia moderna. Por meio dessa resolução e o apoio da maioria do Congresso, Vargas garantiu mais um mandato. Em 16 de julho de 1934, foi promulgada a Constituição do Brasil, e no dia 17 ocorreram as eleições para presidente, que elegeu Getúlio Vargas, pelo período de 1934 a 1938, pondo fim no governo provisório.
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Polarização Ideológica
A década de 1930 trouxe a radicalização ideológica ao Brasil. Amparando a esquerda, estava o Partido Comunista Brasileiro ou PCB, fundado em 1922, era composto por membros ex anarquistas ou anarco sindicalistas. O PCB estava essencialmente limitado a poucas cidades como Recife, Rio, Porto Alegre e São Paulo, e algumas áreas de mineração de Minas Gerais.
Quando Getúlio Vargas tomou posse do governo as coisas ainda não estavam estabilizadas, existiam guerras regionais e ameaças por todos os lados de políticos de esquerda e da direita, tanto era o caos que até mesmo as Forças Armadas entravam em divergência. O Estado adotava uma política conservadora relacionada aos operários e as chamadas camadas rurais. O modelo político estabelecido em 1934 seria provisório. A centralização tendia cada vez mais e se consolidava diante das radicalizações ideológicas de esquerda e direita. 
O período do governo constitucional de Getúlio foi uma fase marcada pelo choque entre duas correntes ideológicas, influenciadas pelas ideologias de origem europeia: a Ação Integralista Brasileira e a Aliança Nacional Libertadora.
No início da década de 1930 o PCB seguiu a linha de luta total contra as forças do “fascismo” que levou a criação em 1935 de uma frente esquerdista denominada Aliança Nacional Libertadora (ANL) liderada por Luís Carlos Prestes, conhecido como "Cavaleiro da Esperança". Tinha a inspiração o socialismo-comunismo, nas ideias marxistas (esquerda). Defendia o Governo popular, rompimento com o capital estrangeiro, não pagamento das dívidas externas, reforma agrária, nacionalização das empresas estrangeiras, etc. A ANL incluía outros partidos, como os socialistas, mas controle permanecia com os comunistas.
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A doutrina do PCB concentrava-se inteiramente nos trabalhadores urbanos, a partir da suposição de que a consciência da classe trabalhadora poderia ser mais bem cultivada entre os trabalhadores urbanos, enquanto os trabalhadores rurais ofereciam pouco ou nenhum potencial revolucionário. Mas o Brasil ainda era basicamente uma sociedade agrária. Os trabalhadores da cidade vinhamprincipalmente do campo e não respondiam com facilidade aos apelos por sacrifícios de curto prazo com a perda de salários durante as greves. Mais quaisquer que fossem as dificuldades com os trabalhadores, a esquerda dominada pelos comunistas havia despertado temores da elite, tanto civil quanto militar. Os políticos e os generais estavam desconfiados da organização dos trabalhadores e a ideologia comunista baseada em Moscou forneceu a elite novas razões para impor leis repressivas.
Havia também novos grupos à direita no aspecto político. No início da década de 1930 a Igreja renovada exercia nova força política na direita. Uma força ainda mais importante era a Ação Integralista Brasileira – (A.I.B.), que tinha como líder Plínio Salgado, com inspiração nazi-fascismo (direita). Defendiam o Estado ditatorial e nacionalista, governado pelas elites e visavam defender as riquezas nacionais, a propriedade privada e o combate ao comunismo. Eram conhecidos como "camisas verdes".
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Os integralistas atraiam muitos seguidores entre as classes médias altas, especialmente entre oficiais da Marinha e o clero, mas também alguns seguidores entre trabalhadores urbanos no Rio Grande do Sul e Ceará. Confiantes em seu número crescente, os integralistas procuravam ter influência nacional e tal como os comunistas estavam preparados para consegui-la pela ação direta ao invés das urnas.
Os comunistas e os integralistas viam-se como antagonistas naturais e protagonizavam marchas, contramarchas e combates de rua em paralelo ao que estava ocorrendo na Europa central. Essa radicalização ideológica contribuiu para as crescentes dúvidas do público sobre a eficácia da política eleitoral. Esse aspecto foi demonstrado em novembro de 1935 quando a facção de oficiais militantes comunistas tentaram um golpe no Exército brasileiro. O PCB e o Comintern* arriscaram um golpe militar para derrubar o governo brasileiro e fortalecer a posição da União Soviética. Ela envolvia pouca organização de trabalhadores e pouca atenção ao coração industrial de São Paulo. Seria uma revolução proletária sem proletariado.
*Comintern: é o termo com que se designa a Terceira Internacional ou Internacional Comunista (1919-1943), isto é, a organização internacional fundada por Vladimir para reunir os partidos comunistas de diferentes países. Tinha como propósito, conforme seus primeiros estatutos, lutar pela superação do capitalismo, o estabelecimento da ditadura do proletariado e da República Internacional dos Sovietes, a completa abolição das classes e a realização do socialismo, como uma transição para a sociedade comunista, com a completa abolição do Estado e para isso se utilizando de todos os meios disponíveis, inclusive armados, para derrubar a burguesia internacional.
Instruções detalhadas para a realização da revolta foram dadas por Luís Carlos Prestes que em meados de 1935 apresentou um cronograma preciso do Comintern, cujos os agentes não brasileiros atuavam clandestinamente ao país. A revolta irrompeu em uma série de levantes em novembro de 1935 em três bases militares. Natal, Recife e Rio. Prestes, fora incumbido pela direção da Internacional Comunista de eclodir no país um levante armado que derrubasse o governo então instalado e instaurasse um governo nacional-revolucionário. Desenhava-se um dos momentos mais críticos da Era Vargas. Com o crescimento da ANL as tensões políticas acirravam-se ainda mais. Nas ruas os enfrentamentos de manifestantes da ANL com os membros da AIB tornavam-se cada vez mais constantes, deixando clara a polarização ideológica do período.
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O Governo Vargas no dia seguinte ao esmagamento da revolta, teve vasto campo para propaganda no dia seguinte, fazendo circular histórias bastante exageradas sobre oficiais legalistas, desarmados, sendo baleados em sua cama. Getúlio imediatamente convenceu o congresso a declarar estado de emergência permitindo a polícia suspender os direitos civis na caça de suspeitos. Getúlio tinha agora a atmosfera de que necessitava para intimidar oponentes de qualquer matriz ideológica.
Getúlio Vargas como ditador.
Nos dois anos seguintes, Getúlio convenceu o Congresso de ir renovando o estado de sítio* a cada noventa dias. Ao longo desses anos seu governo desfrutou de poderes policiais extraordinários e vida política nula, estimulando crescentes suspeitas de que o presidente estava preparando seu próprio golpe. Getúlio dependia cada vez mais de apoio militar. A atenção política no Brasil concentrava-se agora nas iminentes eleições presidenciais de 1938. Getúlio havia sido eleito pela Assembleia Constituinte de 1933-1934 que estabelecera que eleições diretas seguiriam em 1938.
* Estado de sítio é um estado de exceção, instaurado como uma medida provisória de proteção do Estado, quando este está sob uma determinada ameaça, como uma guerra ou uma calamidade pública. Esta situação de exceção tem algumas semelhanças com o estado de emergência, porque também implica a suspensão do exercício dos direitos, liberdades e garantias.
Pág. 162 – Começo da “DITADURA”
Getúlio estava na verdade conspirando com seus generais para encenar um golpe a vencer antecipadamente as eleições. Em 10 de novembro de 1937, os congressistas no Rio chegaram ao edifício do Congresso e encontraram cercado por tropas que lhes barravam o acesso. Aquela noite Getúlio anunciou pelo rádio ao provo brasileiro que eles tinham uma nova Constituição, a qual ele denominou Estado Novo. O BRASIL HAVIA SE TORNADO UMA DITADURA COMPLETA. A nova Constituição previa um plebiscito para aprovar um documento, mas ele nunca foi realizado.
O Golpe de 1937 iniciou o período da história brasileira conhecido como Estado Novo. Estado Novo (1937-1945): A ditadura de Getúlio Vargas.
Mesmo tendo sido o candidato derrotado nas eleições de 1929, o gaúcho Getúlio Vargas seria o presidente durante toda a década de 1930. Isso porque o político recebera o apoio de alguns estados brasileiros para acabar com o modelo político oligárquico que era vigente na República desde sua proclamação, em 1889. Assim, a chamada Revolução de 1930 colocou um fim ao período da República Velha. Getúlio Vargas assumiu a presidência do país e ficaria neste cargo por muito tempo.
Então, o Golpe de 1937 permitiria a permanência de Getúlio Vargas na presidência, eliminando as eleições que já estavam marcadas para o ano seguinte. O gaúcho tornar-se-ia um ditador, estabeleceria uma nova Constituição para o Brasil e governaria sem limite de mandato. Nessa ocasião, Vargas anunciou a nova Constituição de 1937, de inspiração fascista, que suspendia todos os direitos políticos, abolindo os partidos e as organizações civis. O Congresso Nacional foi fechado, assim como as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais. O Golpe iniciou o período conhecido como Estado Novo, que só chegaria ao fim no ano de 1945.
A elite paulistana havia perdido novamente. Os opositores mais proeminentes de Getúlio fugiram para o exílio e o público silenciou enquanto a censura era estabelecida sobre a mídia e a polícia recebia amplos poderes. Os integralistas saudaram o golpe acreditando que iriam se beneficiar desse deslocamento para a direita. Eles esperavam que Plinio Salgado recebesse um posto no gabinete, mas o governo de Getúlio fez o contrário, impondo novas restrições as atividades integralistas. Em resposta um grupo de integralistas armados tentou seu próprio golpe em março de 1938 atacando com armas o palácio presidencial onde Getúlio dormia. (História detalhada na mesma página). Getúlio tinha agora a desculpa perfeita para reprimir os integralistas, além dos comunistas. 
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Mas o golpe de Getúlio criou problemas no exterior. A Casa Branca exigiu uma explicação imediata do embaixador brasileiro, Osvaldo Aranha, pois o governo do EUA estava preocupado com as implicações geopolíticas dos eventos brasileiros no caso de uma futura guerra com a Alemanha, e os militares americanos temiam que o golpe aproximasse mais o Brasil da Alemanha Nazista. No mínimo o golpe significavaque o Brasil abandonaria as fileiras ideológicas da democracia.
O estilo Getúlio Vargas.
Getúlio Vargas era o ditador menos carismático de então. Ele não tinha o encanto agitado e nunca cultivou a aparência pessoal melodramática de um Hitler. Pouco atraente, suas principais características físicas eram a barriga e um sorriso irônico habitual. Tinha uma excepcional habilidade para avaliar outras pessoas e induzir seus inimigos e subestimá-los. Era um admirável ouvinte e tinha habilidade de convencer a maioria de seus interlocutores. Embora capaz de extrema crueldade, preferia transformar inimigos em colaboradores.
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Getúlio tinha ideias firmes de como o Brasil devia ser liderado. Ele queria construir um governo central e forte. Isso exigiria crescentes investimentos em educação, desenvolvimento econômico e progressiva integração de terras. Queria projetar o poder brasileiro no exterior e melhorar o bem-estar social para os trabalhadores urbanos. Aqui ele tinha uma meta não econômica em mente, um conjunto satisfeito de sindicatos controlados pelo governo que lhe proporcionaria uma base política.
A estratégia de Getúlio durante o Estado Novo (1937 – 1945) era depender dos militares para a estabilidade política e de seus tecnocratas para a admiração. Getúlio estava tomando de empréstimo tanto do fascismo europeu como do New Deal* americano. A ditadura getulista com base no fato de o Brasil não pode se dar ao luxo da “pequena política” de uma sociedade aberta, por causa dos perigos de seus inimigos, internos e externos.
* O New Deal (cuja tradução literal em português seria "novo acordo" ou "novo trato") foi o nome dado à série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt, com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-americana, e assistir aos prejudicados pela Grande Depressão. Este foi o maior fator para o fim do capitalismo liberal. O New Deal abrangia a agricultura, a indústria e a área social.
A justificativa dada pelo presidente foi a necessidade de impedir um "complô comunista", que ameaçava tomar conta do país, o chamado Plano Cohen, que foi depois desmascarado como uma fraude. Alegava também a necessidade de aplacar os interesses partidários mesquinhos que dominavam a disputa eleitoral.
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A partir da década de 1930, vislumbramos um novo cenário político no Brasil onde a relação dos cidadãos e as instituições de controle político sofrem uma sensível mudança. A nação, grosso modo, sofreu uma mudança em sua arena política. Nesta época, as populações camponesas deixaram de representar a maioria dos cidadãos e trabalhadores que configuraram o cenário político dessas nações. Para tanto, os processos de industrialização e urbanização são de fundamental importância.	
De acordo com alguns historiadores, a expansão das cidades vai criar um processo de complexificação das relações entre o capital e o trabalho. Tal fato se exprimira em um processo onde os antagonismos entre as classes operárias e os capitalistas vão se avolumar de tal maneira nunca antes vista. Agrupados em instituições sindicais, os trabalhadores vão exigir melhores condições de vida e trabalho em um contexto intelectual de plena modernização das ideias e dos governos.
Em 1937, o triângulo do Sudeste formado por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, juntos com uns poucos centros urbanos em outras regiões do litoral, aproximavam-se de uma economia capitalista moderna. Sindicatos já haviam sido organizados em 1900. Em algumas indústrias como as ferrovias e as docas, os trabalhadores haviam conseguido benefícios incluindo pensões e férias.
Os sindicatos industriais do Brasil haviam começado a mostrar força na década de 1920 e particularmente na década de 1930, quando o alvoroço político trouxera a questão do bem-estar social dos trabalhadores ao primeiro plano. Só podia existir um sindicato local para cada categoria profissional. Os sindicatos de diferentes categorias de uma cidade não podiam se associar. Em Março de 1931, a lei de Sindicalização regulamentou a vida dos sindicatos patronais e operários. A sindicalização era facultativa e as funções dos sindicatos resumiam-se à elaboração do contrato de trabalho, à manutenção da cooperativa para auxílio dos associados e a outros serviços assistenciais.
Em 1937, com o Estado novo, Getúlio Vargas passou a centralizou no governo a reestruturação sindical. Getúlio e seus tecnocratas escolheram a rota corporativista. A intenção do corporativismo era facilitar a adoção do capitalismo moderno ao mesmo tempo que evitava os extremos de permissividade do laissez-faire, por um lado, ou da direção total do Estado, por outro lado. A ideia era estabelecer entidades associadas separadas, cada uma representando setores econômicos específicos. Empregadores e empregados de cada setor tinha suas próprias corporações por exemplo.
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O primeiro alvo corporativista de Getúlio foi o trabalhismo e relações sindicais. É importante notar que Getúlio e sue tecnocratas não de esforçaram em estender esse sistema ao setor rural embora a legislação previsse futura cobertura. O setor rural recebia menos atenção porque representava um perigo menor de mobilização de trabalhadores, não apenas por ser difícil de se organizarem, mas principalmente pela repressão dos patrões. O poder político no setor rural brasileiro era controlado pelos donos de terra e não tinham bons olhos para qualquer tipo de organização. 
No que toca os empregadores, Getúlio aplicou o modelo corporativista as associações de oficio existentes. Cada associação de oficio era organizada numa corporação que era por sua vez membro de uma nova federação estadual, como o FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
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A criação do Estado Novo foi uma vitória decisiva contra o liberalismo da República Velha, com muitos críticos antiliberais aderindo agora a ditadura. A ditadura getulista tinha um agudo senso da importância política da cultura Popular como um meio de aglutinar apoio ao governo fazendo com eu o Brasil aparecesse sob um angulo positivo no contexto internacional. Um exemplo foi o futebol, que fora introduzido no Brasil e boa parte da América do Sul no final do século 19 por homens de negócios e marinheiros britânicos.
Por volta de 1920 uma democratização se iniciaria com afro brasileiros começando a aparecer nos times. Na copa do mundo de 1938 o time nacional do Brasil, já não era todo branco. Entre mentes o governo getulista em 1941 criou um Conselho Esportivo Nacional que formava um guarda-chuva organizacional para clubes provados no futebol. Homens de Getúlio canalizavam dinheiro do governo para financiar o time nacional, e foi um sucesso. O Brasil foi o único país do mundo que se classificou para todas as Copas do mundo entre 1930 e 1994 e o único país que ganhou a copa 4 vezes. E Getúlio foi um dos primeiros políticos a apreciar o lucro político em apoiá-lo.
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Um segundo exemplo da promoção da cultura popular foi o do Carnaval do Rio. Nesse caso era o samba uma forma de música e dança especificamente brasileira nascida entres os barracos dos afro brasileiros pobres no fim do século 19. O governo getulista foi o primeiro governo federal a promover escolas de samba e desfiles no Rio que se tornaram um símbolo internacionalmente reconhecido da cultura brasileira. Essa política que ficou mais clara depois do golpe de 1937, tinha não apenas uma razão econômica (atrair o turismo) mas um papel de fortalecimento do novo senso que a nação tinha de sua própria identidade. Em terceiro finalmente o governo lançou um extensivo programa de restruturação da arquitetura (especialmente a religiosa) escultura e pinturas históricas. 
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Todos esses programas foram designados para ajudar a amenizara imagem de repressão e censura da ditadura e apresenta-la como promotora da cultura nacional. Mas também havia um lado sombrio patrocinada por Getúlio com a identidade nacional, que consistia na tentativa deproteger o país daqueles definidos como não brasileiros tais como descendentes japoneses ou de judeus submetidos a discriminação. Tais medidas eram grandes partes restritas ao fechamento de jornais, escolas e organizações consideradas “estrangeras”.
Malabarismos nas opções internacionais.
Em torno de 1934, o tipo de confronto geopolítico europeu já estava se tornando claro. A Alemanha nazista tinha seus olhos não apenas em seus vizinhos europeus, mas também soe a crescente i fluência no Hemisfério Ocidental. Ela identificava o Brasil como importante parceiro comercial, usando uma moeda alemã especial usada para pagar pelas exportações brasileiras que podia ser resgatado apenas pela compra de exportações alemãs, criando uma forma de comercio amarrado. Entretanto os alemães estavam interessados em mais do que comércio, eles também queriam atrais o Brasil para sua esfera político militar e cultivavam amizades com os oficiais do Exército brasileiro bem como ofereciam ao Brasil armas e treinamento técnico. DO mesmo modo que no período pré- primeira guerra mundial, o governo dos EUA preocupava com essa estratégia alemã, daí o congresso dos EUA, um corpo bastante isolacionista durante a década de 1930 proibira a venda de armas no exterior pelos Estados Unidos.
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Ao longo desse período, a polícia e as forças de inteligência de Getúlio frequentemente dependiam de agentes ingleses para obter informações sobre outras penetrações estrangeiras no país. A rápida resposta do Exército à revolta comunista de 1935 provavelmente deveu muito a inteligência britânica na identificação dos agentes de Comintern. Os ingleses uniram-se aos americanos observando nervosamente enquanto agentes nazistas e italianos operavam tanto aberta como clandestinamente no Brasil.
A opinião pública brasileira era alvo em uma batalha sobre que lado apoiar na guerra que se aproximava na Europa. O sentimento da elite favorecia fortemente os Aliados por razões culturais e, até sua supressão em1935, os comunistas também haviam sido eficazes promover opiniões antinazistas, mas alguns brasileiros, como em 1914 eram favoráveis à Alemanha.
Getúlio mostrava-se inclinado a procurar os Estados Unidos para laços militares, tentando comprar armamento antes de voltarem para Alemanha, mas a oferta foi recusada. Quando a Guerra finalmente eclodiu em 1939 (Segunda Guerra Mundial) *, Getúlio e seus generais, preferiram permanecer neutros até que os Estados Unidos estivessem preparados para pagar preço justo pelo apoio brasileiro. Além disso, s brasileiros continuavam a cultivar relações com as potências do eixo como parte do jogo de usá-las contra os Estados Unidos.
*A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito armado da História da humanidade. Ocorrida entre 1939 e 1945. Os principais países envolvidos na Guerra juntaram-se em dois grupos: os países do Eixo e os Aliados. Um conflito sangrento que deixou danos irreparáveis em toda a humanidade. China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e EUA formavam os Aliados, enquanto que Alemanha, Japão e Itália formavam as Potências do Eixo. Estes últimos tinham governos fascistas e tinham por objetivo dominar os povos, que na opinião deles eram inferiores, e construir grandes impérios.
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O Brasil não declarou guerra até meados de 1942. A sorte estava virada para o lado dos Aliados. A entrada dos EUA foi fator primordial para a vitória dos Aliados (Inglaterra, França, Rússia), os norte-americanos possuíam um forte e organizado exército e uma enorme capacidade bélica. O Brasil sem poder esperar mais, se pretendia obter alguma compensação atraente por entrar na guerra. O Brasil tinha ao menos dois triunfos que os Aliados precisavam. Uma era a matéria prima, incluindo borracha natural, quartzo e outros minerais. O outro era seu litoral que oferecia bases aéreas e marítimas em pontos estratégicos do Oceano Atlântico. Getúlio então conseguiu um acordo atraente, pelo qual o país concordava em fornecer matéria prima e as bases dos EUA, apenas em troca de equipamento militar, assistência técnica e financiamento para usina siderúrgica brasileira.
Essa aliança fez o Brasil o mais evidente parceiro latino-americano dos Estados Unidos na guerra. Além disso estabelecia precedente para apoio do governo americano à industrialização de base em um país do terceiro mundo. Em 1941 Getúlio começou a mover-se em direção aos Aliados ao aprovar um projeto da Pan American Airways* para modernizar os aeroportos do norte e nordeste. Em Janeiro de 1942 na conferência do Rio de Janeiro, onde o apoio latino americano para entrada na guerra agora prevalecia, o Brasil rompeu ostensivamente com o Eixo. O ingresso do Brasil na guerra tinha uma importante implicação para a política interna. A decisão de unir-se as democracias era um golpe contra os autoritaristas que alegavam que a democracia não tinha lugar no Brasil, e supunham que Getúlio concordava com eles. Este e seus generais montaram um cenário para um debate que iria acabar com o fim da ditadura getulista.
* A Pan American World Airways, mais conhecida como Pan Am, foi a principal companhia aérea estadunidense da década de 1930 até o seu colapso em 1991. A ela foram creditadas muitas inovações que deram forma à indústria das companhias aéreas no mundo todo, como a utilização em larga escala e difundida de aviões a jato, de aviões Jumbo e do sistema de reservas computadorizado.
Segunda Guerra Mundial e crescimento da influência dos EUA
Com a entrada do Brasil na Guerra, uma onda de funcionários norte-americanos tanto militares quando civis, veio ao Brasil. Oficiais brasileiros agora cooperavam com a marinha e a força aérea note americana na guerra contra os submarinos, um processo que incluía o fornecimento aos brasileiros de aviões navios norte-americanos bem como armas terrestres. Isso implicava na necessidade de pessoal de manutenção do Exército dos EUA no Brasil.
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Em 1943, brasileiros e norte-americanos construíram uma rede de modernas bases militares aéreas e marítimas no litoral do Nordeste. Junto com a ofensiva militar dos EUA no Brasil, veio uma ofensiva cultural. Houve uma aproximação dos dois países em função dos interesses dos Estados Unidos de manter a América Latina afastada da influência nazista e de buscar a hegemonia político-econômica no continente. Para possibilitar esta aproximação, o governo americano utilizou-se de políticas culturais para americanizar o Brasil – um verdadeiro “bombardeio” ideológico.
Através de incentivos financeiros e da aproximação cultural, tais regiões foram sendo progressivamente anexadas à área de influência norte-americana, passando a integrar, consequentemente, o bloco dos “Aliados”. Em relação ao Brasil, o alinhamento com os EUA se deu a partir da concessão de vultosos financiamentos, que viriam a ser utilizados em favor da ampliação do parque industrial nacional (como na construção da Companhia Siderúrgica Nacional). 
O crescimento do intercâmbio cultural entre os países mostrou-se igualmente como outra importante estratégia de aproximação entre os países.  Financiado pelo governo norte-americano, Wall Disney foi o criador do personagem “Zé Carioca”, uma clara homenagem feita pelo artista ao Brasil. Ao mesmo tempo, a cantora Carmem Miranda, então a cantora de maior popularidade no país, iniciou uma grandiosa turnê em terras norte-americanas, encurtando os laços que ligavam os “aliados” Brasil e Estados Unidos.
Por trás dessas atividades jaziam objetivos de longo prazo do EUA, sendo um deles o aumento da sua penetração econômica no país. Embora o investimento norte-americano no Brasil já superasse o investimento britânico, investidores norte-americanos ansiavam por novos progressos. Na década de 1930 as firmas norte-americanas estavam se tornando mais dominantes e o Brasil americanizado. Os Estados Unidos tinham certa preocupação quanto à influência do nazismo no Brasil, e para tanto utilizaram, no governo Roosevelt, a Política da Boa Vizinhança, que visava, num âmbito geral, americanizar o país.A americanização do Brasil possibilitaria a aproximação política com os EUA. A Política da Boa Vizinhança serviu como instrumento para a execução do plano de americanização. A democracia, a liberdade e os direitos individuais são alguns dos elementos da ideologia americana, associados “à ideia de um mundo de abundância e à capacidade criativa do homem americano”. Este era o componente ideológico principal, baseado nos ideais do progressivíssimo – trabalhar, produzir, ganhar dinheiro e consumir. E o inglês era gora a terceira língua estrangeira mais falada. (Depois do francês e italiano).
Getúlio tinha dois propósitos ao insistir no papel militar brasileiro: um era enfatizar a posição do Brasil como o único pais latino americano a enviar forças terrestres sob sua própria bandeira para a guerra; e o segundo era despertar o orgulho brasileiro e dar ao público uma razão patriota para apoiar o governo. 
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Para enfatizar que se tratava de um esforço nacional. Getúlio queria efetivos recrutados por todo país e insistiu para que o estado fosse representado, independentemente da qualidade dos recrutas locais, mas os preparativos no Brasil falharam mesmo com as tropas saudáveis. Os brasileiros foram lançados à batalha com a missão de escalar um precipício no qual os alemães estavam com os canhões em posição dominante. Apanhados no fogo cerrado, sofreram pesadas baixas e retiraram-se desordenadamente.
Embora difícil se surpreender, dada a falta de experiência de combate e roupas inadequadas de soldados, o fracasso nesse primeiro combate foi extremamente perturbador para os comandantes brasileiros que recorreram aos norte-americanos para ajuda e orientação. As tropas nacionais passaram por rápido retreinamento e logo retornaram ao combate. Seu desempenho foi significativamente melhor e eles ajudaram a capturar Monte Cassino, o monastério histórico que assinalava a principal posição alemã.
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O engajamento do Brasil no combate deixou um legado significativo. Primeiro forneceu uma base para reivindicação do país de um papel importante pós-guerra; e o segundo o envio da força expedicionária aumentou imensamente o prestígio do Exército brasileiro. Como os únicos latino americanos a terem lutado na Europa, os brasileiros podiam manter a cabeça erguida entre os Aliados. Terceiro, o combate conjunto na Itália fortaleceu laços entre os militares norte-americanos e brasileiro, mesmo considerando-se que o Brasil permanecia claramente como sócio menor.
A economia brasileira havia emergido da Depressão mais cedo que a norte americana ou inglesa, uma recuperação que após ligeiras instabilidades, em 1940 e 1942, foi mantida pela Segunda Guerra Mundial. Com o aumento da produção o Brasil se beneficiou do equipamento e tecnologia relacionados a guerra que recebera dos EUA. O Brasil também recebera itens como material rodante ferroviário e caminhões, O bloqueio das rotas de navegação isolou os consumidores brasileiros as importações forçando-os a voltar para os produtos brasileiros. Uma indústria nacional de papel foi um dos resultados benéficos.
A guerra também acelerou a centralização governamental. A necessidade de racionar produtos essenciais como petróleo, punha novo poder nas mãos do governo getulista. Um efeito econômico final da guerra foi uma onda de demanda inflacionária quando a mobilização geral levou uma economia superaquecida. Essa demanda reprimida não poderia ser atendida sem importações. No Rio de Janeiro o custo de vida dobrou entre 1939 e 1945 e em São Paulo quase triplicou, criando um problema significativo para apolítica econômica do pós-guerra.
O colapso da ditadura doméstica.
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Quando Getúlio cancelou as eleições presidenciais, programadas para 1938 e assumiu poderes ditatoriais em 1937, prometeu realizar eleições presidenciais em 1943. Com a aproximação da data, poucos esperavam que Getúlio mantivesse sua promessa. Em 1943 ele anunciou que a emergência da época de guerra não permitiria a incerteza de uma eleição presidencial e anunciou a retomada da política eleitoral “até depois da guerra”.
Os antigetulistas ficavam cada vez mais preocupados pois duvidavam que ele entregaria o poder. Uma oposição já havia surgido com o manifesto dos líderes mineiros em 1943. Seus opositores exilados começavam a regressar e meados de 1945 ajudaram a organizar junto com os antigetulistas um novo partido, a União Democrática Nacional (UDN)*, que era dominada pelos constitucionalistas liberais que combatiam Getúlio desde 1931. Seu apoio mais forte vinha das classes médias e altas e de oficiais do Exército. A causa fundamental dos udenistas era fazer oposição ao regime do Estado Novo de Getúlio Vargas e toda e qualquer doutrina originária de seu governo. A UDN exigia a renúncia de Getúlio Vargas.
Getúlio manteve uma postura ambígua até o último minuto. Ele programou as eleições para outubro, mas negou-se a definir seu próprio papel. Quando começaram os preparativos de campanha, ele e seus auxiliares estimularam a criação de mais dois novos partidos, o primeiro era o Partido Social Democrático (PSD), liderado pelos caciques políticos designados por Getúlio dos estados principais. O segundo era o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), projetado para ser o braço político dos recém organizados trabalhadores urbanos. 
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Subitamente um outro grupo se materializou para maior alarme dos opositores de Getúlio. Tratava-se de um movimento denominado queremista que emergiu com o slogan: “Queremos Getúlio”. Eles pareciam ter o apoio do palácio presidencial bem como líderes sindicais do Partido Comunista. Novamente Getúlio Vargas permaneceu enigmático. Essa recusa era para seus opositores, equivalente a prova de suas piores intenções.
Os generais do Exército na área do Rio e o embaixador dos EUA, Adolph Berle sugeriu publicamente a renúncia de Getúlio. O secretário de Estado dos EUA, Edward Stetinius, também visitou o Brasil a favor da redemocratização. O presidente Getúlio Vargas tentou intrigar uma reação nacionalista, mas os comandantes do Exército lhe apresentaram um ultimato, a mesmo que ele renunciasse imediatamente, o Exército sitiaria o palácio, cortando água, eletricidade e outros suprimentos. 
No dia 29 de outubro de 1945 Getúlio Vargas não tinha mais como escapar: grande parte da população, principalmente os estudantes, ia às ruas clamando por liberdade e democracia; e o Exército, desejoso de poder, preparava um golpe armado. Apesar do apoio do seu eleitorado, que pedia Vargas à frente da nova constituinte, o presidente não teve escolha e teve que renunciar, concluindo assim os seus 15 anos de governo. Getúlio decidiu que não tinha escolha a não ser aceitar e cooperar num “golpe sem derramamento de sangue”. Renunciou e voltou a fazenda São Borja no Rio Grande do Sul.
No dia seguinte à renúncia, assumiu como presidente interino o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, que logo restabeleceu para dois de dezembro o dia do pleito que elegeria Eurico Gaspar Dutra como Chefe de Estado do Brasil.
Apesar de ter deixado o governo, Vargas continuou atuando na política brasileira: apoiou a candidatura de Dutra e, cinco anos depois, lançou-se candidato à Presidência, sendo eleito democraticamente e permanecendo no poder até 1954, quando cometeu suicídio.

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