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Exterior e raças de bovinos e bubalinos 1 EXTERIOR E RAÇAS DE BOVINOS E BUBALINOS 1 INTRODUÇÃO Estuda as regiões do corpo do animal e de seu conjunto a fim de avaliar o mérito de cada indivíduo, tendo em vista a utilidade ou serviço prestado ao homem. Origem da palavra Ezoognósia: E do latim EX que significa fora ou movimento para fora, ZOO do grego zôon que significa ser vivo, animal e GNOSE do grego GNOSIS que significa conhecimento, sabedoria, isto é, conhecimento exterior do animal. A Ezoognósia propicia a observação da harmonia entre as partes, os defeitos e a beleza, bem como a relação entre a conformação e a produtividade do animal. Facilita o reconhecimento dos atributos morfológicos associados às funções econômicas. São princípios fundamentais desse estudo o conhecimento de anatomia, fisiologia, mecânica e patologia com vistas à aplicação da funcionalidade específica, ou seja, a Ezoognósia é a base para o julgamento dos animais. A Ezoognósia torna possível o reconhecimento da idade, do temperamento, da saúde e da raça dos animais pela observação de determinadas partes, garantindo uma decisiva vantagem ao comprador capaz de identificar as vantagens do animal pelo exterior. 2 NOMENCLATURA DAS PARTES DO CORPO O corpo do bovino é dividido em cabeça, pescoço, tronco e membros. 2.1 CABEÇA A cabeça é parte fundamental para distinção de raças, tendo em vista determinadas posições e proporções das partes, inclusive cor e pigmentação. Muitas raças de bovinos apresentam cor da pelagem e tipologia semelhantes, sendo a cabeça o fator de reconhecimento. A cabeça também fornece indícios do grau de seleção de um grupo genético. Cabeça pesada ou desproporcional em relação ao corpo e a assimetria são defeitos típicos de bovinos pouco selecionados. A cabeça tem quatro faces (anterior, posterior e duas laterais) e duas extremidades (superior e inferior): a) FACE ANTERIOR FRONTE OU TESTA Região ímpar que vai da linha inferior dos olhos para cima até a marrafa, limitada lateralmente pelos chifres e fonte ou têmpora, tendo como base anatômica o osso frontal. A goteira é uma particularidade da cabeça, caracterizada pela depressão estreita longitudinal da fronte, muito comum na raça zebuína Tabapuã. A fronte pode Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 2 se apresentar larga dando a impressão de um prato, isto é, uma concavidade como na raça Guzerá. Marrafa ou topete é a parte superior da fronte, limitada pelos chifres nas suas laterais. A raça Gir apresenta a fronte larga e a marrafa jogada para trás e perfil ultraconvexo. O frontal pode mostrar uma saliência ou crista óssea, no centro da marrafa, de tamanho variável que desce até a parte inferior do pescoço (nuca), recebendo o nome de nimbure ou nimburg. O nimbure pode aparecer em algumas raças, entre elas a Nelore e a Tabapuã. A marrafa pode apresentar tamanho e posição variáveis de acordo com o grupo genético, normalmente acompanhando os chifres, como no caso da raça Gir onde deita-se sobre a nuca. Nos animais de chifres grandes e dirigidos para cima, a marrafa é menos pronunciada, enquanto nos animais de chifres pequenos e dirigidos para baixo ou para trás, a marrafa é mais saliente e pronunciada. A marrafa pode apresentar pêlos grossos, compridos e crespos ou grossos e curtos, havendo ainda variação na tonalidade dos pêlos em relação à cabeça e até o resto do corpo. As proporções da cabeça ajudam no reconhecimento de determinados grupos genéticos. De acordo com Sanson, o índice craniano é a relação entre o diâmetro antero-posterior e o diâmetro transversal. Quando este índice for igual a 1,0 ou 100% o grupo genético será classificado como mesocéfalo, mas se for maior do que 1,0 ou menor do que 1,0 será classificado como dolicocéfalo ou braquicéfalo, respectivamente. Essa classificação pode ser associada à largura e comprimento da fronte, destacando-se a posição dos chifres e dos olhos. CHANFRO Região impar que vai da linha horizontal dos olhos até a região das narinas e entre narinas, limitando-se lateralmente pelas bochechas. O chanfro tem como base anatômica os ossos frontal (extremidades ínfero-lateral), nasais, lacrimais, zigomáticos, maxilares e apófises dos inter-maxilares. A conformação craniana, isto é, o conjunto da fronte e chanfro fornece o perfil, que é um instrumento para reconhecimento de raças. O perfil pode se apresentar plano, côncavo ou convexo, mas conforme o grau de depressão Exterior e raças de bovinos e bubalinos 3 (concavidade) ou abaulamento (convexidade), pode-se utilizar o prefixo sub ou ultra. É o caso da raça Gir que tem a fronte ultra convexa, enquanto as raças Guzerá, Jersey e Ayrshire têm a fronte côncava e a raça Sindi o perfil é reto ou retilíneo a subconvexo. Quando o chanfro é convexo aparece o perfil chamado de acarneirado, que constitui defeito, mas quando o chanfro é côncavo, o focinho torna-se arrebitado sem constituir defeito dependendo do padrão da raça. Se o chanfro for desviado, este defeito é denominado chanfro torto, que provoca malformações no palato. ESPELHO NASAL OU FOCINHO Situa-se abaixo do chanfro, entre as narinas e sobre o lábio superior, tendo como base anatômica os músculos, vasos e nervos da região. É recoberto por pele fina, sem pêlos, pigmentado ou não, conforme a raça, região rica em glândulas sudoríparas e sebáceas, devendo ser úmida, ampla e larga, denotando vigor e saúde. O animal pode apresentar o espelho parcialmente sem pigmentação ou de coloração rósea, denominando-se esta particularidade de lambida ou mesmo na forma de pintas denominado focinho marmorizado. O tipo de pigmentação do espelho é normalmente o mesmo para as mucosas dos olhos e para as aberturas naturais, limitada lateralmente pelos chifres e fonte ou têmpora. Às vezes, os pêlos ao redor dessa região apresentam tonalidade mais clara em relação ao resto do corpo. O espelho apresenta inúmeras rugosidades que persistem por toda a vida e pode fornecer o nasograma ou a impressão digital do animal, hoje em desuso. b) FACE LATERAL ORELHAS Região par que se situa ao lado da fronte, abaixo e um pouco atrás da inserção dos chifres, tendo como base anatômica a cartilagem auricular e seus músculos próprios. As orelhas devem ser móveis, inclinadas para trás, providas de pêlos finos e sedosos externamente, recobertas internamente por mucosa provida de cerúmen, cujos pêlos normalmente são mais longos e grossos. Sua conformação, tamanho e Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 4 direção constituem características raciais. Nos zebuínos, por exemplo, as pontas são afiladas, enquanto no gado europeu são arredondadas. São defeitos a presença de apêndices suplementares (dupla orelha) e orelhas excessivamente curtas ou longas conforme o padrão. As orelhas podem se apresentar enroladas próximo à base (encartuchadas) e abrir-se para fora (espalmadas) com as extremidades mais estreitadas curvadas para a face, chamado de gavião, como na raça Gir. No zebu, em geral, tem a vírgula, que é uma mancha preta na face interna de cor alaranjada. FONTE ou TÊMPORA Região par localizada entre a fronte, bochechas, orelhas e olhais, tendo como base anatômica a articulação temporo-mandibular. Qualquer irregularidade nesta região provocará dificuldades na mastigação. Além disso, ocorre maior depressão desta região a medida que o animal vai ficando mais idoso. OLHOS Região par, situada abaixo do olhal entre a bochecha e a fronte, tendo como base anatômica a cavidade orbitária, músculos e nervos da região. Os olhos devem ser grandes, brilhantes, iguais e denotando vivacidade. No animal sadio a conjuntiva tem a cor rosada, enquanto clara ou amarela indica anemia. Essa região auxilia a diferenciação entre grupos genéticos pelacor, tamanho e posição, bem como pelas características das pálpebras. Os olhos têm a forma elíptica e ligeiramente oblíqua, localizados mais lateralmente nos zebuínos dando a impressão de sonolência, arredondados e mais salientes e até esbugalhados em algumas raças taurinas. Os supercílios estão nas pálpebras e devem ser preferencialmente escuros nos zebuínos e acompanhar a cor da pelagem nos taurinos. São considerados defeitos em animais que apresentam olhos pequenos demais com problemas de abertura de pálpebras, olhos grandes demais ou pachorrentos, olhos cobertos com pálpebra espessa, olhos muito fundos, olhos gázeos (descoloridos em geral acompanhados de pele clara e pele despigmentada), claros ou gateados, olhos Exterior e raças de bovinos e bubalinos 5 demasiadamente abertos ou circulado e olhos convexos ou saltados. A presença de rugas sobre os olhos ou em parte dos olhais é muito comum nos zebuínos, indicando vivacidade. Cegueira unilateral adquirida ou cegueira bilateral constituem defeito. OLHAIS Região par situada acima dos olhos, com enrugamento próprio da região, tendo como base anatômica a fossa temporal (parte anterior). Esta região pode apresentar ligeira depressão de acordo com a idade do animal, mas esta depressão é mais visível nas têmporas. CHIFRES Região par situada ao lado da fronte, nas extremidades da marrafa, e acima da orelha, tendo como base anatômica os chavelhos ósseos do frontal. São constituídos de capa, membrana queratinosa e chavelhos ósseos. Os chifres são elementos de distinção entre raças uma vez que podem ser ausentes (animal mocho) ou ter variação quanto à inserção, direção, tamanho e forma. Quanto à direção, os chifres podem ser dirigidos para cima (ortóceros) na mesma linha da marrafa, para diante (próceros) ou para trás (opistóceros). Quanto à direção são variadas são classificados como côroa, lira, turquês, cabra, banana, penteado, etc. Chifres flutuantes ou bananas são aqueles posicionados para baixo e sem rigidez na base da cabeça. A seção transversal na base, no centro ou na ponta também são particularidades das raças como a seção circular ou elíptica nos bovinos e triangular nos bubalinos. Os chifres podem ainda ser considerados pela forma que têm como lira, torquês, etc. Quanto ao tamanho, podem ser grandes, médios e pequenos. O animal pode apresentar-se mocho, que é a ausência total de chifre por motivo genético; calo que é apenas um sinal de chifre sem protuberância; batoque, que é a presença de chifres rudimentares e sem sustentação óssea; descornado, que é o animal cujos chifres foram retirados por processo cirúrgico; mochado, que é o impedimento do desenvolvimento dos chifres, quando o animal ainda é jovem , por processo de cauterização do nervo central. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 6 BOCHECHAS Região par situada entre o chanfro, olho, fonte, parótida, ganacha e boca, tendo como base anatômica parte dos maxilares e mandíbula, zigomático ou malar e lacrimal. Nas bochechas encontram-se o chato ou músculo masseter e a bolsa, corresponde a porção dilatável da boca constituída dos músculos abaixador do lábio inferior, zigomático e risorius de Santonini. O masseter também pode designar a região. NARINAS Região par situada abaixo ou na extremidade do chanfro e lateralmente ao espelho ou focinho, sendo a entrada da fossa nasal. Tem como base anatômica o bordo do maxilar, ossos nasais e incisivos, bem como as cartilagens nasais e músculos próprios da região. Narinas largas e abertas são associadas à capacidade respiratória e ao bom desenvolvimento do animal. c) FACE POSTERIOR GANACHAS Região par situada abaixo das bochechas, cuja base anatômica são as barras da mandíbula. As ganachas têm a forma levemente convexas e quando afastadas, oferecem melhores condições de mastigação. Ganachas em bico constitui defeito. ENTRE GANACHAS OU FAUCE Região ímpar situada abaixo da garganta, entre as ganachas e a barba, tendo como base anatômica o osso hióide e músculos próprios. A fauce pode ser recoberta por pele desenvolvida e solta, cujo prolongamento com a barbela tem a denominação de toalha. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 7 BARBA Região ímpar situada adiante e entre ganachas, limitada abaixo e lateralmente pelo lábio inferior. Os pêlos de sensibilidade dos bovinos localizados na região anterior das bochechas superiores também podem ser considerados barba. d) EXTREMIDADE SUPERIOR NUCA Região impar situada trás da marrafa e adiante do pescoço, tendo como base anatômica a articulação atlanto-occipital. PARÓTIDA Região par localizada na linha de união do pescoço a cabeça, abaixo da orelha, acima da garganta, atrás da fonte e da bochecha, tendo como base anatômica as glândulas salivares do mesmo nome, ou seja, as parótidas. GARGANTA Região ímpar situada entre as duas ganachas e abaixo das parótidas, onde se localiza a laringe, sua base anatômica. e) EXTREMIDADE INFERIOR BOCA Região ímpar localizada adiante do espelho e da barba, limitando-se lateralmente pela porção anterior das ganachas, constituindo sua base anatômica de músculos e nervos da região. A boca é constituída dos lábios superior e inferior, das comissuras labiais, ponto de encontro dos dois lábios. O lábio superior é mais solto, mais móvel e mais desenvolvido que o inferior nas partes laterais. Barra é a região par do interior da boca, definida como o espaço interdental (ou interalveolar, ou distema) que vai do primeiro molar até o dente incisivo extremo ou canto. Ainda fazem parte da boca (boca propriamente dita ou cavidade bucal), a língua, o canal lingual e o palato, também denominado forro ou céu da boca. Lábio leporino constitui defeito devido à má formação do palato (palato fendido), que trás dificuldades na mastigação e pode ser transmitidos aos descendentes. Os dentes terão um capítulo especial. O Prognatismo é definido como a hipertrofia da mandíbula ou da maxila para frente, provocando o desencaixe de uma das arcadas em relação a outra, sendo superior quando a maxila é maior que a mandíbula, e inferior, para a situação inversa. 2.2 PESCOÇO Região ímpar situada entre a cabeça e o tronco, onde se une pelas regiões do garrote, peito e espáduas, tendo como base anatômica as vértebras cervicais em Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 8 número de sete, músculos e ligamentos próprios da região. As partes do pescoço são divididas pelas extremidades anterior e posterior, bordos superior e inferior e faces ou tábuas esquerda e direita. O pescoço deve ser ligado à cabeça e ao tronco por linhas regulares e harmônicas, sem depressões ou saliências exageradas nos pontos de inserção, especialmente, quando se trata de bovinos de origem européia. No gado de corte o pescoço é mais curto e no gado de leite é mais comprido. O bordo superior deve ter a forma arredondada no gado de corte e afilada no gado de leite e perfil direito. O perfil pode ser convexo no touro de origem européia (congote), mas não na fêmea. O bordo inferior é estendido pela papada ou barbela, que é uma dobra de pele formada nesta região, mais desenvolvida nos zebuínos, podendo ser prolongada até o prepúcio nos machos e umbigo nas fêmeas. Nessa região a pele é bastante solta, abundante e pregueada, podendo aparecer uma reentrância nas raças zebuínas, mas nas raças européias a barbela é bastante reduzida. A dobra de pele que vai do peito até o umbigo ou prepúcio é uma extensão da barbela, mais desenvolvida nos zebuínos, chama-se refego. Apenas nos machos de origem européia, o bordo superior do pescoço, a partir da cernelha, apresenta grande musculosidade em quase toda sua extensão, que é o desenvolvimento do músculo rombóide, denominando-se esta particularidade de congote.O tamanho e a cor mais escura do congote são indícios de masculinidade e fertilidade do macho taurino 2.3 TRONCO O tronco não fornece características raciais nítidas, que auxiliem no reconhecimento do observador. Entretanto, o tronco é bastante útil para identificação da aptidão. Em animais com tipologia para corte, o perfil do corpo deve ser convexo, enquanto nos animais com tipologia para leite o perfil deve ser retilíneo ou sub-côncavo. Em animais de corte com este perfil indica falta de musculosidade, animal ruim para produzir carne, enquanto o inverso, isto é, animal leiteiro com perfil convexo indica musculosidade indevida para a produção de leite. O tronco é dividido em quatro faces e duas extremidades: faces superior, inferior e duas laterais, extremidades anterior e posterior. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 9 a) FACE SUPERIOR A face superior é formada pelo garrote, dorso, lombo, garupa e implantação da cauda. GARROTE, CERNELHA OU CRUZ Região ímpar que se situa entre o pescoço e o dorso, acima das espáduas, tendo como base anatômica os processos espinhosos da quinta a sétima vértebras torácicas, alto das escápulas e a parte superior da quinta e sétima costelas. Nas raças zebuínas, sobre esta região encontra-se o cupim (são sinônimos as palavras bossa, castanha ou giba), característica exclusiva dos zebuínos, resultado do crescimento do músculo rombóide com gordura entremeada e pesando entre cinco a sete kg em média. O cupim nos machos é bem mais desenvolvido do que nas fêmeas. Na fêmea zebuína, o cupim é menor e mais delicado. Tamanho e coloração viva nesta região são indícios de masculinidade e fertilidade no macho. A forma normal desta particularidade é a de rim ou castanha de caju. A giba deve ser centralizada e ereta na cernelha. O tombamento lateral e a posição avançada ou atrasada em relação ao centro da cernelha, com o animal observado de perfil, constituem defeitos. DORSO Região ímpar situada entre o garrote e o lombo, acima do costado, tendo como base anatômica os processos espinhosos das últimas vértebras torácicas, extremidades superiores das costelas correspondentes e músculos próprios da região. Esta região deve ser direita, aceitando-se certa inclinação nos zebuínos. Quando houver convexidade, concavidade ou desvio lateral desta região tais defeitos são denominados, respectivamente, de cifose, lordose e escoliose. Esses defeitos podem se prolongar até o lombo. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 10 LOMBO OU RIM Região ímpar situada acima dos flancos, entre o dorso e a garupa, tendo como base anatômica as vértebras lombares em número de seis, cujas apófises laterais estão recobertas por músculos. Região importante dos bovinos de corte porque possui carne de primeira qualidade, uma vez que sob esta região estão os músculos psoas maior e psoas menor (filé mignon), bem como o músculo longissimus dorsi (contra- filé), situado ao lado dos processos espinhosos e acima dos processos transversos das últimas vértebras torácicas e vértebras lombares. GARUPA Região ímpar situada acima da coxa e entre o lombo e a cauda, tendo a forma de um trapézio visto de cima. A garupa é limitada pelas linhas que unem as duas ancas ou as tuberosidades coxais, as duas tuberosidades isquiáticas ou ponta das nádegas, e de cada lado do corpo, a ponta da anca à ponta das nádegas. Abaixo e lateralmente é delimitada pelas coxas. Sua conformação depende da direção da linha média superior, das dimensões, das formas e da musculatura. A base anatômica são os ossos coxais e sacro, recortados pelos músculos glúteos, psoas, ísquio-tibiais e outros que formam as massas musculares. Esta região tem correlação com o volume da bacia, isto é, quando a garupa é ampla há indícios de fertilidade, facilidade de parto nas fêmeas, melhor sustentação de úbere amplo em gado de leite e maior desenvolvimento de massas musculares e cortes nobres no gado de corte. O sacro é uma região ímpar, que faz parte da garupa, situada no centro desta entre as duas ancas, tendo como base anatômica o osso sacro, que deve ficar na mesma altura das ancas. Um sacro muito alto corresponde a uma garupa inclinada e escorrida lateralmente, podendo ainda se apresentar cortante relativa a sua linha central. Portanto, constitui defeito a inclinação muito elevada, bem como a ausência de inclinação. No gado europeu a inclinação pode chegar a 15º, enquanto no gado zebu pode chegar a 35º. Especialmente no gado leiteiro encontram-se muitos exemplares com a garupa plana. Garupas horizontais podem indicar cavidade pélvica menor. Ancas e garupa caídas, ancas desniveladas, garupa elevada de trás para frente e cortante são defeitos que interferem no aprumo e devem ser evitados. b) FACE INFERIOR CHILHADOURO Região ímpar situada na parte cranial da face ventral, abaixo do costado, limitada anteriormente pela interaxila e posteriormente pelo ventre, tendo com base anatômica a parte posterior do esterno e as extremidades das costelas. Região de pouca musculatura, e quando a largura é expressiva, o animal apresenta bom desenvolvimento da caixa torácica, denotando boa capacidade respiratória. Nesta região ocorre uma dobra da pele denominada refego, dando continuidade à barbela, que se liga ao prepúcio ou ao umbigo na fêmea, percorrendo longitudinalmente a interaxila e o cilhadouro propriamente ditos. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 11 VENTRE Região ímpar tendo por limites, o costado, o flanco, os órgãos genitais e o cilhadouro, ocupa quase toda a face ventral do tronco, representado pelos músculos que constituem a parte inferior da cavidade abdominal, onde se encontram as vísceras. Portanto, o ventre está diretamente relacionado à função e capacidade digestivas. De cada lado do ventre estão as virilhas, ligando o tronco à coxa. O ventre deve apresentar-se desenvolvido suficiente, sem ser exagerado, para proporcionar boa capacidade digestiva. A sua conformação inferior ideal parte da região do cilhadouro e do costado com pequena convexidade para terminar insensivelmente na região inguinal, proporcionado o “ventre redondo”. Como defeitos são notados a direção brusca e oblíqua para cima da sua linha inferior (ventre apertado), determinando o que se denomina “estreito de tripa”, prejudicando o aparelho digestivo ou, se contrariamente, a sua constituição for de convexidade exagerada, demonstrando ventre volumoso, prejudicando a agilidade e resistência, este recebe a denominação de “barrigudo”. O ventre é mais desenvolvido nas fêmeas e nos animais idosos e na sua linha mediana encontra-se o prepúcio do macho e umbigo da fêmea. A região inguinal é uma particularidade do ventre, é ímpar e se localizam os órgãos genitais externos, testículos, prepúcio, bainha e pênis no macho e úbere e umbigo na fêmea. ÚBERE Região ímpar, exclusiva da fêmea, situada na região inguinal. O úbere deve ser bem volumoso de acordo com a aptidão, recoberto por pele fina, flexível, untuosa, provida de poucos pêlos finos e macios. A inserção e posicionamento das quatro tetas devem propiciar uma boa produção leiteira para alimentar o bezerro. As tetas devem ser bem espaçadas e cilíndricas, as veias mamárias sinuosas e destacadas. O úbere faz parte dos caracteres especiais do gado leiteiro. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 12 TESTÍCULOS No macho os órgãos genitais são representados pelos testículos e verga. A bolsa escrotal deve mostrar-se bem destacada, descida, recoberta por pêlos finos e pele flexível e untuosa, face à presença de glândulas sudoríparas e sebáceas. A bolsa ou saco escrotal deve conter os dois testículos de mesmo tamanho e nível, separados por um sulco também denominado rafé (rafe), bem móveis em seu interior. Os testículos são responsáveispela produção de espermatozóides e pelas características sexuais secundárias (masculinidade) por ação da testosterona. Essas características não estarão presentes nos animais castrados, daí a necessidade da circunferência escrotal girar em torno de 28 a 38 cm. Nos zebuínos a altura média da bolsa escrotal é até os jarretes, mas em algumas raças pode ser um pouco abaixo ou acima, enquanto do gado europeu é freqüentemente abaixo do jarrete. Toda região deve ser mantida limpa, principalmente a verga que apresenta coloração rósea. Torções ou posicionamentos não paralelos constituem defeitos, bem como a ocorrência de hipoplasia (testículos muito pequenos), hiperplasia (testículos muito grandes), criptorquidismo (ausência de testículos na bolsa escrotal) e monorquidismo (ausência de um testículo na bolsa escrotal) porque são indicativos de infertilidade. Na base do saco escrotal existem quatro tetas, um par de cada lado, presença importante nos machos porque é sinal de boa produção leiteira a ser transmitida para filhas, especialmente nos touros leiteiros. Quanto às particularidades, os bovinos de origem européia apresentam testículos maiores e mais descidos ou mais afastados da parede abdominal, enquanto nos zebuínos os testículos são menores e mais próximos da mesma. Essa característica do zebu está relacionada à adaptação ao clima tropical, uma espécie de proteção contra a radiação solar e vegetação agressiva. PREPÚCIO OU BRAGUILHA E UMBIGO É a dobra de pele que protege a verga limitada pelo refego anteriormente e pelo escroto posteriormente. Podem ocorrer indivíduos e raças que não possuem o refego. O prepúcio é a proteção da verga, cujo tecido é elástico, amplo, sensível e fino, havendo certa confusão nesta definição. Octávio Domingues (1961) define Bainha como a dobra de pele que cobre a verga em repouso, muito desenvolvida no zebu, e falsamente chamada de umbigo, mesmo que prepúcio. Nos zebuínos a bainha e o prepúcio são mais desenvolvidos do que nos taurinos, podendo se apresentar muito penduloso. Prepúcio muito desenvolvido pode prejudicar o animal no ato reprodutivo, bem como trazer transtornos quando este animal sai na busca por alimentos, ao arrastá-lo na vegetação e provocar feridas e inflamações. Prepúcio pequeno demais ou muito colado à parede abdominal suprime a beleza e a funcionalidade no zebu e não faz parte do padrão racial. São também defeitos a hérnia umbilical definida como a projeção parcial do intestino através da parede abdominal, na região do umbigo ou circunvizinhas, bem como o prolapso do prepúcio ou acrobustite ou ainda umbigueira (inflamação da bainha prepucial). Além desses, a Exterior e raças de bovinos e bubalinos 13 fimose é o estreitamento do orifício prepucial, inato ou adquirido e constitui defeito grave. A fêmea não possui prepúcio, fato que gera uma certa confusão na terminologia. A fêmea possui umbigo ou bainha, cuja dobra de pele tem menor proporção e não possui pêlos evidentes pela ausência de abertura natural como no macho. No macho o nome umbigo é ainda utilizado para designar prepúcio, mas deve-se insistir na diferenciação. Ainda no macho, a dobra de pele situada anteriormente ao prepúcio pode ser denominada de bainha, pele esta que sustenta o prepúcio. Na fêmea, a bainha ou umbigo tem a denominação de todo o conjunto. c) FACE LATERAL COSTADO Região par situada atrás das espáduas, adiante do flanco, acima do ventre e cilhadouro e abaixo do dorso, tendo como base anatômica as costelas. O costado desenvolvido é indicativo de uma boa capacidade respiratória e digestiva, observado pelo bom comprimento, profundidade e arqueamento, bem como pela boa separação entre as últimas costelas. Os principais órgãos como pulmões, coração e outros se encontram na caixa torácica, entendendo que sua amplitude assegura o bom funcionamento desses órgãos. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 14 Através do costado é possível visualizar as características das costelas, ou seja, costelas pouco oblíquas ou mais verticais, mais estreitas e grossas e menos espaçadas são próprias do gado de corte, enquanto costelas mais oblíquas, mais achatadas, largas e bem espaçadas são próprias de gado leiteiro. FLANCO OU VAZIO Região par definindo-se como o espaço compreendido entre o costado e a anca, abaixo da região lombar e acima do ventre. Deve ser pouco pronunciado, não muito cavado, apresentar pequeno espaço entre as costelas e a articulação coxo-femural, protegendo os rins, com declive harmonioso em relação às linhas do ventre. ANCAS Região par, situada atrás dos flancos, ao lado do bordo anterior da garupa, tendo por base óssea o ângulo anterior e externo do ileon (íleo). As ancas devem ser bem separadas e em nível com a garupa. A saliência exagerada constitui o que se denomina pontudo de anca (ancas altas), assim como a anca pouco saliente (ancas baixas), que também constitui defeito, denominando-se animal esquadrilhado, ou estreito de anca. As ancas desniveladas constituem defeito grave. d) EXTREMIDADE POSTERIOR CAUDA Região ímpar implantada na parte posterior da garupa, formada pelas vértebras coccígeas número de 18 a 20 e músculos próprios da região. Na extremidade inferior, a cauda é provida de pêlos longos, grossos e crespos formando a vassoura da cauda, cuja ponta é denominada sabugo. Na implantação inferior, ao se levantar a cauda com a mão, esta apresenta duas pregas que podem ser usadas para identificação do animal com tatuagem. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 15 O movimento da cauda constitui sinal de satisfação do animal, auxilia o deslocamento do tronco e ajuda a repelir os insetos. A cauda, quanto ao tamanho, pode ser curta, quando prolonga-se até o jarrete, média, quando ultrapassa levemente o jarrete e comprida, quando ficam muito abaixo do jarrete. . A direção deve ser horizontal na garupa, dirigindo-se suavemente para trás e cair verticalmente após inclinação normal. Quando a cauda dirige-se para trás de forma oblíqua, de baixo para cima, constitui defeito denominado inserção alta ou quando se dirige para trás obliquamente de cima para baixo constitui a inserção baixa. Exemplo de cauda alta. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 16 Animal com garupa curta tende a apresentar cauda alta. Também o animal com implantação muito alta pode provocar um posicionamento horizontal da vulva quando a vaca vai envelhecendo. Este defeito promove maior dificuldade no acasalamento, bem como da drenagem das secreções produzidas e a contaminação pelas fezes. O desvio lateral também constitui defeito ou se por qualquer motivo o animal perder a cauda, este se denominará rabi ou rabicó. ÂNUS Região ímpar localizado abaixo da base da cauda, acima do períneo e nádegas no macho, vulva e nádegas nas fêmeas. O ânus deve ser revestido de pele flexível, fina e apresentar-se limpo e sempre fechado quando o animal não estiver defecando. PERÍNEO E RAFÉ (Rafe) Região ímpar situada abaixo do ânus e entre as nádegas no macho e abaixo da vulva e entre as nádegas na fêmea. O rafé é a linha longitudinal do períneo. O períneo deve ser revestido de pêlos finos e curtos sobre a pele flexível. A pigmentação nessa região constitui exigência do padrão de determinadas raças, sendo esta pigmentação rósea de uma maneira geral. Quando a parte inferior das nádegas apresenta enrugamento, em particular no animal jovem, este é um sinal de capacidade de ganho de musculatura ou de capacidade leiteira nos animais com esta aptidão. Nesta região, os pêlos que revestem a região do períneo, dirigidos de baixo para cima, em posição inversa a normal, constitui o que se denomina “Escudo de Guénon”, cuja pele é clara e macia.No passado esse escudo foi utilizado para avaliar animais leiteiros, acreditando-se que havia uma associação positiva entre produção e sua área. VULVA Região ímpar da fêmea localizada abaixo do ânus e acima do períneo, recoberta de pele fina e flexível, devendo ser mantida constantemente limpa e com os lábios cerrados. Importante observar a posição vertical, desenvolvimento e cor, reparando possíveis anormalidades. Vulva infantil ou atrofiada ou posição horizontal constituem defeitos. Têm grande importância a avaliação da facilidade de penetração do pênis do macho e a facilidade de parto. Durante o cio a vulva aumenta de tamanho, ficando intumescida, podendo ocorrer movimentos de abertura com apresentação do clitóris, micção e expulsão de muco vaginal viscoso e translúcido, que são normais. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 17 e) EXTREMIDADE ANTERIOR PEITO Região ímpar situada na base do pescoço, entre a articulação da espádua com o braço. O peito deve ser amplo, largo, profundo e musculoso, proporcionando boa capacidade respiratória e circulatória, bem como melhor disposição e sustentação dos membros anteriores. Peito estreito constitui defeito. Um peito amplo se relaciona com o afastamento das últimas costelas, que serão bem arqueadas. Deve ser evitado o peito saliente porque se relaciona com a estreiteza ou com excesso de gordura na maçã do peito. Peito muito adiantado ou atrasado, muito adiante ou muito atrás dos membros vistos de perfil também é indicativo defeito. O gado de corte deve apresentar o peito amplo, largo, em forma circular, enquanto o gado de leite deve ter a forma elíptica, mais seco e mais alto, mas a maçã não deve ser cortante. Peito estreito é associado ao costado achatado, muitas vezes denotando tórax acoletado. Tórax acoletado ou deprimido é constituído pelo achatamento demasiado imediatamente atrás das espáduas. AXILAS E INTERAXILAS Axila é a região par limitada lateralmente pelos membros anteriores (antebraço) e a interaxila, que é a região ímpar e central às axilas, anteriormente pelo peito e posteriormente pelo cilhadouro. A interaxilia corresponde ao bordo inferior do esterno, cujo desenvolvimento dos músculos peitorais determina a menor ou maior saliência da região. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 18 2.4 MEMBROS Têm a função de sustentação, como amortecedores de choque e propulsores, os membros são constituídos de ossos, músculos e tendões, interligados por ligamentos e articulações. Na parte superior predominam as massas musculares e na inferior os ossos e tendões. É necessário observar sua constituição e aprumos para que sejam facilitadores da busca de alimentos em uma pastagem e para não gerar nenhuma dificuldade em momentos de acasalamentos. Os membros são definidos como anteriores, peitorais ou torácicos e posteriores, abdominais ou pelvianos. Membros anteriores e posteriores têm a mesma altura, embora aparentem diferença. Se os anteriores forem mais compridos que os posteriores originam o animal denominado leonino. A manqueira pode tem caráter definitivo se é nato ou mesmo se adquirido e de caráter permanente, sendo grave este defeito. a) ANTERIORES ESPÁDUA OU PÁ Região par que fica justaposta lateralmente ao tórax, entre o garrote e o braço, pescoço e costado, tendo como base anatômica a escápula e músculos peitorais e olecraneanos, músculos mastóide umeral, rombóide, trapézio e omotraqueano nas extremidades superior e músculos Angular do omoplata e grande denteado, inserindo na face interna. Também chamada de ombro, a espádua apresenta duas porções, a porção escapular e a anconéia. A escapular fica sobre a escápula propriamente dita e a anconéia fica posteriormente aquela e unida ao costado. A extremidade superior da espádua denomina-se parte proximal da paleta, enquanto a extremidade inferior parte distal da paleta. Praticamente todas as avaliações subjetivas, como doença, fase da engorda ou tipo, passam por uma análise da espádua. A espádua deve ser comprida, oblíqua e bem provida de músculos, que se apresentando seca ou descarnada, denota emagrecimento, velhice, fadiga, má alimentação ou doença. A espádua é uma das partes fundamentais para observação do perfil do animal. Espádua muito para fora, projetada, constitui defeito denominado espádua saltada, bem como a espádua sem inclinação ou vertical. BRAÇO Região par situada entre a extremidade inferior da espádua e o cotovelo, isto é, abaixo da espádua e acima do antebraço, tendo como base anatômica o osso úmero e músculos da região. Deve ser bem musculoso e bem dirigido. COTOVELO OU CODILHO Região para situada entre o braço e o antebraço na região do olecrano, tendo como base anatômica a articulação úmero-rádio-ulnar. O cotovelo deve apresentar-se bem destacado do costado e recoberto por massas musculares. Quando o cotovelo se desvia para fora, provoca o fechamento dos joelhos e quando muito colado ao corpo provocará o arqueamento excessivo dos joelhos. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 19 ANTEBRAÇO Região par situada entre o cotovelo e o joelho, tendo como base anatômica os ossos rádio e ulna. Deve ser bem dirigido verticalmente e largo a altura do cotovelo e com massas musculares evidentes. JOELHO (Joelho zootécnico) Região para situada entre o antebraço e a canela, cuja base anatômica é constituída da extremidade distal do rádio, dos ossos do carpo (de seis a sete) e da extremidade proximal dos metacarpianos (articulação rádio-carpo-metacerpiana). Esta região deve ser espessa, bem musculosa e bem dirigida. Constituem defeitos, os joelhos ou jarretes dilatados, a artrite ou câimbras em qualquer das juntas e a manqueira no anterior ou posterior. b) POSTERIORES COXA Região par situada abaixo da garupa, atrás do flanco e acima da soldra, tendo como base anatômica o osso fêmur e grande massa muscular dividindo a coxa em três grandes regiões distintas anatomicamente: o crural anterior constituído pelo quadríceps, crural e subcrural, crural posterior constituído pelo isquio-tibial e músculo da nádega e crural interno constituído pelo chato da coxa e coxais médios. A coxa tem três faces, a interna denominada bragata, a externa denominada coxa propriamente dita e a face posterior denominada nádega. A porção inferior da coxa incluindo a nádega é também chamada de culote, tendo como base anatômica a tuberosidade isquiática até a corda do jarrete. A coxa bem constituída deve ser volumosa, espessa, arredondada e bem descida no gado de corte, de modo que a massa muscular termine próxima ao jarrete, denotando bom desenvolvimento. No caso do gado de leite, o desenvolvimento muscular deve ser menos espesso, enxuto, de maneira a denotar tal aptidão. SOLDRA, RÓTULA OU PATELA (Joelho anatômico) Região par situada entre a coxa e a perna, tendo como base anatômica a articulação fêmur-tíbio-patelar. VIRILHA É a prega de pele que liga o corpo ao membro posterior, devendo ser íntegra, flexível e solta e permitir uma boa articulação dos membros. Também se considera a união interna do corpo à face interna da coxa. PERNA Região par situada entre a soldra e o jarrete, isto é, abaixo da coxa e acima da canela, tendo como base anatômica a tíbia e músculos próprios da região. A fíbula é atrofiado nos bovinos. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 20 JARRETE, GARRÃO OU CURVILHÃO Região par situada entre a perna e a canela, tendo como base anatômica os ossos do tarso e metatarso. Fazem parte do jarrete, as articulações tibial-tarsiana, inter-tarsiana e tarso-metatarsiana. As forças decorrentes do peso do corpo, dos choques dos membros posteriores sobre o solo e das contrações musculares convergem para o jarrete. As partes comuns dos anteriores e posteriores sãoas seguintes: CANELA Região par situada abaixo do joelho no membro anterior e do jarrete no membro posterior, tendo como base anatômica o metacarpiano principal no membro anterior e metatarsiano no membro posterior. BOLETO Região par situada entre a canela e a quartela, tendo como base anatômica a articulação metacarpo falangeana no anterior e metatarso falangeana no posterior. QUARTELA Região par situada entre o boleto e a coroa, cuja base anatômica é a primeira falange (articulação inter-falangeana). A canela, o boleto, a quartela, a coroa, os cascos, as sobre-unhas e os talões são comuns aos membros anteriores e posteriores. PÉ OU CASCO Região par situada na extremidade livre do membro, cuja base anatômica é a terceira falange (para alguns autores são a 2a e 3a falanges e um pequeno osso cezamóide). O casco apresenta coroa e unha, cuja coroa nos bovinos corresponde a segunda falange e é dupla. Os talões situam-se na parte posterior dos cascos, com coroa mais baixa em relação ao anterior dos cascos. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 21 UNHAS OU PINÇAS Em número de duas para cada membro, sendo formadas das seguintes partes: muralha com suas faces interna e externa, sola e unhas ou pinças posteriores, mais longas e mais afiladas que as anteriores. Os cascos podem apresentar os defeitos designados abaixo, o do centro é normal. Podem ocorrer doenças relacionadas à predisposição genética, manejo, meio ambiente, clima, estações do ano e nutrição. As alterações que ocorrem nos cascos são feridas, desgastes anormais, crescimento exagerado das unhas, dos tecidos entre as unhas, bicheiras e outros, que podem ser relacionados ao manejo e à alimentação. Nestes casos é preciso corrigir com o aparamento a fim de acertar os aprumos e realizar os tratamentos adequados para cada caso. SOBREUNHAS OU PRESUNHAS Também denominadas machinhos ou esporões situam-se na parte inferior e posterior do boleto e voltadas para baixo. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 22 3 APRUMOS É a direção que os membros tomam na sustentação do corpo em toda sua extensão ou, em particular, das suas diferentes regiões de modo a permitir o deslocamento fácil do animal. A avaliação da sustentação é realizada com base nos quatro membros apoiados sobre o solo plano. Os membros anteriores são verdadeiros amortecedores e elementos de sustentação, em função da proximidade com o centro de gravidade do corpo. Este centro localiza-se na interseção de uma vertical tangente ao apêndice xifóide do esterno com o plano horizontal que divide o terço inferior dos dois terços superiores da profundidade torácica, isto é, na altura do terço inferior da oitava costela e pouco atrás da base do coração. O centro de gravidade é um ponto em torno do qual o peso do corpo está igualmente distribuído em todas as direções devido a força gravitacional (força que, atuando sobre todos os corpos, solicita-os na direção do centro da terra). O centro de gravidade de um corpo coincide com seu centro de massa quando a aceleração da gravidade tiver o mesmo valor em toda extensão do corpo. Isso significa que corpos com dimensão pequena comparada à terra, como têm o mesmo valor de aceleração da gravidade para todas as diferentes partes do corpo, seu centro de gravidade coincide com seu centro de massa. O centro de massa de corpos com forma geométrica simples e material homogêneo é fácil de ser encontrado, pois está no centro geométrico; no caso de uma esfera está exatamente no centro dela. No caso do planeta em que vivemos, o centro de massa está no centro da Terra. No animal apoiado pelos quatro membros, o centro de gravidade não fica exatamente no centro do corpo porque tem a cabeça no trem anterior, fazendo este pesar mais do que o posterior. Entende-se que o centro de gravidade se modifica com qualquer movimentação do animal, ou seja, o movimento das partes articuladas, o deslocamento das vísceras, a mudança de peso e volume modificam constantemente este centro. Os quatro membros são a base de sustentação do animal se todos estiverem apoiados no solo, enquanto se estiverem caminhando, com três membros em apoio, o centro de gravidade será outro ponto. Como regra geral, membros mais aprumados, afastados transversalmente e membros mais curtos, isto é, a aproximação do centro de gravidade ao solo promove maior estabilidade e facilidade para o animal dependendo do tipo de serviço prestado ao homem. Os aprumos podem ser normais ou regulares e anormais ou irregulares, cuja apreciação é realizada com o animal em pé, parado, visto de perfil, pela frente e por trás para avaliação dos membros anteriores e posteriores, respectivamente. 3.1 APRUMOS DOS MEMBROS DIANTEIROS VISTOS DE PERFIL Os anteriores são classificados como normais quando a linha imaginária que passa pelo centro da cernelha e desce pelo centro dos membros e dos joelhos, Exterior e raças de bovinos e bubalinos 23 tocando o solo um pouco atrás dos talões ou a linha parte da ponta da extremidade inferior da espádua e atinge o solo a uma distância de 5 a 10 cm a frente do casco. SOBRE SI DE DIANTE OU DEBRUÇADO Quando o eixo do membro se inclina para trás e os cascos ultrapassam a linha de aprumo normal. ACAMPADO DE DIANTE OU ESTACADO Quando as unhas ultrapassam a linha de aprumo. Nesse caso os animais tendem a apresentar a linha dorso-lombar selada. TRANSCURVO OU JOELHO DE CARNEIRO Quando o joelho é projetado para trás, partindo-se do aprumo normal, cuja linha passa no centro do joelho. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 24 AJOELHADO Quando o joelho é projetado para frente, partindo-se do aprumo normal, cuja linha passa no centro do joelho. BAIXO DE QUARTELA, LONGO JUNTADO OU SAPATEIRO Quando a quartela é muito comprida, cujo eixo com a horizontal forma um ângulo menor que 45º. Baixo quartela Na Figura abaixo, o equino tem também o defeito denominado sobre si de diante ou debruçado. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 25 FINCADO DE QUARTELA OU CURTO JUNTADO Quando a quartela é muito curta, cujo eixo com a horizontal forma um ângulo acima de 50º. VISTOS DE FRENTE Os anteriores são considerados normais quando as linhas de aprumo, partindo da ponta da espádua, passam no centro dos antebraços, joelhos e cascos. ABERTO DE FRENTE Quando os membros anteriores estão desviados para fora das linhas de aprumo, especialmente os cascos ou divergentes de cima para baixo. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 26 FECHADO DE FRENTE Quando os cascos estão desviados para dentro das linhas de aprumo normal ou convergentes de cima para baixo. JOELHOS ARQUEADOS Quando os joelhos estão projetados para fora das linhas de aprumo. JOELHOS CAMBAIOS Quando os joelhos estão projetados para dentro das linhas de aprumo. PÉS ARQUEADOS E PÉS CAMBAIOS Ocorrem em semelhantes condições dos joelhos em função dos boletos. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 27 3.2 APRUMOS DOS MEMBROS TRASEIROS VISTOS DE PERFIL Os posteriores são considerados normais quando se desce uma linha imaginária vertical iniciando na ponta da nádega, passando pela ponta do jarrete e alcança o solo a cerca de cinco a oito centímetros dos talões. Outra definição auxiliar é a linha que inicia na inserção da cauda, desce pelo centro dos membros, especialmente do jarrete, e toca o solo pouco atrás dos talões ou ainda a vertical baixada da articulação coxo-femural que passa pelo centro da perna e alcança o solo no centro do casco. O animal apresenta o defeito denominado leonino quando trem anterior é mais alto do que oposterior. Também são defeitos a artrite ou câimbra. ACAMPADO DE TRÁS Quando os membros e cascos se projetam para trás da linha de aprumo normal, podendo provocar uma lordose no animal. SOBRE SI DE TRÁS OU ACURVILHADO Quando os membros e cascos ficam a frente da linha de aprumo normal. Ocorre ainda a inclinação da garupa, ângulo fechado do jarrete e boleto baixo. VISTOS POR TRÁS Os posteriores são normais quando se traça uma linha imaginária vertical a partir do centro da nádega, passando pelo centro do jarrete, do boleto e dos cascos. ABERTO DE TRÁS E FECHADO DE TRÁS OU TAPADO Quando os membros e cascos se projetam para fora ou para dentro das linhas de aprumos normais, conforme o caso. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 28 JARRETES ARQUEADOS E JARRETES CAMBAIOS OU GANCHUDOS Quando os jarretes se projetam para fora ou para dentro das linhas de aprumo normal, conforme o caso. PÉS OU CASCOS ZAMBROS E PÉS CAMBAIOS Quando os pés estão para foram ou para dentro das linhas de aprumo, conforme o caso. JARRETE ABERTO E JARRETE FECHADO Esses defeitos correspondem ao acampado ou sobre si de trás, conforme o caso. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 29 BAIXO QUARTELA, LONGO JUNTADO OU SAPATEIRO Quando a quartela se apresenta quase deitada ou quase na vertical em relação ao solo, conforme o caso, semelhantes ao que acontece com os membros anteriores. CURTO JUNTADO OU FINCADO DE QUARTELA Quando a quartela se apresenta quase vertical em relação ao solo, conforme o caso, semelhantes ao que acontece com os membros anteriores. Animal barrigudo, traseiro estreito e com membros e cascos muito fechados. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 30 4 PELAGEM OU MANTO É a coloração que toma o revestimento externo do animal e que é constituído da pele e pêlos. Além disso, é absolutamente necessário observar a cor das mucosas, dos olhos e cílios, dos chifres, cascos e da vassoura da cauda. A pele é freqüentemente escura devido a pigmentação do tecido epidérmico. Quando não há pigmentação os animais são albinos, mas dependendo da densidade da pigmentação a pele será mais clara ou mais escura. O pelame é o conjunto dos pêlos como parte da pelagem. A cor dos pêlos varia conforme a idade, o sexo, a nutrição, saúde, clima e exposição ao sol. Nos animais jovens e bem alimentados a cor é mais viva, brilhante, os pêlos são finos e sedosos. Os pêlos são trocados durante toda vida do animal e alguns mudam de cor em relação ao revestimento inicial. O Nelore pode nascer vermelho e passa a cinza claro ou branco até chegar a idade adulta. Os touros adquirem cores mais vivas por influência dos hormônios sexuais como pescoço, cernelha, garupa e membros. Aparecem pêlos brancos em algumas regiões do corpo a medida que o animal envelhece. Pêlos brancos, amarelos e vermelhos combinados com a pele escura são adequados para resistência as altas temperaturas e a irradiação solar forte nos climas tropicais. A pelagem é um dos atributos que mais se destaca para a identificação de certas raças quando a pelagem é bem definida, associando-se a outras características. Portanto, os fatores a serem observados no estudo da pelagem são o fundo ou coloração predominante e os sinais particulares, podendo ser classificadas pelas categorias simples, composta e conjugada. Animal albino - mucosas e focinho despigmentados Exterior e raças de bovinos e bubalinos 31 4.1 PELAGEM SIMPLES É aquela composta por uma só cor, isto é, é a cor visualizada pelo homem. É formada por três cores essenciais: branca, preta e vermelha com suas diversas variedades, intensidade e combinações. A cor branca tem as variações: leitosa, branca suja, baia, creme e outras, enquanto a cor preta apresenta as variações preta brilhante, preta ordinária, preta mal tinta ou fula, etc. A pelagem barrosa é caracterizada pelas tonalidades das cores vermelha ou amarela na pelagem propriamente dita, nos cascos, focinho, cílios, olhos e vassoura da cauda em conjunto ou isoladamente. O amarelo esbranquiçado, o amarelo cobre ou cor de tacho e as variações do vermelho como barrosa clara (próximo do amarelo), barrosa ordinária (café com leite claro), liburno (pardal), vermelha cereja, vermelha laranja (Caracu), vermelha acaju (Flamenga), vermelha retinta (sangue) e vermelha escuro tendendo ao preto, esta última também denominada vermelho castanha. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 32 4.2 PELAGEM COMPOSTA É aquela constituída de pêlos de duas ou mais cores uniformemente distribuídas sobre todo o corpo. Esta categoria de pelagem é mais comum em eqüinos. Na leitura não se identifica como simples ou composta, mas como pelagem de uma só tonalidade. A cor rosilha ou ruã é a combinação de pêlos brancos e vermelhos misturados, comum no gado Shorthorn. A pelagem chamada Azulega ou Azuleja resulta da presença de pêlos escuros na pelagem clara dos bovinos, que no Guzerá dá-se essa denominação para animais cinza claro com posterior, cabeça, pescoço, nádegas e membros escuros. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 33 4.3 PELAGEM CONJUGADA É aquela constituída de pêlos de cores diferentes, porém dispostas em forma de malhas ou manchas regulares ou irregulares. Essa combinação é constituída normalmente pela pelagem branca com a preta ou vermelha, denominando-se Malhada ou Oveira, que corresponde à pelagem pampa nos eqüinos. Quando a cor branca é predominante ou é a cor de fundo sob malhas vermelhas, preta ou amarela as denominações são malhado de vermelho, malhado de preto e malhado de amarelo, respectivamente. No caso inverso, isto é, quando a cor dominante ou de fundo é o vermelho ou preto em malhas brancas são denominados vermelho malhado e preto malhado, respectivamente. O gado Holandês é o exemplo típico de pelagem malhada de preto ou vermelho. São especiais as pelagens conjugadas seguintes: Cintada é aquela de cor dominante preta ou vermelha e a branca circunda o centro do corpo do animal. Chita, Chitada ou Sarapintada, própria da raça Gir e seus mestiços, consistem na presença de pequenas manchas numerosas, de pêlos vermelhos em fundo branco ou rosilho, também denominada chita de vermelho. Diz-se vermelho chitado quando o fundo é vermelho e as manchas são de pêlos brancos. Moura clara é predominantemente branca com orelhas e cabeça total ou parcialmente pretas. Moura escura tem predominância da cor preta com orelhas e cabeça escuras. Fusco é a cor vermelha escura com manchas negras ao redor dos orifícios naturais e extremidades. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 34 Outras particularidades das pelagens, que ocorrem no corpo: Presença de pintas maiores chama-se pintado, sendo as pintas brancas, pintado de branco. A pelagem com listras avermelhadas irregularmente pelo corpo denomina- se Araçá. A pelagem com listras maiores e mais vivas pelo corpo denomina-se Tigrado. A pelagem fumaça é aquela formada por pêlos que se aglomeram em certas partes do tronco e nos membros em animais de pelagem branca. No Guzerá e Nelore a cor cinza com pêlos brancos no costado e pelagem mais escura no trem anterior e posterior. Animais da raça Nelore receberam registro como variedade de pelagem malhada ou pintada. As variedades são vermelha, amarela e preta e também podem ser combinadas com branco. Toda pelagem que apresentar malha branca na região ventral e cilhadouro do tronco é considerada bragada. Gargantilha é toda mancha localizada na região anterior do pescoço, abaixo da garganta. 4.4 PARTICULARIDADES DA CABEÇA Estrela é uma pequena mancha branca na testa Meia lua é uma mancha na formade meia lua Malacara ou mascarado é a mancha tomando grande parte da cabeça. Culéia ou Kolea caracteriza-se pela presença de pele e focinhos claros, termo mais utilizado para o gado zebu. Lambida é a despigmentação da mucosa do focinho parcial ou total. 4.5 PARTICULARIDADES DOS MEMBROS Calçamento é uma particularidade dos membros, sendo evidentes quando a cor branca ocupa suas extremidades e o resto do corpo outra cor. O calçamento pode ocorrer em um ou mais membros, assim como a altura. Jaguaré é a pelagem de cor branca, preta ou vermelha que ocupa grande parte do costado, denominando-se Jaguaré de branco, de preto ou de vermelho. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 35 Salino é a pelagem constituída de pele branca ou rósea e pelame claro com pequenas manchas vermelhas ou escuras em formas de placas. Em relação ao zebu a pele deve ser untuosa e preta ou escura, admitindo-se a cor rósea nas partes baixas (ventre e região inguinal). Além da pele, os chifres, os cascos, as mucosas, o focinho, a vassoura da cauda, os olhos e os cílios devem ser negros. Entretanto, aceitam-se olhos de outras tonalidades escuras e cílios mesclados.
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