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Exterior e raças de bovinos e bubalinos 147 18 EXTERIOR E RAÇAS DE BUBALINOS INTRODUÇÃO NO BRASIL E ORIGEM Há concordância entre a maioria dos autores de que o búfalo chegou ao Brasil no final do século XIX. Os relatos não são precisos quanto ao período histórico. Fonseca (1977), por exemplo, relata que os primeiros búfalos teriam chegado à Ilha de Marajó em 1870 através de uma embarcação proveniente da Guiana Francesa com refugiados políticos e trocados por bovinos. O mesmo autor cita outro registro de entrada em 1890, este desconhecido. Para Alberto Alves Santiago (1971) a primeira entrada foi de búfalos de pântano ou Rosilhos, de cinta branca no tórax e pés calçados de branco, dando-se em 1890, provenientes da Guiana Francesa ou da Ilha de Trinidad, que também teriam sido trocados por bovinos, discordando de Fonseca apenas quanto à data. Nascimento et al. (1981) indicaram o ano de 1895 para introdução do búfalo na Ilha de Marajó, através do criador Vicente Chermont de Miranda, mas estes animais seriam provenientes da Itália. Octávio Domingues (1961) relatou o ano de 1902 como a data inicial de importação de búfalos, que eram pretos e de procedência africana, feita pelos Lobatos de Miranda para a Ilha de Marajó. Posteriormente, em 1906, búfalos rosilhos foram levados por Vicente Chermont de Miranda para a costa norte da Ilha de Marajó. Depois ocorreram muitas importações de búfalos pretos originários da Itália, inicialmente para a Ilha de Marajó e depois, para várias unidades da federação. As importações da Ásia e da África, segundo Nascimento et al. (1981), foram paralisadas a partir de 1956 com a justificativa de se evitar a entrada da peste bovina no Brasil. Esse bloqueio foi encerrado em 1962, ficando posteriormente proibida as importações dos continentes com maiores possibilidades de comercialização. FIGURA 1 – Bisão europeu (esquerda) e bisão americano (direita), Bison bonasus e Bison bison, respectivamente. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 148 O búfalo é originário da Ásia, sendo também chamado, por esta razão, de búfalo Asiático, embora sua existência seja remota também no continente Africano. A espécie selvagem que deu origem à domesticada é a Bubalis arni, originária da Índia e do Tibet, que se dispersou para a China, Ceilão, Malásia e outros países do oriente. Entretanto, não se pode confundir o búfalo doméstico, Bubalus bubalis, com o búfalo africano, Syncerus caffer, ou com o bisão americano, Bison bison ou o bisão europeu Bison bonasus (Figura 1). O Syncerus caffer (Figura 2) é o búfalo selvagem da África, que apresenta chifres blindados no centro da cabeça, pesados e curvados. FIGURA 2 – Búfalo africano Syncerus caffer CLASSIFICAÇÃO A classificação zoológica dos búfalos é a mesma dos bovinos, isto é, são da classe Mammalia e ordem Artiodactyla: Incisivos próximos da almofada carnosa do maxilar superior para cortar a vegetação, que é triturada entre os dentes molares com cristas de esmalte (pré-molares e molares); sem caninos; útero bicórneo; ungulados com número par de dedos protegidos por cascos; pernas geralmente longas; artelhos funcionais em cada pé, cornos geralmente presentes. O adulto apresenta 32 dentes (incisivos na parte anterior da mandíbula, sem incisivos superiores) e estômago com quatro compartimentos. Sub-ordem Ruminantia: dentição incompleta (ausência de caninos e incisivos apenas no maxilar inferior), estômago composto com quatro compartimentos e unípara. Superfamília: Bovidea, Família Bovidae: Cornos ocos, pares, não ramificados, queratinizados, com crescimento lento e contínuo na base, sobre ossos frontais, geralmente em ambos os sexos, maiores nos machos e Sub- família Bovinae, compreendendo o gênero Bubalus. A espécie é Bubalus bubalis com três Sub-espécies: Bubalus bubalis, bubalis, também chamado de búfalo indiano ou doméstico propriamente dito, que abrange os búfalos da Índia, Paquistão, China, Turquia e vários países da Europa e América; o Bubalus bubalis, fulvus de pequeno Exterior e raças de bovinos e bubalinos 149 porte, chifres reduzidos, de cor parda ou avermelhada, podendo ser encontrados ao nordeste da Índia e também na África; e o Bubalus bubalis, kerebau, é encontrado no Ceilão, nas ilhas da Indonésia, nas Filipinas e na China. É conhecido como Carabao ou Rosilho. O búfalo é também classificado de acordo com seu habitat natural, comportamento e tipo. Búfalo de pântano (Swamp buffalo) é o animal de trabalho dos países do oriente, que apresenta pelagem cinza ou rosilha, estrutura pesada e constituição atarracada, corpo musculoso, ventre grande, fronte plana, olhos proeminentes, face curta, focinho grande, pescoço comparativamente longo, espáduas e garupas proeminentes. A espinha dorsal estende-se para trás e termina abruptamente antes do fim da caixa torácica. Os chifres crescem para fora, encurvando-se e formando um semicírculo, mas quase sempre permanecendo no plano frontal. Originário de regiões alagadiças, preferindo revolver-se na lama e possui grande facilidade de locomoção nessas áreas. O búfalo de rio ou búfalo d’água (Water buffalo) é o búfalo Indiano, também chamado de búfalo de rio devido ao costume de permanecer nos cursos de água de sua região de origem, tem a cor negra, ventre mais estreito, faces mais longas e membros maiores. A espinha dorsal estende-se mais para trás afilando-se gradualmente. Os chifres crescem para baixo e para trás, encurvando-se para cima. Há também a classificação pelo grupo étnico ou pela cor da pelagem, ou seja, búfalos pretos, rosilhos e do tipo baio. Nos tipos de pântano encontra-se a raça Carabao, de pelagem rosilha ou cinza (Nascimento e Carvalho, 1993). CONCEPÇÃO COM A PRÓPRIA ESPÉCIE Os búfalos de pântano possuem 48 cromossomos (2n=48) e os búfalos de rio, 50 cromossomos (2n=50), diferentes dos bovinos, que têm 60 cromossomos (2n=60). Pela diferença do material cromossômico, não há concepção entre as espécies, seja ela por cruzamento natural ou inseminação artificial. Entretanto, entre búfalos de rio e de pântano, a concepção ocorre naturalmente, dando um produto com 49 cromossomos (2n=49). Esse indivíduo apresenta fertilidade com restrições, uma vez que parece ocorrer prejuízo à gametogênese, mas ocorre concepção com animais de 48 ou 50 cromossomos com certa frequência. O que acontece é que o búfalo de rio com maior número de cromossomos acrocêntricos desloca dois desses para parear com um metacêntrico do búfalo de pântano, resultando em F1 com 24 pares e 49 cromossomos, conforme demonstrado na Figura 3. O búfalo não é fecundo com qualquer outra espécie da subfamília a que pertence em função dessa diferença cromossomial. Por outro lado, não se deve confundir a fecundidade já estabelecida entre o bisão (Bison bison) e o bovino (Bos taurus taurus ou Bos taurus indicus) pelo fato dessas espécies terem o mesmo número de cromossomas (2n=60), dando origem ao beefalo. O vigor híbrido neste animal é refletido com grande desenvolvimento ponderal. Vale (1994) demonstrou a organização de cromossomas na espécie bubalina (Tabela 1). Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 150 PÂNTANO (48) x RIO (50) Y χχ x Y XXXX F1 (49) Y Y χXX- 1 par com 3 cromossomas Y = 46 cromossomas são comuns aos 2 tipos de búfalos FIGURA 3 - Genótipo do produto do Búfalo de pântano x Búfalo de rio TABELA 1 - Características dos cromossomas de búfalos criados na América Latina. TIPO NÚMERO DE CROMOSSOMAS CARACTERÍSTICAS DOS CROMOSSOMAS Búfalo de rio, indiano ou mediterrâneo 2n = 50 5 metacêntricos, 19 acrocêntricos e o sexual acrocêntrico. Búfalo de pântano ou Carabao 2n = 48 5 metacêntricos ou submetacêntricos,8 acrocêntricos e o sexual acrocêntrico. Cruzados Rio x Pântano 2n = 49 5 metacêntricos, 18 acrocêntricos com uma fusão entre os cromossomas 4/9 e o acrocêntrico sexual. ATRIBUTOS DOS BÚFALOS Os búfalos apresentam algumas características de suma importância para as condições brasileiras com vasta região tropical e subtropical, cuja pecuária é movida ainda em grande parte por pastagens nativas e manejadas inadequadamente. Os búfalos são dóceis e fáceis de manejar, têm alta capacidade adaptativa, inclusive para voltar a vida selvagem, grande rusticidade relativa ao aproveitamento de forrageiras grosseiras, resistência às principais doenças, são longevos com vida útil produtiva mais prolongada e a eficiência reprodutiva, em geral, ultrapassam os 80 %. ANATOMIA COMPARATIVA A cabeça é sua principal defesa na natureza, o crânio é mais largo, mais espesso e mais curto, o que dificulta o abate de búfalos com marreta. A coluna vertebral é semelhante a dos bovinos, tem 13 pares de costelas e 7 vértebras cervicais, 13 torácicas, 6 lombares, 5 sacrais e de 18 a 20 coccídeas). O coração é menor, o baço tem contorno triangular e forma mais larga de um lado. Os pulmões são menores no Carabao e iguais aos bovinos no búfalo de rio. A laringe é menor, o que produz um mugido mais débil e rouco. A língua é mais móvel, mais curta, mais chata, menos redonda, mais lisa com papilas mais curtas e macias, enquanto o fígado é mais Exterior e raças de bovinos e bubalinos 151 redondo, maior e mais espesso. O trato alimentar tem menor comprimento e o abomaso tem menos pregas. As paredes retais são grossas e contêm materiais fecais mais secos. A cérvix é menor, o útero é mais curto e mais fino, os cornos uterinos são mais tortuosos e mais finos, os ovários são menores e mais lisos, o corpo lúteo é cinza- rosado e sua posição é mais ventral. A vulva é mais aberta, com pêlos e com maior concentração de fibras nervosas. A glândula mamária é pequena no búfalo de rio e menor ainda no búfalo de pântano. Os órgãos reprodutivos, incluindo as glândulas anexas, têm menor tamanho, o pênis é mais fino e mais curto. O prepúcio é sem pêlos, os testículos são menores e mais elevados. O escroto é menor, mais fino, depilado, pigmentado e brilhante. A vesícula seminal é menor e menos lobulada. PELE E PELAME A espessura da pele aumenta com a idade e é maior em machos do que em fêmeas, podendo variar entre raças. O aspecto da pele de búfalos ao toque é o da epiderme grossa, que pode ficar entre 1,5 a 2,0% do total da grossura da pele, comparado com o valor menor de 1,2 % dos bovinos. A camada córnea (stratum cornium) é muito proeminente e pode ser duas vezes mais grossa do que em bovinos. Além disso, a interface entre duas camadas é muito denticulada (Figura 4) e com numerosas papilas na extensão da epiderme dentro da derme. Assim como no bovino, as fibras do tecido conectivo na camada papilar são mais finas do que a camada reticular da derme. Pigmentos granulados são achados na epiderme e são mais numerosos na pele da região dorsal e menos numerosos na região inguinal e na superfície da coxa. Embora o bezerro seja pigmentado ao nascer a pele perde seu pigmento quando o animal é mantido no escuro, assim a pele torna-se avermelhada e clara. Como nos bovinos os pêlos crescem isoladamente, não em grupos, cada um está associado a uma glândula sudorípara e a uma glândula sebácea (Figura 5). A densidade, entretanto, é apenas 1/10 de bovinos. A quantidade por centímetro quadrado de pele varia de 100 a 200, tiradas pela média das regiões do corpo. Os pêlos são mais densos na cabeça e nas extremidades e menos denso na parte posterior e região inguinal. Em bovinos a densidade dos pêlos varia de 800 a 1000 por centímetro quadrado nas raças européias e de 1500 a 1700 por centímetro quadrado nas raças zebuínas. O número de pêlos é fixado antes do nascimento, de modo que a densidade diminui com a idade até que a pele tenha alcançado sua área máxima. O recém-nascido tem pêlos longos e densos que no búfalo negro é castanho ou cinza aço. Ele vai escurecendo com o desenvolvimento do animal até que boa parte da pelagem é desprendida, fato que termina por volta dos três anos de idade. Cerca de 80% são pequenos e finos e o restante é longo e grosso. As fibras grossas são comuns na cabeça e extremidades onde a pelagem é mais densa. O diâmetro dos pêlos varia de 80µ a 107 µ, o comprimento vai de 1 a 7 cm e o músculo piliforme é pouco desenvolvido. Búfalo Bovino Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 152 co. – estratum corneum c. – capilares k. – estágios iniciais de cornificação p – papila sp. – estratum spinosum p.ep. – epiderme papilomatosa cyl. – estratum culindricum art. – arteríola FIGURA 4 – Nível da derme e da epiderme de bovinos e bubalinos demonstrado diagramaticamente. A baixa densidade de pêlos é ao mesmo tempo uma vantagem e uma desvantagem à tolerância ao calor, isto é, por um lado a dissipação é facilitada porque a baixa densidade não exerce resistência à liberação do calor, e por outro, a absorção da energia direta da luz solar a pouca densidade não impede a maior absorção da energia. A epiderme é ricamente irrigada por capilares sanguíneos para promoção da perda de calor através da pele. Os redemoinhos (Figura 6) e pêlos arrepiados são comuns em búfalos e costuma aparecer 240 dias depois da concepção, sabendo-se que a pelagem é completada aos 275 dias de gestação. Redemoinhos podem estar situados em qualquer lugar do corpo, sendo mais comum na cabeça, espáduas e costados. O número de redemoinhos varia de 1 a 9 e não foi ainda observado no focinho, peito e pescoço. Têm sido encontrados redemoinhos de dois tipos, um de formação circular normal, com 10% de incidência, nos flancos ou na região da garupa ou pode aparecer em forma circular ou como uma linha de dois redemoinhos circulares. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 153 Búfalo Bovino co. – estrato cornium c. – capilares o.sw.d. – abertura do ducto da glândula sudorípara sw.d. – ducto da glândula sudorípara p. – papila sb.d. – ducto da glândula sebácea hf.f. – folículo piloso p.m. – músculo piliforme p.ep. – epiderme papilomatosa sw. – glândula sudorípara ar. – arteríola FIGURA 5 – Diferenças histológicas entre a pele de bubalinos e bovinos demonstrado diagramaticamente. A cor dos pêlos, em geral, acompanha a cor da pele. Assim, búfalos negros a pele, os pêlos e as mucosas são negros. Portanto, os búfalos de rio no Brasil correspondem às três raças Murrah, Jafarabadi e Mediterrânea, que são todos negros. Há ainda o búfalo tipo Baio cuja cor é café com leite, considerado também Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 154 dentro do grupo de rio, mas que não tem registro na Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB). FIGURA 6 - Redemoinhos na região do lombo e processo transverso em búbalos. Dentro do grupo de búfalos de pântano, no Brasil é representado pela raça Carabao. Esta tem maior variação na cor da pelagem, ou seja, em geral são da cor cinza-escuro, mas pode ocorrer o rosilho (mistura de pêlos vermelho e pêlos brancos) em fundo róseo. Búfalos albinos são despigmentados (Figura 7) ou com baixa pigmentaçãoe devem ser rejeitados, como todo mamífero com essa característica. Búfalos de pântano podem apresentar manchas brancas na forma de colares e de calçamento. Portanto, são identificados três grupos étnicos, o preto, o rosilho (ou cinza) e o baio. Figura 7 - Búfalo albino (pele despigmentada, chifres brancos e olhos gázeos). GLÂNDULAS SEBÁCEAS E GLÂNDULAS SUDORÍPARAS No búfalo a glândula sebácea consiste de um cacho de alvéolos ao redor do Exterior e raças de bovinos e bubalinos 155 folículo piloso, enquanto no bovino tem somente dois lóbulos simples e não estendido conforme pode ser visto na Figura 5. O volume total da glândula é bem grande, ou seja, pode ser de 4 a 8 vezes maior do que em bovinos. As glândulas e seu conteúdo são brancos nos búfalos e amarela nos bovinos. A cor branca da gordura, do leite e o vermelho mais vivo dos músculos se deve à maior capacidade de transformação do caroteno em vitamina A com maior concentração desta nos búfalos. Além disso, é preciso considerar que o músculo é menos entremeado de gordura, fato que influi na cor da carne. A forma da glândula nos bubalinos é um saco oval simples ou um tubo extenso enrolado. O ducto é torcido e unido ao corpo da glândula, enquanto no bovino esse ducto é reto. O tamanho varia consideravelmente, o diâmetro mede 0,15 a 0,44 mm e o comprimento de 0,44 a 0,88 mm. O epitélio tem a forma de coluna e alguns autores relatam que há também algumas glândulas com células epiteliais lisas. Provavelmente, isso represente um estágio secretório mais propriamente do que um tipo diferente de glândula. Nem todos os folículos pilosos dos búfalos são associados às glândulas sudoríparas, fazendo uma comparação como o zebu. As glândulas sudoríparas são do tipo apócrina, idênticas às dos taurinos e zebuínos, mas diferem na densidade por unidade de superfície. Villares et al. (1979) fizeram a contagem em búfalos Murrah, Jafarabadi e Mediterrâneo, conforme mostra a Tabela 2. Esses dados confirmam o reduzido número de glândulas sudoríparas na superfície da pele, com a média de 126 glândulas por cm2, não havendo diferença estatística entre as raças. A insuficiência numérica e talvez a deficiência funcional de suas glândulas sudoríparas levaram o búfalo a desenvolver o hábito etológico de contato com a água (Figura 8), a fim de obter equivalente perda de 585 kcal pela evaporação da água na pele molhada, simulando o desempenho fisiológico termorregulador da glândula sudorípara (VILLARES, 1990). TABELA 2 - Número de glândulas sudoríparas, sebáceas e pêlos em búfalos por cm2 RAÇA GLÂNDULAS SUDORÍPARA GLÂNDULAS SEBÁCEAS PÊLOS Jafarabadi 113,6 98,3 79,1 Murrah 123,5 84,8 91,8 Mediterrâneo 148,8 83,9 70,0 A distribuição dos pêlos é bastante esparsa de acordo com as regiões do corpo conforme mostrado na Tabela 3 (MÜLLER, 1987) seguinte. O número de pêlos por unidade de área da pele decresce com a idade, tornando a maior parte do búfalo quase glabro na idade adulta, o que não sucede ao bovino, nem ao zebuíno. Verifica-se, portanto, que a maior concentração pilosa, pela ordem, está na canela, lombo, cauda e face, enquanto a maior concentração de glândulas sudoríparas está na cauda, abdômen e espádua. As partes do animal com maior exposição à radiação ficam sem a proteção Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 156 dos pêlos. Assim, sob reduzida densidade de pêlos, torna-se praticamente impossível acumular e reter o ar entre os pêlos, como acontece no bovino e zebuíno, dificultando nestas espécies a perda de calor por radiação, porque o ar possui baixa condutibilidade térmica. A baixa densidade sem camada isolante de ar beneficia a termorregulação do búfalo. FIGURA 8 – Búfalos imersos em tanque construído para este fim no Instituto de Zootecnia da UFRRJ. O hábito natural do búfalo é ficar na sombra e na água, de modo que a cor negra da pele parece ser uma adaptação mais para se proteger dos inimigos naturais do que contra a radiação ultravioleta. Na ausência de pelame protetor e reflexivo, a pele escura é uma séria desvantagem contra a insolação direta por causa da absorção da radiação infravermelha. Na sombra, entretanto, o búfalo preto funcionará como um típico corpo negro radiador de calor. As diferenças histológicas de glândulas sebáceas e sudoríparas em búfalos e bovinos estão exibidas na Figura 9. Búfalo Bovino Exterior e raças de bovinos e bubalinos 157 sb.d. – ducto da glândula sebácea sw.m.l. – forma merócrina da glândula sudorípara c. – capilares sw.s. – secreção da glândula sudorípara sb. – glândulas sebáceas sw.ap. – forma apócrina da glândula sudorípara h.f. – folículo do pêlo sw.m. – músculo da glândula sudorípara sw.d. – ducto da glândula sudorípara sw.e. – epitélio da glândula sudorípara ar. – artéria FIGURA 9 – Diferenças histológicas de glândulas sebáceas e sudoríparas em búfalos e bovinos. As glândulas sebáceas desenvolvidas produzem uma secreção de gordura importante para lubrificação da pele e uma vida natural semiaquática. Glândulas sebáceas desenvolvidas estão associadas à maior lubrificação que evita trincamentos Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 158 ou rachaduras da pele. A escassez de glândulas sudoríparas é resultado de uma vida semi-aquática do búfalo. O significado para esse animal doméstico é a menor capacidade de sudação. Entretanto, o maior papel de resfriamento deve ser imputado à condução direta da água pela imersão, à evaporação da água da superfície corporal após a emergência ou após a aspersão,e à evaporação pulmonar. Tabela 3 - Número de folículos pilosos, número e volume das glândulas sudoríparas em búfalos. REGIÃO DO CORPO N° de folículos pilosos/mm2 N° de glândulas sudoríparas/mm2 Volume das glândulas sudoríparas/mm3 Face 1,72 0,45 1,23 Pescoço 0,40 0,70 1,20 Espádua 1,40 1,60 1,65 Garrote 0,00 0.00 0,00 Canela 4,00 0,00 0,00 Lombo 2,50 1,70 1,66 Abdômen 1,00 2,00 1,48 Cauda 2,20 3,30 1,78 MÉDIA 1,48 1,24 1,48 TAMANHO E FORMA DO CORPO Para falar de forma e tamanho, o búfalo não é muito diferente dos bovinos, entendendo que neste grupamento há muita variedade de raças e portes. Mesmo assim, é possível destacar algumas particularidade. Em geral o búfalo tem maior porte, é mais pesado devido a sua maior espessura ou largura. Melhor ainda, o búfalo tem maior perímetro torácico. Para se ter uma idéia, os bretes construídos para bovinos não podem ser utilizados para bubalinos, uma vez que animais adultos não passam em equipamentos com 80 cm de largura a um metro do piso. Outra particularidade é a convexidade do dorso (Figura 10). Além disso, o sacro é proeminente, a garupa mais inclinada e os membros são mais grossos na sua proporção. Por não terem o grau de especialização das nas raças bovinas a tipologia é mista, com tendência para carne ou leite, conforme a pressão de seleção sofrida pelo rebanho. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 159 FIGURA 10 – Dorso em convexidade é uma característica própria dos bubalinos. ASSOCIAÇÃO ENTRE PELE E PRODUÇÃO DE LEITE Trabalho realizado no Azerbaijão com 18 búfalas indicou que a produção de leite tem uma correlação negativa com a espessura da pele e positiva com o tamanho e número de glândulas sudoríparas e sebáceas (Tabela 4). O comprimento e o diâmetro das glândulas sudoríparas e sebáceas estão dentro das faixas descritas por Villares (1979), mas a espessura da pele e a densidade pilosa são consideravelmentemaiores. Verifica-se ainda que búfalas com menor espessura da pele, maior percentagem de epiderme, maior quantidade, comprimento, diâmetro e profundidade de glândulas sudoríparas, bem como maior comprimento e diâmetro das glândulas sebáceas (COCKRILL, 1974). BARBELA OU PAPADA E PEITO Búfalos não têm barbela ou papada (Figura 11), mas o peito é bem pronunciado, sendo um ponto de acúmulo de gordura. O refego também não ocorre, mas há uma extensão do peito na forma de dobra de pele até o cilhadouro, mais evidente na raça Jafarabadi. O prepúcio é pequeno e iniciado no umbigo anatômico e pode se estender até os testículos nas raças de rio. Nas raças pântano, o prepúcio é agarrado ou colado ao ventre e as dobras de pele, praticamente não aparecem. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 160 FIGURA 11 – Ausência de barbela ou papada em bubalinos. TABELA 4 - Relação entre características da pele e produção de leite. CARACTERÍSTICAS Baixo rendimento Médio rendimento Alto rendimento Produção de leite (kg) < 700 701 - 1500 1500 - 2500 Espessura da pele (mm) 7,6 7,1 6,9 Espessura da epiderme (µ) 56 58 61 % da epiderme relativo à pele 0,73 0,82 0,89 Camada papilar em % da pele 25,1 29,8 31,2 Glândulas sudoríparas/mm2 1,83 3,11 4,32 Comprimento das gl. sudoríparas (mm) 0,48 0,61 0,72 Diâmetro das gl. sudoríparas (mm) 0,18 0,21 0,26 Profundidade das gl. sudoríparas (mm) 0,81 2,06 2,23 Comprimento das gl. sebáceas (mm) 0,35 0,51 0,69 Diâmetro das gl. sebáceas (mm) 0,14 0,20 0,30 Profundidade das gl. sebáceas (mm) 0,64 1,02 0,31 Exterior e raças de bovinos e bubalinos 161 CHIFRES E CASCOS Os chifres são grandes e negros, com seção ovalada ou triangular, mas há certa predominância dos chifres com seção triangular, especialmente na raça Mediterrânea (Figura 12). Os cascos têm maior diâmetro, são escuros e as unhas têm maior dureza, portanto maior resistência à ambientes úmidos. Somados a essas qualidades, os búfalos têm maior força e flexibilidade. Segundo Villares (1990), a articulação do boleto tem estrutura óssea, muscular e de ligamentos análoga aos bovinos, mais há a qualidade de ser mais flexível, isto é, a flexibilidade tem tal magnitude no búfalo que permite fazer o deslocamento de 1800, o que seria praticamente impossível nas demais espécies domésticas de grandes ruminantes. Atribui-se essa qualidade da articulação metacarpo-falangeana, a liberdade de locomoção sobre terrenos pantanosos, banhados e terras baixas e alagadiças, sem que fiquem retidos ou aprisionados pelo barro, em pastejo ou em trabalho. Esses atributos favorecem a busca de alimentos em pântanos e brejos e esses animais não têm receio em ficarem atolados, além da habilidade em capturar vegetais subaquáticos. FIGURA 12 - Chifres com seção trinangular em búfalo Mediterrâneo. ÓRGÃOS GENITAIS E ÚBERE Como já ficou explicado anteriormente, os órgãos genitais externos são semelhantes aos bovinos, mas têm menor tamanho se comparados com estes. Os testículos são menores e mais próximos da parede abdominal, uma forma de proteção em ambientes aquáticos. São negros, lisos e brilhantes. A vulva é mais aberta e mais flácida na búfala, o úbere menor e com menos harmonia entre os quatro quartos. DENTIÇÃO E DETERMINAÇÃO DA IDADE Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 162 A fórmula dentária é a mesma dos bovinos, inclusive o formato, repetida na dentição caduca e na definitiva. Os dentes são maiores do que bovinos e os períodos de troca são diferentes, uma vez que os bubalinos são animais tardios em relação aos bovinos. As fórmulas dentárias e as trocas estão descritas a seguir: Fórmula da dentição caduca = 2 x (0/4 I + 0/0 C + 3/3 PM + 0/0 M) = 20 dentes O aparecimento da dentição de leite de búfalos e bovinos se dá da seguinte forma: DENTES BÚBALINOS BOVINOS Aparecimento das pinças 7 dias Aparecimento dos 1os médios 14 - 75 dias 8 dias Aparecimento dos 2os médios 14 - 105 dias 20 dias Aparecimento dos cantos 30 -135 dias 30 dias Início da redução 18 - 22 meses 5 -6 meses A fórmula da dentição definitiva é a mesma de bovinos, havendo diferença no período de troca, uma vez que os bubalinos são mais tardios, enquanto bovinos mais precoces. O aparecimento e troca dos dentes molares e pré-molares em bubalinos ocorrem também mais tardiamente. Dentição definitiva= 2 x (0/4 I + 0/0 C + 3/3 PM + 3/3 M) = 32 dentes TROCA PELOS DENTES DEFINITIVOS BÚFALOS BOVINOS Troca das pinças 30 a 36 meses 18 a 24 meses Troca dos primeiros médios 42 a 48 meses 24 a 36 meses Troca dos segundos médios 48 a 60 meses 36 a 48 meses Troca dos cantos 60 a 72 meses 48 a 60 meses DENTES TEMPORÁRIOS (dias) PERMANENTES (meses) Pré-molares 1 4 - 7 34 2 5 - 8 47 3 4 - 7 48 Molares 4 15 5 17 6 32 RAÇAS Exterior e raças de bovinos e bubalinos 163 A principal diferença entre as raças de búfalos está na cabeça (Figuras 13 e 14), isto é, no tamanho, forma e direção dos chifres. Na raça Murrah, os chifres são pequenos e encurvados em forma de espiral, na Mediterrânea, os chifres são de tamanho intermediário e crescem horizontalmente para os lados, encurvando-se num semicírculo, mantendo-se no mesmo plano da testa, às vezes acima desta. Na raça Jafarabadi, os chifres são longos e se dirigem para baixo, encurvando-se para cima, abaixo das orelhas, podendo se dirigir exclusivamente para baixo sem curva. Além disso, esta raça possui pele enrugada, solta e pendulosa, com barbela bem desenvolvida. FIGURA 13 – Características da cabeça das raças bubalinas com registro na ABCB. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 164 PADRÃO E APTIDÕES DAS RAÇAS BUBALINAS CRIADAS NO BRASIL ESTABELECIDOS PELA ABCB MURRAH JAFARABADI MEDITERRÂNEO CARABAO FIGURA 14 – As quatro raças com registro oficial na Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ANDRADE e GARCIA, 2005). MURRAH É originária do Noroeste da Índia, difundindo-se no Norte do país e no Paquistão, considerada a melhor produtora de leite dentre as raças bubalinas. Sua conformação e tipo indicam aptidão mista com prevalência leiteira. O temperamento é dócil. O porte médio a grande, considerada a de menor porte entre as quatro raças do Brasil. A pelagem e pele pretas, assim como os chifres, cascos, espelho nasal e mucosas aparentes. A vassoura da cauda é branca ou preta ou mesclada. Manchas médias ou grandes de despigmentação do corpo não são toleradas. Pele fina, macia e com raros pêlos. A cabeça tem comprimento médio, perfil retilíneo ou levemente sub- convexo e chanfro de retilíneo a subcôncavo. Os chifres pequenos (Figura 15), relativamente finos, de seção ovulada ou triangular, saindo para trás, para fora, para Exterior e raças de bovinos e bubalinos 165 baixo e para cima, com a ponta retorcida para dentro e enrolada, descrevendo curvaturas em torno de si mesmo, em forma de espiral. Olhos levemente proeminentes nas fêmeas e com menor projeção nos machos, vivos, límpidos e pretos. Orelhas de tamanho relativamente pequeno, de direção quase horizontal e um pouco pendulares. Corpo é curto, reto e profundo, simétrico e equilibrado, com conformação média e compacta. Pescoço tem comprimento médio, forte no macho e descarnado na fêmea. Dorso largo e um pouco selado. Lombo largo e direito. Costelas são bem arqueadas, ancas salientes, bem separadas e um pouco caídas. A garupa é larga, um pouco inclinada no macho e mais na fêmea e Inserção da cauda relativamente alta. Coxas enádegas são chatas, mas carnudas. Aparência normal quanto ao tamanho da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. O úbere é volumoso, avançando para diante e para trás, as tetas são longas, bem separadas, sendo as anteriores mais curtas. As veias de leite são grossas e sinuosas. Os membros são curtos, grossos, corretamente aprumados e com unhas pretas. É característica desclassificante os olhos gázeos (esverdeados). FIGURA 15 – Búfalas da raça Murrah. JAFARABADI É originária da Índia, Estado de Gujarat, aptidão mista (leite e carne), temperamento dócil, com porte médio a grande, pelagem e pele pretas em todo o corpo, incluindo chifres, cascos, espelho nasal e mucosas aparentes. A cabeça tem perfil craniano ultraconvexo e chanfro de retilíneo a sub-convexo; chifres longos, fortes e grossos, de seção ovalada ou triangular, dirigidos para trás e para baixo, com curvatura final para cima e para dentro, em harmonia com o perfil craniano; olhos profundos, elípticos, límpidos e pretos, orelhas de tamanho médio, com direção horizontal, dirigidas por cima dos chifres (Figura 16). O corpo é simétrico e equilibrado, com conformação própria do tipo morfofisiológico misto, de aparência normal quanto ao tamanho e forma da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. Os membros têm aprumos normais, com cascos fortes e bem conformados. É característica Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 166 desclassificante os olhos gázeos (esverdeados). A variedade Gir ou Gir-Buff, de porte menor, possui cabeça, ossatura e membros mais leves, chifres mais longos e mais finos, dirigidos para baixo das orelhas. A variedade Palitana, de porte maior e mais pesada, porém, com chifres menores, mais grossos, apresenta crescimento mais rápido e bolsa gordurosa sobre os olhos fazendo com que eles pareçam mais fechados (Zava, 1987). São econômicos a aparência reveladora de saúde e vigor, constituição robusta, com masculinidade e feminilidade segundo o sexo, tamanho indicativo do crescimento por idade, sendo de porte médio a grande e de corpo simétrico e equilibrado, a conformação própria do tipo morfofisiológico misto, além de incluir exigências de aprumos normais, com cascos fortes e bem conformados, a aparência normal quanto ao tamanho e forma da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. FIGURA 16 – Perfil e chifres próprios na raça Jafarabadi, variedade Palitana a direita. MEDITERRÂNEA Raça originária da Itália, apresenta características das raças Murrah e Jafarabadi. No Brasil é conhecida também como búfalo “preto” ou “italiano”. Embora tenha sido selecionada para a produção de leite, tem aptidão mista devido ao seu porte. O temperamento é dócil. O porte é de médio a grande. A pelagem e pele totalmente pretas, estendendo-se também aos chifres, cascos, espelho nasal e mucosas aparentes. Manchas despigmentadas pelo corpo não são toleradas. Os pêlos são mais abundantes nos animais novos. A cabeça tem tamanho médio, perfil convexo e chanfro retilíneo a sub-côncavo. Os chifres são pretos, longos, fortes e grossos, de seção ovalada ou triangular (Figura 17) dirigidos para trás, para fora e para o alto terminando em forma semicircular ou de lira. Os olhos são arredondados, levemente projetados, vivos, límpidos e pretos. As orelhas são de tamanho médio e em posição horizontal. O corpo é simétrico e equilibrado, compacto, musculoso, profundo e de comprimento médio. As linhagens mais leiteiras mostram corpo mais longo e menos Exterior e raças de bovinos e bubalinos 167 musculoso. Pescoço fino, quase sem barbela. A aparência é normal quanto ao tamanho da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. O úbere é bem desenvolvido e amplo. Os membros são fortes, de comprimento médio e corretamente aprumados. FIGURA 17 – Exemplares da raça Mediterrânea. São econômicos a aparência reveladora de saúde e vigor, constituição robusta, com masculinidade e feminilidade segundo o sexo, o tamanho: indicativo do crescimento por idade, sendo de porte médio a grande e de corpo simétrico e equilibrado, a conformação própria do tipo morfofisiológico misto, com prevalência leiteira, além de incluir exigências de aprumos normais, com cascos fortes e bem conformados, a aparência normal quanto ao tamanho da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. CARABAO O búfalo Carabao ou "Rosilho" é originário da Indochina, no Sudoeste da Ásia, onde é chamado o “trator do Oriente". É a raça mais adaptada às regiões alagadas e pantanosas e, por isto, apresenta pelagem mais clara. Devido à rusticidade, bom desenvolvimento de massa muscular e membros fortes, a raça Carabao é usada para corte e para trabalho, tanto de tração agrícola quanto de transporte de carga e de sela. O temperamento é dócil, o porte é de médio a grande, a pelagem e pele têm a cor cinza escura ou rosilha, sendo portadores de manchas de tonalidade clara ou branca nas patas, no pescoço logo abaixo da mandíbula e próximas ao peito em forma de listras circulares e paralelas, além de tufos claros nas arcadas orbitárias superiores, nas comissuras labiais e no ventre. A cabeça é leve, com perfil craniano e chanfro retilíneos. Os chifres são longos, grandes e fortes, de seção triangular, emergindo lateralmente da cabeça e dirigindo-se em posição horizontal para fora e depois para trás e para cima (Figura 18). Os olhos são arredondados, grandes, projetados, vivos, límpidos e pretos. As orelhas têm tamanho médio, são horizontais e, em geral, cobertas de pelos longos e Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 168 claros. O corpo é musculoso e um tanto cilíndrico, sem depressões, simétrico e equilibrado. A conformação e o tipo são para corte. Os aprumos são normais, com cascos fortes e bem conformados. A aparência é normal quanto ao tamanho e forma da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. Os membros são vigorosos, relativamente leves e corretamente aprumados. São econômicos a aparência reveladora de saúde e vigor, a constituição robusta, com masculinidade e feminilidade segundo o sexo, o tamanho indicativo do crescimento por idade, sendo de porte médio para grande e de corpo simétrico e equilibrado, conformação própria do tipo morfofisiológica, de corte, além de incluir exigências de aprumos normais, com cascos fortes e bem conformados, aparência normal quanto ao tamanho e forma da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. FIGURA 18 – Búfalos Carabao de pelagem cinza a esquerda, rosilho albinóide a direita e abaixo, chifres com saída para fora, para trás e para cima. BÚFALO TIPO BAIO Exterior e raças de bovinos e bubalinos 169 Os animais do Tipo Baio (Figura 19) têm algumas semelhanças com o búfalo nativo da região nordeste da Índia descrito como Bubalus bubalis, variedade fulvus sem haver, no entanto, nenhuma comprovação científica disso. A coloração baia ou pardacenta ou café com leite, é que define à denominação “Tipo Baio” pela qual é conhecido. Quanto a sua entrada no Brasil, alguns autores creditam sua origem a um rebanho importado pela antiga Usina Leão, em Alagoas. No momento, estão agrupados como subespécie Bubalus bubalis fulvus, mas a grande semelhança com animais da raça Murrah faz supor que podem pertencer ao mesmo grupo genético, ou seja, Bubalus bubalis bubalis. Esses animais na Índia são considerados uma variedade da raça Murrah com a qual têmmuita semelhança fenotípica (formato do corpo, chifre, perfil da cabeça), diferindo apenas na coloração da pelagem. FIGURA 19 – Exemplares de búfalos do tipo baio. Em trabalho conduzido por Albuquerque et al. (2006) a fim de estimar a variabilidade genética por marcadores moleculares entre e dentro dos cinco grupos de bubalinos criados no Brasil observaram que são geneticamente distintos e concluem pela necessidade de conservação, especialmente, dos grupos Carabao e Baio por correrem risco de extinção e que a maior divergência foi observada entre os grupos Jafarabadi, tipo Baio e Carabao (Tabela 5). Entre as raças com registro oficial na ABCB são indicadas as características econômicas resumidamente de cada uma: conformação própria do tipo morfofisiológico de corte na raça Carabao, tipo morfofisiológico misto na raça Jafarabadi, tipo misto com tendência leiteira na raça Mediterrânea e tipo misto com prevalência leiteira na raça Murrah. TABELA 5 – Porcentagem da variabilidade genética entre os pares de grupos genéticos, estimada pela análise de variância molecular. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 170 GRUPOS GENÉTICOS Baio Carabao Mediterrânea Murrah Carabao 26,55 Mediterrânea 30,95 40,19 Murrah 20,42 26,01 24,60 Jafarabadi 19,80 27,36 29,95 18,43 BÚFALO BRASILEIRO A formação do búfalo brasileiro foi proposta pelo zootecnista João Carlos Aguiar de Mattos a fim de incentivar o interesse dos bubalinocultores em promover o cruzamento entre as raças criadas no Brasil, de forma a evitar os males dos cruzamentos consanguineos e obter maior produtividade nos rebanhos comerciais, através do "choque de sangue", e da própria "somatória" das virtudes pertinentes às raças envolvidas no cruzamento. As exigências propostas para o registro oficial dos indivíduos seriam a descorna (Figura 20) e o desempenho produtivo em carne ou leite superiores a índices mínimos estabelecidos. Este grupamento ainda não se efetivou como população e ainda está na forma. A proposta de padrão racial é a seguinte: cabeça com perfil craniano convexo, chanfro de retilíneo a sub-côncavo e chifres ausentes por descorna, sem batoque ou escaras córneas. Olhos arredondados, levemente projetados, vivos, límpidos e pretos, orelhas de tamanho médio em posição horizontal, pelagem com forte correlação entre a cor dos pêlos e da pele em todo o corpo, sendo pretos os pêlos e a pele. A cor preta estende-se também aos cascos, ao espelho nasal e às mucosas aparentes. A aparência deve ser reveladora de saúde e vigor, constituição robusta, com masculinidade e feminilidade segundo o sexo. O tamanho deve ser indicativo do crescimento por idade, sendo de porte médio a grande e de corpo simétrico e equilibrado. Conformação própria do tipo morfofisiológica misto, com tendência leiteira, além de incluir exigências de aprumos normais, com cascos fortes e bem conformados. Aparência normal quanto ao tamanho da bolsa escrotal e vulva, além do número de testículos e tetas, não se computando as tetas extranumerárias. O temperamento deve ser dócil, superior em controle ponderal para fêmeas e elite para machos, quando tratar-se de animais selecionados para produção de carne. Superior o elite em controle leiteiro para fêmeas e filhos de fêmeas de elite para machos, quando tratar-se de animais selecionados para a produção de leite. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 171 FIGURA 20 – Exemplares de búfalos descornados designados de Brasileiros. CARACTERÍSTICAS PERMISSÍVEIS PARA TODAS AS RAÇAS Para efeito de registro na ABCB são permissíveis a cabeça pesada ou assimétrica, a pelagem preta com nuance castanha escura, pequena mancha branca na fronte, desde que com pele preta, pêlos brancos isolados e raros no corpo, cauda desviada com inserção anormal, vassoura da cauda branca (Figura 21) ou ausência de vassoura, pequenas manchas claras nos chifres, chifres de direção quase retilínea ou chifres flutuantes na raça Jafarabadi, chanfro de perfil levemente convexo ou sub- convexo nas raças Carabao e Mediterrânea, chanfro torto ou desviado, curto ou excessivamente comprido, acarneirado, ganacha em bico, cegueira unilateral, espáduas de inserção levemente imperfeitas, claudicação leve, manqueira leve (de aparência permanente ou temporária), joelhos dilatados, maus aprumos posteriores nas fêmeas, quartelas fracas e evidência de artrites ou câimbras, temperamento nervoso, sem ser bravio, ancas desniveladas, estreitas ou caídas, garupa curta, caída e cortante, sacro saliente, costelas planas sem arqueamento, nádegas sem musculatura definida no macho, nádegas sem desenvolvimento na fêmea, corpo em geral de grande estatura. Espádua magra e sem musculatura nos machos, espádua grossa e muito carnuda com depósito de gordura nas fêmeas, espádua saltada ou proeminente, peito magro sem desenvolvimento muscular nos machos, peito grosso e cheio, inclinado para frente e para baixo nas fêmeas, garrote sem musculatura nos machos, garrote com evidência protuberante das vértebras torácicas e depósito de gordura nas fêmeas, braço delgado sem musculatura no macho ou musculoso na fêmea, canelas dos anteriores compridas e grossas, bolsa escrotal pequena ou bipartida. Leite anormal, com sangue, grumos, pus ou aguado, um ou mais quartos pequenos, tetas obstruídas, zonas duras e com fendas, fraca ligação do úbere e má implantação do úbere. Deformidade ou ferimentos de caráter temporal que não afetam a utilização do animal. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 172 FIGURA 21 – Vassoura da cauda branca, característica tolerável em bubalinos para fins de registro na ABCB. CARACTERÍSTICAS DESCLASSIFICATÓRIAS PARA TODAS AS RAÇAS São características desclassificantes a debilidade constitucional ou orgânica, pelagem branca ou clara ou grandes manchas brancas, ausência de chifres, chifres brancos, chifres fora do padrão, prognatismo, inhatismo, lábio leporino, pele despigmentada, focinho despigmentado, cegueira bilateral, olhos gázeos ou despigmentados, olhos proeminentes, olhos oblíquos ou quase fechados, órgãos de reprodução anormais, criptorquídeos, monorquídeos, hipoplasia testicular, hérnia, sérios defeitos de aprumos, claudicação grave, manqueira com interferência nas funções do animal, maus aprumos posteriores nos machos, unhas ou cascos brancos ou rajados, tórax acoletado, feminilidade de macho, pescoço anovilhado, virilidade de fêmea, pescoço grosso e musculoso, vulva atrofiada e despigmentada, clitóris super desenvolvido, úbere com um ou mais quartos perdidos, temperamento bravio e outras malformações hereditárias ou adquiridas e sinais de cirurgia. Podem ser desclassificados os indivíduos que não atenderem as características econômicas. ESCORE CORPORAL EM BÚFALAS Para a condição de escore corporal em búfalas, os princípios são os mesmos utilizados em bovinos no que ser refere aos objetivos, às fases por que passam os animais, aos locais de observação visual e de palpação e à escala de pontuação.
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