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UFRJ – Escola de Comunicação Língua Portuguesa I – LEV 110 – Turmas EC0 e EC3 Professora: Vivian Paixão 2016/1 PARÁGRAFO: ESTRUTURA INTERNA Há várias maneiras de se organizar um parágrafo (unidade de pensamento), contudo o parágrafo padronizado apresenta as seguintes partes principais: tópico frasal, desenvolvimento e conclusão (opcional). TÓPICO FRASAL Todo parágrafo deve girar em torno de uma vida principal: tópico frasal (TF). Essa ideia sintetiza o conteúdo do parágrafo, na medida em que expressa, de maneira sucinta, a informação mais relevante do mesmo. Ele pode aparecer, quando explícito, em qualquer posição: início, meio e fim. Aquela é a posição mais recorrente nos textos de um modo geral. Nada impede, contudo, que esta posição eventualmente seja privilegiada, conforme exemplo abaixo. Vai o gado na estrada mansamente, na segura e limpa, chã e larga, batida e tranquila, ao tom monótono dos “eias” dos vaqueiros. Caem as patas no chão em bulha compassada. Na vaga doçura dos olhos dilatados, transluz a inconsciente resignação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendente a margem dos perigalhos, as aspas no ar em silva rasteira por sobre o dorso da manda. Dir-se-ia a paciência em marcha, abstrata de si mesma, ao tintinar dos chocalhos, em pachorrenta andadura, espertada automaticamente pela vara dos boiadeiros. Eis senão quando, não se atina por quê, a um acidente mínimo, um bicho inofensivo que passa a fugir, um grito de um pássaro na capoeira, o estado de um rama no arvoredo, se sobressalta uma das reses, abala, desfecha a correr, e após ela se arremessa, em doida arrancada, atropeladamente, o gado todo. Nada mais o reprime. Nem brados, nem aguilhadas, o detêm. Nem tropeços, voltas ou barrancos por d’avante. E lá vai incessantemente, o pânico em desfilada, como se os demônios o tangessem, léguas, até que, exausto o alento, esmorece e cessa, afinal, a carreira, como começou, pela ocasião, pela cessação do seu impulso. Eis o estouro da boiada. (Rui Barbosa. Excursão, 134.) Esse método de organização das ideias evidencia uma preocupação do autor em manter um clima de suspense que somente é quebrado no final do parágrafo com o lançamento da ideia-núcleo. De qualquer forma, independente da posição que ocupe, o tópico deve apresentar três qualidades fundamentais, a saber: clareza, especificidade e detalhamento. Clareza – ao se estabelecer um tópico, deve-se atentar para a sua clareza, isto é, o TF tem de ser inteligível, claro, e não ambíguo. Nesse caso, a precisão lexical é extremamente relevante, pois garantirá a coerência do tópico. Ex. A prática de redação, para a formação profissional, é muito legal. Não é apenas por causa da necessidade de redigir cartas, ofícios e, eventualmente, artigos que um agrônomo, por exemplo, precisa saber escrever. A prática da redação é fundamental porque é um excelente treinamento para a organização do raciocínio e para o desenvolvimento da capacidade de se expressar. O tópico frasal do parágrafo acima – A prática de redação, para a formação profissional, é muito legal – está comprometido, quanto à clareza, por causa da falta de precisão lexical. Isso significa dizer que o item “legal” compromete a inteligibilidade da ideia-tópico, já que o mesmo está, indevidamente, substituindo o termo “importante”. Especificidade – um tópico frasal deve ser articulado de tal forma que seja possível desenvolvê-lo num único parágrafo. Além disso, quem escreve deve atentar para que o parágrafo gire em torno de, apenas, uma ideia-núcleo, e não de várias; o que tornaria o tópico não específico e o parágrafo inchado. Ex. “Um grupo de ambientalista publicou um livro no qual vem apresentadas todas as atrocidades que os animais sofrem antes de virarem os deliciosos bifes que os indivíduos, de um modo geral, saboreiam em seus pratos. O couro, por exemplo, é a pele de bichos abatidos. O fio da seda é separado do bicho-da-seda depois de fervê-lo. Os corantes coxonila e carmim são feitos de besouros moídos. Na França, os naturalistas denunciam que existe um patê muito sofisticado, chamado foie gras, que é feito com o fígado inflamado das aves: Os produtores colocam um funil na boca dessas aves e as entopem de comida por meses, fazendo com que o fígado trabalhe dobrado, provocando neles, uma inflamação. Para se ter um melhor resultado, essas aves ficam num espaço, no qual não é possível dar um passo que seja, a fim de que não tenham algum benefício com relação à digestão. Os porcos também são violentados: levam um 2 choque elétrico na cabeça e depois são jogados num tanque de água fervente, após o sangramento, para facilitar a retirada da pele. As galinhas vivem espremidas numa gaiola do tamanho delas, onde as luzes ficam acesas 18 horas por dia, para que elas não durmam e comam mais. Quanto aos bois, os naturalistas alegam que esses levam um disparo de pistola de ar comprimido e ficam desacordados. Então, ele é erguido por uma argola na pata traseira e outro funcionário corta sua garganta, a fim de que o animal seja sangrado vivo, e assim o sangue seja bombeado para fora do corpo, evitando a proliferação de microorganismo”. Detalhamento – uma vez estabelecido o tópico frasal, cumpre detalhá-lo por meio do tipo de desenvolvimento mais adequado à ideia-núcleo. Assim, o autor garante a integridade significativa do parágrafo como um todo, uma vez que o tópico apresenta de forma condensada a ideia principal. Ainda no que se refere ao tópico, cumpre ressaltar que ele, no parágrafo, pode apresentar-se de forma explícita ou implícita. Quando implícito, a ideia-tópico tem de ser depreendida por meio da leitura atenta de todo o parágrafo, já que se encontra diluída ao longo do mesmo. Ex. “O grande São Paulo – isto é, a capital paulista e as cidades que as circundam – já anda em torno da décima parte da população brasileira. Apesar da alta arrecadação do município e das obras custosas, que se multiplicam a olhos vistos, apenas um terço da cidade tem esgotos. Metade da capital paulista serve-se de água proveniente de poços domiciliares. A rede de hospitais é notoriamente deficiente para a população, ameaçada por uma taxa de poluição que técnicos internacionais consideram superior à de Chicago. O trânsito é um tormento, pois o acréscimo de novos veículos supera a capacidade de dar solução de urbanismo ao problema. Em média, o paulista perde três horas do seu ia para ir e voltar, entre a casa e o trabalho. (De um editorial do Jornal do Brasil.) Por outro lado, quando explícito será mais fácil reconhecimento, já que assumirá a estrutura de uma frase. Nesse caso, o tópico expressar-se-á conforme diferentes tipos, quais sejam: declaração inicial, definição, divisão, alusão histórica, omissão de dados identificadores e interrogação, conforme o quadro a seguir. Tipos de Tópico Frasal Conceituação 1. Declaração inicial Apresenta-se a ideia tópico a partir de processo pelo qual afirma-se ou nega-se a ideia a ser fundamentada no desenvolvimento do parágrafo. Ex. “Vivemos numa época de ímpetos. A vontade, divinizada, afirma sua preponderância, para desencadear ou encadear, o delito fascista ou o torpor marxista são expressões pouco diferentes do mesmo império da vontade(...)”. 2. Definição Apresenta-se a ideia tópico a partir da explicitação do conceito a ser desenvolvido no parágrafo. Ex. “Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos. Resulta de um conjunto de dotes externos ou internos...” 3. Divisão Apresentam-se as partes que a ideia-tópico será desenvolvida no decorrer do parágrafo. Ex. “Há três espécies de pessoas com quem se convive em ambiente de trabalho: aquelas com quem nos relacionaríamos mesmo que não estivéssemos aprisionados entre quatro paredes de nosso oficio; aquelas com quem sónos relacionamos por força da tarefa e aquelas que só participam da nossa vida circunstancial, transitoriamente”. 4. Alusão Histórica Apresenta-se ideia-tópico a partir da menção feita ao fato histórico, à lenda, à crendice ou ao acontecimento que o autor tenha ou não tenha testemunhado a sua veracidade. Ex. “O século XX será lembrado ainda por uma mudança espiritual de grande impacto em todos os aspectos da vida humana. Pensadores, cientistas, escritores e pintores, pela primeira vez na história da humanidade, fizeram evaporar, de um momento para o outro, certezas que levaram eras inteiras para se solidificar. Foi no século XX que se tomaram relativas coisas concretas com matéria e energia, tempo e distância, da mesma forma que sofreram uma relativização de conceitos abstratos como certo e errado, justo e injusto...” 5. Omissão de dados identificadores Apresenta-se ideia-tópico omitindo-se informações importantes para a percepção do objetivo do autor. Ex. “Vai chegar dentro de poucos dias. Grande e boticelesca figura, mas passará despercebida. Não terá fotógrafos à espera no Galeão. Ninguém, por mais afoito que seja, saberá presta-lhe essa homenagem epitelial e difusa, que tanto assustou Ava Gardner. Estará um pouco por toda parte, e não estará em lugar nenhum. Tem uma varinha mágica, mas as coisas por aqui não se deixam comover facilmente, ou, na sua 3 rebeldia, se comovem por conta própria, em horas indevidas, de sorte que não devemos esperar pelas consequências diretas do seu sortilégio”. 6. Interrogação Apresenta-se ideia-tópico a partir da constituição de uma indagação que há de ser respondida no desenvolvimento do parágrafo. Ex. “Sabe você o que é manhosando? Bem, eu lhe explico, que você é homem de asfalto, e esse estranho verbo só se conjuga pelo sertão nordestino...”. EXERCÍCIOS I. Leia com atenção os parágrafos a seguir apresentados, destaque os tópicos frasais e classifique-os. 1. O plano nacional de desenvolvimento previsto para os próximos quatro anos, batizado de Avança Brasil pelos marqueteiros oficiais e registrado no cartório da burocracia federal pelo nome de Plano Plurianual (PPA), consumiu um ano de pesquisas e estudos técnicos de consultorias privadas. Durante a elaboração, o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão pagou 14 milhões de reais a um consórcio liberado pela Booz-Allen & Hamilton, pela Construtora Bechetel e pelo banco ABN Amro. Estava tudo indo muito bem até o PPA iniciar sua caminhada pelo Congresso. Em apenas quatro meses, o Avança Brasil recebeu 2.879 emendas e ficou desfigurado. Os parlamentares arrancaram um naco de 316 bilhões de reais oriundos de projetos nacionais de grande envergadura para empregar na pracinha do bairro ou na estrada dos compadres lá na roça. “É legítimo que o Congresso faça algumas modificações, mas o governo considera fundamental que o PPA seja preservado”, disse o ministro Martus Tavares, do Planejamento, Orçamento e Gestão. (Expedito Filho. As pedras no sapato do Brasil. Veja 22.12.1999. p. 32/33.) 2. O Brasil tem a segunda maior frota de jatinhos do mundo, é o terceiro maior consumidor de refrigerantes e o quarto maior mercado mundial de cerveja. Senhores da nona maior economia do mundo, os brasileiros tomaram um choque de realidade na semana passada. O Fundo das Nações Unidas, Unicef, divulgou na segunda-feira um relatório amplo sobre a maneira como 191 países tratam suas crianças. O documento mostra que 42 em cada 1000 crianças nascidas no país morrem antes de completar 5 anos – índices comparados aos do Vietnã e da Argélia, países muito mais pobres que o Brasil. Apenas 76% da população têm acesso à água tratada, um percentual inferior aos de Botsuana e Zimbábue, na África. Nessas condições, os avanços importantes acontecidos nos últimos anos parecem insignificantes. (Franco Iacomini. Os pecados do Brasil. Veja. 22.12.1999, p.36.) 3. “Existe uma “nova economia” mundial, principalmente nos Estados Unidos, nascida da “terceira revolução industrial” ou tudo não passa de uma miragem? Paul Krugmam, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT, tem insistido que a “nova economia se parece demais com a velha economia”, para ser realmente novidade. Tem gente mais radical que ele, como o economista Bradford De Long de Berkeley, que nega até mesmo a existência de uma revolução tecnológica. Ele dizia, no final de 1997, que ganhos crescentes de produtividade existem desde 1970, quando começou a era da Revolução Industrial.” (Sérgio Abranches. Uma nova economia? Veja. 22.12.1999.p.44) 4. “Duas lanchas cruzam em velocidade vertiginosa o Rio Tamisa, em Londres. Numa delas vai uma morena embalada numa roupa justíssima, quase tão letal quanto a sua metralhadora. Na outra, que mergulha sob pontes e atravessa ruas inteiras (sobre o asfalto, note-se), segue o único homem do mundo capaz de, numa situação dessa, lembrar de ajeitar o nó da gravata. Bond, Janes Bond, é claro. Certas coisas são gravadas para o mais célebre agente secreto do cinema. Com os ternos bem cortados, as mulheres fogosas, a fleuma britânica e as espetaculares sequências de abertura de seus filmes. Mas o mundo já não é o mesmo desde 1962, quando a série foi lançada e a Guerra Fria fornecia um sem-fim de tramas e vilões para as fitas de espionagem. O agente 007, portanto, também teve de mudar. A prova está em sua 19ª aventura, O Mundo Não É o Bastante (The World is Not Enough, Estados Unidos/ Inglaterra, 1999), que estreia no dia 25 em circuito nacional.” (Isabela Boscov. Garotas, Cheguei. Veja. 22.12..1999.p.91) 5. Divulgados na semana passada, os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, puseram abaixo um mito a respeito da educação no Brasil: o da existência de um profundo abismo entre o ensino pago e o gratuito. O que se viu é que a escola pública não é tão ruim quanto se acostumou apregoar. E a particular nem tão boa. Se a velha crença estivesse correta, era de esperar que os alunos das escolas pagas dessem um banho nos colegas dos colégios gratuitos. Não foi o que ocorreu. Passaram pelo Enem 315.960 estudantes. A nota média de pontos obtidos nas provas de redação e conhecimentos gerais ficou em 51. Os alunos das instituições particulares obtiveram 57 e os das 4 públicas, 45. A diferença existe, mas o fosso não é tão fundo assim – sobretudo quando se leva em conta que dos únicos cinco alunos com a pontuação máxima em conhecimentos gerais, três não pagaram pela educação média. Foi uma boa surpresa.” (Eduardo Nunomura, Alunos quase iguais. Veja. 22.12.1999. p.71) 6. “Muita coisa tem sido escrita sobre a conferência da Organização Mundial do Comércio, OMC, realizada em Seattle, nos Estados Unidos. Enquanto os pessimistas, como Giuliano Amato, ministro da Fazenda da Itália, temem que ausência de um acordo entre os membros da OMC empurre o comércio internacional para um “caos mundial”, os otimistas, como o sociólogo francês Edgar Morin, saúdam o “patriotismo terrestre” nascido em Seattle. Para Morin, a mobilização canalizada pelas ONGS em favor da regulação econômica e social do mercado e mundial dará lugar à “segunda globalização” que poderá “civilizar a Terra”, domesticando a primeira, atualmente em curso. Tanto Amato com Morin partem do princípio de que é preciso definir regras claras e impositivas para o comércio mundial. Sobre isso, há um vasto consenso. O problema surge quando se escolhem essas regras. Quando entram em jogo as condições de trabalho de cada país, como no caso da mão-de-obra infantil empregada pelos fabricantes brasileiros de calçados, denunciado em Seattle pelo presidente Clinton. Incidente que deve ser posto em paralelo com uma crise internacional que quase nos leva à breca há 150 anos.” (Luiz Felipe de Alencastro. Eusébio de Queiroz e a OMC. Veja. 22.12.1999.p. 17)7. “O que se passou foi o seguinte: no inicio do século XIX irrompeu na Inglaterra um movimento contra o tráfico atlântico de escravos. Formando uma coligação heterogênea de evangélicos, filantrópicos e proto-socialistas, os militares desse movimento – unidos pelo credo politicamente correto oitocentista- eram também apoiados pelo Lobby industrial de Manchester, que combatia os subsídios concedidos aos fazendeiros escravistas das Antilhas britânicas. (Luiz Felipe de Alencastro. Eusébio de Queiroz e a OMC. Veja. 22.12.1999. p.17) 8. “Um punhado de paisecos nos confins de mundo está travando uma dura batalha. Eles disputam a hora de receber os primeiros raios de sol do milênio. Um briga exótica que revela quanto podem ser confusos os conceitos que regem as datas e os horários do planeta. Cada país adota um critério diferente do outro, em alguns casos, recorre a pitorescas artimanhas para passar à frente dos concorrentes, como instituir um horário de verão de última hora ou mesmo deslocar por conta própria as linhas internacionais de fuso horário. A maioria desses países está plantada na linha Internacional da Data, um risco imaginário que corta ao planeta do Pólo Norte ao Pólo sul na região do meridiano 180º e que marca a passagem de um dia para o outro. Mas há ainda competidores a milhares de quilômetros de distância, em pleno Oceano Ìndico, onde o sol nasce quase seis horas depois. “É uma disputa baseada principalmente em convenções, da mesma forma que toda essa história que envolve a passagem do milênio”, diz Dennis McCarthy, um dos diretores do Oservatório Naval dos Estados Unidos, um dos centros que zelam pelas regras de contagem das horas do mundo.” (Juliana De Mari. A briga pelo sol. Veja. 22.12.1999.p.54) 9. “O planejamento pode consumir meses, mas o ataque é rápido. Definido o alvo, em geral um edifício comercial abandonado, localizado numa região central da cidade grande, o Movimento do Sem Teto faz a invasão em alguns minutos, normalmente à noite, com algo entre 100 e 200 famílias. No dia seguinte, eles informam as autoridades à disposição de deixar o prédio caso recebam um lugar para morar. O comportamento dos sem teto é praticamente igual ao dos sem terra no discurso quanto na ação. As bandeiras que usam são vermelhas, os gritos de guerra falam em trotskismo, maoísmos e marximos e o objeto de ataque é quase sempre um imóvel improdutivo. Há mais um ponto de semelhança com o MST rural: as estatísticas apontam que nos últimos tempos o número de invasões patrocinadas pelo MST urbano aumentou significativamente. No decorrer de 1999, ocorreram vinte na capital paulista, dez no Rio de Janeiro e outra dezena em Belo Horizonte e no Recife. Total, contam-se mais de 100 invasões. Para efeito de comparação, registram-se quarenta ocupações em 1998”. (Marcos Gusmão. O MST urbano. Veja. 22.12.1999. p.62) 10. “O CD pirata é a pedra no sapato da industria fonográfica. Com menos de 3.000 reais, qualquer pessoa compra um computador para regravar um disco. Fábricas clandestinas, muitas delas instaladas no Paraguai ou em Taiwan, produzem milhares de títulos, vendidos por camelôs a 5 reais. Na loja, o CD original, que pagou impostos e direitos autorais, custa acima de 20 reais. Na semana passada, a polícia paulista marcou um tento contra os falsários, ao desbaratar o maior laboratório clandestino de regravação já descoberto no país. Em um casebre no centro da capital, grossa portas de aço escondiam um aparato tecnológico de última geração capaz de reproduzir 58 CDS por vez. Com toda a parafernália, a produção poderia chegar a 5.000 CDS por dia.” (Fábio Schivartche. Piratas do barulho. Veja. 22.12.1999. p.64) 5 O DESENVOLVIMENTO DO PARÁGRAFO O desenvolvimento é formado pelas frases esclarecedoras da ideia central, discutindo-a com detalhes. A explanação detalhada de uma ideia pode ser feita de muitas maneiras, como por definição, por exemplo, por comparação e confronto, por causa e efeito, por detalhes específicos, por fatos, por classificação e por análise. Confira: Tipos de desenvolvimento Características 1. Definição Usa-se o desenvolvimento por definição, toda vez que houver a necessidade de explicar o significado dos conceitos empregado no trabalho. Ex: “Na verdade, o mártir não despreza a vida. Ao contrário, valoriza-a de tal modo que o torna digna de ser oferecida a um Deus. Martírio é oblação, oferecimento, dádiva, suicídio é subtração e recusa. O mártir é testemunha de Cristo; o suicida será testemunha de Judas”. 2. Exemplo Comprova-se e elucida-se a ideia tópico a partir da apresentação de exemplos. Ex. “O homem contemporâneo não é onívoro como o seu antepassado pré- histórico: nem todos os animais e vegetais figuram na sua cozinha. O sertanejo, por exemplo, aprecia muito os peixes de água doce, mas não dá valor aos crustáceos e às verduras. Os negros africanos não valorizam as hortaliças e pouca atenção á carne de gado. Os hindus preferem morrer de fome a provar carne de reses que abundam em seu país. Todos os povos cultivam limitações inarredáveis”. 3. Comparação ou confronto Comparara é buscar semelhanças, contrastara é estabelecer diferenças. Ex. “Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente (tópico frasal). A política é arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de o explorar a benefício de interesses pessoais”. 4. Causa e efeito Explicitam-se razões e consequências a fim de justificar, a ideia tópico. Ex. “Os foguetes – tais engenhos são movidos pela força da reação. Assim quando um moleque solta um foguete-mirim ou um busca-pé em festas juninas, a pólvora química encerrada no tubo ou no cartucho queima rapissimamente, praticamente num átimo. Da combustão de tal pólvora resultam gases que determinam pressão alta dentro do tubo. A força da ação atira continuamente os gases para fora do tubo pelos gases. Destarte o foguete-mirim sobre. È conceito errado pensar que os gases empurram ao ar, produzindo a força. No vácuo, os foguetes funcionam melhor”. 5. Detalhes (descrição) Explicitam-se, enumeram-se, descrevem-se os detalhes que são anunciados na ideia tópico. Ex. “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luis do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que não se podia sair à rua: as pedras escaldavam, as vidraças os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações da prata polida...”. 6. Fatos (narração) Desenvolve-se o TF por meio de uma sequência de fatos. Ex. “Nosso primeiro contato com os índios juruna falhou. Descíamos o Xingu e, abaixo do rio Mari, vimos um acampamento na praia, muito bonito. Fomos até lá, e os índios fugiram em canoas. Saímos com os nossos barcos a motor atrás da canoa com dois índios. Quando perceberam que estavam sendo seguidos, eles encostaram a canoa a margem e fugiram para a mata”. 7. Classificação Desenvolvem-se as partes em que a ideia tópico pode ser discutida, separando-as em parágrafos diferenciados, caso a complexidade do tema exija. Ex. “Há três espécies de pessoas com quem se convive em ambiente de trabalho: aquele com quem nos relacionaríamos mesmo que não estivéssemos aprisionados entre quatro paredes de nosso oficio; aquelas com quem só relacionamos por força da tarefa e aquelas que só participam da nossa vida circunstancial, transitoriamente”. 8. Análise Desenvolve-se a ideia tópico fragmentando-a no desenvolvimento. Ex. Muito se tem discutido recentemente acerca da legalização do aborto. Em vista do grande número de abortos clandestinos, verificados, sobretudo, nas camadas de baixa renda, sua legalização permitiria que as mulheres,ao optarem por ele, fossem convenientemente assistidas em instituições médicas adequadas. Deve-se ressaltar, 6 contudo, que – de acordo com as concepções que noticiam a moral da sociedade o aborto é encarado como um atentado à vida, que já se faz presente no momento da concepção e formação embrionária. CONCLUSÃO A conclusão interna ao parágrafo é opcional, na medida em que, apenas, retorna numa frase final, de forma sintética, as informações que já foram tratadas ao longo do parágrafo. Ex. Há muito vem sendo levantada a possibilidade de haver, no reino animal tipos de inteligência humana. Os golfinhos são exemplo disso. É do conhecimento geral que esses simpáticos mamíferos pensam mais rápidos do que o homem comum tem linguagem própria e podem aprender uma língua humana. Com informação suplementar da insuspeitável sensibilidade intelectiva desses exemplares, sabe-se que eles podem adquirir úlceras de origem patológica e sofrer por stress de atividade. O golfinho, portanto, é um exemplo claro de que há animal, inteligência humana. EXERCÍCIOS I. Leia com atenção os parágrafos a seguir apresentados e identifique o tipo de desenvolvimento. 1. O século 16 foi o século da expansão europeia, de colonização e domínio do Novo Mundo. Época de deslumbramento, no encontro com o “outro”, e de violências humilhações aos subjugados, levando na maioria das vezes, ao extermínio do mais fraco. Crenças e convicções de um velho mundo afundavam num abismo aberto pela entrada em cena de novos céus, novos animais, novos povos. O reconhecimento de outros mundos trouxe mudanças sociais e políticas que afetaram todos os campos do conhecimento. Os horizontes linguísticos também se ampliaram com as análises do hebraico e do árabe, línguas com estruturas e categorias diferentes daquelas línguas indo- europeias, nas quais se baseavam os estudos tradicionais de gramática. (Yone Leite. A Gramática de Anchieta. 500ª nos de língua tupi. Ciência Hoje. Agosto de 2000. p.42) 2. Cid José Teixeira Cavalcante, mais conhecido com Cid Teixeira, é uma espécie de embaixador da história na Bahia: sua grande preocupação é permitir que a verdadeira história alcance a sociedade. Baiano Teixeira é um exímio difusor da cultura. Apesar de seu forte vínculo acadêmico – foi professor da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Católica de Salvador e professor convidado da Unesp, da USP e do Instituto Rio Branco -, ele produziu e apresentou programas de educação no rádio, como o Projeta Minerva, foi editor-chefe da Tribuna da Bahia e mantém uma colaboração assídua com artigos de história para jornais e revistas especializadas. Membros da Academia de Letras da Bahia, é autor de vário livros, como Bahia e tempo de província(1986), Salvador, posse e uso da terra(1989) e Bahia caminhos, estradas e rodovias(1998). (Um varejista da história. Ciência Hoje. Agosto de 2000. p.8) 3. O olhar do pesquisador é atraído não tantos pelos modos como a Internet pode afetara os relacionamentos amorosos tradicionais – o que não significa que tal questão não seja fundamental – mas, antes pelas novas formas de relacionamento que essa via de comunicação torna possíveis: os relacionamentos virtuais. Relacionamentos amorosos virtuais são aqueles que, envolvendo dois usuários reais, estão restritos ao ciberespaço. Neles, os amantes não ficam face a face: todo encontro se dá através do computador, que ganha o status de instrumento de mediação. (Mário Souza Gonçalves. O amor no ciberespaço. Ciência Hoje. Agosto de 2000. p.20) 4. Assim, nos relacionamentos virtuais, as identidades são sempre incertas e nunca pode saber com certeza quem está do “outro” lado. Um exemplo extremo é o da jovem que se apaixona por um rapaz através da Internet e depois descobre que o suposto rapaz era uma mulher. Mas o princípio da virtualidade deve ser levado as suas últimas consequências: se o encontro real nunca se dá, se o amor limita-se ao mundo de máscaras chamada ciberespaço, se tudo o que se tem é uma máscara sem corpo, talvez a própria questão da identidade real dos participantes perca sentido. Não tem sentido procurar por trás da máscara quando a máscara pe tudo que se tem. (Márcio Souza Gonçalves. O amor no ciberespaço. Ciência Hoje. Agosto de 2000. p.20)
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