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Direito Romano

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O Direito Romano: aspectos do Direito Romano; recepção do Direito Romano
I – Aspectos do Direito Romano
Surgido na fase da República (510 a 27 a.C.), o denominado direito pretoriano era realizado por órgãos estatais (pretores), originalmente urbanos, tinham por função aplicar o direito, interpretando as leis e suprindo suas lacunas, atenuando seu rigor. O avanço do período da República exigiu a criação de novos pretores, agora denominados peregrinos, cuja competência era dirimir conflitos entre cidadãos romanos e estrangeiros (242 a.C.).
Sendo o povo, em geral, ignorante do direito, fornecia o pretor, às partes como aos juízes, instruções escritas, das quais resultaram as denominadas “fórmulas”, que nada mais eram que as orientações escritas do pretor ao juiz. Distinguiam-se as fórmulas em:
modelo, edito do pretor, não dirigida à solução de caso específico, destinada ao conhecimento e aplicação em relação a todos;
judicium, destinada a aplicação em caso concreto, com requisitos formais (nomes do juiz e das partes, importância pretendida ou bem reclamado. 
Esse modo de atuar, predominantemente escrito, diferia profundamente do seu antecedente, chamado de sistema das ações da lei (primeira fase do direito romano, vigorando do século VIII ao século V a.C., extremamente formal, fundado na imutabilidade e solenidade das palavras a serem pronunciadas, sem o que o demandante perderia a causa), de caráter predominantemente oral. Após oitiva das partes, esclarecidas questões de direito e fáticas a serem consideradas pelo juiz (cidadão comum indicado pelas partes), por ocasião do julgamento, era fornecida, redigida pelo magistrado (pretor, órgão estatal, com poderes de atuação), peça escrita, orientadora, autêntica instrução escrita para o julgamento, com força exclusivamente para aquele julgamento.
De acordo com Gaio, quatro seriam as partes da fórmula: 
demonstratio, equivalente a fatos e fundamentos do pedido;
intentio, equivalente à pretensão do autor;
adjudicatio, atribuição da coisa litigiosa a um dos litigantes;
condenatio ou absolutio, pronunciamento final sobre a causa, nos limites traçados pela fórmula, decorrente do poder decisório conferido ao juiz.
São características do processo formular:
menos formal e mais rápido;
escrito, deixando de ser oral;
maior participação do magistrado;
condenação exclusivamente em dinheiro.
Por época do Império (Principado, a partir de 27 a.C.), surge o processo extraordinarium, com as seguintes características básicas:
magistrado e juiz são a mesma pessoa;
ocorre a hierarquia na Justiça;
o juiz já não é escolhido pelas partes, para indicado pelo Estado, do que decorre a perda do caráter privatístico do processo e ocorrência da estatização;
sessão do tribunal assistida apenas pelos interessados, não havendo abertura a qualquer que queira assistir, sem que haja interesse jurídico;
atos escritos e redigidos por auxiliares da justiça e advogados;
presença do advogado em quase todos os tipos de processo;
surgem as custas processuais, sportulae, para pagamento dos advogados e dos serventuários da justiça.
Os magistrados passam, nessa época, a ser organizados de forma hierárquica, tal como segue:
superiores, os imperadores, titulares da última palavra, cuja decisão não pode ser contrastada por nenhuma outra, por não haver nenhuma superior;
ordinários, judicis ordinari, autoridades judiciárias imediatamente inferiores aos imperadores;
pedâneos, judicis pedanei, juízes com competência para causas menores, desafogando os judicis ordinari.
Os processos extraordinários, além das características acima, apresentavam as seguintes:
dirimem questões administrativas e policiais;
afasta-se das fórmulas;
resolvem questões de ordem social, diferente das questões de ordem privada;
o processo deixa de ser privado e passa a ser público;
os magistrados já não podem decidir através de regras por eles mesmos criadas.
Os tipos de processo não se extinguiam, definitivamente, em sucessão rígida. Os diversos tipos de processo conviviam e, gradativamente, o mais arcaico perdia efetividade social, até desaparecer.
III – Fases históricas da civilização e das respectivas instituições
Quatro são as fases históricas da civilização romana e de suas instituições jurídico-políticas, a saber: 
a) Realeza, que se estende de sua fundação até o ano de 510 a.C., quando se instaura a República, com a queda de Tarquínio, o soberbo; época em que o Direito era essencialmente costumeiro, de forte influência religiosa, com instituições vinculadas a um Estado Teocrático; jurisprudência monopolizada por pontífices; 
b) República, que se estende de 510 a.C., até a investidura de Otaviano, pelo Senado, em poderes supremos, quando seria chamado de Augusto, o princeps, em 27 a.C.; magistraturas valorizadas, comandam o exército, procedem ao censo populacional e administram a justiça criminal; direito prático dos pretores, o jus honorum, aplicável a romanos e a estrangeiros, em caráter complementar do jus civile;
c) Principado, ou Alto Império, que se estende de 27 a.C. até 285 d.C., por ocasião da dominatio de Diocleciano, passando o imperador a autoproclamar-se dominus e deus, sendo exigível a adoratio, uma vez que seu poder teria origem divina; período emque as fontes do Direito passaram a ser o costume, as leis e os editos dos magistrados (criadores de direitos), senatus consultos (medidas legislativas emanadas do Senado), constituições imperiais (equivalentes a leis emanadas do Imperador, divididas em: editos, edicta, ou normas gerais; mandados, mandata, ou ordens aos funcionários imperiais; restritos, rescripta, respostas do imperador a questões levantadas por magistrados e a particulares, em matéria jurídica; decretos, decreta, sentenças proferidas pelo princeps) e respostas dos prudentes (responsa prudentium, sentenças e opiniões dos jurisconsultos (v.g., Papiniano, Ulpiano, Paulo, Modestino);
d) Baixo Império, que se estende de 285 d.C. a 585 d.C., com a morte de Justiniano; corresponde à cristianização do Império e à decadência política e cultural; Justiniano foi a grande figura da época, criando o Corpus Juris Civilis, dividido em Digesto (compilação de direitos), Institutas (manual para iniciantes), Código (compilação das leges) e Novelas (reunião das constituições).
IV – Direito Romano: importância do seu estudo
O Direito Romano desenvolveu-se ao longo de, aproximadamente, 1.200 anos, desde a origem da cidade, cuja fundação supõe-se ter ocorrido em 21 de abril de 753 a.C., até a invasão germânica, em 476 d.C. Notável, por sua documentação vasta, desenvolvimento de instituições (especialmente de direito privado), forma escrita e extraordinária influência sobre o direito dos povos atuais, o estudo do Direito Romano, ao menos em seus aspectos gerais revela importância de essencialidade à compreensão do desenvolvimento de inúmeros institutos jurídicos pátrios.

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