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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
A Lei de Introdução atinge todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de forma diferente na legislação específica. Com 19 artigos, ela trata, sinteticamente, dos seguintes temas:
	TEMA
	PREVISÃO NA LINDB
	a. início da obrigatoriedade da lei;
	art. 1.º
	b. tempo de obrigatoriedade da lei;
	art. 2.º
	c. garantia da eficácia global da ordem jurídica;
	art. 3.º
	d. mecanismos de integração das normas;
	art. 4.º
	e. critérios de hermenêutica jurídica;
	art. 5.º
	f. direito intertemporal;
	art. 6.º
	g. direito internacional privado brasileiro;
	arts. 7.º a 17
	h. atos civis praticados no estrangeiro, pelas autoridades consulares brasileiras.
	arts. 18 e 19
Como bem observa Maria Helena Diniz, a LINDB “descreve as linhas básicas da ordem jurídica, exercendo a função de lei geral, por orientar a obrigatoriedade, a interpretação, a integração e a vigência da lei no tempo e por traçar as diretrizes das relações de direito internacional privado por ela tidas como adequadas por estarem conformes com as convenções e com tratados a que aderiu o Brasil” 
1.2 AS FONTES OU FORMAS DE EXPRESSÃO DO DIREITO 
As fontes formais são as formas ou os modos como o direito se manifesta. O art. 4.º da Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro indica quais são elas: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”.
1.2.1 A lei 
Em sentido estrito, a lei pode ser conceituada como um preceito jurídico escrito, proveniente de autoridade estatal competente criada por meio de um processo previamente definido, com caráter geral e obrigatório. Observa Oscar Tenorio que a lei, nas sociedades modernas, “é a fonte mais abundante e copiosa do direito” ( Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro, vol. I, p. 18). A lei, até por força do art. 5.º, II, da CF/1988, é a expressão máxima do direito: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. 
No sistema normativo brasileiro a lei é a fonte formal principal. Sobre a importância da lei como fonte formal, Maria Helena Diniz explica que “no Estado moderno há uma supremacia da lei ante a crescente tendência de codificar o direito para atender a uma exigência de maior certeza e segurança para as relações jurídicas, devido à possibilidade de maior rapidez na elaboração e modificação do direito legislativo, permitindo sua adaptação às necessidades da vida moderna e pelo fato de ser de mais fácil conhecimento e de contornos mais precisos, visto que se apresenta em textos escritos”
As principais características da lei como fonte formal de direito são:
	Generalidade
	A lei é destinada a todos de forma indistinta, tendo em vista a natureza abstrata de seu comando.
	Imperatividade
	A lei é um comando, uma ordem que impõe um dever de conduta.
	Autorizamento
	A lei autoriza que o lesado pela violação exija o seu cumprimento ou a reparação. O autorizamento permite e legitima o uso da faculdade de coagir.
	Permanência
	A lei permanece até ser revogada por outra lei. É importante observar, contudo, que algumas leis são temporárias (art. 2.º da LINDB).
	Criação por autoridade competente
	A lei é um ato do Estado. Sua existência depende da emanação pelo poder competente com o preenchimento das formalidades necessárias.
Estabelece o art. 3.º da LINDB: “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Trata-se do princípio ignorantia juris neminem excusat, segundo o qual a ignorância do direito a ninguém escusa, não podendo a parte alegar a ignorância da lei para que a mesma não gere eficácia. 
a) Lei com vigência expressa – É a norma que possui um comando (artigo) fixando seu prazo de vigência.
b) Lei temporária em face da sua natureza – É aquela que, devido a circunstâncias históricas ou funcionais, não possui um expresso comando autorrevogador, visto que, sistêmica e permanentemente, possui um prazo certo de vigência. Exemplo: Leis orçamentárias (art. 165, § 5.º, da CF/1988).
c) Lei com fim certo e determinado – É o caso de toda lei cujo alcance lhes esgota o conteúdo, como na hipótese de lei que manda realizar uma determinada obra ou efetuar um certo pagamento.
d) Lei que rege situação transitória – São normas de caráter situacional, como estado de calamidade, estado de guerra, entre outras.
Entende-se por vacatio legis o intervalo temporal entre a data da publicação da lei e a sua entrada em vigor. 
No período de vacatio legis não goza a lei de obrigatoriedade, tendo em vista estar suspensa até sua efetiva entrada em vigor. 
Quanto à repercussão da vacatio, temos as seguintes hipóteses: 
	Leis com vacatio legis expressa 
	De acordo com o art. 8.º da LC 95/1998: “a vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis de pequena repercussão”.
	Leis sem vacatio legis 
	São aquelas que entram em vigor na data de sua publicação (art. 8.º da LC 95/1998).
	Leis com vacatio legis tácita 
	De acordo com o art. 1.º da LINDB, “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada (…). § 1.º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 (três) meses depois de oficialmente publicada”.
Ainda sobre a vigência das leis, estabeleceu o art. 2.º da LINDB que “a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. Com a revogação, a lei deixa de fazer parte do sistema jurídico. Todavia, poderá continuar a ser aplicada a algumas situações, garantida a ultratividade da lei pelo direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada.
Segundo o critério de extensão, existem duas hipóteses de revogação:
	Revogação total
	Também chamada de ab-rogação, é a supressão total da norma.
	Revogação parcial
	Também chamada de derrogação, é aquela que acarreta a supressão de uma parte da norma antiga, não havendo plena substituição da lei antiga pela lei nova.
Quanto ao modo (forma), a revogação pode ser:
	Revogação expressa
	É a hipótese na qual o legislador apresenta um comando determinando que a lei ou dispositivo está sendo suprimido do sistema. O art. 9.º da LC 95/1998, dispõe que “a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”.
	Revogação tácita
	Também chamada de revogação hermenêutica, ou seja, aquela na qual o intérprete dá por incompatível a lei nova com a antiga, na medida em que se torna impossível a incidência das duas normas em um determinado caso concreto.
1.2.2 Os costumes 
O costume, também chamado de usos e costumes, direito consuetudinário ou direito costumeiro, é a norma aceita por todos como obrigatória, sem que o Poder Público a tenha estabelecido. É conceituado como a prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade.
Trata-se de uma fonte subsidiária ou supletiva, pois somente poderá ser aplicado quando não houver lei ou quando for impossível a aplicação da analogia legis. Maria Helena Diniz explica que “o juiz ao aplicar o costume terá que levar em conta os fins sociais deste e as exigências do bem comum (art. 5.º da LINDB), ou seja, os ideais de justiça e de utilidade comum”
1.2.3 Princípios gerais do direito 
Robert Alexy ( Teoria dos direitos fundamentais, p. 90) afirma que os princípios são mandamentos de otimização, ou seja, “caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas”. 
1.3 INTEGRAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS 
1.3.1 A analogia 
Para integrar as lacunas existentes no sistema jurídico existem diversos métodos. O principal mecanismo de integração é aanalogia, prevista expressamente no art. 4.º da LINDB.
Karl Larenz define o método analógico como “a transposição de uma regra, dada na lei para a hipótese legal (A), ou para várias hipóteses semelhantes, numa outra hipótese (B), não regulada na lei ‘semelhante’ àquela. A transposição funda-se em que, devido à sua semelhança, ambas as hipóteses legais hão de ser identicamente valoradas nos aspectos decisivos para a valoração legal; quer dizer, funda-se na exigência da justiça de tratar igualmente aquilo que é igual” 
1.4.1 Espécies de métodos hermenêuticos 
Várias são as formas de interpretação de uma norma jurídica. Os principais métodos desenvolvidos pela doutrina que merecerem destaque são:
	Interpretação doutrinária
	É aquela realizada por especialistas. A doutrina orienta os estudiosos de um modo geral.
	Interpretação judicial
	É a interpretação realizada pelos magistrados. Localizada a norma aplicável, o juiz submete-a à interpretação, a fim de apurar os comandos que encerra.
Mesmo quando não tem força vinculante, influencia sobremaneira os julgamentos nas instâncias inferiores.
	Interpretação autêntica ou legislativa
	É aquela realizada pelo próprio legislador.
	Interpretação sociológica ou teleológica
	Tem por objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma às exigências sociais. Tal recomendação é prevista expressamente no art. 5.º da LINDB: “na aplicação da Lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
1.5 ANTINOMIAS 
Entende-se por antinomias as incompatibilidades de normas dentro do sistema jurídico, impossibilitando a incidência e a aplicação de uma delas em virtude de não ser consistente na presença de outra norma ou fonte formal de direito.
Quanto ao critério da solubilidade, as antinomias classificam-se em:
	Antinomias reais
	São aquelas que não possuem qualquer regramento de solução. A antinomia real apresenta três requisitos: a incompatibilidade entre as normas, a indecidibilidade, e a imperiosa necessidade de solução para o caso concreto sob pena de ocorrer o non liquet. 
	Antinomias aparentes
	São as contradições solúveis por meio dos critérios hierárquico, cronológico e da especialidade. Portanto, não há contradição efetiva; há uma aparente contradição. 
1.5.1 Critérios para solução de antinomias 
Os critérios para a solução das antinomias aparentes são:
a. Critério hierárquico ( lex superior derogat legi inferiori) – Este critério estabelece que em um conflito, entre normas que se encontram em níveis hierárquicos diferentes, prevalecerá sempre a norma de nível superior. 
b. Critério cronológico ( lex posterior derogat legi priori) – Segundo este critério, a lei que entra em vigor por último revoga a lei que está em vigor. Este critério tem previsão expressa no art. 2.º da LINDB. 
c. Critério da especialidade ( lex specialis derogat legi generali) – Por este critério deve ocorrer a prevalência da lei especial sobre a norma geral. O § 2.º do art. 2.º da LINDB diz que mesmo a lei especial nova não revoga a norma geral quando não houver incompatibilidade entre elas. 
1.5.2 Antinomia de segundo grau 
A antinomia de segundo grau é o conflito entre os critérios de solução, havendo um conflito em que uma norma prevalece sob um determinado critério, mas não em relação a outro. São três antinomias de segundo grau:
	Critério hierárquico x Critério cronológico
	Prevalece sempre o critério hierárquico.
	Critério hierárquico x Critério da especialidade
	De acordo com a doutrina não existe um metacritério para solucionar a antinomia. Configura-se, pois, uma antinomia real.
	Critério da especialidade x Critério cronológico
	Prevalece sempre a norma especial anterior.
SUJEITOS DE DIREITOS
Sujeitos de direito são todos os participantes de relações jurídicas. Estão habilitados, portanto, a exercitar atividade jurídica, nos atos e nos negócios da vida material (capacidade civil), bem como a defender em juízo os respectivos interesses (capacidade processual), observadas sempre as limitações decorrentes da ordem jurídica incidente.
1.3 OS ENTES DESPERSONALIZADOS
Paulo Lôbo afirma ao tratar do tema que “a evolução do direito e as exigências do mundo da vida levaram à necessidade de conferir a certos entes partes ou parcelas de capacidades para aquisição, exercício e defesa de direitos, dispensando-lhes a personalidade. São os entes despersonalizados”
Os entes despersonalizados são sujeitos de direito peculiares, pois apresentam capacidade jurídica limitada aos fins a que estão destinados.
As principais hipóteses de entes despersonalizados que merecem destaque são:
a) Massa falida – Se refere ao acervo patrimonial que pertencia à empresa declarada judicialmente falida. É com a sentença declaratória de falência que surge a massa falida.
b) Espólio – Este consiste no patrimônio deixado pelo de cujus e compreensivo do conjunto de direitos e obrigações. O fato jurídico que faz surgir é o evento morte e a sua extinção se opera com o fato jurídico da partilha de bens entre os herdeiros. Entre esses dois momentos – morte e partilha – impõe-se administração do acervo de direitos e obrigações, cuja titularidade é exercida pela figura do inventariante.
c) Herança jacente e vacante – O art. 1.819 do CC/2002 prevê a hipótese de alguém vir a falecer, deixando acervo de bens sem, todavia, testamento ou herdeiro legítimo notoriamente conhecido. A situação configura o instituto da herança jacente. Os bens permanecerão nesta condição até a sua entrega aos herdeiros que vierem a se habilitar ou à declaração de sua vacância. Ocorrendo esta, o patrimônio deverá ser incorporado aos bens da União, do Estado ou do Distrito Federal.
d) Condomínio – Dá-se a figura do condomínio quando mais de uma pessoa possui a titularidade do domínio de um bem. O condomínio não chega a ser uma pessoa jurídica, em primeiro lugar pela desnecessidade, uma vez que a ordem jurídica o instrumentaliza com os recursos jurídicos suficientes à administração de seus interesses. Em segundo lugar, porque não há manifestação de vontade neste sentido, nem formalização desta, carecendo, pois, de affectio societatis.
e) O nascituro (art. 2.º do CC/2002) – É importante observar que parcela da doutrina que reconhece a teoria concepcionista para se determinar o início da personalidade da pessoa natural trata o nascituro como pessoa, tema esta que será melhor desenvolvido no capítulo 4 desta obra.
2.2 PERSONALIDADE JURÍDICA DAS PESSOAS NATURAIS: ASPECTOS GERAIS
O Código Civil em momento algum define a personalidade. A doutrina costuma identificá-la como uma aptidão genérica ou qualidade para titularizar direitos e contrair obrigações.
“conjunto de características e atributos da pessoa humana, considerada objeto de proteção privilegiada por parte do ordenamento, bem jurídico representado pela afirmação da dignidade humana”
(a) significa a possibilidade de alguém ser titular de relações jurídicas, (b) é objeto de tutela privilegiada pela ordem jurídica constitucional, como forma de expressão da dignidade da pessoa humana.
2.2.1 Início da personalidade jurídica da pessoa natural
O início da personalidade da pessoa natural é indicado expressamente no art. 2.º do CC/2002, o qual estabelece como termo inicial o nascimento com vida do indivíduo. 
Muito embora a redação do art. 2.º seja bastante clara, o início da personalidade da pessoa natural cria enormes embates teóricos. Atualmente existem três posições doutrinárias para explicar o tema, a saber:
	TEORIA
	DEFINIÇÃO
	Natalista
	Seus adeptos afirmam que a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida (primeira parte do art. 2.º do CC/2002).
	Concepcionista
	Seus adeptos admitem que se adquire personalidade antes do nascimento, ou seja, desde a concepção.
	Personalidade condicional
	Seus adeptos afirmam que a aquisição da personalidade encontra-se sob condição suspensiva até a ocorrência do nascimento com vida
pode-se afirmar que na legislação em vigoro nascituro:
a) É titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida).
b) Pode receber doação, conforme dispõe o art. 542 do CC/2002: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita por seu representante legal”.
c) Pode ser beneficiado por legado e herança (art. 1.798 do CC/2002);
d) Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses (arts. 1.779 a 1.783 do CC/2002).
e) O Código Penal tipifica o crime de aborto.
f) Tem direito a alimentos.
2.4 EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA PESSOA NATURAL
A extinção da personalidade da pessoa natural é tratada expressamente nos arts. 6.º a 8.º do CC/2002, bem como nos arts. 77 a 88 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973).
Estabelece o art. 6.º que a extinção da personalidade da pessoa natural ocorre com a morte. Este fato deverá ser atestado por profissional de medicina, cuja prova se faz através da certidão extraída do assento de óbito.
O art. 7.º do CC/2002 disciplina duas hipóteses de aplicação da morte presumida:
a) Probabilidade extrema de morte daquele que se encontre em perigo de vida (art. 7.º, I, do CC/2002).
b) Desaparecidos em campanha de guerra ou feito prisioneiro, caso não seja encontrado até dois anos após o término da guerra (art. 7.º, II, do CC/2002).
É importante ressaltar que o pedido de morte presumido, em qualquer das hipóteses descritas no Código Civil, somente poderá ser formulado após o término das buscas e averiguações do indivíduo. Assim, o simples indício ou notícia de falecimento não autoriza o pedido de morte presumida pelos interessados. Quis o legislador, de maneira proposital, restringir e limitar o campo de aplicação deste instituto.
Finalmente, no art. 8.º do CC/2002 trata da hipótese de morte simultânea, conhecida também como comoriência. Cuida-se de uma presunção juris tantum, segundo a qual se determina a morte simultânea daqueles que falecem na mesma ocasião, podendo ser ilidida por prova que estabeleça a precedência da morte de um dos envolvidos.
O interesse no tratamento do tema se justifica pela implicância de tal fato na ordem de vocação no plano da sucessão, ou seja, na transmissão dos direitos entre os sucessores e sucedidos, enfim, quem tem a posição de herdeiro do outro.
explica Francisco Amaral que a capacidade de direito é a “possibilidade de praticar atos com efeito jurídico, adquirindo, modificando ou extinguindo relações jurídicas”
2.6 CAPACIDADE DE FATO DAS PESSOAS NATURAIS
A capacidade de direito não se confunde com a capacidade de fato, também chamada de capacidade de exercício. Este conceito se relaciona com as condições pessoais que determinado indivíduo reúne para exercer pessoalmente seus direitos. Ela nada mais é do que a habilidade para praticar de forma autônoma, ou seja, sem a interferência de terceiros na qualidade de representantes ou assistentes, seus direitos civis. 
A capacidade de fato, ao contrário da capacidade de direito possui estágios definidos no próprio Código Civil. Ele distingue duas modalidades de incapacidade, a saber: a incapacidade em absoluta e a relativa.
De acordo com o art. 3.º do CC/2002, recentemente modificado pela Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), são considerados absolutamente incapazes apenas os menores de 16 anos, pois todas as demais hipóteses foram revogadas, justamente para garantir a plena autonomia das pessoas com deficiência para os atos da vida civil.
De acordo com o art. 4.º do CC/2002, também modificado pela Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), são considerados relativamente incapazes:
a) Os maiores de 16 e menores de 18 anos (art. 4.º, I).
b) Os ébrios habituais e os viciados em tóxico (art. 4.º, II).
c) Aqueles que, por causa transitória ou definitiva, não puderem exprimir a sua vontade (art. 4.º, III).
d) Os pródigos (art. 4.º, IV) – Esta modalidade de incapacidade deve ser decretada judicialmente por requisição do cônjuge ou familiar, já que o que se protege, com a incapacidade do pródigo, é exatamente o patrimônio da família, e não apenas o patrimônio do pródigo. De acordo com o art. 1.782 do CC/2002 “a interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração”.
É bom lembrar que a senilidade não é causa de restrição da capacidade, ressalvada a hipótese de a senectude gerar um estado patológico, a exemplo da arteriosclerose.
Sobre a capacidade dos indígenas, esta será regulada pela Lei 6.001/1973 (Estatuto do Índio), tendo em vista que o Código Civil remete a matéria para a legislação especial (art. 4.º, parágrafo único). A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi criada para exercer a tutela dos indígenas em nome da União. Esta tutela constitui espécie de tutela estatal e origina-se no âmbito administrativo. Assim, o indígena que vive nas comunidades não integradas à civilização já nasce sob tutela, independentemente de qualquer medida judicial.
2.7 CAPACIDADE DE FATO E INTERDIÇÃO DAS PESSOAS NATURAIS
O procedimento de interdição é especial de jurisdição voluntária e segue o rito estabelecido nos arts. 747 a 758 do CPC/2015, bem como as disposições da Lei de Registros Públicos.
Decretada a interdição, será nomeado curador ao interdito, sendo a sentença de natureza declaratória
2.8 CAPACIDADE DE FATO E EMANCIPAÇÃO DAS PESSOAS NATURAIS
Trata-se de uma hipótese de antecipação da aquisição da capacidade civil plena antes da idade legal. Três são as formas de emancipação:
a) Emancipação voluntária – É aquela concedida por ato unilateral dos pais em pleno exercício do poder parental, ou um deles na falta do outro. Trata-se de ato irrevogável, sob a forma de instrumento público, independentemente de homologação judicial, desde que o menor haja completado 16 anos (art. 5.º, parágrafo único, I, do CC/2002, primeira parte). Para surtir os efeitos legais a escritura pública de emancipação deverá ser registrada no Cartório de Registro das Pessoas Naturais (art. 9.º, II, do CC/2002).
b) Emancipação judicial – Realiza-se mediante uma sentença judicial, na hipótese de um menor posto sob tutela. Antes da sentença o tutor será, necessariamente, ouvido pelo magistrado (art. 5.º, parágrafo único, I, do CC/2002, segunda parte). Nesse caso, o juiz deverá comunicar a emancipação ao oficial de registro civil, de ofício, se não constar dos autos haver sido efetuado este em oito dias.
c) Emancipação legal – Ocorre em razão de situações descritas na lei. O art. 5.º do CC/2002 nos traz as seguintes situações:
• o casamento;
• exercício de emprego efetivo;
• colação de grau em curso de ensino superior; e
• estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor tenha economia própria. A expressão economia própria deve ser entendida no sentido de caracterização de renda suficiente por meio do estabelecimento ou do emprego para a sobrevivência da pessoa, de acordo com o nível social em que está inserida.
2.9 AUSÊNCIA DAS PESSOAS NATURAIS
Contudo a doutrina comumente afirma tratar-se de um status jurídico da pessoa natural que desaparece do seu domicílio sem deixar notícias, nem deixar procurador para administrar seus bens. Assim, para caracterizar a ausência a não presença do sujeito deve somar-se com a falta de notícias. Explica Francisco Amaral que a ausência “configura uma espécie de estado civil que justifica, em face dos interesses do ausente e de terceiros, a existência de um instituto que proteja tais interesses”
Inicialmente o objetivo do Código Civil ao tratar da ausência é garantir a proteção do patrimônio da pessoa desaparecida. Prolongando-se a ausência e crescendo as possibilidades de que o sujeito tenha falecido, a proteção legal volta-se para os herdeiros.
Por tratar-se a ausência de um status que depende de decisão judicial (art. 744 do CPC/2015 e art. 22 do CC/2002), o Código Civil disciplinou três estágios (fases) deste instituto, conforme a menor possibilidade dereaparecimento do ausente, a saber:
2. Curadoria dos bens
é disciplinada nos arts. 22 a 25 do CC/2002. Esta fase inicia-se com a propositura da ação declaratória de ausência por qualquer interessado ou do Ministério Público. Clóvis Bevilaqua aponta como interessados os “parentes sucessíveis, os sócios, os credores, os que possuem ação a propor contra o ausente”
O objetivo desta fase, além da própria declaração da ausência é a nomeação de um curador apto a gerir o patrimônio da pessoa desaparecida
A nomeação não é discricionária, estabelecendo uma ordem legal estrita e sucessiva, a saber:
1) o cônjuge (também o companheiro), se não tiver separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração de ausência;
2) pais do ausente (genitores);
3) descendente, preferindo os mais próximos aos mais remotos;
4) qualquer pessoa à escolha do magistrado.
Cessará a curadoria:
1) pelo comparecimento do ausente, do seu procurador ou de quem o represente;
2) pela certeza da morte do ausente;
3) pela sucessão provisória.
3. Sucessão provisória
A fase da sucessão provisória do ausente é disciplinada nos arts. 26 a 36 do CC/2002, a qual tem como objetivo preservar os interesses dos herdeiros por meio da partilha provisória dos bens da pessoa desaparecida.
O Código Civil no art. 26 prevê dois prazos para a abertura da sucessão provisória:
a) 1 ano – hipótese geral de desaparecimento do ausente;
b) 3 anos – hipótese em que o ausente tenha deixado procurador.
Consideram-se interessados na abertura da sucessão provisória, nos termos do art. 27 do CC/2002 o cônjuge não separado judicialmente; os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; os credores de obrigações vencidas e não pagas. O Ministério Público deverá requerer também a sucessão provisória, não existindo qualquer um dos interessados 
Na forma do art. 33 do CC/2002, os herdeiros necessários empossados (art. 1.845 do CC/2002) terão direito subjetivo a todos os frutos e rendimentos dos bens que lhes couberem, o que não acontecerá com os demais sucessores, que deverão, necessariamente, capitalizar metade desses bens acessórios, com prestação anual de contas ao juiz competente. Porém, se a ausência foi voluntária e injustificada, o ausente perde direito ao montante acumulado em favor dos sucessores (art. 33, parágrafo único, do CC/2002), como forma de sanção ao comportamento negligente daquele.
Cessará a sucessão provisória pelo comparecimento do ausente e converter-se-á em definitiva:
1) Quando houver certeza da morte do ausente;
2) Dez anos depois de passada em julgado a sentença de abertura da sucessão provisória;
3) Na hipótese do ausente contar com 80 anos de idade e houverem decorridos cinco anos das últimas notícias suas.
4. Sucessão definitiva
é disciplinada nos arts. 37 a 39 do CC/2002. Decorridos 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória, ou quando o ausente completar 80 anos de idade, se de 5 datam suas últimas notícias, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e levantamento das cauções; ou quando houver certeza da morte do ausente (arts. 37 e 38 do CC/2002). Mas a propriedade assim adquirida considera-se resolúvel.
Se o ausente aparecer nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, os bens serão entregues no estado em que se acharem, ou os que se sub-rogarem neles, o preço de sua alienação. Porém, se o ausente regressar depois de passados os dez anos nada recebe.
5. Efeitos familiares da ausência
O Código Civil determina no art. 1.728, I, que os filhos menores devem ser postos em tutela no caso dos pais serem julgados ausentes.
Em relação ao casamento aplica-se a regra contida no art. 1.571, § 1.º, do CC/2002, o qual determina que a sociedade conjugal é dissolvida pela morte de um dos cônjuges e pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida em relação aos ausentes na hipótese de declaração da morte presumida em virtude da sucessão definitiva ou da constatação efetiva do falecimento.
2.10 ESTADO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Estado civil é a qualificação jurídica da pessoa resultante de sua posição na sociedade. Segundo Clóvis Bevilaqua é o “modo particular de existir”, “uma situação jurídica resultante de certar qualidades inerentes à pessoa”
PESSOAS JURÍDICAS
nos arts. 40 a 69
A doutrina, por sua vez, conceitua as pessoas jurídicas (também chamadas de intelectuais, morais ou coletivas), como “unidades jurídicas que resultam de comunidades humanas organizadas sob formas próprias e que, com o registro público correspondente, assumem personalidades distintas das de seus componentes. Voltadas para certos fins, em função dos quais se desenvolvem as respectivas atividades, essas entidades assumem autonomia no cenário jurídico, com patrimônio, voz e vontade próprias, responsabilizando-se, em consequência, pelos atos e negócios normais em seu nome exercitados” (Carlos Alberto Bittar
Na essência, a pessoa jurídica resulta do reconhecimento jurídico de um grupo social como sujeito de direito com atuação individual e autônoma.
3.2 TEORIAS SOBRE A NATUREZA DA PESSOA JURÍDICA
a) Teoria da ficção
Segundo essa concepção o direito concebe a pessoa jurídica como uma criação artificial, cuja existência, por isso mesmo, é simplesmente uma ficção.
b) Teoria orgânica ou da realidade objetiva
Seus partidários entendem que a pessoa jurídica é uma realidade viva, análoga à pessoa física. Para esta teoria as pessoas jurídicas possuem tanto um corpus, que administra e mantém a entidade em contato com o mundo, como um animus, que é a ideia dominante, manifestada nas associações e nas sociedades pela vontade do grupo componente e nas fundações pela vontade de seu criador.
c) Teoria da realidade técnica (corrente majoritária)
Esta teoria situa a pessoa jurídica como produto da técnica jurídica, rejeitando a tese ficcional para considerar os entes coletivos como uma realidade, que não seria objetiva, pois a personificação dos grupos se opera por construção jurídica, ou seja, o ato de atribuir personalidade não seria arbitrário, mas à vista de uma situação concreta.
3.3 SURGIMENTO E INÍCIO DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA
Primeiro Estágio – Exteriorização da vontade criadora.
Segundo Estágio – Registro dos atos constitutivos.
3.4 CAPACIDADE E REPRESENTAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
A capacidade da pessoa jurídica é, por sua própria natureza, especial. Considerando sua estrutura organizacional, moldada a partir da técnica jurídica, esse ente social não poderá, por óbvio, praticar todos os atos jurídicos admitidos para a pessoa natural. “O seu campo de atuação jurídica encontra-se delimitado no contrato social, nos estatutos ou na própria lei. Não deve, portanto, praticar atos ou celebrar negócios que extrapolem da sua finalidade social, sob pena de ineficácia”
Por se tratar de um ente cuja personificação é decorrência da técnica legal, sem existência biológica ou orgânica, a pessoa jurídica, dada a sua estrutura, exige órgãos de representação para poder atuar na órbita social. Em verdade, mais técnico seria falar em presentação da pessoa jurídica. Isto é, por não poder atuar por si mesma, a sociedade ou a associação age, faz-se presente, por meio das pessoas jurídicas que compõem os seus órgãos sociais e conselhos deliberativos. Essas pessoas praticam atos como se fosse o próprio ente social.
3.5 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
O art. 50 do CC/2002 prevê a desconsideração, a qual pode ser entendida como um mecanismo que pretende a supressão temporária da personalidade jurídica da sociedade, em caso de fraude, abuso, ou simples desvio de função, objetivando a satisfação do terceiro lesado junto ao patrimônio dos próprios sócios, que passam a ter responsabilidade pessoal pelo ilícito causado.
3.6 EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA: A DISSOLUÇÃO
O fim da pessoa jurídica poderá ocorrer por causas diversas, mas em qualquer hipótese a personalidadesubsistirá até que se ultime a liquidação e se proceda a anotação devida.
A dissolução deverá ser averbada no registro respectivo e, uma vez encerrada a liquidação, seguir-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.
A dissolução das pessoas poderá ser:
a) Convencional
A mesma liberdade que permitiu aos sócios a criação da pessoa jurídica pode levá-los à extinção desta. Para tanto devem ser observadas as normas previstas no estatuto ou contrato social.
b) Administrativa
Ocorre quando a autorização para o funcionamento da pessoa jurídica é cancelada.
c) Judicial
A iniciativa para a dissolução da pessoa jurídica, em primeiro lugar, é dos administradores, que dispõem do prazo de 30 dias contados da perda da autorização, ou de sócio que tenha exercitado o direito de pedi-la na forma da lei.
d) Fato natural
Ocorrendo o fato jurídico “morte” dos membros de uma sociedade, e não resultado será a extinção da pessoa jurídica.
4.2 ASSOCIAÇÕES
4.2.1 Aspectos gerais
O Código Civil disciplina as associações privadas nos arts. 53 a 61. Nele encontramos uma definição desta espécie no art. 53, ao afirmar que esta entidade é aquela formada “pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos”.
A não economicidade de sua finalidade é o seu traço marcante. Contudo, a falta do escopo econômico não impede às associações de gerar renda, desde que a receita gerada seja revertida em benefício da própria associação visando à melhoria de sua atividade.
A criação de uma associação resulta da autonomia privada dos membros que a compõem no momento da criação. Mas para que a entidade possa existir e, portanto, ser tratada como sujeito de direito ela depende da aprovação pelos associados de um estatuto social.
Este é o instrumento essencial para o surgimento da entidade. Trata-se de uma espécie de um regulamento geral (ou uma lei orgânica para alguns autores), de natureza não contratual e sim estatutária, de modo a vincular não apenas os associados existentes quando de sua elaboração, mas, por igual, toda e qualquer pessoa que, no futuro, dela participar.
Além disso, para o funcionamento regular da associação é também necessária a criação de órgãos de representação e administração.
apenas exige a presença obrigatória da assembleia geral
A assembleia geral é o órgão máximo das associações. Ela possui poderes deliberativos, além de poderes residuais de todos os demais órgãos criados. O art. 59 do CC/2002 estabeleceu-lhe duas competências absolutas e indelegáveis, são elas: 1.º) destituir os administradores; e 2.º) alterar o estatuto.
Assim, tanto as pessoas naturais como também as pessoas jurídicas podem participar da entidade, desde atendam os requisitos de admissão do estatuto social.
A exclusão do associado só ocorre havendo justa causa, e na estrita forma do estatuto social (art. 57 do CC/2002). Mesmo não cuidando o estatuto de elencar as condutas que entende passíveis de exclusão do associado, a assembleia geral, especialmente convocada, poderá apreciar a existência de motivos graves, e, em deliberação fundamentada e por maioria absoluta dos presentes, decidir pela aplicação da sanção.
Ocorrendo a dissolução da associação, o patrimônio líquido será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. Na falta dessas, os bens remanescentes serão devolvidos à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União (art. 61, § 2.º, do CC/2002).
4.3 SOCIEDADES
“as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”.
A característica básica da sociedade é a comunhão de interesses, a colimação de um fim idêntico, a affectio societatis.
A sociedade se personaliza apenas com a inscrição dos seus atos constitutivos nos registros competentes, a saber: Juntas Comerciais, para as sociedades empresárias, e Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para as sociedades simples (art. 985 do CC/2002).
4.3.3 Sociedades não personificadas
isto é, as sociedades em comum e as sociedades em conta de participação, que não possuem personalidade jurídica.
na sociedade comum, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais (art. 990 do CC/2002). Mesmo não existindo pessoa jurídica, os bens e as obrigações relacionados com o desenvolvimento do objeto social constituem patrimônio especial, de comum titularidade dos sócios, e respondem pelos atos de gestão, salvo convenção em contrário (arts. 988 e 989 do CC/2002).
Na sociedade em conta de participação há dois tipos de sócios: (a) sócio ostensivo e (b) sócio participante. A atividade é desenvolvida apenas pelo sócio ostensivo, que a exerce em nome próprio e sob sua inteira responsabilidade (art. 991 do CC/2002). O sócio participante (anteriormente denominado oculto) não exerce qualquer atividade, mas participa dos resultados. 
4.3.4 Sociedades personificadas
a) Sociedade simples
As sociedades simples são constituídas mediante contrato escrito, o qual deverá ser arquivado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do local da sua sede.
b) Sociedade em nome coletivo
a exemplo da lição de Fábio Ulhoa Coelho que “é o tipo societário em que todos os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais”
A sociedade em nome coletivo caracteriza-se pela responsabilidade solidária e ilimitada dos seus sócios pelas obrigações sociais.
Apenas as pessoas naturais podem compor o quadro societário das sociedades em nome coletivo (art. 1.039, caput, do CC/2002).
c) Sociedade em comandita simples
Nesta espécie de sociedade existem duas categorias de sócios (art. 1.045 do CC/2002), a saber: (a) os comanditados, que são necessariamente pessoas físicas e responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; (b) os comanditários, cuja responsabilidade se restringe ao valor da sua quota.
d) Sociedade limitada
“a sociedade limitada é o tipo societário de maior presença na economia brasileira.
São duas as principais características das limitadas: capital dividido em quotas (art. 1.055 do CC/2002) e responsabilidade dos sócios limitada ao valor das suas quotas (art. 1.052 do CC/2002), mas com existência de solidariedade até a integralização da totalidade do capital social. Também é própria das sociedades limitadas a vedação do sócio de indústria, isto é, da contribuição em serviços para a formação do capital social (art. 1.055, § 2.º, do CC/2002).
A cessibilidade das quotas pode ser objeto de disposição contratual, sendo que, na omissão, elas podem ser livremente cedidas aos demais sócios ou a terceiros, desde que não haja a oposição de titulares de mais de ¼ do capital social (art. 1.057 do CC/2002).
As deliberações dos sócios podem se dar em Assembleia, que é órgão obrigatório apenas quando a sociedade possuir mais de dez sócios, em reunião de sócios ou por escrito (art. 1.072 do CC/2002). Foi estabelecido quorum de: a) no mínimo ¾, para a modificação do contrato social e para a realização das operações de incorporação, fusão, dissolução e cessação do estado de liquidação; b) maioria dos sócios para a designação e destituição dos administradores, bem como sua remuneração e para o pedido de concordata (art. 1.076, I e II, do CC/2002)
e) Sociedade em comandita por ações
A sociedade em comandita por ações tem seu capital dividido em ações e permite que apenas os sócios ocupem cargo de administração da sociedade. Ocorre que, ao figurar como diretor, o sócio passa a responder subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
f) Cooperativas
Lei 5.764/1971, cujo art. 3.º afirma que “celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro”. As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil,não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados.
4.3.5 Extinção das sociedades
São casos de dissolução da sociedade (art. 1.033 do CC/2002):
a) O vencimento do prazo contratualmente fixado: nesta hipótese, desde logo, os sócios estabelecem o tempo de duração da sociedade no próprio contrato social. Vencendo-se o prazo pré-fixado, a sociedade, em princípio e se os sócios não continuarem a desenvolver a atividade, tende a terminar por estipulação e interesse dos seus sócios.
b) Consenso de todos os sócios: esta causa de dissolução decorre do caráter contratual das sociedades
c) Por decisão da maioria absoluta, quando a sociedade for por prazo indeterminado. Na sistemática das sociedades, as decisões podem ser tomadas obedecendo-se ao princípio majoritário, isto é, cabe à maioria dos sócios decidir sobre a condução dos negócios sociais, inclusive sobre a eventual dissolução da sociedade.
d) Falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias. Assim, se uma sociedade reduz o número de sócios a apenas um, a pluripessoalidade deverá ser restituída no prazo de 180 dias, sob pena da sua dissolução.
e) Extinção de autorização para funcionar, na forma da lei. Algumas sociedades, em virtude do seu objeto e da natureza da atividade desenvolvida, necessitavam de autorização do Estado para funcionar. 
Além das hipóteses acima mencionadas, a sociedade pode se dissolver judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando: (a) anulada a sua constituição, e (b) exaurido o fim social ou verificada a sua inexequibilidade. Nestes casos, é preciso a declaração judicial para que ocorra a dissolução da sociedade. Finalmente, a sociedade dissolve-se por iniciativa popular ou do Ministério Público e decisão judicial, tratando-se de sociedade que promova atividade ilícita ou imoral.
4.4 FUNDAÇÕES
a doutrina afirma, a exemplo de Clóvis Bevilaqua, que elas “consistem em complexos de bens (universitates bonorom) dedicados à consecução de certos fins e, para esse efeito, dotados de personalidade”
São entidades resultantes de uma afetação patrimonial, por testamento ou escritura pública, que faz o seu instituidor, especificando o fim para o qual se destina. 
4.5 EXTINÇÃO DAS FUNDAÇÕES
As fundações extinguem-se em dois casos, especificados no art. 69 do CC/2002, a saber:
• se se tornar ilícita (nociva), impossível ou inútil a sua finalidade; e
• se vencer prazo de sua existência.
4.7 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS: ASPECTOS GERAIS
São, na essência, entidades que possuem uma gênese associativa, mas não se sujeitam às normas das associações.
O § 1.º do art. 44 do CC/2002 garante-lhes liberdade de criação, organização, estruturação interna, “sendo vedado ao Poder Público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos”. 
4.8 EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA
O Código Civil estabelece que a pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.
A constituição impõe que o nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão “Eireli” após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada.
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Carlos Alberto Bittar, ao tratar do tema, afirmava que “ínsitos na natureza humana encontram-se certos bens, que compõem a estrutura da personalidade, tanto físicos, como psíquicos e morais, os quais individualizam a pessoa em si e como projeção na sociedade: são os valores mais elevados, porque essenciais, de seu estatuto jurídico, a saber, os direitos da personalidade”
Completa Roberto Senise Lisboa ao afirmar que os direitos da personalidade “são direitos intrínsecos ao ser humano, considerados em si mesmo e em suas projeções ou exteriorizações para o mundo exterior”.
Carlos Roberto Gonçalves afirma que “a concepção dos direitos da personalidade apoia-se na ideia de que existem certas prerrogativas individuais inerentes à condição humana e ligados ao titular de maneira perpétua e permanente”
O grande divisor de águas ocorreu com o advento da Constituição Federal de 1988, que expressamente a eles se refere no art. 5.º, X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Explica Francisco Amaral que o objeto dos direitos da personalidade “é o bem jurídico da personalidade, como conjunto unitário, dinâmico e evolutivo dos bens e valores essenciais da pessoa no seu aspecto físico, moral e intelectual”
5.2 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
As principais características dos direitos da personalidade são:
a) Intransmissibilidade e irrenunciabilidade (art. 11 do CC/2002) – Não podem os seus titulares deles dispor, transmitindo-os a terceiros, renunciando ao seu uso ou abandonando-os, pois nascem e se extinguem com eles, dos quais são inseparáveis. Alguns atributos da personalidade, contudo, admitem a cessão de seu uso, a exemplo da imagem e dos direitos autorais. Pode-se, concluir, pois, que a indisponibilidade dos direitos da personalidade não é a absoluta, mas relativa.
b) Absolutismo – O caráter absoluto dos direitos da personalidade é consequência de sua oponibilidade erga omnes.
c) Não limitação – É ilimitado o número de direitos da personalidade.
d) Imprescritibilidade – Os direitos da personalidade não se extinguem pelo uso e pelo decurso do tempo, nem pela inércia na pretensão de defendê-los.
e) Impenhorabilidade – Sendo eles inseparáveis do seu titular eles não podem ser penhorados, pois a constrição é o ato inicial de venda forçada determinada pelo juiz para satisfazer o crédito do exequente. 
f) Não sujeição a desapropriação – Como são ligados de forma definitiva ao seu limitar não podem ser desapropriados.
g) Vitaliciedade – Os direitos da personalidade são inatos e adquiridos no instante da concepção e acompanham a pessoa até a sua morte.
5.4 AS ESPÉCIES DE DIREITOS DA PERSONALIDADE NO CÓDIGO CIVIL
5.4.1 Direito à vida
O direito à vida é o mais importante dos direitos da personalidade.
5.4.2 Disposição do próprio corpo
O direito à integridade física compreende a proteção jurídica à vida, ao próprio corpo vivo ou morto, quer na sua totalidade, quer em relação a tecidos, órgãos e partes suscetíveis de separação e individualização, quer ainda ao direito de alguém submeter-se ou não a exame e tratamento médico. O titular do direito ao corpo pode dele se utilizar conforme lhe aprouver, vedado o uso atentatório à vida ou à saúde física ou mental.
5.4.3 Tratamento médico de risco
A regra obriga os médicos, nos casos mais graves, a não atuarem sem prévia autorização do paciente, que tem a prerrogativa de recusar a se submeter a um tratamento perigoso. A sua finalidade é proteger a inviolabilidade do corpo humano.
5.4.4 Direito ao nome
O direito ao nome é espécie dos direitos da personalidade, pertencente ao gênero do direito à integridade moral. O nome é a expressão que distingue uma pessoa. Rubens Limongi França conceitua-o como “a designação pela qual se identificam e distinguem as pessoas naturais, nas relações concernentes ao aspecto civil de sua vida jurídica” 
O direito ao nome é absoluto. Produz efeitos erga omnes, pois todos têm o dever de respeitá-lo.
5.4.5 Direito à imagem
5.4.6 Direito à vida privada
É vedada a intromissão de estranhos na vida privada, regra esta com status constitucional. Trata-se de obrigação de não fazer decorrente da lei e cujo descumprimento pode ser coibido mediante provimento jurisdicional de natureza cominatória. 
5.5 DIREITOS DA PERSONALIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS
A tutela dos direitos da personalidade das pessoas jurídicas é prevista expressamente no art. 52 do CC/2002.
TEORIA GERAL DO DOMICÍLIO 
No art. 70 o legislador definiu-o como “residência com ânimo definitivo”. É um ato em sentido estrito por natureza, daí porque a voluntariedade lhe é um traço marcante, muito emboraexistam exceções
A doutrina costuma conceituá-lo como o centro espacial ou sede jurídica da pessoa, em outras palavras, local onde ela exerce todos os atos da vida civil. A corrente civil-constitucional afirma que o domicílio corresponde à projeção espacial da proteção da pessoa humana, para garantir-lhe da vida privada, eis que “a casa é asilo inviolável do indivíduo” (art. 5.º, XI, da CF/1988). 
A doutrina diferencia o domicílio de outras situações jurídicas como a residência e a morada (também conhecida como moradia ou estada). A primeira é uma relação duradoura de uma pessoa com um determinado lugar. Já a morada, mera relação de fato, nada mais é do que o local que uma pessoa permanece de forma acidental.
O mais importante efeito prático da definição do domicílio consiste, como bem percebe Paulo Nader, “na indicação do lugar onde as obrigações contraídas deverão ser cumpridas, bem assim o foro da comarca onde eventual ação correspondente deverá ter o seu curso”
6.2 ELEMENTOS DE CONFIGURAÇÃO DO DOMICÍLIO
Ao definir o domicílio no art. 70 é possível extrair dois elementos que o estruturam. O primeiro, tratado pela doutrina como elemento objetivo, é a fixação da residência. Já o segundo é apontado como um elemento subjetivo ou anímico, o qual se traduz pela intenção de permanência do indivíduo num determinado local e de ali ter a sede de suas atividades.
RELAÇÃO DOMICILIAR MÚLTIPLA
Já o parágrafo único do art. 72 traz a hipótese de pluralidade de domicílios profissionais: “se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem”. Há, contudo, neste dispositivo uma regra de imputação específica, noutras palavras, cada domicílio profissional é afetado exclusivamente às relações que lhes são subjacentes.
6.5 TEORIA DO DOMICÍLIO APARENTE
O art. 73 do CC/2002 traz expressamente a figura do domicílio aparente. Trata-se de uma ficção jurídica criada para determinar o domicílio das pessoas que não possuem residência fixa. Pontes de Miranda afirmava que no sistema civil brasileiro não admite a falta de domicílio (princípio da cogência do domicílio). O dispositivo assim estabelece: “ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada”.
6.7 DOMICÍLIO NECESSÁRIO
O domicílio necessário é o estabelecido por lei, independentemente da vontade do sujeito, por isso também chamado domicílio legal. 
As hipóteses de domicílio necessário previsto no Código Civil são:
• Incapazes – domicílio do representante ou assistente;
• Servidor público – lugar em que exercer permanentemente suas funções;
• Militar – Onde servir. Se for da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
• Marítimo – Onde o navio estiver matriculado;
• Preso – O lugar em que cumprir sentença.
6.8 DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA
As pessoas jurídicas de direito privado terão o seu domicílio no “(…) lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos” (art. 75, IV, do CC/2002).
BENS JURÍDICOS
Dessa forma, os bens são valores materiais e imateriais que podem ser objeto de uma relação jurídica.
Para Maria Helena Diniz (Curso de direito civil brasileiro, p. 320), os bens somente poderão ser objeto de uma relação jurídica privada se apresentarem três características essenciais, a saber:
a) Idoneidade para satisfazer um interesse econômico;
b) Gestão econômica autônoma; e
c) Subordinação jurídica ao seu titular.
7.2 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS
7.2.1 Bens considerados em si mesmos
a) Corpóreos e incorpóreos
Corpóreos são aqueles que têm existência física (material), perceptível pelos sentidos (móveis, imóveis). Incorpóreos são aqueles que têm existência meramente abstrata, ideal, jurídica (por exemplo: direitos autorais).
A importância da distinção reside no fato de haver diferença para a transmissão. Os bens corpóreos são transferidos por meio de contrato de compra e venda ou doação; os incorpóreos por cessão. Além disso, não existe a possibilidade de aquisição de bens incorpóreos por meio de usucapião.
b) Imóveis e móveis
Imóveis (ou bens de raiz), segundo o art. 79 do CC/2002 são “o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”. A doutrina esclarece que são aqueles que não se podem transportar sem alteração de sua essência, de sua substância. Por sua vez, móveis são, de acordo com o art. 82, “(…) os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social”.
A importância da distinção entre bens móveis e imóveis é verificada em vários aspectos.
• Quanto à forma de alienação: é livre em relação aos móveis, mas em relação aos imóveis exige escritura pública para os bens de valor superior a 30 salários mínimos (art. 108 do CC/2002).
Quanto à necessidade de autorização do cônjuge: as negociações relacionadas aos bens imóveis exigem anuência do cônjuge quanto aos bens móveis a exigência não existe.
• Quanto à modalidade de direito real de garantia permitido: em regra, os bens móveis podem ser oferecidos em penhor, e em relação aos imóveis poderão ser objeto de hipoteca.
c) Fungíveis e infungíveis
Fungíveis são os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85 do CC/2002). Infungíveis são os insubtituíveis. Os imóveis, em princípio, serão sempre considerados bens infungíveis.
d) Consumíveis e inconsumíveis
Consumíveis são os “bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação” (art. 86 do CC/2002). Inconsumíveis são aqueles que admitem uso reiterado, sem destruição imediata de sua substância, ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência do tempo.
Explica Maria Helena Diniz que “a consuntibilidade não decorre da natureza do bem, mas de sua destinação econômico-jurídica, sendo que a vontade humana pode influenciar sobre a consuntibilidade, pois pode tornar inconsumível coisa consumível”
e) Divisíveis e indivisíveis
Divisíveis são os bens que podem ser fracionados sem alteração de sua substância, diminuição considerável do valor, ou prejuízo do uso a que se destinam (art. 87 do CC/2002). Já os bens divisíveis são aqueles que podem ser fracionados sem qualquer prejuízo de sua substância ou valor.
f) Singulares, coletivos e universalidades
Singulares são os “bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais” (art. 89 do CC/2002). Os bens singulares podem ser: simples, quando suas partes componentes encontram-se ligadas naturalmente; compostos, quando seus elementos são unidos por ato humano.
Os bens coletivos, universais, ou as universalidades, são, por sua vez, aqueles que são compostos por vários bens singulares, que, considerados em conjunto, formam um todo homogêneo.
7.3 BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS
De acordo com esta classificação os bens podem ser principais ou acessórios. O bem principal (art. 92) é aquele que existe por si mesmo, que tem existência própria (exemplo: o solo). Acessório é aqueles cuja existência supõe a do principal.
Os bens acessórios podem ser de vários tipos:
• Frutos: são as utilidades que a coisa principal periodicamente produz e cuja percepção não diminui a sua substância. Costuma-se dizer que são as utilidades que nascem e renascem. Dividem-se os frutos, quanto à origem, em naturais (força orgânica), industriais (homem) e civis (rendas). Quanto ao seu estado, dividem-se em frutos pendentes, enquanto unidos à coisa que os produziu; percebidos ou colhidos, depois de separados; estantes, os separados e armazenados para venda; percipiendos, os que deveriam ser, mas não foram colhidos ou percebidos; e consumidos, os que não existem mais porque foram utilizados. 
• Produtos: são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, e que nãose renovam
• Pertenças: são os bens móveis que são afetados de forma duradoura ao uso, serviço ou aformoseamento de outro bem, sem que sejam considerados suas partes integrantes (art. 93 do CC/2002). É importante observar que “os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso” (art. 94 do CC/2002).
• Benfeitorias: São obras ou despesas realizadas pelo homem na estrutura da coisa principal, com o propósito de conservá-la (benfeitorias necessárias), melhorá-la (benfeitorias úteis) ou embelezá-la (benfeitorias voluptuárias). É importante destacar que “não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor” (art. 97 do CC/2002).
7.3.1 Bens quanto à titularidade do domínio
De acordo com a titularidade, os bens podem ser públicos ou particulares. Públicos são os bens de domínio nacional Todos os demais são considerados bens particulares (art. 98 do CC/2002).
Existem três classes de bens públicos, nos termos do art. 99 do CC/2002, os quais serão analisados nos itens a seguir.
a) Os de uso comum do povo
São aqueles que podem ser utilizados por todos, sem necessidade de qualquer permissão especial, sem restrição (art. 99, I, do CC/2002).
b) Os de uso especial
São aqueles bens públicos que se destinam especialmente à execução dos serviços públicos e são utilizados exclusivamente pelo poder público.
Estes bens são inalienáveis “enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar” (art. 100 do CC/2002).
c) Os dominicais
“Constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público”. São os bens públicos que não são afetados a uma atividade pública específica
7.4 PATRIMÔNIO
Clóvis Bevilaqua definia o patrimônio como “o complexo das relações jurídicas de uma pessoa, que tiverem valor econômico. Assim, compreendem-se no patrimônio tanto os elementos ativos quanto os passivos, isto é, os direitos de ordem privada economicamente apreciável e as dívidas. É a atividade econômica de uma pessoa, sob o seu aspecto jurídico, ou a projeção econômica da personalidade civil”.
7.5 BEM DE FAMÍLIA
Representa um instituto jurídico que tem como objetivo garantir um asilo à família, tornando-se o imóvel onde a mesma se instala domicílio impenhorável e inalienável. 
7.5.1 Bem de família voluntário
O bem de família voluntário tem seu núcleo num bem imóvel. A lei o resguarda com as características de inalienabilidade e impenhorabilidade, em benefício da constituição e permanência de uma moradia para o corpo familiar.
7.5.2 Bem de família voluntário: valores mobiliários
A proteção de valores mobiliários no bem de família voluntário não poderá exceder o valor do prédio instituído em bem de família.
A renda dos valores mobiliários instituídos no bem de família voluntário deve ser aplicada, obrigatoriamente, na conservação do imóvel e no sustento da família. 
7.5.3 Bem de família legal
O bem de família é o imóvel residencial, urbano ou rural
Não se incluem na proteção do bem de família legal os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Só possuem proteção legal os mobiliários devidamente quitados, inclusive na hipótese de imóvel locado.
TEORIA DOS FATOS JURÍDICOS
8.2 FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
Todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito, denomina-se fato jurídico. O fato jurídico seria todo o acontecimento em virtude do qual começam ou terminam as relações jurídicas.
8.4 FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO
São os fatos naturais, cujo suporte normativo se verifica independentemente da intervenção humana. São classificados em duas espécies: os ordinários e os extraordinários.
Os fatos jurídicos ordinários são fatos da natureza de ocorrência comum, costumeira, cotidiana: o nascimento, a morte, o decurso do tempo. Os extraordinários são os inesperados, às vezes imprevisíveis: um terremoto, uma enchente, o caso fortuito e a força maior.
8.5 ATO-FATO JURÍDICO
No ato-fato jurídico, o ato humano é realmente da substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não, intenção de praticá-lo. O que se ressalta, na verdade, é a consequência do ato, ou seja, o fato resultante, sem se dar maior significância se houve vontade ou não de realizá-lo.
	NOMENCLATURA
	DEFINIÇÃO
	Atos reais
	Nessa categoria enquadram-se os atos humanos de que resultam circunstâncias fáticas, geralmente irremovíveis.
Assim, um louco, que pinta quadros adquire sua propriedade (especificação), o mesmo ocorrendo com uma criança que descobre um tesouro enterrado no quintal (invenção). Independentemente de ter querido ou não, ou mesmo se poderiam manifestar vontade, adquirem a propriedade.
	Atos-fatos indenizativos
	Nessa espécie estão as situações em que de um ato humano lícito decorre prejuízo a terceiro, como o dever de indenizar. É o caso da deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão pessoal, a fim de remover perigo iminente, em que se aceita a licitude do ato, mas se determina a indenização na forma do art. 188, II, c/c os arts. 929 e 930 do CC/2002.
	Atos-fatos caducificantes
	Nesta última forma estão as situações que, dependentes de atos humanos, constituem fatos jurídicos, cujos efeitos consistem na extinção de um determinado direito e, por consequência, da pretensão, da ação e da exceção dele decorrentes, como ocorre na decadência ou na prescrição, independentemente de ato ilícito do titular.
O exemplo mais evidente é do antigo art. 178, § 1.º, do CC/1916, que tratava da decadência da ação anulatória do casamento, no caso do anterior defloramento da esposa.
8.6 ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO
O ato jurídico em sentido estrito constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos.
Neste tipo de ato, não existe propriamente uma declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente (como no negócio jurídico), mas sim um simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei.
Note-se que o elemento caracterizador dessa categoria reside na circunstância de que o agente não goza de ampla liberdade de escolha na determinação dos efeitos jurídicos resultantes de seu comportamento, como se dá no negócio jurídico (um contrato, por exemplo). O elemento básico, porém, é a manifestação de vontade.
Podemos subtipificar os atos jurídicos em sentido estrito em:
a) Atos materiais (reais) – Os atos materiais ou reais na simples atuação humana, baseada em uma vontade consciente, tendente a produzir efeitos jurídicos previstos em lei. Observe-se que essa vontade consciente não é requisito dos atos-fatos jurídicos.
Embora haja vontade consciente na atuação do sujeito (na origem), esta não é orientada à consecução dos efeitos, que se produzem independentemente do seu querer.
b) As participações – São atos de mera comunicação, dirigidos a determinado destinatário, e sem conteúdo negocial. 
8.7 ATOS ILÍCITOS
Trata-se de um ato voluntário e consciente do ser humano, que transgride um dever jurídico.
A consequência do ato ilícito é a do surgimento do dever de reparar o dano causado, de estrutura obrigacional.
8.7.1 Abuso de direito
O abuso de direito foi previsto expressamente no art. 187 do CC/2002 definido como “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
8.8 NEGÓCIOS JURÍDICOS
O negócio jurídico é entendido pela corrente voluntarista (dominante no direito brasileiro, refletindo-se no art. 112 do CC/2002) como uma “declaração de vontade dirigida à provocação de determinados efeitosjurídicos, ou, na definição do Código da Saxônia, a ação de vontade, que se dirige, de acordo com a lei, a constituir, modificar ou extinguir uma relação jurídica”
Em linguagem mais simples, posto não menos jurídica, seria o negócio jurídico a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos que são admitidos pelo ordenamento jurídico e pretendidos pelo agente.
8.8.1 Corrente voluntarista
Dentro dessa concepção, calcada, como sugere a sua própria definição, na noção de vontade, costuma-se definir o negócio jurídico como sendo “a manifestação de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos”, “o ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico”, ou “uma declaração de vontade, pela qual o agente pretende atingir determinados efeitos admitidos por lei”.
8.10 A CAUSA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Para a corrente subjetivista, a causa seria a razão determinante, a motivação típica do ato que se pratica, ou o fim imediato que determina a declaração de vontade. Nessa perspectiva, não há confundir-se a causa como o motivo (móvel subjetivo) da prática do ato, uma vez que este último, relegado ao plano psíquico do agente, é irrelevante para o direito.
9.2 PLANO DE EXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
9.2.1 Exteriorização de vontade
A exteriorização de vontade consciente constitui o elemento nuclear do suporte fático negócio jurídico. Ela ocorre por meio da manifestação de vontade ou declaração de vontade, as quais poderão ser expressa (através da palavra escrita ou falada, gestos ou sinais) ou tácita (resultante de um comportamento do agente). Parte da doutrina ainda reconhece a exteriorização presumida, a qual resulta da lei.
O silêncio não é forma de exteriorização de vontade.
9.2.2 Agente emissor da vontade
Sem o sujeito não poderá falar-se em ato, mas, tão somente, em fato jurídico em sentido estrito. A participação do sujeito de direito (pessoa natural ou jurídica) é indispensável para a configuração existencial do negócio jurídico.
9.2.3 Objeto
Da mesma maneira, todo negócio jurídico pressupõe a existência de um objeto – utilidade física ou ideal –, em razão do qual giram os interesses das partes.
9.3 PLANO DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
O art. 104 do CC/2002 elenca os requisitos de validade negocial, a saber: capacidade do agente; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e a forma. A doutrina, contudo, costuma afirmar que além desses três requisitos existem outros dois implícitos, quais sejam: a exteriorização de vontade livre e consciente e a legitimidade do agente.
9.3.1 Exteriorização válida de vontade
9.3.2 Capacidade do agente
O negócio jurídico praticado por agente absolutamente incapaz é nulo; pelo relativamente incapaz anulável.
9.3.3 Legitimidade do agente
Pedro Pais de Vasconcelos define a legitimidade como “a particular posição da pessoa perante concretos bens, interesses ou situações jurídicas que lhe permite agir sobre eles”
9.3.4 Objeto negocial válido
A validade do negócio requer um objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
9.4 INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Inválido é o negócio irregular, ou seja, aquele que não atendeu de forma plena os requisitos de validade e, portanto, não pode produzir os efeitos desejados pelas partes. O sistema jurídico impede a proliferação de atos jurídicos ilegais ou portadores de vícios, a depender da natureza do interesse jurídico violado. 
	NULIDADE ABSOLUTA
	NULIDADE RELATIVA
	1 – O ato nulo atinge interesse público superior.
	1 – O ato anulável atinge interesses particulares, legalmente tutelados.
	2 – Opera-se de pleno direito.
	2 – Não se opera de pleno direito.
	3 – Não admite confirmação.
	3 – Admite confirmação expressa ou tácita.
	4 – Pode ser arguida pelas partes, por terceiro interessado, pelo Ministério Público, ou, até mesmo, pronunciada pelo juiz.
	4 – Somente pode ser arguida pelos legítimos interessados.
	5 – A ação declaratória de nulidade é decidida por sentença de natureza declaratória.
	5 – A ação anulatória é decidida por sentença de natureza desconstitutiva.
	6 – Pode ser reconhecida, segundo o Código Civil, a qualquer tempo, não se sujeitando a prazo prescricional ou decadencial.
	6 – A anulabilidade somente pode ser arguida, pela via judicial, em prazos decadenciais de quatro (regra geral) ou dois (regra supletiva) anos, salvo norma específica em sentido contrário.
9.4.3 Simulação
Prevista no art. 167 do CC/2002 a simulação é uma declaração falsa da vontade, visando aparentar negócio jurídico diverso do efetivamente desejado. acarreta a nulidade do negócio jurídico. Nesse sentido, o art. 167 do CC/2002 estabelece: “é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”.
Francisco Amaral afirma que: “para ser juridicamente eficaz, a vontade tem de ser livre e incondicionada no seu nascimento e correta na sua expressão. Podem ocorrer, todavia, defeitos no seu processo formativo”
A doutrina costuma classificar os defeitos do negócio jurídico em dois grupos: vícios de consentimento ou vícios sociais.
10.2 ERRO OU IGNORÂNCIA
O erro é um vício de consentimento previsto nos arts. 138 a 144 do CC/2002. Não há propriamente uma definição de erro na legislação, tarefa esta que coube à doutrina. Caio Mário da Silva Pereira, ao tratar de tema, explica que o erro será configurado “quando o agente por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias age de um modo que não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira situação”
O erro traz como consequência a possibilidade de anulação do negócio jurídico. Porém, apenas o erro substancial (essencial) é capaz de permitir este efeito.
10.3 DOLO
O dolo é um vício de consentimento previsto nos arts. 145 a 150 do CC/2002. 
“Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado” (art. 147 do CC/2002). “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou” (art. 148 do CC/2002). Já “o dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos” (art. 149 do CC/2002).
O dolo permite a anulação do negócio jurídico quando este for a sua causa (art. 145 do CC/2002). Porém, o mesmo não ocorre com o chamado dolo acidental que apenas autoriza à satisfação das perdas e danos.
10.4 COAÇÃO
A coação é um vício de consentimento previsto nos arts. 151 a 155 do CC/2002. 
Como regra a coação permite a anulação do negócio jurídico, assim como os demais vícios de consentimento.
10.5 ESTADO DE PERIGO
O Estado de perigo é uma modalidade de vício de consentimento previsto no art. 156 do CC/2002. O caput do dispositivo define a sua configuração da seguinte forma: “configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único: Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias”.
O estado de perigo tem aplicação limitada. Assemelha-se, pela falta de liberdade de opção, à coação, mas dela difere porque não há ameaça de quem quer que seja.
10.6 LESÃO
A lesão é uma modalidade de vício de consentimento previsto no art. 157 do CC/2002. O caput do dispositivo define-o da seguinte forma: “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, seobriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”.
10.7 FRAUDE CONTRA CREDORES
A fraude contra credores é um vício social previsto nos arts. 158 a 165 do CC/2002. à doutrina, a qual costuma conceituá-la como qualquer ato suscetível de diminuir ou onerar o patrimônio, reduzindo ou eliminando a garantia que este representa para pagamento de suas dívidas, praticado por devedor insolvente ou por ele reduzido à insolvência.
A fraude contra credores é um vício objeto de anulação. A ação anulatória é chamada de pauliana ou revocatória. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
São três os elementos acidentais do negócio jurídico no direito brasileiro: a condição, o termo e o encargo.
11.2 CONDIÇÃO
a doutrina conceitua-a como uma disposição resultante da vontade que subordina a eficácia do negócio a um acontecimento futuro e incerto. Da sua ocorrência depende, portanto, o nascimento ou a extinção de um direito.
11.3 TERMO
O termo é, portanto, uma disposição negocial voluntária que subordina a eficácia do negócio a evento futuro e certo. O termo não suspende a aquisição do direito por ser evento futuro, mas dotado de certeza (art. 131 do CC/2002). Difere da condição, que subordina a eficácia do negócio a evento futuro e incerto.
Sendo o termo um acontecimento certo, inexiste estado de pendência, não se cogitando de retroatividade, existente apenas no negócio condicional. 
11.4 O ENCARGO OU MODO
O modo tem a função de dar relevância ou eficácia jurídica a motivos ou interesses particulares do autor da liberalidade.
A característica mais marcante do encargo é a sua obrigatoriedade. Podendo o seu cumprimento ser exigido por meio de ação cominatória.
PRESCRIÇÃO 
Assim, a doutrina ao se referir ao tema afirma que ela é um instituto de direito material resultante da perda da pretensão, em virtude da inércia de seu titular, nos prazos previstos em lei (art. 189 do CC/2002).
A pretensão é a expressão utilizada para caracterizar o poder de exigir de outrem coercitivamente o cumprimento de um dever jurídico, vale dizer, é o poder de exigir a submissão de um interesse subordinado (do devedor da prestação) a um interesse subordinante (do credor da prestação) amparado pelo ordenamento jurídico. A violação do direito, que causa dano ao titular do direito subjetivo, faz nascer, para esse titular, o poder de exigir do devedor uma ação ou omissão, que permite a composição do dano verificado. Justamente por esta circunstância é que a ordem jurídica estabelece os prazos de prescrição que garantem a relativa estabilidade das relações jurídicas na sociedade.
A preclusão consiste na perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida no momento próprio. Impede que se renovem as questões já decididas, dentro da mesma ação. Só produz efeitos dentro do próprio processo em que advém. Já a perempção também é de natureza processual. Consiste na perda do direito de ação pelo autor contumaz, que deu causa a três arquivamentos sucessivos (art. 486, § 3.º, do CPC/2015). Não extingue o direito material, nem a pretensão, que passam a ser oponíveis somente como defesa.
A doutrina aponta três requisitos caracterizadores da prescrição, a saber:
• a violação do direito, com o nascimento da pretensão;
• a inércia do titular;
• o decurso do prazo fixado em lei.
A interrupção depende, em regra, de um comportamento ativo do credor, diferentemente da suspensão, que decorre de certos fatos previstos na lei, como foi mencionada. Qualquer ato de exercício ou proteção ao direito interrompe a prescrição, extinguindo o tempo já decorrido, que volta a correr por inteiro, diversamente da suspensão da prescrição, cujo prazo volta a fluir somente pelo tempo restante.
O efeito da interrupção da prescrição é, portanto, instantâneo: “A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper” (art. 202, parágrafo único). Sempre que possível a opção, ela se verificará pela maneira mais favorável ao devedor.
O art. 202, caput, expressamente declara que a interrupção da prescrição “somente poderá ocorrer uma vez”. A restrição é benéfica, para não se eternizarem as interrupções da prescrição.
São efeitos da interrupção da prescrição:
• Inutiliza-se todo o tempo prescricional decorrido, começando a correr novo prazo.
• O direito subjetivo atingido é beneficiado pela interrupção, dilatando-se o período para composição do dano; essa vantagem para o titular do direito subjetivo ofendido corresponde às desvantagens para o prescribente, que vê retardado o benefício que lhe poderia advir da prescrição.
• A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; igualmente, a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica os demais coobrigados (art. 204 do CC/2002).
“A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros” (art. 204, § 1.º, do CC/2002).
DECADÊNCIA
São direitos potestativos.
O direito potestativo é o poder que o agente tem de influir na esfera jurídica de outrem, constituindo, modificando ou extinguindo uma situação subjetiva sem que esta possa fazer alguma coisa se não sujeitar-se. São direitos potestativos o do patrão dispensar o empregado
O lado passivo da relação jurídica limita-se a sujeitar-se ao exercício de vontade da outra parte. E não havendo dever, não há o seu descumprimento, não há lesão. Consequentemente, não há pretensão.
O tempo limita o exercício dos direitos potestativos pela inércia do respectivo titular, a qual recebe o nome de caducidade. Esta, em sentido amplo, significa extinção de direitos em geral, e em sentido restrito, perda dos direitos potestativos quando toma o nome de decadência. Seu fundamento é o princípio da inadmissibilidade de conduta contraditória.
A decadência traduz-se, portanto, em uma limitação que a lei estabelece para o exercício de um direito, extinguindo-o e pondo a termo ao estado de sujeição existente. Aplica-se às relações que contêm obrigações, sendo objeto de ação constitutiva.
Na decadência, ainda, o prazo começa a correr no momento em que o direito nasce, surgindo, simultaneamente, direito e termo inicial do prazo, o que não ocorre na prescrição, em que este só corre da lesão do direito subjetivo.
A decadência é estabelecida em lei ou pela vontade das partes em negócio jurídico, desde que se trate de matéria de direito disponível e não haja fraude às regras legais. Enquanto a prescrição deve ser alegada pela parte interessada, a decadência não é “suscetível de oposição, como meio de defesa”.
Prescreve o art. 207 que “salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição”. Em princípio, pois, os prazos decadenciais são fatais e peremptórios, pois não se suspendem, nem se interrompem.

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