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SENTENÇA EXERCÍCIO 1

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Prévia do material em texto

FACULDADE DE DIREITO DA ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO
DIREITO PENAL II
PROFESSOR BRUNO HERINGER JÚNIOR
	Aplique a pena cabível, a partir da sentença abaixo transcrita, considerando que: contra o réu consta condenações definitivas por furto, do ano de 2001, e de roubo, do ano de 2003; que a vítima restou traumatizada, conforme avaliação psicológica; que o réu foi considerado semi-imputável em perícia psiquiátrica, sugerindo-se a redução da pena.	
SENTENÇA:
Comarca de Caxias do Sul
3ª Vara Criminal
Rua Dr. Montaury, 2107.
_______________________________________________________________________
	Nº de Ordem:
	
	Processo nº:
	010/2.05.0094403-2
	Natureza:
	Crimes contra a Liberdade Sexual
	Autor:
	Ministério Público
	Réu:
	Fulano de Tal
	Juiz Prolator:
	Juíza de Direito - Dra. Sonáli da Cruz Zluhan
	Data:
	06/11/2009
Em sentença.
O MINISTÉRIO PÚBLICO ofereceu DENÚNCIA contra
Fulano de Tal, devidamente qualificado na inicial, porque:
Em dias e horários não precisados, entre maio e setembro de 2009, no Bairro Canyon, nesta Cidade, o denunciado, por diversas vezes, de forma continuada, mediante grave ameaça, manteve conjunção carnal e praticou outros atos libidinosos com sua enteada, Beltrana de Tal, com 09 anos de idade (certidão de nascimento à fl. 27 do IP).
O denunciado, por diversas vezes, para satisfazer sua própria concupiscência, valendo-se da forte influência que exercia sobre Beltrana, das relações domésticas, bem como das relações de dominação e agressão, obrigou-a à cópula vagínica e anal.
Quando a mãe da ofendida saía de casa, o denunciado levava a menina para a cama e, ameaçando sufocá-la com um travesseiro, cometia os abusos sexuais. Depois, proferindo as mesmas ameaças, determinava que a situação não fosse revelada a ninguém.
Beltrana não é virgem, consoante auto de exame de corpo de delito na fl. 06 do IP.
A denúncia foi recebida em 06 de outubro de 2009 (fls. 90).
O réu foi devidamente citado (fls. 144) e ofereceu defesa (fls. 101/106).
Juntou-se Laudo de Avaliação Psicológica (fls. 131/140).
Durante a instrução, foram ouvidas a vítima e nove testemunhas, bem como interrogou-se o réu (fls. 152/153, fls. 155/179, fls. 190/201 e fls. 211/217).
Atualizaram-se os antecedentes criminais (fls. 220/222).
Em diligências, o Ministério Público, no primeiro prazo, requereu a atualização dos antecedentes nas Comarcas de Bom Jesus e Jaquirana (fls. 225).
A defesa postulou a instauração de incidente de insanidade mental (fls. 227/231), o que foi deferido pelo Juízo (fls. 234).
Incidente de insanidade mental foi apensado aos autos principais, tendo sido o laudo homologado (fl. 37).
Em memoriais, o Ministério Público requereu a procedência da ação penal. A defesa, por sua vez, postulou a improcedência da ação penal, com a absolvição do denunciado, com base no artigo 386, incisos IV e VI, do CPP. No caso de condenação, requereu fosse reconhecida a semi-imputabilidade, nos termos do artigo 26, parágrafo único, do CP, reduzindo a pena na fração de 2/3 (dois terços).
RELATÓRIO.
DECIDO.
O feito tramitou regularmente, não havendo quaisquer nulidades ou irregularidades a serem sanadas.
A materialidade está presente, conforme auto de exame de corpo de delito (fls. 13/14).
A autoria do crime também restou provada, no decorrer da instrução criminal.
O réu, quando interrogado, negou os fatos. Disse que:
“(...)
Interrogando: Sei, no dia lá eles me contaram, quando a Polícia foi lá me pegar, eu tava em casa, até eu tinha saído, eu trabalhava fora, eu cheguei em casa na sexta-feira de noite, ela me disse pra mim ‘Nego, eu vou levar a Beltrana pra fazer uns exames’, eu disse, ‘por causa dessa trimura dela’, ela disse, ‘é’, eu disse, ‘então vai, já era pra tu ter levado’. Eu trabalhava fora, chegava só nos finais de semana, eu disse pra ela, ‘tu, já não levou, já era pra tu ter lavado essa menina’, digo, se é algum tratamento, eu ganho pouco, trabalhava como autônomo, digo ‘eu ganho pouco mas, pouco que a gente puder ajudar a gente ajuda, tem o teu pai, teu pai também ajuda’, o pai dela também, não é possível que não vai ajudar em algum tratamento. Nós achava que era aquilo ali e ela nunca contava, eu perguntava pra ela, ela nunca contava, é nada, é nada, aquele dia ela disse, vou levar a Beltrana fazer uns exames, digo, ‘vai, vai que eu vou’, era no sábado, nós já tinha levantado meio tarde, eu disse pra ela, ‘vai que eu vou ficar fazendo o carreteiro, na hora que tu chegar, nós comer’, terminei o carreteiro, dali um pouco batida na porta, quando eu vi a Polícia, eu até me assustei, não sabia do que era.
Juíza: Não sabe então o porquê que está sendo acusado disso?
Interrogando: Não sabia mesmo, Doutora. Eu sabia no caso ali no dia, que eles me contaram. Me chamaram, eu dei o depoimento lá em cima. 
Juíza: Quem é que morava na casa, tu, a Beltrana e quem mais?
Interrogando: Ali em casa morava, eu a minha mulher, a minha filha e a outra pequinininha. Então..., ela andava toda vida de chamego com aquela gurizada ali, com enteado do meu irmão.
Juíza: Quem?
Interrogando: A Beltrana. Então, aquela história de Samuel, que foi o que eu dei o depoimento lá. Porque nós não queria, porque ela tava ficando mocinha, nós não queria aqueles agarramentos deles ali, assim de... . 
Juíza: Há quanto tempo Você já convivia com a Beltrana?
Interrogando: Com nós a Beltrana conviveu muito pouco tempo, até um dia ela não respeitava nem eu, nem a mãe dela, toda vida ‘retroçando’, eu pedi, ‘Rosana tu leva lá pra casa do teu pai’, porque se o pai dela, que é o pai dela não tem responsabilidade, como é que eu vou ter. Eu tô tentando construir uma família pra mim, eu não quero incomodação, ‘leva ela pra lá, se não me obedece, não te obedece, só que viver nas ruas’.
Juíza: E quanto tempo ela viveu com vocês?
Interrogando: Agora não sei lhe explicar mas foi bastante tempo, depois é que foi mandado ela pra lá, pra vó dela. Depois quando eu saí de casa, que trabalhava fora, a mulher pra não ficar sozinha, trouxe ela pra li.
Juíza: Qual é o teu horário de trabalho?
Interrogando: Eu trabalhava das sete da manhã, até as sete da noite às vezes, eu trabalhava por conta, eu parava acampado fora de casa, e quando eu trabalhava na firma, eu saía as seis e meia da manhã, que a mulher prova se ela quiser falar, saía as seis e meia da manhã e chegava, cinco e meia, seis horas e, quando nós tinha que sair, isso aí é (verdade) se, ela quiser falar a verdade ela pode falar, não sei o que ela falou, é que nem eu falei pra ela lá embaixo, fala só o que é verdade. Então assim, eu saía quando ela saía, eu dizia, ‘leva tudo’, então se ela não levava nós chaveava, pedia pros vizinhos atender e dizia ‘não abra a porta pra ninguém’, saía eu e ela, fazer rancho ou ir no mercado, fazer alguma coisa (...)”.
Todavia, em que pese a negativa da autoria, a vítima quando ouvida em Juízo afirmou que era violentada pelo padrasto. Referiu que:
“Vítima: Eu falei pra ela, que ele tinha... quando ela saía de manhã, ele ia lá no meu quarto me acordar, daí eu virava pro canto e ele me pegava no colo e me levava pro quarto dela.
Juíza: No quarto onde eles dormiam, na cama de casal?
Vítima: Sim.
Juíza: E então, o que ele fazia?
Vítima: Ele tirava a roupa dele, e eu tirava a minha... ele que tirava a minha.
Juíza: Ele que tirava tua roupa?
Vítima: É.
Juíza: E o que acontecia depois?
Vítima: Ele botava o pinto dele na minha vagina.
Juíza: Não só encostava, colocava dentro?
Vítima: (...).
Juíza: Isso foi mais de uma vez?
Vítima: Foi.
Juíza: E ele fazia mais alguma coisa?
Vítima: (...).
Juíza: Somente isso, por trás não, ele não te viravas de costas?
Vítima: Não.
Juíza: E tu dizias alguma coisa, ele te ameaçava?
Vítima: Ele falava que se eu não deixasse ele fazer, ele ia me sufocar debaixo do travesseiro.
Juíza: Tu lembras quantas vezes isso aconteceu?Vítima: Foi muitas vezes, daí eu não me lembro.
Juíza: Muitas vezes, e tu não contaste nunca para a mãe?
Vítima: Só... terça.
Juíza: E por que tu não havia contado antes?
Vítima: Porque eu tinha medo dela acreditar nele.
Juíza: E ficar brava contigo?
Vítima: É, dela me surrar.
Juíza: Isso começou quando tu tinhas que idade ou foi desde que ele foi morar com a mãe?
Vítima: É, foi desde quando ele foi morar com a mãe.
Juíza: E então começou a acontecer isso?
Vítima: (...).
Juíza: Sempre acontecia de manhã, quando tu estavas dormindo?
Vítima: E antes já... da minha mãe começa sair de manhã, ele fazia às vezes de tarde, quando ninguém tava perto.
Juíza: Vocês estavam somente os dois em casa?
Vítima: Não, daí ele... às vezes quando tava brincando, ele mandava minha irmã ficar num canto, e me pegava no outro, daí um dia foi que ele pegou no porão da minha casa, que o meu irmão tava chegando, daí ele falou: “Ó o auto, ó o auto”, daí ele foi pro outro canto, pra ele não descobrir.
Juíza: Pelo Ministério Público.
Ministério Público: Depois que ocorreu esses fatos a depoente sentia dores?
Vítima: Sim.
Ministério Público: A depoente usou a expressão que ele colocava o pinto dele na sua vagina, ele chegou fazer isso na parte de trás?
Vítima: Não.
Ministério Público: Referindo o depoimento da depoente, foi dito assim, se alguma vez ela viu algum líquido ou alguma coisa sair do pinto do seu padrasto, enquanto ele fazia isso?
Vítima: Não, só na cama ficava um negócio meio melado assim.
Ministério Público: Mas isso saía da depoente ou saia dele?
Vítima: Não sei.
Ministério Público: Alguma vez ele chegou a surrá-la ou ameaçá-la de não contar isso para a mãe, ainda que fosse nos outros dias que ele não praticasse com ela, mas ele ameaçava de bater ou chegou a agredi-la fisicamente?
Vítima: Não, ele só falou que se eu contasse pra ela, ele ia mentir pra ela, que a minha mãe ia acreditar nele e não em mim.
Ministério Público: Não o número correto, mas a depoente pode dizer se ocorreu mais de cinco vezes, mais de dez vezes, se ela tem uma noção, foram muitas ou foram poucas?
Vítima: Foram muitas.
Ministério Público: Antes disse ela, a Beltrana, teria feito coisa parecida com alguém, senão o seu padrasto?
Vítima: Não.
Ministério Público: Nada mais.
Juíza: Pela Defesa.
Defesa: A menina conhece o Samuel?
Vítima: Conheço.
Defesa: Ele é teu “namorado”, chegou a ser?
Vítima: Chegou a ser, mas eu nunca fiz esse tipo de coisa com ele.
Juíza: Como era o namoro?
Vítima: Eu nunca beijei na boca dele.
Juíza: Nunca beijou na boca?
Vítima: Só no rosto.
Juíza: E andavam de mão e davam beijo no rosto, isso?
Vítima: (...).
Defesa: Quando o réu praticava, enfim, esta ação, o réu se encontrava lúcido ou com hálito de cachaça, vinho?
Vítima: Não, quando ele não tava bêbado.
Defesa: Ele não estava bêbado?
Vítima: (...).
Defesa: Quanto tempo a menina conviveu com o réu?
Vítima: (...).
Juíza: Foi mais de um ano?
Vítima: Eu acho que foi, não sei.
Juíza: Quando ocorreram, enfim, esses fatos, a menina pedia socorro, pedia “me ajudem”?
Vítima: Não, isso eu não falei, porque eu ficava com medo dele tentar fazer alguma coisa de mal pra mim (...)”.
A mãe da vítima, Sicrana de Tal, confirmou os relatos prestados por sua filha. Disse que a vítima relatou que o réu teria por diversas vezes “se passado”, no sentido que tirava as vestes da menina e abusava dela. Alega que, na época, levou sua filha para fazer exames, onde ficou constatado que a mesma havia sido molestada. Alega que convivia há dois anos com o réu, sendo que a sua filha se dava bem com ele, porém a mesma era um pouco desobediente. Relata que quando saía para ir ao posto de saúde ou ao mercado, às vezes, demorava. O réu teria negado os fatos, quando a depoente o questionou. A menina confirma que foi o réu quem teria abusado dela. Refere que Beltrana se queixava de dor na barriga e ardência ao urinar, sendo que a mesma parecia estar assada. Nestas oportunidades, a depoente perguntava à filha se alguém havia mexido com ela, mas esta negava. Confirma que Beltrana teria dito que o réu introduzia o pênis na vagina dela. Refere que Beltrana disse que o denunciado, às vezes, a colocava de bruços. Disse que a vítima somente teve coragem de relatar os fatos à sua mãe, no dia em que o acusado teria chutado a irmã mais nova e a mãe teria brigado com ele, defendendo a filha. Confirma que quando o réu bebia, ficava violento. Refere que na sua frente, seu companheiro, evitava ficar perto de sua filha. Alega que recebeu ameaças da família do acusado, após as denúncias. Confirma que o comportamento de sua filha mudou, após os fatos, se tornando uma pessoa amedrontada. Disse que quando sua filha fez os exames, observou que a mesma estava assada, com as pernas, tipo ralada. No período em que conviveu com o réu, o seu relacionamento íntimo não mudou em nada. Que ouviu dizer que Samuel era namorado de sua filha, mas que os mesmos nunca ficaram sozinhos. Menciona que o acusado esteve parado por algum período e que duas semanas antes da denúncia, havia arrumado emprego, como pedreiro. Refere ainda que o réu ficava sozinho na residência, na companhia de Beltrana e de sua filha menor de três anos.
Jenefer, amiga da vítima, referiu que esta comentou que Fulano de Tal tirava a roupa dela, quando a mãe saía, e se aproveitava dela. Referiu que a vítima não contava nada para a mãe, pois tinha medo, eis que o acusado a ameaçava. Confirma que Samuel era o namorado de Beltrana.
Samuel e Cátia disseram em Juízo que quem teria abusado de Beltrana foi o primo do réu, de nome Fabrício. Samuel não recordou de prestar depoimento da Delegacia de Polícia. Já Cátia, lembrou que esteve na polícia. Disse que naquela época falou que teria sido Fulano o autor dos fatos, porém, no dia anterior à audiência, Beltrana teria dito que foi Fabrício quem a violentou. Disseram que Beltrana culpou Fulano pelos atos, a mando de Fabrício. Cátia confirmou que em uma oportunidade, o denunciado teria a convidado, através de seu irmão, a fazer sexo com ele, porém a depoente teria contado para a mulher dele.
A policial militar, Fabiana Biavati, disse que cumpriu à ordem de prisão contra o réu, declarando que compareceu na casa deste, o qual não reagiu, apenas negando ter praticado os fatos descritos na denúncia.
A psicóloga, Débora Marleci Araújo Ceccato, que avaliou a vítima, disse que durante a entrevista, a menor apresentou duas reações. A primeira, enquanto a mãe relatava os fatos, a vítima estaria falando, cantando e envolvida com a atividade lúdica que lhe fora dado, porém prestando atenção no que a mãe falava. No segundo momento, quando estava sozinha com a entrevistadora, apresentou muito sono, com olhar parado, muito atípico nestes casos. Referiu a depoente que a vítima repassou poucos dados, possuindo muito dificuldade em realizar o laudo. Afastou a hipótese de que a menor estivesse dissimulando, dizendo que o aquilo que conseguiu relatar foi de forma transparente e coerente com aquilo que estava sentindo. Não percebeu a possibilidade da vítima estar acobertando outra pessoa. A menor relatou que os abusos teriam ocorrido mais de uma vez e que conviveu com o réu por um ano e meio, permanecendo afastada, na casa da avó, pelo período de três meses. A vítima relatou que apenas uma pessoa teria abusado dela.
Fabrício referiu que freqüentava a casa de Beltrana, mas sempre que ia até lá tinha gente. Nunca teria acontecido nada entre ele e Beltrana. Não sabe dos fatos do qual o réu é acusado. Disse que este trabalhava durante o dia, permanecendo à noite em casa. Nunca propôs fazer sexo com Beltrana, afirmando que esta é uma criança. Refere que Beltrana não queria ir à aula.
Erotide ficou sabendo dos fatos, após a prisão de seu irmão, Fulano. Disse que o acusado trabalhava durante o dia. Refere que seu irmão sempre fez de tudo pela família da vítima, trabalhava. Alega quenum período, a menor foi morar com a avó, e depois, esta teria voltado a conviver com a mãe, sendo que o casal começou a se desentender.
Adenildes, avó de Beltrana, confirmou que esta residiu um tempo com a depoente, pois queria ter uma das netas morando com ela, para lhe ajudar. Não soube dizer como era o relacionamento de Fulano com Beltrana, nada sabendo sobre os fatos descritos na denúncia. Refere que, quando sua neta estava consigo, esta queria retornar a morar com a mãe. Nunca aconteceu nada, para ela mandar a menina de volta. Refere que a vítima, enquanto esteve na sua casa, somente ia para escola, sendo que sempre foi obediente. Alega que Beltrana tratava o réu pelo apelido de “Nego”. Menciona que as professoras comentavam que a vítima não prestava atenção na aula. Beltrana não se queixava de dor para avó, porém tremia muito. Pelo que sabe, após as denúncias, a vítima está fazendo tratamento psicológico. Refere que em certa ocasião, a menina não quis ir para a casa da mãe, porém como a depoente insistiu, esta foi, ficando muito braba. Depois, não queria mais voltar para a casa da avó.
Diante das provas produzidas, em especial, o depoimento da vítima, não há dúvidas de que a mesma tenha sido abusada sexualmente. O laudo psicológico concluiu que Beltrana de Tal foi violentada, sendo que o auto de exame de corpo de delito confirma que a mesma não é mais virgem.
A vítima, em todas as oportunidades em que foi ouvida, confirmou que seu padrasto, Fulano de Tal, era o autor do abuso sexual. Seu depoimento sempre foi coerente, sem contradição e claro.
Em crimes contra a liberdade sexual, a palavra da vítima tem especial relevo, pois, geralmente, são praticados na clandestinidade, sem que ninguém presencie, principalmente, quando se trata de crianças. Aliás, para ocultar tais fatos às vítimas sempre são ameaçadas, como no caso dos autos.
A mãe da vítima também confirmou os relatos prestados por sua filha.
Em que pese as testemunhas Samuel e Catia tenham afirmado que o autor da violência sexual tenha sido o primo de Fulano, Fabrício, este, quando ouvido, negou que tenha se envolvido com Beltrana. Também, a vítima nunca cogitou ter sido outra pessoa, que não o réu.
A psicóloga do Ministério Público disse que a vítima não apresentou discurso dissimulado, sendo que seu relato foi coerente e transparente.
Portanto, resta sobejamente comprovada a materialidade e autoria do crime de estupro, devendo Fulano de Tal ser condenado pela prática de estupro.
ISSO POSTO, JULGO PROCEDENTE a acusação contida na denúncia, para CONDENAR FULANO DE TAL, como incurso nas sanções do artigo 217-A, caput (por diversas vezes), c/c o artigo 71, caput, ambos do Código Penal.
Passo à dosimetria da pena.
Expeça-se PEC provisório.
Custas pelo Estado, pela metade, ficando o réu liberado, ante sua pobreza.
Após o trânsito em julgado e feitas as anotações de estilo, arquivem-se com baixa.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Caxias do Sul, 6 de novembro de 2009.
Sonáli da Cruz Zluhan,
Juíza de Direito.
OBS.: Sentença adaptada, para fins didáticos, em vista da entrada em vigor da Lei nº 12.015/2009.

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